Na realidade, nós não temos diversos medos, temos vários resultados e consequências de um ou de dois medos principais.

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2 Identificar os nossos medos é indispensável para um relacionamento harmonioso e consciente, pois o que acontece quando existe um conflito é que o outro está a mostrar-nos o nosso medo principal e nós estamos a reagir a ele, de forma inconsciente. Na realidade, nós não temos diversos medos, temos vários resultados e consequências de um ou de dois medos principais. Quanto mais intensa for a reação ao que sentimos e a vontade de atacar ou mudar o outro, maior é a ferida emocional que temos e que aprendemos a negar. Cada caso é um caso e todas as danças do medo nas relações têm as suas especificidades. Umas poderão ser mais graves e tensas e outras mais leves e calmas. O importante é perceber como elas acontecem, que sentimentos surgem e que reações esses sentimentos originam. Compreender como nos projetamos no outro é muito útil, se tivermos a coragem de olhar para isso. No fundo, os conflitos entre as pessoas são baseados apenas no seguinte: isto não é sobre mim, é sobre ti. O que está por baixo é uma recusa nossa em querer olhar para dentro e que nos faz entregar ao outro a origem da nossa dor. Este fenómeno tem o nome de projeção. O contexto ideal para compreender e aprofundar a dança do medo é numa relação saudável e onde ambos têm interesse em crescer com a relação. Em relações kármicas ou com brigas constantes é difícil desmantelar o padrão por ele ser muito complexo ou estar relacionado não só com situações atuais, mas também de vidas passadas. Existem relações onde a presença da sombra e do ego é muito forte e isso impossibilita o crescimento pessoal. O exercício também pode ser utilizado em qualquer relação onde esta análise aconteça de forma harmoniosa. PORQUE NOS PROJETAMOS? Desde crianças que somos programados para nos projetarmos. Eventualmente foi isso que vimos os nossos pais fazerem um ao outro e, mais tarde este comportamento foi reforçado pelo que vimos outras pessoas fazerem umas às outras. Enquanto crianças fomos expostos a várias situações mais ou menos traumáticas: vergonha, ridículo, punição, rejeição ou abandono. Assim, é quase automático pensarmos que quando surgem emoções negativas há algo de errado connosco ou que somos inadequados. Na nossa fase adulta, a projeção é um mecanismo de negação, usado para nos concentrarmos no outro a fim de nos impedir de sentir a intensidade das nossas feridas. Nós vemos no outro aquilo que somos e aquilo que não aceitamos ou que reprimimos em nós aparece nos outros. Nós dizemos aos outros aquilo que devíamos dizer a nós mesmos. Quando julgamos os outros estamos a julgar a nós mesmos. Se temos uma

3 mente auto-crítica e cheia de pensamentos negativos sobre nós mesmos vamos agir de igual forma verbalmente ou fisicamente com os outros. O CICLO DA DANÇA O ciclo começa a partir das nossas feridas. O que surge no início é um desconforto ou mesmo uma dor. A primeira reação será querer parar de sentir isso e a nossa atitude será querer que o outro pare de ter determinado comportamento para que não sintamos o que estamos a sentir. No fundo, nós não queremos mudar mas ter razão, por isso a nossa motivação é mudar o outro. Ao fazer isso, iniciamos o mesmo processo na outra pessoa. Eles sentem dor e reagem a nós por estarmos a provocá-la. A dança do medo começa. Depois de o ciclo ficar instalado ele pode ter maiores ou menores proporções, mas origina sempre um conflito no meio de alguma agressividade. Na raiz da dança do medo está habitualmente uma falta de aceitação e um profundo sentimento de se estar desconectado. Esta desconexão pode ser de nós mesmos, dos outros, da nossa dimensão espiritual ou de uma combinação destes três. O que acontece a partir do momento em que nos conectamos com os nossos medos e reagimos a eles, é que a nossa reação desperta os medos do outro e ele reage aos seus medos também. Isso desperta em nós de novo os nossos medos, ativando a dança. Como diz Robert Collier 1, uma mente pouco esclarecida reprime as suas próprias falhas e em seguida projeta-as nos outros. 1 Robert Collier foi um escritor americano do século 20, de livros de auto-ajuda e metafísicos.

4 COMO DESCOBRIR O TEU MEDO PRINCIPAL 2 1. Descreve um conflito recente que tenhas tido com outra pessoa 2. Que sentimentos te trouxeram esse conflito? Coloca X nos sentimentos que sentiste. Insegurança Perturbação Amargura Cansaço Tristeza Zanga Desconfiança Miséria Constrangimento Em pedaços Confusão Preocupação Ansiedade Apatia Horror Dor Atingiste o limite Culpa Vergonha Desconforto Desapontamento Fúria Melancolia Outro: Aborrecimento Ressentimento Outro: Medo Frustração Outro: 3. Como é que o conflito te fez sentir sobre ti mesmo? O que o conflito diz sobre ti? Coloca X no que seria a tua resposta. Rejeitado Abandonado Desconectado Falhado Impotente O outro não me quer, não precisa de mim ou não me deseja. O outro vai-me deixar; vou ter que cuidar de mim sozinho; o outro não se vai comprometer comigo para toda a vida. Nós vamos ficar emocionalmente separados. Não sou bem-sucedido como marido/esposa; Não sou bom/boa o suficiente. Eu não posso fazer nada para mudar a situação ou o outro; Eu vou ser controlado pelo outro; Há algo de errado comigo, eu sou o problema. 2 Exercício inspirado no livro O DNA das Relações do Dr. Gary Smalley

5 Inadequado Invalidado Não Amado Insatisfeito Traído Desvalorizado Não aceite Julgado Humilhado Não Importante Outro: Eu não consigo; Eu sou incompetente; Todos os outros são melhores do que eu. Quem eu sou, o que penso, o que sinto, o que acho não é valorizado. O outro não me ama mais; o outro não me deseja; nós somos apenas colegas de quarto. Eu não estou satisfeito nesta relação; Eu não sinto felicidade com esta relação. Eu não vou conseguir o que quero; o outro vai-me enganar; o outro vai aproveitar-se de mim. Eu não tenho valor para o outro; Eu não consigo corresponder às expectativas que o outro tem de mim. O outro não me aceita; o outro não está satisfeito comigo; o outro não me aprova. Estou sempre a ser julgado injustamente; o outro forma opiniões erradas sobre mim; eu estou sempre a ser avaliado pelo outro. Esta relação destrói o meu auto-respeito e dignidade. Eu não sou importante para o outro; eu não sou uma prioridade para o outro. Outro: 4. Como reagiste quando sentiste o que escolheste na pergunta anterior? Coloca um X nos comportamentos mais frequentes. Afastas-te Descontrolas-te Formas Crenças Negativas Culpas Exageras Evitas o outro ou afastas-te sem uma resolução; Usas o silêncio como resposta. As tuas emoções ficam fora do controle, discutes, levantas a voz e ficas furioso. Acreditas que o outro é muito pior do que aquilo que ele realmente é; atribuis razões negativas ao outro. Atribuis a responsabilidade ao outro; Estás convencido de que o problema é da culpa do outro. Cometes exageros ou amplias o que de facto está a acontecer.

6 Fazes Birras Negas Invalidas Defendes-te Não largas o outro Ficas Passivo- Agressivo Sacrificaste Recorres a um vício Tentas resolver Reclamas Atacas Manipulas Ages de forma furiosa Fazes uma Catástrofe Desligaste Emocionalmente Ris-te Recorres ao Sarcasmo Minimizas Fazes birras e ficas de mau-humor. Recusaste a ver ou a admitir a verdade ou a realidade. Desvalorizas o outro; não aprecias o outro, o que ele é, sente, pensa ou faz. Defendes-te em vez de ouvir e tentas dar uma explicação. Tornas-te dependente do outro e resistes a qualquer tipo de distância ou separação. Exibes emoções negativas, tais como ressentimento e agressividade, mas de forma passiva, como procrastinação ou teimosia. Assumes a responsabilidade do outro; dás demasiada atenção física e emocional ao outro em prol de ti mesmo; fazes tudo pelo outro mas o outro não faz nada por ti. Drogas, álcool, casos extra-conjugais, sexo, compras, comida ou jogos. Concentraste exclusivamente no que é necessário para resolver o problema. Críticas; Expressas infelicidade; Fazes acusações ao outro. Tornas-te verbal ou fisicamente agressivo; És abusivo. Fazes com que o outro faça aquilo que tu queres; controlas o outro para teu benefício. Demonstras fortes sentimentos de desagrado ou emoções violentas e descontroladas. Tornas-te dramático e expressas-te de forma exagerada. Ficas desprovido de qualquer emoção. Usas o humor como forma de não lidar com a questão. Usas o humor negativo, palavras ofensivas, comentários depreciativos ou declarações humilhantes. Referes que o outro está a exagerar; Subestimas intencionalmente.

7 Racionalizas Ficas Indiferente Abdicas da tua responsabilidade Abandonas-te Tentas fazer com que a as tuas ações pareçam razoáveis; tentas encontrar motivos credíveis, mas não verdadeiros para o teu comportamento. Tornas-te frio, distante e deixas de te preocupar com o outro. Não assumes a tua responsabilidade. Negligencias-te; Metes-te para baixo. Outro:

8 5. Preenche o seguinte gráfico usando as tuas respostas às perguntas anteriores. No passo 1 coloca a tua resposta à pergunta 3 No passo 2 coloca a tua resposta à pergunta 4 No passo 3 coloca uma resposta com base na pergunta 3 No passo 4 coloca uma resposta com base na pergunta 4

9 6. Reflete sobre como esta dança se desenrola e influencia as tuas relações. Quanto mais consciente ficares acerca dela, mais poder ganhas sobre como não te deixares controlar por ela.

10 COMO PARAR A DANÇA DO MEDO Quando não compreendemos e não assumimos a responsabilidade pelo que estamos a sentir recriamos o mesmo cenário uma e outra vez. Se ambos ganharem consciência de quais os seus medos principais e lucidez sobre quando eles surgem, é possível que quando a dança comece ela termine, assim que um dos dois se aperceba de que se estão a projetar um no outro. Lembra-te que durante um conflito existe grande probabilidade de o outro reagir a ti através do seu mapa-mundo, ou seja crenças, conceitos e medos. Caso não consigas trazer o outro para esta reflexão ou descoberta, podes através da tua própria consciência e lucidez terminar a dança por ti mesmo. Para isso, basta não dares ao outro o poder de controlar o que sentes. É preciso apenas uma pessoa para parar a dança. Como diz o provérbio: o que um não quer, dois não fazem. Terás apenas que assumir o controlo de ti mesmo. SUGESTÕES: Aceita os teus medos O primeiro passo para mudar algo é a aceitação e o reconhecimento de que há algo para mudar. O segundo é escolher mudar, mesmo que a mudança te assuste. Não aceites responsabilidade, críticas ou culpa que sabes que não são tuas ou que não mereces Não dês poder ao outro sobre a imagem que tens de ti mesmo. Conhece-te a ti mesmo Clareza, auto-conhecimento, compreensão das tuas forças e fraquezas é a tua melhor auto-defesa perante uma projeção e a tua melhor ferramenta para um relacionamento saudável com os outros. Por outro lado, quanto mais entenderes como funcionas e como a tua projeção nos outros se desenrola dentro de ti e fora de ti, mais serás capaz de ser líder de ti mesmo e mais estás a influenciar positivamente a consciência dos outros. Quanto maior for o número de pessoas que se tornam lúcidas, mais é possível transformar a doença psico-espiritual que existe na psique coletiva da humanidade e que está na raiz da violência no mundo. Não leves as coisas tão a peito Espero que tenhas compreendido que nada do que os outros fazem é na realidade por causa de ti. O que os outros fazem e dizem tem por base uma projeção da sua própria realidade. Tria a informação que recebes e fica apenas com aquela que te serve e que está ao serviço do teu crescimento.

11 Observa o cenário Quando olhas para a circunstância de forma distanciada há grande probabilidade de te veres como parte do problema, bem como parte da solução. Fica presente enquanto ouves Ouvir é uma coisa, compreender é outra. É fácil escutar, mas entender é diferente. A comunicação com os outros pode gerar alguma confusão entre o que um disse e o que o outro compreendeu que ele disse. Muitos não conseguem dizer não entendi e depois geram conclusões que podiam ser evitadas, tais como não foi isso que quis dizer. Assim, habitua-te a antes de fazer uma conclusão precipitada ou levar a peito teres a certeza do que o outro quis dizer. Podes mesmo perguntar: O que significa para ti ( )? ou Deixa-me ver se percebi bem, o queres dizer com ( )?. Desta forma, ambos vão estar a falar da mesma coisa. Abraça a vulnerabilidade É muito comum evitar-se situações mais tensas e onde as emoções surgem devido a uma dificuldade em lidar com o nosso lado emocional. Do que a pessoa tem medo é do contato com as suas próprias emoções. Permite que as emoções do outro impulsionem o contato com as tuas. Vulnerabilidade é poder e não fraqueza, conseguirás compreender isso quando te permitires senti-las. Desenvolve a tua habilidade de distanciamento de pensamentos e emoções Quanto mais distância conseguires desenvolver, menos controlo terão sobre ti e mais auto-controlo tu terás. Por isso, a meditação é uma ferramenta muito útil e que te ajuda nesse distanciamento. Não tentes mudar o outro Não esperes que a solução esteja na outra pessoa. Quando sentimos dor é comum querer que o outro mude para que deixe de doer. No entanto, a solução está em compreender porque nos deixamos magoar. Tu tens menos controlo sobre o outro do que aquilo que pensas. Aprende a Perdoar Falhar faz parte e deve ser permitido nas relações, de uma forma q.b. Respeita a reação do outro Quando as pessoas se sentem ameaçadas podem construir um muro à sua volta. Respeita este muro e não tentes derrubá-lo. Ao invés disso, cria um ambiente seguro para que o outro se sinta confortável de o ir gradualmente baixando. Não existem pessoas emocionalmente indisponíveis, existem pessoas que não lhes conseguem proporcionar um espaço de segurança. Valoriza as diferenças Honra o outro, valoriza o outro e entende que a perspetiva dele não invalida a tua, se tu não te sentires invalidado.

12 Evita reprimir emoções ou os teus medos Tudo aquilo com que não lidas vai lidar contigo. Tudo aquilo a que resistes vai continuar a persistir. Faz por aceitar e compreender todas as partes de ti mesmo, para abrir porta para a sua transformação. Vê as relações como espelhos Quando não aceitas a responsabilidade pelos teus próprios sentimentos e os projetas nos outros, estás a negar o acesso a uma oportunidade de integrar as tuas feridas que estão a ser escondidas pela projeção. O outro pode ter provocado uma resposta emocional em ti, mas tu és a pessoa responsável por curar a ferida que desencadeou essa reação. Adota o sistema win-win (ganha-ganha) Quando uma das pessoas da relação perde, o outro também perde. Faz por que nenhuma das pessoas da relação saia a perder. Termina o conflito com uma solução em que ambas saiam a ganhar. Procura um profissional Um profissional pode apoiar-te e ajudar-te a refletir honestamente sobre quem és e a aprofundar o encontro com as tuas várias dimensões e com a tua própria humanidade. Quando compreendes a tua humanidade, mais facilmente compreendes a do outro. SOBRE CLARISSE CUNHA A Clarisse trabalha como Life Coach e Game Changer. Através de cursos, programas, livros ou sessões individuais, vai ajudar-te a descobrir as perguntas de que tens medo responder e que sabe, por experiência própria, que o medo não te deixa chegar às respostas. A Clarisse é apaixonada em empoderar as pessoas e em aumentar o seu auto-amor e controlo sobre as suas vidas. Sabe por experiência que o auto-conhecimento e a expansão da nossa consciência é a forma mais poderosa e eficaz de saber quem somos, o que queremos e de obter o preenchimento que procuramos. O trabalho que realiza pode ser acompanhado através de clarissecunha.com, onde disponibiliza recursos grátis, artigos e frases inspiradoras para uma vida com mais amor e consciência.