BIOLOGIA HUMANA EVOLUÇAO DO HOMEM. Características dos hominídeos
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- Filipe Stachinski Beppler
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1 BIOLOGIA HUMANA EVOLUÇAO DO HOMEM Somos levados a perguntar onde se situou o local de origem do Homem. O facto de o Homem se assemelhar aos Símios do Velho Mundo, indica que os seus antepassados habitaram esta região. Em cada grande região do mundo, os mamíferos contemporâneos assemelham- se às espécies extintas dessa mesma região. É assim provável que a África tenha sido povoada por símios muito semelhantes ao Gorila e ao Chimpanzé. Como estas espécies são as mais próximas do Homem, é mais provável que os nossos antepassados mais antigos tenham vivido em África do que em qualquer outra parte do mundo. Charles Darwin Assumindo que as nossas espécies mais próximas (gorilas e chimpanzés) têm pouca mobilidade, é provável que os antepassados comuns que partilhámos com eles tenham vivido onde eles agora habitam, África argumento biogeográfico para a origem dos hominídeos. Os fósseis de primatas suficientemente primitivos para estarem próximos desse ancestral comum, mas derivados o suficiente para estarem na nossa linhagem encontram- se no Sul do continente africano e no Grande Vale do Rift destaca- se a importância da Garganta de Olduvai, local onde se encontraram muitos fósseis de hominídeos primitivos. Características dos hominídeos As principais características derivadas dos hominídeos estão relacionadas com a aquisição da postura erecta, sendo estas, na nossa linhagem, as mais primitivas, e que a definem. Outras características Hallux (dedo interno) no mesmo plano que o resto dos dedos do pé; Bacia alargada, com as asas do ílio alargadas e não alongadas. 1
2 Pegadas de Laetoli conjunto de pegadas feitas em cinzas vulcânicas, datadas pelo método K/Ar como sendo de há 3,7 Ma; mostra uma anatomia do pé muito diferente da do chimpanzé. O adquirir da posição erecta está associada a muitas outras alterações: Curvatura na coluna (duas nos hominídeos, ao contrário de uma única como no gorila); Alteração na posição do buraco occipital; Plano nucal com crista nucal com grande inserção de músculos associados ao movimento de levantar a cabeça (bem desenvolvido nos gorilas e chimpanzés) ausente nos hominídeos. Podemos definir um hominídeo como um hominóide com postura erecta esta é a característica que melhor define a nossa linhagem, não a encefalização. Juntamente com as outas características apresentadas, desenvolveu- se durante a evolução pela perda de hábitos arborícolas relacionada com a procura de novos habitats. 2
3 PIltdown Man e a criança de Taung Em 1912 na Inglaterra foram encontrados fósseis de um animal que possuía uma mistura de características humanas primitivas e derivadas, com a forma do crânio semelhante à moderna e com uma mandíbula primitiva (sem mento e caninos mais ou menos projectados) apoiava a corrente predominante na época que considerava a encefalização como a principal característica da nossa linhagem, e por isso a que teria evoluído primeiro. Este fóssil ficou conhecido como Piltdown Man, e foi estudado pela equipa de Arthur Keith. Entretanto foi encontrado na África do Sul um crânio fóssil de um hominídio jovem que parecia dizer o contrário mostrava- se que já tinha adquirido a postura erecta (buraco occipital localizado na parte inferior do crânio), mas possuía várias características primitivas, incluindo um pequeno tamanho do crânio. Esta descrição desafiava os preconceitos vigentes na época, e Raymond Dart, que o descreveu, enfrentou muitas dificuldades para ver a sua descoberta aceite. Este fóssil é conhecido como a criança de Taung, e Dart colocou- o numa nova combinação de género e espécie: Australopithecus africanus. Desde a descoberta do Piltdown Man que várias pessoas tinham dúvidas quanto á veracidade do fóssil, que foram crescendo até que este foi exposto como uma fraude em 1953 tratava- se na realidade de um crânio humano associado a uma mandíbula de orangutango. Australopitecíneos Principais espécies na nossa linhagem evolutiva Durante muito tempo, as evidências de hominídeos pré- Australopithecus eram raras, mas recentemente fizeram- se algumas descobertas. Sahelanthropus tchadensis Fóssil com cerca de 7 Ma assumindo que os relógios moleculares dão datas de divergência seguras, precede a separação das linhagens dos chimpanzés e humanos, e por isso a sua posição como ancestral da nossa linhagem não é segura. 3
4 Orrorin tugenensis Antiguidade estimada entre 6.2 e 5.6 Ma, com alguns fósseis de membros a sugerir que era já erecto, mas a evidência é escassa para que possa ser conclusiva. Ardipithecus ramidus Espécie descrita em 1994 em 2009 foi descrito um novo esqueleto (encontrado na Etiópia, em meio de sedimentação lacustre), mais completo que Lucy. Viveu há cerca de 4,4 Ma. Várias características sugerem que era mais primitivo que Australopithecus, e que se encontrava próximo da bifurcação entre chimpanzés e humanos. Hallux separado perna assente num membro preênsil; Posição erecta; Canino protuberante; Não era braqueador, nem knuckle- walker deveria possuir um meio de locomoção muito próprio; não podia correr foi descrito como um arborícola cuidadoso 4
5 Com base na comunidade de fósseis presentes no local de descoberta de A. ramidus, reconstruiu- se o habitat como sendo o de uma floresta pouco densa contrariando a ideia clássica do abandono das florestas tropicais pelos nossos antepassados. 5
6 Australopithecus afarensis Espécie mais antiga que a da criança de Taung (entre 4 a 3 Ma), encontrada na região de Afar, na Etiópia. O fóssil mais conhecido é Lucy (3,2 Ma, considerado durante muito tempo o mais completo australopitecíneo), um fóssil de uma fêmea (demonstrado pela forma da chanfradura ciática coxal, na cintura pélvica). Este fóssil possui as seguintes características: Fémur inclinado (como o nosso, indicando postura bípede); Baixa capacidade craniana (400 cm 3, semelhante à do chimpanzé); Mandíbula robusta; Dentadura primitiva, com caninos salientes; Diastema incipiente; Palato a meio caminho da forma parabólica humana; Buraco occipital denuncia posição erecta; Braços proporcionalmente compridos, comparando com os nossos. Esta reconstrução permite ver um hominídeo com membros anteriores ligeiramente mais compridos que os posteriores, uma cintura pélvica hominizada, um crânio com prognatismo acentuado (proeminência dos dentes em relação ao plano da face) e dentes relativamente grandes. O hallux seria não- prêensil. Australopithecus africanus Esta espécie é mais recente (3 a 2 Ma) que A. afarensis, e possui características mais derivadas, como: Palato mais parecido como humano; Sem diastema; Menos prognata que A. afarensis. 6
7 Paranthropus O género Paranthropus inclui várias espécies de australopitecíneos robustos (anteriormente consideradas como espécies de Australopithecus), com as seguintes características: Dentes não protuberantes, mas robustos macrodontia nos pré- molares e molares; Crista sagital bem desenvolvida; Mandíbula bem desenvolvida; Zigomático lateralizado face larga, permite a passagem de grandes músculos de mastigação Os músculos masseter e temporal (que se liga à crista sagital) apresentam grande desenvolvimento, o que indica adaptações para a mastigação (análogas às do gorila). Estes animais viviam provavelmente em território muito aberto, sujeito a períodos de seca. Seriam vegetarianos, dependentes de alimentos duros e pouco frescos. Não se encontram na linhagem evolutiva directa do género Homo, são uma linhagem paralela que se extinguiu sem deixar descendentes actuais. 7
8 Depois da aquisição da postura erecta, surge uma bifurcação na evolução humana, centrada em dois tipos de especialização diferentes: Uma linhagem robusta, de Paranthropus, com características de adaptação à mastigação (análogas às dos gorilas) e baixa capacidade craniana; Uma linhagem grácil, de Homo, com características ligadas à redução do tamanho da face, dentes, aumento da capacidade craniana e surgimento de indústrias. Durante algum tempo, seria possível observar várias espécies de hominídeos confinadas ao mesmo espaço geográfico. Hominíneos primitivos Homo habilis A espécie humana mais antiga conhecida surgiu há cerca de 2 Ma. Tinha como característicias: Frontal elevado e crânio arredondado; Capacidade craniana aumentada ( cm 3 ), pouco sobreponível com a variação em Australopithecus; Menos prognata que as espécies anteriores. Esta espécie é também caracterizada pelo fabrico de instrumentos líticos seixos ovóides (de quartzo ou sílex) seriam a rocha- base para o fabrico destes utensílios, pouco elaborados, que eram lascados para ficarem cortantes (seixos afeiçoados) temos a primeira correspondência entre termos arqueológicos e paleontológicos. A esta indústria dá- se o nome de olduvense, ou indústria de Olduvai (início do Paleolítico Inferior). 8
9 Homo erectus O surgimento de Homo erectus é caracterizado por várias transições geográficas, anatómicas e culturais. Conhecem- se um conjunto de fósseis (1,8 Ma a anos) distribuídos por todo o Velho Mundo, sobretudo nas latitudes tropicais primeiro hominídeo fora de África. Possui as seguintes características: Grande expansão da capacidade craniana ( 1000 cm 3 ); Frontal ainda baixo, com uma arcada supraciliar muito projectada, derivada relativamente aos australopitecíneos constrição pós- orbitária; Projecção facial ainda relativamente grande; Mandíbula robusta, sem mento; Dentes já menores que os de Australopithecus, ainda maiores que os nossos; Espécie muito polimórfica (ou politípica) muitos investigadores seguem uma nomenclatura splitter, considerando várias espécies; Os fósseis africanos (H. ergaster na nomenclatura splitter) são geralmente os mais antigos; Presença na Europa é ainda questionável. Espécimes importantes: Peking Man (Homem de Pequim) (0,5 Ma): conjunto de indivíduos encontrados nos anos 1920 em Zhoukoudian (Chou K'ou- tien), num sistema de cavernas; Java Man (0,7 Ma): encontrado na Indonésia por Eugène Dubois (que lhe deu o nome Pitecanthropus erectus); KNM WT1500 (Turkana boy) (1,6 Ma): esqueleto muito completo de um jovem H. erectus, encontrado junto ao lago Turkana, no Quénia. O esqueleto pós- craniano é muito moderno os membros têm proporções semelhantes às actuais (o que não acontece com todos os H. erectus). 9
10 Do ponto de vista cultural, verifica- se uma transição tecnológica, passando- se do olduvense (caracterizado pelo afeiçoamento de seixos) para o acheulense (de St. Acheul, local francês onde estes artefactos foram pela primeira vez descobertos) o fabrico dos instrumentos é agora mais complexo e mais reguar. Esta indústria é caracterizada pelo aparecimento do biface. H. erectus está também associado às primeiras evidências de caça (H. habilis devia ser necrófago), e às primeiras evidências do uso do fogo (cinzas associadas aos fósseis). Homo floresiensis a anos, espécime muito pequeno, considerado por alguns como um morfótipo de H. erectus. Foi encontrado no arquipélago das Flores em muitas linhagens de animais verifica- se tendência para o gigantismo ou nanismo quando colonizam ecossistemas insulares. Homo sapiens As origens da espécie humana estão envoltas em controvérsia taxonómica alguns cientistas tendem a agrupar os fósseis em espécies diferentes, outros consideram- nos todos pertencentes a versões arcaicas da nossa espécie: Homo sapiens arcaico (termo sem validade taxonómica, reflecte um conjunto de características intermédias). Estes fósseis apresentam as seguintes características: Descoberto na Europa, Ásia e África; Grande capacidade craniana, até ao limite inferior da nossa (1200 cm 3, alguns chegavam a 1450 cm 3 ); Crânio mais arredondado que H. erectus se compararmos estes dois hominídeos, a zona de maior largura do crânio passa do temporal (em H. erectus) para o parietal (em H. sapiens arcaico) expansão parietal; Frontal ainda relativamente baixo (frontal fugidio); Arcada supraciliar pouco vincada, mas mais marcada que a nossa; Mandíbula sem mento; Fósseis importantes: Mandíbula de Mauer (0.7 a 0.4 Ma) Petralona, Grécia (0.3 a 0.2 Ma) Homem de Steinheim (0.25 a 0.20 Ma) Alemanha Arago, França (0.4 a 0.2 Ma) Kabwe, Zâmbia (0.150 a Ma) 10
11 A cultura em H. sapiens arcaico caracteriza- se pelo aparecimento da indústria mousteriense (de Le Moustier, na França), no início do Paleolítico Médio. Caracteriza- se pelo uso de blocos de pedra (bifaces), mas também das próprias lascas no geral, há um maior pleneamento da forma. O mousteriense está associado sobretudo ao Homem de Neanderthal. Este humano foi o primeiro a venerar os mortos encontraram- se esqueletos deitados na posição fetal, associados a restos de flores. H. sapiens neanderthalensis População regional tipicamente europeia, embora seja também conhecida de parte da Ásia, que surgiu há cerca de anos, e provavelmente se extinguiu há anos. Frontal fugidio (pouco elevado) mas grande capacidade craniana; Arcadas supraciliares mais vincadas que em H. sapiens sapiens; Mandíbula com ramos largos, corpo alto e sem mento; Prognatismo mediofacial ainda pronunciado; Linhas curvas occipitais pronunciadas, formando um toro occipital ; Espaço retromolar espaço entre o último molar e ramo ascendente da maxila; Razão tíbia/fémur muito pequena relacionado com factores ambientais (frio). 11
12 A correlação tíbia/fémur está relacionada com a Regra de Bergman, que diz que quanto maior o tamanho corporal (razão superfície/volume mais pequena) melhor a retenção corporal; a Regra de Allen também se aplica nas regiões frias, os órgãos têm tendência a ser mais curtos e compactos tudo isto indica que este hominídeo robusto estava especialmente bem adaptado aos climas frios. Homo sapiens sapiens Humanos com características modernas surgiram há cerca de anos. Alguns dos fósseis mais antigos são os de Border Cave ( anos, da África do Sul estes fóssis foram encontrados em conjunto com fósseis de neandertais), o Skhul V ( anos, de Israel) e o Homem de Cro- Magnon ( anos, em França). Já se vislumbram características cranianas modernas, como um frontal elevado, arcada supraciliar menos vincada e surge o mento. Ao contrário dos Neandertais, somos humanos com características tropicais. Os primeiros humanos modernos surgem associados a instrumentos do Paleolítico Médio, mas ocorre eventualmente a transição para o Paleolítico Superior que se caracteriza por uma explosão de criatividade, há cerca de anos: instrumentos em pedra ou osso, manifestações artísticas, estatuetas e ídolos, alguns destes com um grau de perfeição e dificuldade de execução extraordinários, e com uma interpretação simbólica. 12
13 Out of Africa vs Multirregionalismo Dois grandes esquemas teóricos tentam explicar a origem e dispersão geográfica dos humanos modernos: Out of Africa (= Modelo Unirregional, ou Replacement Model) Num determinado momento da evolução humana, surgem características anatómicas modernas. As populações com estas características expandem- se geograficamente, encontrando hominídeos arcaicos a melhor tecnologia e capacidade de adaptação da nossa espécie levou à extinção destes hominídeos. Sugere evolução por cladogénese. Modelo Multirregional (= Regional Continuity Model) Durante toda a evolução do género Homo, populações locais diferenciadas comunicavam umas com as outras, com sucessivas migrações e trocas de indivíduos, levando a um equilíbrio entre variações regionais e uma grande população global (existindo 3 grandes regiões a nível global, com uma rede de conexões entre elas). Este modelo implica evolução por anagénese num espaço geográfico amplo, todas as populações actuaram como uma unidade no decurso da evolução. 13
14 Se analisarmos os dados existentes quanto ao local de origem e ao modo de especiação, podemos pensar num modelo intermédio origem recente das características modernas em África numa população de Homo sapiens arcaico. Esta população, após sair de África, faz um intercâmbio de genes com as populações arcaicas espalhadas pelo Mundo. Menino do Lapedo: fóssil de criança humana com características intermédias entre humanos modernos e Neandertais. Argumentos a favor da teoria unirregionalista: Fósseis os fósseis de humanos modernos mais antigos são africanos, tornando- se sucessivamente mais recentes à medida que nos afastamos de África. Estes fósseis sugerem também que a trajectória para a Ásia e Oceânia foi mais fácil que para a Europa isto deveu- se provavelmente às glaciações; Morfologia e genética as análises mostram que as populações humanas actuais estão mais relacionadas entre si do que qualquer uma delas com qualquer população arcaica da mesma região. Para além disso, a maior variação humana existe dentro das populações africanas, as não- africanas estão mais relacionadas entre si do que com as africanas. Segundo os multirregionalistas, existem continuidades anatómicas entre humanos actuais e populações arcaicas da mesma região (ex: forma do frontal dos aborígenes). Os unirregionalistas respondem a este problema dizendo que as condições do meio levam ao desenvolvimento de analogias com as características arcaicas num determinado local. Hoje em dia parece certo que a nossa espécie surgiu em África, e que a partir daí se expandiu para os outros continentes, com a disputa a centrar- se no grau de incorporação de características arcaicas. 14
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