Amarás! Adorar em espírito e verdade Giorgio Sinestri, scj

Transcrição

1 Amarás! Adorar em espírito e verdade Giorgio Sinestri, scj O pão que Eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo (João 6, 51). O Senhor exprime com essas palavras, através de um sentimento profundamente humano, a intenção salvífica de Deus que deseja que todo o homem alcance a verdadeira vida. Cada celebração eucarística atualiza sacramentalmente a doação que Jesus fez da sua própria vida na cruz por nós e pelo mundo inteiro. Ao mesmo tempo, na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas da compaixão de Deus a cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do mistério eucarístico, o serviço da caridade para com o próximo, que consiste precisamente no fato de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. Desta forma, nas pessoas que contacto, reconheço irmãs e irmãos, pelos quais o Senhor deu a sua vida amando-os até ao fim (João 13, 1). Por conseguinte, as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem consciencializar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é por todos; e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita n'ele a fazer-se pão repartido para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno. Como sucedeu na multiplicação dos pães e dos peixes, temos de reconhecer que Cristo continua, ainda hoje, exortando os seus discípulos a empenharem-se pessoalmente: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mateus 14, 16). Na verdade, a vocação de cada um de nós consiste em ser, unido a Jesus, pão repartido para a vida do mundo. Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 88 1

2 PRÓLOGO Disse Jesus: Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo. Os judeus discutiam entre si: Como é que ele pode dar a sua carne a comer? Muitos discípulos que o ouviram disseram: Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la? A partir daquele momento, muitos discípulos o abandonaram... Jesus disse: Vós também quereis ir embora? (cf. João 6, 51-67) Num dia desses, o Irvando me parou para contar que, admirado, encontrou sobre o galho de uma árvore três passarinhos: - Eram jacus, e eles costumam ser ariscos, difíceis de se aproximar. Mas nem ligaram que eu me aproximava. Pude olhá-los um bom tempo de perto - disse ele. Eu soltei uma risada! Aquele homenzarrão se encantando com coisas tão simples, pequenas... A maioria de nós passa perto de coisas assim e não enxerga encanto. Não se admira mais... O Irvando entende de contemplação... Contemplar é ato de criança, sua curiosidade faz com que se aproxime do novo e olhe de perto. Quando perdemos esse dom, deixamos de enxergar a Deus. Quando vamos crescendo, deixando de ser criança e nos tornando jovens, descobrimos que Deus não é bem assim. Surgem dúvidas... e começamos a enxergar coisas que não queríamos ter visto. Nosso olhar vê, nossos ouvidos ouvem, nosso corpo sente que viver é arriscado. Violência, fome, injustiça, ódio, vícios, ganância, traições, falsidade, exploração, miséria... desfilam diante de nós. - Se Deus é a saída para tudo, por que então acontecem tantas coisas ruins? Por que Deus não responde ao nosso clamor? Por que o mundo continua no caos? Paciência, a vida é assim mesmo... no céu é que vai ser diferente alguns respondem. E, aos poucos, nos percebemos distantes de Deus. Analisamos o mundo, vigiando a ação de Deus (ou procuramos sua não ação ) e o que notamos é que Deus silenciou... Mesmo assim, embora confusamente, não negamos a sua existência. Porém, quebramos a unidade... Dividimos... Quando se ama, mesmo sabendo que nem tudo pode ser explicado, percebe-se Deus. E percebendo Deus, encarnado em Jesus, concluímos que, durante todo o tempo em que deixamos de amar a Deus, Ele continuou nos amando e nunca se zangou por nossas dúvidas. Nosso Deus não tem medo de perguntas! Ele só não se permite ir contra nossa liberdade e, se nos apresentamos diante d'ele, com perguntas já respondidas por nós mesmos, que espaço Lhe sobra? O Irvando entende, na sua simplicidade, que Deus se mostra no simples. A Hóstia é pão, é simples. Jesus escolheu o pão para se tornar presente todos os dias, continuando sua entrega a cada um de nós. Vamos nos aproximar deste simples. Contemple. Escute. Aprenda. Como Cristo convidou a Samaritana (cf. João 4), adore em espírito e verdade. Maior amor nem sequer Deus poderia dar do que o de se entregar a Si Mesmo como Pão da Vida para ser partido, para ser consumido, para que você e eu possamos comer e viver e assim saciar nossa fome de amor. Por isso, Ele se tornou o Faminto, o Sedento, o Despido, 2

3 o Desabrigado e continua clamando: Tive fome, estava despido e desalojado... foi a Mim que o fizestes. O Pão da Vida e o Faminto, mas um único amor... só Jesus. Sua humildade é tão maravilhosa. Posso compreender Sua majestade, Sua grandeza, porque Ele se faz o Pão da Vida para que até uma criança tão pequena como eu possa consumi-lo e viver. (Carta de Madre Teresa de Calcutá dirigida ao padre dehoniano Michael van der Peet, SCJ, publicada no livro Venha, seja a minha luz 2008) 3

4 APRESENTAÇÃO Na adoração eucarística, estreitamente unida à celebração da Eucaristia, meditamos sobre as riquezas deste mistério de nossa fé, para que a carne e o sangue de Cristo, alimento de vida eterna, transforme mais profundamente as nossas vidas. Para que a nossa ADORAÇÃO se baseie em fundamentos mais sólidos, precisamos retroceder um pouco no pensamento bíblico em relação ao chamado de Deus que nos convida para a adoração e à resposta da pessoa humana. A presença de Deus ao redor da Arca da Aliança, da Tenda e do Templo que orientavam o culto de adoração do antigo povo de Deus, adquire uma nova dimensão com a encarnação do Verbo e sua presença eucarística. Com a encarnação, a carne de Cristo realiza a presença de Deus em meio ao seu povo de forma tal que supera e transcende qualquer outra maneira de Deus habitar em meio ao seu povo. A revelação nos apresenta Jesus como o verdadeiro sacramento de propiciação por nossos pecados, como a arca da verdadeira aliança, como a tenda, como o templo da era messiânica. Se a revelação nos apresenta Cristo como aquele que abarca tudo isto e muito mais, então ela quer também pedir a nós todo o culto de adoração dado, no Antigo Testamento, à presença de Deus na Arca, na Tenda, no Templo. A razão de todo este culto é que em Cristo habita toda a plenitude da divindade. A presença corporal de Deus no meio de nós começa, pois, na encarnação como de um ponto de partida destinado a ter sua continuidade e seu cumprimento na eucaristia. Neste sentido, esta se situa neste dinamismo de uma encarnação que desce até a morte para voltar ao Pai pela ressurreição. A morte de Jesus, como doação, prolonga a sua encarnação por meio da entrega de sua carne pela salvação da humanidade. O pão de vida é a própria pessoa de Jesus como fonte e sacramento primordial. Por isso, se aplicam ao Verbo as três características do maná: vem do Pai, desceu do céu e dá a vida ao mundo. A única atitude válida diante deste pão de vida é a fé na pessoa de Jesus, único pão celestial dado por Deus e que dá a vida eterna. Como a encarnação (pão de vida que desce do céu), a Eucaristia também se apresenta como uma descida de Deus; mas é uma descida e um vir a nós em forma de comida e bebida (redenção: a carne e o sangue entregues para a vida do mundo) para formalizar uma presença e uma proximidade total. João escreve no seu Evangelho: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele (6,56). A eucaristia supõe, pois, uma fé na Pessoa de Jesus nestes três momentos fundamentais: encarnação, redenção e ressurreição. A adoração consiste em entrar na presença do Senhor, anunciada pelo Antigo Testamento (arca, tenda, templo) e revelada pelo mistério da encarnação, prolongando-se verdadeiramente na eucaristia, que é o fundamento de toda a vida da Igreja. Se é certo que Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a adoração deve ser uma das dimensões do processo espiritual da comunhão, pois o amor com que a criatura responde a Deus chama-se adoração. Por conseguinte, o processo da verdadeira recepção da eucaristia compreende a adoração de Deus que se entrega a nós no Homem - Jesus. Adorar significará colocar-nos dentro da história que Deus realiza conosco, da encarnação até a ressurreição. A adoração consistirá em aceitar toda a história da salvação condensada na eucaristia. 4

5 Podemos concluir, afirmando que ao mistério da eucaristia devemos a mesma adoração que devemos ao mistério da encarnação, já que, ao celebrá-lo tornamos presentes todos os fatos salvíficos que se seguiram à encarnação, na história de Jesus. Pe. Francisco Sehnem, SCJ Religioso dehoniano, Autor do livro Só por causa de um cabrito, publicado pela Editora Canção Nova. 5

6 ESTAR COM ELE O Cristo Vivo, de Coração aberto, presente na Eucaristia, nos conduz a viver em sua amizade, em sua intimidade. A delicadeza do Senhor está em viver com os filhos dos homens. Sua proximidade é uma resposta à nossa busca. Devemos recuperar o encontro cotidiano com Cristo na Eucaristia, para que se acrescente em nós o amor e o desejo de dar a vida no serviço ao Evangelho. Dizia Madre Teresa de Calcutá que a adoração eucarística é o maior dom que Deus poderia fazer. Ela aproxima uns dos outros, faz com que nos amemos mais, sobretudo os pobres, com uma fé ainda maior e mais profunda. (...) E o significado da Eucaristia é o amor compreensivo. Cristo compreendeu que nós temos uma terrível fome de Deus. Ele compreendeu que nós fomos criados para amar. E por isso se converteu em Pão da Vida. A bondade do amor de Cristo é o seu amor compreensivo. Se soubéssemos adorar encontraríamos cada dia a alegria de viver. Viver para adorar o Senhor na Eucaristia. Viver para que seu amor nos leve à caridade, aos pobres e a todos. Cristo quer nos oferecer todos os meios de concretizar o seu Amor por nós. Para tanto, Ele mesmo se fez faminto, não só de pão, mas também de amor. Ele se fez despido, não só de roupa, mas também de amor compreensivo, de dignidade humana. Ele se fez desabrigado, não apenas sem teto, mas também do amor sincero e profundo. Isto é Eucaristia, isto é Jesus: o Pão Vivo que veio se repartir para você e para mim. Se o mundo soubesse adorar, teríamos encontrado o caminho da verdadeira liberdade. Só os que adoram o Senhor são livres. Só os que procuram o Sacrário, onde vive o Pão Vivo, encontram forças para seguir o caminho. Nosso mundo perdeu o encanto da adoração. Quem sabe, por isso, adora outras coisas, limitadas, que acabam, que impedem de voar e de experimentar a alegria de dar-se no amor. Este livro quer ser mais que palavras impressas. Quer ser um amigo, que acompanha a caminhada de quem deseja adorar em espírito e verdade o Criador da Vida que se fez homem para estar junto de nós. Não é para ser lido, mas para ser rezado. Não é para ser estudado, mas para ser contemplado com o olhar da fé. Você é convidado a iniciar agora uma caminhada em direção ao encontro eucarístico. O convite é de colocar-se a caminho... preparar-se aos poucos. Seu conteúdo reúne expressões de fé e experiências de oração, não com receitas ou fórmulas para entender a Eucaristia, mas com vivências. Adorar ao Senhor Eucarístico deve dar à nossa vida o fruto da conversão, de um viver amando, em todas as circunstâncias da vida, o Autor da Vida encarnado entre nós. Boa caminhada! 6

7 Ó Jesus, ajuda-me a derramar o teu perfume onde quer que eu vá. Inunda a minha alma como o teu espírito e vida. Penetra em mim, apossa-te completamente de mim, para que a minha vida seja uma irradiação da tua. Ilumina por meu intermédio de maneira que todos os que se aproximarem de mim sintam a tua presença na minha alma. Que, ao ver-me não me vejam, mas a ti que estás em mim. Permanece em mim, assim brilharei como o teu próprio fulgor que será também uma luz para os outros. A minha luz virá toda de ti, ó Jesus! Nem sequer o mais leve raio de luz será meu. Será Tu que iluminarás os outros através de mim. Sugere-me o louvor que mais te agrada Iluminando os outros ao meu redor. Que eu não pregue com palavras mas com meu exemplo, com aquilo que eu realizar como o fulgor visível do amor que meu coração foi buscar no teu. Amém. (Cardeal John Henry Newman) Sob a luz de Aparecida Seguindo o exemplo da primeira comunidade cristã (cf. Atos 2, 42-47), a comunidade paroquial se reúne para partir o pão da Palavra e da Eucaristia e perseverar na catequese, na vida sacramental e na prática da caridade. Na celebração eucarística, a Igreja renova sua vida em Cristo. A Eucaristia, na qual se fortalece a comunidade dos discípulos, é para a Paróquia uma escola de vida cristã. Nela, juntamente com a adoração eucarística e com a prática do sacramento da reconciliação para comungar dignamente, somos preparados para dar frutos de caridade, reconciliação e justiça para a vida do mundo. A Eucaristia, sinal da unidade com todos, que prolonga e faz presente o mistério do Filho de Deus feito homem (cf. Filipenses 2,6-8), nos propõe a exigência de uma evangelização integral. A imensa maioria dos católicos do nosso continente latino-americano vive sob o flagelo da pobreza. Se Jesus veio para que todos tenhamos vida em abundância, temos que seguir o caminho de Jesus e sermos bons samaritanos e samaritanas como Ele. (Documento de Aparecida, nº 175 e Brasil, 2007) 7

8 VINDE A MIM! Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. (Mateus 11,28) Vinde a mim! É o grito que chega até cada um de nós para sairmos de nossa indiferença e assumirmos nossa vida numa entrega, sabendo que o próprio Senhor nos convoca para viver amando. A proximidade de Jesus nos enamora. O Coração de Jesus nos seduz. Ele é o Deus escondido, simples, que se pode encontrar sempre que se busca com o coração sincero. O Senhor Eucarístico não se esconde quando alguém o procura. Sentindo Cristo perto, experimentamos a nossa pobreza e isso, nos faz perceber o quanto Ele nos ama, o quanto Ele deseja nos buscar para abraçar junto ao Seu Coração. Vinde a mim (Mateus 11,28) é a frase do Evangelho que se devia colocar em todos os sacrários do mundo: Vinde a mim para encontrar o remédio a tanta tristeza. Vinde a mim para encontrar o consolo a tanto desalento. Vinde a mim para descansar na paz de tantas contradições. Unidos ao sacrário estão os famintos, os sedentos, os peregrinos, os despidos, os doentes, os presos... com os quais Jesus mesmo se assemelha (cf. Mateus 25,35s). Quando Cristo diz Vinde a mim!, Ele amplia as possibilidades. Vamos ao sacrário... vamos ao encontro dos irmãos! De repente, sem se perceber nem saber como, a presença do Senhor vai gritar de alegria em nosso coração! CHAVE ESPIRITUAL Um dia, diante do Santíssimo Sacramento, me encontrei toda penetrada por esta Divina Presença; porém, tão fortemente, que me esqueci de mim mesma e do lugar onde estava, e me abandonei a este Espírito, entregando meu coração à força do seu amor... Ele me disse: Meu divino coração está tão apaixonado pelos homens, e por Ti, em particular, que não podendo conter-se em si mesmo as chamas de sua caridade ardente, precisa comunicá-las por teu intermédio e manifestar-se a todos para enriquecê-los com os preciosos tesouros que descubro e os quais contém as graças santificantes e salutares necessárias para separá-los do abismo da perdição. Te escolhi como um abismo um abismo de indignidade e ignorância, para que seja tudo obra minha...minha maior satisfação é estar na presença do Santíssimo Sacramento, donde meu coração se move para seu centro. Passava na tua presença todo o tempo livre. Nosso Senhor me instigava tanto para que fosse encontrá-lo, ali, e quando resistia, era muito difícil explicar o montante de meus padecimentos. (Santa Margarida Maria Alacoque, Escritos Autobiográficos) 8

9 QUEREMOS VER JESUS Olhar misericordioso e Coração aberto Rezar diante do sacrário, no fundo, é expressar nosso desejo de ver Jesus, um sentimento, um desejo que o coração humano sempre tem. Deus não está distante. Na Eucaristia acontece ternura e coração. Quando passamos um momento junto ao sacrário, no íntimo experimentamos a alegria de estar com Ele. Jesus-Hóstia é Jesus vivo, completo, que arde de amor por seu Pai e cada um de nós, porque entregou a vida. É Jesus amando a humildade, a doçura, o silêncio, a paciência. Como se apresentar diante d'ele? É uma experiência de fé viva. Às vezes, esta experiência nos faz sentir simplesmente secura. No entanto, apesar de tudo, sempre se pode viver na alegria de olhar como Ele olha, segundo dizia Santa Tereza. O próprio Jesus está na Hóstia para nos transformar pelo seu exemplo. A chave é sempre um olhar de fé, de esperança e de caridade. Um olhar que deseja realmente ver Jesus, encontrar-se com Ele. Porém, a caridade é maior (cf. I Coríntios 13,13), e por isso, pela caridade nos encontramos pessoalmente com Ele. O sacrário não pode ser o ponto final, mas deve ser a porta de entrada para a experiência de amar como Jesus ama. Diante d'ele, nos resta apenas abrir o coração: do mesmo modo como Ele se expõe no Santíssimo Sacramento, também nós somos convidados a nos expor diante d'ele, abrindo a porta de nossa alma... para Ele, através dos nossos irmãos. CHAVE ESPIRITUAL Nós temos que ter a atitude das crianças. Lembro de um fato, na periferia, num lugar chamado Sinhá. Havia lá uma sala, que hoje é uma capela, onde as crianças vinham para seus trabalhinhos, suas orações. Depois de tudo terminado, num dia desses de trabalho, veio uma criança, sujinha, melequinha no nariz... aquela coisinha pequenina... e bateu na porta daquela sala, que já estava fechada. Uma Irmã atendeu: O que você quer? Acabou de sair daqui, menina... Eu quero ver Jesus, disse a pequena. A Irmã disse assim: Meu Deus, ela quer ver Jesus! Como é que vai ser? Você pode entrar, entra aqui. A Irmã levou a menina a outra sala e disse: Essa aqui é a sala onde a gente reza, você sabe. E a menina, sem esperar: Eu sei, eu sei, só não estou vendo nada. Eu quero ver Jesus!. Aí, a Irmã se lembrou que havia uma salinha pequenina, onde se guardava o Santíssimo. Então levou a criança e disse: Olha, você vai entrar na salinha. Ele está aqui!. Oh, não tô vendo nada!. A Irmã ficou meio atrapalhada, aproximou-se do tabernáculo, abriu a portinha e disse: Mas Ele está aqui!. A menina continuou: Não tô vendo nada! A Irmã, num gesto de coragem, tirou a tampinha da píxide, e a criança deu um salto, pegou a Hóstia na mão e disse: Oh, meu Jesus, como eu gosto de você!. E colocou a Hóstia de novo e saiu correndo. Se a gente pudesse dizer também: oh, Jesus, como eu gosto de você! Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, sj (20 de maio de 2006, no Congresso Eucarístico Nacional, em Florianópolis SC) 9

10 EU ESTOU COM VOCÊS! De repente, com Tua presença, amanheceu na minha alma. Quando nos colocamos na presença do Cristo Eucarístico, verdadeiramente, sentimos em cada instante a alegria de viver. A Eucaristia, como diz o próprio Jesus, é o pão que o Pai nos envia do céu. E assim o faz para que tenhamos vida, pois aquele que come deste pão viverá para sempre (João 6,51). Esses aspectos se descobrem na Presença Eucarística, pois é o Cristo o dom do Pai, presente da vida que nos garante abundância (cf. João 10,1-10). Nossa experiência deve ser de alegria ao compartilhar a presença do Senhor na Eucaristia, permanecendo ao seu lado, pois o tempo passa, mas o Cristo presente não passa. Ao descobrir Jesus, nossa maior graça é viver da certeza de um Deus que se aproxima de nós. É Jesus que desaparece sob a aparência comum do pão e se dá como alimento a nós. Isso se realiza como convite à nossa humildade, em união ao desaparecer de Jesus. Se nos sentimos abandonados por Deus, se nos sentimos rejeitados pelos homens, mas seguimos na certeza, pela fé, do amor infinito de Deus, que nos impele a amar a todos, devemos considerar-nos felizes (cf. Atos 5,41). A Eucaristia é Deus armando sua tenda para habitar conosco. É Deus que se volta para nossa fraqueza e limitação, sussurrando ao nosso coração: não tenhas medo, Eu estou com vocês! CHAVE ESPIRITUAL Filho meu, que estás na terra, preocupado, sozinho e tentado. Eu conheço perfeitamente o teu nome e o pronuncio como que santificando-o, porque te amo. Não, não estás sós, mas habitado por Mim, e, juntos, construímos o Reino do qual tu serás o herdeiro. Me alegra que faças minha vontade, porque minha vontade é que tu sejas feliz, já que a glória de Deus é o homem-vivente. Conta sempre comigo e terás pão para hoje; não te preocupes, só te peço que partilhes o pão com teus irmãos. Sabes que perdoo tuas ofensas, antes mesmo que as cometas; 10

11 por isso, te peço que faças o mesmo com quem te ofendeu. Para que não caias em tentação, segura forte a minha mão e Eu te livrarei do mal, pobre e querido filho. (José Luis Descalzo El Reino del Corazón de Jesus, janeiro 2009) 11

12 QUEM PODE SUBIR ATÉ O MONTE DO SENHOR? Tereis alegria no coração, como o que caminha ao som da flauta, para vir ao Monte do Senhor, junto ao rochedo de Israel. (Isaías 30,29) A Santa Missa é subir ao Monte do Senhor para renovar a oferta de Cristo ao Pai pela redenção do mundo. É subir ao monte para oferecer a vida e dá-la no Calvário, para que todos os homens tenham vida. Foi Jesus que, numa entrega total, subiu ao Monte Calvário para descobrirmos seu amor incondicional por nós. O amor de Jesus se faz oferta. Verdadeiramente o Senhor não nos ama em vão. Nos ama até dar a vida na cruz, como permanente declaração de amor. A Missa é o constante desejo de Jesus de nos ver com vida plena. Por isso, para Ele, não importa perder a vida no Monte, o que importa é, realmente, o seu amor autêntico voltado a cada pessoa. Esse amor é um convite a todos nós: pela Missa nosso coração deve se abrir aos outros. É um compromisso que já foi selado pelo próprio Jesus com cada um de nós e agora, como cristãos, devemos selar com os irmãos e irmãs, especialmente com os que mais sofrem. Não combina comungar e fechar-se em si. Eucaristia é abertura! A Eucaristia celebrada, proclamada e adorada, é a entrega de Jesus que se doa até o extremo. Quem doa mais? CHAVE ESPIRITUAL Olhai para Jesus à mesa da Ceia, abençoando o Pão, que Ele muda substancialmente no seu corpo. Vede-O elevando ao céu os seus olhos divinos. Todo o seu rosto brilha com uma doçura inefável. Ele está num êxtase de amor. É que neste momento o Sagrado Coração realiza o ideal da sua vida. Ele quis oferecer-nos uma nascente de graças, onde pudéssemos colher todas as bênçãos e todas as alegrias. Quis também dar-se a nós para viver na intimidade com cada um de nós. Realiza tudo isto instituindo a Eucaristia, e está como que inebriado de alegria e de amor. Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco (Lucas 22,15). Durante toda a sua vida, Jesus tinha fome e sede de ver o dia desta páscoa. Queria abrir-nos esta nascente de vida, queria começar esta intimidade conosco. A Eucaristia era a nascente de todos os dons que o seu Coração nos abria. Não é apenas um dom especial, um favor particular que este Coração liberal quer fazer às almas que ama; são todos os dons ao mesmo tempo, são todas as graças concentradas num só dom. Sejam quais possam ser as necessidades de uma alma nesta vida, é aqui que ela encontra o socorro, o remédio, a biblioteca para tudo. É um resumo de todos os seus dons que nos deixou o Deus de misericórdia, dando-nos este pão de vida. Almas que a tentação prova, que as desgraças afligem, almas perturbadas e hesitantes, almas pobres, enfermas, moribundas: sabei recorrer a este remédio divino. Almas ternas, que tendes necessidade de afeição, vinde a este Amigo. É neste tesouro de toda a espécie de bens que uma infinidade de almas encontrou a sua satisfação. Os outros 12

13 meios nos faltam às vezes: oportunidades, a ocasião, uma abordagem fácil... mas neste Sacramento admirável, Jesus está sempre presente, está sempre pronto, está em toda a parte... está para todos. Ó Jesus, a Vossa Amizade confunde-me. A minha alma sente-se perturbada. (...) Digo com os lábios e gostaria de dizer com todo o meu ser: eis o meu coração, tomai-o e nunca mais me permitas que o tome de volte. (Padre Leão Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus) 13

14 SUBIREI AO DEUS DA MINHA ALEGRIA Me aproximarei do altar de Deus, do Deus de minha alegria e exultação. E vos louvarei com a cítara, ó Senhor, meu Deus! (Salmo 42,4) A Missa deve ser uma experiência de encontro. Um encontro de coração a coração. A Celebração Eucarística fala tanto e, mesmo assim, são muitos os que afirmam que não diz nada o que se celebra nela. Eucaristia, ou ação de graças, recorda o sacrifício de Jesus. A palavra sacrifício, de origem latina, significa tornar sagrado. Não é fazer algo difícil, mas no sentido espiritual é um oferecer a Deus um presente, um ato sagrado, um ato de amor. É um mistério da fé. Quando se cresce na fé, unido à Igreja, se experimenta um envolvimento nos mistérios que trazem em si a própria vida criada. Isso deve nos encantar, nos fazer sentir a cada dia, no Mistério da Fé, a alegria de poder desvendar um pouco dos nossos próprios mistérios. É como subir ao altar do Senhor, Deus de nossa alegria, e contemplar a alegria verdadeira de nossa vida. É momento de alimentar-se. A nossa refeição sempre reúne em torno da mesa pessoas que se querem bem - é um momento de partilha, de confraternização, de amizade. E, depois da refeição, estamos prontos para caminhar, trabalhar, gastar as energias. Como você quer gastar as energias da Eucaristia? CHAVE ESPIRITUAL Mistério da Fé! Se a Eucaristia é um mistério de fé que excede tanto a nossa inteligência que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de abandono. A Eucaristia, ao mesmo tempo que evoca a paixão e a ressurreição, coloca-se no prolongamento da encarnação. E Maria, na anunciação, concebeu o Filho divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando n'ela o que se realiza sacramentalmente em cada crente quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o corpo e o sangue do Senhor. Existe, pois, uma profunda analogia entre o Fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o Amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor. A Maria foi-lhe pedido para acreditar que Aquele que Ela concebia por obra do Espírito Santo era o Filho de Deus (cf. Lucas 1, 30-35). Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico nos é pedido para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, Se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino. Feliz d'aquela que acreditou (Lucas 1, 45): Maria antecipou também, no mistério da encarnação, a fé eucarística da Igreja. E, na visitação, quando leva no seu ventre o Verbo encarnado, de certo modo Ela serve de sacrário o primeiro sacrário da história, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, Se presta à adoração de Isabel, como que irradiando a sua luz através dos olhos e da voz de Maria. Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: Isto é o meu corpo que vai ser entregue por 14

15 vós (Lucas 22, 19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o d'ela e reviver o que tinha pessoalmente experimentado junto da Cruz. (João Paulo II, na encíclica Eclesia de Eucharistia, nº 55-56) 15

16 JESUS ESTÁ PERTO Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. (João 15,9) Não acredite que o amor, para ser autêntico, precisa ser extraordinário. O que é preciso, realmente, é amar sem cansar. Teresa de Calcutá refletia sobre como arde uma lamparina: através do seu alimento contínuo, com pequenas gotas de querosene. Se as gotas de querosene acabam, a luz da lamparina deixará de existir e o esposo dirá: Não te conheço! (cf. Mateus 25,1-13). O que são as gotas de querosene da nossa lamparina? São as pequenas coisas da vida de cada dia: a fidelidade, a pontualidade, as pequenas palavras de carinho e respeito, um pensamento pelos outros, o silêncio, o olhar, o falar, o agir, a oração. Eis aí as verdadeiras gotas de amor que mantém aceso o nosso amor por Cristo Eucarístico. Não devemos buscar Jesus longe de nós: Ele está em cada um de nós, partilhado pela Eucaristia, alimento de vida eterna. Mantenhamos a lamparina acesa e iremos reconhecê-lo. Podemos dizer que, pela oração, o homem se eleva acima de si mesmo, alcançando a grandeza da criação e da história, pois a oração é um diálogo com o Criador da Vida. Depois de Jesus, chamamos o Criador de Pai! Aí se descobre Deus como Santo, mas ao mesmo tempo, um Deus comprometido, sensível ao clamor do povo (cf. Êxodo 3,7-9). O Deus que diz pela oração ao homem Vem!, na mesma oração diz Vai!. A oração alimenta nosso olhar para o mundo, para o sofrimento das pessoas abandonadas, sem amor. Sem a oração, nosso olhar não consegue descer à profundeza da vida humana, na qual o próprio Deus entra em comunhão, pela Eucaristia, fazendo-se presente nos condenados, humilhados e ofendidos da história. Isso é maravilhoso: um Deus que é amor completo e para todos! CHAVE ESPIRITUAL Senhor, eu gosto de estar contigo! Eu gosto de parar por alguns momentos da vida, de me acalmar, de silenciar, de saborear a tua presença, de me fazer presente. Senhor, como é bom olhar a vida, os acontecimentos, a história, a partir de Ti! Sentar diante de Ti e, contigo, contemplar uma caminhada feita. Contigo acolher o momento presente. Contigo se dispor ao futuro. Sobretudo, Senhor, é bom estar contigo! Curtir o momento especial de estar diante de Ti, frente a frente, lado a lado... contigo! De acolher o Teu Ser, de encarnar em mim a Tua maneira de amar. De me deixar tocar por Tua maneira de acolher. De entrar na profundidade de Teu olhar carregado de misericórdia, de esperança, de ternura, deixando-me tocar pela Tua Vontade. Obrigado, Senhor, por estar comigo. Obrigado por Tua presença amorosa. Obrigado pela Tua Graça que dá sabor e sentido ao meu viver. Todo o meu ser Te deseja, Senhor! Confesso que tenho sede de Ti. 16

17 Desejo muito Te escutar, de me deixar fazer, de me deixar conduzir pela Tua Graça, de ser solidário com teu jeito criativo de marcar presença. 17

18 SE ALGUÉM TEM SEDE... Neste dia, o último da festa, que é o mais solene, Jesus se pôs de pé e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. (João 7,37-38a) Neste dia, Jesus, de pé, exclamou.... Este dia é hoje. Jesus permanece de pé e grita. Ele fala a todos de alguém que é muito importante, que lhe vem do Coração: o Espírito Santo que, na cruz, vai jorrar como água de seu lado transpassado (cf. João 19, 31-37). O Espírito que ele comunicou na cruz é dado ainda hoje. Quando se dirige assim, à multidão e a cada um de nós, Jesus aparece como Rochedo que, ferido, faz jorrar a água viva para aqueles que morrem de sede. Jesus permanece aqui, no meio de nós, de forma muito especial pelo Santíssimo Sacramento, gritando: Se alguém tem sede.... Qual a nossa sede? Será que nossa sede é igual a de Israel no deserto, cheia de murmúrio, revolta contra Deus quando, na provação, acusa-se Deus como o responsável pela infelicidade? Na Eucaristia, a Encarnação se multiplica por toda a Terra. É Jesus que nos espera em todos os sacrários para nos consolar, iluminar, alimentar. Na Hóstia, Ele esconde sua divindade, sua humanidade, a fim de que enxerguemos melhor o Seu Coração. Hoje, Jesus permanece aqui, no meio de nós e grita: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. CHAVE ESPIRITUAL Aqui estou, Senhor, com muita simplicidade; aqui estou, porque te amo. O que trago para Ti? Gostaria de te trazer grandes presentes. Gostaria de trazer multidões conquistadas, convertidas para ti. Mas talvez esteja trazendo tão somente a experiência de minha própria limitação. A esse respeito, cada pessoa que te busca pode falar por si mesmo. Gostaria, Senhor, de ser melhor, mais santo, mais dedicado, mais generoso, mais simples, mais serviçal, como Tu. Gostaria de ser um pouco mais semelhante a Ti ; mas como estou longe disso, Senhor Jesus! Trago, pois, meu coração, que é muito pobre, mas que Tu amas e aceitas como ele é. Diria que Tu nunca te decepcionaste comigo, porque sabes como sou, o que posso te dar e o que posso te oferecer. Te ofereço, então, minha pobreza, meu corpo, minha inteligência e o desejo de te servir melhor. Ofereço a Ti a minha vida: só tenho uma e muitas vezes mal vivida, mas a ofereço a Ti, conhecendo tua capacidade imensa de transformar tudo e de santificar, de transformar a vida de todos, fazendo com que dessa miséria, que somos nós, humanos, surja uma hóstia viva, para ofereceres ao Pai. (Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, scj) 18

19 UNIDO CONTIGO, SENHOR A Eucaristia é o lugar dos que amam sempre Quando comungamos, o Senhor Eucarístico nos faz carne de Sua Carne, sangue do Seu Sangue, justamente para que todos que comungam vivam na experiência alegre de amor e ternura. A comunhão de cada dia é a loucura de Deus por nós! É a vida de Jesus na nossa vida, na nossa pobre vida, que em contato com o Senhor da Vida nos permite fazer nascer asas no coração, que nos levam às alturas do Criador, pela fé. A alma se enche de esperança! A comunhão inunda nosso ser de amor. Ensina-nos que, unicamente, é preciso saber recebê-la, pois tudo é de graça. É recordar que, cada vez que se comunga, une-se a Jesus numa comunhão que nem os anjos podem ter com o Senhor! Por isso, podemos cantar num único coro, que comungar é tornar-se um perigo e que, com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar ao Coração de Deus. Comungar é receber Jesus, que foi vítima do sacrifício, mas agora está vivo! Comungar é receber o que significou a morte de Cristo para nossa pessoal redenção. É receber o remédio da nossa salvação. Não é receber uma coisa, mas uma pessoa e sua doutrina. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele (João 6,54). CHAVE ESPIRITUAL Cada vez que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele volte (1 Coríntios 11,26). Com estas palavras, São Paulo recorda aos cristãos de Corinto que a Ceia do Senhor não é só um encontro de convívio, senão também o memorial do Sacrifício Redentor de Cristo. Quem participa nele explica o apóstolo - se une ao mistério da morte do Senhor; mais ainda, o anuncia. Por tanto, existe uma relação muito estreita entre fazer a Eucaristia e anunciar a Cristo. A Igreja vive da Eucaristia e sabe que esta verdade não só expressa uma experiência diária de fé, senão também conclui de maneira sintética que o núcleo do mistério é ela. (João Paulo II, Corpus Christi 2004) 19

20 SEDUZISTE-ME, SENHOR! Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! (Jeremias 20,7) A presença de Jesus no sacrário seduz. Ao lado de Jesus Sacramentado cresce o amor e a liberdade de amar. Com Cristo se aprende a viver numa presença humana, de essência divina, que cativa para o amar. O Senhor seduz com o próprio Coração; enamora-se de cada um com ternura e afeto, sentimentos humanos que ganham forte sentido na gratuidade divina. Jesus Eucarístico é aquele que abre as portas do Coração Vivo, sem portas. É assim que Ele nos diz que não tem segredos conosco. Estou contigo, diz o Senhor. Na escola da vida vamos aprendendo a saber que nada podemos sem o Cristo Encarnado. Precisamos nos deixar seduzir pelo Coração Eucarístico, que contém em si toda a satisfação. Pela presença real e permanente no sacrário, pelo prazer de saber que Ele vive perto de nós, nos aguardando, ouvindo, atendendo, consolando, somos seduzidos pelo Senhor que nos ama incondicionalmente, sem reservas. Vamos sempre mais nos aproximar de Jesus, até que possamos dizer, em verdade e liberdade, como o profeta: me deixei seduzir! Jesus é, realmente, nos mistérios da Paixão, um livro escrito por fora e por dentro. E as únicas letras que lemos são A M O R. É o amor inesgotável e inesgotado que não tem em conta o que sofre e que se dá sem cansar. (Padre Leão Dehon, OSP, pp ) CHAVE ESPIRITUAL Na celebração do Sacramento, Deus está reconciliando o mundo consigo mesmo. A oferenda que apresento diante do altar não será aceita se antes não faço as pazes com meu irmão que, ferido, apresenta-se na minha consciência. Sacia a tua alma como o alimento da Palavra Divina. E, ainda que indigno, recebe com fidelidade e com maior devoção possível esse pão que desce do céu e que dá vida ao mundo: o Corpo do Senhor Jesus. Deste modo, a Carne da Ressurreição renovará e confortará o velho odre de teu corpo. Assim, melhorado por este recipiente, poderá conter o vinho novo que está no interior. E assim, enfim, viverás da fé, nunca te lamentarás de ter esquecido de comer Teu Pão. Tens-te convertido em Belém, e digno, portanto, de acolher o Senhor. (São Bernardo) 20

21 SIMPLESMENTE, AQUI ESTOU! Sou feliz quando o Senhor se aproxima de minha vida Colocar-se diante de Jesus Sacramentado é um gesto de amizade. Não importa como está nossa vida, o que importa, primeiro, é estar com este amigo. É um viver na fé, na esperança, encontrando consolo no amor. Simplesmente, aqui estou com minhas canseiras, perturbações cotidianas... Não importa estar assim. Quando se entende o Amor Doação realizado em Jesus, prefere-se simplesmente unir-se ao manso e humilde coração que nos chama para amar. Contemplar o Coração que se doa no pão nos leva a encontrar a forma humana de Deus, que prefere rebaixar-se para revelar todo o seu imenso amor destinado a cada ser humano. Sem mais anseios de estar com o Senhor, sem outra motivação, é sinal de alegria colocar-se nas mãos de Deus com infinita confiança, com o coração pronto para exclamar sinceramente: aqui estou, Senhor, junto de Ti que vives no sacrário. É maravilhoso estar com Ele, reclinado sobre seu peito, como o discípulo amado (cf. João 13,25); é maravilhoso apalpar o amor infinito do Coração de Deus. Nossa Igreja precisa se distinguir, em nossos tempos, pela arte da oração, especialmente pela renovada experiência de conversação espiritual na adoração silenciosa, como atitude de amor. E diante do sacrário, devemos ser capazes de reconhecer a manifestação do amor de Deus em Jesus: despojado para nos enriquecer. Quando cada coração nosso estiver livre para clamar Simplesmente, aqui estou, seremos enriquecidos com os tesouros do Reino de Deus, do Deus escondido que nos espera constantemente, sem reservas, para revelar todo o seu amor! CHAVE ESPIRITUAL Senhor, muitas vezes me falta mais confiança em Ti. Falta-me mais confiança nos outros e em mim mesmo... isso me leva a experimentar medos, resistências, divisões interiores, desânimos... Muitas vezes calculo demais os meus passos no dia-a-dia, os meus sonhos... sinto um grande desejo de confiar mais, de amar mais. Tua presença amiga e Tua Graça me animam a continuar a vida, a continuar mais próximo de Ti e mais próximo dos Teus filhos amados, meus irmãos. Obrigado por não condenar. Obrigado por nunca fechares a porta da acolhida. Obrigado pelo perdão, pela graça, pela esperança... Obrigado por tudo! Obrigado por nos conduzir, apesar de tudo, sempre pelo caminho da vida. Verdadeiramente a Tua Graça transforma a nossa vida! Estou aprendendo contigo, Senhor: Que a última e decisiva palavra no mundo é a vida, e não a morte; Que todos os desafios são para serem ultrapassados; Que nenhuma noite consegue impedir o amanhecer do novo dia; 21

22 Que sempre existe luz no fim do túnel; Que Tua presença está em todo o mundo! Senhor, me envergonho de preferir, muitas vezes, uma vida artificial, vazia, sem gosto, em vez de viver agradecido, solidário e comprometido com os outros. Eu sei que só estarei em paz profunda se todo o meu ser, toda a minha vida e toda a minha missão repousar em Ti. Senhor, dá-me a água pura que traz a vida! Dá a capacidade de confiar totalmente em Ti. Pois meu coração continua gritando: eu gosto de estar contigo! 22

23 SEMPRE, SENHOR! O melhor bem que possuímos é saber que o Senhor ama sempre O Senhor sempre está conosco. Não num tempo... nem num dia... Sempre significa que a presença eucarística de Jesus é presença permanente de amor entre nós. O Senhor é um Deus que nos quer sempre debaixo de suas asas (cf. Mateus 23,37), que nos espera sempre de braços abertos e nos acolhe com um beijo (cf. Lucas 15, 20). Viver da presença de Jesus é desvendar do Coração a solidariedade que assedia o coração humano. É saber que ao lado do Senhor tudo é diferente. Quando se experimenta a presença de Jesus, o coração humano se enche de uma esperança certa. Jesus nunca está distante, é sempre nossa esperança. Deslumbra-me rodear-te com carinho e ternura quando te recebo na Eucaristia. Tu vens à minha casa pobre. Preocupo-me que a encontres sempre limpa e ajeitada. Quero que Tu te sintas acolhido. Quando te recebo, como dizia Santa Tereza de Lisieux, ponho-me ao colo para comungar e, enquanto me aproximo de Ti, peço a Virgem Maria que me prepare e me purifique para receber-te do melhor modo possível. Aproximo-me com confiança e com muita esperança. Procuro olhar para Ti mais que olhar para mim. Então, sinto na fé a alegria da tua presença, que sempre cura. Diga uma palavra e basta para que eu me salve! CHAVE ESPIRITUAL O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plenamente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência de um banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Aos germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os homens. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor o rosto de Cristo, não pode deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor. (João Paulo II, Eclesia de Eucharistia, nº 24 e 25) 23

24 PROCURO A PAZ! A paz é Jesus na Eucaristia A paz se encontra em deixar-se olhar pelo Senhor desde a Eucaristia. É o próprio Jesus que permanece perto de nós pois escolheu, sendo Deus, viver com os filhos dos homens. A paz é fruto do Espírito (Gálatas 5,22) e se adquire permanentemente com a contemplação que nos leva a viver cumprindo a vontade de Deus. Nada nos enche de mais paz que saber do amor de Deus por cada um de nós. Jesus permanece vivo na Eucaristia para que sintamos a cada dia a alegria do Seu Olhar. Ao fixar, com nossos pobres olhos, o olhar de Jesus, pela fé, sentimos a alegria de saber que o Senhor é um Deus conosco, que escolheu ficar conosco para todo o sempre, andando conosco lado-a-lado. Em Jesus Sacramentado encontramos sempre a paz! Uma paz duradoura, estável, ao alcance de todos que procuram. Uma paz que inunda a alma de alegria e satisfação, capaz de experimentar a força do amor de Deus. CHAVE ESPIRITUAL Sei que a Eucaristia é a vida das almas e das sociedades humanas, assim como o Sol é a vida dos corpos e da terra: sem o Sol, a Terra seria estéril. É ele que a fecunda, embeleza e a faz rica; é ele que dá aos corpos a agilidade, a força e a beleza. Diante de tais efeitos prodigiosos, não é estranho que os pagãos o tenham adorado como o Deus do mundo. Com efeito, o astro do dia obedece a um Sol supremo, ao Verbo Divino, a Jesus Cristo que ilumina a todo ser humano que vem a este mundo e que, pela Eucaristia, Sacramento da Vida, atua pessoalmente, no mais íntimo das almas, para formar assim famílias e povos cristãos. Ó ditosa e mil vezes ditosa a alma que encontrou este tesouro escondido, que vai beber nesta fonte de água viva, que come frequentemente este pão de vida eterna. (São Pedro Julian Eymard) 24

25 A LUZ DO SACRÁRIO Pobre para apontar a melhor riqueza A simples luz junto ao sacrário indica que o Senhor vive ali, que há a presença do Deus que arma a sua tenda (João 1,14) para permanecer conosco. A luz indica que o próprio Jesus nos convoca para viver em Sua Presença. É uma luz simples, como precisa ser nossa presença diante do Senhor. Ilumina o mistério contemplado, porém sem revelá-lo totalmente, como que querendo dizer-nos: só pela fé sabemos da presença do Senhor que permanece também no sacrário para nos ajudar a dar passos que nos levam ao Pai. A lâmpada do sacrário é frágil, da mesma forma que às vezes é a nossa esperança e nosso amor. Porém, mesmo assim, persevera, de dia e de noite, na presença do Ressuscitado, pois sabemos que o amor de Jesus por nós é incondicional e nunca nos deixará. A luz do sacrário indica que é o próprio Amor quem escolheu ficar conosco. CHAVE ESPIRITUAL Quando não me resta nada Quando encontro-me nas últimas Resta-me a Ti, Sempre perto da minha pobreza Disposto a preencher o meu vazio Sou pobre E cada dia ensaio a alegria de viver Sabendo, Senhor, Que Tu és a minha riqueza. Sou pobre, caio muitas vezes, Custa-me levantar-me E, sem dúvida, digo-te ao ouvido: Obrigado, porque minha pobreza É a exigência do Teu Coração. 25

26 QUEM ÉS TU, SENHOR? (este texto não foi digitado em Word; para não faltar, incluí a página diagramada como imagem) Eu sou o Pão da Vida (João 6,48) CHAVE ESPIRITUAL Jesus é o Verbo Encarnado, o Pão da Vida, a vítima oferecida pelos nossos pecados na cruz. É o sacrifício oferecido na Missa pelos pecados do mundo e pelos meus. Jesus é a Palavra para ser falada. Jesus é o Caminho a ser percorrido, a Verdade para ser dita e a Vida para ser vivida. Jesus é a Alegria para ser compartilhada, a paz para ser dada, o Pão da Vida para ser alimento. Jesus é o Faminto, para ser alimentado. Jesus é o Sedento, para ser saciado. Jesus é o Despido, para ser vestido. 26

27 Jesus é o Desabrigado, para ser acolhido. Jesus é o Doente para ser curado. Jesus é o Solitário para ser amado, o Indesejado para ser desejado, é o Leproso para as chagas limparmos. Jesus é o Pedinte, para o sorriso lhe darmos, o Bêbado para o escutarmos, o Pequenino para o abraçarmos. Jesus é o Cego para o conduzirmos, o Mudo para por ele falarmos, o Aleijado para com ele caminharmos. Jesus é o Dependente de drogas, para seu amigo nos tornarmos, a Prostituta para do perigo a afastarmos e seu amigo nos tornarmos. Jesus é o Preso para ser visitado, o Idoso para ser servido. Jesus é o Filho de Maria, o Bem-Amado. Jesus é a luz a ser acesa, o Amor para ser amado. (Madre Teresa de Calcutá) 27

28 AJUDA-ME, MARIA, A REZAR Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2, 5) Quantas vezes, durante nosso caminhar, acreditamos ser impossível seguir em frente. Paramos diante de nossa pouca fé e, no egoísmo de nosso viver, não permitimos que o amor infinito de Deus seja conosco. Não ter mais vinho, como aconteceu nas bodas de Caná, era um sinal de que todos estavam desanimados, desencorajados de seguir em frente com a festa do casamento. Você e eu estamos nesta festa. O casamento é a aliança de Deus com cada um de nós. Absorvidos pelo barulho, pela agitação, pelo comodismo, não percebemos que nossa tristeza está na falta do vinho, a alegria verdadeira que só Deus pode nos dar. Presos no costume de esperar pelos outros, choramos nossa falta de coragem. Maria é sinal de quem entendeu a Palavra, a promessa de vida eterna. Eles não tem mais vinho (João 2, 3), diz Maria a Jesus. Eles não tem mais alegria na vida! Maria foi a primeira adoradora em espírito e em verdade. Por isso, é capaz de ajudar a todos a encontrar alegria. Nossa atitude deve ter o sim de Maria, mesmo em meio a tantas dificuldades. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra (Lucas1,38). Ao confiar no Senhor como ela fez, foi capaz de revelar o Messias a toda humanidade, aquele que é capaz de encher-nos com a água da vida, tornada vinho da alegria plena, e com o melhor sabor já provado (cf. João 2, 10). As palavras de Maria são como testamento, que nos recordam a necessidade de estar diante do Cristo Eucarístico com fé viva e atitude de escuta. Quando recebemos o Pão Vivo, devemos recordar o que deve ter sentido a Virgem Maria quando o Espírito Santo desceu sobre ela e a cumulou de graça, e o momento em que sentiu no seu ventre o corpo de Jesus. A vida espiritual foi tão intensa nela que imediatamente, se levantou para ir servir a sua prima Isabel... CHAVE ESPIRITUAL A oração é tão necessária! É certo que a graça não se obtém senão pela oração, e sem a graça nós não podemos fazer nada de meritório para o céu. E porque é que rezamos tão pouco? É, em primeiro lugar, porque não estamos bastante convencidos da nossa fraqueza extrema, da nossa pobreza espiritual, da nossa miséria profunda; é porque não estimamos bastante os bens da graça; é porque duvidamos da verdade das promessas de Nosso Senhor, que disse que tudo o que pedíssemos em seu nome nos seria concedido. Rezemos com Jesus e como Jesus! Como os apóstolos, unamos as nossas orações às de Maria: perseveravam na oração em união com Maria, Mãe de Jesus (Atos 1,14). Ó vida de orações e de santos desejos, como sois pouco estimada, pouco amada, pouco praticada! Ó doçura da oração, poder da oração, riquezas da oração, como sois pouco conhecidas! As nossas orações mal feitas tornam-se fastidiosas e permanecem ineficazes. Voltemos ao fervor de outros tempos. Um coração amoroso por Deus e pelo próximo reza com fervor. 28