Características metodológicas e hermenêuticas da literatura joanina dominante no Brasil de 1960 a 2007.

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1 2017 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Características metodológicas e hermenêuticas da literatura joanina dominante no Brasil de 1960 a Rodrigo Schüler de Souza, Ramiro Mincato (orientador) Faculdade de Teologia, PUCRS Resumo A pesquisa realizada apresenta as Características Metodológicas e Hermenêuticas da Literatura Joanina no Brasil no intuito de analisar as obras, artigos e pesquisas realizadas no Brasil desde 1960 em vista de uma classificação quanto ao uso do método exegético socioantropológico, estipulando desde os graus mais próximos até os mais distantes no uso do método. Por meio desse estudo descobriremos a imagem do Evangelho de João presente na produção literária brasileira. O Evangelho aparece transcendental longínquo da realidade histórica ou hermeneuticamente encarnado? Os estudos socioantropológicos demonstram que, embora o evangelho joanino não tenha intenção de enfatizar a encarnação e a humanidade de Jesus Cristo, não deixa de dizer o contrário. Dessa forma ter-se-á uma noção da interpretação do evangelho de acordo com o reconhecido método científico e de acordo com a teológica opção fundamental pelos pobres. O resultado desse estudo servirá como instrumento e alerta para as pesquisas no Brasil e para estímulo à produção de uma cristologia joanina encarnada e hermeneuticamente sustentável. Introdução Partindo dos resultados da pesquisa de identificação e classificação das produções bibliográficas a intenção é estabelecer um mapa da tipologia exegética no Brasil sobre o evangelho joanino. O método socioantropológico foi mais intensamente desenvolvido em vista de uma leitura bíblica interessada em auxiliar as camadas populares da sociedade brasileira no caminho da libertação. Essa exegese deu fundamento teológico à caminhada das

2 2018 comunidades. Ela alimentou a esperança e foi luz e instrumento de libertação da sociedade marginalizada. Dela veio a força para lutar por justiça salarial, igualdade social, moradia digna, saneamento básico, distribuição de renda... Essa exegese subsidiou a Leitura Orante da Bíblia, de grupos de estudos bíblicos. A leitura socioantropológica mostrou a presença de Deus do lado de quem mais sofre. E Deus socorre primeiro o pobre, o desprotegido, o desqualificado, o marginalizado. Foram muitas ações concretas da Igreja, como a Cáritas, a Pastoral da Terra, a Pastoral Carcerária, a distribuição de alimentos e de agasalhos, a Pastoral da Mulher Marginalizada, a Pastoral da Criança, a Pastoral da Saúde, a Pastoral da Pessoa Idosa, a Pastoral Operária, a Pastoral Afrobrasileira, a Pastoral da AIDS, a Pastoral do Menor, a Pastoral do Povo de Rua, a Pastoral do Migrante... A qualidade exegética do método socioantropológico enriqueceu a Hermenêutica Bíblica das comunidades de base engajadas na transformação da realidade. Por isso, espera-se que a localização, identificação e classificação das produções socioantropológicas do quarto evangelho sirvam de estímulo para novos aprofundamentos e, ao mesmo tempo, sirvam de diagnóstico para aprimorar a aplicação desse método na sociedade. Verificamos assim um avanço na leitura bíblica. Metodologia Os critérios de identificação do método socioantropológico basearam-se nos seguintes autores: JOHAN KONINGS, AIRTON JOSÉ DA SILVA E CÁSSIO MURILO DA SILVA. A partir de exemplos concretos de exegese se verifica a aplicação do método e se explica o processo de classificação e sua justificação. As obras foram classificadas de acordo com o método e justificadas. Ao longo da pesquisa partiu-se do pressuposto de que o método socioantropológico apresenta as seguintes características: - Pressupõe resultados baseados no método histórico-crítico; - Analisa, a partir dos dados histórico-críticos, os motivos sociológicos do autor do quarto evangelho, as motivações de caráter sociopolítico que ajudam explicar a teologia do texto do evangelho; - E sua hermenêutica procura trazer e inculturar a análise socioantropológica do quarto evangelho para os dias atuais.

3 2019 Esse método, portanto, nos permitiu recuperar a dimensão libertadora do evangelista e do próprio Jesus Cristo. Resultados e Discussão O resultado da pesquisa mostrou uma excelente qualidade exegética produzida no Brasil a respeito do quarto evangelho. Um resultado contínuo desde a década de sessenta. Continua, no entanto, espaço aberto para ulteriores aprofundamentos, como na linha da interdisciplinariedade da exegese com as demais ciências e a sociedade. Com isso, fazemos aqui alguns questionamentos referentes à práxis da metodologia socioantropológica no Brasil: - Mesmo que essa exegese foi aplicada em meio às classes socais menos favorecidas através das comunidades eclesiais de base, nos círculos bíblicos, nas leituras orantes da Bíblia, na leitura popular da Bíblia e meio aos movimentos sociais através das pastorais sociais, fica a pergunta: por que na última década cresceu tanto os movimentos fundamentalistas de interpretação bíblica especialmente entre os movimentos pentecostais e neo-pentecostais. Por que um grupo tão grande adere voluntariamente por uma exegese sem critérios científicos e com abordagens literais de interpretação? - Poderia essa leitura conservadora, abstraída dos métodos científicos, ser sinal de libertação a esses que a aderem? Poderia a leitura socioantropológica da Bíblia não mais responder os anseios e necessidades imediatas das pessoas? A fuga da realidade e a alienação religiosa não seriam uma maneira menos dolorida de viver sem esperança nas libertações sócio-históricas? - As Igrejas Históricas não estariam vivendo uma crise da eclesiologia de comunhão ao apresentarem-se como hierárquicas e piramidais contra o que o mundo atual pensa? Ou seriam problemas disciplinares ligados à moral sexual, o papel da mulher e a questão dos divorciados? Não haveria também falhas no fundamento comunitário da Igreja no que diz respeito a responsáveis nas comunidades, serviços e ministérios, quando não há reconhecimento do trabalho e dedicação de autênticos discípulos de Cristo? - Ou simplesmente tudo isso é fruto da sociedade pós-moderna? Estaríamos defasados no uso dos instrumentos modernos de comunicação? - Haveria falta de credibilidade por causa da fraca interação entre fé e vida? Tabela

4 2020 QUANTIDADE de produções MÉTODO Porcentagem 56= Socioantropológico 70% 19 = histórico-crítico 23,75% 3= Fundamentalista 3,75% 2= narrativo-linguístico 2,5% TOTAL=80 Produções relacionadas com São João Classificação exegética da Literatura Joanina no Brasil. Conclusão Ao que diz respeito a pastoral os discursos evidenciam a falta de sincronia com a produção exegética socioantropológica. É comum ouvir o discurso de que o evangelho joanino é essencialmente espiritual, metafísico, desencarnado e abstrato da realidade histórica de Jesus. Diante disso podemos apontar como conclusão sugestões para as próximas pesquisas: - Por que no Brasil há falta de sincronia entre a produção exegética socioantropológica e práxis hermenêutica? - Quais são os motivos dessa ausência de sincronismo? Que novas ações e metodologias de trabalho podem aproximar a produção exegética da teologia prática? - Por que os alunos que saem das escolas de teologia continuam tendo uma visão desencarnada do quarto evangelho, quando a exegese joanina no Brasil demonstra o exatamente o oposto? Referências DIETRICH, Luiz José. Raízes da Leitura Popular da Bíblia. Estudos Bíblicos. Petrópolis, nº 96, p , 2007/4. KONINGS, Johan. Literatura sobre o Evangelho de João em edição brasileira. Estudos bíblicos. Para que todos tenham vida, Petrópolis, v. 33, pg , MINCATO, Ramiro (org.). Bíblia: Ciência, Fundamentalismo e Exorcismo. Porto Alegre: EST Edições, PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação Da Bíblia Na Igreja. Disponível em: << doc_ _interpretazione_po.html>>. Acesso em: 28 de abr. de 2009.

5 2021 RICHARD, Pablo. Chaves para uma re-leitura histórica e libertadora (Quarto Evangelho e Cartas). Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana. A Tradição do discípulo amado, Petrópolis, v. 17, pg. 7-26, 1994/1.