Exame Prática Processual Penal
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- Raíssa Jardim Franco
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1 Exame Prática Processual Penal GRUPO I Um processo crime contém peças cuja cronologia obedece a uma ordem temporal. Acresce que o Principio da Preclusão obriga à existência dessa mesma ordem. Tendo isto em consideração, e admitindo que todos os actos foram praticados no tempo devido, ordene pela respectiva sequência, mediante simples enumeração, os que aqui são indicados. A - Acusação pelo MP. B Apresentação das Motivações de Recurso C - Requerimento, por declaração para a acta, de interposição de recurso da decisão final. D - Intervenção Hierárquica provocada dirigida ao Superior Hierárquico E - Exposições introdutórias em audiência de julgamento. F - Sentença final de 1ª Instancia. G - Apresentação da Contestação. H - Despacho de Arquivamento do Inquérito após a inquirição de varias testemunhas, do Arguido e do Ofendido. I - Acusação pelo Assistente e dedução de Pedido de Indemnização Civil J Notificação de despacho que designou data para julgamento K - Despacho de admissão do Recurso da decisão que colocou termo à causa, fixou do seu efeito e regime de subida. L - Queixa por crime de natureza semi-pública e requerimento para a constituição como Assistente
2 (Cotação: Cada resposta certa 0,25 valores; cada resposta errada desconta 0,10 valores) GRUPO II No dia 22 de Março de 2007, pelas horas, Maria, nascida em 15/10/1972, empregada da limpeza, encontrava-se a lavar as escadas do Centro Comercial Novos Negócios sito na Praça dos Passarinhos, no Porto, quando foi abordada e detida pela PSP que a conduziu ao Posto Policial. Ali chegada foi-lhe dito que era suspeita de, nesse mesmo dia, pelas horas da manhã, ter entrado na ourivesaria Pedras Preciosas, Lda. sita no dito Centro Comercial e de lá ter furtado um anel de brilhantes que ali se encontrava para venda, no valor de 5.000,00 euros (Cinco mil euros). Maria de imediato confessou o furto mas não procedeu à devolução do anel dado aquele ter entretanto desaparecido do cacifo onde o havia colocado. Redigido o Auto de Notícia Maria foi constituída arguida e foi presente ao Magistrado do Ministério Público, tendo este, sem mais, promovido a sua imediata apresentação ao Sr. Juiz para que lhe fosse aplicada uma medida de coacção. Pelas horas, no final deste primeiro interrogatório, e apesar de Maria negar agora a prática do acto, o Juiz validou a detenção e, entendendo que resultavam dos autos fortes indícios da prática do acto e também por existir perigo de continuação da actividade criminosa, determinou a prisão preventiva de Maria, tudo nos termos do disposto nos arts. 202º, 204º e 257º do C.P.P. Deste despacho foram todos os presentes notificados. Na qualidade de defensor de Maria responda sucintamente, mas com indicação dos preceitos legais aplicáveis, ao seguinte: 1 Como reagiria ao despacho Judicial? (2 valores) 2 Até quando o poderia fazer? (3 valores) 3 E o que alegaria? (6 valores)
3 Grupo III Suponha agora que representava a ourivesaria Pedras Preciosas, Lda e que, tendo sido contactado pela respectiva gerente, Sra. D. Eduarda Costa, esta o informa ter apurado junto de Leontina, colega de trabalho de Maria, que o anel furtado se encontra em casa de uma outra colega de ambas, Albertina Gomes, residente na Rua de Cima, nº 35, R/C, no Porto, pelo que poderá ali ser encontrado e recuperado. Acrescenta ainda que pretende uma indemnização por todos os prejuízos causados. 1 Explique, sem esquecer a fundamentação legal, o que faria para obter a satisfação da pretensão da sua cliente quanto à eventual recuperação do anel. (3 valores) 2 E o que lhe diria quanto ao tempo e modo de obter a indemnização? (3 valores)
4 Grelha de Correcção Grupo I L; H; D; A; I; J; G; E; F; C; B; K; (Cotação: Cada resposta certa 0,25 valores; cada resposta errada desconta 0,10 valores) Grupo II 1 Este despacho judicial aplica a Maria uma medida de coacção, a prisão preventiva. Trata-se de uma decisão proferida por um Magistrado Judicial, o JIC. Pelo que o meio adequado de reacção será, ao abrigo do disposto nos arts. 219º, 399º, 400º, à contrário, e 401º, nº1 e 2, todos do CPP, o recurso desta decisão (2 valores) 2 O despacho foi proferido no dia em que os factos ocorreram, 22 de Março de 2007, e foi imediatamente notificado a todos os presentes. Estamos por isso perante um caso de notificação pessoal efectuada ao abrigo do disposto no art.113º, nº1, al. a) do CPP. Assim Maria e o seu defensor consideram-se imediatamente notificados e o prazo de que dispõem para recorrer começa a correr no dia imediato ao da notificação (art. 279º al. b) do C. civil). Sendo que o prazo de interposição do recurso é de 15 dias (art. 411º, nº1), contínuos (art.144º, nº 1 do C. P. Civil, aqui aplicável por força do disposto no art. 104º nº 1 do CPP) e cuja contagem, por se tratar de acto em processo com arguido preso, se não suspende durante o período de férias judiciais que decorrem entre 1 e 9 de Abril (arts.143, nº1 do CPC, 103, nº2, al, b, e 12º da LOFTJ), teríamos que o último dia para a prática do acto seria o dia 6 de Abril. No entanto este dia 6 de Abril é feriado (Sexta-feira Santa), dia em que os Tribunais estão encerrados, pelo que o último dia para a prática do acto será o primeiro dia útil seguinte, isto é dia 9 de Abril (art. 143º, nº2 do CPC). Mediante o pagamento de multa o acto poderia ainda ser praticado dentro dos três primeiros dias úteis subsequentes ao termo do prazo, isto é, até dia 12 de Abril. (arts.107º, nº 5 do CPP e 145º, nº5 do CPC) (3 valores)
5 3 Teremos aqui de considerar duas situações distintas: uma primeira respeitante à detenção de Maria e uma segunda referente à sua prisão preventiva. Quanto à detenção de Maria esta é ilegal já que foi efectuada fora de flagrante delito e também fora das condições a que alude o disposto no art.257º, nº 2. Como tal não poderia ser validada pelo Sr. Juiz de Instrução Criminal. Quanto à prisão preventiva de Maria, desde logo deveremos notar que está preenchido o requisito geral de aplicação de medidas de coacção previsto no art.204º, al.c) do CPP. Mas, por outro lado, não se verificam todos os requisitos de aplicabilidade desta concreta medida de coacção pois embora se esteja perante um crime de furto qualificado, punível com uma pena de prisão de máximo superior a três anos e com carácter doloso, certo é que não poderemos considerar a existência de fortes indícios da prática do crime. Isto porque o único indicio que existe nos autos, a confissão de Maria, foi obtido em momento anterior à sua constituição como arguida e pela entidade policial que a ouviu em acto seguido à detenção. Ora, nos termos do disposto no art.58º, nº 4, a omissão da formalidade de constituição de Maria como arguida impede que as declarações por ela prestadas possam ser utilizadas como prova contra si. Tratase de uma situação de prova proibida e, como tal, não pode ser considerada para efeito algum. A isto acresce que as declarações prestadas perante os OPC em acto seguido à detenção também não podem ser atendidas já que, nesta concreta situação, apenas o M.P. teria competência para receber tais declarações (arts. 259º, al. b), 143, nº1 do CPP) e a sua ausência neste acto processual configura uma nulidade insanável (art. 119º, al. b)) que torna inválido o acto (art. 122, nº1) Também não justifica o JIC o porquê de ser esta medida de coacção, face ao caso concreto, a adequada e única suficiente pelo que terá igualmente violado o disposto no art. 193º, nº2 do CPP. (6 valores) Grupo III 1 - Decorre do enunciado que aquilo que é pretendido pela cliente é a apreensão do anel que se encontra na casa onde habita a colega de Maria, Albertina Gomes. Tal objectivo poderá ser
6 atingido através de busca ao domicílio de Albertina Gomes e consequente apreensão do anel, produto do crime. Dado que se tratará de uma busca domiciliária a mesma, atenta a fase em que o processo se encontra, terá de ser autorizada pelo Juiz de Instrução Criminal (Arts. 174º, nº3, 177º, nº1 e 269º, nº1, al. a), todos do CPP), e promovida pelo M.P.,se a sugestão do ofendido, ou requerida pelo assistente (Art. 69º, nº1 e nº2, al. a) do CPP) Assim ou, enquanto ofendido sugeria ao MP a promoção da busca ou, constituía-me assistente e requeria ao JIC que ordenasse a busca. (3 valores) 2 Deveria informar a cliente que o pedido de indemnização civil deverá ser deduzido no processo penal já que se funda na prática de um crime (art.71º) e, para já, não se verifica nenhuma das situações que permitem a dedução do pedido em separado perante o Tribunal Civil (art.72º à contrário ), Deveria ainda informar que a constituição de Advogado é obrigatória (art. 76º, nº1), que o pedido terá de ser formulado após a dedução da acusação pelo M.P. e, caso se venha a constituir assistente antes ou até ao momento de dedução da acusação pelo assistente, no prazo do nº 1 do art.77º ou, caso se não constitua assistente, nos prazos dos nºs. 2 ou 3 do mesmo art. 77º. consoante manifeste, ou não, o propósito de deduzir este pedido (art. 75º nº2), informando-a ainda da obrigação/utilidade de manifestar este propósito (3 valores)
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