MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA
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- Marcela Benevides Vieira
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1 35 Disciplina: HIGIENE ZOOTÉCNICA Prof. Paulo Francisco Domingues Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ-UNESP-Botucatu domingues@fmvz.unesp.br MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA São medidas importantes que podem e devem ser utilizadas com a finalidade de impedir ou diminuir o risco de transmissão de uma doença. Consistem, portanto, em um conjunto de atividades, no sentido de proteger uma população animal, da ocorrência ou da evolução de um fenômeno desfavorável à saúde. Profilaxia é na realidade, o conjunto de medidas visando a prevenção da doença em nível populacional. (FORATTINI, 1992). Os seus objetivos são: evitar a introdução de doenças nos animais da propriedade, controlar e/ou evitar o aparecimento de novos casos de doenças já existentes, na propriedade ou região, e diminuir os efeitos da doença, quando esta não pode ser evitada, devendo, entretanto, ser controlada a níveis satisfatórios para que não interfira na produção do animal. A profilaxia é dinâmica e evolutiva, procurando acompanhar os resultados da pesquisa científica, com aplicações tanto em doenças transmissíveis, como naquelas não transmissíveis. Tem seu maior campo de ação e melhores probabilidades de êxito nas doenças transmissíveis, considerando os três elementos fundamentais responsáveis pela caracterização de uma doença: a fonte de infecção, o hospedeiro susceptível e as vias de transmissão, que são consideradas como elos da cadeia epidemiológica. Para se obter êxito na aplicação das medidas preventivas, deve-se considerar alguns aspectos importantes, que serão determinados segundo as características da doença. Estas indicarão, se a aplicação das medidas profiláticas será em nível do agente causal, dos animais susceptíveis, do meio ambiente, ou se para o conjunto. Na aplicação destas medidas também tem importância o
2 36 conhecimento do mecanismo de transmissão da doença, se ocorre, por exemplo, por contato direto, via respiratória, via digestiva ou por meio de veículos e vetores, ou por modalidades mistas de transmissão. As ações profiláticas podem ser estabelecidas de acordo com níveis de prevenção, que correspondem aos períodos da história natural da doença como proposta por LEAVEL & CLARK (1976). Na prevenção primária, as ações são aplicadas a etapa correspondente ao período pré-patogênico da doença, impedindo sua introdução no ecossistema e, por conseguinte nos animais. Esta atuação é conhecida como promoção da saúde, e inclui as ações inespecíficas visando melhor qualidade de vida. Para FORATTINI (1992) elas são abrangentes, e de caráter geral, incluindo medidas inespecíficas e específicas. Entre as primeiras, estão as condições de adequação ao ambiente, abrigo ou habitação, alimentação, lazer, convívio social ou de densidade populacional, que são fundamentais a qualquer criação animal. Levam ainda em consideração as ações educativas, que oferecem os conhecimentos para o programa de controle, e as de saneamento, dirigidas aos componentes ambientais, como o controle da água de dessedentação dos animais, dos alimentos, lixo, solo, excretas, etc. As medidas específicas, conhecidas também como segundo nível de prevenção, se dirigem a determinada doença, por meio de vacinação ou utilização de medicamentos específicos. A prevenção secundária diz respeito ao insucesso do período prépatogênico, ou seja, das medidas de nível primário de prevenção adotadas. As ações de prevenção são dirigidas para as fontes de infecção, que incluem a sua identificação e intervenção o mais rapidamente possível e por meio do sacrifício ou isolamento, e tratamento. Quanto à prevenção terciária, ela corresponde às medidas aplicadas às conseqüências da doença, como por exemplo, a deficiência funcional. Objetiva-se a recuperação parcial ou total do indivíduo, reintegrando-o à sociedade. As etapas da profilaxia poderiam ser agrupadas em: medidas de prevenção, de controle e de erradicação.
3 37 MEDIDAS DE PREVENÇÃO 1. Saneamento do ambiente: Os procedimentos no sentido de higienizar o meio ambiente têm revelado resultados favoráveis na prevenção de diversas doenças transmissíveis, com proteção da saúde animal, e da saúde pública. Esta ação reveste-se de importância, principalmente quando aplicada aos sistemas de criações confinadas, modernamente adotadas para suínos, aves e exploração de bovinos leiteiros, e ainda no confinamento de bovinos de corte. Entre as medidas de saneamento, recomenda-se: manter as condições higiênicas da água de consumo, destino adequado dos dejetos dos animais, controle da qualidade dos alimentos, destino adequado do lixo, controle de vetores, e instalações adequadas, entre outras variáveis. 2. Quarentena: A quarentena é uma das medidas mais eficazes que pode ser utilizada objetivando-se a não introdução de doenças no rebanho. Consiste em manter os animais isolados em local apropriado para este fim, com observação dos mesmos por período mínimo de 30 dias, de maneira a evitar o contato imediato com outros animais da criação. Portanto, se os animais estiverem no período de incubação de alguma doença, serão identificados quando manifestarem os sintomas. Neste período, também se pode colher material para exames laboratoriais, tais como: fezes, sangue, entre outros. A quarentena é mais recomendada quando se pretende introduzir novos animais no país ou na propriedade. 3. Imunoprofilaxia: Esta medida tem por objetivo, obter-se artificialmente um elevado nível de imunidade em uma determinada população. Procura-se alcançar de acordo com o tipo de vacina, o grau de proteção mais próximo a 100%, que é influenciado pela infecciosidade do agente, susceptibilidade dos animais, e condições do meio ambiente. A repetição de novas doses da vacina estão relacionadas às características da doença, capacidade imunogênica, e de proteção dos
4 38 antígenos utilizados. Em muitas situações recomenda-se a vacinação focal que se constitui em vacinação estratégica sobre o foco inicial da doença, que deverá ser circunscrito em uma primeira fonte de infecção. Esta prática é considerada focal, quando utilizada no próprio grupo de animais afetados pela doença, e perifocal, quando a vacinação for praticada nos animais, das áreas vizinhas ao foco inicial. Estas medidas visam, evitar que o agente causal se expanda e atinja novos animais susceptíveis. 4. Quimioprofilaxia: O uso de substâncias químicas no sentido de se obter a prevenção de doenças transmissíveis, carenciais ou de outras origens, se refere a quimioprofilaxia. É o caso do uso do cloro na profilaxia dos agentes infecciosos de veiculação hídrica, a suplementação mineral dos animais, o uso de vermífugos, bem como de antibióticos ou quimioprofiláticos massal na água de bebida ou na ração dos animais. 5. Diagnóstico precoce: Algumas doenças transmissíveis apresentam-se nos animais como entidades atípicas ou inaparentes em sua fase inicial, necessitando de métodos laboratoriais capazes de diagnosticá-las. Nas doenças de caráter agudo, o diagnóstico precoce é muito importante, pois possibilita o controle rápido do processo de disseminação da doença. Para doenças de apresentação subaguda e crônica, são desenvolvidas provas sorológicas, intradérmicas, entre outras, para se conhecer a prevalência da doença nos animais do rebanho, e em seguida adotar medidas de controle da evolução, e domínio da situação sanitária. Como exemplo, pode-se citar as provas imunoalérgicas para o diagnóstico da tuberculose e as de soroaglutinação para a brucelose em bovinos leiteiros, e como referidas anteriormente estas provas podem ser realizadas no início e final do período de quarentena, para liberação segura dos animais, para os lotes de produção. 6. Vigilância sanitária: São medidas efetuadas em fronteiras, feiras e exposições agropecuárias pelas autoridades sanitárias que, exigem atestados de sanidade
5 39 dos animais ou de vacinação para determinadas doenças específicas, de acordo com a espécie animal. São medidas que visam observar, controlar ou impedir que estas enfermidades aumentem em frequência, ou voltem a ocorrer na região ou país. 7. Educação sanitária: No controle de doenças dos animais, a educação sanitária é importante, uma vez que os proprietários ou responsáveis pelos animais, realizarão com maior precisão e segurança as medidas indicadas. Muitas vezes ocorrem dificuldades ou mesmo fracasso, em programas sanitários, quando os responsáveis pela aplicação destas ações, desconhecem ou não compreendem o porquê das medidas recomendadas. MEDIDAS DE CONTROLE 1. Isolamento: Os animais doentes deverão ser separados, dos sadios, para diminuir o risco de transmissão da doença. Esta segregação deve ser realizada em local adequado durante todo o período de transmissibilidade da doença. 2. Desinfecção: A desinfecção consiste na destruição de agentes infecciosos, do meio ambiente, pela aplicação direta, de produtos químicos ou pode ser praticada por meios físicos. A desinfecção por produtos químicos é a prática mais usual e efetiva em defesa sanitária animal. É importante antes de iniciar o processo de desinfecção, fazer limpeza rigorosa das instalações e fômites, eliminando ao máximo a matéria orgânica da superfície, pois este procedimento, favorece a ação dos desinfetantes. 3. Interdição: Esta medida é adotada com bons resultados em áreas contaminadas, quando as autoridades sanitárias determinam não somente o isolamento dos animais doentes, bem como se proíbe a saída, destes e ainda de seus produtos. É conhecida também como cordão sanitário.
6 40 4. Notificação: Certas doenças exigem notificação aos órgãos oficiais locais, a nível municipal, estadual ou federal. A ocorrência de doenças como a febre aftosa, anemia infecciosa eqüina, entre outras, estão incluídas na lista de doenças de notificação compulsória. A Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura possui literatura pertinente, com lista destas enfermidades e conduta que devem ser tomadas. 5. Destruição de cadáveres: Os animais mortos podem funcionar como fontes de infecção. Portanto, a destruição dos mesmos, é uma prática importante. A eliminação de animais mortos pode ser realizada pelo: enterramento, incineração, compostagem ou utilização de fossa séptica. Quanto ao enterramento, deve-se abrir uma vala no solo, colocar uma camada de cal de 10 cm, e depositar o animal morto dentro da mesma. Deve-se cobrir o animal com camada de cal, e em seguida colocar inicialmente, terra que esteve em contato com o animal, e posteriormente, completar o fechamento, com a terra que foi retirada ao se abrir à vala. Finalmente, colocar nova camada de cal, na superfície do solo. No caso de animais, encontrados mortos no pasto, a vala deve ser feita, preferencialmente, próxima ao local onde o animal morreu. Deve-se evitar o seu arrastamento, o que provocaria a contaminação de outros locais. Com relação à incineração e fossa séptica, estes procedimentos, são mais utilizados em avicultura. As aves mortas, e refugadas podem ser fontes de contaminação, e destarte devem ser recolhidas, e eliminadas diariamente. A incineração é preferível, por ser mais segura, embora, mais dispendiosa. O incinerador deve ser suficientemente grande para atender às exigências da granja, e estar localizado, em sentido contrário ao vento, nos galpões e residências. Após a operação, certificar se as carcaças incineradas foram reduzidas completamente a cinzas. A fossa séptica, quando convenientemente projetada, é um sistema aceitável, e menos dispendioso. É indispensável uma drenagem adequada. Quando bem projetada produz menos odor, que o incinerador. Outra vantagem é
7 41 que não existe o perigo de incêndio, sendo que a decomposição ocorre rapidamente, sem o uso de substâncias químicas. Para uma unidade de aves, recomenda-se que a fossa tenha 4 metros de profundidade por 1,80 metros de diâmetro. Deve também, ser coberta com pelo menos, 30 cm de terra, possuir abertura para o lançamento de aves mortas, e ser mantida sempre fechada, com uma tampa. Apesar do processo de compostagem ser milenar, sua utilização no país, como método de eliminação para carcaças de animais é recente, tendo sido adotado com maior freqüência nos últimos 10 anos em granjas de aves e suínos onde a mortalidade é um problema prático e contínuo. O processo, quando corretamente manejado, pode vir a ser uma alternativa segura, economicamente viável e ecologicamente correta para a eliminação de carcaças, inclusive de bovinos. MEDIDAS DE ERRADICAÇÃO São medidas mais drásticas em ações mais globais, que possibilitam a eliminação total do agente etiológico. Como o processo de erradicação atinge, às vezes, áreas extensas, sejam zonas, regiões ou todo o país ou ainda, diferentes países, deve ser precedido de estudos e planejamento, considerando-se aspectos sanitários, ecológicos, limites geográficos naturais e repercussões econômicas. DIAGNÓSTICO E SACRIFÍCIO Realizam-se testes de diagnóstico nos animais do rebanho, eliminando-se aqueles com resultados positivos. No Brasil, por exemplo, recomenda-se esse procedimento para erradicação e controle da tuberculose, e brucelose em bovinos, anemia infecciosa eqüina, e brucelose em suínos. É importante utilizar o sacrifício dos animais doentes com o objetivo de se eliminar a fonte de infecção, entretanto, o sacrifício de animais requer um estudo
8 42 aprofundado da questão, principalmente quanto à gravidade da situação nos aspectos sanitários, e econômicos. ELIMINAÇÃO DE VETORES Esta medida é aplicada frente às doenças transmissíveis pelos vetores, os quais deverão ser eliminados completamente de grandes áreas, com rigorosa e permanente vigilância para se evitar a sua reintrodução. Nos Estados Unidos, pela erradicação do carrapato, foi possível erradicar-se a babesiose e a anaplasmose, conhecidas em conjunto como tristeza parasitária. BIBLIOGRAFIA CÔRTÊS, J.A. Epidemiologia: Conceitos e princípios fundamentais. São Paulo: Varela, p. CORRÊA, W.M., CORRÊA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2 a ed. Rio de Janeiro: MEDSI, p. CURCI, V.C.L.M., DUTRA, I.S., LUCAS JUNIOR, FERRARI, C.I.L., NOGUEIRA, A.H.C. Viabilidade de clostridium botulinum tipos c e d na pré compostagem de carcaças bovina. Disponível em:< >(Acesso em: 05/07/2006). DIAS, J.C.A. Profilaxia geral. In: GUERREIRO, M.G. et al. Bacteriologia especial: com interesse em saúde animal e saúde pública. Porto Alegre: Sulina, cap. 9 p , p. FORATTINI, O.P. Ecologia, epidemiologia e sociedade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo-EDUSP, p. GONÇALVES, E.I. Manual de defesa sanitária animal. FUNEP, UNESP, Jaboticabal, p. LEAVELL, H.R., CLARK, E.G. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, Fename, p.
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