O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo. Profª. Ms. Jerusa Toledo
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- Amanda Valverde Custódio
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1 O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo Profª. Ms. Jerusa Toledo
2 Gênero: O Cortiço é um romance NATURALISTA. É a obra mais importante deste movimento no Brasil.
3 "E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
4 Trajetória de João Romão Primeiro plano Outros moradores do cortiço Jerônimo, Rita Baiana, Firmo, Bruxa, Pombinha, Léonie etc.
5 O Cortiço retrata a sociedade brasileira de seu tempo. Positivismo, Cientificismo, Biologismo, Determinismo, Darwinismo Social são manipuladas de maneira convincente de modo a mostrar ao leitor as misérias da sociedade e da natureza humana.
6 CONTEXTO HISTÓRICO Segunda metade do séc. XIX /1900; Segunda Revolução Industrial; Desenvolvimento da ciência: questionamento da mentalidade burguesa, idealista e cristã (influência das correntes científicas).
7 CARACTERÍSTICAS NATURALISTAS Privilégio da Realidade Objetiva: exatidão (documentação da realidade, verossimilhança); Materialismo: concepção biológica da realidade humana (instinto) - o homem como produto de leis biológicas; Positivismo radical: análise do comportamento humano à luz das teorias científicas;
8 Narrador terceira pessoa, onisciente: postura científica do observador (neutralidade); Prioridade dos sentidos: predomínio das sensações; Problematização da sexualidade;
9 Exploração da miséria humana: vulgaridade, sordidez, aspectos grotescos degradantes da condição humana (exploração da anormalidade: degeneração física e moral); Crítica social ferrenha: análise da estrutura da sociedade - ênfase nos marginalizados;
10 Temática polêmica: patologia humana e social (criminalidade, desequilíbrio psíquico, adultério, homossexualidade etc.).
11 REALISMO Origem: França, com Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1857); Romance documental, apoiado na observação e análise. É indireto na interpretação; o leitor tira as suas conclusões. Arte desinteressada, impassibilidade. Seleciona os temas, tem aspirações estéticas. Reproduz a realidade exterior e interior através da análise psicológica. Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. Retrata e critica as classes dominantes, a alta burguesia urbana. NATURALISMO Origem: França, com Thérèse Raquim, Émile Zola (1867); Romance experimental, apoiado na experimentação científica. É direto na interpretação; expõem conclusões, cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti-las. Arte engajada, de denúncia; possui preocupações políticas e sociais. Detém-se nos aspectos mais torpes e degradantes da realidade. Centra-se nos aspectos exteriores: atos, gestos, ambientes. Prefere a biologia, a patologia, centrase no social. Retrata as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados.
12 ELEMENTOS DA NARRATIVA
13 FOCO NARRATIVO O romance apresenta, como é comum na narrativa naturalista, um narrador onisciente, que tudo observa, relata, investiga. Há muita descrição de detalhes (objetos, personagens, ações), com uma capacidade extraordinária para fixar os movimentos das cenas.
14 TEMPO Contexto contemporâneo: registro da vida real na época do próprio autor, séc. XIX; Duração: apesar de não haver marcações claras, deduz-se racionalmente que a história dure alguns poucos anos; Tempo cronológico: a história se desenrola de forma linear. O tempo relaciona-se com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão.
15 ESPAÇO Espaços simbólicos: dois grandes conjuntos (o Cortiço São Romão e o sobrado do Miranda); O primeiro é um conjunto simples e o segundo complexo. Ambos os conjuntos estão sujeitos a um sistema de transformações que ocorrem num sentido ascendente e descendente. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a natureza local como meio determinante (determinismo).
16 CORTIÇO Amontoado de casebres, onde os pobres vivem de maneira precária e sem privacidade e dignidade. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo (ora uma planta, ora um formigueiro ou barro primordial do qual brota a vida). Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
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18 O cenário é descrito como um ambiente sujo, onde prevalece a podridão, a promiscuidade e a falta de privacidade (intenção crítica: mostra a miséria do proletariado urbano); Relações horizontais: o Cortiço São Romão possui uma composição elementar, tem uma constituição primária e está ao nível da natureza e do instinto.
19 SOBRADO O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX; Relações verticais: mostra a vigência de regras culturais mais bem definidas. Existe entre seus elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas, que indica a predominância de outros interesses que não o puramente instintivo.
20 PERSONAGENS Caracterização geral, classe pobre (coletivo): todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. Descrição zoomorfizada, caricata: personagens planas, descritas a partir da animalização e do psicofisiologismo (Ex: Botelho = abutre ).
21 Os moradores, frequentemente comparados a vermes ou formigas, formam uma mistura de negros, mestiços, imigrantes europeus. Todos pobres, vivendo de trabalhos humildes ou miseráveis: praças de polícia, lavadeiras, cavouqueiros (trabalhadores da pedreira), mascates etc. Em contraste, há os moradores do sobrado Miranda, Estela, Zulmira, Henrique e mesmo João Romão, após sua transformação em capitalista.
22 PERSONAGENS PRINCIPAIS (NÚCLEO DO CORTIÇO) O Cortiço: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. João Romão: imigrante português, dono do cortiço, espírito capitalista selvagem, inescrupuloso e sórdido. Bertoleza: negra fugida de um proprietário cego; amasiada com João Romão, trabalha como escrava para ajudá-lo a construir a fortuna.
23 Rita Baiana: mulata, símbolo exuberante da sensualidade brasileira, motivo da disputa entre os nacionais e os portugueses. Bruxa: velha mística, mistura de adivinha e rezadeira; figura sinistra e maligna. Libório: velho sovina que vive como mendigo, mas guarda dinheiro. Albino: homossexual que vive de lavar roupas entre às lavadeiras do cortiço.
24 Firmo: capoeirista, o típico malandro carioca, vagabundo e aproveitador, noivo de Rita Baiana e rival de Jerônimo. Jerônimo: português de boa índole, trabalhador e pai de família que se degrada ao contato com a sordidez do cortiço. Piedade: mãe e boa esposa de Jerônimo, trabalhadora e honesta que vê-se envolvida na disputa de seu homem com Rita Baiana.
25 Pombinha: moça bem-educada e bem-tratada que, criada naquele ambiente, não se acomoda à vida do casamento pequeno-burguês e opta pela prostituição ao lado da amante Léonie. Léonie: madrinha de pombinha, responsável por sua iniciação sexual precoce e pelos distúrbios de sua vida amorosa e sexual ao longo da vida.
26 NÚCLEO DO SOBRADO Miranda: homem de posses, comerciante que amarga as traições constantes da esposa e a odeia por isso, mas não consegue se livrar dela por força do desejo sexual. Estela: esposa do Miranda, adúltera escancarada que se envolve com um rapazinho adolescente, Henrique, que vive em sua casa para estudar no Rio de janeiro. É a personagem que melhor representa a hipocrisia social na narrativa. É uma caricatura naturalista típica: só tem defeitos (manias e taras).
27 Botelho: velho agregado da família do Miranda. Henrique: jovem estudante, hóspede da família, que se torna o amante de Estela. Zulmira: jovem adolescente filha do Miranda, pretendida por João Romão.
28 Composto de 23 capítulos longos, com múltiplos episódios, que compõem uma história linear, numa disposição tradicional. Reprodução da sociedade capitalista selvagem e exploratória a que se reduzia o Rio de Janeiro e o Brasil da época (e talvez de hoje, daí a atualidade da obra e sua universalidade).
29 TEMÁTICA CRÍTICA SOCIAL Mais do que empregar os preceitos do naturalismo, a obra mostra práticas recorrentes no Brasil do século XIX. Na situação de capitalismo incipiente, o explorador vivia muito próximo ao explorado, daí a estalagem de João Romão estar junto aos pobres moradores do cortiço.
30 Ao lado, o burguês Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cortiço.
31 O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português
32 ALEGORIA DO BRASIL Por isso pode-se dizer que O Cortiço não é somente um romance naturalista, mas uma alegoria do Brasil. O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era provar, por meio da obra literária, como o meio, a raça e a história determinam o homem e o levam à degeneração.
33 A obra está a serviço de um argumento. Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de raças em um mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa degradação humana. O livro apresenta outras questões pertinentes: a imensa desigualdade social, a desorganização urbana etc.
34 SITUAÇÃO FEMININA As mulheres são reduzidas a três condições: 1ª: de objeto, usadas e aviltadas pelo homem (Bertoleza e Piedade); 2ª: de objeto e sujeito, simultaneamente (Rita Baiana); 3ª: de sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se (Léonie e Pombinha).
35 SEXUALIDADE DEGRADANTE Problematização da sexualidade: sexualização do amor O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual: "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.
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