DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAJUCULTURA: UM ESTUDO DE CASO.
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- Betty Veiga da Silva
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1 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAJUCULTURA: UM ESTUDO DE CASO. Joao Bosco Furtado Arruda (UFC) Breno Dilherman Botelho (UFC) Thiago Costa Carvalho (UFC) O agronegócio do caju no Nordeste tem relevante importância sócioeconômica para o país em função da exploração de mais de 727 mil hectares de cajueiros, que mobilizam cerca de 280 mil pessoas no campo e proporcionam uma produção de, aproxiimadamente, 217 mil toneladas de castanha e 2 milhões de toneladas de pedúnculo por ano. O Estado do Ceará é o maior produtor nacional, com uma área plantada de mais de 376 mil hectares, gerando cerca de 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos. A Cajucultura no Ceará é uma das principais atividades agrícolas, envolve milhares de pequenos e médios produtores e desempenha um importante papel sócioeconômico no Estado. Este artigo é resultado do projeto Diagnóstico e Proposta de Rede Logística para as Cadeias da Cajucultura e da Apicultura nos Municípios de Aracati e Fortim no Estado do Ceará - Projeto LOGCAJU. Este foi um subprojeto desenvolvido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Infraestrutras de Transporte e Logística da Energia (GLEN), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e faz parte do Estudo intitulado Inclusão Social e Produtiva de Famílias Cearenses Cadastradas no CadÚnico de responsabilidade da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), do Governo do Estado do Ceará, e a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura - FCPC. O objetivo desse artigo é apresentar um diagnóstico logístico dos setores da Cajucultura e definir uma rede logística bem como conseqüente proposta de intervenções logísticas para aqueles setores nos municípios de Aracati e Fortim, pertencentes ao Estado do Ceará. Palavras-chaves: Cajucultura, arranjo produtivo local, rede logística
2 1 Introdução O agronegócio brasileiro vem passando por grandes modificações nas duas últimas décadas. A globalização das economias, o ritmo acelerado de processos com base no conhecimento científico e o desenvolvimento da sociedade da informação foram três fatores que contribuíram, de forma proeminente, para a transformação nas formas de condução e gerenciamento dos negócios. A junção destes três fatores foi responsável pelo surgimento de uma clientela cada vez mais exigente e mais dispersa ao longo do globo. Desta forma, as organizações necessitam de procedimentos que garantam agilidade, efetividade e confiabilidade em seus processos, principalmente quando se tratam de produtos alimentícios perecíveis, como é o caso do caju. O agronegócio do caju no Nordeste tem relevante importância sócio-econômica para a região, dado que nela existem hoje mais de 727 mil hectares de cajueiros explorados, que mobilizam cerca de 280 mil pessoas no campo e proporcionam uma produção de, aproximadamente, 217 mil toneladas de castanha e 2 milhões de toneladas de pedúnculo por ano. O Estado do Ceará é o maior produtor nacional, com uma área plantada de mais de 376 mil hectares, gerando cerca de 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos. A Cajucultura neste Estado é uma das principais atividades agrícolas, envolve milhares de pequenos e médios produtores e desempenha um importante papel sócio-econômico. A relevância da Cajucultura no Ceará está associada a quatro fatores principais: Característica de tolerância do produto à seca; Os impactos positivos, de caráter social e econômico, daquela cultura; O fato de a Cajucultura ter longa tradição regional; e O fato de este setor ter grande potencial para fixar o homem no campo, impedindo sua migração para o meio urbano. A matéria-prima da castanha alimenta um parque industrial formado por cerca de doze fábricas de grande porte e dezenas de mini-fábricas, responsáveis pela obtenção da amêndoa de castanha de caju (ACC), destinada, na sua maioria, para exportação, gerando divisas da ordem de US$ 140 milhões anuais (EMATERCE, 2010). Por sua vez, o consumo do pedúnculo do caju no mercado interno vem crescendo significativamente, com preços atrativos para o produtor, estimulando, ainda que em pequena escala, novos investimentos na expansão e modernização dos pomares, na adoção de boas práticas agrícolas e no beneficiamento sob a forma de doces industriais, com garantida segurança alimentar. Este trabalho é resultado do Estudo Diagnóstico e Proposta de Rede Logística para as Cadeias da Cajucultura e da Apicultura nos Municípios de Aracati e Fortim no Estado do Ceará Projeto LOGCAJU. Este Estudo foi um subprojeto - desenvolvido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Infraestruturas de Transporte e Logística da Energia (GLEN), da Universidade Federal do Ceará (UFC) - do Projeto intitulado Inclusão Social e Produtiva de Famílias Cearenses Cadastradas no CadÚnico, ora em desenvolvimento sob Convênio entre a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS/Governo do Estado do Ceará) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). 2
3 O objetivo deste artigo é apresentar um diagnóstico logístico dos setores da Cajucultura e definir uma rede logística bem como conseqüente proposta de intervenções logísticas para aqueles setores nos municípios de Aracati e Fortim, pertencentes ao Estado do Ceará. Para alcance desse objetivo, além deste item introdutório, o trabalho foi estruturado do seguinte modo: na segunda seção é desenvolvida uma discussão sobre o estado da arte do APL da Cajucultura no Brasil; na terceira seção apresenta-se a metodologia da pesquisa; na quarta seção é exposto a Cadeia Produtiva da Cajucultura na região de Aracati/CE e Fortim/CE; na quinta seção encontram-se as conclusões do Estudo. 2 O APL da Cajucultura no Brasil: Estado da Arte Com já visto, a Cajucultura é uma atividade agrícola bem difundida no país, principalmente na região Nordeste. Os primeiros relatos sobre o Caju (Anacardium Occidentale L.) remontam ao ano de Conforme Leite e Pessoa (2004): O agronegócio do caju no Nordeste brasileiro surgiu como atividade econômica por ocasião da II Guerra Mundial para atender a demanda dos Estados Unidos pelo Líquido da Casca de Castanha de Caju LCC, que, na época, constituía insumo estratégico para a fabricação de tintas, vernizes, pós de fricção, lubrificantes e isolantes elétricos, dentre outras aplicações. Depois do período bélico, estabeleceu-se um processo de exportação de amêndoas de castanha de caju ACC para os Estados Unidos, por parte do Brasil, enquanto que a Índia fornecia para a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Essa geopolítica comercial durou até o ano de 1982, uma vez que, a partir de 1983, a URSS praticamente deixou de adquirir ACC, fazendo com que a Índia passasse a disputar com o Brasil o atrativo mercado norte-americano. Figueiredo et al (2009) afirmam que, no Brasil, a maioria dos cajucultores se limita a fornecer a castanha. Nas propriedades rurais, a castanha é separada do pedúnculo, secada ao sol e vendida, em sua grande maioria, para intermediários, que repassam para grandes indústrias. Grandes produtores, devido à sua capacidade de obter maior escala na entrega, conseguem vender castanha diretamente para a indústria de processamento. Esses autores alertam também para a existência de gargalos não resolvidos na cadeia agroindustrial entre os elos/agentes, particularmente na determinação de funções, margens e distribuição de ganhos. Esses conflitos podem causar perda de competitividade do produto nacional no mercado internacional. Dadas essas condições, os pequenos produtores perdem o poder de decisão dentro da cadeia produtiva, ficando dependentes da determinação do preço via intermediários. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, desenvolvido pelo IBGE (2010), em 2009, a área plantada de castanha de caju, no Brasil, foi de hectares e a área colhida foi de hectares, gerando uma produção de toneladas de castanha de caju com um rendimento médio de 288 kg/ha; o Nordeste concentrou toda a produção nacional (100%). O Estado do Ceará foi o responsável por 48,1% da produção de castanha na região, destacando, assim, sua importância no setor e justificando estudos sobre o tema. A Figura 1 apresenta os produtos intermediários e finais derivados da atividade produtiva do caju, com suas respectivas aplicações. Inicialmente, pode-se observar três produtos considerados matérias-primas, tais como a castanha, o pedúnculo e os pedaços de madeira provenientes da poda dos cajueiros. Da castanha pode-se extrair a amêndoa, a película e a casca; a primeira destina-se ao consumo humano, enquanto as demais podem ser utilizadas pelas indústrias na produção de tintas e vernizes, lubrificantes, aditivos químicos e 3
4 geração de energia térmica. O pseudofruto ou pedúnculo pode ser beneficiado e industrializado gerando diversos outros produtos, a exemplo de sucos, refrigerantes, doces, polpas ou complemento para ração animal. Por último, a madeira pode ser empregada na fabricação de briquetes, que são compostos de matéria orgânica compactada e aproveitados na produção de energia. FIGURA 1 - Produtos obtidos a partir do aproveitamento industrial do caju. Fonte: USAID (2006) Conforme a Tabela 1, essa atividade apresentou um considerável crescimento na safra entre 2009 e 2010; esse crescimento, neste período, atingiria mais de 33% no país, e mais de 47%, no Estado do Ceará. Pode-se perceber que o crescimento na produção pode estar vinculado a questões tecnológicas e de fomento à produtividade, tendo em vista o fato da área plantada e da área colhida ter variado pouco de um período para o outro. Brasil Ceará Safra Área plantada (ha) Área colhida (ha) Produção (t) * Variação -1,29% 1,13% 33,90% * Variação 0,53% 1,22% 47,39% Fonte: Instituto Caju Nordeste. *Elaborado a partir de dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA). Valores de junho de 2010 TABELA 1- Safra de Castanha de Caju no Brasil e no Ceará: Área plantada, área colhida e produção Observa-se, também, na Tabela 2, o aumento do rendimento médio nacional por hectare, que apresentou um crescimento de 32,5 %, saindo de 284 kg/ha, em 2009, para 382 kg/ha, em
5 Ano Variação (%) ,5 Elaborado a partir de dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) Fonte: Instituto Caju Nordeste TABELA 2 - Rendimento médio da produção da castanha (kg/ha) no Brasil (Junho de 2010) A castanha de caju representou, no ano de 2009, o principal produto comercializado para o Exterior, respondendo por 17,31% das exportações no ano de 2009 (ver Tabela 3). Neste período, houve uma variação positiva de 27,82 % no valor das transações comerciais (em dólar) com o Exterior e de 48,04% na quantidade de castanha de caju (fresca ou seca) sem casca exportada (Jan/Dez) 2008 (Jan/Dez) US$ F.O.B. Participação % pauta Kg Líquido US$ F.O.B. Part % pauta Kg Líquido Var % (US$) , , ,82 Fonte: SECEX - Secretaria de Comércio Exterior (09/agosto/2009) TABELA 3 - Exportações provenientes da Cajucultura: castanha de caju (fresca ou seca) sem casca. Pelo exposto, é possível afirmar que a Cajucultura detêm um alto potencial econômico para o Estado do Ceará, em virtude das diversas possibilidades de produtos que podem ser produzidos a partir do caju, dos aumentos da produção e produtividade observados na atividade nos últimos anos, e pelas condições climáticas adequadas da região para o desenvolvimento desse agronegócio, surgindo, portanto, como um vetor dinamizador para economias locais e regionais. 3 Metodologia O estudo que originou este trabalho teve como objeto de pesquisa as Cadeias Produtivas da Cajucultura e Apicultura dado que essas atividades são realizadas de forma consorciada pela maioria dos produtores pesquisados. A região em estudo compreende os municípios de Aracati e Fortim, ambos no Estado do Ceará. Como amostra de pesquisa utilizou-se as unidades produtoras familiares cadastradas no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal). Neste trabalho, são apresentados os resultados referentes apenas à Cadeia Produtiva da Cajucultura. Inicialmente foi feito o levantamento do Estado da Arte nas cadeias produtivas da Cajucultura e Apicultura no Brasil e Ceará que envolveu a coleta e análise de informações possibilitando contextualizar e aprofundar o conhecimento do objeto de estudo. O diagnóstico da cadeia produtiva da Cajucultura no APL de Aracati e Fortim baseouse na Teoria da Análise de Sistemas e exigiu coleta de dados primários (pesquisa de campo) e de dados secundários, via internet e entrevistas com técnicos envolvidos com as ações ocorridas naquele APL. Também, a montagem da base de dados exigiu trabalhos de campo para georeferenciamento de pontos necessários à construção dos mapas temáticos de suporte ao diagnóstico da área de estudo e ao lançamento da estrutura logística proposta para o APL. 5
6 Por fim, as proposições de ações e políticas para a sustentabilidade no APL em estudo envolveu a abordagem de mercados, a proposição de estrutura logística, de governança e de avaliação gerencial para as cadeias abordadas no APL, bem como indicações de novos estudos para respaldar o desenvolvimento sustentável daquelas cadeias. 4 A Cadeia Produtiva do Cajucultura em Aracati e Fortim A Cajucultura cearense apresenta-se como a atividade agrícola mais importante da faixa litorânea, tendo os municípios de Beberibe, Bela Cruz, Cascavel, Icapuí e Acaraú as maiores áreas plantadas, respondendo juntos, dessa maneira, por 30% da área total plantada com caju no Estado. A tolerância do cajueiro à seca e sua época de produção no período seco, ou seja, na entressafra das demais culturas cultivadas na região, contribuem para a ocupação e fixação da mão-de-obra no campo e para geração de riquezas. A Figura 2 mostra as sedes dos municípios de Fortim e Aracati, localizados na zona costeira cearense, e que se localizam, respectivamente, a 130 e 168 km de Fortaleza. Figura 2 A Área de Estudo: Municípios de Aracati e Fortim no Estado do Ceará. No âmbito do Estado do Ceará, a EMATERCE estima que, em 2010, o agronegócio do caju foi responsável pela geração de empregos no campo, empregos na indústria e cerca de empregos indiretos sazonais nas atividades de preparação do solo, colheita e comercialização no meio rural. De acordo com o ATUMIRA (2010), o número de empregos gerados pela Cajucultura no campo, em 2008, foi de e no ranking das exportações dos principais produtos do agronegócio do Ceará, em 2010, a castanha de caju ocupou o primeiro lugar, gerando uma receita da ordem de US$ 165,1 milhões. 6
7 Conforme a Federação da Indústria do Estado do Ceará (FIEC,2007), cerca de 50% da área cultivada de caju no país está localizada no Ceará. Neste Estado, o ano de 2008 (que, sob o ponto de vista climático, foi considerado normal) apresentou uma produção de toneladas, área colhida de ha e produtividade de 312 kg/ha. No entanto, em 2010, a escassez de chuvas, as altas temperaturas e os ventos fortes contribuíram para uma grande redução da produção do caju no Estado. No âmbito do Estado do Ceará, embora a castanha de caju seja muito bem explorada, cerca de 90% do pedúnculo é subaproveitado, tendo como principal destino o lixo ou o consumo animal, apesar de poder ser utilizado na fabricação de doces, polpas para sucos, cajuínas e outras bebidas, e de seu bagaço poder transformar-se em ração animal, mediante processamento adequado. Segundo o IBGE (2010), os municípios de Aracati e Fortim apresentaram o seguinte desempenho com relação à Cajucultura, em 2009: Item Aracati Fortim Área plantada (ha) Rendimento médio (kg/ha) Quantidade de castanha de caju produzida (kg) Valor da produção (em R$ x 10 3 ) 2.552, ,0 Fonte: IBGE (2010) Tabela 4- Números da Cajucultura nos Municípios de Aracati e Fortim (2009). O Estado do Ceará, além de ser o maior produtor de castanha de caju do país, concentra a indústria nacional de beneficiamento do produto, reunindo cerca de 90% da capacidade instalada da região nordestina. A capacidade nominal das indústrias de processamento de castanha no Estado (nove unidades) é de toneladas por ano e, no ano de 2008, o número de postos de trabalho alcançou a marca de empregos no setor. No final de 2010, o APL da Cajucultura em Aracati e Fortim se encontrava representado por mais de 11 associações de classes, totalizando cerca de 340 famílias ligadas diretamente às ações de inclusão social em andamento. Com relação ao acesso aos mercados internos, observa-se que os principais mercados consumidores dos produtos do APL são os Estados do Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em se tratando de exportação, pode-se destacar o mercado europeu e o americano como principais destinos da castanha de caju. Segundo a ADECE (2010), os principais exportadores de castanha de caju e de outros produtos derivados do caju são: Amêndoas do Brasil Ltda.; Cascaju Agroindustrial S/A; Cia. Brasileira de Resinas - RESIBRAS; Companhia Industrial de Óleos do Nordeste - CIONE; Iracema Indústria e Comércio de Castanhas de Caju Ltda; Usina Brasileira de Óleos e Castanhas Ltda (USIBRAS), Empresa Brasileira de Bebidas e Alimentos (EBBA); e a Sucos do Brasil S/A Export Division (JANDAIA). A Tabela 5 mostra que a castanha do caju foi o segundo produto no ranking de exportação do Ceará, em 2010, atrás apenas do setor calçadista. Atualmente, uma das principais dificuldades apontada pelos exportadores cearenses para exportação desses 7
8 produtos é a valorização da moeda brasileira frente ao dólar e ao euro, o que afeta toda a pauta de exportação nacional. Fonte: ADECE TABELA 5 Total das exportações cearenses (2009 e 2010) Considerando-se a tendência de vendas no setor da Cajucultura, observam-se no APL posições divergentes entre os produtores, enquanto grupos organizados, e as indústrias. Naqueles, verifica-se tendência de estagnação ou decréscimo de faturamento, em virtude, principalmente, do envelhecimento e queda de produtividade dos pomares, das perdas sofridas por conta do armazenamento e aproveitamento inadequado da castanha, do desperdício do pedúnculo e das dificuldades de acesso ao crédito. No caso da maioria dos atores integrantes do APL (formada, basicamente, por pequenos produtores rurais organizados em associações), as razões que contribuem para o não acesso ao crédito são: i) o fato dos produtores não procurarem ou não saberem como ter acesso ao crédito; e ii) a não titularidade das terras em que produzem. Já nas indústrias, ao contrário dos produtores individuais ou organizados, percebe-se uma tendência otimista com relação ao crescimento da comercialização, justificada, principalmente, pela incorporação de novos produtos, adoção de novas tecnologias e abertura de novos mercados. Para o APL, os principais segmentos de mercado para comercialização de seus produtos são: Grandes fábricas de produção de castanha e suco de caju; Médias e pequenas fábricas de beneficiamento do pedúnculo para fabricação de doces, cajuínas, polpas etc.; 8
9 Mini-fábricas de castanha de caju; e Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). É importante destacar que, na região do APL de Aracati e Fortim, é possível encontrar quase todos os produtos oriundos da Cajucultura; no entanto, conforme já comentado, o caju é mal aproveitado, sendo este, portanto, um fato a ser devidamente enfrentado pelo APL. Isto ocorre em todos os pólos de produção do caju no Estado do Ceará, mostrados na Figura 3. FIGURA 3 Pólos de produção de caju no Ceará. Fonte: ADECE Segundo a EMATERCE (2010), na área do APL do caju envolvendo os municípios de Aracati e Fortim, existem cerca de 20 mil hectares de cajueiros plantados, sendo hectares de cajueiros gigantes e hectares de cajueiros anão-precoce. Nestas plantas agrícolas, são produzidos cerca toneladas de castanha de caju (ano com quadra invernosa normal) e 42 mil toneladas de pedúnculo. Com o intuito de aumentar a produção, os produtores têm adotado práticas culturais e técnicas inovadoras, como o plantio de clones mais produtivos e a substituição de copa em pomares de cajueiros gigantes improdutivos. 9
10 No APL de Aracati e Fortim é possível verificar a presença de diversos entes que compõem a cadeia produtiva da Cajucultura, entre eles: Pesquisadores (instituições de fomento, assistência técnica e pesquisa); Produtores (caju, mel e outras culturas); Grupos organizados (assentamentos, associações e cooperativas); Fornecedores de insumos (responsáveis pela comercialização dos insumos necessários para a Cajucultura e para o beneficiamento de seus produtos); Atacadistas (os chamados atravessadores); Pequenas fábricas de beneficiamento do pedúnculo (responsáveis pela produção caseira de polpa, doces e cajuína); Mini-fábricas de castanha (aproveitamento e beneficiamento da amêndoa da castanha, com cunho associativista); Empresas (cuidam do processamento e comercialização da amêndoa da castanha de caju, do LCC, e de produtos elaborados a partir do pedúnculo do caju); A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que adquire produtos da Agricultura Familiar via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Quanto à infraestrutura do APL de Aracati e Fortim verificou-se que: Os recursos hídricos são abundantes; no entanto, os serviços de tratamento e distribuição d água são deficientes; Existe disponibilidade de energia elétrica suficiente, alcançando toda a área do arranjo produtivo; A área que compreende o APL apresenta numerosas vias de acesso, quase todas estradas carroçáveis, que necessitam de serviços de melhoria, conservação e reparo periódicos; Os meios de transporte utilizados são precários (ênfase para tração animal) e insuficientes; No meio rural, os meios de comunicação são bastante limitados, restringindo-se, basicamente, à telefonia móvel e à via postal; Não existem estruturas de armazenamento adequadas para as diversas matérias-primas e para os produtos processados; cada produtor utiliza os meios de armazenamento disponíveis em sua propriedade, quase sempre muito precários (muitos, a céu aberto); A secagem da castanha e do pedúnculo do caju é realizada em instalações precárias, diretamente no chão ou em pequenos pisos feitos de tijolo e/ou cimento; e Na sede do Município de Aracati existem tanto instituições financeiras governamentais (Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal) como não governamentais (Bradesco). Considerando-se as estruturas de governança e cooperação, verifica-se que as interrelações produtivas, comerciais e tecnológicas entre os agentes representados no APL encontram-se em um estágio muito aquém de seu potencial, identificando-se, apenas, pequenos acordos ligados ao fornecimento e compra de matéria prima, a exemplo dos acordos entre as associações e as mini-fábricas de castanha e das empresas e produtores, visando ao aproveitamento do pedúnculo. Segundo relato dos próprios produtores, os principais fornecedores de insumos e matéria prima para produção e beneficiamento encontram-se dentro dos municípios que compõem o APL ou nos municípios circunvizinhos; dessa maneira, dificilmente os produtores e beneficiadores precisam buscar algum insumo em outros centros do Estado ou fora deste. 10
11 Todas as atividades ligadas à produção são realizadas pelos agentes locais que contam, em alguns casos, com assistência técnica de instituições municipais, estaduais e federais; em se tratando das grandes indústrias, principalmente nos setores de transformação e comercialização, por exemplo, verifica-se uma grande carência de mão de obra especializada, sendo, por isso, em muitos casos, necessário buscar profissionais mais preparados e especializados em outros mercados. Dentre os principais problemas enfrentados pelos produtores no trato com os fornecedores e clientes pode-se destacar a questão da negociação de preço, a qualidade do produto, a sazonalidade do preço da matéria prima (falta de regularidade e qualidade na produção), problemas logísticos como falta de dispositivos adequados de embalagem, inadequação de meios de transporte e deficiências no sistema de acesso físico, dificultando ou inviabilizando o cumprimento de prazos preestabelecidos. Atualmente, no Ceará, as grandes indústrias exportam para todo o mercado mundial, restando aos pequenos produtores apenas o papel de suprimento da castanha. Os principais pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças identificados nos grupos de produtores, associações e cooperativas e nas empresas do APL na pesquisa de campo e no PDP (2010) são mostrados no Quadro 1. 11
12 Fonte: Elaboração da equipe do GLEN/UFC e PDP (2010) Quadro 1 Principais pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças do APL de Aracati e Fortim. Pelo exposto, pode-se perceber que a Cajucultura é uma das poucas atividades agrícolas que ainda é competitiva e de grande importância econômica e social no Estado do Ceará. Por se tratar de uma atividade agroindustrial bastante diversificada e complexa, o agronegócio do caju apresenta uma capacidade expressiva de geração de empregos e de riquezas para a região. No entanto, pode-se observar que, não só na região do APL em estudo, como também em todo o Estado do Ceará, os problemas ligados às falhas nos empreendimentos associativos, à baixa remuneração das atividades no campo, à falta de organização e articulação dos próprios produtores, aos fatores climáticos e à diversidade e qualidade dos produtos têm prejudicado o desempenho econômico-financeiro da atividade. 12
13 5 Conclusões XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Após o levantamento inicial das informações básicas sobre a Cajucultura no Brasil e no Estado do Ceará, pode-se concluir que é uma atividade que pode exercer um papel importante na economia regional, dependendo do suporte logístico que se dê às cadeias daquele setor. Esse papel baseia-se na valorização da vocação produtiva que respeita aspectos ambientais e culturais envolvidos na produção regional. A Cajucultura apresenta grande potencial econômico devido à variedade de produtos que ela pode gerar e aos mercados que pode atender. A cadeia do caju pode ganhar robustez com o incentivo ao beneficiamento da amêndoa e do pedúnculo pelos pequenos produtores, o apoio ao direcionamento de seus produtos para os mercados interno e externo, a promoção do potencial de insumo energético da atividade e a sua inclusão na indústria química. Para alcançar esses objetivos, são necessárias, entre outras, políticas públicas que visem à capacitação e organização dos produtores, a oferta de infraestrutura adequada, a aproximação dos produtores com os mercados consumidores, principalmente em consonância com as políticas de suporte à merenda escolar, e a diminuição do peso dos atravessadores nos custos logísticos dos setores. Vale ressaltar que, para o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do caju é importante também estimular a produção consorciada com outras atividades, visando à entrada em novos nichos de mercado, aproveitando-se dos aumentos da produção e de preços crescentes em face de aumentos na demanda; para a atividade observa-se um cenário favorável de comercialização, reforçado pelo crescimento econômico do país, que tem impulsionado a demanda interna e expandido os processos comerciais, principalmente, no mercado externo. Pesquisas e estudos realizados por órgãos como EMBRAPA, EMATERCE, SEBRAE, ADAGRI, dentre outros, sinalizam que os modelos de organização de produtores agrícolas adotados no Brasil, principalmente aqueles voltados para os pequenos produtores, são socialmente injustos, favorecem a concentração de renda e de espaço e excluem grande parte da população economicamente ativa do país. Em conseqüência dessa realidade, vários setores da sociedade brasileira não conseguem ser inseridos no processo de desenvolvimento econômico, ficando, dessa maneira, às margens deste, assim como dos benefícios dele advindos. No caso da cadeia produtiva do caju, esta possui uma grande importância para os municípios de Aracati e Fortim, pelo fato de gerarem riquezas, empregos diretos e indiretos e contribuírem para a diminuição da pobreza e da desigualdade social na região, cabendo ações de reestruturação logística de fortalecimento da sua sustentabilidade. Sabe-se que a faixa litorânea do Estado do Ceará é uma região que apresenta uma grande produção de caju especialmente em virtude das características do seu clima e vegetação; e que na pauta das exportações do Estado, a castanha de caju, ano a ano, ocupa lugares de destaque. A maior parte dessa produção vem dos pequenos produtores rurais. No entanto, a participação destes se resume, basicamente, ao fornecimento de matéria-prima, a castanha de caju, para a geração da ACC e de outros produtos alimentares, farmacêuticos e cosméticos. Assim, a maioria dos produtores não tem a oportunidade de participar do processo de transformação/beneficiamento desses produtos e muito menos de sua comercialização, restando os riscos e incertezas do negócio sempre para eles. Diante do potencial de produção desses produtores, faz-se necessário refletir sobre a criação e execução de ações capazes de mudar esse cenário paradoxal, principalmente através 13
14 do incentivo e fomento da participação dos pequenos produtores rurais nas etapas de transformação e comercialização dos seus produtos. Finalmente, tendo em vista a realidade vivida pelos pequenos produtores de caju dos municípios de Aracati e Fortim, propõe-se a construção de um modelo de governança que favoreça a inserção competitiva destes produtores nos demais segmentos da cadeia, principalmente nos de beneficiamento e comercialização. A construção da proposição para o modelo de governança da cadeia em estudo deverá ter como base os conceitos e considerações relacionados às cadeias de produção, ao associativismo/cooperativismo como método de organização e às oportunidades e obstáculos ao rearranjo da cadeia produtiva do caju nas localidades de Aracati e Fortim. Referências ADECE. Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará Disponível em: Acessado em: Nov.2010 Atumira, D. Cajucultura enfrenta uma das piores crises da história. O Povo. Fortaleza, Disponível em: 02 dez Caderno de Economia, p. 26. EMATERCE. Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará. Informações obtidas por meio de correio eletrônico e em entrevistas com funcionários da empresa no município de Aracati FIEC. Federação das Indústrias do Estado do Ceará < Acesso em: dez Figueiredo, A. M.; Souza Filho, H. M.; Guanziroli, C. H.; JUNIOR, A.S.V. Competitividade ameaçada: análise da estrutura de governança do agrossistema brasileiro da amêndoa de castanha de caju. Disponível em: < em: 20/07/2010. IBGE (2010). Disponível em: < Acesso em: dez Leite, L. A. S.; Pessoa, P. F. A. P. Cultivo do cajueiro no Nordeste brasileiro: o agronegócio caju. 12º AGRINORDESTE, Olinda-PE, Disponível em: < > Parente, J.I.G. (1997). Aspectos agronômicos da cultura do caju. In: CARVALHO, A.R e J. A. Teles (org) Caju: Negócio & Prazer. SETUR, Governo do Estado do Ceará, Fortaleza. USAID. Inserção de Micro e Pequenas empresas no mercado internacional. Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional Disponível em:< 14
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