Acórdão. Processo no /001

Transcrição

1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque Acórdão Apelação Cível - no /001 Relator: Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque Apelante: Thiago Ribeiro Batista - Adv.: Julianna Erika Pessoa de Araújo Apelado: Município de Guarabira, representado por sua Prefeita - Adv.: Elyene de Carvalho Costa EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA C/C CORREÇÃO DE ADCIONAL SERVIDOR PÚBLICO ESTATUTÁRIO NECESSIDADE DE LEI ESPECÍFICA PARA PAGAMENTO DE ADCIONAL DE PERICULOSIDADE INEXISTÊNCIA DE LEGISLAÇÃO NESSE SENTIDO IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA GRATIFICAÇÃO ALMEJADA - DESPROVIMENTO DO APELO. - Sendo. o promovente servidor público estatutário e inexistindo norma que regulamente a concessão de adicional de periculosidade para os ocupantes de seu cargo, não há como se determinar o pagamento postulado, sob pena de violação ao principio da legalidade, preceito ao qual está a Administração Pública vinculada por força do art. 37 da Constituição Federal. Desembargador arcos Ca e Albuquerque 1

2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos acima identificados. Acorda a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO APELO. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por Thiago Ribeiro Batista, em face da sentença de fls. 99/104, proferida pelo MM. Juízo da 4a Vara da Comarca de Guarabira, nos autos da Ação de Cobrança c/c Antecipação de Tutela, que julgou improcedente o pedido por ele formulado contra o Município de Guarabira, no sentido de reconhecer a inexistência de direito de o demandante receber o adicional de periculosidade em seu contracheque, por não haver previsão em lei municipal. O apelante (fls. 106/112) sustentou, sinteticamente, que teria direito ao adicional de periculosidade, conforme previsto na lei municipal n.o 846/2009, devendo, por isso, ser reformada a sentença que lhe deixou de reconhecer esse direito. O Município de Guarabira, devidamente intimado, deixou de oferecer contrarrazões, conforme certidão de fl Instada a se pronunciar, a Douta Procuradoria de Justiça (fls. 123/125) opinou pelo desprovimento do apelo. É o relatório. OTO O demandante alegou, na exordial, que é servidor municipal desde o ano de 2008, exercendo o cargo de vigilante e que não recebe o adicional de periculosidade, apesar de ter direito à referida vantagem pecuniária. Por isso, pediu a implantação do adicional de periculosidade, no percentual de 30% (trinta por cento) do valor dos seus salários, requerendo o pagamento do adicional sobre todos os salários recebidos e seus reflexos no FGTS, férias 1/3 de férias e 13 0 salários, com juros e correção monetária. Desem argadormarc de A lbu ergue 2

3 Na sentença de fls. 99/104, o juiz a quo julgou improcedente o pleito do autor, sob o fundamento de que a lei municipal n.o 846/2009, que trata do adicional de periculosidade no serviço público municipal, não contempla o cargo de vigilante como beneficiário. Inicialmente, é importante registrar que, consoante se extrai dos documentos de fls. 09/57, o autor é servidor público estatutário, regime jurídico, no qual a concessão de benefícios depende de expressa previsão legal, conforme ensina o professor Edmir Araújo Netto, em sua obra "Curso de Direito Administrativo", in verbis: "O regime estatutário significa, basicamente, que, ao tomar posse (aceitação) e entrar em exercício (incorporação), o funcionário público nomeado já encontra uma situação jurídica previamente definida, que focaliza seus direitos, deveres, condições de trabalho, normas disciplinares, vencimentos, vantagens, enfim, um completo regime jurídico assim estatuído (...) por lei, e que, a não ser dessa forma, não pode ser modificado nem com a concordância da Administração e do funcionário, pois são normas de ordem pública, não derrogáveis".' Nos termos do art. 7 0, XXIII, CF, o adicional de periculosidade é aplicável a todos os trabalhadores, independentemente do cargo. De fato, vários dos benefícios trabalhistas previstos no art. 7 0, CF, são garantidos a todos os trabalhadores, independentemente do regime jurídico regulador de seu cargo, como, por exemplo, o décimo terceiro salário; a remuneração de trabalho noturno superior ao diurno; o repouso semanal remunerado, entre outros. Porém, algumas das garantias previstas nesse mesmo dispositivo são inerentes, apenas, aos trabalhadores celetistas (regidos 'ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de Direito Administrativo São Paulo: Saraiva, p Desembarga or Marco e0 alca 3 4

4 pela CLT), razão pela qual não podem ser, automaticamente, estendidas aos servidores estatutários. O dispositivo que faz essa diferenciação - ao especificar os benefícios devidos aos servidores públicos estatutários - é o art. 39, 30 da própria Constituição Federá!, que dispõe: Art. 39. (...) 3 Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. Da leitura do artigo, verifica-se que somente os direitos previstos naqueles incisos taxativamente elencados (IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXIII) é que são automaticamente estendidos aos ocupantes de cargos públicos, ficando a concessão dos benefícios dos demais incisos do art. 7 na dependência de lei específica que os institua, consoante previsão da parte final do mesmo dispositivo. Trazendo-se essas premissas para o caso dos autos, percebe-se que o inciso XXIII do art. 7 0 o qual trata do adicional de periculosidade não está previsto no referido 3 do art. 39, CF, razão pela qual o autor servidor público estatutário só faria jus a esse benefício se houvesse lei regulamentando o pagamento dessa verba para o seu cargo. Tal preceito constitucional que induz à necessidade de previsão legal para a concessão de adicional de periculosidade - também se encontra inserido, inclusive, na própria Lei Orgânica do Município de Guarabira, cujo art. 51, inciso X, estabelece: "São direitos dos servidores públicos: X - adicional de remuneração para atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas na forma da lei". Desem arga or arcos Ca Albuquerque 4

5 Por sua vez, a Lei Municipal n.o 846/2009, que regulamentou o dispositivo da Lei Orgânica acima citado, em vigor desde 1 0 de setembro de 2009, somente instituiu o adicional de periculosidade para o cargo de eletricista (art. 5o, parágrafo único). Logo, como o autor comprovou exercer o cargo de vigilante, não tem direito à percepção do referido adicional. À luz dessas regras, pois, é evidente que, inexistindo legislação específica, não se pode conceder adicional de periculosidade. Percebe-se que o autor só teria direito à percepção do referido adicional se comprovasse a existência de Lei que regulasse a sua concessão para os ocupantes de seu cargo, o que não fez, simplesmente por inexistir previsão legal de concessão do adicional a pessoas detentoras do cargo de vigilante do quadro de servidores do Município de Guarabira. Com efeito, sendo o promovente servidor público estatutário e inexistindo norma que regulamente a concessão de adicional de periculosidade para os ocupantes de seu cargo, não há como se determinar o pagamento postulado, sob pena de violação ao princípio da legalidade, preceito ao qual a Administração Pública está vinculada por força do art. 37 da Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...). A jurisprudência pátria tem se manifestado no mesmo sentido, em precedentes de casos análogos, conforme se observa dos seguintes julgados: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO (ADICIONALDE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE). MUNICÍPIO Desembargado arco éealbuquerque 5

6 DE SANTO EXPEDITO DO SUL. SERVIDOR ESTATUTÁRIO. LEI MUNICIPL N 365/02. Estando o administrador público vinculado ao Principio da Legalidade, somente podendo a municipalidade atuar conforme a lei e, inexistindo, na espécie, na lei sob exame, as atividades dos servidores como enquadradas na percepção do adicional de insalubridade (ou periculosidade), não se reconhece o pagamento respectivo no caso concreto. Precedentes desta Corte. APELAÇÃO DESPROVIDA 2. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE (OU PERICULOSIDADE). DESCABIMENTO. Prevendo a legislação municipal, instituidora da gratificação (Im n 2.202/2001), a necessidade de regulamentação (art. 87, parágrafo único), através de outra lei, que nem chegou a ser editada, o direito reclamado não pode ser deferido, em respeito ao principio da legalidade, insculpido no art. 37, caput, da CF. Gratificação não contemplada, como regra cogente, na Constituição Federal. lnaplicabilidade das regras da CLT, tratando-se de servidor regido pelo vinculo estatutário. Ação Improcedente, sentença confirmada. Apelação Desprovida'. AÇÃO DE, COBRANÇA SERVIDOR PÚBLICO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL (...). Tratando-se de servidor público estatutário, inexistindo previsão legal ao pagamento do adicional de periculosidade, não deve ser este concedido, sob pena de desrespeito ao principio da legalidade. 2 TJRS 3 Câmara Chiei Ap. Cível n , Relator: Des. Rogerio Gesta Leal, 3: 09/02/ TJRS 3a Câmara cível _Ap. Cível n Relator. Juiz Ari Azambuja Ramos j: 01/09/ TJMG Proc. n (1) Relator. Des. Belizárlo de Lacerda J: 15/04/2008. Desem or Marc 6

7 SERVIDOR PÚBLICO - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE/PERICULOSIDADE - (...). - O adicional de insalubridade não foi suprimido para os servidores públicos, dependendo de lei local (estadual ou municipal) o seu pagamento (. ) 5 Não há corno acolher os argumentos do apelante, motivo pelo qual a sentença deve ser mantida in totum. Em face de todo o acima exposto, PROVIMENTO à apelação. NEGO É como voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Marcos Cavalcanti de Albuquerque - Relator, Maria das Neves do Egito A D Ferreira e Abraham Lincoln da Cunha Ramos. Presente ao julgamento a Excelentíssima Senhora Doutora Lúcia de Fátima Maia de Farias, Procuradora de Justiça. Sala de Sessões da Segun r Cívfido TribyjaFde Justiça do Estado da Paraíba, em Jo Í-50 de a bfil de -11T Desembargador Marcos Relat de Albuquerque 27 5 T.)MG - Proc. no /001 Relator: Wander Marota 3: 19/08/2008. Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque 7