LETRAMENTO DIGITAL COMO CONSEQUÊNCIA DA ELABORAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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1 LETRAMENTO DIGITAL COMO CONSEQUÊNCIA DA ELABORAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Verônica Ribas CÚRCIO (UFSC) 1 Resumo em português A elaboração dos materiais didáticos para cursos online demanda equipes pedagógicas e técnicas. O professor que não está acostumado com a preparação gradual e cuidadosa de suas aulas a distância sente necessidade de orientações para essa modalidade que se difere bastante da sua prática presencial. Por consequência disso ele passa pelo processo de letramento digital que, de certa forma, acaba se expandindo inclusive para as suas aulas presenciais. Pretendemos relatar a experiência que temos enquanto elaboradores e colaboradores na produção de material para o curso de Letras Português (licenciatura) do projeto da UFSC que faz parte do Sistema Universidade Aberta do Brasil no que diz respeito à cooperação e orientação aos professores. Palavras-chave: material didático; aulas a distância; letramento digital. Introdução Atualmente, um dos problemas que vemos na literatura educacional brasileira é que muitas vezes o analfabetismo digital está no estudante e não no professor; que a inclusão digital é para o estudante e não para o professor (mesmo que esse professor seja aluno, ainda há um outro professor que por trás disso está se letrando digitalmente). Para conduzir com sucesso aulas semi-presenciais, os participantes devem ter acesso à tecnologia a ser utilizada e estar familiarizados com ela. Sentir-se à vontade com a tecnologia (tanto com o hardware quanto com o software) contribui para uma sensação de bem-estar e, por conseguinte, para uma maior possibilidade de participação (PALOFF e PRATT, 2002 apud VITORINO, 2006). E quando falamos então em educação a distância oferecida por universidades federais ou estaduais, podemos dizer, partindo de nossa experiência com os docentes destas instituições, que nem sempre os mesmos estão preparados para essa modalidade e que muitas vezes os professores dividem seu tempo de trabalho entre uma modalidade e outra. 1 Mestre em Teoria Literária. veronicacurcio@gmail.com

2 Por isso a necessidade do trabalho em conjunto com a coordenação pedagógica do curso, o trabalho com o designer instrucional que participa com o professor na elaboração das estratégias de ensino-aprendizagem com as novas tecnologias. É durante esse diálogo com os professores que percebemos 2 o processo de letramento digital que alguns passam; pois a prática da sala de aula presencial nem sempre exige do professor a utilização de outros meios para a transmissão de seu conhecimento. De tecnologia bastam o retroprojetor e a fotocopiadora, no mais, a aula acontece. Ao longo da produção do material didático bem como suas atividades estendidas para a plataforma virtual, como animações, vídeos, atividades complementares de fóruns de discussão, entre outros, o professor começa a entrar em contato com as possibilidades que o meio midiático dispõe. O professor no contexto da educação a distância O fato de alguns professores ainda não estarem familiarizados com as suas novas ferramentas de trabalho demanda a presença do designer instrucional, e mesmo que haja professores que já explorem tais ferramentas em sala de aula e que saibam ser um pesquisador não ingênuo da rede, é jus deste parceiro de elaboração prestar atenção em alguns fatores como: a escrita do professor-conteudista, se há uma escrita dialógica ou não; apresentar-lhe as possibilidades de ampliação das atividades em linha, adaptar algum conteúdo em formato de animação ou reconfigurá-lo como um objeto de aprendizagem. Enfim, auxiliar o professor à adaptação e criação de seu trabalho na nova modalidade de educação. A angústia por não conhecer tampouco dominar a ferramenta acaba por transferir as aulas presenciais para as plataformas de ensino, o que não é recomendável, por isso a importância da formação aos professores e tutores. 2 Falamos aqui a partir da experiência como designer instrucional do curso de Letras Português, trabalho desenvolvido no Laboratório de Novas Tecnologias do Centro de Ciências da Educação, para o projeto da Universidade Aberta do Brasil.

3 O professor da Fernuniversität em Hagen, Otto Peters, em seu livro Didática do Ensino a Distância, coloca a seguinte questão sobre o trabalho em equipe na produção de um curso a distância: Os professores universitários integram esses pequenos grupos de trabalho, que passam a ser responsáveis por todas as etapas de seus cursos, não apenas pelo planejamento e design como também pela produção na área gráfica e do vídeo, o que, inclusive, é facilitado por modernos meios técnicos [...] (PETERS, 2003, p. 214). Essa é a forma de trabalho que temos e que mostramos ao professor que ele pode contar com as equipes no momento em que for preciso. A segurança de auxílios pedagógico e técnico amenizam a expectativa de, por exemplo, gravar uma vídeo-aula, ministrar uma videoconferência, aplicar uma avaliação a distância etc. Sobre o letramento digital e a metodologia do LANTEC Durante a elaboração deste artigo, pesquisamos a diferença entre alfabetização digital e letramento digital e verificamos que em alguns casos os termos são confusos. Percebendo isso, decidimos esclarecê-los aqui de acordo com o nosso entendimento. Segundo o dicionário Aulete temos a seguinte explicação: O termo 'letramento', de uso recente no campo da pedagogia e da educação, deriva do inglês literacy, em sua acepção de 'condição de quem sabe ler e escrever'. Na verdade, não se refere à condição técnica de saber ler e escrever (ao que corresponde o termo 'alfabetismo' ou 'alfabetização'), mas à condição, capacidade de e disposição para, uma vez dominada a técnica de ler e escrever, usá-la para assimilar e transmitir informação, conhecimento etc. Assim, o letramento é uma continuação possível e desejável da alfabetização, e é através dele que o potencial do alfabetismo pode se transformar em conhecimento e cultura (AULETE DIGITAL). Traduzindo para o nosso meio, podemos pensar então que letramento digital vai além das habilidades relacionadas ao uso das novas tecnologias digitais, ou seja, já

4 ultrapassa a fronteira do saber usar para o para quê usar. A aplicação do conhecimento adquirido deve ser levada em conta nas práticas culturais, sociais e, no nosso caso, pedagógicas. Traremos agora alguns autores que já pensaram sobre os termos ou conceitos alfabetismo e letramento. Em um artigo sobre letramento digital, Antonio Carlos dos Santos Xavier (2009) traz a seguinte informação que achamos válida para a nossa argumentação: O autor americano David Barton (1998) afirma que antes de constituir um conjunto de habilidades intelectuais, o letramento é uma prática cultural, sócio e historicamente estabelecida, que permite ao indivíduo apoderar-se das suas vantagens e assim participar efetivamente e decidir, como cidadão do seu tempo, os destinos da comunidade à qual pertence e as tradições, hábitos e costumes com os quais se identifica. A capacidade de enxergar além dos limites do código, fazer relações com informações fora do texto falado ou escrito e vinculá-las à sua realidade histórica, social e política são características de um indivíduo plenamente letrado (BARTON apud XAVIER, 2009). Outra estudiosa da área, a professora Magda Becker Soares (2002), faz um levantamento a respeito dos conceitos de alfabetização e letramento em artigo chamado Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. A autora discorre e problematiza os termos mostrando, por meio da evolução da escrita e da leitura, confrontos entre as tecnologias tipográficas e digitais, e chega à conclusão de que existem letramentos (no plural): [...] propõe-se o uso do plural letramentos para enfatizar a ideia de que diferentes tecnologias de escrita geram diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso dessas tecnologias, em suas práticas de leitura e de escrita: diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos (SOARES, 2002). Resumindo, o que diferencia o letramento digital do alfabetismo digital seria o fato de o primeiro se estender nas práticas sociais do sujeito. E é nesse sentido que daremos continuidade a este artigo.

5 O sistema de gestão 3 proposto pelo Lantec é baseado na tríade formação, produção de materiais e pesquisa e avaliação. Portanto, o laboratório é responsável por formar os professores e tutores dos cursos a distância, por produzir sempre junto aos professores o material didático impresso e o conteúdo da plataforma virtual, e por fim, pesquisar e avaliar essa produção como um todo e o resultado dessas formações. O material didático impresso é elaborado, geralmente, quatro a cinco meses antes das aulas começarem, é o tempo mínimo suficiente para a produção que fazemos; nesse meio tempo, acertamos os ponteiros com os diagramadores, webdesigners, desenhistas, revisores e gráficas (sempre em diálogo com os professores) para garantir a excelência no conteúdo e assiduidade dos materiais nos polos, bem como a implementação das disciplinas na plataforma virtual 4. A articulação entre os responsáveis pela produção é descentralizada, ou seja, diferentes centros de estudos da universidade se envolvem no processo de elaboração dos cursos. No nosso caso, há a co-responsabilidade de setores do Centro de Ciências da Educação e do Centro de Comunicação e Expressão com os profissionais do Design Gráfico e das Letras. Dessa forma, o professor de Literatura Brasileira ou de Teoria Literária irá percorrer outros espaços e percebendo como as outras áreas podem auxiliar a sua disciplina. Claro que isso implica tolerância e humildade por parte do professor que está bem acostumado a preparar suas aulas de maneira solitária e por vezes repetitiva, sem a intromissão de qualquer outro profissional em sua metodologia de ensino. É interessante observar aí a movimentação entre os corredores dos centros e dos espaços colaborativos; as ideias de conteúdos sendo transformadas e ampliadas por meio das e nas tecnologias de mídia. Atuar como um educador na modalidade a distância serve como uma renovação na metodologia antes aplicada em sala de aula presencial. Por vezes, ficamos sabendo que o professor de Literatura Brasileira ou de Sintaxe resolveu colocar em prática no presencial, 3 Para aprofundar na temática de gestão do LANTEC, sugerimos a leitura da tese de Roseli Zen Cerny intitulada Gestão Pedagógica na Educação a Distância: análise de uma experiência na perspectiva da gestora. Defendida na PUC-SP, em Utilizamos para nossos cursos o sistema de gestão de aprendizagem Moodle.

6 as ferramentas e sua metodologia das aulas no Moodle. As vantagens de trabalhar em parceria na elaboração dos ambientes virtuais, desde o plano de ensino ao fórum Tiradúvidas é a de acompanhar esse hibridismo que a educação começa a ganhar. Já temos uma iniciativa dentro da universidade que é a realização parcial das aulas do presencial no Moodle, isso demonstra como a educação a distância está influenciando os currículos e as aulas de um modo geral. A experiência que tivemos, até o momento, na elaboração de materiais didáticos para o curso de licenciatura em Letras Português na modalidade a distância da Universidade Federal de Santa Catarina tem mostrado uma aprendizagem que se desdobra em duas: a dos alunos e dos professores. Por parte dos professores, podemos afirmar que durante a elaboração dos materiais impressos e digitais, bem como na prática docente no ambiente virtual são transformadas as suas metodologias de ensino-aprendizagem. Queremos com isso dizer que os professores acostumados com a prática da aula em salas presenciais, apre(e)ndem novas maneiras de ensinar com essa outra modalidade de educação. Muitos desses professores nos procuram com pendrives na mão e um sorriso meio preocupado no rosto, cheios de dúvidas e curiosidades para saber como irá funcionar sua sala de aula a distância. Há aqueles que ainda chegam com disquetes, há os que chegam sem saber como anexar um arquivo por e vemos sua progressão e desenvoltura com o uso das ferramentas informatizadas. Referências bibliográficas AULETE DIGITAL. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. KENSKI, Vani Moreira. Ensino a distância cresce 54% em Entrevista concedida pela FIOCRUZ. Em: aceso em 12/10/2009. PETERS, Otto. Didática do ensino a distância. São Leopoldo: UNISINOS, 2003.

7 SOARES, Magda Becker. Novas práticas e leitura e escrita: letramento na cibercultura acessado em 12/10/2009. PALLOFF, R. M.; PRATT, K. In: VITORINO, Elizete Vieira. Educação a distância (EaD) na percepção dos alunos. Itajaí: Univale, XAVIER, Antonio Carlos dos Santos. Letramento digital e ensino acessado em 12/10/2009.

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