EROSÕES NO BAIRRO POLOCENTRO EM ANÁPOLIS (GO): CADASTRAMENTO E RELAÇÕES COM AS FORMAS DE RELEVO E USO DA TERRA.
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- Lara Rios Bugalho
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1 EROSÕES NO BAIRRO POLOCENTRO EM ANÁPOLIS (GO): CADASTRAMENTO E RELAÇÕES COM AS FORMAS DE RELEVO E USO DA TERRA. Leide Laura F. M. Teixeira 1,4 ; Sandro Nunes de Oliveira 2,4 ; Homero Lacerda 3,4 1 Bolsista PBIC/UEG 2 Voluntário de Iniciação Científica PVIC/UEG 3 Pesquisador Orientador 4 Curso de Geografia - Unidade de Ciências Socio-Econômicas e Humanas de Anápolis/UEG RESUMO As erosões do Bairro Polocentro têm causado destruição de ruas, assoreamento do Rio das Antas e problemas sanitários devido a lançamento de entulhos e lixo. O compartimento do relevo mais afetado pela erosão acelerada é o das Baixas Vertentes, seguido pelas Rampas, principalmente na sua metade à jusante. As erosões foram causadas pela forma inadequada de parcelamento do solo, com ruas longas segundo a declividade e ausência de infraestrutura de pavimentação e drenagem de águas pluviais. Palavras chave: erosão urbana, relevo, uso da terra. INTRODUÇÃO Anápolis é uma cidade bastante afetada pela erosão acelerada destacando-se, neste aspecto, o Bairro Polocentro, localizado na parte sudoeste da cidade (Figura 1). Na presente contribuição as erosões do Bairro Polocentro são descritas e comentadas suas relações com o uso da terra e formas de relevo. O texto inicia com a apresentação dos materiais e métodos, seguida da descrição das erosões e dos compartimentos do relevo na área e suas relações com as incisões erosivas. O item seguinte é a descrição do uso da terra e suas relações com os processos erosivos, seguida da conclusão, contendo a síntese dos resultados obtidos. A classificação das incisões erosivas utilizada neste texto é a de Almeida Filho e Ridente Júnior (2001). Estes autores consideram sulcos as erosões com largura e profundidade inferiores a 50cm. Ravinas são as incisões que não atingiram o lençol freático e que têm larguras e profundidades superiores a 50cm e voçorocas são as erosões que atingiram o lençol freático. MATERIAIS E MÉTODOS As bases cartográficas utilizadas foram: mapa topográfico 1/ com eqüidistância de curvas de nível de 20m; fotos aéreas preto e branco, de 1965, tomadas pela USAF; e planta digital da cidade de Anápolis, em arquivo do programa AutoCAD, com imagem Ikonos II de 2001 anexada. O cadastramento das erosões em campo foi feito utilizando-se fichas, segundo a metodologia proposta 1
2 por Oliveira (1990). Os croquis das erosões foram elaborados a partir da interpretação da imagem Ikonos e observações de campo. O mapa de formas de relevo em escala 1/ (Lacerda et al. 2005) foi elaborado a partir de: interpretação das fotos aéreas 1/ utilizando estereoscópio de bolso com aumento de 4X; geração de carta clinográfica a partir da carta topográfica 1/50.000, utilizando-se o programa Surfer 8; trabalho de campo com observação do relevo e medição das declividades utilizando-se clinômetro; e descrição das formações superficiais. O uso da terra foi abordado a partir de interpretação de imagem Ikonos e observações de campo, com os resultados sintetizados em mapa de uso da terra em escala 1/ CADASTRAMENTO DAS EROSÕES As erosões cadastradas estão representadas nas figuras 1 e 2 e, para fins de descrição, são divididas em dois grupos: erosões ao longo de drenagens; e erosões nas encostas. Existe apenas uma erosão localizada ao longo de uma drenagem, em um pequeno afluente da margem direita do Rio das Antas, na parte norte do setor estudado, em área ainda não parcelada. A erosão tem forma irregular, bulbosa na sua parte central, com ramificações à montante. Tem comprimento superior a 500m, com largura de 20 a 50m e profundidades de até 15m. A forma bulbosa sugere evolução por movimentos de massas que provocaram o alargamento local da erosão. As ramificações a montante são devido a erosão pela água do escoamento superficial vindo da área parcelada. Os danos registrados são destruição de pastagem e cercas, com queda de animais, além do assoreamento do Rio das Antas e da represa localizada no interior da erosão. As erosões situadas nas encostas são a maioria e para efeitos de descrição podem ser divididas em dois segmentos: uma parte a jusante onde são mais largas e profundas, com afloramento do lençol freático; e uma parte a montante, mais estreitas, sem afloramento do aqüífero freático. O segmento de jusante está localizado em área não parcelada, no compartimento de relevo denominado aqui como Baixas Vertentes. Neste segmento as erosões tem comprimentos da ordem de 100 a 200m, larguras de cerca de 10m e profundidades entre 5 e 10m. As erosões tem perfil em V ou em U, este último devido à acumulação de sedimentos no fundo da incisão. Os taludes são geralmente subverticais, formados por saprolito, com evidências de solapamento pelas águas de superfície na base e movimentos de massas condicionados pelas fraturas. A erosão da Avenida Contorno tem, à jusante, um segmento em forma em baioneta, interpretado por Lacerda et al. (2005) como devido à influência da natureza do saprolito, incluindo fraturamento de rumo NW e presença de uma camada de quartzito com direção NE, mais resistente à erosão do que o saprolito adjacente. 2
3 O segmento de montante está localizado ao longo das ruas, no compartimento de relevo denominado Rampas. Neste segmento as erosões tem comprimentos de 300 a 700m, com larguras e profundidades de 0,5 a 1,5m. Sua evolução se dá pela erosão pelas águas de superfície e movimentos de massas devido ao solapamento dos taludes. Os locais onde os dois segmentos se encontram vêm sendo sistematicamente aterrados com entulho e lixo (Figura 1) e as áreas aterradas podem atingir 300m de comprimento, como ao longo da Avenida Contorno. O resultado desta forma de contenção é o mau cheiro e proliferação de animais vetores de doenças, além da deposição do entulho e lixo no leito do Rio das Antas. As erosões situadas nas encostam provocam perdas de terras na área não parcelada e destruição das ruas na área parcelada. O material erodido, incluindo tanto as formações superficiais como o lixo e o entulho, são depositados no fundo do vale, provocando o assoreamento do Rio das Antas. Estes depósitos tecnogênicos ocorrem distribuídos no fundo do vale, constituindo uma planície fluvial tecnogênica com largura da ordem de 50m. Ocorrem também na forma de cones de dejeção tecnogênicos medindo cerca 30-50m, observando-se que um dos cones chega a provocar a formação de um lago de barragem no Rio das Antas (Figura 1). A maioria das erosões está muito ativa existindo, no entanto, duas erosões estáveis, situadas nas encostas. Uma delas está na margem direita do Rio das Antas e foi estabilizada pela construção de terraços individuais. A outra erosão estável está na margem esquerda do Rio das Antas e sua estabilização parece ser devida ao desvio das águas do escoamento superficial de montante. COMPARTIMENTOS DO RELEVO Na área do Bairro Polocentro foram identificados os seguintes compartimentos do relevo: Topos Planos, Rebordos Erosivos, Rampas e Baixas Vertentes, descritos resumidamente a seguir, segundo Lacerda et al. (2005). Topos Planos: Estão localizados na parte leste da área, em cotas de 1.100m, são planos ou com declividades de 2% a 3% (Figura 1). Os limites com os rebordos erosivos são nítidos, com rupturas de declive entre os topos planos (declividades de 2-3%) e os rebordos erosivos (declividades de 10-25%). A formação superficial é de natureza laterítica, compreendendo, da base em direção ao topo: zona mosqueada; horizonte ferruginososo; cascalho laterítico; e horizonte arenoso superficial. 3
4 Fig. 1: Compartimentos do relevo no Bairro Polocentro. Fonte: Trabalhos de campo e interpretação de fotografias aéreas e de imagem Ikonos (Lacerda et al., 2005). Rebordos Erosivos: Trata-se de pequenos segmentos de encostas, retilíneos ou convexos, com extensão de 20 a 100 metros em planta, e declividades de 5% a 25%. A formação superficial é a couraça laterítica, desmantelada em blocos decimétricos a métricos. Rampas: Ocorrem em altitudes de m em uma faixa com largura da ordem de 300 a 600m. Os limites superiores, com os rebordos erosivos, são nítidos e se fazem por uma ruptura de declive, uma vez que nos Rebordos Erosivos as declividades são de 5% a 25% enquanto que nas Rampas são de 5% a 10%. As rampas têm perfil retilíneo no segmento superior e ligeiramente convexo no segmento inferior. As formações superficiais são caracterizadas por saprolito recoberto por cascalho laterítico com espessura métrica. Baixas Vertentes: Ocorrem como faixas com larguras de m, em ambas as margens do Rio das Antas, em altitudes de a 1.020m. As declividades são maiores do que nas Rampas e sua morfologia é mais variada, podendo apresentar perfil retilíneo, convexo ou convexo-côncavo. As declividades geralmente estão compreendidas no intervalo entre 15% e 20% mas, em alguns locais, podem atingir 40%. As formações superficiais compreendem um horizonte de saprolito, com espessura observada de até 10m, recoberto por horizonte decimétrico de cascalho onde os clastos são predominantemente de quartzo, com tamanho centimétrico. Acima do cascalho ocorre um 4
5 horizonte areno-argiloso, de espessura métrica e cor marrom amarelada. Os limites com as Rampas, a montante, são geralmente progressivos e caracterizados por aumento gradual da declividade que passa de 10% nas Rampas para 15% a 20% nas Baixas Vertentes. A natureza progressiva deste limite faz com que seja o mais difícil de cartografar, tanto na fotointerpretação como nos trabalhos de campo. Analisando-se agora as relações entre compartimentos de relevo e incisões erosivas, observa-se que estas últimas ocorrem em todos os compartimentos, inclusive nos topos planos (Figura 1). Observase também que, embora todos os compartimentos sejam afetados o tamanho das erosões é maior nas baixas vertentes, diminuindo nas rampas, rebordos erosivos e topos planos. USO DA TERRA O Bairro Polocentro (Figura 2) é um exemplo do que não se deve fazer em termos de parcelamento do solo urbano no que diz respeito à prevenção da erosão acelerada (Almeida Filho e Ridente Júnior, 2001). Fig. 2: Uso da terra e erosão acelerada no Bairro Polocentro. Fonte: Trabalhos de campo e interpretação de imagem Ikonos (Teixeira, em elaboração). Com relação ao projeto do parcelamento, observa-se que as ruas mais longas estão no sentido da declividade das encosta, quando deveria ser o contrário. Com respeito à infra-estrutura, não existe pavimentação das ruas, nem sistema de drenagem de águas pluviais. Nestas condições as ruas constituem canais para o fluxo do escoamento superficial, aumentado devido à urbanização. O resultado desta forma inadequada de ocupação é que praticamente todas as ruas traçadas ao longo 5
6 da declividade são afetadas pelos processos erosivos (Figura 2). Observa-se que as erosões são maiores nas Baixas Vertentes, mas se prolongam nas rampas e, mesmo, nos Topos Planos, compartimentos que, pela sua baixa declividade deveriam ser considerados como de baixa suscetibilidade aos processos erosivos (Ross, 1996). CONCLUSÕES O Bairro Polocentro é, talvez, o mais afetado pela erosão acelerada em Anápolis, com incisões que têm causado destruição de ruas e problemas sanitários devido a tentativas de contenção com lançamento de entulhos e lixo, o que resultou também em assoreamento do Rio das Antas. O compartimento do relevo mais afetado pela erosão acelerada é o das Baixas Vertentes, seguido pelas Rampas, principalmente na sua metade à jusante. As erosões foram causadas pelo parcelamento do solo, totalmente inadequado quanto ao projeto e infraestrutura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA FILHO, G. S. de; RIDENTE JÚNIOR, J.L. Erosão: Diagnóstico, Prognóstico e Formas de Controle. In: SIMP. NAC. DE CONTROLE DE EROSÃO, 7, 2001, Goiânia. Minicurso... Goiânia, ABGE, 2001, 84p. LACERDA, H.; TEIXEIRA, L. L. F. M.; OLIVEIRA, S. N. Diagnóstico geológico-geomorfológico da erosão acelerada e do assoreamento na bacia do alto curso do Rio das Antas em Anápolis (GO). II Simpósio Sobre Solos Tropicais e Processos Erosivos no Centro-Oeste (submetido), OLIVEIRA, A. M. S. et al. A caracterização de boçorocas urbanas: Uma proposta de cadastro. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO SOBRE RISCO GEOLÓGICO URBANO 1, 1990, São Paulo. Anais... São Paulo: ABGE, 1990, p ROSS, Jurandyr L. S. Geomorfologia aplicada aos EIAs-RIMAs. In: (GUERRA, Antonio J. T. e CUNHA, Sandra B. (org.) Geomorfologia e Meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p , TEIXEIRA, L. L. F. M. Acidentes geomorfológicos na bacia do alto curso do Rio das Antas em Anápolis (GO). Anápolis: UEG, Monografia de conclusão do curso de Geografia, em elaboração. 6
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