PROCESSOS QUATERNÁRIOS NOS TABULEIROS LITORÂNEOS DA APA TAMBABA/PB E POSSÍVEIS RELAÇÕES COM INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS

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1 PROCESSOS QUATERNÁRIOS NOS TABULEIROS LITORÂNEOS DA APA TAMBABA/PB E POSSÍVEIS RELAÇÕES COM INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS Leonardo Figueiredo de Meneses 1 ; Elaine Cristina Teixeira Pedrosa 1 ; Max Furrier 2 1 Graduando em Geografia, UFPB (axisproj@terra.com.br); 2 Prof. Assistente Depto. Geociências, UFPB Abstract. The present work has as objective to correlate the occurrence of erosive processes in Tablelands of the Environmental Protection Area Tambaba, located in the southeast coast of the State of the Paraíba, with interventions human beings, mainly those related to the process of urban expansion and the inadequate use of agricultural techniques. One searched to interpret the main ambient components of the area, as geology, the geomorphology, the types of soils and the use of the land to understand the frequent occurrence of features provoked for linear erosion in the study area. The procedures adopted in this work had involved the treatment and interpretation of satellite images (LANDSAT) and air photographs, elaboration of thematic maps, in Geographic Information Systems, beyond works of field for evidence of the data gotten from the interpretation of the used images. Thus, it was looked to contribute for the agreement of the verified erosive processes with raised frequency in the study area. Palavras-chave: Tabuleiros Litorâneos, voçorocas, processos erosivos. 1. Introdução O presente trabalho tem por objetivo verificar a correlação da ocorrência de feições lineares de erosão (ravinas e voçorocas) com os processos decorrentes do uso e ocupação da terra na Área de Proteção Ambiental (APA) Tambaba, Unidade de Conservação sob gestão estadual, situada no litoral sul do Estado da Paraíba. A área pode ser dividida em dois grandes compartimentos quanto ao uso da terra: a porção mais oriental, basicamente delimitada pela PB-008, apresenta processo de ocupação típica de áreas urbanas, enquanto que a porção à oeste da citada rodovia apresenta uso predominantemente rural. Por se tratar de uma área litorânea o processo de expansão urbana mostra-se em ritmo bastante acelerado, de forma semelhante a diversas regiões do país. A implantação de vias de acesso e melhoria na infra-estrutura básica tem propiciado a implantação, principalmente, de empreendimentos voltados ao turismo (pousadas, hotéis, restaurantes) e veraneio (loteamentos). 2. Caracterização da área de estudo A APA Tambaba localiza-se no litoral sul do Estado da Paraíba, entre os paralelos 7º 25 e 7º Latitude Sul e os meridianos 34º 55 e 34º Longitude Oeste, inserindo-se em parte dos Municípios do Conde e de Pitimbu. Possui hectares de área e, atualmente, encontra-se em tramitação junto à Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba SUDEMA/ PB, procedimento visando sua ampliação para cerca de hectares. Caso esta nova delimitação seja aprovada, a APA Tambaba passará a abranger parte do Município de Alhandra/ Pb (Fig. 1). Para este trabalho, adotou-se a área atual da APA Tambaba além da área pleiteada para a expansão da mesma. Esta delimitação adotada mostra-se relevante em estudos

2 ambientais integrados e de gestão territorial, por abranger integralmente três sub-bacias hidrográficas: Bucatu, Graú e Mucatu. Bacia Pernambuco-Paraíba depositaram-se, de forma discordante, sedimentos arenoargilosos, mal selecionados, de origem continental, denominado de Grupo Barreiras. Esse Grupo de idade plio-pleistocênica sustenta o relevo tabular da área de estudo sendo este o foco principal deste trabalho. Os sedimentos Quaternários representados na área de estudo constituemse em pequenos terraços marinhos pleistocênicos e holocênicos, areias quartzosas marinhas e depósitos arenoargilosos nas planícies fluviais e flúviomarinhas Geomorfologia Fig. 1. Localização da área de estudo Geologia A área de estudo insere-se na Bacia Sedimentar Pernambuco-Paraíba, a qual se estende desde a cidade do Recife/ PE até a Falha de Pirpirituba, ao norte de João Pessoa/ PB (MABESOONE & SILVA, 1991). É considerada a bacia marginal brasileira mais recente, por ser a última porção da plataforma sul-americana a se separar do continente africano no processo de abertura do Oceano Atlântico (FRANÇOLIN & SZATMARI, 1987). Falhas transversais denominadas, respectivamente, de Falha de Goiana e Falha de Itabaiana, subdividem a Bacia em três sub-bacias: Olinda, Alhandra e Miriri. A APA Tambaba insere-se, em sua totalidade, na Sub-bacia Alhandra, que é limitada a norte pelo Lineamento Paraíba e a sul pela Falha de Goiana. Sobre os sedimentos do Cretáceo (Formações Beberibe e Gramame) e Terciário (Formação Maria Farinha) da A APA Tambaba está inserida, basicamente, em dois domínios geomorfológicos distintos: Baixada Litorânea (planícies e terraços de origem marinha, fluvial e flúvio-marinha) e Tabuleiros Litorâneos, regionalmente denominados de Baixos Planaltos Costeiros. As planícies e terraços compreendem as áreas de cotas mais baixas do terreno, com topografia aplainada e que se caracterizam por apresentar formas tipicamente de acumulação, resultantes da ação marinha, fluvial e flúvio-marinha. Os Tabuleiros Litorâneos caracterizamse por apresentar relevo de topo plano ou suavemente ondulado, com altitudes variando de 20 a 130 metros na região. São esculpidos nos sedimentos areno-argilosos, plio-pleistocênicos, do Grupo Barreiras. Os limites dos tabuleiros com a planície marinha, faz-se por linhas de falésias vivas (ativas) quando ainda esculpidas pela ação marinha, ou mortas (inativas) quando estão recuadas e, portanto, sem influência da ação marinha Solos Sobre os Tabuleiros Litorâneos, da região, desenvolveram-se Argissolos e

3 Latossolos Vermelho-Amarelos, ambos com predominância de textura média/ arenosa (PARAÍBA, 1995). Estes tipos de solos, associados a suas respectivas texturas predominantes, adquirem características de alta fragilidade frente aos processos erosivos desencadeadores de feições lineares, como ravinas e voçorocas. Basicamente, os demais solos presentes na área são: Neossolos Quartzarênicos, Neossolos Flúvicos e Solos Indiscriminados de Mangue (PARAÍBA, 1995). Todos estes solos, face às suas características genéticas, físicas e texturais, apresentam-se potencialmente frágeis à ocupação humana e à agricultura desprovida do emprego de técnicas conservacionistas Clima O clima da região é do tipo As, segundo a classificação de Köppen (PARAÍBA, 1985), apresentando chuvas concentradas no outono e inverno, principalmente nos meses de abril, maio e junho. A média pluviométrica anual está entre e mm e as temperaturas médias anuais oscilam entre 23,5ºC e 26,5ºC. A predominância do clima quente e úmido associado à elevada pluviosidade concentrada em três meses do ano, favorece o surgimento de processos erosivos acentuados, originando ravinas e voçorocas, bastante comuns na área de estudo Vegetação Sobre os Tabuleiros Litorâneos da APA Tambaba, encontram-se duas formações principais: as matas e os cerrados (tabuleiros). As matas são formações secundárias, com resquícios das antigas florestas primitivas, apresentando-se quase que totalmente alteradas ou devastadas por ação antrópica, fazendo parte dos ecossistemas associados da Mata Atlântica. A vegetação de cerrado, localmente denominada de tabuleiro, ocorre em áreas de solos mais pobres, sendo uma formação semelhante aos campos cerrados do Brasil Central. É formada por um manto herbáceo de gramíneas e um estrato arbustivo de indivíduos esparsos, de porte baixo e tortuoso, tendo como exemplo: mangaba, lixeira, cajueiro Quadro sócio-econômico A região onde se insere a APA Tambaba possui dois vetores principais de desenvolvimento: o primeiro é a agricultura, com cultivos de cana-de-açúcar, bambu, tubérculos e, mais recentemente, vem se expandindo a fruticultura. O segundo é a atividade turística, observada na acelerada expansão imobiliária, principalmente nas áreas próximas à costa. Apesar da expressiva velocidade com que a área vem sendo ocupada, apenas no extremo norte da APA é que a urbanização realmente se efetiva com uma maior aglomeração de edificações e implementação de infra-estrutura mínima. Existem ainda, grandes áreas loteadas no restante da Unidade de Conservação, porém sem edificações, principalmente pelo difícil acesso que estas áreas apresentavam até pouco tempo, antes da construção da PB- 008, e pela praticamente inexistência de infra-estrutura urbana básica. Ambos os vetores são potencialmente capazes de impactar o meio ambiente, caso não sejam adotadas regras específicas para a racionalização do uso e ocupação da terra com base na capacidade de suporte do meio físico e de suas vocações naturais. 3. Materiais e Métodos 3.1. Materiais cartas topográficas analógicas, em escala 1:10.000, do ano de 1985, obtidas junto

4 ao Instituto de Terras do Estado da Paraíba INTERPA; imagem do satélite LANDSAT ETM+ 7, órbita-ponto 214/065, de agosto de 2001, bandas 01 à 08; fotografias aéreas verticais e oblíquas; observações de campo Métodos Para o desenvolvimento deste trabalho procurou-se realizar um resgate bibliográfico que embasasse a busca por explicações para os fenômenos erosivos tão presentes na área de estudo. Assim, procurou-se consultar trabalhos que fizessem referência, principalmente, aos processos de formação da bacia sedimentar, sua evolução e seu tectonismo. As fotografias aéreas verticais e as imagens de satélite foram utilizadas para interpretação da evolução do uso da terra e identificação de feições erosivas. As fotografias oblíquas, do ano de 2001, foram úteis para verificar as condições ambientais e ocupações mais recentes na área. As cartas topográficas em meio analógico, foram digitalizadas e as curvas de nível e drenagens vetorizadas para que se construíssem mapas-base. Após vetorizados, os mapas foram inseridos em um Sistema de Informações Geográficas SIG, de modo a gerar mapas temáticos úteis a este estudo. Através de trabalhos de campo, foram identificadas diversas erosões lineares de grande porte, as quais foram georeferenciadas com auxílio de GPS para que se pudesse identificá-las nas bases cartográficas desenvolvidas. Com os trabalhos de campo foi possível verificar nuances do terreno que não são perceptíveis nas fotografias aéreas ou imagens de satélite, principalmente as que se referem aos elementos de subsuperfície que, em campo, podem ser notados em cortes de estradas, nas falésias e demais áreas onde se faz exposto o substrato. 4. Resultados Com base na interpretação e análise dos dados gerados e nas observações de campo, verificou-se que o trecho de tabuleiros à retaguarda da Praia de Coqueirinho, porção norte da área, é a região mais sensível à ocorrência de processos erosivos de grande porte, apresentando a maior concentração de erosões lineares de toda a área estudada (Fig. 2). Nesta área, algumas particularidades no meio físico podem ser relevantes para esta concentração. Os Tabuleiros deste trecho apresentam os patamares mais elevados e formam as mais altas falésias de todo o litoral paraibano, com altitudes entre 60 e 80 metros, conforme Mapa Hipsométrico elaborado (Fig. 3). O solo do topo dos tabuleiros, nos limites com as planícies marinhas, é do tipo Argissolos com textura média/ arenosa. Segundo LEPSCH (1993), os Argissolos são mais susceptíveis de serem erodidos que os Latossolos, pois são menos permeáveis devido à presença de horizonte B mais compacto, de acumulação de argila. Devido à elevada concentração pluviométrica a saturação do solo ocorre de forma rápida, favorecendo o escoamento superficial. Observou-se nas falésias desta área a ocorrência elevada de níveis de ferricretes, distribuídos em vários patamares das mesmas, o que pode gerar obstáculos à infiltração da água, ocasionando fluxos subsuperficiais que podem originar desestabilizações, resultando no aparecimento de ravinas e/ou voçorocas.

5 Fig. 2. À esquerda, mapa com a localização das erosões lineares de grande porte identificadas na área de estudo e principais cursos d água. À direita, fotografia aérea do Canyon de Coqueirinho, localizado na Praia de Coqueirinhos: maior erosão existente na área. (Foto: Marcos Paulo, 2001) Fig. 3. Mapa Hipsométrico (esquerda) e Mapa Clinográfico (direita) da APA Tambaba. A rede de drenagem da APA Tambaba sofre forte controle estrutural. As fraturas desencadeadas por movimentos tectônicos foram aproveitadas por processos lineares de dissecação, com o aprofundamento dos talvegues. Observa-se ainda, um padrão assimétrico na rede drenagem da área, principalmente nos rios de maior ordem, como pode ser observado na Fig. 2, na Bacia Hidrográfica do Rio Garaú. Ocorre na área um intenso trabalho de dissecação fluvial, chegando a exumar formações basais do

6 Grupo Paraíba (Cretáceo) e formando vastos anfiteatros, alguns bastante amplos e outros mais encaixados. Percebe-se, através do mapa hipsométrico (Fig. 3), certo alinhamento na dissecação, provocado por erosão regressiva e linear, aproveitando nitidamente linhas de fraturas. Percebe-se também que algumas voçorocas encontradas nas falésias de Coqueirinhos são paralelas ao padrão de drenagem local (Fig. 2). A ocorrência de ravinas e voçorocas tem se dado em áreas com declividades acentuadas, superiores a 30%, fato verificado com o cruzamento do Mapa Clinográfico (Fig. 3) com o mapa de localização das voçorocas. Vários desses elementos citados, como distintos patamares topográficos nos Tabuleiros, o forte entalhamento dos vales, o afloramento de formações geológicas sotapostas, assimetria na rede de drenagem, sugerem a ocorrência de processos tectônicos pós-barreiras. Além destas indicações, têm-se, em alguns trechos das praias da área de estudo, afloramentos da Formação Maria Farinha, que em alguns pontos apresenta-se exposta em cerca de 6 metros acima do nível de base atual, corroborando também com a hipótese de ocorrência de neotectonismo na área. 6. Considerações finais Constatou-se, no decorrer deste estudo, que as componentes ambientais (geologia, geomorfologia, solos, clima e vegetação) impuseram maior influência na esculturação do relevo local, visto que, quando as intervenções humanas na área eram irrelevantes, as feições erosivas já haviam sido deflagradas. O gradativo aumento da intervenção humana na área pode ter atuado na dinamização dos processos e não no desencadeamento das feições, pois em fotografias aéreas do final da década de 60, já se verifica a ocorrência destas feições erosivas não constatando, porém, indícios de forte intervenção humana capaz de deflagrálas. 7. Referências FRANÇOLIN, J.B.L.; SZATMARI, P Mecanismo de rifteamento da porção oriental da margem norte brasileira. Revista Brasileira de Geociências, v. 17, n. 2, p , jun LEPSCH, I.F Solos: formação e conservação. São Paulo: Melhoramentos. 157p. MABESSONE, J.M. & SILVA, J.C Revisão geológica da faixa sedimentar costeira de Pernambuco, Paraíba e parte do Rio Grande do Norte Aspectos geomorfológicos. Estudos Geológicos, Série B. Recife. Vol. 10. p PARAÍBA. Secretaria da Educação/UFPB Atlas Geográfico da Paraíba. João Pessoa: Grafset. PARAÍBA. SEMARH Mapa pedológico do Estado da Paraíba. João Pessoa. (Escala: 1: ).