AVALIAÇÃO DE SAÚDE AMBIENTAL: DUQUE DE CAXIAS - ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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- Miguel Almeida Castilhos
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1 AVALIAÇÃO DE SAÚDE AMBIENTAL: DUQUE DE CAXIAS - ESTADO DO RIO DE JANEIRO Ogenis Magno Brilhante Professor Doutor do DSSA / ENSP / FIOCRUZ desde Pósdoutorado em Gestão de Resíduos e Saúde Ambiental (Holanda, 1995). Ph.D. em Ciência Ambiental (França, 1990). Pós graduado em Gestão Ambiental (França, 1986) e Engenharia Sanitária (IHE, Holanda, 1983). Graduado em Engenharia civil (1979). Professor titular das disciplinas: tratamento de água, gestão da poluição ambiental e controle e gestão de impacto e risco na saúde ambiental. Consultor e pesquisador na área de gestão e educação ambiental. Especialista em metais e pesticidas. Endereço: Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental / ENSP - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. - Rua Leopoldo Bulhões, Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - CEP: Brasil - Tel: (021) ramal Fax: (021) e- mail: ogenis@ensp.fiocruz.br RESUMO Até bem pouco tempo quando se falava em saúde entendia-se saúde do homem, hoje reconhecemos que se o meio ambiente adoece o homem também é afetado. Assim é mais lógico e efetivo procurarmos desenvolver procedimentos que relacione os efeitos na saúde do homem à dependência dos fatores sócios/econômicos e ambientais e ou ainda que estudemos conjuntamente os efeitos na saúde do homem e dos ecossistemas (Saúde Ambiental). Uma fábrica para a produção do pesticida hexaclorociclohexano (HCH) grau técnico (mistura dos isômeros α, β, γ e δ), pertencente ao antigo Instituto de Malariologia, então Ministério da Educação e Cultura, localizada na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, RJ, Brasil, foi desativada em Parte da sua produção e de seus rejeitos, em muitas toneladas desta mistura, foram abandonadas no local. O produto foi usado na época para matar baratas, piolhos e na luta contra o mosquito responsável pela transmissão da malária. O diagnóstico ambiental realizado no sítio mostrou que as maiores concentrações, milhares de ppb dos isômeros de HCH foram encontradas em amostras de solo e pasto coletadas em um raio de 100m a partir das ruínas da antiga fábrica. Amostras de sangue de 31 adultos e aproximadamente 25 % das crianças vivendo em um orfanato localizado a 1,5 km das ruínas da fabrica acusaram a presença dos isômeros α, γ e β. Em 1997 o Ministério da Saúde autorizou a colocação de cal na área foco para remediar o problema. Resultados recentes indicam que este tratamento além de não resolver o problema acelerou a produção de produtos oriundos da degradação do HCH e de outros pesticidas também presentes na área, 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2758
2 Um estudo de avaliação da saúde ambiental, atualmente sendo executado na área contaminada e no seu entorno, objetiva determinar os níveis de perigo que o sítio oferece, as vias de exposição e estimar a população receptora. PALAVRAS-CHAVE: Gestão, Saúde Ambiental, Avaliação, Risco, Pesticidas. INTRODUÇÃO Até bem pouco tempo quando se falava em saúde entendia-se saúde do homem, hoje reconhecemos que se o meio ambiente adoece o homem também é afetado. Assim é mais lógico e efetivo procurarmos desenvolver procedimentos que relacione os efeitos na saúde do homem à dependência dos fatores sócios/econômicos e ambientais e ou ainda que estudemos conjuntamente os efeitos na saúde do homem e dos ecossistemas (Saúde Ambiental). Em 1989, após uma denúncia de comercialização ilegal de um pesticida conhecido como pó de broca, nome popular do hexaclorociclohexano (HCH), em uma feira livre, no Município de Duque de Caxias, RJ, descobriu-se que o mesmo provinha de uma área denominada Cidade dos Meninos, localizada no citado Município. Nessa localidade existia uma fábrica de HCH técnico constituído de uma mistura contendo vários isômeros,: alfa, beta, gama, delta, etc em diferentes percentagens e cujo isômero gama (Lindano) era o único que possuía propriedades inseticidas. Esta fábrica pertencia ao Instituto de Malariologia e funcionou de 1950 a 1955, sendo então desativada. Com essa desativação, parte de sua produção e rejeitos foram abandonados no local, sem nenhuma proteção, sendo dispersa e posteriormente utilizada por seus habitantes e invasores. Moradores da área relatam que a estrada que atravessa a região foi aterrada com rejeito de HCH ali abandonado. Até a presente data o sítio em questão tem sido alvo de vários estudos de diferentes grupos de instituições privadas e públicas, sem conexão entre eles. Cada grupo de pesquisa tem estudado segmentos ambientais ou sociais que interessam a suas instituições sem realmente prover uma visão integrada do conjunto do problema. Procurando avaliar o problema da Cidade dos Meninos de uma forma integrada e adotando uma metodologia científica que pudesse integrar esses estudos, tivemos aprovado pela FIOCRUZ em 1996 um projeto de pesquisa que visa fazer um estudo de avaliação de risco em saúde ambiental nesta região em questão. ao mesmo tempo desenvolver um protótipo de manual de avaliação em saúde ambiental para sítios contaminados que possa contribuir para uma melhoria da gestão ambiental no país. O manual de avaliação de risco em saúde pela exposição a resíduos perigosos ( ATSDR, 1992) é utilizado como base metodológica. A situação da saúde dos ecossistemas do sítio também será estudada. Este estudo tem três objetivos: primeiro introduzir e divulgar, mesmo de forma sucinta, os conceitos e o escopo deste importante instrumento de gestão ambiental que é um estudo de avaliação de risco em saúde ambiental para sítio contaminado; segundo, apresentar os resultados da fase 1 do projeto e terceiro, relatar as medidas tomadas pelo poder público até a presente data e os próximos estudos a serem realizados. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2759
3 Bases conceituais para entender e avaliar saúde ambiental Nas nossas atividades diárias, cada um de nós entra em contatos com poluentes, seja respirando, bebendo água, consumindo alimentos, tocando solos e poeiras. Este contato entre pessoas e poluente, chamado exposição, requer a ocorrência simultânea de dois eventos: a presença de um poluente em um compartimento ambiental, (por exemplo água, ar, solo, alimento) e o contato entre a pessoa e um ou mais de um destes compartimentos. Exposição ambiental é definida então como o contato entre a fronteira externa do corpo humano (por exemplo, pele, nariz, e garganta) e um poluente ou uma mistura de poluentes. Ela é quantificada através do calculo da concentração do poluente e do tempo de contato. Quatro características descrevem a exposição: 1 -Rota- ocorre a exposição através da inalação, ou absorção dérmica?; 2- Magnitude- qual é a concentração do poluente? (por exemplo, ppm, ppb, etc.); 3 -Duração- qual é a duração da exposição? (por exemplo, minutos, horas, dias, toda a vida) e 4 -Freqüência- com que freqüência a exposição ocorre? (por exemplo, diariamente, semanalmente, sanzonalmente, etc). A exposição é um elemento chave na cadeia de eventos que leva ao aparecimento de efeitos na saúde Esta série de eventos é mostrada na figura 1, e serve como uma base conceitual para o entendimento e avaliação da saúde ambiental (Sexton et al 1992). Ações tomadas pela sociedade para proteger seus membros de conseqüências prejudiciais da poluição são estabelecidas ou postuladas levando em conta as relações das fontes de poluição com a exposição humana e os efeitos adversos na saúde. A estimativa do risco à saúde associado com poluentes ambientais é composto de duas atividades primárias: 1 - avaliação da exposição e 2 - avaliação dos efeitos. Durante a avaliação da exposição, fase inicial da cadeia de eventos mostrada na figura 1, avaliamse: as fontes de emissões, as concentrações nos diversos compartimentos ambientais, os níveis de exposição, e a dose. O objetivo maior nesta fase é estimar o(s) nível(s) e o número de pessoas expostas. Adicionalmente, se determinam as contribuições relativas de todas as fontes importantes e as rotas de exposição associadas a dose alvo. A avaliação dos efeitos à saúde, última fase da cadeia de eventos da figura 1, inclui a avaliação da exposição, da dose, e dos efeitos adversos. Os objetivos são dois: 1 - determinação dos perigos intrínsecos à saúde associados com poluentes, incluído efeitos cancerígenos e não cancerígenos; e 2- quantificação da relação entre a dose alvo ou exposição e efeitos à saúde (por exemplo, dose-resposta) em populações humanas. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2760
4 Figura 1 - Conceitos básicos para entendimento e avaliação da saúde ambiental. Objetivos da Avaliação da Exposição Fonte(s) de Concentração Exposição Dose Efeito(s) emissão(s) ambiental Humana/animal/ Interna na saúde vegetal Tipo de poluente Ar Rotas Absorvida Cancerígeno Quantidade lançada Água Magnitude Alvo N.Cancerígeno Localização geográfica Solo Duração Biomar- Doenças Alimento Freqüência cadores Sintomas Fonte (Sexton et al, 1992) Objetivos da Avaliação de Efeitos na Saúde A sobreposição entre avaliação da exposição, fase 1 e avaliação dos efeitos, fase 2, mostrada na figura 1, reflete a importância da informação sobre exposição e sobre a dose para ambas as atividades. A determinação da exposição, um componente crítico dos estudos de epidemiologia, é necessário para se examinar associações entre exposições ambientais e as conseqüências potenciais à saúde. Medições de dose interna são cruciais para se relacionar exposição com dose (isto é, farmacoquinética- o que o corpo faz com o poluente) e para relacionar dose com efeitos (isto é, farmacodinâmica- o que o poluente faz com o corpo). Escopo de um estudo de avaliação de saúde ambiental (ASA) Uma avaliação de saúde ambiental usa tanto informações quantitativas como qualitativas enfocando-se as perspectivas toxicológicas e de saúde pública e ambiental associadas com a exposição no sítio. Uma avaliação de saúde ambiental inclui os passos mostrados na figura o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2761
5 Figura 2 - Processo de avaliação de saúde (ASA). (ATSDR, 1992). Avaliação da Informação do Sítio Resposta às Preocupações da Comunidade com sua Saúde Determinação dos Contaminantes de Interesse Identificação e Avaliação das Rotas de Exposição Identificação e Avaliação das Implicações para à Saúde Pública Conclusões e Recomendações Caracterização do sítio A Cidade dos Meninos se localiza geograficamente no 4 o Distrito do Município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, tendo as seguintes coordenadas: 22 o S e 43 o O. A área de estudo atual inclui também os bairros do Amapá, Pilar e Figueiras. Ela está situada em uma bacia hidrográfica secundária, estando enquadrada geograficamente entre os Rios Capivari, Iguaçu e Canal do Pilar. Grande parte da área encontra-se em um campo inundável de várzea, com ocorrência sazonal de acumulação de água. Análises físicas e químicas realizadas com amostras locais de solos obtidas a partir de perfis verticais da região estudada, mostraram que o mesmo é dominado por sedimentos de baixada, aluvionais, onde ocorrem classes de solos tipo Cambissolo, Plintic, Gley Húmico, Podzólicos Vermelho-Amarelo e Planossolos. Todos os bairros estudados pertencem ao município de Duque de Caxias. A Cidade dos Meninos, possui de acordo com o censo demográfico de 1991, 399 casas, das quais 258 abastecidas por água da CEDAE, sendo o restante feito por poços, nascentes ou outras formas; 282 residências tem instalação sanitária, 227 tem o lixo coletado indiretamente. A população total ainda de acordo com o IBGE é de 1403 pessoas, sendo 732 homens e 671 mulheres. A renda média nominal dos chefes de família é de 2,5 salários mínimos. A pecuária é a mais importante atividade econômica. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2762
6 Desenho metodológico: O projeto em execução tem as seguintes fases: TABELA 1 - Fases do projeto de Avaliação da Saúde Ambiental na Cidade dos Meninos. Fase 1: Descrição do sítio Coleta de informações: geologia, localização das residências, geografia política, informação sobre produtos/emissões perigosas, descrição qualitativa da ecologia do sitio; definição dos pontos de inferência ecológicos (estabelecer a característica futura do sítio); Fase 2: Historia do sítio Coleta de dados sobre o início do problema, descrição da ocorrência dos eventos significativos ocorridos no sitio, das medidas anteriores tomadas para remediar o problema e de barreiras físicas que possam interferir no transporte dos contaminantes; Fase 3: Preocupações da comunidade com relação à sua saúde Coleta de informações sobre os registros de queixas da população local sobre saúde e meio ambiente relacionado com o sítio. Realização de reuniões com a comunidade; Fase 4: Coleta de dados sobre os efeitos na saúde da comunidade Pesquisar os registros e estudos sobre à saúde da comunidade, que por ventura existam, em órgãos públicos e privados. Aplicação de um questionário. Levantamento de dados da população potencialmente afetada e potencialmente sensível; Fase 5: Uso de solo e dos recursos naturais Levantamento e descrição das atividades existentes no sitio: N o de pessoas por atividade, mapeamento da localização e do uso de poços e mananciais hídricos, levantamento de atividades agrícolas, pesca, caça, descrição dos recursos ecológicos e do potencial do sítio; Fase 6: Informação sobre a contaminação ambiental Identificação dos produtos químicos com seus descritivos. Estudo sobre os fenômenos mecânicos, meteorológicos e outros que possam afetar o transporte dos contaminantes. Determinação da concentração dos contaminantes nos diferentes compartimentos ambientais (água, solo, ar, biota), determinar a natureza e a extensão do dano ecológico; Fase 7 Identificação das rotas ambientais de exposição Identificar os elementos de cada rota de exposição: fonte de contaminação, compartimentos e mecanismos de transporte, ponto de exposição, via de exposição e população receptora. Estabelecer as relações entre contaminantes e efeitos nos ecossistemas; Fase 8: Analisar as implicações para a saúde ambiental Avaliar o potencial de exposição humano que tem o sítio; determinar os riscos para os recursos ecológicos; associar o potencial de exposição humano do sitio com os efeitos que as condições existentes podem causar na saúde ambiental; Fase 9: Conclusão e recomendações Identificar o nível de perigo que o sitio representa para a saúde ambiental, responder às preocupações de saúde da comunidade; propor medidas que protejam a saúde ambiental. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2763
7 MATERIAIS E MÉTODOS Metodologia de coleta e análise Os dados sócio-econômicos, geográficos, de saúde e outros necessários a execução das fases 1, 2, 3, 4 e 5 foram e estão sendo obtidos junto aos órgãos nacionais, estaduais e municipais. Os dados ligados às preocupações da população com sua saúde, hábitos alimentares, atendimento médico e etc, foram obtidos através da aplicação de questionários nos setores censitários delimitados pelo IBGE. A metodologia empregada foi a utilizada pelo IBGE. Análises de dados de mortalidade por câncer estão sendo coletados junto a Secretaria Municipal de Saúde. Coleta e Preparação das Amostras ambientais da fase 1 Esta fase foi realizada somente na Cidade dos Meninos. As amostras superficiais de solo, identificadas como P1...P27, foram coletadas a uma profundidade média de 10 cm em distâncias variando de 15m a 2, 5 Km medidas a partir das ruínas da antiga fábrica. A zona circular (100 metros de raio) imediatamente próxima as ruínas da fábrica é chamada neste estudo de área foco. Os métodos de coletas e preparação seguiram as normas utilizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 1979)..As amostras de pasto, identificadas como V1...V5, constituídas de grama do tipo Pernambuco (Paspalum sp), foram coletadas também de acordo com as citadas normas. Análises de laboratório As análises de identificação e quantificação dos isômeros do HCH em solo, pastos e água foram realizadas segundo a metodologia descrita por Brilhante e Oliveira, RESULTADOS E DISCUSSÃO A maioria das informações relativas às fases 1 a 5 já foram coletadas. A informação sobre a contaminação ambiental (Fase 6) foi iniciada. Esta fase se divide em duas etapas. Na primeira, foi efetuado um diagnóstico da contaminação por HCH e alguns outros compostos como DDT e seus produtos de degradação somente na Cidade dos Meninos, a segunda fase, compreende a extensão das análises ambientais para o entorno do sítio. O estudo da fase 1 incluiu análises de amostras ambientais dentro da área foco (área de 100 m de raio em torno das ruínas da antiga fábrica) e de uma área de raio de 2,4 km medidos a partir das ruínas da antiga fábrica. Este estudo foi concluído em Nesta primeira fase verificou-se uma concentração muito importante de HCH no solo em torno das ruínas da antiga fábrica. Concentrações elevadas, encontradas nos pontos P26 e P27, situados sobre a estrada que corta o sítio, confirmariam as afirmações de moradores da região que material contaminado proveniente da área foco, teria sido utilizado na terraplanagem da estrada (figura 3). 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2764
8 Figura 3 - Concentração dos isômeros de HCH no solo versus distância das ruínas da antiga fábrica. Altos níveis de HCH residuais (da ordem de milhares de µg/kg), também foram observado em amostras de pastos do tipo grama pernambuco,(paspalum sp). Isto não foi surpreendente, uma vez que 4 estas amostra foram coletadas dentro da área foco das ruínas da fábrica ( dentro de um raio de 100 metros). A toxicidade aguda dos isômeros do HCH medida e avaliada em 03 espécies de peixes correntemente vendidos no mercado do Rio de Janeiro mostrou que o isômero gama (Lindano) é de longe o mais tóxico para as três espécies analisadas. (Oliveira Filho & Paumgartten, 1997). Concentrações de DDT e seus metabólitos, chumbo e arsênito de cobre também foram encontrados no sítio. Exames toxicológicos realizados em amostras de sangue de 31 adultos (17 do sexo feminino com idades entre 12 e 59 anos e 14 do sexo masculino com idades entre 5 e 62 anos), morando dentro da área foco apresentaram concentrações dos isômeros alfa e beta variando entre 0,16 µg/l a 15,67 µg/l e de 1,05 a 207,3 µg/l respectivamente. Braga, 1995). Em 1996 o Ministério da Saúde autorizou a demolição e remoção dos escombros da antiga fábrica e a colocação de cal (CaO) em toda a área foco. Análises preliminares realizadas após a adição de cal ao solo da área foco (Bastos et al, 1997) mostram que as concentrações dos isômeros α, β, γ e δ continuam da mesma ordem de grandeza que antes da colocação de cal, porém agora mais uniformemente distribuída dentro da área foco. Elas mostram também a presença de DDT e Hexaclorobenzeno no sítio e parece indicar que a adição de cal pode ter acelerado a produção de metabólitos do DDT e compostos oriundos da degradação do HCH, como os triclorofenóis. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2765
9 Resultados parciais dos questionários aplicados nos bairros do Pilar e Cidade dos Meninos sobre as preocupações da população com sua saúde e dos hábitos alimentares mostraram que a maioria da população carente procura o posto de saúde do Pilar, bairro vizinho e em segundo lugar o Posto de saúde do Lote 15 de Belfort Roxo. Grande parte da população associa sintomas de dor de cabeça, irritação nos olhos e na pele, falta de ar, fraqueza e dor abdominal com a presença do HCH. Três casos de neoplasma em paciente jovens que habitavam o local foram relatados. Com relação aos hábitos alimentares e consumo de água, os dois bairros apresentaram diferenças importantes. 23,8% das pessoas entrevistadas no Pilar afirmaram consumir água de poço, enquanto na Cidade dos Meninos este percentual cai para 4, 8%. Quanto ao consumo de alimentos cultivados no local, na Cidade dos Meninos 17,4% cultivam hortaliças para consumo próprio e 82,6% plantam fruteiras. No Pilar os percentuais são menores, respectivamente, 5,8% e 52,9% (tabela II). A criação de gado de corte e leite é muito importante na Cidade dos Meninos. Tabela II - Consumo de Água/Alimentos. CIDADE DOS MENINOS CEDAE POÇO CRIA Ñ CRIA PROD. Ñ PROD. CULTIVA Ñ CULTIV PLANT Ñ PLANT ÁGUA 95,2 4,8 ANIMAL 36,4 63,6 LEITE 4,3 95,7 HORTA 17,4 82,6 FRUTA 82,6 17,4 PILAR CEDAE POÇO CRIA Ñ CRIA PROD. Ñ PROD. CULTIVA Ñ CULTIV PLANT Ñ PLANT ÁGUA 76,2 23,8 ANIMAL 9,4 90,6 LEITE 1,2 98,8 HORTA 5,8 94,2 FRUTA 52,9 47,1 Resultados em % Sobre as questões relacionadas a contaminação na Cidade dos Meninos, 67,8% das pessoas entrevistadas responderam que sabem do caso do pó de broca, porém 32,2% afirmaram que tal problema não traz nenhum problema em sua vida e, quanto ao estado de saúde da família, 75,4% das pessoas entrevistadas responderam que o estado da família é bom. CONCLUSÕES O diagnóstico ambiental da Cidade dos Meninos (fase 1) mostrou que embora a poluição do HCH tenha se espalhado por uma grande extensão, três micro-áreas distintas podem ser identificadas: a área constituída pelos arredores das ruínas da antiga fábrica, com um raio de 100 m, a estrada que atravessa a região de estudo e a área restante. A contaminação do lençol freático pode representar risco para a população que consome água de poços. As altas concentrações de HCH encontradas nos pastos evidenciam um risco considerável de exposição humana via cadeia alimentar. A distância das ruínas parece ser um importante fator na determinação dos níveis dos isômeros de HCH no sangue humano e de possíveis implicações para a saúde ambiental. Ações remediadoras para esta área foram tomadas pelo Ministério da Saúde com o intuito de descontaminação do foco principal - local de instalação da antiga fábrica. Os escombros foram removidos do local e cal foi adicionado ao solo contaminado objetivando a desidrocloração do 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2766
10 composto. O abrigo que recebia crianças e adolescentes carentes foi desativado e o governo estadual tem um plano de construir um conjunto habitacional popular no local. As fases até agora executadas mostraram a necessidade de se estender a avaliação de saúde para o entorno da Cidade dos Meninos. Assim, foi aplicado questionários nos bairros do Pilar, Amapá e Filgueiras cujos dados estão em fase de processamento. A escolha destes bairros se deveu a direção dos ventos dominantes. Os resultados dos questionários fornecerão indicações sobre os pontos prováveis de exposição, onde amostras serão coletadas e análises de HCH e metais serão realizadas. Ao mesmo tempo está se coletando junto a Secretaria Municipal de Saúde, dados de mortalidade por câncer em todos os bairros da área de estudo, visando responder a uma das preocupações da comunidade. A última etapa do projeto envolverá a identificação, avaliação das rotas ambientais de contaminação e determinação das implicações para a saúde ambiental do sítio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ATSDR.Evaluación de Riesgos en salud por la Exposicion a Residuos Peligrosos. Manual of the Agency for Toxic Substances and Diseases Registry. Atlanta, USA SEXTON, K.; SELEVAN, S. G.; WAGENER, D.K.; LYBARGER, J. A.,. Estimating Human Exposure to Environmental Pollutants: Availability and Utility of Existing Databases. Archives of environmental Health, vol 47, N.6 pp EMBRAPA. Manual de métodos de coletas e análises do solo. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS), Rio de Janeiro Brilhante, O.M., Oliveira, R.M.) Environmental Contamination by HCH in Cidade dos Meninos, Rio de Janeiro. International Journal of Environmental Health Research. Vol 6, Issue 1. Glasgow, UK Oliveira, E.C.; Paumgartten, F. Comparative study on the acute toxicities of alfa, beta, gama and delta isomers of hexachlorocyclohexane to freshwater fishes. Bull. Environ. Contam. Toxicol, 59, New Yourk, USA Braga, A.M. C. B. Contaminação ambiental por hexaclorohexanos em escolares na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, RJ. Dissertação de mestrado apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ. Rio de Janeiro Bastos, L. H. P.; Dias, A. E.X. O.; OLIVEIRA, R. M. Hexaclorocyclohexane (HCH) Case Study: Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, RJ,. Brazil. International Workshop on Organic Micropollutants in the Environment. Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ. Rio de Janeiro o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2767
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