Os interesses da ação cooperada e não cooperada na economia do artesanato.
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- Madalena Imperial Carvalho
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1 Os interesses da ação cooperada e não cooperada na economia do artesanato. Luciany Fusco Sereno** Introdução O trabalho tem por objetivo apresentar um estudo de caso realizado na cidade de Barreirinhas-MA junto ao grupo de artesãs associadas e não associadas na Cooperativa das Artesãs dos Lençóis Maranhense (Artecoop). O objetivo específico do trabalho se centraliza nas seguintes questões: Realizar uma investigação sociológica dos interesses (ideais e/ou materiais) e das motivações das ações socioeconômicas dos artesãos quando atuam de forma cooperada e não cooperada na economia do artesanato, ou seja, os interesses que os artesãos perseguem fazendo parte de associações e cooperativas de trabalho e de produção, e quais os interesses de atuar de forma não cooperada. Investigando ainda quais os principais obstáculos que este tipo de ação enfrenta. Na economia do artesanato predomina grande informalidade de seus trabalhadores. Além de muitas situações de isolamento e desunião. Um dos principais eixos articuladores das políticas governamentais voltadas para este setor da economia é a organização destes trabalhadores e o estimulo para que atuem de forma associada e cooperada. Trabalhos pioneiros sobre o artesanato na década de 1980 já apontavam a importância das associações e cooperativas na economia do artesanato. Contudo, dados de pesquisa empírica apontam que uma parcela muito pequena os artesãos atua de forma associada ou cooperada. Partimos de uma reflexão sobre interesses e motivações da ação cooperada que esta na base da ação e da organização cooperativa. O trabalho traz reflexões sobre a ação *Trabalho a ser apresentado no XV Encontro de Ciências Sociais do Norte e do Nordeste - CISO **Acadêmica do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
2 cooperada enquanto uma ação social econômica que se encontra na base da ação e da organização cooperativa. Por que os atores decidem cooperar em vez de agir de forma não cooperada? Quais as motivações e os obstáculos para o desenvolvimento de uma ação social cooperada na forma de cooperativa? E por fim como se constrói socialmente o interesse dos artesãos sem participarem de cooperativas? São importante questão para pesquisa. A investigação tem caráter teórico-empírico. Optou-se pelo estudo de caso com trabalho de campo. Com revisão crítica da literatura e atividades de pesquisa documental e exploratória. O estudo teórico se centraliza no subcampo da sociologia do trabalho e da sociologia da vida econômica enfocando os seguintes temas e conceitos: a noção de ação (social) econômica e de interesses do ator social (artesão); a cooperativa enquanto organização social e econômica; e a especificidade da cooperativa de trabalho e de produção na realidade da economia do artesanato. Resultados e Discussão A sociologia em Weber (1991) pode ser utilizada para analisar fenômenos socioeconômicos e com isso inserir uma dimensão social numa análise voltada para os interesses, apresentando os conceitos básicos da sociologia econômica. Há dois tipos de ação social que serão de grande importância para análise do interesse da ação cooperada e não cooperada na economia do artesanato, a ação racional com relação a valores e a ação racional com elação a fins. Weber (1991) define a ação racional com relação a valores movidos por interesses ideias; o sentido da ação não está no resultado que a transcende, mas sim na própria ação em sua peculiaridade. E a ação racional com relação a fins (instrumentalmente racional), movida por interesses materiais, condições de meios para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, o indivíduo não age de forma emocional nem afetiva, uma ação puramente calculista. Weber (1991) procura assim combinar uma análise centrada nos interesses com outra que leve em conta o comportamento social. Para o autor a teoria econômica analisa situações em que o agente é movido principalmente pelos interesses materiais e tem
3 utilidade como objeto, mas não leva em conta o comportamento de outros atores (uma ação estritamente econômica). A ação cooperada pode se orientar tanto por interesses econômicos individuais quanto por interesses sociais e ideais. A partir das contribuições de Swedberg (2005), define interesses ideais com a propriedade coletiva e a eliminação do lucro capitalista; solidariedade; cooperação; socialismos; participação; autonomia e democracia. Define interesses materiais na sustentação econômica e financeira; competitividade e empreendedorismo. Swedberg (2005) ressalta que a sociologia considera tanto a ação movida pelos interesses ideais quanto por interesses materiais que também é orientada pelo comportamento dos outros (ação social). A sociologia econômica enfoca a ação social econômica, isto é, a ação movida principalmente por interesses materiais, que é voltada para a utilidade e não leva outros agentes em conta. Uma cooperativa enfrenta diversos desafios em um ambiente competitivo, um dos principais desafios é quando os associados entendem uma cooperativa exclusivamente na sua dimensão ou relevância econômica, cooperar pode ser somente um meio para atender fins materiais. Portanto na investigação ficamos atentos para os diferentes interesses ideais e materiais no ato cooperativo. Em que medida o trabalhador associado ou cooperado persegue interesses ideais e/ou materiais quando participa da cooperativa? Na cidade de Barreirinhas o artesanato é uma atividade econômica de grande importância. Vários trabalhadores se dedicam a atividade artesanal na região, uma atividade que ainda enfrenta vários problemas das condições de vida e trabalho, como precariedade de espaço e de instrumentos para o trabalho. Em sua formação a cooperativa contou com o apoio do SEBRAE e do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) entre outros apoios. Mesmo após a formação da cooperativa as artesãs continuam trabalhando em domicilio e imersas nas relações informais e precárias presentes na economia do artesanato local. A criação efetiva da cooperativa aconteceu em 2006, na sua formação contava-se 98 artesãs, hoje a cooperativa é composta por 26 artesãs. A perda de um número considerável de artesãs se deve às dificuldades que a cooperativa enfrentou principalmente as dificuldades de gestão da comercialização dos produtos. Desde então
4 parte das artesãs cooperadas não tiveram mais estímulos para atuarem de forma cooperada provocando a saída de várias artesãs da Artecoop por problemas de gestão interna. Indícios de pesquisa apontam que, o interesse maior em atuar na cooperativa é a divulgação do produto em outros mercados, a valorização do produto com a obtenção de maiores ganhos em um empreendimento associativo e a facilidade para terem acesso a financiamentos e outros apoios institucionais. Indícios de pesquisa também apontam que a ação cooperada traz benefícios como a maior qualificação e profissionalização da atividade. Mas a ação cooperada também enfrenta obstáculos e algumas desvantagens apontadas pelas artesãs, devido a problemas de gestão da cooperativa e de condições de trabalho: como demora do pagamento do produto vendido, a falta de um espaço (oficina) para as artesãs se reunirem e trabalharem de forma cooperada, instrumentos para o acabamento do produto e um lugar para venda do produto de propriedade da cooperativa (a loja onde se comercializa os produtos artesanais é alugada). Indícios de pesquisa apontaram que, a grande maioria das artesãs atua de forma não cooperada na região devido as suas condições socioeconômicas precárias. Estas condições trazem a necessidade de vender seus produtos para comerciantes atravessadores a fim de obter o pagamento imediato, mesmo que o produto seja desvalorizado, ou seja, sendo vendido abaixo do preço de custo (custo do trabalho e da matéria-prima) em uma forma de comércio não justo. Percebe-se nas entrevistas realizadas que as artesãs estão ligadas ao artesanato pelo seu valor econômico e simbólico, expresso na forma de gostar de trabalhar naquilo que fazem a preocupação com a qualidade e acabamento das peças produzidas, o orgulho sobre o trabalho é percebido, esse gostar das peças é associado à herança, ao saber que é passado de geração a geração. Destaca-se a qualidade e a importância dos saberes tradicionais específicos dos quais as artesãs são portadoras estando em busca de um mercado que reconheça esse valor, e que ofereçam condições dignas de sobrevivência e que estimulem a produção da arte. Para as artesãs não é preciso somente divulgar o produto, mas também as características da comunidade produtora, as origens das formas, os significados que o artesanato tem para seus produtores como forma de lhe agregar valor.
5 Em nossa investigação do trabalho e da produção artesanal com base em estudo de caso no município de Barreirinhas (MA), percebemos práticas de cooperação no núcleo familiar e nas relações de vizinhança. Existem práticas cooperativas na produção artesanal que ocorrem predominantemente no ambiente doméstico (sistema de produção domiciliar), entre as artesãs e seus familiares (filha e marido principalmente), assim como no ambiente comunitário e de vizinhança (pequena oficina coletiva), entre as artesãs de povoado. As artesãs da Artecoop estão enraizadas nestas redes de produção locais e cooperam, sobretudo, na comercialização de seus produtos. Por se tratar de artesanato de tradição cultural e de expressão coletiva e individual a produção ainda é pouco reconhecida. O artesanato local é um setor que tem potencial de gerar desenvolvimento econômico e social para as comunidades produtoras. Os programas de apoio ao artesanato de Barreirinha não oferecem tanto suporte as artesãs nos diferentes momentos da produção produtiva. Há apoio na comercialização e divulgação do produto, mas ainda não são suficientes e no ato de produção as condições ainda são precárias. Faltam apoios na aquisição de equipamentos, adequação de espaço de trabalho, apoio à qualificação do produto e na formação de preços. As artesãs ainda estão na busca por formação de preços, por melhores condições de produção e comercialização e da defesa de um mercado justo para o produto artesanal. Considerações finais Em suma, a pesquisa aponta que a grande maioria das artesãs atua de forma não associadas na cooperativa devido as suas condições socioeconômicas precárias, mas não deixam de cooperar na comunidade com outras artesãs e na família, a cooperação existe em diferentes contextos. Estas condições trazem a necessidade das artesãs comercializarem seus produtos informalmente e de forma não cooperada com comerciantes locais ou de fora, conhecidos como intermediários ou atravessadores. Estes adquirem os produtos artesanais fornecidos pelas artesãs por preços subavaliados (comércio não justo). Os comerciantes atravessadores tiram vantagens da situação social das artesãs locais. A maioria delas não tem conhecimento do real valor de seu trabalho e de seu produto e vive em condições sociais e econômicas difíceis. Muitas têm necessidade de vender imediatamente seus produtos para adquirir produtos de primeira necessidade.
6 O caso da Artecoop suscita questões pertinentes aos dois tipos de cooperativas apresentados pelo sociólogo Jacob Carlos Lima (2004), quais sejam: a lógica da solidariedade, em que a cooperação surge não apenas como um meio para atingir fins econômicos, mas sim perseguindo valores e interesses ideais como cooperativismo e solidariedade; e a lógica empresarial, em que a cooperação é vista de forma instrumental como meio para atingir fins materiais ou fins econômicos e financeiros de forma competitiva. Para Lima (2004) o trabalho associado significa em grande medida uma opção frente ao desemprego, mais do que uma procura militante por autonomia ou democracia no trabalho. Em Weber (1991) o conhecimento nunca é separado do agente, em verdade, de uma combinação de afinidades ou tensões entre diversas esferas e sentido em que o agente transita (esferas política, econômica ou religiosa dentre outras) e se combinam antes de tudo a partir do conjunto de orientações que assumem os interesses materiais- que são realizações específicas das necessidades humanas perante um universo de luta. Poder e dominação. Weber afirma de forma muito clara que são os interesses materiais e ideais que orientam a ação dos homens e que não existe uma oposição entre verdade e ocultação e sim a seleção das ideias e das ênfases de significação pelos interesses.
7 Referência BOURDIEIU, Pierre. È possível um ato desinteressado? In: Razão Pratica. Sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, LIMA, Jacob C. O trabalho autogestionário em cooperativas de produção: o paradigma revisitado. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Anpocs, São Paulo, v. 19, n. 56, Out LIMA, Jacob C. Cooperativas de Trabalho. In: HESPANHA, Pedro (et al.) Dicionário internacional da outra economia. Coimbra, Portugal: Almedina, SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, SENNETT, Richard. O Artífice. Rio de Janeiro, RJ: Record, SWEDBERG, Richard. Max Weber e a ideia de sociologia econômica. RJ: Ed. Da UFRJ, WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: UnB, 1991.
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