Jurisdição e Competência
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1 CURSO Delegado de Polícia Civil do Estado do Pará Nº 07 DATA 31/08/2016 DISCIPLINA Direito Processual Penal PROFESSOR Rodrigo Bello MONITORA Marcela Macedo AULA 07 Jurisdição e Competência Jurisdição e Competência Jurisdição é um poder emanado do Estado para resolver eventuais conflitos. A primeira característica da jurisdição é a inércia. No sistema acusatório a jurisdição deve ser inerte, não podendo o juiz ajuizar demandas de ofício, como ocorreria no sistema inquisitório. A jurisdição una precisa de uma organização, distribuição organizada, sendo nesse aspecto que entra a competência, ou seja, uma forma que o Estado encontrou de organizar a jurisdição. Temos diversas competências, mas a que nos interessa é a competência criminal. O juiz ou Poder Judiciário tem a competência criminal. O Delegado de Polícia e o Ministério Público possuem atribuição. Observação: Quem possui atribuição para investigar um crime eleitoral, cuja competência é da justiça federal? Em regra será a polícia federal. Se caso não houver Delegado federal na localidade, a atribuição será da Polícia Civil. O local do crime não é um critério preponderante para a determinação da competência. O art. 6 do CP adotou a Teoria da Ubiquidade, que significa que o local do crime pode ser onde ocorreu os atos de execução ou o local da consumação do crime. Mas o CPP, no art. 70, adotou a Teoria do Resultado, definindo como local do crime o local da consumação. E o art. 63 da lei 9099/95 adotou a teoria da informalidade do JECRIM e determinou que o local do crime fosse o local da prática da conduta. Portanto, o CP adotou a Ubiquidade, o CPP adotou o Resultado e a Lei 9099/95 adotou a teoria da Informalidade gerando confusão. Ninguém sabe ao certo o que é o local do crime. Isso gera uma instabilidade para o aplicador do direito. Assim, conclui-se que o local do crime não pode ser um critério preponderante para determinar a competência.
2 A competência em razão do local é um critério de competência relativa, isto é, permite-se o deslocamento. O critério de competência esta definido no CPP, mas a CF trouxe outros critérios, como a prerrogativa de função e a natureza da infração. Havendo critérios constitucionais e critérios legais, prevalecem os constitucionais diante da supremacia. Exemplo: um Deputado Federal eleito pelo Amazonas. Tira férias. Vai passear no sul do Brasil. Na Serra Gaúcha se envolve em uma briga e é acusado de lesão corporal grave. Aonde o Deputado federal será julgado? O processo e julgamento ocorrerão no STF, pois o critério constitucional do foro privilegiado prevalece sobre o critério legal do local do crime. Concluindo, a competência processual penal esta dividida entre a competência definida na CF e a competência definida no CPP. Devemos dar preferência à competência definida na CF, pois a competência será constitucional criminal. Os crimes plurilocais são aqueles onde os atos de execução ocorrem em um lugar e a consumação ocorre em outro. Exemplo: vítima baleada em um local, mas falece em outro. Pelo art. 70 do CPP, o local da consumação seria o foro competente para apuração do delito. Entretanto, na maioria das vezes o local da execução contem as provas necessárias para a devida apuração. Sendo a competência em razão do local relativa, os tribunais permitem o processo e julgamento dos crimes plurilocais na localidade dos atos de execução, conferindo uma maleabilidade jurisprudencial da competência. Ademais, quando os efeitos preventivos da sentença penal ocorrem perante a sociedade que sofreu o delito, ou seja, onde ocorreram os atos de execução, a sensação de cumprimento das leis e de segurança publica se torna real e efetiva. 1. Análise do art. 69 do CPP Esse artigo foi elaborado em 1941, quando ainda não existia a CF, sendo necessário, portanto, constitucionalizá-lo, interpretando-o conforme a constituição. 1.1 Competência conforme o Local do Crime Art. 69, I e II, do CPP, trazem a competência em razão do local do crime ou do domicílio. É um critério infraconstitucional e relativo, permitindo o deslocamento. O inciso II é também um critério residual, visto que será aplicado apenas se não conhecido o local do crime. (art. 72 do CPP) 1.2 Competência em razão da Matéria O art. 69, III, do CPP dispõe sobre a natureza da infração, isto é, a competência em razão da matéria. Ocorre quando há a análise do crime ocorrido, com suas particularidades. Aqui não se preocupa com o autor ou com a vítima. É um critério de competência constitucional, ou seja, prevalece sobre a competência em razão do local. É uma competência absoluta, onde se evita o deslocamento, pois poderá existir uma regra mais especial que exigirá deslocar a competência.
3 Exemplos de competência material: Crime doloso contra a vida (consumados ou tentados). O Tribunal do Júri tem competência constitucional e pode julgar crimes conexos com os dolosos contra a vida. Crimes de Menor Potencial Ofensivo (IMPO) serão julgados pelo JECRIM, que tem competência constitucional, conforme art. 98, I, da CF e rito determinado pela Lei 9099/95. Crimes de competência da Justiça Federais. Conforme o art. 109 da CF, os crimes federais serão julgados pela justiça federal. Crimes eleitorais serão julgados pela Justiça Eleitoral, nos termos do art. 118 da CF. A competência em razão da matéria é geral, ou seja, aplica-se a todos, indistintamente. Exemplificando, qualquer pessoa pode cometer crime eleitoral e, se cometer, será processada e julgada pela Justiça Federal. 1.3 Distribuição Art. 69, IV, do CPP. É um critério de sorteio. O foro competente será determinado pela distribuição entre as varas igualmente competentes. 1.4 Continência e Conexão Art. 69, V, do CPP. Havendo concurso de pessoas e/ou de crimes, o objetivo principal do processo penal é a reunião processual. Mas essa regra tem exceções. Essa reunião ocorre para se buscar a segurança jurídica, a unidade de julgamento e a economia processual. 1.5 Prevenção Art. 69, VI, do CPP O primeiro juízo que toma conhecimento da causa fica prevento para o desenrolar da ação. 1.6 Prerrogativa de Função Art. 69, VII, do CPP. É um critério constitucional absoluto. É uma competência que evita o deslocamento. Trata-se de uma competência especial, pois é uma prerrogativa conferida apenas aos detentores de cargos públicos relevantes para a democracia. 2. Competência em razão da natureza O art. 69, III, do CPP. Competência em razão da matéria. É um critério de competência constitucional absoluta, onde se evita o deslocamento. Porém, poderá existir uma regra mais especial que exigirá deslocar a competência. Exemplo de competência material: 2.1 Crimes dolosos contra a vida (consumados ou tentados). Art. 5, XXXVIII, da CF e 406 do CPP. O Tribunal do Júri tem competência constitucional e pode julgar também os crimes conexos com os dolosos contra a vida. O Júri possui características
4 especificas como a plenitude de defesa, que consiste na possibilidade da defesa que extrapole os limites jurídicos; o sigilo das votações, diante da existência de sala especial para os jurados responder ao questionário feito pelo Juiz Presidente, mediante voto secreto. (havendo 4 votos semelhantes extingue-se a votação, mantendo o sigilo dos demais. A votação ocorre por maioria). Outra característica é a soberania dos veredictos, que impede o tribunal de segundo grau de reformar a decisão dos jurados. Assim, eventual recurso sobre o mérito da sentença do júri enseja novo julgamento por novos jurados, conforme art. 593 do CPP. E, por fim, tem-se a característica de julgar somente crimes dolosos contra a vida ou crimes conexos com este. 2.2 Crimes de Menor Potencial Ofensivo (IMPO): As IMPO serão julgadas pelo JECRIM, conforme art. 98, I, da CF, e rito determinado pela Lei 9099/95. Existe a possibilidade de uma IMPO ser julgada fora do JECRIM? Sim, nas hipóteses de concursos de crimes e outras. Exemplificando: a realização de crime de médio potencial ofensivo em concurso com IMPO, gera o julgamento de ambos na vara criminal. o cometimento de IMPO juntamente com um crime doloso contra a vida. Os dois delitos serão julgados pelo tribunal do júri, aplicando-se à IMPO as medidas despenalizadoras do art. 60, parágrafo único, da Lei 9099/95. presente a prerrogativa de função, o agente publico será julgado pelo foro especifico, mesmo quando cometida uma IMPO. Ex: quando um parlamentar, com foro no STF, comete uma IMPO, será julgado pelo STF. em casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, mesmo sendo uma IMPO, a infração será julgada pelo Juizado de Violência Doméstica e familiar contra a Mulher. quando a citação pessoal do réu em IMPO não é eficaz, o processo será encaminhado para a vara criminal para oportunizar a citação ficta. art. 77, 2 da Lei 9099/95: se a IMPO for muito complexa, será enviada para a vara criminal. Observação: é possível que o procedimento da Lei 9099/95 seja aplicado às infrações que não são consideradas IMPO, ou seja, delitos com pena máxima superior a 2 anos. A possibilidade ocorre para o Estatuto do Idoso (em crimes com pena de até 4 anos), dando celeridade ao trâmite processual. Mas aplica-se apenas a rapidez do procedimento, não se permitindo prestigiar o agente do crime com as beneficies despenalizadoras da Lei. Portanto, os crime contra idosos seguirão o rito dos juizados tão somente nos aspectos procedimentais. (ADI ) 2.3 Crimes de competência da Justiça Federal: Conforme o art. 109 da CF, os crimes federais serão julgados pela justiça federal.
5 O inciso IV do artigo dispõe sobre os crimes políticos; infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços e interesses da União; crimes contra Autarquia e Empresa Pública, excluindo a contravenção. Sobre cada disposição deste inciso pode-se comentar: Os crimes políticos Os crimes políticos são os aqueles em que o autor possui uma intenção política, atacando o regime de governo. (versão de Heleno Fragoso) Exemplo: o livro de Fernando Gabeira, onde estudantes sequestraram o embaixador Norte Americano para desmoralizar os militares e atacar os Estados Unidos, que financiavam o regime ditatorial na época. Nos dias de hoje temos poucos crimes políticos, pois a população se afastou da consciência política, em regra geral. Os crimes políticos para o STF são os crimes previstos na Lei de Segurança Nacional - Lei 7170/83. Os bens, serviços e interesses da União Federal. O art. 21, VII, da CF dispõe sobre emitir papel moeda. Ao atacar um serviço da união, a competência será da Justiça Federal. Porém, cuidado com a súmula 73 do STJ afirma que a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura o crime de estelionato da competência da justiça estadual. O art. 21, X, da CF determina que em casos de crime contra o serviço postal da União, a competência será da Justiça Federal (ex: crime patrimonial contra o carteiro, durante o serviço). O art. 22, XIV, da CF dispõe sobre a população indígena. A súmula 140 do STJ afirma que quando o índio for autor ou vítima de crime a competência será da justiça estadual, deslocando para a justiça federal somente quando o delito violar o interesse coletivo da população indígena (ex: um massacre de tribo indígena). Crimes contra Autarquia e Empresa Pública Crimes contra a Agência de Correios e Telégrafos. Há 3 tipos de agência, a de propriedade da União, a comunitária e a privada/particular. A competência da justiça federal apenas abrange as agências de correio da União e comunitária. A súmula 42 do STJ determina que delitos contra a Sociedade de Economia Mista não serão julgados pela Justiça Federal. E a súmula 122 do STJ dispõe que em caso de concurso de crimes entre crime federal e estadual, ambos serão julgados pela justiça federal. Contravenção A contravenção não será julgada pela justiça federal, salvo se ela for cometida por um detentor de foro privilegiado em âmbito federal. (ex: um juiz federal comete uma contravenção será julgado no TRF) O art. 109, V, da CF afirma que os crimes previstos em tratados ou convenções internacionais serão competência da Justiça Federal. Exemplo: pedofilia cometida pela internet.
6 O art. 109, V-A, da CF remete ao art. 109, 5 da CF prevendo as causas relativas a direitos humanos. Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o PGR para assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil, poderá suscitar perante o STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo, o incidente de deslocamento de competência (IDC), para a justiça federal. Esse deslocamento denomina-se federalização. (Exemplo: assassinato brutal de um promotor de justiça que foi assassinado enquanto investigava venda de terras ilegais, foi proposto o IDC, federalizando o caso.) Há críticas a essa federalização por desmerecer a justiça estadual e ferir o princípio do juiz natural. Esse IDC foi criado com a EC 45/04. O art. 109, VII, da CF traz os crimes contra a organização do trabalho. O crime de redução à condição análoga a escravo não configura hipótese de delito contra a organização do trabalho, mas possui competência da justiça federal, conforme decisão dos tribunais. Crimes a bordo de navio e aeronave. É necessário que seja navio de grande embarcação, capaz de adentrar em mares internacionais e estar potencialmente apto a deslocamento. Avião pode ser qualquer um, não havendo restrições. (O art. 109, IX, da CF) Pergunta de prova: Se o autor mata um policial federal será julgado pela justiça federal, no tribunal do júri federal? Se o agente realiza o crime pelo fato de a vítima ser policial federal, como motivo determinante, será competência do tribunal do júri federal. Porém, se o agente mata um policial federal por outros motivos configura competência estadual, do júri estadual. 3. Prerrogativa de Função: Art. 69, VII, do CPP. É um critério constitucional absoluto. É uma competência que evita o deslocamento. Trata-se de uma competência especial, pois é uma prerrogativa conferida apenas aos detentores de cargos públicos relevantes para a democracia. A garantia consiste no fato de um determinado agente de cargo público, previsto na CF, cometer um crime comum (não precisa estar relacionado com a carreira), sendo investigado/processado pelo respectivo foro privilegiado. Quais são os detentores de cargo publico que possuem foro privilegiado? Art. 29, X da CF: o foro privilegiado dos prefeitos municipais é o TJ do Estado onde localizado o município da prefeitura. Ex: se o individuo é prefeito em Cabo Frio/RJ e comete crime em Belo Horizonte/MG, será competente o TJ do RJ. (Cuidado com a súmula 702 do STF: se o prefeito cometer crime federal a competência será do TRF, se crime eleitoral a competência será do TRE.) E se o prefeito cometer um crime doloso contra a vida? Há um aparente conflito entre o TJ e o Tribunal do Júri. O critério de prerrogativa de função é especial, aplicando-se apenas a quem tem prerrogativa, já a competência do júri é geral. Portanto, prevalece a competência especial. A
7 súmula vinculante 45 do STF (antiga súm. 721 do STF) dispõe que será competência do júri quando o foro privilegiado estiver definido exclusivamente na Constituição Estadual (CE), ex: chefe de polícia civil com foro privilegiado na CE. O art. 96, III, da CF confere ao juiz e ao promotor de justiça estadual o foro privilegiado. Estes serão julgados pelo TJ Estadual respectivo. Art. 102 da CF prevê o foro privilegiado para os Deputados Federais, Senadores e Ministros de Estado perante o STF. Art. 105 da CF prevê que os Governadores e Desembargadores serão julgados no STJ. E, por fim, o art. 108 da CF dispõe que os juízes federais e Procuradores da República, que atuem na 1ª instância, serão julgados no TRF. A súmula 704 do STF diz que não viola o juiz natural, o devido processo legal e a ampla defesa a atração do coréu ao foro privilegiado de um dos denunciados. Ex: há um senador e um advogado, segundo a súmula os dois seriam julgados pelo STF em caso de concurso. Mas o advogado perderia o direito ao duplo grau de jurisdição ao ser julgado diretamente no STF. No Caso do Mensalão eram 38 acusados. 35 pessoas comuns e 3 pessoas com foro privilegiado. Pelo fato dos privilegiados, todos foram julgados pelo STF. No Caso Lava Jato a súmula não tem sido aplicada, cingindo os processos, ou seja, quem tem foro fica no foro privilegiado e quem não tem responde perante a 1ª instância. O art. 84, 1 e 2 do CPP foram declarados inconstitucionais em Em 2002 houve transição presidencial. O PR editou Lei acrescentando esses parágrafos, para manter o foro privilegiado aos ex-detentores de cargo público e aos crimes de improbidade administrativa. Mas essa regra foi declarada inconstitucional, pois se o agente perdeu o cargo, perde-se também o foro. Observação: Houve uma discussão para definir como marco para a perpetuação da competência do foro privilegiado o ato de recebimento da denúncia pelo STF. Ou seja, mesmo perdendo o cargo, permaneceria no STF. Mas a discussão continua e para a prova temos que perdido o cargo perde-se também o foro privilegiado. O Caso do Mensalão foi julgado pelo plenário do STF. Logo após houve uma mudança no regimento interno do STF, competindo às turmas o julgamento dos detentores do foro privilegiado, para reduzir o número de julgadores. Salvo no caso de Presidente da Câmara, do Senado e da Republica.
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