Chuva intensa em parte do Nordeste do Brasil em Março de 2014

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1 Chuva intensa em parte do Nordeste do Brasil em Março de 2014 Entre a noite do domingo (30/03) e manhã da segunda-feira (31/03) áreas de instabilidade se intensificaram sobre parte do Nordeste do Brasil provocando chuva forte e acumulado de chuva significativo, principalmente entre os Estados do PI, CE, RN e PB. Em algumas localidades destes Estados o volume de chuva passou dos 100 mm em apenas 3h, como foi o caso do município de Patos na Paraíba onde acumulou cerca de 121 mm neste curto período, segundo dados do INMET. Em Fortaleza-CE o teto de um Hospital desabou na madrugada da segunda-feira pela força da chuva. Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), foram registrados 124 mm de chuva na capital cearense na madrugada da segunda-feira. A Figura 1 mostra a sequência de imagens realçadas do satélite GOES13 para o período entre a noite do domingo (30/03) e manhã da segunda-feira (31/03) onde é possível notar a presença de nuvens com grande desenvolvimento vertical com temperatura de topo de nuvem chegando a atingir -80 C (tons de rosa e branco na imagem) indicando a formação de forte convecção com potencial para tempestade. Conforme se verifica na sequência das imagens de satélite, a atividade convectiva foi desintensificando ao longo da manhã da segunda-feira.

2 Figura 1 - Sequência de imagens realçadas do satélite GOES13 para o período das 2030 UTC do domingo (30/03) às 1030 UTC da segunda-feira (31/03). Análise Sinótica A Figura 2 mostra a carta sinótica de superfície das 06Z do dia 31/03, onde é possível notar que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) apresenta dois ramos tanto no Pacífico quanto no Atlântico. No Atlântico seu ramo mais a sul atua em torno de 03 S/04 S chegando a atingir o litoral norte do RN e extremo norte do CE. Este segundo ramo da ZCIT reforçou a instabilidade sobre parte do Nordeste do Brasil entre a PB e o MA, acarretando nos acumulados acima de 100 mm em pontos do CE e da PB, conforme citado anteriormente. Figura 2 - Carta sinótica de superfície elaborada pelo Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC-INPE, referente às 06Z do dia 31/03/14. Na Figura 3 observa-se a carta sinótica do nível de 850 hpa das 06Z do dia 31/03, onde é possível notar que o escoamento de leste por sobre o nordeste da Região Nordeste estava bastante intenso, refletindo a presença dos alísios com as

3 barbelas de vento penetrando pelo continente com vento em torno de 25 kt e advectando umidade oriunda do oceano para este setor do continente. Figura 3 Carta sinótica do nível de 850 hpa elaborada pelo Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC- INPE, referente às 06Z do dia 31/03/14. Através da Figura 4, referente ao nível de 500 hpa para o mesmo dia e hora que as anteriores, nota-se que, também neste nível, o fluxo sobre o nordeste do Nordeste estava de leste. Este fluxo de leste presente na camada média/baixa da troposfera indica a advecção de umidade presente em toda esta camada. Figura 4 - Carta sinótica do nível de 500 hpa elaborada pelo Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC- INPE, referente às 06Z do dia 31/03/14.

4 A Figura 5 traz a análise das 18Z do domingo (15h em horário local) da carta tropical, desenvolvida pelo grupo de previsão de tempo, que contém a água precipitável, o índice de instabilidade Lifted, Ômega e Vento Meridional. Em resposta a intensa convecção que atuava pelo norte do Nordeste do Brasil, o ômega observado, ou seja, movimento ascendente estava bastante intenso, com valor de até -5 entre o CE e a PB, quanto mais negativo ele for maior é o movimento vertical ascendente por sobre a área. O índice Lifted apresentava valor de -4 este índice também é representativo e indica mais instabilidade quanto mais negativo ele for. Além disso, é possível notar altos valores de água precipitável, área em tons de verde e de azul na figura, que indicam valores entre 45 e 60. Através destas informações, da tarde do domingo, o meteorologista podia notar o potencial de instabilidade em que se encontrava a área. Figura 5 Carta Tropical do modelo GFS das 18Z do domingo (30/03) contendo na área verde e azul sombreada a água precipitável, contorno preto Lifted, contorno vermelho omega em 500 hpa e contorno amarelo vento meridional. Em síntese, a forte instabilidade que atingiu parte do Nordeste do Brasil entre o domingo e a segunda-feira, foi provocada por um intenso sistema convectivo de mesoescala (SCM) que se formou sobre o interior da PB e do RN e que no final da noite de domingo já abrangia áreas da PB e sudoeste do CE. Este sistema, não configurou um complexo convectivo de mesoescala (CCM), pois seu período de vida, depois de obedecidos os critérios de formato, área e temperatura de topo nuvens, descritos na literatura, não durou o tempo mínimo de seis horas. Esta condição de tempo foi provocada pelo padrão descrito na camada média/baixa da troposfera que favorecia a forte convergência de umidade e massa para o setor nordeste da Região Nordeste e

5 intensificado, principalmente pelo segundo pulso da ZCIT mais a sul e que teve grande influência neste evento de chuva. Elaborado pela Meteorologista Naiane Araujo