Meio Ambiente: O Lúdico em Sala de Aula Gisélia Santana Ferreira Lima¹ Thaís Cortellini Abrahão²

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1 Meio Ambiente: O Lúdico em Sala de Aula Gisélia Santana Ferreira Lima¹ Thaís Cortellini Abrahão² ¹Especialista em Ciências Biológicas e Bióloga, professora das disciplinas de ciências e biologia. ²Mestre em Educação e Licenciada em Física, professora de física. ¹, ²Colégio Termomecanica Centro Educacional Fundação Salvador Arena, SBC-SP. Modalidade Relato de experiência. Resumo Compreender o meio ambiente em suas múltiplas relações consiste num desafio permanente do ensino das ciências, uma vez que esse tema transversal possibilita abordar aspectos ecológicos, mas também políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais. A interdisciplinaridade, no processo de ensino e aprendizagem do meio ambiente e suas inter-relações permite uma abordagem mais abrangente do tema. Para tanto, foi construída uma sequência didática interdisciplinar baseada na pedagogia de projetos, buscando garantir a democratização de informações e a motivação do estudo do tema de forma lúdica, almejando a participação dos educandos na defesa da qualidade ambiental e no exercício da cidadania. Tal proposta, que foi aplicada em quatro classes de 9º ano do EF2 integrando as disciplinas de ciências e física, proporcionou aos alunos a vivência de cinco etapas: 1ª) Escolha de um dos temas geradores propostos: Biodiversidade, Sustentabilidade, Ciclos Biogeoquímicos e Impactos Ambientais; 2ª) Pesquisa acerca de jogos didáticos possibilitando a compreensão das linguagens utilizadas e estratégias de produção; 3ª) Elaboração das regras para confecção do jogo visando à discussão das diferentes relações envolvidas no estudo do meio ambiente e práticas sustentáveis; 4ª) Produção das peças do jogo: tabuleiros, cartas e complementos; 5ª) Apresentação dos jogos didáticos em sala de aula, contribuindo para democratização do conhecimento a partir de novas práticas pedagógicas. Foram confeccionados dezoito jogos, expostos nas Bibliotecas Interativas do Colégio Termomecanica na Semana do Meio Ambiente de Este artigo busca compartilhar uma experiência pedagógica de sucesso e contribuir com a prática do ensino das ciências. Palavras-chave 1. Jogos didáticos; 2. Interdisciplinaridade; 3. Meio ambiente; 4. Projetos; 5. Educação ambiental.

2 Introdução, justificativa e referenciais teóricos O estudo do meio ambiente e de suas múltiplas relações consiste em um dos desafios permanentes da sala de aula, uma vez que esse tema transversal possibilita abordar diferentes aspectos, além dos ecológicos tais como: os aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais, entre outros. No entanto, compreender a integridade ecológica dos sistemas de sustentação à vida colabora na conscientização e na compreensão de problemas ambientais globais. De acordo com a Revista Nova Escola, as questões ambientais ganharam força na última década e é papel do professor levar a discussão dos temas envolvidos na construção de uma consciência ecológica e sustentável para a sala de aula. A educação ambiental deve ser transformadora e trabalhada em um processo permanente, cotidiano e coletivo, no qual o aluno é convidado a refletir e agir, de acordo com a proposta de avaliação mediadora de HOFFMANN (2001), da interação entre os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais propostos por ZABALA (1998) e diante de um enfoque globalizador como propõe ZABALA (2002), transformando sua realidade a partir do desenvolvimento integral de suas competências na contextualização dos conhecimentos científicos da área do meio ambiente às suas tomadas de consciência e de atitudes no exercício de sua cidadania. O desenvolvimento e a avaliação de tais competências não devem ser estanques ou pretensamente trabalhados em uma única situação didática. Neste aspecto, PERRENOUD (2000) propõe que: O verdadeiro desafio é o domínio da totalidade da formação de um ciclo de aprendizagem, e, se possível, da escolaridade básica, não tanto para ser capaz de ensinar indiferentemente em qualquer nível ou ciclo, mas para inscrever cada aprendizagem em um continuidade a longo prazo, cuja lógica primordial é contribuir para a construção das competências visadas ao final do ciclo ou da formação. (p.46) É importante que a educação ambiental esteja focada em pedagogias problematizadoras do concreto vivido a partir de temas-geradores, os quais estabelecem vínculos entre os impactos socioambientais, seus processos de formação e agentes causais, estimulando o pensamento crítico, criativo e a sensibilização do educando. A interdisciplinaridade no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos relacionados ao meio ambiente e às suas inter-relações permite uma abordagem mais abrangente do tema. AUGUSTO e CALDEIRA (2007) apontam que os problemas complexos do cotidiano devem ser estudados como se apresentam na realidade, isto é, não devem ser compartimentados em disciplinas que tendem a tratar apenas aspectos desses temas relativos aos conteúdos de seu domínio. (p.147) As autoras ressaltam ainda que a prática interdisciplinar possibilita o tratamento de forma contextualizada dos conteúdos, porém é necessário que os professores evidenciem as relações entre as disciplinas. Apontam ainda que a interdisciplinaridade apresenta-se como uma opção se pretendemos

3 implantar novos métodos de ensino, objetivando alunas e alunos mais motivados, mais interessados e com melhores níveis de aprendizagem (p.153). Para tanto, foi construída uma sequência didática interdisciplinar baseada na pedagogia de projetos, buscando englobar a visão sócio construtivista de COLL (2006) e, epistemológica da construção do conhecimento e de seus valores de MACHADO (2004) e garantir a democratização de informações e a motivação do estudo do tema de forma lúdica, como propõe HARRES (2001), almejando a participação dos educandos na defesa da qualidade ambiental e no exercício da cidadania. Buscamos, ainda, contemplar as três dimensões educacionais propostas por DE LA TAILLE (2002) na elaboração do projeto e na mediação do trabalho dos grupos aos construírem seus jogos didáticos: de transpor, respeitar e de impor limites no que tange ao respeito, enquanto a heteronomia se baseia no respeito unilateral, a autonomia depende do respeito mútuo. (p.112) Assim, os alunos, em grupos, não irão apenas cooperar no sentido de ajudarem uns aos outros na realização da tarefa, mas de co-operar como propõe o autor, de operar junto sem hierarquia. Objetivos O objetivo principal da divulgação desta experiência pedagógica é o de compartilhar uma sequência didática de sucesso e contribuir com a prática do ensino das ciências a partir do uso de diferentes linguagens e metodologias em sala de aula. Buscou-se ainda com o desenvolvimento de tal projeto garantir a democratização das informações e motivar o estudo de conteúdos relativos ao meio ambiente de forma lúdica, contribuindo para a participação do educando como cidadão consciente na defesa da qualidade ambiental, bem como estimular a aquisição de novas habilidades sociais e individuais a partir do trabalho em grupo e da contextualização dos conhecimentos necessários para a criação de regras coerentes a uma educação ambiental sustentável e cidadã. Metodologia O Colégio Temomecanica, mantido pela Fundação Salvador Arena, apresenta um diferencial curricular no ensino fundamental 2, pois possui aulas em período integral, além de dispor de laboratórios com ótima infraestrutura que possibilitam a realização de metodologias diversificadas. Esse diferencial permite que as disciplinas da área de ciências da natureza tenham aulas teóricas e práticas ao longo de todo ciclo, o que já evita um dos empecilhos observados na pesquisa de AUGUSTO e CALDEIRA (2007) do número reduzido de aulas na grade escolar e da falta de estrutura escolar para a viabilização das propostas interdisciplinares pelos professores. O projeto Meio Ambiente: o lúdico em sala de aula foi realizado por alunos dos 9º anos (A, B, C e D) do Colégio Termomecanica no 1º trimestre de Nele, os alunos foram orientados a selecionar um dos temas geradores propostos (diferentes temas ambientais estudados) para confecção de jogos didáticos com regras voltadas a conscientização ambiental, estimulando a

4 aprendizagem de novos conteúdos e de suas relações, contribuindo na aquisição de novas habilidades e motivando a prática do compromisso ambiental na escola, em casa e na sociedade. Inicialmente, os alunos tiveram conhecimento sobre diferentes conteúdos de ecologia, com aulas teóricas e práticas durante o primeiro trimestre de Durante oficina pedagógica, os alunos vivenciaram a experiência de pesquisar diferentes jogos didáticos para compreender as estratégias de produção dos seus próprios jogos, observando a clareza das regras, tempo de jogo, número de participantes, conceitos ambientais, motivação e faixa etária. A partir de quatro diferentes temas, Biodiversidade, Sustentabilidade, Ciclos Biogeoquímicos e Impactos Ambientais, os grupos foram orientados a criar um título, regras e peças para cada jogo idealizado. Temos plena consciência de que os alunos de hoje precisam desenvolver habilidades e competências específicas deste tempo de alfabetização digital e tecnológica do século XXI, cientes de possuírem o pensamento crítico do aprender a aprender, sendo capazes de argumentar com autonomia sobre conteúdos científicos, dando conta de desafios interativos e visuais, caminhando para um saber pensar colaborativo quando participam do desafio da criação de jogos coletivos e das relações teóricas necessárias para suas elaborações, indo além dos conhecimentos teóricos presentes em livros e apostilas obsoletas para esta geração, como propõe DEMO (2010). Neste âmbito, os jogos foram produzidos durante as aulas práticas de ciências e de física a partir de discussões entre os grupos a respeito do conteúdo envolvido nos temas escolhidos e da contextualização de tais conteúdos inclusive para sua elaboração, uma vez que os alunos utilizaram materiais reciclados e reaproveitados para construção de tabuleiros, cartas, pinos, dados, entre outros materiais. Ao final do processo, cada grupo apresentou o jogo confeccionado em sala de aula, contribuindo para democratização do conhecimento e o estímulo para novas práticas pedagógicas. Resultados Foram confeccionados dezoito jogos a partir dos temas geradores, os quais foram expostos nas Bibliotecas Interativas do Colégio Termomecanica (Ensino Fundamental 1, Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio) durante a Semana do Meio Ambiente de Tal exposição proporcionou uma grande participação da comunidade escolar que utilizou o material de forma lúdica, estimulando a prática de novas atitudes e estratégias que contribuem para uma educação ambiental transformadora. A seguir apresentamos os títulos dos jogos criados pelos alunos e os temas geradores aos quais estão associados: Jogos Didáticos Banco Imobiliário Natural Baralho Ambiental Temas Geradores Sustentabilidade, Ciclos Biogeoquímicos, Impactos Ambientais Biodiversidade

5 BioWar Caçada Animal Cai não Cai da Biodiversidade Challenge of Sustainability Conquista Ambiental Construa seu Ecossistema Corrida Ambiental Mundo Ecológico Não Trema na Base Reciclando Resgatando Salve o que Puder Saving the Earth Sobreviventes SOS Tartarugas SOS Ecossistemas Sustentabilidade, Biodiversidade, Impactos Ambientais Biodiversidade Sustentabilidade Biodiversidade, Sustentabilidade Impactos Ambientais Sustentabilidade, Impactos Ambientais Biodiversidade, Sustentabilidade Sustentabilidade, Impactos Ambientais Impactos Ambientais, Ciclos Biogeoquímicos Biodiversidade, Sustentabilidade O termo jogo didático apresentado ao longo desse artigo vai de encontro ao proposto por ZANON, GUERREIRO e OLIVEIRA (2008): Os jogos podem ser considerados educativos se desenvolverem habilidades cognitivas importantes para o processo de aprendizagem resolução de problemas, percepção, criatividade, raciocínio rápido, dentre outras habilidades. Se o jogo, desde seu planejamento, for elaborado com o objetivo de atingir conteúdos específicos e para ser utilizado no âmbito escolar denominamos tal jogo de didático. Por outro lado, se o jogo não possuir objetivos pedagógicos explícitos e sim ênfase ao entretenimento, então os caracterizamos de entretenimento.[...] o jogo educativo possui duas funções que devem estar em equilíbrio. Uma delas diz respeito à função lúdica, que está ligada a diversão, ao prazer e até o desprazer. A outra, a função educativa, que objetiva a ampliação dos conhecimentos dos educandos.[...] Nesse sentido, o jogo ganha espaço como ferramenta de aprendizagem na medida em que estimula o interesse do aluno, desenvolve níveis diferentes de experiência pessoal e social, ajuda a construir novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade, e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. (p.73 e 74) Esperamos ter contemplado todos os aspectos sociais e individuais da construção dos conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais pelos alunos como destacado pelos autores a respeito do papel do jogo em situações didáticas. Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que o desenvolvimento de toda a sequência didática descrita neste relato contribuiu para a formação de cidadãos conscientes de seu papel em uma sociedade ambientalmente sustentável e para o aprimoramento de competências diversas. Referências Bibliográficas

6 AUGUSTO, Thaís Gimenez da Silva, CALDEIRA, Ana Maria de Andrade. Dificuldades Para A Implantação De Práticas Interdisciplinares Em Escolas Estaduais, Apontadas Por Professores Da Área De Ciências Da Natureza. Investigações em Ensino de Ciências. V12(1), pp , COLL, César et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, DE LA TAILLE, Yves. Limites: três dimensões educacionais. 3. ed. São Paulo, SP: Editora Ática, DEMO, Pedro. Habilidades e competências: no século XXI. Porto Alegre: Editora Mediação, HARRES, Jaqueline da Silva; PAIM, Greice Mara; EINLOFT, Norma Lai Von Mühlen. O lúdico e a prática pedagógica. In: SANTOS, Santa M.P. (Org). A Ludicidade como ciência. Petrópolis, RJ: Vozes, HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, MACHADO, Nilson José. Educação: Projetos e Valores. Coleção ensaios transversais. 5. Ed. São Paulo: Escrituras Editora, PERRENOUD, Philippe. Novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed Editora, Revista Nova Escola. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Disponível em: Acesso em 12 de março de ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed Editora, ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed Editora, ZANON, Dulcimeire Aparecida Volante, GUERREIRO, Manoel Augusto da Silva e OLIVEIRA, Robson Caldas de. Jogo didático Ludo Químico para o ensino de nomenclatura dos compostos orgânicos: projeto, produção, aplicação e avaliação. Ciências e Cognição. Vol.13: Submetido em 29/02/2008. Aceito em 28/03/2008. Publicado on line em 31 de março de Disponível em: Acesso em 15 de fevereiro de 2013.