GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO TÉCNICA: COMPARAÇÃO DE DUAS EXPERIÊNCIAS EM DIFERENTES CURSOS TÉCNICOS DE GUIA DE TURISMO

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1 GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO TÉCNICA: COMPARAÇÃO DE DUAS EXPERIÊNCIAS EM DIFERENTES CURSOS TÉCNICOS DE GUIA DE TURISMO RESUMO O ensino da geografia aplicada a uma determinada área de conhecimento exige do docente uma forma de trabalho diferenciada da educação geográfica no ensino regular. A forma de interação professor-aluno e os conteúdos a serem transmitidos também precisam estar adaptados tanto ao público quanto ao nível de ensino. Essa complexidade incentivou a presente iniciativa de sistematização das experiências, conforme proposto por Holliday (2006). O principal objetivo do trabalho é reconhecer os sucessos e as dificuldades encontradas a fim de melhorá-las futuramente, no entanto, o exercício de comparar as formas de trabalho serviu para demonstrar quão diferentes são as abordagens nos dois cursos técnicos em Guia de Turismo analisados, a saber: um técnico subsequente de uma escola técnica particular e um curso integrado ao ensino médio na modalidade PROEJA de um instituto federal. No campo didático-metodológico, a integração da geografia com as outras disciplinas e as aulas práticas foram alguns dos mais relevantes aspectos observados. Considerando as questões ligadas à organização dos currículos, observou-se que a grande diferença de carga horária contribuiu preponderantemente para a modelagem da forma de trabalho do professor. Os principais apontamentos das experiências foram voltados à forma de integração dos conhecimentos relacionados à disciplina geografia com a prática profissional de um guia de turismo. INTRODUÇÃO O Guia de Turismo é o profissional legalmente habilitado para exercer as atividades de acompanhamento, orientação e transmissão de informações a pessoas ou grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais, internacionais ou especializadas (BRASIL, 1993). Na simples dessas atribuições, observa-se claramente uma estreita relação da profissão com pelo menos dois aspectos fortemente inerentes à

2 Geografia: O deslocamento de pessoas no espaço geográfico e a transmissão de informações sobre os diversos locais visitados. Desta forma, percebe-se imediatamente a importância de um conhecimento geográfico sólido para o bom exercício da profissão. E se tratando de uma profissão eminentemente prática, cuja formação acadêmica é realizada por meio de um curso técnico, os conhecimentos geográficos a serem apreendidos pelos estudantes devem ser frequentemente associados à atuação profissional, o que desafia o docente a desenvolver novas formas de transmissão de conhecimentos que efetivamente sirvam à atuação do futuro profissional. Diante de tal desafio, buscou-se nessa primeira aproximação uma comparação e uma avaliação do ensino da disciplina de Geografia para o Curso Técnico em Guia de Turismo, a fim de propor uma abordagem que atenda de forma mais completa possível os objetivos de formação do profissional. OBJETIVOS Geral Melhorar a forma de trabalho da disciplina de Geografia no Curso Técnico em Guia de Turismo. Específicos Analisar duas diferentes propostas curriculares existentes e observar suas fragilidades e potencialidades. Avaliar os métodos de trabalho até então utilizados para o ensino da disciplina no que concerne a sua importância para a profissão de Guia de Turismo. Investigar novas possíveis abordagens para o ensino da Geografia no Curso Técnico de Guia de Turismo. METODOLOGIAS

3 A pesquisa iniciou-se pela análise documental das duas propostas curriculares da disciplina de Geografia apresentadas pelos cursos oferecidos nas duas escolas em questão, buscando compreender quais são os objetivos e as estratégias de cada uma delas. Em seguida, vem buscando-se observar o andamento do processo didático na medida em que ele vem ocorrendo. Os critérios dessa observação desenvolveram-se através da proposta de Holliday (2006), chamada de sistematização de experiências e que segundo o autor pode ser definida como aquela interpretação crítica de uma ou várias experiências que, a partir de seu ordenamento e reconstrução, descobre ou explicita a lógica do processo vivido, os fatores que intervieram no dito processo, como se relacionaram entre si e porque o fizeram deste modo. Assim aprendemos e tiramos lição de nossa própria prática. O processo de sistematização de uma experiência envolve basicamente cinco etapas, são elas: A) O ponto de partida Que consiste em ter participado da experiência e feito o registro das mesmas; B) As perguntas iniciais Que consiste em definir e delimitar o objetivo, além de definir um eixo de sistematização; C) A recuperação do processo vivido Que consiste em reconstruir a história, ordenando e classificando a informação; D) A reflexão de fundo Que consiste em analisar, sintetizar e interpretar criticamente o processo; e E) Os pontos de chegada Que consiste em formular as conclusões e comunicar a aprendizagem. Como este trabalho consiste na comparação de duas diferentes abordagens da disciplina, o processo de sistematização da experiência necessita ser feito ao menos duas vezes, a fim de confrontar duas realidades distintas alcançar os objetivos traçados. No entanto, somente uma das experiências foi concluída e, por isso, serão apresentados neste trabalho os resultados alcançados até o momento. RESULTADOS PRELIMINARES Embora seja um ofício reconhecido e requisitado há muitos anos, a regulamentação da profissão de Guia de Turismo no Brasil deu-se efetivamente em Oito anos depois, a fim de direcionar a formatação e o funcionamento dos cursos técnicos em Guia de

4 Turismo, a EMBRATUR publicou em 2001 a Deliberação Normativa nº 427 na qual previa, entre outras coisas: a) as bases tecnológicas, habilidades e competências do profissional; b) uma proposta de organização curricular e de conteúdo programático a serem trabalhados por disciplina; e, c) sugestão de carga horária mínima e de formação dos docentes para cada disciplina. O conhecimento desse documento constituiu o ponto de partida para a análise e interpretação das duas propostas de trabalho. Após isso foi realizada uma análise das características dos dois cursos, e as observações e comparações estão expostas no Quadro 1. Quadro 1: Comparação entre os cursos analisados. Instituição Tipo do Curso Instituto Federal Integrado ao Ensino Médio, modalidade EJA Escola Técnica Particular Técnico Subsequente Aspecto Analisado Carga Horária da Disciplina de Geografia Tempo de Duração da disciplina 144 h 30 h 4 semestres 2 meses (em média) Tempo de Duração do Curso 3,5 anos 1 ano Fonte: Próprio autor. Quanto aos conteúdos programáticos da disciplina de Geografia nos dois cursos, observou-se uma considerável diferença entre as propostas. Enquanto os conteúdos do Instituto Federal propõem um estudo bastante geral da geografia tal qual é estudado no ensino médio regular a proposta da Escola Técnica Particular traz uma proposta curricular básica, conforme proposto na Deliberação Normativa 427/2001. A outra etapa prevista na metodologia consiste na realização da sistematização das duas experiências, para, por fim realizar a comparação entre as duas abordagens tanto em seus aspectos pedagógicos como operacionais.

5 Contudo, dados os passos cumpridos até o momento atual tal comparação não pode ser realizada em sua totalidade, haja vista que a experiência do Instituto Federal ainda se encontra nos primeiros registros, pois os módulos nos quais a disciplina de Geografia é lecionada ainda está prestes a serem iniciados. Por outro lado, as aulas da disciplina na Escola Particular já foram concluídas, assim como a sistematização da experiência. A partir então da primeira experiência, já sistematizada e dos primeiros registros da segunda experiência, um resumo das respostas realizadas às perguntas iniciais foi exposto no Quadro 2. Quadro 2: Comparação das observações realizadas nas duas experiências de docência da disciplina de Geografia no Curso de Guia de Turismo. Instituição Perfil dos Estudantes em relação à profissão Instituto Federal Jovens e Adultos que iniciam seus primeiros contatos com a área Escola Técnica Particular Mais de 50% de estudantes atuantes na área, frequente busca por certificação e regularização de sua atuação profissional Aspecto Analisado Adaptação do Conteúdo Programático aos conhecimentos demandados pela profissão Integração com outras disciplinas do Curso Pouco observado Proposta no currículo da integração com história, artes e técnicas de guiamento, mas sem mobilização para efetivação até o momento Observado, mas insuficiente e subestimado Sem previsão curricular, realizado por conta da experiência do professor e dos estudantes na atuação como Guias de Turismo Metodologia de Ensino Prevista Debates, análises, aulas expositivas, seminários, vídeos, pesquisa de campo Aulas expositivas Metodologia Aplicada - Aulas expositivas, realização de uma aula de campo

6 Feedback dos estudantes sobre o processo ensinoaprendizagem - Altamente positivo Avaliação de aprendizado - Não há avaliação de conteúdos na disciplina Fonte: Próprio autor. Com as observações realizadas até o momento e a não conclusão da segunda experiência, poucos apontamentos puderam se realizados para melhoramento da atuação como professor de geografia nos Cursos Técnicos em Guia de Turismo. Esses apontamentos derivam da prática já concluída e possivelmente serão aplicadas na prática em andamento. Contudo, cabe destacar algumas das propostas que surgiram da análise da primeira experiência, e coloca-las a prova num futuro breve. Primeiramente, por se tratar de um conhecimento que precisa ser utilizado na prática pelo Guia de Turismo, o apontamento principal consiste na elaboração de atividades simuladas onde o conhecimento geográfico seja posto à prova como ocorre no dia-a-dia do guiamento turístico. Isso demanda um tempo maior do que o disponibilizado para a disciplina na primeira experiência, mas tem condições bastante favoráveis para ser aplicado na segunda. Outro apontamento de destaque é que, apesar do feedback positivo dos estudantes na primeira experiência, a apreensão de conteúdo por parte dos alunos é uma grande incógnita para o professor, haja vista que pelo pouco tempo disponibilizado para a disciplina, nenhum processo avaliativo foi concluído. Assim, sugere-se que esse processo de avaliação deve ser elaborado conforme a descrito na primeira proposição. Por último, observou-se que uma grande melhoria do aprendizado dos conhecimentos técnicos da disciplina de Geografia aplicáveis ao guiamento turístico pode ser efetivada caso ela seja ministrada e avaliada juntamente com a disciplina da técnicas de guiamento. A associação dos conhecimentos feita com grande facilidade pelo professor da disciplina na primeira experiência possivelmente por sua formação e atuação como geógrafo e como guia de turismo nem sempre era acompanhada pelos estudantes, mesmo tratandose de profissionais com alguma experiência no mercado turístico.

7 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Decreto nº 946, de 1º de Outubro de Regulamenta a Lei nº 8.623, de 28 de janeiro de 1993, que dispõe sobre a profissão de Guia de Turismo e dá outras providências. Disponível em: EMBRATUR. Deliberação Normativa 427 de 4 de outubro de Disponível em outubro norma-embratur.html. HOLLIDAY, Oscar Jara. Para sistematizar experiências (tradução de: Maria Viviana V. Resende). 2. ed., revista. Brasília: MMA, p. ; 24 cm. (Série Monitoramento e Avaliação, 2).