De onde vem a nossa ginga. A linguagem é um dos aspectos mais evidentes da contribuição cultural dos africanos trazidos
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- Lúcia Bacelar Sabala
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1 4 A África no Brasil De onde vem a nossa ginga Dengo, farofa, moleque, neném, quitanda, samba... Quer palavras mais brasileiras do que estas? De fato são brasileiras mas nasceram na África. Foram trazidas da vasta região costeira central do continente, onde se encontram hoje em dia Angola e Congo. São apenas alguns exemplos entre as muitas palavras do nosso vocabulário que têm origem no tronco linguístico banto [ ]. Elas substituíram vocábulos portugueses utilizados para os mesmos fins pelos colonizadores. Como a língua é algo vivo, algumas palavras mudaram um pouco, outras adquiriram significados diferentes, mas não muito distantes do original. A linguagem é um dos aspectos mais evidentes da contribuição cultural dos africanos trazidos para o Novo Mundo. Mas nem de longe é o único. [ ] Práticas religiosas, conhecimentos técnicos agrícolas e de mineração, valores sociais, costumes na vida cotidiana e hábitos de alimentação fizeram parte da bagagem cultural que os escravizados trouxeram para a formação de nosso país. [ ] Os movimentos do corpo característicos em 5P_AAH4_LA_GOV_C04_064A085.indd 64 Ginga: movimento ritmado do corpo. Angola e Congo: países da África. Banto: nome de um grupo de línguas africanas e dos povos que falam essas línguas. Bagagem cultural: diz respeito à sabedoria, ao conhecimento e aos costumes de uma pessoa ou grupo. 1/11/11 11:46:52 AM
2 também têm origem em Angola. De lá, portanto, viria boa parte da nossa ginga. Aliás, esta é uma palavra derivada da língua quimbundo, e nomeava uma rainha africana. De nome de rainha a personagem da congada, a ginga adquiriu muitos outros significados, hoje atribuídos principalmente aos brasileiros. Quimbundo: uma das línguas bantas faladas em Angola, na África. Congada: bailado popular brasileiro que apresenta cantos, danças e a coroação de personagens como a rainha Njinga e o rei Congo. Adilson Farias/ID/BR algumas danças brasileiras sobretudo o rebolado Mônica Lima Souza. De onde vem a nossa ginga. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 4, n. 39, dez p Dengo, farofa, moleque, quitanda. Qual é a origem dessas palavras? De onde vieram especificamente? O que você entendeu da frase a língua é algo vivo? Quais contribuições africanas para a cultura brasileira foram mencionadas no texto? A imagem acima retrata a congada, que é realizada em diversos estados brasileiros. Você já assistiu a uma congada ou participou dessa festa? 5P_AAH4_LA_GOV_C04_064A085.indd 65 1/11/11 11:46:53 AM
3 1 O cotidiano do trabalho dos africanos escravizados no Brasil Observe a imagem desta página. Onde estão as pessoas retratadas e o que elas estão fazendo? 66 Em: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. A travessia da Calunga Grande: três séculos de imagens sobre o negro no Brasil ( ). São Paulo: Edusp; Imesp, O trabalho nos engenhos Por volta de 1550, os africanos escravizados começaram a ser trazidos para a América Portuguesa para trabalhar nos engenhos. A plantação de cana-de-açúcar e a produção de açúcar necessitavam de muita mão de obra, e o desenvolvimento dessas atividades só foi possível com o trabalho dos africanos escravizados. Nos engenhos, os escravizados trabalhavam em média 15 horas por dia. Eles plantavam e colhiam a cana-de-açúcar, trabalhavam em todas as etapas da produção do açúcar e cuidavam dos animais e das roças que abasteciam de alimentos o engenho. Havia também os que trabalhavam como artesãos, fazendo ferramentas e objetos de uso diário, como potes e tigelas. As mulheres escravizadas, em menor número nos engenhos, realizavam todo tipo de trabalho, desde as tarefas domésticas, como cozinhar, lavar roupa e cuidar das crianças, até o trabalho nas lavouras e na produção do açúcar. O trabalho nas minas Com a descoberta do ouro na região das minas, no século XVIII, muitos escravizados foram trazidos de diferentes lugares da África para trabalhar na mineração. O trabalho era muito penoso, pois os escravizados eram obrigados a ficar com os pés dentro da água por muitas horas, em busca de pepitas de ouro. Eles trabalhavam também em minas onde constantemente aconteciam desabamentos de terra. Por causa das muitas horas de trabalho no leito dos rios e nas minas, os africanos escravizados morriam muito jovens, vitimados por doenças pulmonares. Escravizados trabalhando em mina de diamantes. Gravura de 1860.
4 Nas vilas e cidades Como você viu no capítulo anterior, nas ruas das vilas e cidades, era grande a presença de escravizados trabalhando como vendedores ambulantes, sapateiros, barbeiros, carregadores, principalmente a partir do século XVIII. As mulheres escravizadas, em sua maioria, vendiam alimentos, como frutas e doces. Eles eram obrigados a entregar a seus senhores a maior parte do que ganhavam. Alguns senhores também alugavam os serviços de seus escravizados para outras pessoas. Todos esses escravizados eram chamados de negros de ganho. Muitos senhores ofereciam os serviços de seus escravizados em anúncios de jornais. Fonte: O Volantim, 18 set Glair Arruda/ID/BR Os escravizados nas fazendas de café No início do século XIX, o café tornou-se o principal produto da economia brasileira. Nas fazendas de café, o cotidiano de trabalho dos escravizados era muito difícil, pois eles trabalhavam em todas as etapas da produção: na preparação da terra, no plantio, na colheita, na secagem, na moagem e no transporte do café. As mulheres escravizadas realizavam as atividades domésticas e trabalhavam no plantio e na produção do café. Os africanos escravizados que possuíam certos conhecimentos e habilidades podiam se dedicar a atividades como carpintaria e marcenaria. Atividades 1 Escolha dois dos locais de trabalho dos africanos escravizados: os engenhos, as minas, as fazendas de café ou as vilas e cidades. No caderno, faça um quadro comparativo entre os dois tipos de trabalho. Veja o modelo. Local de trabalho Período Principais atividades Dificuldades enfrentadas O trabalho escravo no Brasil Depois, analise as semelhanças e as diferenças entre essas atividades que você escolheu. 67
5 2 O modo de vida dos africanos no Brasil Observe a imagem e responda: com base nessa gravura, é possível afirmar que a música e a dança também faziam parte do cotidiano das populações africanas escravizadas? Por quê? Fundação Biblioteca Nacional/DRD/ Div. De Iconografia, Rio de Janeiro Batuque. Gravura de Rugendas, século XIX. Fundação Biblioteca Nacional/DRD/Div. De Iconografia, Rio de Janeiro O dia a dia nos engenhos e nas fazendas de café Quando chegavam ao Brasil, os escravizados tinham uma vida completamente diferente daquela a que estavam acostumados na África. A rotina de trabalho era árdua e extensa. Nos engenhos e nas fazendas de café, eles viviam em habitações coletivas chamadas de senzala. A alimentação escrava era pobre em nutrientes e composta basicamente de farinha de mandioca, carne-seca ou peixe, feijão e rapadura. Muitas vezes os senhores permitiam que os escravizados cultivassem legumes, frutas e cereais para complementar a alimentação. Durante o trabalho, os escravizados cantavam músicas que falavam da saudade da África, da liberdade e de questões do cotidiano. À noite, na senzala, eles dançavam, cantavam e contavam histórias. A maioria dos senhores permitia essas manifestações, pois eles achavam que isso era uma forma de diminuir a possibilidade de rebeliões dos escravizados. Alguns africanos escravizados, quando casados, podiam morar em cabanas separadas dos outros. Gravura de Rugendas, século XIX. 68
6 A vida diária nas vilas e cidades Nas vilas e cidades, geralmente os escravizados moravam em casas muito simples, na parte mais baixa das vilas ou perto da encosta de morros. Suas casas eram longe da igreja principal e da Câmara Municipal. Alguns habitavam os porões da casa de seus senhores ou mesmo quartos alugados. Nesses locais, a alimentação era muito deficiente, tanto em qualidade quanto em quantidade, e bastante parecida com a dos engenhos e fazendas de café. Os escravizados que viviam nas cidades usavam roupas melhores e mais coloridas, em comparação aos que habitavam os engenhos e as fazendas de café. Nos engenhos e nas fazendas, em geral eles se vestiam apenas com panos rústicos e bem simples. Fac-símiles/Em: Carlos Eugênio Marcondes. A travessia Calunga Grande: três séculos de imagens sobre o negro no Brasil ( ). São Paulo: Edusp; Imesp, Nas cidades, o dia a dia dos escravizados acontecia nas ruas, onde eles criavam laços de amizade, namoravam e podiam saber das últimas notícias da região. Gravuras de Joaquim Lopes Barros, de Atividades 1 Compare, no caderno, as diferenças e as semelhanças entre a vida cotidiana dos escravizados africanos nos engenhos e fazendas de café e a vida dos escravizados nas vilas e cidades. 2 Observe as imagens desta página e descreva o que acontece nessas cenas. Em seguida, escreva um pequeno texto sobre o cotidiano dos escravos de ganho. Em seu texto, considere: a mobilidade dos escravos de ganho pelas ruas; como se vestiam e quem encontravam nas horas de trabalho; objetos e serviços que eles vendiam em seu dia a dia; a forte presença das mulheres que trabalhavam como vendedoras de alimentos. 69
7 3 A resistência negra Será que os africanos escravizados aceitaram passivamente a condição de escravizados ou lutaram contra isso? Por quê? As ações da resistência escravista Os africanos escravizados eram castigados e punidos quando não obedeciam aos seus senhores. Instrumentos como chicotes e palmatória, surras e outras formas de violência eram comumente usados contra os escravizados. Mas eles não aceitaram passivamente tanta violência, vigilância e repressão, e lutaram de diversas formas contra essa condição. Muitas vezes eles queimavam as colheitas de seus senhores, trabalhavam com lentidão e se defendiam atacando os feitores. A religião também era um modo de resistência. Os africanos escravizados eram, com frequência, proibidos de praticar sua religião; então, associavam suas divindades e orixás aos santos católicos. Assim, continuavam praticando sua religião de uma forma disfarçada. Feitor: homem contratado para vigiar os escravizados e castigar os que não faziam o trabalho da forma como eram mandados. Fundação Biblioteca Nacional/DRD/Div. De Iconografia, Rio de Janeiro Representação da festa de Nossa Senhora do Rosário. Nessa festa, os escravizados representavam a coroação de antigos reis do Congo. Gravura de Rugendas, século XIX. Outra estratégia comum para resistir às proibições e à violência dos senhores eram as fugas coletivas, que resultaram na organização de comunidades chamadas quilombos. 70
8 Os quilombos Os quilombos eram comunidades formadas por escravizados fugitivos e por não escravizados. Nessas comunidades, os escravizados fugidos tentavam reproduzir a forma como se organizavam na África. Eles plantavam, criavam animais, faziam artesanato e criavam as próprias leis e regras de convivência. Os proprietários de escravizados mandavam localizar e atacar os quilombos. Nesses conflitos, muitas pessoas morriam, e alguns escravizados eram devolvidos aos seus senhores. O quilombo dos Palmares O quilombo mais conhecido foi o dos Palmares, na Serra da Barriga, entre os atuais estados de Pernambuco e Alagoas. Ele começou a ser formado no início do século XVII e, durante quase noventa anos, seus moradores resistiram a inúmeros ataques. O líder da resistência nos últimos anos de existência desse quilombo foi Zumbi. O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro, dia em que Zumbi morreu, no ano de Museu Antônio Parreiras, Niterói (RJ) Zumbi dos Palmares, pintura de Antônio Parreiras,
9 As comunidades quilombolas hoje Alguns dos descendentes diretos e indiretos dos moradores dos quilombos surgidos a partir do século XVI vivem hoje em cerca de três mil e quinhentas comunidades quilombolas ou remanescentes de quilombos. Elas começaram a ser regulamentadas na Constituição de 1988, em seu artigo 68, que permitiu a obtenção de títulos de propriedade para os seus moradores. Mas, atualmente, ainda há muitas dessas comunidades que esperam por regulamentação. Nas comunidades quilombolas, todos fazem uso da terra e de outros recursos naturais e mantêm as tradições de seus ancestrais, como danças e festas. Na comunidade quilombola de Ivaporunduva vivem cerca de 300 pessoas. A comunidade possui posto de saúde, escola para crianças até o quinto ano do Ensino Fundamental e telecentro comunitário, com computadores que são usados por crianças e adultos. Eldorado, São Paulo. Fotografia de Apu Gomes/Folhapress 72 Escolas quilombolas Em algumas comunidades quilombolas, há escolas nas quais as crianças aprendem as disciplinas ensinadas nas escolas em geral, como Matemática, História, Geografia, Ciências e Língua Portuguesa. Mas elas também aprendem sobre a história e a cultura dos povos africanos e dos seus descendentes no Brasil. Escola na comunidade quilombola de Santa Maria do Traquateua, em Moju, Pará. Fotografia de Rogério Reis/Pulsar Imagens
10 A luta pela igualdade Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, estabeleceu a abolição da escravidão no Brasil. Essa medida não garantiu aos ex-escravizados condições dignas de vida, com perspectivas de trabalho e moradia. Eles sempre enfrentaram dificuldades, preconceito e discriminação, e a luta contra isso perdura até os dias atuais, no Brasil e no mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 21 de março como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Luiz Gama: a luta de cada um, de Myriam Fraga. Instituto Callis. O livro conta um pouco sobre a vida de Luiz Gama, um brasileiro, negro e poeta, que enfrentou inúmeros desafios em busca de um mundo melhor. Atividades 1 Responda às questões no caderno. a) Quais foram as formas de resistência dos africanos escravizados? b) O que foi o quilombo dos Palmares? Quem foi seu principal líder? c) Onde se localizava o quilombo dos Palmares? Por quanto tempo seus moradores resistiram aos ataques das autoridades portuguesas? 2 Leia o artigo 68 da Constituição. Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir- -lhes os títulos respectivos. Disponível em: < Acesso em: 19 nov a) O que a atual Constituição garante aos remanescentes de quilombos? b) Esse direito está sendo respeitado? c) Existem comunidades quilombolas no município em que você vive? 3 Discuta com seus colegas a seguinte questão: por que a luta contra a discriminação racial é tão importante? 73
11 4 A cultura africana no Brasil A imagem ao lado mostra uma das contribuições culturais dos africanos. Quais outras contribuições da cultura africana você conhece? Fundação Biblioteca Nacional/DRD/Div. De Iconografia, Rio de Janeiro Capoeira. Gravura de Rugendas, século XIX. O que os africanos trouxeram No século XVI, quando os africanos começaram a chegar à América Portuguesa, eles trouxeram consigo seus hábitos e costumes, suas crenças religiosas, suas danças, músicas e tradições, seus saberes sobre as pessoas e o mundo. Eles possuíam conhecimentos e técnicas de trabalho com metais, cerâmica, mineração, tecelagem e engenharia, que se integraram aos conhecimentos e modos de vida dos povos indígenas e dos colonizadores portugueses. Isso tudo contribuiu para formar a cultura brasileira. Marco Antônio Sá/Pulsar Imagens As religiões trazidas pelos africanos estão presentes em todo o território brasileiro. Os grupos de Maracatu Nação dançam e desfilam em homenagem aos orixás e aos santos católicos Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Olinda, Pernambuco. Fotografia de
12 Maurício Simonetti/Pulsar Imagens Rogério Reis / Tyba A culinária brasileira resultou da mistura entre ingredientes vindos da África e ingredientes indígenas e portugueses. O quiabo e o dendê, por exemplo, vieram da África. Fotografia de acarajé, prato da cozinha afro-brasileira. Instrumentos musicais africanos, como o agogô e o reco-reco, estão presentes nas músicas, danças e festas brasileiras. Músico tocando agogô no Carnaval do Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de Diego Padgurschi/Folhapress Os filhos das escravizadas brincavam com as crianças brancas até que completassem 5 ou 7 anos, quando então eram obrigados a trabalhar. Nessa convivência, as crianças brancas aprendiam com as crianças negras muitas brincadeiras vindas da África, como o pique, o bambolê e a gangorra. Parque em São Paulo (SP). Fotografia de Atividades 1 Quais foram as contribuições dos africanos para a formação da cultura brasileira? Se quiser, faça alguns desenhos no caderno para mostrar sua resposta. 75
13 5 Nossa língua portuguesa: contribuições africanas O poema a seguir apresenta palavras de origem africana que fazem parte da língua portuguesa. Leia o texto e responda: das palavras de origem africana citadas, quais você conhece? Neném bagunceiro Neném faz lambança comendo canjica. Babá se enquizila e dá um chilique: Moleque sapeca! Não faça bagunça! Nenê, encabulado, funga, faz dengo... Babá engambela, faz cafuné: Nana, nenê, que a Cuca já vem... Nenê esquece a fuzarca... bambeia... e cochila... Eneida D. Gaspar. Neném bagunceiro. Falando banto. Rio de Janeiro: Pallas, p. 5. Lima/ID/BR As palavras africanas em nossa língua Muitas das palavras que são usadas no dia a dia têm origem nas diversas línguas que eram faladas pelos africanos escravizados trazidos ao Brasil. Essas palavras aparecem na culinária, na religião e em nossas relações familiares, como é o caso da palavra caçula, que serve para designar o irmão ou o filho mais novo. Na culinária Pode-se perceber que muitas palavras de origem africana nomeiam pratos e ingredientes de nossa cultura. Veja o quadro: Canjica: papa de milho. Farofa: farinha com gordura, água e outros ingredientes. Fubá: farinha de milho. Jiló: fruto amargo. Maxixe: fruto usado como hortaliça. Quibebe: caldo grosso ou papa de abóbora. 76
14 As crianças e as amas de leite As amas de leite eram africanas escravizadas que cuidavam dos filhos dos brancos. Elas amamentavam, contavam histórias, cantavam e conversavam com as crianças. Eram, portanto, as primeiras pessoas a ensinar as crianças brancas a falar palavras das línguas africanas, como estas exemplificadas no quadro a seguir: Bagunça: confusão. Cafuné: carinho feito na cabeça de alguém. Cochilar: dormir levemente. Moleque: menino de pouca idade ou menino travesso. Coleção particular Augusto Gomes Leal com sua ama de leite, Mônica. Fotografia de João Ferreira Villela, Atividades 1 Leia novamente o poema da página anterior. a) No caderno, copie as palavras de origem africana que são usadas no texto. b) Ao lado de cada palavra, escreva o seu significado. Procure no dicionário o significado das palavras que você não conhece. 77
15 Aprender As manifestações culturais de origem africana Algumas manifestações culturais de origem africana fazem parte do patrimônio cultural do Brasil, entre elas o jongo, a capoeira, o samba de roda da Bahia e o tambor de crioula do Maranhão. Roda e treino de capoeira em Ilhéus, Bahia. Fotografia de Apresentação de jongo em Piquete, São Paulo. Fotografia de Delfim Martins/Pulsar Imagens Marco Antonio Sá/Pulsar Imagens Palê Zuppani/Pulsar Imagens Marco Antonio Sá/Pulsar Imagens Fotografia de apresentação do grupo Tambor de Crioula de Leonardo, de São Luís, Maranhão, em festival em Olímpia, São Paulo, em Samba de roda em Salvador, Bahia. Fotografia de
16 Com a ajuda do professor, dividam a classe em quatro grupos. Cada grupo vai pesquisar sobre uma das manifestações culturais apresentadas na página anterior. Como fazer 1 Procurem saber: a origem; o significado do nome; onde é praticada; por quem é praticada; quando é praticada; se existem diferenças de acordo com o lugar onde é praticada; as palavras relacionadas à sua prática; os instrumentos utilizados; as músicas que a acompanham. 2 Escrevam 3 No 4 Se um texto organizando essas informações. dia combinado, apresentem o texto para os colegas e o professor. possível, tragam para a sala de aula imagens que ilustrem a manifestação pesquisada pelo grupo. Para finalizar Após a apresentação dos grupos, conversem sobre os aspectos que mais chamaram a atenção em cada uma das manifestações apresentadas. Lima/ID/BR 79
17 Antes de continuar 1 Leia o texto abaixo, escrito pela historiadora Isabel Lustosa sobre a presença africana na história brasileira. Depois, faça o que se pede. Escravidão O negro plantou, colheu e moeu a cana para fabricar o açúcar; minerou ouro e diamantes; plantou e colheu café. [ ] Cresceu com o país e se fez parte indissociável dele. Deixou sua marca em tudo, na língua, nos costumes, na alimentação, na música e na composição étnica do povo brasileiro. Por causa dele e dos índios, somos na maioria moreninhos, por causa deles é que fomos nos diferenciando do nosso colonizador europeu e fomos nos tornando tão especiais, tão brasileiros. Isabel Lustosa. Escravidão. A história do Brasil explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, p. 52. a) Encontre no texto os aspectos da cultura brasileira em que podemos observar as marcas dos povos africanos. Dê exemplos para cada um deles. b) Qual foi a importância da presença de africanos escravizados no Brasil? c) Pense sobre o que você aprendeu, pesquise mais a respeito de elementos da cultura africana presentes em nosso cotidiano e copie e complete no caderno a tabela a seguir. Elementos da cultura africana em nosso cotidiano Festas/danças/ritmos Culinária Crenças Jogos/brincadeiras Língua 2 Escreva em seu caderno outra legenda para esta imagem. Nela você deve falar sobre o trabalho dos escravizados nas cidades e vilas do Brasil. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/ID/BR Gravura de Jean-Baptiste Debret feita no século XIX. 80
18 3 Escreva um texto sobre o trabalho dos escravizados. Você deve falar sobre: a) que trabalho realizavam; b) se trabalhavam muitas ou poucas horas por dia; c) se o trabalho deles, em geral, era prejudicial à saúde; d) se os escravizados podiam escolher em que ou onde gostariam de trabalhar. 4 Leia a notícia a seguir: Autoridades brasileiras resgatam 150 trabalhadores escravizados em plantações As autoridades brasileiras anunciaram a libertação de 150 indivíduos que estavam a ser mantidos como escravos em explorações agrícolas nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Os trabalhadores não estavam registrados, não tinham acesso a água potável ou instalações sanitárias e não dispunham de equipamento de segurança. Eram obrigados a cumprir longos horários sem direito a pausas e estavam expostos a níveis perigosos de pesticidas. [ ] Disponível em: < Acesso em: 6 out a) O trabalho escravo foi abolido no Brasil em De acordo com a notícia acima, não existia mais trabalho escravo no Brasil em 2010? b) Compare a condição dos trabalhadores libertados citados na notícia acima com a condição de trabalho dos escravizados no período em que a escravidão era permitida no Brasil. c) Hoje no Brasil existem leis que determinam os direitos dos trabalhadores. Com um colega, pesquise o que essas leis determinam sobre horas de trabalho, descanso, salário, saúde do trabalhador. 5 Forme uma dupla com um colega e, juntos, sigam estas orientações: a) Elaborem um glossário com palavras africanas de nossa língua portuguesa. Podem ser palavras estudadas neste capítulo, mas procurem incluir outras que vocês souberem ou quiserem pesquisar. Escolham alguns dos verbetes do glossário para ilustrar. b) Quando terminarem de fazer o glossário, escrevam uma frase sobre as contribuições africanas à língua portuguesa. c) Na data combinada, mostrem à classe o glossário e a frase que vocês produziram. 81
19 Fazer e aprender Analisar anúncios de jornais Durante o tempo em que o trabalho escravo foi praticado legalmente no Brasil, os anúncios dos jornais eram utilizados também para vender e comprar escravizados ou procurar escravizados fugitivos. Esses anúncios são uma importante fonte para estudarmos a escravidão no Brasil nessa época. Os anúncios publicados em jornais e revistas oferecendo produtos e serviços permitem conhecer aspectos do local e da sociedade da época em que são publicados. Pode-se saber, por exemplo, quais produtos são comprados e vendidos, como são esses produtos, que serviços são oferecidos. Veja a seguir algumas informações que podem ser observadas ao ler um anúncio e localize-as no anúncio abaixo: Fugio no dia 2 de Setembro de 1829 um negro de nome Antonio, de nação Congo, estatura ordinaria, cheio de corpo, representa 20 annos de edade, com pouca barba pés delgados, tem no peito direito, ou esquerdo carimbada a lettra B; foi vestido de camisa de riscado escuro, e calças de pano azul [ ] Fonte: O Farol Paulistano, São Paulo, 24 de outubro de I. A época e o local da publicação a) O nome do jornal. b) Dia, mês e ano da publicação ou do acontecimento publicado. c) Lugar em que foi publicado o jornal. II. Os serviços existentes na época a) O que o anúncio comunicava e com qual finalidade. III. O produto valorizado na época a) O que estava sendo procurado. b) Características do que estava sendo procurado. Com essas informações, é possível fazer algumas afirmações sobre o período em que o anúncio foi publicado. IV. Conclusões a) A escravidão era permitida na época da publicação? b) Havia fuga de escravizados nesse período? c) Por que os escravizados que fugiam eram anunciados no jornal? 82
20 1 Leia agora outro anúncio e responda: É PECHINCHA! Vende-se um escravo próprio para todo serviço de roça, robusto e sadio, ver e tratar à rua da Imperatriz número 52. Fonte: Correio Paulistano, São Paulo, 20 de setembro de a) Qual é o nome do jornal em que está o anúncio? b) Em que data e lugar ele foi publicado? c) O que o anúncio está comunicando? d) Quais são as características do que está sendo anunciado? e) Qual é a sua utilidade? f) Com base nesse anúncio, o que se pode concluir sobre a sociedade brasileira daquela época? 2 Releia o anúncio da página 67. a) Qual é o nome do jornal em que o anúncio foi publicado? b) Em que data ele foi publicado? c) O que o anúncio está comunicando? d) Que outras informações são dadas no anúncio? e) Como eram chamados esses escravizados? 3 Escolha um jornal publicado recentemente e faça a atividade a seguir em uma folha à parte. a) Recorte um anúncio sobre a venda de um produto e cole-o na folha. b) Anote o nome do jornal e a data e o local de publicação. c) Localize no anúncio informações sobre o produto: o que é, as características, a utilidade. d) Compare o anúncio atual com o anterior e escreva em que eles são iguais e em que são diferentes. e) Agora faça você um anúncio no caderno para vender algum produto ou objeto e siga o que aprendeu neste exercício. 83
21 Rever e aprender 1 Leia o texto e responda às questões no caderno. 84 Uma antiga contribuição dos povos africanos foi a técnica da metalurgia, a fabricação de peças de ferro. Hoje sabemos que há mais de três mil anos, em diversas regiões da África, produziam-se diferentes materiais de ferro: armas para a guerra, objetos de culto, ferramentas de trabalho. Os ferreiros eram tidos como homens especiais, pois detinham a sabedoria de dominar e transformar a natureza e de criar objetos. A importância desses homens e do seu saber tecnológico era tão grande que, no Brasil, plantas de diversos quilombos mostram que a casa do ferreiro ocupava lugar de destaque. Ana Lúcia Lopes; Maria da Betânia Galas. Uma visita ao museu Afro Brasil. Projeto de implantação do Museu Afro Brasil catálogo da exposição. São Paulo: Imprensa Oficial, p. 10. a) Qual era a importância do ferreiro na África? b) Como os historiadores ficaram sabendo que eles também foram importantes no Brasil? c) Em que outras áreas do conhecimento os povos africanos trouxeram importantes contribuições para o Brasil? 2 Junte-se a um colega, leiam o texto sobre a participação da mulher contra o racismo e respondam às questões no caderno. Resistência e luta do povo negro [ ] Um vigoroso impulso à luta antirracismo vem da energia das mulheres negras. Há Fóruns Estaduais de Mulheres Negras espalhados pelo país e organizações atuando nos diversos movimentos sociais ou de maneira autônoma. Nos últimos 10 anos, elas têm intensificado uma ação nacional e internacional participando das lutas de emancipação das mulheres e dos povos oprimidos. Simbolizam a resistência negra no cotidiano. Figuras como Dandara, Luíza Mahin, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento e tantas outras simbolizam a força da mulher brasileira. [ ] Maria Aparecida Silva Bento. Cidadania em preto e branco. São Paulo: Ática, p. 77. Planta: desenho de uma construção. Fórum Estadual de Mulheres Negras: encontro para o debate e para a apresentação de propostas para combater todas as formas de preconceito e de discriminação. a) Para que servem os Fóruns Estaduais de Mulheres Negras? b) Por que a participação de mulheres na luta contra o racismo é importante? c) Escrevam duas frases em defesa da igualdade entre as pessoas e de respeito às diferenças. Em seguida, mostrem suas frases aos colegas de sala.
22 3 Leia o poema abaixo, escrito por crianças de uma escola quilombola, e responda às questões no caderno. Essa poesia eu escrevi Não foi pra ganhar ibope Eu só queria falar um pouco Do meu bairro André Lopes. Poesia quilombola Nossa luta nessa terra Sempre foi demais Pois nosso povo vem sofrendo Desde os nossos ancestrais. Remanescente de quilombo Ainda vive aqui Sempre lutando nessa terra Para tudo conseguir. Esse sofrimento foi aliviado Pela bênção do céu Por uma carta assinada Pela princesa Isabel. Ibope: prestígio, fama. Rosiane, Mailson, Jair, Luis H. e José H. (alunos da Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa). Poesia quilombola. Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha de S.Paulo, 15 nov Ilustra Cartoon/ID/BR a) Onde vivem os autores do poema? b) Quem mais vive nesse lugar? c) De acordo com o que você estudou, o que são remanescentes de quilombos? d) Quem são os ancestrais que os autores mencionam no trecho: Pois nosso povo vem sofrendo/ Desde os nossos ancestrais? e) O que é a carta assinada pela princesa Isabel, citada nos dois últimos versos, e o que ela representou? f) A princesa Isabel foi a única responsável pelo fim da escravidão? g) Os autores do poema estudam em uma escola quilombola. Escreva um parágrafo sobre o que você já sabe sobre escolas quilombolas. 85
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