A Mídia Eletrônica como possibilidade da presentação do real: uma experiência no espetáculo Jardim das Espécies. Resumo:
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- Thalita Barreiro Domingues
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1 A Mídia Eletrônica como possibilidade da presentação do real: uma experiência no espetáculo Jardim das Espécies Eduardo Bruno Fernandes Freitas 1 eduardobfreitas@hotmail.com Francisco Dyhego Mesqueita Martins 2 dyhego@hotmail.com Resumo: Desde os movimentos vanguardistas da performance as mídias eletrônicas vêm cada vez mais sem usadas dentro de espetáculos teatrais, porém ainda há muito a se discutir e compreender de que forma essa nova ferramenta cênica pode ser empregada, sem ficar como figura de fundo. A partir dessa concepção de utilização das mídias dentro de espetáculos teatrais, é que o presente trabalho pretende realizar uma analise critica sobre os meios eletrônicos dentro da peça Jardim das Espécies. Compreendendo, dessa maneira, como as mídias podem proporcionar ao espetáculo e ao espectador um borramento entre o real e a ficção da cena, trazendo assim uma nova perspectiva para a obra de arte. Palavras- chave: Jardim das espécies. Mídias Eletrônicas Teatro do Real O processo de elaboração da peça Jardim das Espécies iniciou-se em junho de 2010, com o objetivo de ser a segundo espetáculo do EmFoco Grupo de Teatro. Logo no inicio da pesquisa, ficou decidido, pelo grupo, que iríamos trabalhar com o tema loucura, porém não na ideia do estereótipo do louco de manicômio, muito menos com o conceito do louco como profeta, ou detentor da verdade. A perspectiva adotada para nortear o processo criativo seria a das neuroses freudianas, ou seja, uma análise da loucura mais presente em todos nós. Após dois meses de encontros teóricos e discussões acerca das possíveis concepções cênicas a serem adotas, começamos a trabalhar com livres improvisações. Como base para a criação estética das cenas, o grupo começou a pesquisar o Teatro do Real 3. Inicialmente a partir da observação de vídeos de espetáculos do grupo 1 Graduando em Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Diretor do EmFoco Grupo de Teatro (Fortaleza-CE). 2 Graduando em Licenciatura em Teatro do IFCE. Integrante do EmFoco Grupo de Teatro
2 Teatro da Vertigem 4. A pesquisa da estética continuou-se com o intercâmbio cultural desenvolvido através do deslocamento do corpo de direção até São Paulo. Nesse período, foi possível colher matérias juntamente com o Teatro da Vertigem, além do Grupo Teatro de Narradores 5 e da Cia. Artehúmos 6. Com todo o material recolhido e a pesquisa teórica em andamento, continuamos a desenvolver as cenas, porém já fazendo a utilização de elementos da realidade para serem anexados a dramaturgia cênica. Todo o processo de criação do espetáculo durou dez meses e a peça estreou em agosto de Como corpos de análise, comentaremos e avaliaremos apenas duas cenas do espetáculo, cenas essas onde a da realidade do cotidiano posta na peça através da por utilização de Mídias Eletrônicas, nesse caso uma televisão e a internet. Para tal coisa faz-se necessário um breve relise do espetáculo: Célia, Teresa e Elisabete são três mulheres do século XXI que atravessaram o período pós-feminista sem perder as funções de mãe e de esposa. Três Mulheres que pressionadas pelo o acúmulo das atividades domésticas, pressão psicológica da sociedade e da mídia desenvolve neuroses que culminam entre a sanidade e a loucura, ficando na linha tênue da própria realidade. Além de uma rápida explicação sobre a estrutura da encenação: A peça é realizada em um espaço alternativo, uma casa, o público tem a liberdade de andar entre os cômodos acompanhando as personagens em suas atividades corriqueiras e revelações psicológicas. Após essa breve explanação do espetáculo, iniciarmos nossa analise por meio da cena onde a mídia televisiva é utilizada. Nessa parte da peça, todas as três atrizes estão na sala da casa, em uma ordem cronologia de cenas essa seria a terceira. O público estar distribuído ao redor das atrizes, algumas pessoas estão de pé, outras estão sentadas nas cadeiras ou no sofá próximo as personagens. Essa proximidade publico-atriz, possibilita que o espectador se sinta a vontade e possa viver essa experiência teatral e não somente observa-la. 3 Esse Teatro de vivencias e situações públicas não pretende, evidentemente, representar alguma coisa que não esteja ali. Ao contrário, a tentativa é de escapar do território especifico da reprodução da realidade para tentar anexação dela, ou melhor, ensaiar sua presentação sem mediações. (FERNANDES, 2010, p.85) 4 Grupo paulista criado em 1991, tendo seu primeiro espetáculo O Paraíso Perdido, desenvolvido em 1992, com a direção de Antonio Araujo. 5 Grupo paulista criado em 2000 que tem como base estética o Brecht. 6 Grupo paulista que tem como diretor o pesquisador e escritor Evill Rebouças.
3 A utilização da televisão nessa cena, desde sua concepção, por parte da direção do espetáculo, é um constante problematizarão, pois o objetivo inicial do emprego desta media era o de colocar o espectador em uma zona de borramento entre a realidade e a ficção do espetáculo a partir da contemplação da real programação das redes de comunicação. A conclusão dessa ideia ainda encontra-se em andamento, pois em uma visão mais tradicional de cena, o ator seria sempre o foco da construção dramática, mas quando pensamos a utilização de mídias eletrônicas, não apenas como planos de fundo de um espetáculo, temos que alterar nossa compreensão de hierarquia da cena, pois a justaposição do real e do virtual com efetiva interação sem hierarquia, interroga as noções tradicionais de real e de presença do peformer. Isto porque, na medida em que o ser vivo torna real a imagem imaterial, a imagem imaterial torna irreal o ser vivo (ISAACSSON, 2008) Porém essa perspectiva ainda é bastante difícil de ser compreendida tanto por parte dos espectadores, que normalmente entende o teatro como o local do ator, mas também por parte dos atores, que seja por uma questão de egocentrismo ou por não estarem acostumados com esse tipo de atuação, sempre tendem a desenvolver ações que tragam o foco para eles. Nessa cena as atrizes, por ainda estarem experimentando essa nova forma de atuação, costumam desenvolver ações que acabam deixando a televisão um pouco em segundo plano, o que faz o espectador não sentir de forma completa essa interferência do real na ficção, por esse motivo em normalmente o publico observa mais atentamente os movimentos das atrizes sem observar mais atentamente a programação da TV o que o deixaria em uma imersão da realidade, mesmo estando em uma zona dita ficcional. A segunda cena que iremos analisar é a que fazemos uso da internet para trazer ao espetáculo mais uma possibilidade de borramento da realidade com a ficção. Nessa cena que em ordem cronologia seria a sétima cena do espetáculo, o público observa a personagem Teresa entrar em uma sala de bate papo da UOL e tentar encontrar algum homem que fique nu para ela.
4 O público, ao mesmo tempo em que ver a personagem sentada em uma cadeira digitando em um notebook, também tem na parede a projeção do que ela esta fazendo na internet. Nessa cena é importante perceber que mesmo que a atriz realiza algum tipo de ação, o espectador não a hierarquiza como o foco da cena, seja pela questão de haver uma projeção, o que já por si já chamaria a atenção, ou seja, por se tratar de uma cena onde a nudez convida o espectador a ficar intrigado. Por esse motivo, diferente da primeira cena comentada nesse trabalho, não percebemos que a utilização da mídia, venha a ficar quase que em segundo plano, pois há realmente um descolar da visão do espectador tanto para a observação das ações realizadas pela atriz e seus comentários a respeito dos homens que estão falando com ela na internet, quanto para a projeção da imagem realizada através do DataShow, mostrando ao vivo a imagem de pessoas que estejam se utilizando daquela rede de comunicação. Esse desenquadramento da encenação obriga o espectador a escolher o direcionamento do seu olhar. Essa exigência transforma a relação do espectador como a obra, passando da posição de estar diante de uma obra para estar no contexto da obra. (ISAACSSON, 2009) Com base nessas duas cenas, podemos chegar a algumas conclusões que com certeza não são fechadas, mas que podem nortear uma melhor forma de se pensar a utilização das mídias dentro do espetáculo aqui descrito, além de outros projetos que possam ter a mesma proposta. A primeira conclusa é de que muito rapidamente a utilização de uma mídia eletrônica dentro de um espetáculo, pode vim a ser usado meramente como cenário, por isso, é importante experimentar varias e varias vezes, além de repensar os conceitos de hierarquização na cena. Uma segunda conclusão que podemos perceber seria a de que quando colocamos um corpo midiático em cena, ele é elemento compositor da cena e quando bem utilizado possibilita mudanças na recepção do espectador, seja colocando-o em um local de coautor da cena, pois a ele é oferecida a possibilidade de construir os links da forma que quiser, seja o proporcionando uma
5 experiência de borramento entre a realidade cotidianos e a ficção, o que provoca uma nova forma degustar a arte. Referências: COHEN, Renato. Performance Como Linguagem. 2º Ed. São Paulo: Perspectiva, FERNANDES, Sílvia. Teatralidades contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, ISAACSSON, Marta. Provocações das novas tecnologias de imagem à criação do ator Disponível em: %20Provocacoes%20das%20Novas%20Tecnologias%20de%20Imagem%20a%20Criacao %20do%20Ator.pdf, Fluxos de imagens videográficas e seu modo operatório sobre a cena Disponivel em: %20de%20imagens%20videogr%e1ficas%20e%20seu%20modo%20operat%f3rio%20sobre %20a%20cena.pdf
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