CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR
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- Márcia Sousa Valgueiro
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1 PROTOCOLO N.º: OBJETO: Dupla Alienação de Imóvel. INTERESSADO: GERSON SENHOR GERSON: 1. Cuida-se de consulta encaminhada pelo senhor Gerson, via , em , a respeito da dupla alienação de um imóvel por escrituras públicas firmadas no mesmo tabelionato. Relata o solicitante que determinada senhora, já falecida, adquiriu, no ano de 1988, uma casa mediante escritura pública de compra e venda. Após o falecimento dessa mesma senhora, o antigo dono do imóvel teria vendido novamente a casa para um terceiro, também através de escritura pública de compra e venda firmada no mesmo tabelionato da anterior. Entretanto, antes da assinatura do referido documento, os herdeiros da primeira adquirente tomaram conhecimento da segunda alienação do imóvel e informaram o tabelionato e o novo comprador sem sucesso. Consta que os herdeiros receberam do escrivão a informação de que a escritura pública firmada em 1988 não teria mais Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)
2 validade e que a culpa da segunda venda do bem - dita ilegal - seria dos vendedores. Consta, também, que os herdeiros manejaram pedido de inventário, que consta na matrícula como proprietária do bem a COHAPAR, bem como que, segundo o solicitante, o tabelionato não verificou a existência de arquivos correlatos ao imóvel antes de lavrar a segunda escritura pública de compra e venda. narrado. Pugna o solicitante por uma orientação diante do caso É o que cumpria relatar, passo à manifestação. 2. A partir das informações presentes na consulta, sabese que o imóvel em questão está matriculado no Registro de Imóveis em nome da COHAPAR. Desse modo, é possível afirmar que a COHAPAR é quem possui o domínio sobre o bem, na medida em que a propriedade se comprova com o registro na matrícula do imóvel (cf. art do Código Civil de 2002). Com base nisso, acredita-se que o negócio jurídico firmado entre a senhora, já falecida, e o vendedor representado na escritura pública firmada em 1988 seja de cessão de direitos reais sobre imóvel, haja vista que o alienante não detinha o domínio do bem para dispor dele, o qual pertencia como já visto à COHAPAR. Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)
3 O mesmo pode-se dizer em relação à segunda escritura pública celebrada entre o vendedor e o terceiro após o falecimento da senhora, a qual, muito provavelmente, também foi de cessão de direitos reais sobre o imóvel. Não se tem notícia de que alguma das escrituras públicas tenha sido averbada na matrícula do imóvel de modo que, se assim o for, o direito real nelas representada não foi adquirido pela senhora em Tem-se, pois, que se não houve o registro da escritura pública na matrícula do imóvel, vale frisar - a senhora que firmou a escritura pública em 1988 e, por vocação hereditária, os seus herdeiros detém apenas um direito de crédito em face do vendedor. Confira-se no art do Código Civil de 2002: Art Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts a 1.247), salvo os casos expressos neste Código. Grifou-se. doutrina: Para melhor compreensão da questão, destaca-se da (...) Para nós, o registro é constitutivo do direito real sobre coisa imóvel. É ele que converte o título, gerador de simples direito de crédito, em direito real, irradiando seus efeitos contra todos (...) (...) Vigora a máxima prius in tempus, mellior in jus, de modo que o título, que traduz simples relação de crédito, converte-se em direito real e ganhar Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)
4 eficácia contra terceiros no exato momento no qual é prenotado no registro imobiliário (...) 1 Grifou-se. Por certo que, ainda que a primeira escritura pública de compra e venda não tenha sido averbada na matrícula do imóvel, o vendedor não poderia ter alienado, novamente, o mesmo direito real na medida em que ele não mais o pertencia. Tal comportamento, além de ferir os princípios da boa-fé objetiva e da confiança do negócio jurídico, pode, eventualmente, ensejar a decretação de nulidade da segunda escritura pública de compra e venda por absoluta ilegalidade do objeto (art. 166, inciso II, do Código Civil de 2002), bem como caracterizar o crime de estelionato (cf. art. 171, 2, inciso I, do Código Penal). Razão pela qual, sugere-se ao solicitante que os herdeiros da senhora que firmou a escritura pública em 1988 procurem a Promotoria das Comunidades da sua localidade, acompanhados de documentos, a fim de prestarem declaração sobre o ocorrido possibilitando que a promotoria de justiça especializada encaminhe os fatos para análise pela Promotoria de Inquéritos Policiais, se assim julgar conveniente. Relativamente à esfera cível, aconselha-se os interessados se ambas as escrituras públicas firmadas pelo vendedor não tiverem sido averbadas na matrícula do imóvel até o momento que procedem ao registro do documento no cartório imobiliário competente, haja vista que na hipótese de concurso entre títulos contraditórios vigora o 1 PELUSO, Ministro Cezar e outros. Código Civil Comentado. 5ª Ed., Manole, 2011, p.(s) Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)
5 princípio da prioridade - o qual determina que documentos se graduam de acordo com a ordem de anotação no registro imobiliário. Se, por ventura, a segunda escritura pública de compra e venda já tiver sido averbada na matrícula do imóvel, a discussão sobre a sua validade e sobre os efeitos do título que detém os herdeiros da senhora deverá ser resolvida no Poder Judiciário. 3. Diante dos questionamentos formulados e dos dados fornecidos à esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das Fundações e do Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entende adequados. Persistindo quaisquer dúvidas, poderá o solicitante encaminhar novos questionamentos. Curitiba, 02 de agosto de TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI Procuradora de Justiça Coordenadora Samantha Karin Muniz Estagiária de Direito e Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)
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