DORACI DA LUZ GONSALVES UM ESTUDO DA TOPONÍMIA DA PORÇÃO SUDOESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ACIDENTES FÍSICOS E HUMANOS

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1 DORACI DA LUZ GONSALVES UM ESTUDO DA TOPONÍMIA DA PORÇÃO SUDOESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ACIDENTES FÍSICOS E HUMANOS TRÊS LAGOAS - MS 2004

2 2 DORACI DA LUZ GONSALVES UM ESTUDO DA TOPONÍMIA DA PORÇÃO SUDOESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ACIDENTES FÍSICOS E HUMANOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras, Nível de Mestrado, Área de Concentração em Estudos Lingüísticos, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Profª. Drª. Aparecida Negri Isquerdo TRÊS LAGOAS - MS 2004

3 3 DORACI DA LUZ GONSALVES UM ESTUDO DA TOPONÍMIA DA PORÇÃO SUDOESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ACIDENTES FÍSICOS E HUMANOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, Nível de Mestrado, Área de Concentração em Estudos Lingüísticos, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Aprovada em de 2004 BANCA EXAMINADORA Profª. Drª. Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick Universidade de São Paulo USP Profª. Drª. Maria Emília Borges Daniel Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Profª. Drª. Aparecida Negri Isquerdo Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS Orientadora

4 Dedico este trabalho à minha família, que sempre esteve comigo, dando-me estímulo, incentivo, amor e amizade, o que foi imprescindível para que eu não desanimasse nos momentos mais difíceis. 4

5 5 AGRADECIMENTOS Deixo aqui registrado o meu mais sincero obrigado: à minha orientadora, Professora Doutora Aparecida Negri Isquerdo, que soube reconhecer as minhas limitações e com firmeza e dedicação me orientou e me incentivou para a finalização deste trabalho; à professora Doutora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick e à professora Doutora Maria Emília Borges Daniel, pelas tão proveitosas informações fornecidas no Exame de Qualificação deste trabalho; aos professores dos cursos de História e Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS de Dourados, que tão gentilmente disponibilizaram materiais bibliográficos para esta pesquisa; ao meu querido e melhor amigo Márcio Antônio Maciel a quem devo o grande incentivo para adentrar nessa nova caminhada acadêmica; à minha amiga e colega do Mestrado Marilze Tavares com quem dividi minhas angústias e dificuldades; à minha irmã, Roseli da Luz Gonsalves, que esteve presente durante os dois anos do curso de Mestrado, colaborando com sua amizade e incentivo; ao João Batista da Silva Vieira, que se revelou um grande amigo; à minha amada mãe, Geruza A. da Luz Gonsalves, que me incentivou, dedicou-me carinho e compreensão; ao meu pai, Ailton Gonsalves, que mesmo longe não deixou de me dar seu apoio e amor, deixando claro que eu poderia contar com ele para qualquer coisa. aos meus irmãos Aildo da Luz Gonsalves e Amarildo da Luz Gonsalves com quem pude e posso contar em todos os momentos; ao meu irmão e amigo Jeferson pelo amor, pelo auxílio, pela força e, principalmente, pela amizade que nos une.

6 6 RESUMO A Toponímia é uma disciplina que tem como objeto de estudo o topônimo, nome próprio de acidentes físicos e humanos, e como um de seus princípios básicos a análise da relação língua-cultura-sociedade manifesta do processo de nomeação de acidentes geográficos. Este trabalho priorizou o estudo dos nomes dos acidentes geográficos que integram três microrregiões de Mato Grosso do Sul Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02) e Bodoquena (MR 09) e objetivou catalogar, classificar e analisar os nomes dos acidentes físicos e humanos coletados nas microrregiões investigadas; evidenciar fatores lingüísticos, sócio-histórico-culturais e geográficos que poderiam ter influenciado o topônimo em sua gênese; recuperar estratos lingüísticos de base indígena na toponímia coletada. Orientou o estudo a seguinte hipótese: a toponímia preserva particularidades lingüísticas, sóciohistórico-culturais e geográficas da região que influenciaram o denominador no ato da nomeação. A coleta de dados foi realizada por meio de consulta a cartas topográficas do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1987), escala 1: A recolha e a classificação dos topônimos que compõem o corpus da pesquisa seguiram, fundamentalmente, as orientações teórico-metodológicas de Dick (1992). Os resultados da pesquisa apontaram para uma maior influência de condutas motivadoras de ordem física, haja vista que foram registradas, como taxes mais produtivas, os fitotopônimos (19,19 %), os zootopônimos (13,98 %) e os hidrotopônimos (13,03 %), o que demonstrou que a flora, a fauna e as correntes hídricas regionais refletiram significativamente na nomenclatura geográfica. Exemplificam esse resultado: povoado Carandazal (AH), lago Paratudal (AF), corixo Seriema (AF), córrego Arara (AF), lagoa Baía do Miranda (AF), córrego Salobra (AF). Verificou-se também que a principal atividade econômica da região, a pecuária, deixou suas marcas na toponímia investigada: morro do Malhadão (AF), córrego do Boi (AF); também foi significativa a presença de taxes de natureza antropocultural, como os antropotopônimos (6,63 %), que parecem resgatar dois momentos históricos relacionados ao Estado: garantia de posse e defesa das terras por ocasião da Guerra do Paraguai: município de Guia Lopes da Laguna (AH), distrito de Camisão (AH); os hagiotopônimos (6,63 %), que refletem a mentalidade religiosa herdada dos colonizadores: colônia São Lourenço (AF), rio Santo Antônio (AF), e os animotopônimos (5,45 %) que evidenciam um estado de espírito positivo frente à realidade, o que parece ser fruto da influência da beleza do ambiente natural: córrego Formoso (AF), sanga Bonita (AF). Em síntese, a toponímia estudada evidenciou que a principal fonte motivadora para os designativos foi o ambiente físico-social, seguido da influência de condicionantes de natureza sócio-histórica. Além disso, os dados confirmam que o topônimo preserva a realidade lingüística do habitante da região, o que foi constatado pela presença de nomes de base guarani e guaikuru que recuperam etnias que viveram ou ainda vivem no espaço investigado. Palavras-chave: léxico; toponímia; realidade; meio ambiente; microrregião; Mato Grosso do Sul.

7 7 ABSTRACT Toponymy is a discipline which has as its objective the study of toponyms, proper names given to natural and man-made geographic features, and has as one of its basic principles an analysis of the linguistic-cultural-social aspects of the process of naming these features. This study seeks to study the names of the geographic features that make up three micro-regions of Mato Grosso do Sul - Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02) and Bodoquena (MR 09). It seeks to catalog, classify and analyze the names of the natural and man-made features found in these micro-regions; find evidence of linguistic factors, social-historical-cultural factors and geographic factors which could have influenced the choosing of names; and find the traces of linguistics based on indigenous languages in the names collected. The study is based on the following hypothesis: toponyms preserve linguistic, social-historic-cultural and geographic factors which influenced the person who gave these names, and the actual act of naming. The data was collected by means of consulting topographic charts of the IBGE - Brazilian Institute of Geography and Statistics - (1987), scale 1: The collection and classification of the toponyms that compose the body of the research followed the methodology of Dick (1992). The results of the research pointed to a major influence of physical features in the naming prices, seeing that the most productive categories were the phytotoponyms (19,19 %), the zootoponyms (13,98 %) and the hidrotoponyms (13,03 %), which demonstrated that the flora, fauna and waterways of the regions were reflected significantly in the naming of these geographical features. Examples of these results: the town of Carandazal (ALL), lake Paratudal (AF), Seriema (AF) creek, Arara (AF) stream, lake Bay of Miranda (AF), and Salobra (AF) creek. It was also verified that the principle economic activity of the region, cattle raising, left its mark on the investigated toponyms: Malhadão (AF) hill, Boi (AF) stream; also significant was the presence of names from nature and anthropolgy, called antropotoponyms (6,63 %), that seem to rescue two historic moments of the state: the take-over and defense of the land during the War with Paraguay; the town of Guia Lopes da Laguna (AH), the district of Camisão (AH); the hagiotoponyms (6,63 %), that reflect the religious mentality inherited from the colonizers: São Lourenço (AF) colony, Santo Antonio (AF) river, and the animotoponyms (5,45 %) that give evidence to the positive spirit in the face of reality, a spirit that seems to be an influence of the beauty of nature: Formoso (AF) stream, Bonita (AF) gultch. Em conclusion, the toponym studies showed that the principle motivation for the names was the physical-social environment, followed by the the influence of social-historical conditions. Beside this, the data confirms that toponyms preserve a linguistic reality for the habitants of a region, which was seen by the presence of names with a guarani and guaikuru basis that bring to mind peoples that lived or still live in the investigated regions. Key words: lexicon, toponymy, reality, environment, micro-region, Mato Grosso do Sul

8 8 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE ABREVIATURAS INTRODUÇÃO CAPITULO I FUNDAMENTOS TEÓRICOS Estudos toponímicos: antecedentes e conseqüentes Modelos de classificação: contribuições O signo lingüístico em função toponímica e a motivação CAPÍTULO II ASPECTOS FÍSICO-GEOGRÁFICOS E SÓCIO- HISTÓRICOS DE MATO GROSSO DO SUL Aspectos físico-geográficos de Mato Grosso do Sul A porção Sudoeste e a povoação de Mato Grosso do Sul Pós-guerra: a reconstrução dos povoados das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) CAPÍTULO III APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Considerações preliminares: o corpus toponímico Apresentação dos dados Análise dos dados Análise dos designativos das microrregiões e dos municípios estudados Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01): Corumbá, Ladário e Porto Murtinho Microrregião de Aquidauana (MR 02): Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti e Miranda Microrregião de Bodoquena (MR 09): Bela Vista, Bodoquena, Bonito, Guia Lopes da Laguna, Caracol, Jardim e Nioaque Análise dos topônimos segundo as taxes mais produtivas Apresentação e análise dos dados segundo a classificação taxionômica Fitotopônimos

9 Zootopônimos Hidrotopônimos Hagiotopônimos Antropotopônimos Estratos lingüísticos presentes na toponímia da porção Sudoeste de Mato Grosso do Sul: algumas considerações Considerações finais Referências Anexos Anexo I Lista de Topônimos analisados por Schneider (2002) Anexo II Mapa Mato Grosso do Sul: regiões pesquisadas Anexo III Mapa Mato Grosso do Sul: divisão político-administrativa e microrregional Anexo IV Mapa Estado de Mato Grosso do Sul: vegetação Anexo V Mapa Mato Grosso do Sul: caminhadas históricas

10 10 LISTA DE QUADROS Quadro I Indicação do recorte toponímico pesquisado por Schneider (2002) e por Gonsalves (2004) Quadro II Topônimos da Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01) Quadro III Topônimos da Microrregião de Aquidauana (MR 02) Quadro IV Topônimos da Microrregião de Bodoquena (MR 09) Quadro V Distribuição quantitativa das taxes toponímicas nas microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09)- 103 Quadro VI Total geral dos fitotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Quadro VII Total geral dos zootopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Quadro VIII Total geral dos hidrotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Quadro IX Total geral dos hierotopônimos e dos hagiotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Quadro X Total geral dos antropotopônimos das microrregiões do Baixo pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09)

11 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico I Distribuição percentual dos topônimos por categorias taxionômicas Gráfico II Distribuição percentual do total geral dos topônimos investigados Gráfico III Distribuição percentual de estratos lingüísticos presentes na taxe dos fitotopônimos Gráfico IV Distribuição percentual de designativos com nomes de peixe e em relação aos nomes de outros animais na taxe dos zootopônimos Gráfico V Distribuição percentual dos estratos lingüísticos presentes na taxe dos zootopônimos Gráfico VI Quantificação percentual da estrutura morfológica dos hidrotopônimos Gráfico VII Estratos lingüísticos registrados na toponímia investigada

12 12 LISTA DE ABREVIATURAS Taxes de natureza antropocultural Animo animotopônimo Antropo antropotopônimo Axio axiotopônimo Coro corotopônimo Crono cronotopônimo Eco ecotopônimo Ergo ergotopônimo Etno etnotopônimo Dirremato dirrematopônimo Hiero hierotopônimo Historio historiotopônimo Hodo hodotopônimo Numero numerotopônimo Polio poliotopônimo Sócio sociotopônimo Somato somatotopônimo Taxes de natureza física Astro astrotopônimo Cardino cardinotopônimo Cromo cromotopônimo Dimensio dimensiotopônimo Fito fitotopônimo Geomorfo geomorfotopônimo Hidro hidrotopônimo Lito litotopônimo Meteoro-meteorotopônimo Morfo morfotopônimo Outras abreviaturas: AH acidente humano AF acidente físico MR microrregião SC sem classificação Nomes dos municípios An Anastácio Aqu Aquidauana BV Bela Vista Bod Bodoquena Bon Bonito

13 13 Car Caracol DIB Dois Irmãos do Buriti GLL Guia Lopes da Laguna Jar Jardim Mir Miranda Nio Nioaque PM Porto Murtinho Línguas LAFR língua africana LE língua espanhola LG língua guarani LGK língua guaykuru LP língua portuguesa LT língua tupi NE não encontrada

14 14 INTRODUÇÃO A Toponímia, ciência que estuda os nomes próprios de acidentes físicos e humanos, tem se configurado como um campo rico para pesquisas, uma vez que os topônimos, além de distinguirem, identificarem os acidentes de um determinado espaço geográfico, também se constituem como verdadeiros testemunhos históricos, podendo registrar fatos e ocorrências de momentos diferentes da vida de uma população, razão pela qual o nome adquire um valor que transcende ao próprio ato da nomeação. Assim, se a toponímia de uma região pode ser considerada como a crônica de um povo, registrando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo configura-se como o instrumento dessa projeção temporal, como pondera Dick (1990, p. 22). Nesse sentido, compartilhamos da idéia de que a toponímia não só pode atuar como fonte de conhecimento sobre a presença de grupos étnicos em uma dada região, sobre acontecimentos históricos, influências interculturais, costumes, informações sobre a língua falada na região quando o acidente foi nomeado como também, proporcionar informações acerca do que era mais importante para o grupo em um dado momento, isto é, a motivação que pode estar preservada no signo toponímico e que pode, muitas vezes, revelar a visão de mundo de um grupo. Pesquisas têm demonstrado a importância de estudos de nomes geográficos como fonte de conhecimento de um grupo. Dauzat (apud DICK, 1992, p. 5), por exemplo, estudou a formação dos nomes de alguns territórios em tempos históricos e observou que os lugares eram nomeados com o nome de seus proprietários, o que revelava uma maior valorização do indivíduo em detrimento da terra. Assim, os nomes de territórios se formavam a partir da derivação do nome de seus habitantes como, por exemplo, Hispânia, terra dos hispânicos; Gália, dos gauleses; Germânia, dos germânicos; Itália, dos ítalos. No Brasil, merece registro o trabalho de Drumond (1965) que investigou a toponímia dos índios Bororo da Região Centro-Oeste do Brasil. Essa pesquisa evidenciou a valorização dos animais na nomenclatura geográfica do grupo, refletindo o gênero de vida de uma

15 15 sociedade de caçadores, que tinha na caça importante fonte sobrevivência (DICK, 1992, p. 38). Essa pesquisa demonstra que a cultura do grupo reflete-se na nomenclatura geográfica. A pesquisa do chileno Mario Bernales Lillo (1990) que, ao estudar a toponímia de origem mapuche e a sua substituição por nomes hispânicos, no Chile, evidenciou a visão de mundo do grupo perpetuada na toponímia. Os mapuches, por exemplo, elegeram, principalmente, características do seu meio natural para nomear os acidentes, já que necessitavam orientar-se no espaço geográfico e marcar onde poderiam viver e se alimentar. Desse modo, a valorização da natureza se reflete nos nomes geográficos, na recuperação das formas do lugar, dos animais, da flora, das correntes hídricas, das nascentes, da cor d água na nomenclatura geográfica. Atualmente, registra o autor, essa toponímia está mais concentrada na área rural. A toponímia de origem hispânica revela tanto a presença de nomes próprios relacionados à guerra, a personagens ilustres ou relacionados ao pensamento cristão, como a referência aos cursos dos principais rios, aos portos marítimos, lugares onde os espanhóis construíram fortificações (1996, p. 740). Ao ser considerada como a crônica de um povo, a Toponímia, em uma análise mais profunda de seus objetivos, ganha uma dimensão maior do que a simples investigação dos designativos geográficos em sua bipartição física e humana, à medida que a nomenclatura de um espaço geográfico pode conservar aspectos culturais, sociais, bem como reflexos da mentalidade do homem, em uma época e um tempo determinados. Assim, as condições ambientais podem condicionar a percepção da realidade (DICK, 1992, p.119). Ao mesmo tempo, essa percepção da realidade poderá influenciar a nomeação de um acidente, uma vez que o homem primeiramente percebe, conhece, para depois nomear o referente (BLIKSTEIN, 1990, p 39). Consoante à perspectiva de que o ato da nomeação pode sofrer influência de elementos extralingüísticos, a investigação toponímica torna-se relevante por possibilitar o levantamento de informações, se não em sua totalidade pelo menos em parte, de aspectos sócio-histórico-culturais de um grupo alocado em um determinado espaço geográfico, bem como da língua falada nessa região, pois, como atesta Dick (1999, p. 120), é pela conjunção de várias condicionantes lingüísticas ou de diversos dialetos e falares presentes em um determinado território, que se estrutura o léxico regional, considerando não só as tendências normalizadoras da língua-padrão como presença de minorias étnicas ainda participativas ou, mesmo, como dado documental, porque já extintas. A Toponímia, principalmente serve-se dessas circunstâncias de base, equivalente ou próxima de um substrato vocabular, para aí deitar suas raízes, aproveitando-se do material lingüístico que mais se adeqüe à configuração

16 16 dos conceitos que deve transmitir. Uma nomenclatura local, ou uma cadeia onomástica que interage com vários segmentos culturais, num aparato semiótico de relações e procedências diversas, constitui, realmente, uma base de pesquisa lingüística altamente produtiva (grifo nosso). Dessa maneira, concebendo a toponímia como um recorte do léxico 1 de uma língua que pode revelar aspectos da realidade sócio-histórico-cultural de um grupo, este trabalho busca investigar os topônimos de 03 (três) microrregiões 2 localizadas na porção 3 Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul: Baixo Pantanal (MR-01), que engloba os municípios de Corumbá, de Ladário e de Porto Murtinho; Aquidauana (MR-02), que reúne os municípios de Miranda, de Aquidauana, de Anastácio e de Dois Irmãos do Buriti; Bodoquena (MR-09) que agrupa os municípios de Bodoquena, de Bonito, de Nioaque, de Jardim, de Guia Lopes da Laguna, de Caracol e de Bela Vista. Para tanto, valemo-nos como fonte de dados de cartas topográficas do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1987), relativas às três microrregiões estudadas. Neste estudo, consideramos duas hipóteses: 1) o signo lingüístico em função toponímica o topônimo foi influenciado por particularidades sócio-histórico-culturais e geográficas da região que foram preservadas na nomenclatura geográfica dos acidentes físicos e humanos; 2) os topônimos da região estudada revelam estratos lingüísticos oriundos das línguas das diferentes etnias presentes na formação da população que habita e/ou habitou a área geográfica estudada. A opção pelo estudo do recorte dos acidentes físicos e humanos da área pesquisada foi motivada, primeiramente, pelo interesse em investigar como o homem alocado nesse ambiente físico, tendo ao seu dispor as várias possibilidades de designações disponíveis na língua, nomeou os acidentes. Procuramos investigar em que proporção particularidades ambientais como as riquezas naturais a fauna, a flora, a diversidade de cursos d água como 1 - Sapir (1969, p. 45) argumenta que é o léxico de uma língua que mais nitidamente reflete o ambiente físico e social, mas esclarece que o ambiente físico só se reflete na língua na medida em que forças sociais atuarem sobre ele. 2 - O estado de Mato Grosso do Sul é dividido em 11 (onze) microrregiões: Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02), Alto Taquari (MR 03), Campo Grande (MR 04), Cassilândia (MR 05), Paranaíba (MR 06), Três Lagoas (MR 07), Nova Andradina (MR 08), Bodoquena (MR 09), Dourados (MR 10) e Iguatemi (MR 11). Essa divisão, que é pautada nos aspectos histórico-culturais, sociais, econômicos e demográficos dos municípios agrupados, foi proposta pelo IBGE e por órgãos de planejamento do Estado (RAVAGNANI E RASLAN, s/d, p. 41). Para a visualização das 03 (três) microrregiões em exame, vide mapa Divisão políticoadministrativa e microrregional de Mato Grosso do Sul, na seção de anexos. 3 - O termo porção está sendo utilizado nesta pesquisa para designar a divisão do território localizada ao noroeste, ao oeste e ao sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, onde estão localizadas as microrregiões em estudo: Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02) e Bodoquena (MR 09). Vide mapa Mato Grosso do Sul: divisão político-administrativa e microrregional, no anexo IV, deste trabalho.

17 17 rios, córregos, corixos, vazantes 4, que compõem o cenário da região 5 e os condicionantes sócio-histórico-culturais relativos a essa área geográfica, influenciaram o sistema de nomeação dos acidentes geográficos. Em segundo lugar, pela conseqüente contribuição que os resultados desta pesquisa 6 poderão fornecer para o registro científico da toponímia da localidade. Vale destacar, também, que a área investigada abrigou, no passado, inúmeras etnias indígenas. Em 1842, por exemplo, ainda habitavam a então Província de Mato Grosso, mais especificamente a porção Sudoeste do atual estado de Mato Grosso do Sul, os grupos Guaikurus, divididos em Kadiuéus, Beaqueos, Catoguéos e Guatiedeós; os Guanás, divididos em Layanas, Terenas e Kinikanaós; os Guaxys e Guatós 7 (VASCONCELOS, 1999, p. 66), hoje, em sua maioria, extintos. A área pesquisada foi também o principal caminho dos bandeirantes 8 e depois dos monçoeiros 9 no desbravamento do Norte e do Sul da Região Centro-Oeste. Trata-se do território onde se deu o início da colonização do atual estado de Mato Grosso do Sul. Constituiu-se, ainda, no berço dos acontecimentos da Guerra do Paraguai conflito que envolveu o Brasil, a Argentina e o Uruguai contra o Paraguai. Essa guerra iniciou-se em 1864 e terminou em 1870, com a vitória da Tríplice Aliança entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai sobre aquele País. 4 - Vazante é uma porção de campo em terreno baixo e úmido, temporariamennte alagado, na época das cheias. Na região, a denominação vazante permanece mesmo que as sequem, no local (NOGUEIRA, 2002, p. 151). 5 - Neste trabalho, utilizamos o termo região em sentido amplo, para designar o conjunto das três microrregiões em pesquisa: do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09). 6 - Esta pesquisa também fornecerá dados para o Atlas Toponímico do estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS), projeto em desenvolvimento na UFMS, a par de outras pesquisas de dissertações de Mestrado (Programa de Mestrado em Letras da UFMS) sobre a toponímia de Mato Grosso do Sul já concluídas Um olhar sobre os caminhos do Pantanal sul-mato-grossense: a toponímia dos acidentes físicos (SCHNEIDER, 2002) e Entre buritis e veredas: o desvendar da toponímia do Bolsão sul-mato-grossense (DARGEL, 2003) e em andamento toponímia das regiões Sul e Norte do Estado. 7 - Como são variadas as formas de registro das denominações das etnias indígenas, neste trabalho, adotamos a forma adotada na obra de Vasconcelos (1999). 8 - As Bandeiras podem ser classificadas segundo o objetivo de cada uma: o econômico que se caracterizou pela busca de índios para o trabalho escravo nas minas brasileiras e a busca de metais preciosos como prata, ouro, diamantes; a de demarcação de territórios; e a de catequese que se caracterizou pela formação de aldeias chefiadas por jesuítas para catequizar os indígenas conforme os padrões religiosos dos portugueses, o Cristianismo (RICARDO, 1940, p. 30). Neste trabalho, tomou-se o termo bandeira como designação de entradas de grupos chefiados primeiramente pelos portugueses e, em meados do século XVI, por sertanistas paulistas em territórios de Mato Grosso com o objetivo de aprisionar índios e conhecer a região, entre o século XVI e início do século XVIII. 9 - De acordo com Holanda (1986, p. 63), bandeiras paulistas ou monções paulistas designavam grupos de pessoas que vieram para região com o objetivo de povoá-la. Essas monções paulistas tiveram início por volta de 1720, após a descoberta de ouro em Cuiabá. Costa (1999, p. 80), por sua vez, define monções como o nome que era dado às expedições que se faziam no inverno, época em que os rios tornavam-se mais propícios às navegações; e nos séculos XVIII e XIX passou a designar qualquer das expedições que desciam ou subiam rios das capitanias de São Paulo e de Mato Grosso, pondo-as em comunicação. Assim, as viagens dos sertanistas paulistas que ocorreram a partir do ano de 1720 foram denominadas de monções ou bandeiras paulistas.

18 18 Considerando o exposto, a pesquisa objetivou, em uma perspectiva mais ampla, coletar, catalogar e analisar os topônimos dos acidentes físicos e humanos da localidade selecionada como objeto de estudo. E numa perspectiva mais específica, objetivou: a- Classificar os topônimos pesquisados, segundo a taxionomia proposta por Dick (1992), com vistas a buscar a possível motivação da toponímia da localidade em seu conjunto. b- Evidenciar fatores de natureza geográfica, social e cultural, refletidos e preservados nos nomes dos acidentes físicos e humanos que fazem parte da toponímia da região pesquisada. c- Registrar a presença de estratos lingüísticos, principalmente de base indígena, na nomenclatura geográfica do recorte territorial em estudo. Para o levantamento do corpus da pesquisa, foram utilizadas como fonte de coleta de dados as cartas topográficas escala 1: , do IBGE (1987), fornecidas pelo SEPLANCT Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia do estado de Mato Grosso do Sul. Salientamos que a recolha e a classificação dos topônimos que compõem o corpus deste trabalho seguiram as mesmas orientações metodológicas dos projetos do Atlas Toponímico do Brasil (ATB) e do Atlas Toponímico do Estado de São Paulo (ATESP) 10. Como orientações teórico-metodológicas, tomamos como parâmetro princípios teóricos da Toponímia e de disciplinas afins como a Lingüística, a Lexicologia, a Semântica. Já para a classificação e análise dos topônimos pautamo-nos, principalmente, no modelo de classificação taxionômica de Dick (1992), uma vez que se trata de um modelo elaborado para a realidade brasileira e, ainda, por abranger dois planos de motivações dos topônimos: o de natureza física e o de natureza antropo-cultural. A apresentação deste trabalho está organizada em três capítulos. No primeiro abordamos aspectos teóricos e metodológicos que orientaram e orientam investigações toponímicas na Europa, na América do Norte e América do Sul Brasil; contribuições de modelos de classificação de nomes geográficos e, por último, a questão da motivação do signo lingüístico. No segundo, apresentamos informações geográficas e históricas acerca do estado de Mato Grosso do Sul, resgatando fatos históricos pontuais ocorridos desde o século XV até a atualidade. Detivemo-nos em dados mais representativos e pertinentes ao tema da pesquisa, como, por exemplo, o processo de povoamento, as características naturais do meio ambiente, 10 - Projetos em desenvolvimento na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, por uma equipe de pesquisadores coordenada pela professora Maria Vicentina do Amaral Dick.

19 19 como aspectos físico-geográficos do Estado como um todo e relacionados às microrregiões e respectivos municípios em estudo, com o objetivo de resgatar particularidades que pudessem servir de subsídios para a análise do corpus da pesquisa em sua totalidade. Já o terceiro capítulo reúne a apresentação e classificação dos dados do corpus, que foi organizada em quadros que visualizam os topônimos estudados, a língua de origem de cada designativo, a taxe toponímica de acordo com o modelo adotado e, por último, a variante toponímica, nomes anteriores atribuídos ao acidente e resgatados pela bibliografia histórica consultada. Na seqüência, foram analisados os nomes de cada microrregião dos respectivos municípios que compõem cada uma delas. O resultado em valores numéricos e percentuais da classificação taxionômica foi apresentado em forma de quadro e de gráfico que ilustram a distribuição quantitativa das taxes toponímicas nas microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09). Procedimento similar foi adotado para a análise das taxes mais produtivas no corpus estudado, o que evidenciou particularidades registradas na toponímia examinada. Após a análise dos dados, apresentamos as considerações finais, as referências e, por fim, a seção de anexos que contém os seguintes documentos: Topônimos analisados por Schneider (2002) e 03 (três) mapas: Mato Grosso do Sul: divisão político-administrativa e microrregional; Estado de Mato Grosso do Sul: vegetação e Mato Grosso do Sul: caminhadas históricas.

20 20 CAPÍTULO I FUNDAMENTOS TEÓRICOS Estudos toponímicos: antecedentes e conseqüentes Ao olharmos ao nosso redor observamos que tudo possui um nome, o que nos leva, inevitavelmente, a uma segunda constatação: que o ato de nomear é uma característica particular do homem, pois quando nasce uma criança, fabrica-se ou descobre-se algo novo, a primeira iniciativa é a nomeação para que o indivíduo ou o objeto passe a existir para a coletividade, onde o nome funciona como uma chamada à existência. Seguindo o fio histórico da humanidade, o ato de nomear, especificamente os semelhantes e os lugares, foi e é uma estratégia intelectual que o homem encontrou para organizar o mundo, socializar-se e, também, de uma forma simbólica, apoderar-se da realidade que o circunda. Esse ato de nomear não é aleatório, pois cada povo tem as suas especificações no dar nomes e no vivenciar os nomes dados, o que os aproxima do meio motivador e torna os topônimos adequados a uma discussão acadêmica (DICK, 1992, p. 01). A ciência que se ocupa do estudo dos nomes próprios é denominada de Onomástica e se divide em dois campos de investigação: Antroponímia e Toponímia. A Antroponímia, do grego ánthropos (homem) mais o sufixo grego onímia ou onimia (HOUAISS, 2001), constitui-se no ramo da Onomástica que se ocupa do estudo dos nomes próprios de pessoas e é considerada por Dick (2000, p. 218) como um subsistema da Onomástica que tem como objetivo investigar o nome individual, aquele que funciona como uma forma lingüística de distinção do indivíduo na sua comunidade, e a forma parental, que define o indivíduo pelos laços de sangue pelo fato de ser integrante de um grupo familiar. A forma parental é imposta ao indivíduo e hoje se convencionou chamá-la de sobrenome, contrariamente ao prenome, ou nome individual, que é fruto de um ato da vontade e da escolha dos pais. O termo antroponímia foi utilizado pela primeira vez por Leite de Vasconcellos, em 1887, para definir o campo de estudo dos nomes próprios de pessoas: estudo dos nomes individuais, com o dos sobrenomes e apelidos (LEITE DE VASCONCELLOS, 1931, p. 03).

21 21 Já toponímia, unidade léxica de origem grega formada pelo radical tópos (lugar) mais o sufixo -onímia ou onimia (nome), é definida por Houaiss (2001) como parte da Onomástica que estuda os nomes de lugares. O filólogo Leite de Vasconcellos (1931, p. 03) conceituou Toponímia como o estudo dos nomes de sítios, de povoações, de nações, de rios, de montes, de vales, etc, - isto é, os nomes geográficos. Salazar-Quijada (1985, p. 18), por sua vez, define Toponímia como aquella rama de la Onomástica que se ocupa del estudio integral, en el espacio y en el tiempo, de los aspectos geo-históricos, socio-económicos y antropo-lingüísticos, que permitieron y permiten que un nombre de lugar se origine y subsista 11. A toponímia, enquanto corpo disciplinar sistematizado, é bastante recente. A disciplina teve início na Europa, mais especificamente na França, por volta de 1878, tendo como seu precursor August Longnon, que introduziu os estudos toponímicos na École Pratique des hautes-etudes e no College de France. Da segunda pesquisa desse estudioso, resultou a obra Les Noms de Lieu de La France, publicada postumamente em 1912, pelos seus alunos (DICK, 1992, p. 02). A partir dessa obra, considerada clássica na área, muitas perspectivas teóricas têm surgido para orientar as pesquisas toponímicas. Dentre elas, destacamos os estudos de Albert Dauzat (1922) que, retomando os estudos onomásticos de Longnon (1912), realizou uma pesquisa pormenorizada acerca da formação dos nomes de lugares da França, dividindo-os em categorias de nomes de acordo com causas históricas. Os resultados desses estudos estão registrados no livro Les Noms de Lieux Origine et Evolution: Villes et villages pays-cours d eau montagnes lieux-dists 12, obra que nos legou uma forma mais sistematizada de pesquisa na área, por traçar normas a serem seguidas por aqueles que se propusessem a realizar esse tipo de investigação (DICK, 1992, p ). Ainda com referência a Dauzat, vale registrar que sua preocupação na obra em questão foi, num primeiro momento, o estudo da etimologia e a reconstituição histórica de cada topônimo investigado, já que na sua concepção os nomes de lugares são formados pela língua falada à época de sua criação e ao longo do tempo sofrem transformações fonéticas próprias de cada idioma e que eventualmente podem suplantar o idioma originário (DAUZAT, 1928, p. 03): 11 - Utilizaremos a sigla TN (tradução nossa) para indicar as traduções por nós realizadas. Toponímia é aquele ramo da onomástica que se ocupa do estudo integral, no espaço e no tempo, dos aspectos: geo-históricos, sócioeconômicos e antropo-lingüísticos, que permitiram e permitem que um nome de lugar se origine e subsista (TN) A obra Les noms de lieux. Origine et évolutio:villes et villages pays cours d eau montagnes lieux-dits, do francês Albert Dauzat, foi publicada pela primeira vez em Neste trabalho utilizamos a edição de 1928.

22 22 Les noms de lieux ont été formés par la langue parlée dans la región à l époque de leur création, et ils se sont transformés suivant les lois phonétiques propres aux idiomes qui, le cas échéanu, ont pu supplanter tour à tour l idiome originaire 13. No entanto, esse estudioso focalizou também a presença do pensamento coletivo, ao considerar que certas nomeações são espontâneas, como por exemplo, quando um acidente geográfico é denominado pela voz pública, o que é mais freqüente, já que o procedimento mais natural é o de designar o lugar a partir de uma de suas particularidades geográficas mais marcantes (DAUZAT, apud DICK, 1992, p. 49). Pelo exposto, percebemos que os franceses Longnon (1878) e Dauzat (1922) privilegiaram, em suas investigações, aspectos históricos e transformações fonéticas dos nomes. Na verdade, foram principalmente as investigações desses pesquisadores que despertaram o interesse pela toponímia, não só na França como também em outros países da Europa e de outros continentes. No Brasil, por exemplo, consagrou-se como pioneiro nos estudos toponímicos o pesquisador Theodoro Sampaio que investigou a presença do tupi na nomeação dos topônimos brasileiros, cujos resultados foram publicados na obra O Tupi na Geografia Nacional 14, em As investigações desse tupinólogo têm em comum com os estudos franceses a orientação, pois na opinião do brasileiro os estudos etimológicos e históricos se constituem nas primeiras questões para as quais se devem buscar elucidações, já que o topônimo, muitas vezes, pode refletir, em seu significado, características do ambiente em que está inserido. Para defender tal ponto de vista, Sampaio baseia-se na constatação do caráter descritivo de um grande número de nomes de origem indígena em relação às características do espaço geográfico que nomeia (SAMPAIO, 1987, p.178). Outro dado que a investigação etimológica das denominações toponímicas de um espaço geográfico poderia revelar seriam informações acerca das famílias lingüísticas que por ali passaram, bem como as possíveis marcas lingüísticas dessas línguas nos topônimos. Faz-se necessário destacar ainda o trabalho do filólogo José Leite de Vasconcellos, particularmente o seu livro Opúsculos Vol III: Onomatologia 15, publicado em 1931, obra 13 - Os nomes de lugares foram formados pela língua falada à época de sua criação, e eles são transformados segundo as leis fonéticas próprias nos idiomas que eventualmente puderam suplantar o idioma originário.(tn) 14 - A obra O Tupi na Geografia Nacional foi publicada pela primeira vez em Para este trabalho utilizamos a 5ª edição de A obra Opúsculos Vol III: Onomatologia, de José Leite de Vasconcellos contém textos que já haviam sido publicados no final do século XIX, o que situa os estudos desse autor como anteriores aos elaborados pelo francês Dauzat.

23 23 pioneira que apresenta uma considerável pesquisa sobre a onomástica portuguesa. Nela o autor concebe a Glotologia como um ramo da Onomatologia, disciplina que tem como objeto de estudo os nomes próprios. Na obra em questão, além de conceituar Toponímia, apresenta um estudo da origem do topônimo classificado por línguas; estudo das transformações fonéticas e da formação gramatical do topônimo e a divisão de categorias dos nomes segundo as causas que deram origem (LEITE DE VASCONCELLOS, 1931, p. 03). As pesquisas toponímicas realizadas pelos estudiosos mencionados seguem uma orientação basicamente calcada em investigações de cunho etimológico e histórico do signo que se vinculam a um estudo de natureza puramente lingüística dos topônimos. Entretanto, apenas esse enfoque não é suficiente, se considerarmos a toponímia de um espaço geográfico 16 como conservadora das tradições e dos costumes de um povo, ou das características topográficas locais mais sensíveis (Dick, 1990, p. 19). Nota-se que a autora enfatiza a importância de elementos extralingüísticos na construção do significado do topônimo, como a cultura do grupo, além dos aspectos físicos peculiares à geografia local, que podem, também, exercer influência no ato denominativo e estarem preservados no nome do lugar, uma vez que as mudanças nos topônimos são sempre mais lentas que as da língua falada (DICK, 2000, p. 232). Assim, estudar as transformações fonéticas, investigar a origem histórica dos nomes é fazer um estudo lingüístico diacrônico, o que levaria à adoção de uma perspectiva unilateral e estudar-se-ia apenas uma parte desse signo, como atesta Drumond (apud DICK, 1990, p. 21): [...] aspectos importantes na análise dos fatos toponímicos, como a história das transformações dos nomes dos lugares; a sua evolução fonética; as alterações de diversas ordens; a sua relação com as migrações, a colonização, os estabelecimentos humanos e o aproveitamento do solo, os nomes inspirados por crenças mitológicas visando a proteção dos santos ou de Deus, seriam, assim deixados de lado pelos estudiosos. Verificamos, pois, que Dick apóia-se em Drumond e, portanto, compartilham da mesma concepção: a de que a toponímia de um espaço geográfico determinado está relacionada a fatores lingüísticos e extralingüísticos, isto é, o nome do acidente físico ou humano pode ter sido motivado em sua gênese por fatores sociais, culturais, históricos, ambientais, econômicos. Devido, então, as diversas informações que o topônimo pode 16 - Tomamos como base o conceito de espaço geográfico apresentado por Dolfuss (apud DICK, 1990, p. 63): espaço percebido e sentido pelos homens em função tanto de seus sistemas de pensamento como de suas necessidades. [...] Cada grupamento humano possui uma percepção própria do espaço por ele ocupado e que, desta ou daquela maneira, lhe pertence...

24 24 preservar é que ciências como a Geografia, a História e as Ciências Sociais poderiam tomá-lo como objeto de investigação. Ressaltamos, porém, que, se analisarmos o fato toponímico na perspectiva de apenas uma das ciências mencionadas, poderemos incorrer, também, em uma postura unilateral e não será possível atingir a plenitude do fato toponomástico em seu conjunto, já que a toponímia, como área de investigação é concebida antes de tudo [...] um complexo línguocultural, em que os dados das demais ciências se interseccionam necessariamente e, não, exclusivamente (DICK, 1992, p. 16). Esse ecletismo dispensado à toponímia parece, à primeira vista, chocar-se com o ponto de vista de alguns estudiosos como, por exemplo, o de Charles Rostaig (1958, apud DICK, 1992, p. 16) de que a Lingüística é o princípio essencial da Onomástica, princípio que, em um primeiro momento, parece contraditório, pois o que se postula é a intersecção de várias ciências para a investigação do fato toponomástico. Contudo, não o é, pois em sua feição intrínseca a Toponímia deve ser considerada como um fato do sistema das línguas humanas (DICK, 1992, p. 16). Acrescenta-se ainda que, segundo Ullmann (1964, p. 161), o estudo dos nomes próprios já havia se afirmado como um ramo da Lingüística quase independente, com congressos próprios e revistas especializadas, vinculado à uma ciência maior, a Onomástica. Observamos, então, que pelo fato de o topônimo ser um fato da língua, a investigação desse signo em particular perpassa a Lingüística, enquanto signo lingüístico; a História, por se inscrever no cotidiano de um grupo, e a Geografia, pelo fato de o topônimo denominar acidentes físicos com peculiaridades e particularidades naturais do espaço geográfico em que o grupo está alocado. Em face disso, seguindo o pensamento de Dick (1992), estamos concebendo o topônimo como um fato da língua, cujo valor denominativo transcende ao mero fato de identificação, concedendo-lhe o estatuto de verdadeiro documento histórico, vinculado a aspectos de natureza física e antrop-ocultural de uma região. Na seqüência, pontuamos pesquisas que já obtiveram sínteses baseadas em dados mais sólidos da história, da geografia e da língua regional, ao conjugarem, aos estudos lingüísticos do topônimo, dados de ciências como a História, a Geografia e a Antropologia. Na América setentrional, destacam-se dois países: Estados Unidos e Canadá, onde as pesquisas atuais são desenvolvidas tanto por estudiosos da área toponomástica e de outras áreas (como historiadores, geógrafos), quanto por órgãos especializados. Nos Estados Unidos, os resultados dos trabalhos realizados são divulgados na revista Names, publicação oficial da American Name Society que, dentre outros, tem como objetivo o estudo da etimologia,

25 25 origem, significado e aplicação de todas as categorias de nomes: geográfico, pessoal, científico, comercial e popular (DICK, 1992, p 25). Essa revista também conta com a colaboração do renomado pesquisador George Stewart que, no seu clássico trabalho Names Of The Land e A Classification Of The Land (1954), apresenta uma classificação para a toponímia, distribuindo os nomes em nove categorias 17, baseadas nos mecanismos da própria nomeação. Dick (1992, p 25) observa que a aplicabilidade da teoria de Stewart pode não atender a todos os sistemas onomásticos conhecidos, o que conseqüentemente acabaria restringindo o emprego das taxes. Todavia, isto não invalida o mérito deste pesquisador: o de ser o primeiro estudioso a considerar a motivação 18 toponímica como uma das particularidades dos nomes geográficos. Já o Canadá, desde 1966, conta com um grupo de Estudos de Coronímia e de Terminologia Geográfica, associado ao Departamento de Geografia da Universidade Laval, Québec. Esse grupo conta com pesquisadores de várias áreas científicas: lingüistas, historiadores e antropólogos, merecendo destaque a seriedade com que vêm desenvolvendo as pesquisas (DICK, 1992, p. 02). Na América do Sul, destacamos trabalhos realizados no Brasil e na Venezuela. No que diz respeito ao Brasil, nomeamos, primeiramente, o estudo de Levy Cardoso, acerca da influência das línguas aruaque e caribe na toponímia da Amazônia, que resultou no seu livro Toponímia Brasílica (1961). Nesse trabalho, o pesquisador salienta que, por meio do estudo da toponímia de uma região, pode-se elucidar questões étnicas e lingüísticas como migrações indígenas e procedência das diversas famílias de línguas que habitaram determinado lugar (CARDOSO, 1961, p. 20). Outra obra significativa para os estudos toponímicos no Brasil é a Contribuição do Bororo à Toponímica Brasílica (1965), que sintetiza estudo desenvolvido por Carlos Drumond, sobre a contribuição dos bororo da Região Centro-Oeste à toponímia brasileira. Esse pesquisador evidenciou, também, a falta de sistematização metodológica para a pesquisa toponímica, acrescentando que trabalhos realizados sobre a toponímia no Brasil, até então, tinham sido motivados pela curiosidade do estudioso ou para atestar a ocorrência de nomes de origem Tupi na denominação geográfica brasileira (DICK, 1990, p. 04). Entre os estudos mais recentes e representativos no Brasil, estão as pesquisas de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, dos quais destacamos três que, em uma perspectiva mais 17 - As categorias discriminativas ou mecanismos de nomeação, propostos por Stewart, serão focalizados no item 1.2 deste Capítulo A motivação toponímica será tratada no item 1.3 deste Capítulo.

26 26 ampla, visam a uma sistematização metodológica para orientação de pesquisas toponímicas. O primeiro diz respeito ao modelo de classificação 19 taxionômica dos topônimos, publicado em 1992 (DICK, 1992, p ). O segundo trabalho, de igual relevância, é a tese de doutoramento intitulada A Motivação Toponímica e a Realidade Brasileira, defendida em 1980 e publicada em Nesse estudo, Dick apresenta princípios teóricos de investigação toponímica e discute dois planos de investigação, o diacrônico e o sincrônico, considerando que a investigação, na perspectiva do segundo plano, permite o exame das séries motivadoras, que conduziram à elaboração das taxes toponímicas, vinculadas, de modo genérico, aos campos físico e antropo-cultural. Ainda, nesse trabalho, além de formular uma terminologia técnica da matéria, a autora põe em destaque os principais motivos que comandam a organização da nomenclatura geográfica (DICK, 1990, p. 367). E, por fim, merece igual registro a coletânea de artigos de Dick, intitulada Toponímia e Antroponímia no Brasil. Coletâneas de estudo (1992). Os artigos que integram essa Coletânea versam sobre as disciplinas Onomásticas, Toponímia e Antroponímia, dentre esses, o que divulga a última versão do modelo taxionômico concebido pela autora. Na América, há que se destacar, também, o trabalho La Toponímia en Venezuela, de Adolfo Salazar-Quijada (1985) e também a pesquisa Toponímia de Valdívia, do chileno Mario Bernales Lillo (1990). O primeiro apresenta um panorama histórico da Venezuela, destaca a importância do signo lingüístico em função toponímica, como acervo científico e patrimonial de um país e propõe um modelo taxionômico de classificação dos topônimos. Embora registre a importância do modelo classificatório para o tratamento do topônimo, reconhece a limitação dessa proposta e a concebe como não definitiva, justificando que, em termos de taxionomia, há ainda muito que ser discutido pelo modelo por ele apresentado (SALAZAR- QUIJADA, 1985, p. 29). Já o segundo faz uma investigação dos topônimos de origem pré-hispânica ou mapuche, hispânica e germânica da província de Valdívia. A partir de 1986, foi desenvolvida a pesquisa da toponímia das Províncias de Caustín e de Malleco, coordenada, também, por Bernales Lillo, com vistas a um estudo mais direto da toponímia de origem mapuche. Essa investigação foi desenvolvida por uma equipe de estudiosos de várias disciplinas: lingüistas, geógrafos, antropólogos e professores que falavam a língua mapuche. Em 1991, com o objetivo de completar o estudo da toponímia de origem mapuche, estende-se a coleta do 19 - O modelo taxionômico de Dick será discutido no item 1.2 deste Capítulo.

27 27 corpus toponímico para as províncias de Arauco e de Bío-Bío (BERNALES LILLO, 1996, p. 735). Pelo exposto, pudemos acompanhar aspectos do percurso histórico da Toponímia e verificar que essa ciência posicionou-se no meio científico europeu, por longo tempo, como investigação lingüística dos nomes geográficos, pois o estudo do topônimo permitia levantar as transformações fonéticas pelas quais o vocábulo passara, variações ortográficas, além do desaparecimento, da substituição de um nome por outra denominação ou a manutenção de formas consagradas. Mas a questão primordial era, ainda, o fenômeno etimológico, que resultou na busca de um instrumento que permitisse vincular o onomástico a uma filiação genética (DICK, 1987, p. 370), já que os povos em geral, conquistados ou conquistadores, receberam uma escala de valores de grupos distintos. Desse modo, era natural a preocupação com vocábulos mais antigos, pois descobrir seu significado seria como conhecer o povo que o originou e, conseqüentemente, a sua língua, talvez até reconstituí-la nos modelos originários (DICK, 1987, p. 370). Essas pesquisas tinham um cunho mais histórico, até pelo fato de que, em fins do século XIX e início do século XX, ainda pairava, sobre os estudos lingüísticos comparativos, a preocupação com a filiação genética das línguas (LYONS, 1979, p.33-34). Todavia, para que as investigações toponímicas pudessem transpor os limites de estudos lingüísticos a etimologia, a morfologia, a filiação lingüística do nome geográfico; demonstrar características sócio-históricas, econômicas e antropo-culturais de um grupo que podem ser traduzidas em verdadeiras áreas nomenclaturais e revelar os principais motivos que coordenam essa nomenclatura, é que estudiosos se dedicaram a elaborar modelos teóricos para orientar na recuperação de fatores de ordem semântica que poderiam ter influenciado na gênese do topônimo. No item seguinte deste Capítulo, discutiremos propostas de modelos de classificação toponímica, com destaque para o de Dick (1992) e para outros trabalhos que fornecem contribuição, não só com apresentação de propostas de inclusão de novas taxes ao modelo da autora, como também com o registro de recortes regionais da nomenclatura geográfica brasileira. 1.2 Modelos de classificação toponímica: contribuições Limitamo-nos a abordar, aqui, propostas de classificação do nome geográfico mais representativas na Europa, continente que conta com a primazia das iniciativas de estudos na

28 28 área; modelos elaborados na América e, mais especificamente, o de Dick (1992), que tem orientado as investigações no Brasil. O primeiro estudioso a manifestar uma preocupação com a classificação dos nomes geográficos foi o francês Albert Dauzat (1928), que dividiu o mecanismo de nomeação em séries lógicas e em categorias históricas, estabelecendo, assim, um método de investigação toponímica. Ao optar por uma investigação a partir desses dois ângulos, esse estudioso concede especial atenção às investigações dos topônimos, classificando-os segundo a ordem histórica de suas formações (DAUZAT, 1928, p. 10). Cabe ressaltar, ainda, que esse estudioso, ao focalizar a questão da denominação geográfica, sublinha que a classificação dos designativos pode ser feita do ponto de vista da formação externa e dos sentidos intrínsecos do nome. Assim, na perspectiva da formação externa, o ato de nomear pode ser espontâneo, configurando-se como uma obra mais ou menos inconsciente do grupo; ou ser sistemático, se resultante de atos refletidos de uma autoridade, de um fundador da cidade, de um proprietário. Já os sentidos intrínsecos englobam as denominações cujos nomes são emprestados da própria geografia física ou de nomes de pessoas ilustres como fundadores, proprietários, ou, ainda, as que têm origem nos diversos caracteres abstratos ou de ordem histórica (DAUZAT, 1928, p ). O filólogo português José Leite de Vasconcellos (1931, p. 139), por sua vez, ao estudar os nomes de lugares de Portugal, também propõe uma classificação dos nomes geográficos divididos em três seções, a saber: nomes de lugar classificados por línguas, modos de formação toponímica e categorias de nomes segundo as causas que os originaram. As investigações desse estudioso, no que se refere ao campo etno-dialetológico dos nomes geográficos de Portugal, o levaram a salientar que a presença de várias línguas na toponímia local como a pré-romana, a romana, a germânica e a portuguesa, propriamente dita, pode ser explicada pelas fases de dominação da região pelos falantes dessas línguas e, por fim, pela formação e pela consolidação da própria língua materna, a portuguesa. Quanto ao modo de formação toponímica, as investigações estão relacionadas aos estudos gramaticais do sintagma nominativo. Já as categorias de nomes se relacionam às causas que lhes deram origem, como a flora, a fauna, a natureza do solo, a história, a religião. Leite de Vasconcellos (1931) e Dauzat (1928) legaram-nos a tese de que os nomes geográficos por eles estudados recuperavam características naturais do meio ambiente em que se encontravam inscritos, bem como aspectos sociais e culturais presentes na nomeação geográfica, postulando, também, a importância de estudos históricos e etimológicos do topônimo. Cabe resgatar, ainda, a divisão empregada por Dauzat (1936) que situa os

29 29 topônimos franceses em dois campos de influências, o da geografia física e o da geografia humana. Nessa perspectiva, as repartições no interior de cada um dos blocos referiam-se a ocorrências ou recortes espaciais identificados pelos paradigmas hidrográficos ou geomorfológicos e pelas realizações humanas referentes à fixação do homem no terreno, à ocupação do solo, à construção das vilas e cidades, de acordo com as camadas étnicas constitutivas do povo francês (apud DICK, 1999, p. 140). Na América, o estudioso que marcou os estudos toponímicos foi o norte-americano Stewart (1954, apud DICK, p. 25), por ser o primeiro a propor a distribuição dos nomes de lugares em 09 (nove) categorias baseadas nos mecanismos de nomeação: descritiptive names, possessive names, incident names, commemmorative names, euphemistic names, manufactured names, shift names, folk etymologies e mistke names. Desses mecanismos destacamos os nomes descritivos e os comemorativos que, ao que parece, são mais abrangentes e, por isso mesmo, podem ser considerados como protótipos de atividades de nomeação mais gerais ou comuns a diferentes povos. Já as demais categorias são menos recorrentes, se aplicadas a um plano mais abrangente. Mas há que se considerar que tal modelo foi proposto para um contexto específico, o norte-americano, valendo também para a investigação das nomeações provenientes das línguas indígenas desse espaço geográfico (DICK, 1999, p.141). No Brasil, a maior contribuição teórico-metodológica vem do modelo de classificação de Dick (1975) que continha 19 (dezenove) taxes. Reformulado posteriormente pela própria autora e publicado em 1992, passou a conter 27 (vinte e sete) taxes, das quais 11 (onze) se relacionam ao ambiente físico e são classificadas em Taxionomias de Natureza Física, e 16 (dezesseis) estão ligadas às relações que envolvem o homem inserido em um grupo com seus aspectos sociais, culturais, integrando as Taxionomias de Natureza Antropo-cultural. A Taxionomia de Natureza Física está assim distribuída: Astrotopônimos, aqueles que emprestam o nome de corpos celestes: Córrego Estrelinha-AF/MS 20 ; Cardinotopônimos, os relativos às posições geográficas em geral: Córrego do Meio-AF/MS; Cromotopônimos, aqueles que fazem referência a cores: Córrego Vermelho-AF/MS; Dimensiotopônimos, os que recuperam características de dimensão do próprio acidente: Córrego Comprido-AF/MS; Fitotopônimos, os relativos a nomes de vegetais: Córrego Carrapicho-AF/MS; Geomorfotopônimos, os que fazem referência às formas topográficas: Córrego Serrinho Os nomes de acidentes físicos e humanos utilizados como exemplos fazem parte do corpus desta pesquisa, com exceção dos exemplos de poliotopônimo, de meteorotopônimo e de morfotopônimo, haja vista que essas categorias não foram identificadas nas microrregiões pesquisadas.

30 30 AF/MS; Hidrotopônimos, aqueles resultantes de acidentes hidrográficos em geral: Aldeia Cachoeirinha-AH/MS; Litotopônimos, nomes de índole mineral: Córrego Ita-AF/MS; Meteorotopônimos, os relativos a nomes que recuperam fenômenos atmosféricos: Cachoeira do Chuvisco-AF/MT; Morfotopônimos, aqueles que se referem a formas geométricas: Curva Grande-AH/AM; Zootopônimos, designativos de índole animal: Córrego da Veada (DICK, 1992, p ). Já a Taxionomia de Natureza Antropo-cultural reúne as seguintes taxes: Animotopônimos ou Nootopônimos, nomes que se relacionam à vida psíquica e à cultura espiritual: Município de Bela Vista AH/MS; Antropotopônimos, designativos que recuperam nomes próprios individuais: Córrego do Eugênio-AF/MS; Axiotopônimos, aqueles relativos a títulos e a dignidades de que se fazem acompanhar os nomes: Ilha Coronel Braga AF/MS; Corotopônimos, aqueles que recuperam nomes de cidades, de países, de regiões e de continentes: Córrego Bolívia-AF/MS; Cronotopônimos, nomes que indicam tempo: Rio Novo-AF/MS; Ecotopônimos, designativos relativos às habitações de um modo geral: Córrego da Tapera-AF/MS; Ergotopônimos, nomes que se referem a elementos da cultura: Corixo da Canoa AF/MS; Etnotopônimos, designações referentes a elementos étnicos isolados: Lagoa dos Bugres-AF/MS; Dirrematopônimos, aqueles nomes formados por frases ou enunciados lingüísticos: Córrego Grita Lobo-AF/MS; Hierotopônimos, aqueles que recuperam nomes sagrados: Serra São Miguel-AF/MS; Historiotopônimos, os designativos que se referem a movimentos de cunho histórico-social e a seus membros: Córrego Independência-AF/MS; Hodotopônimos, nomes relativos às vias de comunicação rural ou urbana: Córrego Picada-AF/MS; Numerotopônimos, designativos referentes aos adjetivos numerais: Cabeceira Três Lagoas-AF/MS; Poliotopônimos, nomes constituídos pelos vocábulos aldeia, vila, povoação, arraial: Serra Vila dos Anjos-AH/MG; Sociotopônimos, aqueles nomes relativos a atividades profissionais ou a pontos de encontro: Ilha do Marinheiro-AF/MS; Somatotopônimos, nomes empregados em relação metafórica com as partes do corpo humano ou de animal: Córrego do Bracinho-AF/MS (DICK, 1992, p.32-34). Outro modelo de classificação é o apresentado por Salazar-Quijada (1985). Esse modelo divide-se em 05 (cinco) categorias, segundo seus elementos, sua extensão, sua localização, sua aplicação e sua motivação. Dentro dessas categorias, o autor propõe outra classificação. Assim, a categoria elementos diz respeito às bases formadoras dos topônimos, que podem ser simples, quando formados apenas por elementos específicos, independente do número de palavras: Guarenas, Rio Caribe. Nesse último exemplo, há a presença de um

31 31 topônimo simples pelo fato de Rio não se referir ao acidente que particularmente define, mas juntamente com Caribe, denominar um povoado. Já o composto é formado por um elemento genérico que define a classe do acidente que designa e por um específico que identifica o acidente: Rio Orinoco, Cervo El Ávila. Já a extensão relaciona-se ao tamanho do acidente e é dividido em microtopônimo, mesotopônimo e macrotopônimo. O autor evidencia que essas categorias só têm validade como mecanismo de referência, uma vez que indicam o tamanho do topônimo sempre em relação a outro, citemos como exemplo o topônimo Venezuela que é classificado pelo autor como microtopônimo em relação ao Universo e poderia, ainda, ser um mesotopônimo em relação ao planeta. Igualmente Venezuela poderia ser um macrotopônimo em relação ao topônimo Caracas (SALAZAR-QUIJADA, 1985, p. 22). Em se tratando da localização, o autor apresenta as categorias terrestres e extraterrestres, que são topônimos que servem para identificar acidentes da terra e corpos do universo fora do planeta, respectivamente. No que se refere à categoria aplicação, o autor considera o motivo ou a significação dos nomes e agrupa-os em actinômicos, aplicados a acidentes costeiros, como em Península de Paranaguá, Cabo Codera; astinômicos, aplicados a acidentes urbanos ou cidades: Caracas, Plaza Bolívar; Corônimos, aplicados à descrição de uma região: Barlovento, Los Andes, El Amazonas; insunônimos, quando se referem a ilhas, arquipélagos e recifes: Ilha de Margarita, Arquipélago dos Roques, Cayo Sal; hidrônimos, topônimos que se referem a acidentes como mares, oceanos, correntes de água, lagos e lagunas: Rio Orinoco, Caño manamo; Odônimos, nomes que se referem a caminhos, a autopistas e a ruas: Autopista del Este, Carretera de la Costa; orônimos, nomes que se referem a montanhas: Cerro el Ávila, Cordillera de los Andes; epeleónimos, que se referem a grutas e a formações subterrâneas: Cueva Del Guácharo, Cueva Del Toro e, por fim, selenônimos, termo aplicado a nomes de acidentes que recuperam acidentes lunares: Mar de la Tranquilidad, Mar de Moscú, Golfo de los Astronautas (SALAZAR-QUIJADA, 1985, p ). Já na quinta classificação, os topônimos são agrupados segundo a motivação semântica em 11 (onze) taxes. O autor chama a atenção para a questão motivacional, argumentando que os fatores que incidem na denominação são amplos e daí advém a dificuldade de se elaborar uma taxionomia definitiva. As 11 (onze) taxionomias propostas por esse toponimista, de acordo com a motivação, são as seguintes: fisiotopônimos, nomes descritivos das características do acidente, como por exemplo, o topônimo Quebrada Seca que, em muitos casos, refere-se a um acidente hidrográfico com pouca correnteza;

32 32 zootopônimos, aqueles que fazem referência à fauna, como por exemplo, os topônimos El Tigre, Montãnas del Venado; fitotopônimos, os nomes que fazem referência a nomes da flora, como por exemplo, El Bucare, El Jobo, Flor Amarilla; minerotopônimos, aqueles que fazem referência a materiais inorgânicos, como por exemplo, El Cobre, El Oro; epotopônimos, os designativos que recuperam personagens históricos, como por exemplo, Cerro Bolívar, Puerto Ordaz; hagiotopônimos, aqueles que recuperam o nome de algum santo, como por exemplo, San Antonio de los Altos, San Pedro; somatopônimos, que se referem a características físicas humanas, partes do corpo, postura do corpo, ou alguma enfermidade ou doença, como Las Bonitas, El Jorobado, Las Caras, La Rodilla, El Agachado, La Fiebre, El Dolor; cognotopônimos: designativos que recuperam nomes de pessoas, apelidos ou gentílicos, como por exemplo, La Mercedes; animotopônimos, nomes referentes ao estado de espírito do homem, como La Alegria, La Esperanza; pragmatopônimo, nomes que recordam algum fato do cotidiano, utensílios usados em tarefas diárias ou lugares onde se realizam tais tarefas, como por exemplo, El Bullero, Carpinteiro, La Granja; topotopônimos, aqueles nomes que recuperam topônimo, como por exemplo, Venezuela que recupera Veneza (SALAZAR-QUIJADA, 1985, p ). Passemos, agora, a uma breve comparação entre os modelos classificatórios mencionados. O modelo de Salazar-Quijada (1985), apesar de focalizar a motivação toponímica, ao que parece, é pouco prático, uma vez que para utilizá-lo o pesquisador teria que se voltar para outras classificações dentro do próprio modelo; por exemplo, primeiro considerar os elementos que compõem o sintagma nominativo para verificar se o topônimo é simples ou composto: considerando como simples aquele que não possui o nome genérico e composto aquele que possui o genérico e o específico; à localização: se terrestres ou extraterrestres; e, ainda, segundo sua aplicação, para depois passar a classificação segundo a motivação. Por exemplo, se fôssemos utilizar esse modelo para classificar o topônimo Córrego Sanga Funda, ele seria composto, segundo os elementos que compõem o sintagma nominativo; terrestre pela localização e, segundo sua aplicação, seria um hidrônimo; quanto à motivação poderia ser classificado como um fisiotopônimo. Todavia, nem sempre a denominação refere-se à característica do acidente, pois pode valorizar uma grande quantidade de sangas no local. Comparando-o ao modelo de Dick (1992), nota-se que este oferece maior praticidade dada à abrangência com que focaliza o fenômeno da motivação, pois o que Salazar-Quijada (1985) propõe como elemento é, para a nossa toponimista, terminologia específica da disciplina. Assim, o elemento genérico seria aquele que definiria a classe genérica do topônimo: rio,

33 33 córrego, morro; já o específico revelaria uma filiação a elementos de ordem natural ou antropo-cultural, o campo de estudo específico do toponimista. O modelo de Dick (1992) é também mais amplo, se considerarmos o número de taxes proposto por ela em relação ao de Salazar-Quijada (1985). Outro aspecto que o antropólogo venezuelano não aborda em sua classificação, segundo a motivação, é se o topônimo pode ter sido influenciado por fatores de natureza física ou antropo-cultural. A esse respeito, Dick (1992, p. 25) argumenta que, se se aceita a existência de um vínculo entre o objeto denominado e o seu denominador, então se pode aceitar que os fatos podem ser ordenados em duas ordens de conseqüência: ou física ou antropo-cultural. Isso é que remeterá a uma toponímia taxionômica, ao estudo das motivações da nomenclatura geográfica. Comparando-se ainda as classificações focalizadas, pode-se considerar a perspectiva de Dauzat (1928) como toponímia genética, uma vez que o objetivo primordial das pesquisas desse estudioso foi o de reconstituir e descobrir o significado dos nomes próprios. Nestes aspectos, o ponto de vista de Leite de Vasconcellos (1931) e o de Dauzat (1928) se aproximam, já que o estudioso português também privilegia a investigação etimológica dos nomes. Porém, há que se assinalar que os estudos de Leite de Vasconcellos se diferem dos de Dauzat, pelo fato de que este propõe um método de interpretação dos nomes considerando aspectos da psicologia social, como tendências místicas e realistas, enquanto aquele se detém ao estudo da etimologia e ao significado do nome. Há que se registrar também que Leite de Vasconcellos (1931, p ) introduz o estudo dos nomes geográficos que se referem a atividades humanas nomes relacionados à agricultura, à meteorologia, à construção civil, à religiosidade, à história. Já o modelo de classificação de Stewart (1954) se diferencia dos estudos de Leite de Vasconcellos e dos de Dauzat, por considerar não apenas aspectos de investigação lingüística do nome, mas também por vislumbrar em suas pesquisas a possível motivação extralingüística nos nomes geográficos. Apesar de a questão da motivação já estar presente no modelo do estudioso americano, Dick (1990, p. 50) esclarece que Stwart não quis tratar da motivação toponímica, pois, no entender desse pesquisador, um estudo dos motivos teria que envolver noções mais profundas de psicologia humana, o que fugiria aos objetivos da investigação toponímica, já que, de acordo com seu ponto de vista, ao toponimista, mais do que o exame dos motivos do denominador, interessaria a análise semântica das denominações (STWART, 1954, apud DICK, 1990, p. 51). Em vista disso, é que elabora mecanismos de nomeação divididos em 09 (nove) categorias. A perspectiva de investigação toponímica de Stewart sugere sempre um retorno à intenção do denominador no ato do batismo de um acidente

34 34 geográfico. Desse modo, o enquadramento do nome em um dos mecanismos propostos será com base na história desse nome. Já no modelo classificatório proposto por Dick (1992), figura em primeiro plano o conteúdo semântico que se pode perceber nos topônimos, enquanto signos lingüísticos e, em segundo plano, a intenção do denominador no ato da nomeação visando, por meio de uma investigação sem muito recuo ao passado histórico, a buscar as causas motivadoras, os pressupostos semânticos que dão vida aos designativos geográficos, porém não descartando a possibilidade de muitas vezes necessitar de uma pesquisa mais pormenorizada para apreensão do significado. Faz-se necessário, também, mencionar a tese de doutoramento de Dick, A motivação semântica e a realidade brasileira (1990) que, somado ao modelo taxionômico (1992), funciona como uma ferramenta de pesquisa, pois fornece ao pesquisador os aspectos teórico-metodológicos da disciplina Toponímia voltados para a realidade brasileira (DICK, 1990, p.58-59). Do exposto sobre os estudos de Leite de Vasconcellos (1931), de Dauzat (1928), de Stewart (1954) e de Dick (1992), percebemos que a toponimista brasileira enfatiza, como primeiro aspecto a ser considerado no estudo da Toponímia, o conteúdo semântico perceptível no topônimo. Nessa perspectiva, a investigação do nome geográfico tem como ponto de partida o próprio nome que, segundo ela, pode ser motivado, isto é, no ato da denominação pode o nome ter sofrido influência de aspectos extralingüísticos de ordem física ou de natureza antropo-cultural. Desse breve confronto entre os modelos de classificação do topônimo, percebe-se que a brasileira completa as tendências que podem estar presentes na toponímia de uma região, pois enquanto Dauzat (1928) encontrou duas tendências, a mística e a realista, Dick (1992) evidenciou vinte e sete e as dividiu em taxionomias de natureza física e de natureza antropo-cultural, como já foi explicitado anteriormente. Outro aspecto no qual a orientação de Dick (1992) difere da dos europeus e da do norte-americano é no que se refere à perspectiva de pesquisa. Nos estudos de Leite de Vasconcellos (1931) e de Dauzat (1928), a perspectiva da pesquisa é voltada para o nível diacrônico do nome. Para Stewart (1954), é a história do nome que irá determinar o enquadramento em um dos 09 (nove) mecanismos de nomeação proposto por ele. Já na proposta de Dick (1992), os estudos desenvolvem-se em um nível sincrônico dos fatos e a investigação diacrônica dos dados fica em segundo plano, isto é, no momento de passar ao estudo das taxes isoladamente consideradas (DICK, 1991, p. 141). Assim, verifica-se que a investigação do topônimo na perspectiva de Dick visa a uma análise que não se volte apenas para os aspectos internos da língua ou, quando na tentativa de

35 35 explicar a realidade toponímica por meio de fatos históricos e sociais da área pesquisada, os resultados não fiquem restritos ao plano das micro-estruturas regionais 21. O modelo Taxionômico de Dick está sendo aplicado por ela no projeto ATB Atlas Toponímico do Brasil e no ATESP Atlas Toponímico do Estado de São Paulo. Este último se caracteriza como uma variante regional do primeiro. O inventário toponímico do ATESP tem por base os 573 municípios do estado de São Paulo e a coleta dos dados se fez/faz por meio das cartas municipais elaboradas pelo Instituto Geológico do Estado ou pela própria Prefeitura e em alguns casos, nas escalas 1 : e 1 : que são adequadas às necessidades e aos objetivos da pesquisa. Como documentação complementar, para elucidar a ambigüidade semântica de determinados registros que não era/é possível, em uma perspectiva sincrônica, se recorria e/ou se recorre a documentos históricos do local. Nos projetos mencionados, os topônimos são sistematizados segundo dois pontos de vistas básicos: o aspecto taxionômico já focalizado e o aspecto lingüístico que absorve o campo etnodialetológico. Este último visa a investigar estratos lingüísticos da linguagem falada, como as das camadas portuguesas, indígenas, africanas; já nos campos histórico e cultural, a recorrência às fontes históricas serve como subsídio para o desenvolvimento da pesquisa (DICK, 1996, p ). A partir da aplicação do modelo teórico-metodológico de Dick ( ), outras pesquisas toponímicas foram realizadas no Brasil e algumas também apresentam propostas de inclusão de outras taxes ao modelo classificatório dessa pesquisadora. Importa mencionar também o projeto de pesquisa Pelos caminhos do Paraná: esboço de um Atlas toponímico, desenvolvido pela Universidade Estadual de Londrina. Esse projeto visa principalmente a analisar a toponímia do estado do Paraná, considerando aspectos de ordem sociológica, antropológica e política (SCHNEIDER, 2002, p. 29). Há que se registrar, ainda, outro trabalho que, embora não voltado especificamente para a toponímia, também vem contribuir para com a investigação toponímica. Trata-se da Tese de Doutoramento de Isquerdo (1996), O Fato lingüístico como recorte da realidade sócio-cultural, que apresenta um levantamento e um estudo do léxico do seringueiro do estado do Acre, inclusive dos topônimos que nomeiam os seringais e as colocações. Nesse campo, a autora evidencia a motivação semântica dos nomes, estabelecendo relação com a realidade sócio-histórica e cultural do seringueiro. Essa pesquisadora propõe, ainda, uma subdivisão para a taxe animotopônimo, de Dick (1992), considerando o contexto sócio Entendendo-se micro-estruturas regionais como uma espacialidade regional, apenas (DICK, 1990, p. 23).

36 36 histórico e cultural onde foi registrado o nome: animotopônimos eufóricos e disfóricos. Estes passam a classificar, no trabalho da estudiosa, nomes de seringais que deixam antever expectativas positivas e negativas do denominador, respectivamente (ISQUERDO, 1996, p, 118). Lima (1997, apud SCHNEIDER, 2002, p. 26), por sua vez, também propõe uma divisão da taxe hagiotopônimo que resulta nos subtipos autênticos e aparentes. Os autênticos caracterizam os de inspiração religiosa que recuperam um santo ou uma santa do hagiológio romano como, por exemplo, Serra São Miguel AF/MS, Córrego Santa Maria AF/MS. Já os aparentes são aqueles de inspiração política, cujo objetivo foi prestar uma homenagem a um fundador ou a pessoas influentes da localidade. Em estudos sobre a toponímia paranaense também encontramos outras categorias para a classificação dos topônimos, a saber: acronimotopônimos, formados por siglas; higietopônimos, nomes referentes à saúde, ao estado de bem estar físico e, por fim, os necrotopônimos, que recuperam termos referentes à morte (FRANCISQUINI, 1998, apud SCHNEIDER, 2002, p. 27). Outras pesquisas foram realizadas em nível de dissertação de mestrado no Programa de Mestrado em Letras da UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a saber: Um olhar sobre os caminhos do Pantanal sul-mato-grossense: a toponímia dos acidentes físicos (SCHNEIDER, 2002) e Entre buritis e veredas: o desvendar da toponímia do Bolsão 22 sulmato-grossense (DARGEL, 2003). Esses trabalhos também adotaram como orientação teórico-metodológica básica a do projeto do ATB. O trabalho de Dargel (2003) apresenta também uma proposta de cartografação dos topônimos coletados na região do Bolsão sulmato-grossense. Pelo exposto, pudemos observar que, no que se refere aos estudos toponímicos no Brasil, ainda há muito por se realizar e, sem dúvida, trata-se de um tema interessante para pesquisas, cujos resultados podem ajudar na reconstituição de aspectos etnolingüísticos, sociais e do próprio ambiente, a partir do prisma em que foi e é percebido pelo grupo que habita determinado local 23, materializado no signo toponímico. Na seqüência, focalizamos aspectos da relação entre signo lingüístico e motivação, bem como alguns princípios teóricometodológicos que têm orientado os estudos dessa categoria de signos A região que compreende o Bolsão sul-mato-grossense, localizado a leste e ao norte do estado de Mato Grosso do Sul, compõe-se dos seguintes municípios: de Água Clara, de Aparecida do Taboado, de Brasilândia, de Cassilândia, de Chapadão do Sul, de Costa Rica, de Inocência, de Paranaíba, de Santa Rita do Pardo, de Selvíria e de Três Lagoas (DARGEL, 2003, p. 30) Utilizamos local no sentido de espaço geográfico com suas peculiaridades e particularidades físicas e que se apresenta ao povo que ali habita de modo peculiar (DICK, 1990, p. 63).

37 O signo lingüístico em função toponímica e a motivação A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, ponderou Saussure 24 (1970, p. 24), acrescentando, ainda, que o signo possui um caráter arbitrário e funciona devido a um contrato social entre os falantes de uma mesma língua. Esse conceito saussuriano popularizou-se na Lingüística moderna após o século XX, servindo de orientação para várias correntes teórico-metodológicas de investigação lingüística e dando a entender que, até certo ponto, a questão da arbitrariedade estava resolvida. Porém, se nos voltarmos para a história dos estudos lingüísticos, notaremos que a questão relacionada à arbitrariedade ou à motivação do signo lingüístico é uma discussão antiga que remonta aos filósofos gregos, por volta do século V a. C, que já buscavam explicação para a origem das palavras. Essas discussões deram origem a duas correntes de pensamento: a naturalista, representada por Platão, que se orientava pela concepção de que havia uma relação intrínseca entre o som e o sentido, e a convencionalista, tendo como seu representante o filósofo Aristóteles, que sustentava ser essa relação puramente arbitrária (ULLMANN, 1964, p. 07). Dessas discussões filosóficas acerca da origem da língua, observa-se que, apesar de se pautarem em idéias antagônicas, possuíam um questionamento em comum: se havia qualquer conexão necessária entre o significado de uma palavra e a sua forma. A busca de resposta para essa questão resultou numa longa trajetória de estudos etimológicos das palavras (LYONS, 1979, p. 04). Voltando à Lingüística moderna do século XX, vale registrar que Saussure retoma a tradição aristotélica da arbitrariedade do signo, ao postular que um signo se configura pela união de um significante a um significado, e ressalta que o vínculo que se estabelece entre as partes do signo não é natural, pois resulta de um contrato social. Outro fundamento importante acrescentado por Saussure ao conceito de signo é a noção de valor, pois, para esse estudioso, o signo lingüístico se reveste de um valor, que é adquirido na teia de relações com outros signos, isto é, um signo só se define como tal, no interior de um sistema de signos. Com esse princípio quer mostrar que a língua é um sistema de valores constituído não por conteúdos ou produtos de uma vivência mas por diferenças puras (DOSSE, 1993, p. 65). O próprio Saussure (1970, p. 136) registra que, quando se diz que os valores correspondem a 24 - O Curso de Lingüística Geral de Saussure foi publicado pela primeira vez em Neste trabalho, utilizamos a edição de 1970.

38 38 conceitos, subentende-se que são puramente diferenciais, definidos não positivamente por seu conteúdo, mas negativamente por suas relações com outros termos do sistema. Sua característica mais exata é ser o que os outros não são. Pelo exposto, podemos perceber que o valor do signo para Saussure define-se dentro do sistema lingüístico no qual está inserido, o que leva à reafirmação do princípio da arbitrariedade do signo lingüístico, uma vez que ele [...] une não uma coisa ao seu nome, mas um conceito a uma imagem acústica num vínculo arbitrário que remete à realidade, o referente, para o exterior do campo do estudo [...]. O signo saussuriano só envolve, portanto, a relação entre significado (o conceito) e significante (imagem acústica), com exclusão do referente (DOSSE, 1993, p. 70). Note-se que a noção de arbitrariedade do signo lingüístico tem sido mais aceita nas investigações lingüísticas, do que a tese da motivação, que nem sempre foi o centro das preocupações dos estudiosos. Todavia, quando tratamos do signo toponímico, em um primeiro momento, poderíamos aceitar o princípio da arbitrariedade do signo proposta por Saussure, já que o topônimo se constitui como uma forma da língua como todas as outras, porém se atentarmos para a natureza desse tipo de signo em sua feição intrínseca, necessário se faz rever a questão da arbitrariedade do signo, uma vez que, [...] muito embora seja o topônimo, em sua estrutura, uma forma de língua, ou um significante animado por uma substância de conteúdo, da mesma maneira que todo e qualquer outro elemento do código em questão, a funcionalidade de seu emprego adquire uma dimensão maior, marcando-o duplamente: o que era arbitrário, em termos de língua, transforma-se, no ato do batismo de um lugar, em essencialmente motivado, não sendo exagero afirmar ser essa uma das principais características do topônimo (DICK, 1992, p. 18). A característica mais particular do signo toponímico é a que o aponta para fora de si, isto é, a motivação semântica que pode estar relacionada a aspectos sociais, culturais ou ambientais que, não raras vezes, são levados em consideração no ato do batismo de um acidente físico ou humano. Desse modo, os signos lingüísticos em função toponímica deixam de ser arbitrários e tornam-se motivados por fatores extralingüísticos, não sendo exagero, então, considerá-los como verdadeiros testemunhos históricos de um grupo alocado em um espaço geográfico, encerrando um valor que transcende o próprio ato da nomeação (DICK, 1990, p. 22). Argumenta, ainda, a mesma estudiosa que. [...] iconicamente simbólico, vai permitir, portanto, através de uma reconstituição de suas características imanentes, a captação de elementos os

39 39 mais diferenciadores da própria mentalidade do homem, em sua época e em seu tempo, em face das condições ambientais de vida, pelo menos de forma considerável (DICK, 1990, p. 22). Aceitando essa posição de Dick sobre o caráter motivado do signo toponímico, depreendemos que, se por um lado esse signo em particular contraria o conceito da arbitrariedade lingüística, um dos postulados da Lingüística moderna, por já nascer marcado por circunstâncias de natureza histórico-social, econômica, cultural, por outro lado, é similar aos demais signos por se inscrever como parte do sistema de uma língua e pertencer ao seu universo lexical, uma vez que o sistema toponomástico utiliza-se dos mesmos constituintes disponíveis no léxico virtual de uma língua (DICK, 2001, p. 81). Desse modo, como os demais signos, pode nos fornecer dados acerca da relação entre língua-sociedade e cultura. E isso é possível, pelo fato de que [...] o léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma língua. Ele inclui a nomenclatura de todos os conceitos lingüísticos e nãolingüísticos que se referem ao mundo físico e ao universo cultural, criado por todas as culturas humanas atuais e do passado.por isso o léxico é o menos lingüístico de todos os domínios da linguagem. Na verdade, é uma parte do idioma que se situa entre o lingüístico e o extralingüístico (BIDERMAN, 1981, p. 138). Apoiando-nos na perspectiva de Biderman (1981), de que o léxico é o tesouro vocabular de uma língua, e na posição de Dick (1992) acerca da motivação semântica do topônimo por elementos extralingüísticos, percebemos a importância da investigação do signo toponímico como fonte de pesquisa histórica do passado e do presente de um povo, visto que o signo lingüístico, por pertencer ao léxico de uma língua, já guarda em sua essência conceitos elaborados pelo grupo e transferidos para o léxico e, portanto, ao ser recuperado para nomear um acidente físico ou humano pelo denominador já é enriquecido de uma feição significativa que lhe é atribuída por esse designador e pelo grupo em questão, passando a refletir, de certa forma, a própria mentalidade coletiva. Dick (1992, p. 18) pondera ainda que a motivação toponímica possui um duplo aspecto que transparece em dois momentos: primeiramente, na intencionalidade do denominador ao selecionar o nome, na qual concorreriam circunstâncias de ordem objetiva ou subjetiva e, a seguir, na própria origem semântica da denominação, no significado que revela, de modo transparente ou opaco, o que pode envolver procedências as mais diversas. Desse modo, podem também guardar uma significação precisa de aspectos físicos ou antropo-culturais presentes na denominação.

40 40 Há que se registrar que alguns teóricos da linguagem atribuem aos nomes próprios apenas as funções de indicar e identificar. Citemos o ponto de vista de Stwart Mill (1879), para quem os nomes próprios são marcas de identificação, porque servem apenas para identificar ou singularizar uma pessoa ou objeto em relação às entidades semelhantes, portanto, não significam (apud ULLMANN, 1964, p. 153). Dick (1992, p.19), por sua vez, contesta esse posicionamento argumentando que, no âmbito das ciências onomásticas, esse princípio teórico não deve ser aceito com rigor porque os topônimos e os antropotopônimos juntamente com uma função identificadora guardam em sua estrutura imanente, uma significação precisa, muitas vezes não mais transparente em virtude da opacidade que esses nomes adquirem, ao se distanciarem de suas condicionantes tempo-espaciais. Frente a essa perspectiva que concebe o nome próprio como um fato da língua, ou seja, como um signo lingüístico que além de identificar guarda uma significação precisa de aspectos físicos ou antropo-culturais do grupo, entendemos que o estudo toponomástico pode servir como fonte de conhecimento da língua falada na região em exame e descortinar ocorrências geográficas, históricas e sociais, vividas ou testemunhadas pelo povo que ali habitou temporariamente ou em caráter definitivo, se não em sua totalidade pelo menos em parte. Considerando, então, como funções do signo toponímico, além de indicar e identificar, guardar uma significação precisa de aspectos físicos ou antropoculturais presentes na denominação, podemos, então, interpretá-lo como um fóssil lingüístico 25 e considerá-lo como um signo motivado, o que o opõe aos nomes comuns que são marcados pelo princípio da arbitrariedade lingüística. Voltamos, desse modo, à visão saussuriana da arbitrariedade do signo lingüístico, noção que despertou e tem despertado discussões entre teóricos que estudam a linguagem verbal, sobretudo entre os semanticistas, seja quanto à dicotomia significante/significado seja, em um plano mais geral, quanto à vinculação entre signo/realidade, razão por que na tentativa de apreender e decifrar os meandros do significado, surgiram vários enfoques teóricos, dentre eles, destacam-se duas escolas de pensamento lingüístico: [...] a tendência analítica ou referencial, que procura apreender a essência do significado, reduzindo-o aos seus componentes principais, e a tendência operacional, que estuda as palavras em acção e que se interessa 25 - Fóssil lingüístico é uma expressão do geógrafo francês Jean Brunhes (apud DICK, 1992, p. 20), que considerou o topônimo como um fóssil da geografia humana, visto que, mesmo desaparecendo as causas motivadoras, elas ainda podem permanecer no designativo.

41 41 menos por o que é significado, que pelo modo como opera (ULLMANN, 1964, p. 116). O triângulo de Ogden e Richards (1923), mais conhecido como triângulo semiótico, é o representante da tendência analítica, no qual os autores buscaram incluir, por meio de uma relação triádica, o referente. Esse diagrama distingue três componentes do significado, assinalando que não há relação direta entre as palavras e as coisas que elas representam, isto é, a palavra simboliza um pensamento ou referência, que remete ao referente que, por sua vez, está ligado ao símbolo por uma relação imputada (ULLMANN, 1964, p. 117). Eis o triângulo semiótico: REFERÊNCIA ou PENSAMENTO (significado) SÍMBOLO (significante) REFERENTE (coisa ou objeto extralinguístico) (Triângulo de Ogden e Richards, 1923, apud BLIKSTEIN, 1990, p. 24) Esse modelo triangular de signo não é tão inovador quanto parece, pois remonta aos estóicos que interligavam três entidades à função sígnica: o significado que subsiste em nosso pensamento, o símbolo e o referente externo (EPSTEIN, 1986, p.22). O triângulo semiótico, apesar de ter sofrido críticas, foi recuperado por outros lingüistas como Ullmann, Baldinger, Heger na tentativa de explicar a construção do significado do signo lingüístico, mas o referente extralingüístico, componente para a interpretação do significado, continuou fora da relação triádica, uma vez que esses estudos continuaram voltados para o lado esquerdo do triângulo (BLIKSTEIN, 1990, p ). Pelo exposto, percebe-se que a noção de arbitrariedade continua presente no estudo do signo lingüístico, considerando que estudiosos como Ullmann, Baldinger, Heger seguem, em sua essência, o modelo de Ogden e Richards, o que leva a um retorno a Saussure que entendia

42 42 que, entre o símbolo e o referente ou coisa, há uma relação indireta, ou seja, uma relação arbitrária ou, mais propriamente, imotivada (DUARTE, 2000, p. 21). Já a corrente de pensamento Operacional ou Contextual tem como seu representante mais significativo Wittgenstein (1953) que, por intermédio de sua obra Philosophical Investigations, introduziu uma sugestiva formulação, o teste da substituição, para o estudo do significado, argumentando que o significado de uma palavra é o seu uso na língua, embora não para todos os casos, porém abrange um grande número (apud ULLMANN, 1964, p. 134). Esse estudioso, ao explicar que palavras adquirem funções diversas de acordo com o uso, recupera o pensamento de Saussure quando compara a língua a um jogo de xadrez, onde língua e seus conceitos são vistos como instrumentos e as palavras como ferramentas, e assim as palavras adquirem funções diversas de acordo com o seu uso. Na perspectiva de Wittgenstein, a linguagem humana só pode ser compreendida considerando-se os contextos lingüísticos e extralingüísticos. Assim, mais do que estudar o que é o significado, há que se estudar as palavras em ação. Ullmann (1964) posiciona-se a respeito dessa corrente de pensamento, registrando que, embora uma postura teórica puramente operacional limite os estudos semânticos, não se deve descartá-la totalmente, pois esta poderia servir de complemento à teoria referencial, visto que a teoria operacional busca o significado no uso e, conciliando as duas, o primeiro passo para a verificação do significado estaria na orientação operacional que forneceria dados para a orientação referencial. Nesse sentido, uma complementaria a outra, já que a primeira trata do significado no nível da fala e a segunda do significado no da língua (ULLMANN, 1964, p ). Outro estudioso que segue a mesma orientação saussuriana, descartando o elemento extralingüístico, é o semioticista norte-americano Charlles Peirce (apud EPSTEIN, 1986, p.18), para quem o signo é algo que sob certo aspecto representa alguma coisa para alguém [...], isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor. Esse semioticista corrobora a teoria de Saussure, já que também concebe a relação entre signo e o que representa alguma coisa ou objeto, em termos de línguas naturais, como arbitrária. Todavia, assinala as características de dois tipos de signos particulares, os índices e os ícones, nos quais a relação entre símbolo e referente na construção do significado é direta, portanto, motivada. Assim, para demonstrar a relação entre os três elementos nos signos icônicos como uma relação motivada, considera que, nesses casos, a base do triângulo semiótico não necessitaria ser pontilhada.

43 43 Dos estudos que envolvem o signo lingüístico, pode-se perceber que o objeto extralingüístico, ou coisa para Saussure e referente na terminologia de Ogden e Richards, continuou relegado para fora dos estudos lingüísticos. No entanto, lingüistas e semiólogos, ao tentarem explicar a construção do significado, acabam se deparando com a figura do referente e, conseqüentemente, vendo-se em um impasse teórico metodológico (BLIKSTEIN, 1990, p.37). A respeito do papel do referente extralingüístico na construção do significado, julgamos pertinente retomar a posição teórica de Blikstein (1990, p ), para quem o fato de o referente ser extralingüístico não significa que se deva excluí-lo dos estudos lingüísticos, pois o extralingüístico parece não pertencer à linguagem por estar situado atrás ou antes dela como um evento cognitivo, produto da percepção humana. Desse modo, fica perceptível a necessidade de se reportar a essa dimensão anterior à própria experiência verbal para buscar a origem do significado, porém, adverte Blikstein (1990, p. 39) que tal dimensão não será a realidade objetiva, mas uma realidade composta de referentes fabricados pela experiência do homem e, assim esses, embora desprovidos de um estatuto lingüístico, propriamente dito, como os demais elementos que compõem o signo, condicionarão o evento semântico. Coseriu (1969) também já advertira que é inútil querer interpretar as estruturações lingüísticas sob o ponto de vista das pretensas estruturas objetivas da realidade, pois é necessário estabelecer que tais estruturas não são a realidade mas estruturações impostas à realidade pela interpretação humana (apud BLIKSTEIN, 1990, p. 46). Ainda nessa perspectiva de realidade fabricada, Blikstein (1990, p ) argumenta que a percepção da realidade depende sobretudo de uma construção e de uma prática social 26. Isso significa dizer, como assinalou Blikstein (1990), que os objetos culturais seriam fabricados pela nossa percepção, uma vez que a realidade seria construída pela práxis social e, então, a realidade percebida/conhecida pelos indivíduos de acordo com a visão de mundo do grupo e os referentes como produtos da percepção/cognição seriam também fabricados por essa práxis. Observamos que Blikstein (1990) põe em evidência a importância de, nos estudos acerca do significado ou mais precisamente da construção do significado do signo lingüístico, lingüistas, semanticistas voltarem a atenção também para o lado direito do triângulo semiótico, considerando o elemento extralingüístico. Destaca, também, que a base do 26 - Blikstein (1990, p.54) utiliza a expressão prática social com o mesmo sentido já consagrado pelo marxismo, ou seja, o de práxis: conjunto de atividades humanas que engendram não só, as condições de produção, mas de um modo geral, as condições de existência de uma sociedade.

44 44 triângulo semiótico deveria ser uma linha direta já que considera que a realidade percebida/conhecida pelos indivíduos é construída pela práxis social e assim, conseqüentemente, o conceito do referente também o seria. Note-se que esses estudiosos que se preocuparam em estudar o signo e a sua face mais intrigante, o significado, se não resolveram o problema em definitivo, tiveram o mérito de introduzir a discussão sobre a coisa denominada que, sendo extralingüística ou não, não pode ser ignorada pelo semanticista (GUIRAUD, 1986, p. 25). Dessas considerações, constatamos que muito há que se discutir, no que se refere à construção do significado e de seus interferentes como, por exemplo, o papel do referente ou elemento extralingüístico, visto que sempre que nos propomos ao estudo do significado nos deparamos com a presença do fator extralingüístico: [...] por mais que fujam da figura do referente sob a alegação de que este é extralingüístico lingüistas e semiólogos acabam sempre caindo em algo muito parecido com referente, quando ensaiam explicações acerca das condições de produção do significado lingüístico (BLIKSTEIN, 1990, p.37). Estudiosos que se valeram da noção da arbitrariedade lingüística evidenciaram a dificuldade de se elaborar uma teoria do significado, visto que, nessa perspectiva, o significado se coloca fora da esfera lingüística. Porém, se atentarmos para uma das concepções de Saussure, defensor da arbitrariedade, veremos que ele nos dá margem para questionar acerca da arbitrariedade e da motivação do signo, ao reconhecer que pode haver graus de motivação entre significante e significado, o que chama de arbitrário absoluto e de arbitrário relativo: [...] o princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer imotivado, daquilo que só o é relativamente. Apenas uma parte dos signos é absolutamente arbitrária: em outras, intervém um fenômeno que permite reconhecer graus no arbitrário sem suprimi-lo: o signo pode ser relativamente motivado (SAUSSURE, 1970, p. 152). Guiraud (1980, p ), por exemplo, retomando o pensamento de Saussure, registra que o mestre, ao levantar seu conceito da arbitrariedade, visava mais a se opor à teoria onomatopéica da linguagem, que se arrastava desde a filosofia grega, do que excluir a noção de motivação em outros planos. Assim, valendo-se da concepção arbitrário absoluto e arbitrário relativo, discute a diferença entre arbitrariedade, motivação e convencionalidade, sublinhando que arbitrário se opõe a motivado e tem como corolário convencional, pelo

45 45 fato de que quando não se tem motivação é a convenção que fundamenta a significação, porém convencional não exclui motivado. Desse postulado, entendemos que quando um signo passa a funcionar como um elemento de comunicação tende à desmotivação e isso, conseqüentemente, leva à arbitrariedade, mas não exclui a motivação, pois o que pode ocorrer é que com o tempo, os traços motivadores podem desaparecer ou ficarem obscurecidos. Pelas reflexões de Guiraud (1980, p. 28), percebe-se que ele sublinha a motivação do signo ao destacar que todas as palavras são motivadas em seu ponto de partida, e muitas continuam a sê-lo por algum tempo. A motivação constitui, portanto, um dos caracteres fundamentais do signo lingüístico. Ainda nessa perspectiva, salienta que a motivação pode ser interna ou externa. A motivação é interna quando a relação entre significante e significado ocorre na relação de uma palavra com outras palavras já existentes no sistema lingüístico e, externa, quando a relação entre o significante e o significado ocorre fora do sistema lingüístico (GUIRAUD, 1980, p.29-30). Outro estudioso que tem contribuído para as discussões que envolvem a arbitrariedade do signo lingüístico é o italiano Mário Alinei (1994, apud ISQUERDO, 1996, p. 88), que considera que todo signo é, em sua gênese, motivado e por isso defende a existência de uma dupla estrutura do significado : a genética e a funcional. Para esse semanticista, o signo é motivado em sua gênese, por considerar que o denominador, ao nomear um novo referente, busca no ato da criação desse nome recursos no próprio sistema da língua. Todavia, o signo, ao adquirir sua funcionalidade, vai tornando-se ao longo de seu uso arbitrário; isso significa dizer que a funcionalidade leva à desmotivação. Em vista disso, é que, no uso, podem-se encontrar palavras opacas e palavras transparentes, em virtude do grau de reconhecimento ou não da motivação na palavra, conforme acentua Alinei (1994). Esse estudioso explica ainda que a opacidade pode não só se manifestar nos planos formal e motivacional, como também pode ocorrer na esfera cultural, quando se torna impossível descobrir em qual contexto cultural nasceram determinadas lexicalizações (ISQUERDO 1996, p. 88). No que tange à opacidade ou à transparência das palavras, vale resgatar o ponto de vista de Ullmann (1964, p ). Para esse semanticista, de um lado, todos os idiomas contêm certas palavras que são arbitrárias ou opacas, ou seja, não se percebe qualquer conexão entre o som e o sentido. Por outro lado, há outras que pelo menos em certo grau são motivadas e transparentes, neste caso, a motivação pode ser fonética, as onomatopéias, por exemplo; morfológica, quando a palavra é motivada pela estrutura morfológica, como por exemplo, a palavra trabalhador, formada a partir de dois morfemas: o verbo trabalhar mais o

46 46 sufixo dor, ambos já possuidores de um certo significado, uma vez que o sufixo -dor anexado a um verbo, na língua portuguesa, forma substantivos agentes. Outro exemplo de motivação morfológica pode-se encontrar nas palavras compostas, entre outras, citamos guarda-roupa, beija-flor. A motivação semântica, por sua vez, pode ocorrer por uma relação metafórica ou metonímica. Do ponto de vista de Ullmann (1964) sobre motivação, tomamos o que se refere à motivação semântica que, segundo o autor, ocorre por uma operação associativa e se efetiva por uma relação metafórica ou metonímica. Estabelece-se, então, uma relação de analogia, o que vai levar a extensões semânticas ou a substituições. Desse modo, os processos metafóricos podem ser considerados como recursos lingüísticos que o falante possui para fazer com que o nome de um referente passe a nomear outro por meio de uma comparação. Maria Celeste Augusto (2003, p. 20), ao discutir o ponto de vista de Ullmann 27 (1975) acerca da motivação semântica, procura esclarecer como ocorre a operação associativa que se efetiva por meio da relação metafórica ou metonímica. Segundo ela, é a relação por analogia, que é característica da metáfora, que conduz a extensões semânticas ou a substituições. Por exemplo, o fato de alguém atribuir o nome fósforo a alguém que tem vivacidade de espírito pode ocorrer devido ao fato de que fósforo, enquanto acendalha, entra rapidamente em combustão. Assim, pondera a autora, os processos metafóricos se revelam como um recurso lingüístico que possibilita que uma unidade lexical, com significado já cristalizado em uma dada língua, passe do nome de um referente a outro por meio de uma comparação. Para se chegar a esse ponto de vista é necessário sair do plano da língua e entrar no plano da motivação extralingüística que, de acordo com a autora, se situa em torno do referente a denominar e, ainda, com a conceptualização ou imagem mental que o falante tem do referente. Essa imagem mental equivale ao conceito de doxa proposto por Schapira (2000, apud AUGUSTO, 2003, p. 21): a opinião comum tal como ela se reflete na língua. Para justificar seu ponto de vista, a autora apóia-se no conceito de motivação proposto por Alinei (1996, apud AUGUSTO, 2003, p. 21) que substitui o termo motivação por iconismo, acentuando que neste está presente o conceito a ser transmitido, que é um elemento obrigatório na origem de qualquer nova criação lexical. Todavia, a autora alerta que a consciência de tal traço o conceito a ser transmitido pode se perder ou ainda desaparecer por completo, em casos muito extremos de transformações fonéticas, ao longo do uso do termo. A partir das reflexões propostas por Augusto (2003, p. 21) percebe-se que a motivação 27 - Maria Celeste Augusto utilizou a obra Précis de sémantique française (1975). Neste trabalho, foi utilizada a obra Semântica: uma introdução à ciência do significado (1964), do mesmo autor.

47 47 do signo lingüístico muitas vezes é impossível de ser resgatada. Entretanto, corrobora a tese de que na gênese de uma nova criação lexical, há sempre a presença da motivação. Sintetizando essa discussão, faz-se necessário retomar o pensamento de Augusto (2003, p. 21) que, com base nos pontos de vista de Ullmann (1975) e de Alinei (1996), evidenciou que [...] o nome será então uma representação abreviada do conceito a transmitir, selecionada entre os vários elementos constitutivos do referente, elementos que pertencem aos seus traços reais e objectivos e à imagem mental, isto é, à conceptualização que o falante constrói acerca dele. Uma vez selecionados, esses elementos vão manifestar-se no segmento lexicalizado que será a nova denominação. Valendo-nos das reflexões de Ullmann (1964), de Guiraud (1980), de Blikstein (1990), de Mário Alinei (1994; 1996) e de Augusto (2003) acerca da motivação do signo lingüístico, encontramos sustentação teórica para justificar a motivação do signo toponímico. Principalmente a concepção de motivação concebida por Alinei (1984 apud ISQUERDO, 1996, p. 86): motivação consiste, pois, naqueles aspectos do significado ou definição de um objeto que foram selecionados pelos falantes para fabricar o nome desse objeto ; por Guiraud (1980, p. 30), quando evidencia que a motivação externa repousa sobre uma relação entre a coisa significada e a forma significante do sistema lingüístico, e por Ullmann (1964), no que se refere, principalmente, à motivação semântica que pode ocorrer por uma relação metafórica ou metonímica. As concepções teóricas e as reflexões dos estudiosos citados fornecem respaldo teórico acerca da questão da motivação do signo lingüístico em função toponímica, reforçando a postura teórica de Dick (1992, p. 18) sobre a motivação do signo toponímico, já que, segundo essa estudiosa, o ato de nomear envolve não apenas a intencionalidade do denominador, mas também a relação desse signo com aspectos sócio-históricos e culturais ligados ao contexto de um grupo alocado em um determinado espaço geográfico marcado por especificidades físico-naturais. Dick considera a motivação como uma das principais características do topônimo. Diante do que foi exposto sobre a motivação do signo lingüístico, percebe-se entre os semanticistas que a tese da motivação de um signo lingüístico em sua gênese não é contestada. Esta pesquisa, por exemplo, parte da tese de que o signo lingüístico em função toponímica é sempre motivado em sua origem e que essa motivação é condicionada seja por

48 48 fatores de ordem física como a topografia da região, a fauna, a flora, a hidrografia, os recursos minerais do solo, seja por fatores de ordem sócio-histórico-culturais. O Capítulo subseqüente apresenta aspectos físico-geográficos, históricos e econômicos referentes à porção Sudoeste de Mato Grosso do Sul, região objeto desta pesquisa.

49 49 CAPÍTULO II ASPECTOS FÍSICO-GEOGRÁFICOS E SÓCIO- HISTÓRICOS DE MATO GROSSO DO SUL 2.1 Aspectos físico-geográficos de Mato Grosso do Sul Pela dificuldade de encontrar informações geográficas específicas de cada uma das 03 (três) microrregiões examinadas, buscaram-se, em meio às informações gerais dos aspectos físico-geográficos do Estado, aquelas pertinentes ao recorte estudado. As terras de Mato Grosso do Sul não são homogêneas, característica típica de regiões de grande extensão territorial. O geógrafo Edgard Kuhlmann (apud CAMPOS, 1969, p. 17) divide a formação geofísica da região que abrange as 03 (três) microrregiões em pesquisa em 03 (três) planaltos: o de Maracaju, o da Bodoquena e de Amambaí; e o do Pantanal. O altiplano da Bodoquena e Amambai constitui-se de solo fértil devido a sua origem no arenito calcário, portanto, propício à agricultura. O solo dessa região possui uma coloração que varia entre o vermelho e o pardo, e a vegetação que o cobre é o que poderia ser chamado de cerrado de cultura devido as terras serem propícias a uma agricultura permanente (CAMPOS, 1969, p ). Já o solo do complexo do Pantanal, por depender das águas, permanece grande parte do ano alagado, concentra uma grande diversidade botânica com um solo com formação do tipo hidromórfica muito fértil devido à intensa fertilização trazida pelas enchentes, o que favorece as pastagens. Quanto ao aspecto climático predominante no norte e no oeste do Estado, que abrange o Pantanal, o Alto Taquari, Paranaíba e Três Lagoas, temos um clima superior a 18 nos meses mais frios. Na região de Bodoquena, o clima é mais frio com média inferior a 10 no inverno (RAVAGNANI; RASLAN, s.d, p. 7). Campos (1969, p. 36), por sua vez, registra que no Pantanal há duas estações: a seca e a chuvosa. A primeira que vai do mês de outubro até abril e a segunda que se prolonga entre os meses de maio a setembro. Quanto à hidrografia, o Estado é banhado pelas bacias do Paraná e do Paraguai. A porção Sudoeste é banhada pela Bacia do Rio Paraguai, um rio de planície que banha e

50 50 modela toda a região do Pantanal, cuja morfologia plana, aliada à pequena profundidade do próprio rio, é responsável pelas enchentes. Os seus principais afluentes são os rio Taquari, Negro, Apa, Miranda e Aquidauana e os seus portos fluviais são o de Corumbá, o de Ladário e o de Porto Murtinho (RAVAGNANI; RASLAN, s.d, p. 8). A vegetação de Mato Grosso do Sul contempla quatro tipos básicos de revestimento florístico: cerrados, mata tropical, campos limpos e complexo do pantanal. Na região em pesquisa, predominam os cerrados e o complexo do pantanal 28. Os cerrados ocupam 48% do Estado e localizam-se na parte leste e centro até a divisa com Mato Grosso e, no oeste, pela depressão pantaneira. Esse tipo de vegetação é constituído de árvores relativamente baixas, tortuosas que se acham em meio a arbustos e a vegetação baixa constituída em geral de gramíneas que podem atingir até um metro de altura. Já no complexo do Pantanal há várias zonas de vegetação: as hidrófilas, características dos terrenos alagados; as mesófilas que são espécies adaptadas ao meio intermediário, a sua vitalidade é provocada pela chuva, como por exemplo, o carandá e o paratudo. Ainda há que se registrar, no quadro fitogeográfico do Pantanal, as florestas galerias com uma cobertura gramínea que constituem excelentes pastagens para o gado e, completando a diversidade vegetal da localidade, aparecem, também, os bosques chaquenhos, constituídos por árvores e arbustos (RAVAGNANI; RASLAN, s.d, p ). O quadro natural do Estado pode ser dividido em dois quadros morfo-estruturais denominados baixada Paraguaia ou Pantanal e Planalto Sedimentar da Bacia do Rio Paraná. O quadro morfo-estrutural da porção Sudoeste se enquadra na Baixada Paraguaia ou Pantanal, considerada uma grande planície inundável cheia de reentrâncias mais baixas que são denominadas de baías 29, de lagoas e de corixos 30 e permanece alagada boa parte do ano. Em meio a essa paisagem há maciços isolados, conhecidos como conjunto montanhoso de Urucum e serra da Bodoquena, onde se concentram minerais como o ferro, o manganês, o fosfato, o calcário e o cobre, entre outros. O maciço de Urucum está situado ao sul do município de Corumbá e se estende para o sul através da serra de Albuquerque, formada por pequenos morros isolados às margens do rio Paraguai. Nesse local, encontrase uma das maiores jazidas de manganês da América Latina, cuja produção é quase toda exportada pelo rio Paraguai; já ao norte de Corumbá é encontrado fosfato orgânico, 28 - Vide mapa Estado de Mato Grosso do Sul: vegetação, na seção de anexos Baía é uma porção de água, de formato arredondado, maior que o corixo, e, geralmente, muito limpa. Em alguns locais da região, as baías assemelham-se a miniaturas do mar (NOGUEIRA, 2002, p. 144) Corixo é um curso d água que não resiste ao estio prolongado. Permanece, geralmente, coberto de aguapés, camalotes, orelhas-de-onça e outras plantas aquáticas da região (NOGUEIRA, 2002, p. 146).

51 51 sedimentado no leito da Lagoa de Mandioré. Também o calcário desta região fornece mármore de boa qualidade (RAVAGNANI; RASLAN, s.d, p. 24). Campos (1969, p ) propôs um zoneamento geoeconômico do Estado e o dividiu em regiões. O zoneamento que se aplica à região em pesquisa são dois: o primeiro, que tem como centro Corumbá, dividido em duas zonas: Baixo Pantanal, que reúne os municípios de Porto Murtinho, que além dos campos de pastagens é enriquecido com extensas matas de quebracho e da palmeira carandá, e de Corumbá, área de solos com características sílico-calcárias de relevo plano, com campos nativos de grande valor nutritivo, que ainda é marcado por enchentes periódicas que obrigam os fazendeiros a removerem o gado para terras mais altas; possui também Bloco Monolítico em que se assentam os municípios de Corumbá e Ladário, depositários dos maiores recursos de ferro e manganês, localizados nos morros do Urucum, Trombas dos Macacos, Santa Cruz, Rabicho e Jacadigo. O segundo, tem como núcleo o município de Aquidauana que serve de entroncamento para os municípios de Bela Vista, de Caracol, de Jardim, de Guia Lopes da Laguna, de Bonito, de Nioaque, de Miranda, e de Anastácio, devido à posição geográfica que ocupa, dominando a encosta e a baixada sul. Essa segunda região, por sua vez, também pode ser dividida em duas zonas distintas: Pantaneira, que inclui os municípios de Miranda e Aquidauana com as Serras de Maracaju e de Bodoquena onde predominam boas pastagens; e a segunda, denominada de Altiplano de Bodoquena, com solos férteis, compostos de arenito-calcário e madeiras-de-lei principalmente no município de Miranda e nos declives e contrafortes das duas serras: serra de Maracaju e serra de Bodoquena. 2.2 A porção Sudoeste e a povoação de Mato Grosso do Sul O estado de Mato Grosso do Sul resultou do desmembramento do atual estado de Mato Grosso, pela Lei Complementar nº 31, assinada no dia 11 de outubro de 1977, pelo então Presidente da República Ernesto Geisel. O primeiro governador do novo estado, Harry Amorim Costa, foi nomeado pelo Presidente da República e tomou posse no dia 1º de janeiro de 1979, data da implantação/instalação do Estado em sua capital, Campo Grande (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 249).

52 52 A região sul de Mato Grosso não recebia a mesma atenção das autoridades governamentais, dispensada à região norte. Na época da colonização, por exemplo, os portugueses relegaram o sul de Mato Grosso a um segundo plano, por julgarem que nessa localidade não havia minas de metais preciosos, como na região norte, atual estado de Mato Grosso, para onde houve uma corrida de bandeiras 31 paulistas por volta de 1720, favorecendo, assim, o seu povoamento antes que o da região sul, pois esta servia, apenas, como rota fluvial para se chegar às minas de ouro da atual Cuiabá (ESSELIM, 2000, p.101). As primeiras viagens dos portugueses às terras que mais tarde seriam as de Mato Grosso tiveram início por volta da metade do século XVI e terminaram no início do século XVIII. Foram motivadas pela busca de índios guarani para trabalharem como escravos nos engenhos nordestinos. Para isso organizaram grandes bandeiras e escravizaram principalmente os indígenas da tribo guarani, que já haviam sido aldeados nas missões de Itatim, catequizados pelos jesuítas espanhóis e se tornado dóceis e acostumados ao trabalho (ESSELIM, 2000, p. 67). Mais tarde, uma bandeira chefiada pelo bandeirante Raposo Tavares 32, navegando pelo rio Coxim e chegando ao rio Taquari, alcançou o rio Paraguai, com objetivo único de escravizar mais índios já catequizados. Para tanto, destruiu as missões de Itatim, que hoje não se sabe ao certo onde se localizavam, escravizou os indígenas aldeados, levando para São Paulo em média mil índios. Muitos outros bandeirantes voltaram a escravizar indígenas aldeados, pelo fato destes já possuírem hábitos rurais e estarem em grande número reunidos em um só lugar. Devido aos constantes ataques dos bandeirantes portugueses, desavenças entre jesuítas e colonos pelo monopólio da mão-de-obra indígena e ataques de outras tribos, os jesuítas espanhóis e o que sobrou dos seus arrebanhados abandonaram, em 1659, definitivamente a região onde se localizavam as missões 33, deixando-a despovoada e favorecendo a entrada dos 31 - O termo bandeiras paulistas foi utilizado neste trabalho com o mesmo sentido de monçoeiros paulistas que tinham como objetivo explorar o ouro encontrado na atual Cuiabá e povoar a região para garantir a posse de terras para o Brasil Antônio Raposo Tavares, que atacou as reduções de Guairá a partir de 1628, teria destruído, em 1648, também, a Xerez de Rui Dias de Gusmão e, após, descido os Rios Coxim e Taquari rumo ao Paraguai e destruído também as missões do Itatim em território hoje sul-mato-grossense. É esse roteiro que sugere ter havido missões no vale do Anhanduí-Pardo. Ao seu auxiliar André Fernandes coube destruir as reduções da serra de Maracaju (VIANA,1963, apud GUIMARÃES;CAMPESTRINI, 2002, p. 16). Estiveram ainda na região os bandeirantes Luís Pedro de Barros, Manuel Dias da Silva (1660), Francisco Pedroso Xavier (1676, que teria destruído a cidade de Maracaju, que havia sido repovoada), Francisco Dias Mainardo (1680), Brás Domingos Paes (1682), Gabriel Maciel (1690), entre outros (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 16) Pelas informações históricas fornecidas por Esselim (2000, p. 94), as reduções do Itatim, na região sulmato-grossense, localizavam-se próximas aos rios Miranda e Aquidauana. Campestrini e Guimarães (2002, p. 16) também confirmam tal informação, ao registrarem que a missão do Itatim hoje se identifica pelas

53 53 portugueses que acabaram por incorporá-la ao território brasileiro pelo princípio jurídico do uti possidetis (1750), passando a pertencer à Capitania de Mato Grosso (ESSELIM, 2000, p. 89). Em 1718, os bandeirantes vão mais longe em suas viagens e o objetivo era, agora, chegar às terras dos Coxiponés, índios que habitavam uma região próxima à atual Cuiabá. Assim, o sertanista Antônio Pires de Campos desceu pelo Tietê, que na época se chamava Anhembi, navegou até o rio Grande, atual Paraná, pelo qual alcançou o rio Pardo, passando pelo seu afluente Anhanduí e aportando na serra de Maracaju. Após atravessar a serra a pé, o sertanista e seus companheiros encontraram o córrego Varadouro, que fica no município de Terenos e que deságua no Cachoeirão, afluente do rio Aquidauana, chegaram, posteriormente, ao rio Miranda que os levou até o rio Paraguai e, por este, navegaram até o Rio Cuiabá, chegando, por fim, às terras dos Coxiponés. Aprisionados os índios, fizeram a mesma rota de volta (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 19). Em 1719, outros bandeirantes liderados por Pascoal Moreira, na busca por índios, descobriram ouro junto ao rio Coxipó-Mirim, onde, então, fundou-se o arraial Forquilha, povoado que deu origem à cidade de Cuiabá. A partir dessa descoberta do metal nobre, passaram a ser freqüentes as monções dos que vinham de São Paulo, pois houve nessa época um surto migratório para o oeste, transformando os rios pantaneiros em caminho dessas monções (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 20). Os monçoeiros passam, também, a descrever a rota de suas viagens fluviais, determinando uma nova descrição geográfica, diferente das feitas pelos espanhóis que primeiro navegaram pelo Rio Paraguai e pelos rios pantaneiros. Tinham eles uma visão fantástica do pantanal, razão pela qual o chamavam de lago dos Xarayes ou Laguna de los Xarayes, lagoa que era considerada a mãe do Rio Paraguai, e estava em terras dos Xarayes, como descreve o viajante espanhol Cabeza de Vaca, por volta de 1540, caracterizando o lugar dos Xarayes como paradisíaco, no qual vivia um bondoso rei com sua corte em perfeita harmonia (COSTA, 1999, p.74). Com as viagens dos monçoeiros, essa visão maravilhosa sobre os Xarayes e seu lago será completamente modificada no século XVIII e a denominação Lago dos Xarayes trocada pela de Pantanal (COSTA, 1999, p. 186), pois, nesta época, os próprios viajantes espanhóis já começam a ter outra visão da região. O demarcador espanhol Félix Azara (1777, apud COSTA, 1999, p. 232) faz a seguinte descrição do Pantanal: seguintes linhas: ao norte pelo rio Miranda, ao sul pelo rio Apa, ao leste pela serra de Maracaju e a oeste pelo rio Paraguai.

54 54 o que há de mais singular é que durante a maior parte do ano está seco, sem que se encontre uma gota de água potável e cheio de espadana e outras plantas aquáticas. Alguns antigos acreditavam que o lago era a fonte do rio Paraguai, e é precisamente o contrário. Outros, aficionados a forjar contos, disseram que no centro do lago está o império de Xarayes, ou do dourado, ou de Patiti, e embelezaram esta mentira com outras fábulas ainda mais estranhas. Costa (1999, p. 187), por sua vez, ao buscar em diversos relatos de viajantes paulistas, observou que a região mais inundável da bacia paraguaia, onde os espanhóis localizaram los reyes e a laguna de los Xarayes passou a ser denominada pelos bandeirantes de Pantanal, ou como aparece em outros relatos, também de Pantanaes 34. Desse modo, os relatos fabulosos sobre a existência do reino dos Xarayes foram perdendo seu encanto no decorrer do século XVIII, mas fica evidente que Xarayes pertence mais que qualquer outra imagem a sazonalidade imposta pelo ambiente (COSTA, 1999, p. 236), isto é, são as cheias e as secas que determinam sua existência ou não, assim é um lugar que existe e em outro momento já não existe mais. Já as viagens dos monçoeiros paulistas passaram a ser freqüentes a partir de 1720 e com elas os ataques dos índios Guaikuru, exímios cavaleiros que ocupavam a área entre o rio Taquari, o rio Aquidauana e o rio Mondego 35. Este último era conhecido como Mboteteí, atualmente denominado de Miranda. Com os freqüentes ataques dos Guaikuru, os bandeirantes passaram a navegar em águas mais profundas, o que não resolveu o problema, pois agora eram atacados pelos Payaguás, conhecidos como índios canoeiros 36. Os conflitos entre bandeirantes e indígenas resultou em muitas mortes de brancos e índios. Além dos perigos constantes de ataques indígenas, os relatos paulistas ainda demonstram outros percalços enfrentados pelos monçoeiros no trajeto pelas águas, pois, ao subirem a bacia do Alto Rio Paraguai, as águas pareciam ganhar vida, e era possível perceber sua força pelo esforço dos braços dos remadores para dominarem a embarcação e remarem 34 - Costa (1999, p. 187), desejando uma explicação sobre a visão que os viajantes tinham do pantanal, buscou registros de relatos monçoeiros algumas descrições da região: a primeira, de um autor anônimo apresenta a seguinte definição: uns campos alagados com vários varadouros e lagoas. Tem muito peixe e caça, e já se teme o gentio Guaykuru, ou cavalheiro e muito mais o Payaguá ; a segunda, de Francisco Palácio, 1726, registra: os Pantanaes iniciam da parte direita para baixo do Taquari, que são campos alagados com várias lagoas e sangradouros, com muita caça e peixe e ali deve-se recear o gentio a cavalo da nação guaycurus cujos andam correndo estes campos. Chegando que sejais destas passagens preparem-se para morrer ou vencer, no caso que depois também o gentio de canoa chamado Payaguá Holanda (1986, p. 57) registra, em sua obra O extremo Oeste, que o Rio Mondego era chamado de Rio Mboteteí, nomeação que lhe fora atribuída pelo povo guarani Na obra de Caldas (1887), Memória histórica sobre os indígenas da província de Mato grosso (apud VASCONCELOS, 1999, p. 58), é possível encontrar uma relação de 64 tribos que habitavam às margens dos rios por onde navegavam sertanistas oitocentistas, já na década de 80 do século passado delas restavam apenas a tradição.

55 55 contra a correnteza. Além disso, havia a presença dos mosquitos como inimigos presentes durante dia e noite, como se observa em uma passagem do relato de Francisco Palácio (1726, apud COSTA, 1999, p. 185): criou Deus por estes Pantanais tanta quantidade de mosquitos, que para lhe dar comparação, não sei que no mundo haja. Por causa do ouro encontrado em Cuiabá, não havia preocupação em fixar povoados na região sul de Mato Grosso, que servia apenas como caminho para as minas. Por volta de 1750, a atenção de Portugal se volta para a região Sul da capitania quando foi assinado o Tratado de Madrid, acordo através do qual Portugal e Espanha aceitavam a violação oficial do Tratado de Tordesilhas 37 e, ao mesmo tempo, reconheciam o princípio jurídico do uti possidetis. Começava, então, uma busca por ocupação de áreas vitais para a supremacia portuguesa na região 38 (CORRÊA, 1999, p. 17). Em 1772, o general Luís Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres assumiu o governo da capitania de Mato Grosso, época em que já não vigorava mais o Tratado de Madrid, por ter sido anulado em Desse modo, o seu objetivo seria o de garantir posses de terras para a coroa portuguesa, por meio do povoamento da região. Em vista disso, foi determinado, pelo governador, que se construísse um forte no local denominado Fecho dos Morros, construção iniciada em 1775 e que, por um equívoco do capitão Matias Ribeiro, responsável pela construção, foi erguida cerca de 40 léguas antes do verdadeiro Fecho dos Morros. Esse forte foi denominado Forte Coimbra e próximo a ele começou a povoação de Albuquerque. Nessa mesma época o sertanista João Leme de Prado foi incumbido, também pelo governador, de reconhecer o rio Mboteteí, atual Miranda. Para homenagear Portugal, o rio passou a se chamar Mondego e o seu afluente, atual Aquidauana, foi denominado de Uacago (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p ). Em 1789, o general Luís Albuquerque passa o governo da Capitania para seu irmão João de Albuquerque, falecido em 1796, quando em seu lugar foi nomeado Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Em 1797, Caetano fundou o presídio de Miranda às margens do Rio Mondego e, próximo ao presídio, com o intuito de preservar as terras para a coroa portuguesa, fundou-se, também, um povoado que deu origem ao atual município de 37 - O Tratado de Tordesilhas dividia entre as coroas portuguesa e espanhola as terras da América, por meio de um meridiano a 370 léguas ao oeste das ilhas de Cabo Verde. De acordo com esse Tratado, as terras dos atuais estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul pertenciam à Espanha, porém, como nunca houve um acordo definitivo em torno dele, não chegou a ser fixado concretamente (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 13) Em maio do ano de 1748, a Corte portuguesa, antevendo a necessidade de garantia de posses de terras, desmembrou Mato Grosso da capitania de São Paulo (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 248).

56 56 Miranda, que concentra cerca de 30% de seu território no Pantanal. Na época das cheias, grande parte das terras de seu município fica alagada, criando melhores condições de navegabilidade, o que facilitava a comunicação e o comércio com o povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque 39, atual Corumbá. Em terras que hoje pertencem a Miranda, provavelmente no século XVI, estabeleceram-se, também, reduções de jesuítas espanhóis que foram destruídas várias vezes pelos bandeirantes (SOUZA, 1978, p. 40), o que reforça a hipótese de que nessa região existiram missões do Itatim. Alguns historiadores afirmam serem essas missões pertencentes ao povoado de Santiago de Xerez 40, fundado pelo espanhol Ruy Dias Melgarejo, em 1580, que devido aos constantes ataques de outros grupos indígenas e pelos portugueses, o povoado de Santiago de Xerez 41 foi transladado para vários lugares. Isso trouxe divergências entre historiadores sobre a real localização do sítio onde foi fundado tal povoado (ESSELIM, 2000, p. 47). No início do século XIX, portugueses tentam uma aproximação com os grupos indígenas que viviam próximos ao presídio de Miranda e ao Forte Coimbra adotando como política de aproximação o aldeamento, a catequese e os casamentos entre portugueses e indígenas. Os índios Guaikuru permaneceram desconfiados por longo tempo, por isso não foram aldeados, como consta do relato de Ricardo F. de Almeida Serra 42 (apud CORRÊA, 1999, p. 138). Acrescenta, ainda, nesse relato que os índios queriam casar-se com brancas, porém, a condição de ficarem com elas até a morte lhes parecia inadmissível, bem como o fato da necessidade do batismo na religião cristã para poderem contrair matrimônio. Os índios Guaikuru passaram, então, a manter amizade com os brancos que viviam nos povoados de Albuquerque e de Miranda, sem mais atacá-los. Em 1801, conflitos entre Espanha e Portugal envolvendo limites de terra refletem-se na região e ocorre o primeiro ataque do governador paraguaio, Lázaro de Ribeira, ao Forte Coimbra. Neste conflito, os índios Guaikuru se colocaram a serviço dos portugueses enquanto os Payaguá lutaram ao lado dos castelhanos. O comandante do presídio Miranda, em represália aos castelhanos, marchou com soldados e 300 (trezentos) índios Guaikuru para o forte espanhol de São José 39 - Cf. Proença (s.d., p. 27), Corumbá de todas as graças Para maiores informações acerca do povoado de Santiago de Xerez, consultar a obra de Esselim (2000, p ) e de Corrêa (1999, p ) Esselim (2000, p. 46) e Costa (1999, p. 120), estudiosos da história regional de Mato Grosso do Sul, confirmam a informação da fundação do povoado Santiago de Xerez e das suas várias mudanças, o que levou a perda da real localização desse povoado que abrigava indígenas da etnia guarani Ricardo Franco de Almeida Serra escreveu um parecer sobre os índios Uaicurús e Guanás, que se encontra registrado na Revista Trimestral de História e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geográphico Brazileiro. N. 19, 3 Trimestre de Rio de Janeiro: Typ. Universal de Laemmert, 1850 (CORRÊA, 1999, p. 212).

57 57 e o destruiu, finalizando esta que seria a primeira etapa de conflitos na região, pois recomeçariam em 1864, com a Guerra do Paraguai (CORRÊA, 1999, p. 139). A guerra entre Brasil e Paraguai se inicia a 10 de novembro de 1864, com a prisão do futuro presidente de Mato Grosso, o coronel Frederico de Campos, quando viajava pelas águas do rio Paraguai, por ordem de Lopez, presidente do Paraguai (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 89). A invasão paraguaia ao Brasil ocorreu por terra e por água e as tropas foram divididas em quatro, todas com objetivo de invadir e tomar uma região. Assim, uma tropa comandada pelo paraguaio Vicente Barrios rumou, pelas águas do Rio Paraguai, para o Forte Coimbra, Albuquerque e Corumbá; outra por terra, comandada por Resquim, rumou para a província de Bela Vista, pois dali marchariam sobre Nioaque e depois para a colônia do Miranda; a terceira comandada por Urbieta, por terra, adentrou a província de Laguna Capivari, atual Ponta Porã, para marchar sobre a Colônia do Dourados e a quarta, comandada pelo capitão Aguero, rumou pelo rio Miranda, rio Taboco com o objetivo de chegar a Coxim (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p ). Com as invasões paraguaias no dia 1º de maio de 1865 foi assinada a Tríplice Aliança, em Buenos Aires, a partir da qual uniram-se contra o Paraguai o Brasil, a Argentina e a República Oriental do Uruguai (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 115). Nos primeiros meses de 1865, organizou-se uma tropa para combater e expulsar os invasores paraguaios da região de Mato Grosso, chamada Força Expedicionária 43. Todavia essa tropa só chega à região ocupada a 1º de janeiro de 1867, comandada pelo coronel Camisão. A 11 de janeiro a Força partiu para Nioaque, chegando a esta vila no dia 24 do mesmo mês, quando já havia sido incendiada pelos paraguaios antes de abandoná-la, em virtude da notícia da chegada da tropa brasileira (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 122) A Força Expedicionária saiu de Minas, passou por Goiás e, chegando a Coxim, viajou pelo rio Negro até chegar a Fazenda Taboco. Pelo caminho enfrentaram grandes enchentes, fome e doenças como a malária e o beribéri, a última também conhecida como perneira. Os combatentes que sobraram, depois de alimentados nessa fazenda, rumaram para Miranda pelo rio Aquidauana com o objetivo de chegarem ao povoado de Nioaque. Quando lá chegaram, encontraram o povoado destruído pelas tropas paraguaias que se recolheram à Fazenda Laguna enquanto esperavam pelo reforço paraguaio para enfrentarem a tropa brasileira (CAMPESTINI; GUIMARAES, 2002, p. 119).

58 58 Foi também na vila de Nioaque que se apresentou como voluntário à tropa brasileira José Francisco Lopes, que ficou conhecido como Guia Lopes da Laguna 44 (TAUNAY, 1963, p. 39). A expulsão das tropas paraguaias se inicia no dia 5 de maio de 1867 com o ataque da tropa brasileira à fazenda Laguna, no Paraguai. Após terem derrotado o inimigo em seu próprio território, as tropas brasileiras fizeram o trajeto de Laguna até o rio Apa 45, voltando às terras brasileiras, rumo à fazenda Jardim, de Guia Lopes da Laguna. Nesse trajeto os brasileiros sofreram com as lutas, com a fome, mas principalmente com o cólera. A passagem pelo rio Apa acabou por possibilitar a cura de muitos dos doentes de cólera, uma vez que esta doença desidrata o enfermo e, ao atravessarem o rio, puderam beber água, o que era proibido pelos médicos da tropa. Isto possibilitou que os corpos dos doentes fossem reidratados. Desse modo, os que haviam contraído a doença recentemente ficaram curados (GUIMARÃES, 1999, p. 186). Contudo, a doença continuou atacando a Expedição e acabou por matar mulheres, crianças, índios e muitos soldados. Segundo relato de Taunay (1963, p.132), já próximo à fazenda Jardim, depois de terem atravessado o rio Verde, o cólera havia feito muitos enfermos, assim os soldados saudáveis além de se defenderem do inimigo paraguaio, da chuva, do frio e da fome carregavam em macas os coléricos. Camisão, o chefe da Expedição, após ouvir a comissão de saúde e a de engenheiros, abandonou mais de cem coléricos à beira de um córrego, que acabaram sendo degolados pelos paraguaios. Desse grupo, apenas um sobreviveu, o cabo Calixto de Andrade Medeiros que, segundo Taunay, fingiu-se de morto e depois encontrou a tropa na margem esquerda do Miranda, dando notícias aos companheiros sobre o ocorrido com os doentes. Este córrego hoje é conhecido como Córrego Cambarecê e pertence ao município de Jardim. Ao chegarem à fazenda Jardim, já não estavam mais na tropa nem o coronel Camisão tampouco o guia da tropa, pois haviam morrido de cólera no caminho de volta às terras brasileiras (GUIMARÃES, p ). A tropa continua sua marcha rumo a Nioaque e ainda obedecendo às ordens do coronel Camisão, chegariam ao Porto Canuto, à margem do rio Aquidauana, junto ao morro Azul. No dia 11 de junho chegaram ao local com o objetivo cumprido: o de ter 44 - Guia Lopes da Laguna, antes da guerra, habitava a margem do Rio Miranda na fazenda que batizara de Jardim, quando ali chegaram os paraguaios aprisionaram sua mulher e filhos e os levaram para a aldeia paraguaia de Horcheta (TAUNAY, 1963, p. 39) Conforme o relato de Holanda (1986, p. 57), o nome do rio Apa deriva de vozes guaycurus e antes dessa nomeação era chamado Rio Tepoty.

59 59 expulsado os paraguaios daquela região, encerrando assim a Retirada da Laguna (GUIMARÃES, 1999, p. 187). Restava ainda a expulsão dos invasores de Corumbá, pois dali vigiavam o rio Paraguai e levavam o gado do Pantanal. O comandante Antônio Maria Coelho comandou um batalhão para este fim, atacou a vila de Corumbá, no dia 13 de junho de 1867, capturando os paraguaios desprevenidos e com um grande número de soldados doentes, uma vez que a vila estava tomada por uma epidemia de varíola. Vencidos, os paraguaios fugiram do local: uns para a fronteira boliviana, outros alcançaram os vapores paraguaios que estavam ao largo do rio Paraguai, do Anhambaí e do rio Apa (CORRÊA, 1999, p. 29). O comandante Antônio Maria Coelho com sua tropa e a população doente de varíola rumaram para o Porto Sará, localizado no Rio Cuiabá. Nesse rio, foi travada a batalha entre brasileiros e paraguaios, que ficou conhecida como o Combate do Alegre, onde paraguaios novamente foram derrotados (GUIMARÃES, 1999, p. 192). Com a notícia do esvaziamento da vila de Corumbá, em julho de 1867, os paraguaios retornaram e permaneceram no local até o ano seguinte, quando foram retiradas todas as tropas paraguaias situadas na província de Mato Grosso (CORRÊA, 1999, p. 29). Após a guerra, as vilas de Corumbá, de Miranda, de Nioaque e de Coxim estavam devastadas. Porém aos poucos os antigos moradores começaram a retornar, apenas os de Nioaque não voltaram de imediato, o que provocou o desaparecimento da vila como povoação. Somente em 1872, os moradores deram início ao regresso. Na fase pós-guerra, nessas vilas começa a surgir uma economia de subsistência com as famílias trabalhando na roça ou no fabrico das farinhas de mandioca e de milho, do queijo e da rapadura. Também teciam seus próprios utensílios de couro para o trabalho no campo como arreios, laços (GUIMARÃES, 1999, p. 211). Com o fim da guerra, o governo imperialista implanta uma política de povoamento não só da região pantaneira, como também de todo o território próximo à fronteira com o Paraguai. Desse modo, houve uma disponibilidade de terras sem muito valor de compra, favorecendo a formação de vastas propriedades rurais. Na região pantaneira, propícia à criação bovina, desenvolveu-se uma economia basicamente pecuarista. Corrêa (1999, p. 162) destaca que os fazendeiros que antes apenas cultivavam alimentos para a sua subsistência, aprenderam a lidar com o gado, adaptaramse ao meio ambiente pantaneiro e, sobretudo, às enchentes periódicas e às vazantes regulares, desenvolvendo, pois, um modo de viver no Pantanal que tinha como elemento regulador da produção bovina, a água.

60 60 Com o desenvolvimento da criação bovina, surgiram também na região pantaneira as charqueadas 46 e, por volta de 1920, aparecia às margens do rio Paraguai a charqueada Bagoary, a Corumbá e a Rebojo em Corumbá; a Barranco Branco e a Mato Grosso em Porto Murtinho e, próximo a Miranda, a Pedra Branca. Porém, na metade do século passado, a indústria do charque entra em decadência com as construções de frigoríficos por todo o país. No próprio Estado foram instalados dois frigoríficos: um em Campo Grande e outro no Sul do estado, desse modo, o foco de interesse passou a ser o boi vivo (CORRÊA, 1999, p ). Mas não só da pecuária viveu a região, pois a livre navegação pelo rio Paraguai após a guerra do Paraguai e a produção e exportação da erva-mate ajudaram no crescimento e no povoamento tanto de parte da região localizada à Sudoeste quanto à no Sul de Mato Grosso (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, p. 151). No próximo item abordaremos aspectos relacionados à reconstrução e ao desenvolvimento dos municípios que compõem as microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR09), após a Guerra do Paraguai e, também, ao quadro do ambiente natural da região. 2.3 Pós-guerra: a reconstrução dos povoados das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) A reconstrução dos povoados, após o término da Guerra do Paraguai, teve início com Corumbá. Esse povoado que fora fundado em 1778, passou à vila em 1862, já com o nome de Corumbá. Localizado à beira do rio Paraguai, teve um crescimento acelerado após a guerra, com a abertura da navegação e o incentivo do governo imperial, por meio da isenção de impostos de mercadorias importadas e exportadas através do Porto de Corumbá. A plena navegação do rio Paraguai também permitiu a navegação do rio Miranda, seu afluente. Assim, barcos particulares, principalmente de estrangeiros, passaram a navegar por esses rios propiciando o crescimento não só de Corumbá como também do povoado de Miranda. Corumbá passa, então, a ser um importante centro comercial, com uma forma de comércio muito particular, o de mascates fluviais, pois as mercadorias entravam na região 46 - As charqueadas, que tiveram início no século XIX, constituíam-se na produção de charques, carne salgada e línguas salgadas que eram exportadas para a Inglaterra, para Cuba e para o Uruguai.

61 61 através dos rios (GUIMARÃES, 1999, p. 214). Os antigos fazendeiros também começaram a voltar para a vila de Corumbá e na esteira destes vieram outros ao saberem das condições da terra favoráveis ao cultivo, com um bom clima, abundância de água e boas pastagens. Assim novos povoadores chegam à região em carretas de bois, rumando para os campos de vacaria, para o baixio da serra e para os pantanais, o que dá início a uma economia basicamente pecuária (GUIMARÃES, 1999, p. 215). É interessante ainda retomar aspectos históricos referentes aos nomes que Corumbá recebera. O primeiro, por exemplo, lavrou-se em ata como Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, que ficou conhecida como povoado de Albuquerque. O povoado entrou em decadência, quando em 1827, fora fundado outro povoado com o mesmo nome e para lá fora transferido o Comando Geral da Fronteira (PROENÇA, s.d., p ). Os dois povoados ficaram com o mesmo nome, e o primeiro passou a ser conhecido como Albuquerque, a Velha e o segundo, como Albuquerque, a Nova 47, mas mesmo assim, os dois topônimos geravam confusão. Em 1853, a Albuquerque, a Velha recomeçava a desenvolver-se, pois devido a sua posição geográfica vantajosa, assentada sobre barrancas altas de pedras, livre, portanto, de enchentes e ainda por estar localizada em frente ao rio Paraguai foi escolhida para a instalação de uma agência fiscal que tinha por objetivo regulamentar a navegação fluvial. Devido ao desenvolvimento do povoado, este passou a município em 15 de novembro de 1878, pelo Decreto Lei nº 525, com o nome de município de Corumbá, designação que já havia recebido em 1862, quando passara à categoria de vila (PROENÇA, s.d., p ). O surgimento do município de Ladário, também, está relacionado ao desenvolvimento da Vila Albuquerque e de Corumbá. No dia 02 de setembro de 1778, foi fundado o povoado de Ladário pelo sertanista João Leme do Prado. O povoado recebeu esse nome, em homenagem à Vila portuguesa de Ladário, onde nasceu o então governador da capitania de Mato Grosso, capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (PROENÇA, s.d., p. 27). O povoado fora distrito de Corumbá até o dia 11 de dezembro de 1953, quando passou à categoria de município pela Lei Estadual nº 679, elaborada pelo deputado estadual Manoel Wenceslau de Barros Botelho (PROENÇA, s.d., p. 27). Quanto a Nioaque, os moradores desse povoado começaram a retornar para suas terras somente em 1872, desenvolvendo também uma economia de base pecuária. Foi 47 - Albuquerque, a Nova é hoje distrito de Corumbá (PROENÇA, s.d., p. 25).

62 62 elevada à categoria de freguesia, com a denominação de Levergéria, no entanto, com o passar dos anos, o nome que nascera juntamente com o povoado em 1854, Nioaque, prevalecera e, desse modo, em 1892 recebeu novamente o nome de Nioaque. Já o município de Miranda que fora destruído em 1865 pelos paraguaios, foi restaurado em 1871 e a partir de 1911 com a chegada da Ferrovia Noroeste do Brasil, passou a desenvolver-se devido a valorização das terras na região e dos rebanhos bovinos, em 1918 foi elevado a município. A Ferrovia Noroeste do Brasil, inaugurada em 1914, ligava Porto Esperança, localizado próximo a Corumbá, a Bauru SP, e também serviu aos propósitos de colonização do Estado, uma vez que a Legislação de terras permitia aos interessados obter gratuitamente lotes que variavam de 50 a 200 hectares de terras devolutas, previamente estabelecida para esse fim. Com a instalação da ferrovia que cortava também terras do Pantanal sul-mato-grossense, fortaleceu a economia da região, a pecuária, e levou a uma mudança no eixo da economia, pois antes da instalação da Estrada de ferro, a carne bovina era quase toda exportada para a Argentina, a partir dessa instalação, se voltou para o eixo econômico do Brasil, principalmente para o Rio de Janeiro e para São Paulo, e a criação de gado do tipo pantaneiro foi substituído pelo tipo zebu, introduzido na região pelos paulistas, mineiros e goianos (CORRÊA, 1999, p. 169). No que se refere às correntes migratórias, Oliveira (1999, p. 80) pontua que vieram para a região sul-mato-grossense, após a Guerra do Paraguai, migrantes atraídos pela possibilidade de se criar gado nos extensos campos nativos e de tornarem-se proprietários de grande fazendas. No final do século XIX, migrantes eram também atraídos pelo aproveitamento dos ervais nativos que abundavam na região. Rosa (1962, apud OLIVEIRA, 1999, p. 81), por sua vez, registra que a zona de fronteira do sul de Mato Grosso recebeu duas correntes migratórias que, partindo de regiões diferentes, se encontraram no Extremo Oeste; apossaram-se de terras e transformaram a região em grandes fazendas, vilas e cidades. O estudioso acrescenta que uma dessas correntes era constituída por gaúchos que, após 1893, adentraram pelo sul e se estabeleceram em Ipehum, atual município de Paranhos e Nhú-Verá, atual município de Coronel Sapucaia, Ponta Porã e Bela Vista, Porto Murtinho, Miranda, Campo Grande e Dourados. A outra corrente que fez entrada pelo Norte foi constituída de sertanistas que vinham de Minas Gerais, de São Paulo, de Goiás e do Paraná, fixaram-se na fronteira com o Paraguai, entre Maracaju e Nioaque, nas proximidades da antiga colônia Militar de Dourados e até mesmo em Campo Grande.

63 63 Já na última década do século XIX, havia se cristalizado uma economia com tendência ao predomínio da atividade pecuária e, por conseqüência, no Pantanal sul-matogrossense com um regime de grandes propriedades rurais (CORRÊA, 1999, p. 163). Porém não foi apenas a atividade criatória bovina que movimentou a economia da região pesquisada, a exploração da erva-mate também marcou a história da colonização, por exemplo, dos municípios de Porto Murtinho, localizado na microrregião do Baixo Pantanal (MR 01) e do município de Bela Vista, localizado na microrregião de Bodoquena (MR 09). Em 1874 teve início a exploração da erva-mate pelo gaúcho Tomás Laranjeira, que trabalhou como auxiliar na demarcação de limites de Mato Grosso e nessas caminhadas pelo território do Estado descobriu nas matas da Serra de Maracaju a presença de grande quantidade de árvores da erva-mate, desde as cabeceiras do rio Apa até o salto de Sete Quedas. Os ervais nativos estendiam-se desde a foz do rio Pardo no rio Paraná percorrendo a linha de fronteira com o Paraguai até Ponta Porã e pela serra de Maracaju até os limites atuais do município de Sidrolândia, daí pelo rio Pardo até sua foz no rio Paraná (ARRUDA, 1986, p. 213). Nesse mesmo ano (1874) começou o ciclo 48 da ervamate, nas regiões Sudoeste e Sul de Mato Grosso do Sul. Esse ciclo teve início em 1882, com a legalização da extração da erva-mate, concedida a Tomás Laranjeira, e durou até por volta de Trabalhavam nos ervais, principalmente, paraguaios, mão-de-obra barata e especializada naquela situação de pós-guerra. Em 1883, Laranjeira, em sociedade com os irmãos Murtinho, funda uma empresa com sede à margem do rio Verde afluente do rio Amambaí. Nascia, então, a Companhia Erva-Mate Laranjeira (ARRUDA, 1986, p. 218). A erva-mate favoreceu o surgimento do povoado de Porto Murtinho, uma vez que os irmãos Murtinho fundaram, em 1895, o Porto Murtinho, às margens do rio Paraguai, por onde era exportada a erva. Assim, ao redor do porto foi surgindo o povoado de Porto Murtinho que passou a município em 1911 (GUIMARÃES, 1999, p. 224). Já Bela Vista, povoado que nasceu à beira do rio Apa, por volta de 1874, foi elevada a distrito em 1890 e a município em O território desse município, que faz divisa com o Paraguai, também teve o seu desenvolvimento, ao que parece, devido ao ciclo da erva-mate. Essa região ficara por aproximadamente três séculos despovoada de brancos devido aos ataques dos índios guaycurus, denominados pelos paraguaios de mbaias, que 48 - Denomina-se ciclo da erva-mate o período compreendido entre 1882 e 1937, época em que houve a produção e a exportação da erva como atividade econômica e sua quase monopolização por uma única empresa, a Companhia Matte Laranjeira (ARRUDA, 1986, p. 271).

64 64 defendiam as terras e não deixavam que os espanhóis ali se radicassem. Em 1791, os guaycurus selaram amizade com os portugueses e fizeram seu aldeamento junto à serrania da Bodoquena, protegendo as terras que viriam, após a Guerra do Paraguai, pertencer ao Brasil (GUIMARÃES, 1992, p.75). Assim como Porto Murtinho e Bela Vista, o povoado de Aquidauana não surgiu devido à atividade pecuarista, mas para facilitar as comunicações por terra com os povoados de Campo Grande, Nioaque e as fazendas da região. Fazendeiros fundaram o povoado de Aquidauana em 1892, à beira do rio Aquidauana que deu origem ao nome do novo aglomerado humano (CORRÊA, 1999, p. 163). Esse novo povoado foi fundado à margem direita do rio Aquidauana no dia 15 de agosto de 1892 e elevado a município em Rico em sua hidrografia, uma vez que pelo seu território passam, além do rio Aquidauana, o rio Negro e o rio Taboco que na época das enchentes são engrossados por dezenas de vazantes, o que permitia o movimento de pequenas embarcações que serviam aos moradores que habitavam a sua redondeza (GUIMARÃES, 1999, p.226). A fundação do povoado de Aquidauana também proporcionou o surgimento de Anastácio, situado à margem esquerda do mesmo rio. A comunicação entre os dois povoados, a princípio, era feita por meio de balsas, mas quando havia enchentes a travessia se tornava quase inacessível devido à correnteza das águas. O então administrador de Aquidauana, o farmacêutico Roldão Carlos de Oliveira, em 1918, mandou construir uma ponte que ligava o município a Anastácio (FARIA, 1992, p.15). Frazão (1992, p. 68) atribui a origem do nome Anastácio a uma homenagem à primeira família que construiu residência no atual município de Anastácio, em 1872, à margem esquerda do rio Aquidauana. Ainda hoje, a casa dessa família continua em perfeito estado de conservação, segundo o autor. Já a etimologia do nome Aquidauana é motivo de controvérsias. Farias (1992, p. 14), por exemplo, baseando-se em relatos de Emille Rivasseau, agrimensor francês que morou por longos anos em Corumbá e que percorreu toda a região do Forte Coimbra, de Barranco Branco, de Porto Murtinho, de Nioaque, Aquidauana e de Campo Grande, o que lhe proporcionou uma longa convivência com a etnia Guaikuru, que resultou no livro A vida dos índios Guaykurus, creditou a nomeação a esse povo, destacando que na língua deles, Aquidauana significa rio fino, estreito, delgado: aqui rio, uana, fino delgado, estreito (apud Farias 1992, p. 14). Taunay, por sua vez, registra que a única informação que obteve sobre a origem do nome Aquidauana é que havia na região um cacique com o nome de Taquidauana (apud DICK, 1992, p. 135).

65 65 Como já foi mencionado, a base econômica do Estado foi, sobretudo, a formação de grandes latifúndios com a criação bovina, fato também ocorrido na região pesquisada. Também serviu como fonte de economia a produção e exportação da erva-mate em alguns dos municípios do recorte estudado, como é caso de Porto Murtinho, de Bela Vista e de Bonito. Oliveira (1999, p ), em sua Dissertação de Mestrado intitulada A política de colonização do Estado Novo em Mato Grosso ( ), confirma essa formação de grandes latifúndios em Mato Grosso do Sul ao destacar que a colonização ocorreu pelo processo de posse de terras. Fato também constatado tanto na região pantaneira, quanto na região sul, onde se instituiu a política de posse que consistia no apoderar-se de determinada área, organizar algum tipo de atividade econômica, e após isso, pleitear a posse junto aos órgãos responsáveis. Ainda hoje, nas 03 (três) microrregiões em estudo, há a presença de inúmeras fazendas de criação de gado, uma das bases econômicas do Mato Grosso do Sul. No Capítulo subseqüente apresentamos o corpus da pesquisa e a análise dos dados.

66 66 CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 3.1 Considerações preliminares: o corpus toponímico Ao nos propormos a investigar o léxico da língua dentro de um recorte toponímico, tivemos que fazer, também, um recorte do espaço geográfico que compõe o estado de Mato Grosso do Sul. Assim, escolhemos a porção Sudoeste do Estado como área de investigação para esta pesquisa. No entanto, há que se esclarecer que não analisamos todos os topônimos que integram a toponímia do recorte regional selecionado, haja vista que outra pesquisa já fora realizada na região do Pantanal por Schneider (2002). Como essa estudiosa analisou apenas os nomes de acidentes físicos (AF) do pantanal sul-mato-grossense arroios, baías, corixos, córregos, ilhas, lagoas, morrarias, morros, ribeirões, rios, serras, vazantes, propusemo-nos a estudar, no âmbito da região pantaneira, os acidentes humanos (AH) nomes de municípios, de distritos, de vilas, de povoados, de aldeias que não foram objetos de estudo da pesquisa de Schneider (2002) com o objetivo de completar o mapeamento da toponímia dessa importante região do Estado. Schneider (2002) adotou a divisão da região pantaneira proposta por Silva e Abdon (1998) que a dividem em 11 (onze) sub-regiões: sub-região de Cáceres (MT), sub-região de Poconé (MT), sub-região de Barão do Melgaço (MT), sub-região de Paraguai (MS), subregião de Paiaguás (MS), sub-região de Nhecolândia (MS), sub-região de Abobral (MS), sub-região de Aquidauana (MS), sub-região de Miranda (MS), sub-região de Nabileque (MS) e sub-região de Porto Murtinho (MS). Foi objeto de investigação de Schneider (2002) tão somente a toponímia dos acidentes físicos das 08 (oito) sub-regiões localizadas no estado de Mato Grosso do Sul: Paiaguás (MS), Paraguai (MS), Nhecolândia (MS), Abobral (MS), Aquidauana (MS), Miranda (MS), Nabileque (MS) e Porto Murtinho (MS). Portanto, a nossa pesquisa ateve-se aos acidentes humanos (AH) pertencentes a essas mesmas sub-regiões, ou seja, aos 08 (oito) pantanais localizados em nosso Estado, situados nos municípios de Ladário, de Corumbá, de Porto Murtinho, de Aquidauana, de Miranda e

67 67 de Bodoquena. A relação dos topônimos estudados por Schneider (2002) foi apresentada no Anexo I, deste trabalho. Esclarecemos que em virtude de Schneider (2002) ter utilizado fonte 49 de coleta de dados diversa da nossa cartas topográficas, escala 1 : do Ministério do Exército: Departamento de Engenharia e Comunicação (1982), catalogamos uma parcela de topônimos de acidentes físicos (AF) que não constaram na Dissertação de Mestrado de Schneider (2002): 198 (cento e noventa e oito) topônimos, que se constituíram parte de nosso corpus de estudo. Desse modo, no que se refere aos municípios de Mato Grosso do Sul que estão localizados nas sub-regiões pantaneiras Ladário, Corumbá, Porto Murtinho, Aquidauana, Miranda e Bodoquena o nosso trabalho configura-se como um complemento da pesquisa dessa estudiosa. O Quadro I, a seguir, visualiza os municípios que fizeram parte do trabalho de Schneider (2002) e os contemplados por esta pesquisa, o que permite esclarecer em quais municípios esta pesquisa complementa a de Schneider e em quais foi objeto de estudo exclusivo da nossa pesquisa. Quadro I Indicação do recorte toponímico pesquisado por Schneider (2002) e por Gonsalves (2004) Microrregiões/Município s Topônimos de AF (SCHNEIDER, 2002) Topônimos de AF e AH (GONSALVES, 2004) Baixo Pantanal (MR 01) Ladário X X Corumbá X X Porto Murtinho X X Aquidauana (MR 02) Aquidauana X X Dois Irmãos do Buriti X Anastácio X Miranda X X Bodoquena (MR 09) Bela Vista X Bonito X Guia Lopes da Laguna X Jardim X Bodoquena X X Nioaque X Caracol X 49 - Como já foi informado, nesta pesquisa elegemos como fonte de dados as cartas topográficas, escala 1: do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1987).

68 68 Em síntese, esta pesquisa delimitou como área de investigação 03 (três) microrregiões 50 : Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02) e Bodoquena (MR 03), contemplando o estudo dos nomes das microrregiões, dos acidentes humanos (AH) nomes dos municípios, dos distritos, dos povoados, das vilas, das colônias e das aldeias e dos acidentes físicos (AF) nomes de rios, de córregos, de corixos, de baías, de lagoas, de vazantes, de ilhas, de morros, de serras e de cabeceiras. Objetivamos, numa perspectiva mais ampla, levantar, catalogar e analisar os nomes dos acidentes físicos (AF) e humanos (AH) dos 14 (quatorze) municípios que fazem parte da toponímia da região pesquisada, conforme o modelo taxionômico adotado, com vistas a buscar nos nomes geográficos em estudo a motivação lingüística e possíveis influências de elementos extralingüísticos no processo de nomeação; registrar a presença de estratos lingüísticos, principalmente de base indígena, na nomenclatura geográfica do recorte territorial em estudo, bem como traduzir condutas motivadoras, se orientadas pela ordem física e/ou antropo-cultural. Com o intuito de atingir os objetivos propostos, partimos das seguintes hipóteses: o signo lingüístico em função toponímica o topônimo foi influenciado por particularidades sócio-histórico-culturais e geográficas da região que foram preservadas na nomenclatura geográfica dos acidentes físicos e humanos; e os topônimos da região estudada revelam estratos lingüísticos oriundos das línguas das diferentes etnias presentes na formação da população que habitou e/ou habita a área geográfica estudada. Para a realização da investigação, adotamos dois eixos de análise do corpus que consideraram aspectos lingüísticos e extralingüísticos. O primeiro se constituiu na investigação da etimologia e do significado do elemento específico do sintagma nominativo, como por exemplo, em povoado Carandazal (AH), em que povoado é o nome genérico que define a classe do nome geográfico e Carandazal o elemento específico, isto é, o objeto de investigação da Toponímia. Na investigação etimológica analisamos, sistematicamente, tão somente os topônimos classificados nas categorias dos fitotopônimos e dos zootopônimos, visto que a presença de estratos lingüísticos de outras línguas ocorreu, em sua maioria, nessas duas categorias. Quanto às outras taxes, fizemos menção à etimologia e ao significado do topônimo no decorrer da análise, quando julgamos relevante alguma particularidade toponímica Vide anexo II mapa Mato Grosso do Sul: regiões pesquisadas.

69 69 Já o segundo eixo considerou a análise das 05 (cinco) taxes de maior incidência no conjunto das três microrregiões, focalizando possíveis causas motivadoras na nomenclatura geográfica como o ambiente natural, aspectos sócio-históricos. Em face disso, este Capítulo está organizado da seguinte forma: apresentam-se primeiramente todos os dados que compõem o corpus da pesquisa e, na sequência, a análise dos nomes das microrregiões em estudo e dos designativos dos 14 (quatorze) municípios a elas veiculados. Em seguida, apresenta-se a análise das cinco taxes mais produtivas na região pesquisada. 3.2 Apresentação dos dados Nesta parte apresenta-se a classificação dos topônimos coletados nas 03 (três) microrregiões em estudo. Os dados foram organizados em 03 (três) quadros: Quadro II Topônimos da Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01), Quadro III Topônimos da Microrregião de Aquidauana (MR 02) e Quadro IV Topônimos da Microrregião de Bodoquena (MR 09). A montagem desses quadros foi baseada, em parte, na ficha lexicográfico-toponímica do Projeto ATESP Atlas Toponímico do Estado de São Paulo, subárea: Toponímia Geral e do Brasil, cujos princípios teórico-metodológicos orientam esta pesquisa. Dessa ficha foram adotados os seguintes itens: localização, município no qual está inscrito o topônimo, o nome do acidente, o tipo, se humano (AH) ou físico (AF), e a classificação taxionômica. Acrescentamos dois itens: etimologia e variante toponímica. No item etimologia 51 foi registrada a possível presença de outras línguas na nomenclatura dos acidentes geográficos da área pesquisada. Já no item variante toponímica (VT) 52, foram 51 - Neste trabalho propusemo-nos a buscar a etimologia dos nomes, principalmente, os de origem indígena, tomando como parâmetro a postura metodológica de Sampaio (1987, p. 173), para quem: o estudo etimológico dos vocábulos, para o fim de fixar-lhes o verdadeiro significado, foi sempre campo de larguíssimas proporções, onde a imaginação, não raro, assume papel preponderante, e as hipóteses mais ousadas, como as explicações mais sugestivas, encontram guarida e se impõe ao senso comum O campo variante toponímica foi acrescido por sugestão da professora Maria Vicentina do Amaral Dick por ocasião do nosso exame de Qualificação. Assim, esse campo destina-se ao registro de possíveis nomes anteriores dos acidentes. Salientamos que esse levantamento não foi exaustivo, pois só registramos denominações anteriores, quando identificadas na bibliografia histórica acerca da localidade, utilizada nesta pesquisa. Então, consideramos como variante toponímica os diferentes nomes atribuídos ao acidente no decorrer de sua história. Citamos como exemplos os seguintes casos: 1) o acidente humano hoje denominado de Corumbá (AH/MS), que foi nomeado como povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque no ato de sua fundação, passando a Albuquerque, a Velha para depois passar a se chamar Corumbá; 2) o rio Miranda (AF/MS), que já fora chamado Mboteteí, rio Mondego. Acrescentamos que a variação onomástica,

70 70 registrados, quando foi possível recuperar pela bibliografia histórica consultada, nomes anteriores atribuídos aos acidentes. Assim, os quadros apresentam seis campos que, na sequência, contêm os seguintes elementos: Município, nome dos municípios que integram cada Microrregião; Topônimo, nome próprio do acidente que está sendo analisado; TA/acidente, TA indica a tipologia do acidente, se humano (AH) ou físico (AF), e acidente indica o acidente geográfico ou elemento genérico do sintagma toponímico; Língua de origem 53 registra a língua de origem do nome geográfico: língua portuguesa, língua espanhola, língua africana e língua indígena; Classificação Taxionômica, indicação da categoria do topônimo, segundo o modelo adotado; e Variante Toponímica (VT), espaço reservado para o registro de nomes anteriores do acidente. Para a identificação da língua de origem dos designativos foram adotadas as fontes a seguir enumeradas, que serão identificadas na indicação da etimologia do topônimo, pelo sobrenome do autor e ano da publicação da obra: 1 - Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de Antônio Houaiss, Mauro de Salles Villar e Francisco Manoel de Mello Franco (HOUAISS, 2001). 2 - O tupi na geografia nacional, de Teodoro Sampaio, 1987 (SAMPAIO, 1987); 3 - Vocabulário guarani português, de Mário Arnaud Sampaio, 1986 (ARNAUD SAMPAIO, 1986); 4 - Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha 1986 (CUNHA, 1986); 5 - Diccionario castellano guarani, guarani castellano, de Padre Antonio Guasch e Padre Diego Ortiz, 1986 (GUASCH; ORTIZ, 1986); 6 Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes, de R. F. Mansur Guérios, 1981 (GUÉRIOS, 1981). Esclarecemos que foi utilizada mais de uma fonte para a identificação da língua de origem, apenas para aquelas lexias 54 que apresentaram origem controversa ou obscura. de um modo geral, parece ser mais comum em nomes de acidentes humanos do que em nomes de acidentes físicos Para o levantamento da língua de origem do topônimo consideramos, apenas, aqueles de base indígena, de origem espanhola e africana, já que o propósito foi verificar a presença de estratos lingüísticos dessas línguas na toponímia pesquisada, pelo fato da existência, no passado, de inúmeras povoações indígenas na localidade estudada, pela proximidade com o Paraguai, onde se fala o espanhol e pela presença de africanos na colonização do país Para Biderman (1978, p ), os lexemas se manifestam, no discurso, através de formas ora fixas, ora variáveis. Essa segunda alternativa é a mais freqüente nas línguas flexivas e aglutinantes. Assim, em português, o lexema CANTAR pode manifestar-se discursivamente como cantei, cantavam, cantas, cantando etc. o lexema MENINO como menino e meninos. A essas formas que aparecem no discurso, daremos o nome

71 71 Nesses casos, tomamos como obra de consulta principal para palavras registradas na língua portuguesa a obra Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha (1986). Já para a classificação dos topônimos tomamos como parâmetro o modelo taxionômico de Dick (1992), complementado por subdivisões propostas por outros pesquisadores brasileiros: a subdivisão da taxe animotopônimo em eufórico e disfórico, proposta por Isquerdo (1996); da taxe hagiotopônimo em autênticos e aparentes, apresentada por Lima (1997). Ratificamos, por fim, que na classificação do topônimo foi considerado o nome específico do sintagma denominativo, no qual, o primeiro membro do sintagma tem como finalidade definir a classe genérica, enquanto o segundo é chamado de elemento específico por constituir-se como o campo de estudo da Toponímia (DICK, 1990, p. 24). Na sequência, são apresentados os quadros que reúnem o conjunto dos topônimos estudados. Quadro II - Topônimos da Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01) Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Ladário de Ladário AH/município LP Corotopônimo Variante Toponímica (VT) Corumbá Boa Esperança AH/povoado LP Animotopônimo eufórico Corumbá Vista Alegre AH/povoado LP Animotopônimo eufórico Corumbá Albuquerque AH/vila LP Antropotopônimo Albuquerque, a Nova Corumbá Conceição AF/baía LP Antropotopônimo Corumbá Domingos Ramos AH/povoado LP Antropotopônimo Corumbá Fernandes Braga AF/lagoa LP Antropotopônimo Corumbá Leverger AF/lagoa LP Antropotopônimo de lexia. Portanto, cantei, cantavam, cantas, cantando, menino e meninos daremos, o nome de lexia. Diante do exposto, utilizamos o termo lexia, segundo o conceito proposto por Biderman (1978, p ), pelo fato de os designativos de acidentes geográficos antes de passarem à categoria de nomes próprios já pertenciam ao léxico do grupo.

72 72 Corumbá Maria Coelho AF/corixo LP Antropotopônimo Corumbá do Meio AF/rio LP Cardinotopônimo Corumbá do Meio AF/morro LP Cardinotopônimo Corumbá Coimbra 55 AH/vila LP Corotopônimo Corumbá Vermelho AF/corixo LP Cromotopônimo Corumbá do Abrigo LP Ecotopônimo Corumbá do Funil AF/vazante LP Ergotopônimo/ Hidrotopônimo Corumbá do Revólver AF/corixo LP Ergotopônimo Corumbá Forquilha AF/vazante LE Ergotopônimo Corumbá Paiolzinho AH/povoado LE Ergotopônimo/ Sociotopônimo Corumbá Viveirinho AF/vazante LP Ergotopônimo Corumbá dos Bugres AF/lagoa LP Etnotopônimo Corumbá Carandazal AH/povoado LT Fitotopônimo Corumbá Cedral AH/povoado LP Fitotopônimo Corumbá Paratudal AF/lagoa LP Fitotopônimo Corumbá Taquaral AF/vazante LT Fitotopônimo Corumbá Urucum AH/povoado LT Fitotopônimo Corumbá Barranqueira AH/povoado LP Geomorfotopônimo Corumbá Bocaina AH/povoado LE Geomorfotopônimo Corumbá Morrinhos LP Geomorfotopônimo Corumbá Santa Rita AF/corixão LP Hagiotopônimo autêntico Corumbá São Manuel AF/lagoa LP Hagiotopônimo autêntico Corumbá Água Limpa AF/corixo LP Hidrotopônimo Corumbá Corixinha AF/vazante LP Hidrotopônimo 55 - Sobrenome português de origem céltica conimbriga e significa castelo, fortaleza (GUÉRIO, 1981, p. 94). O topônimo, todavia, pode ser uma homenagem à cidade portuguesa de Coimbra.

73 73 Corumbá do Rio Negrinho AF/lagoa LP Hidrotopônimo Corumbá Gaíba/Guaíba AF/lagoa LT Hidrotopônimo/Ge omorfotopônimo Corumbá Uberaba AF/lagoa LT Hidrotopônimo/ Corotopônimo Corumbá Riozinho 1 AF/vazante LP Hidrotopônimo Corumbá Riozinho 2 AF/vazante LP Hidrotopônimo Corumbá Riozinho 3 AF/vazante PL Hidrotopônimo Corumbá da Pedra AF/vazante LP Litotopônimo Corumbá das Pedras LL Litotopônimo Corumbá de Corumbá AH/município LT Litotopônimo Povoado Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque/ Albuquerque, a Velha 56 Corumbá 1 AF/corixão LP Numerotopônimo Corumbá Cinqüenta AF/vazante LP Numerotopônimo Corumbá Três Bocas AF/ilha LP Numerotopônimo Corumbá Jacadigo AH/povoado NE SC Corumbá Jacadigo AF/lagoa NE SC Corumbá Nabileque AF/ilha LGK SC Corumbá Amolar AH/vila LE Sociotopônimo Corumbá do Conselho AF/lago LP Sociotopônimo Corumbá do Marinheiro AF/ilha LP Sociotopônimo Corumbá Porto Esperança AH/vila LP Sociotopônimo Corumbá do Marco AF/ilha LP Sociotopônimo/ Historiotopônimo Vila de Santa Cruz de Corumbá 56 - O nome de Povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque foi atribuído a atual Corumbá, no ato da fundação do povoado em 21 de setembro de 1778, em homenagem ao capitão General Luís de Albuquerque. Em 1796, fora fundado outro povoado com o nome de Albuquerque, hoje, Vila Albuquerque e distrito de Corumbá. Assim, o povoado fundado primeiramente ficara conhecido pelo designativo Albuquerque, a Velha, o que causava confusão entre os lugares. Em 1868, quando passou a categoria de Vila recebeu o nome de Vila de Santa Cruz de Corumbá. Este último designativo também foi substituído e a localidade passou a se chamar oficialmente Corumbá em 15 de novembro de 1878 (PROENÇA, s/d. p ).

74 74 Corumbá do Periquito AF/vazante LE Zootopônimo Corumbá Gaivotas AF/ilha LP Zootopônimo Corumbá Mandioré AF/lagoa LT Zootopônimo Corumbá Pacu AF/morro LT Zootopônimo Corumbá Piranha AF/corixo LT Zootopônimo Corumbá Tungo AF/corixo LT Zootopônimo Corumbá Veado Gordo AF/corixo LP Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Porto Murtinho Porto Murtinho Classificação da Alegria AF/serra LP Animotopônimo eufórico Triunfo AF/morro LP Animotopônimo eufórico Porto Murtinho Tomásia AH/aldeia LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Coronel Braga AF/ilha LP Axiotopônimo do Meio LP Cardinotopônimo Fecho dos Morros AF/morro LP Dirrematopônimo Baguaçu LT Fitotopônimo Porto Murtinho Campo dos Índios AH/povoado LP Fitotopônimo Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Carandá LT Fitotopônimo Ingazeiro AH/povoado LT Fitotopônimo Taquaruçu LT Fitotopônimo da Bocaina AF/serra LE Geomorfotopônimo São Lourenço AH/colônia LP Hagiotopônimo São João AH/aldeia LP Hagiotopônimo aparente Santa Maria 57 LP Hagiotopônimo autêntico São Francisco AF/serra LP Hagiotopônimo autêntico 57 - De acordo com Guérios (1981, p. 170), Maria é de origem semítica e significa senhora, e são muitos os étimos propostos, entre outros citamos, como exemplo, Miryan hebraico; Maryan etíope e árabe.

75 75 Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho Porto Murtinho São Miguel AF/serra LP Hagiotopônimo autêntico Água Limpa AF/serra LP Hidrotopônimo Baía Branca LP Hidrotopônimo Cachoeira AH/colônia LP Hidrotopônimo Claro LP Hidrotopônimo da Cachoeira AF/serra LP Hidrotopônimo Sanga Funda LAFR Hidrotopônimo Tombador LP Hidrotopônimo da República AF/lagoa LP Historiotopônimo Areia LP Litotopônimo da Bodoquena AF/serra LT Litotopônimo Brejão LP Litotopônimo do Alumiador AF/serra LP Sociotopônimo Lau-de-Já 58 NE SC de Porto Murtinho AH/município LP Sociotopônimo Anta LP Zootopônimo da Onça AF/lagoa LP Zootopônimo do Malhadão AF/morro LP Zootopônimo do Papagaio AF/serra LP Zootopônimo dos Cabritos AF/rio LP Zootopônimo Formiga LP Zootopônimo Seriema LT Zootopônimo Sucuri AF/ilha LT Zootopônimo Tamanduá LT Zootopônimo 58 - Acreditamos que a lexia lau-de-já seja uma corruptela da unidade lexical lauiad da língua guaykuru, que significa campo belo, campo bonito (TAUNAY, 1946, p. 190).

76 76 Quadro III Topônimos da Microrregião de Aquidauana (MR-02) Município Topônimo TA/Acidente Língua de origem Classificação Aquidauana de Camisão AH/distrito LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Aquidauana de Taunay AH/distrito LP Antropotopônimo Aquidauana do Eugênio LP Antropotopônimo Aquidauana do João Dias LP Antropotopônimo Aquidauana Felix LP Antropotopônimo Aquidauana Norato LP Antropotopônimo/ Hipocorístico Aquidauana Taunay AF/ilha LP Antropotopônimo Aquidauana Vermelho AF/ribeirão LP Cromotopônimo Aquidauana Fundo LP Dimensiotopônimo Aquidauana Grande LP Dimensiotopônimo Aquidauana Ranchinho AF/vazante LE Ecotopônimo Aquidauana da Porteira LP Ergotopônimo Aquidauana Ponte de Pedra LP Ergotopônimo/ Hodotopônimo Aquidauana Sabão LP Ergotopônimo Aquidauana Cipó LT Fitotopônimo Aquidauana da Campina LP Fitotopônimo Aquidauana de Cipolândia AF/distrito LT Fitotopônimo Aquidauana do Limão Verde AH/aldeia LP Fitotopônimo Aquidauana Indaiá LT Fitotopônimo Aquidauana Pirizal AF/vazante LT Fitotopônimo Aquidauana de Santa Bárbara AF/serra LP Hagiotopônimo autêntico Aquidauana São João LP Hagiotopônimo autêntico Aquidauana Água Limpa LP Hidrotopônimo

77 77 Aquidauana Baía do Miranda AF/lagoa LP Hidrotopônimo Aquidauana Córrego Seco AH/aldeia LP Hidrotopônimo Aquidauana do Brejão AF/vazante LP Hidrotopônimo Aquidauana Vazantinha AF/vazante LP Hidrotopônimo Aquidauana Santa Fé LP Hierotopônimo Aquidauana do Manganês AF/morro LP Litotopônimo Aquidauana Lajeadinho LP Litotopônimo Aquidauana de Aquidauana AH/município NE SC Aquidauana de Aquidauana AF/serra NE SC Aquidauana Precata AF/vazante LP SC Aquidauana Arara AF/vazante LT Zootopônimo Aquidauana da Anta LP Zootopônimo Aquidauana de Piraputanga AH/distrito LT Zootopônimo Aquidauana Pirainha LT Zootopônimo Aquidauana Piraputanga LT Zootopônimo Aquidauana Quati LT Zootopônimo Município Topônimo TA/Acidente Língua de origem Classificação Dois Irmãos do Hilário LP Animotopônimo Buriti eufórico Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Felipe LP Antropotopônimo Estrela LP Astrotopônimo Três lagoas AF/cabeceira LP Corotopônimo Comprida AF/cabeceira LP Dimensiotopônimo Comprido LP Dimensiotopônimo Passa Dois LP Dirrematopônimo Potreirinho AF/cabeceira LP Ergotopônimo Angico LP Fitotopônimo Variante Toponímica (VT)

78 78 Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti Buriti AF/aldeia LT Fitotopônimo Buriti LT Fitotopônimo Capim Branco LT Fitotopônimo Carrapicho LP Fitotopônimo Cipó LT Fitotopônimo de Palmeiras AH/distrito LP Fitotopônimo Lixa LP Fitotopônimo Pipoca LT Fitotopônimo Piúva AF/cabeceira LP Fitotopônimo Taboco AF/rio LT Fitotopônimo Água Azul AH/aldeia LP Hidrotopônimo Cachoeirão AF/rio LP Hidrotopônimo Corrente LP Hidrotopônimo Ribeirão Vermelho LP Hidrotopônimo Lajeado LP Litotopônimo Dois Irmãos do Buriti Dois Irmãos do Buriti AH/município AF/rio Aquidauana AF/rio NE SC Rasgado LP SC LP+LT Numerotopônimo LP+LT Numerotopônimo do Curtume LP Sociotopônimo Retiro LP Sociotopônimo da Veada LP Zootopônimo Morcego LP Zootopônimo Mosquito LP Zootopônimo Pinhé LP Zootopônimo Quati LT Zootopônimo

79 79 Município Topônimo TA/Acidente Língua de origem Classificação Anastácio Engano LP Animotopônimo disfórico Anastácio Camisão AH/vila LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Anastácio da Júlia LP Antropotopônimo Anastácio de Anastácio AH/município LP Antropotopônimo Anastácio Miranda AF/rio LP Antropotopônimo Mboteteí/ Rio dos Guachis 59 /Mondego Anastácio Branco LP Cromotopônimo Anastácio Vermelho LP Cromotopônimo Anastácio Fundo LP Dimensiotopônimo Anastácio Chora-Chora AH/colônia LP Dirrematopônimo Anastácio Tapera LT Ecotopônimo Anastácio Cangalha LP Ergotopônimo Anastácio do Chapéu AF/morro LP Ergotopônimo Anastácio Pandeiro LE Ergotopônimo Anastácio Buriti LT Fitotopônimo Anastácio Buritizal LT Fitotopônimo Anastácio Cafezal LP Fitotopônimo Anastácio Canela Preta LP Fitotopônimo Anastácio Capim Branco LT Fitotopônimo Anastácio Carandá LT Fitotopônimo Anastácio Laranjal LP Fitotopônimo Anastácio Taquaral LT Fitotopônimo Anastácio Taquarussu AF/ribeirão LT Fitotopônimo 59 - Holanda (1986, p. 58) registrou que o rio Miranda era também chamado rio dos Guachis, nome da etnia dos índios da família dos guatós que viviam ao norte desse rio, informação confirmada por Mello (1968, p. 170). O rio Mondego passou a se chamar Miranda, após a fundação do Presídio de Miranda, em 1797, por Caetano Pinto de Miranda Montenegro (ESSELIM, 2000, p.48-49).

80 80 Anastácio São Firmino LP Hagiotopônimo autêntico Anastácio São José LP Hagiotopônimo autêntico Anastácio São Manuel LP Hagiotopônimo autêntico Anastácio Água Azul LP Hidrotopônimo Anastácio Cachoeirão AF/ribeirão LP Hidrotopônimo Anastácio Cachoeirinha LP Hidrotopônimo Anastácio Lagão LP Hidrotopônimo Anastácio Pulador LP Hidrotopônimo Anastácio Pulador AH/colônia LP Hidrotopônimo Anastácio Picada LP Hodotopônimo Anastácio Dois Irmãos AF/rio LP Numerotopônimo Anastácio Acôco NE SC Anastácio Aquidauana AF/rio NE SC Mboteteí/Uacogo 60 / Nabi-nugo 61 Anastácio Marimbondo LAFR Zootopônimo Anastácio Piraputanga LT Zootopônimo Anastácio Piraputanga AF/vila LT Zootopônimo Anastácio Sucuri LT Zootopônimo Município Topônimo TA/Acidente Língua de origem Classificação Miranda de Miranda AH/município LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Miranda Do Rodrigues LP Antropotopônimo Miranda Agaxi AH/vila LP Ecotopônimo Miranda do Mamão AF/baía LP Fitotopônimo 60 - Os rios atualmente conhecidos como Miranda e Aquidauana eram denominados Mboteteí (Esselim, 2002, p. 47). Holanda (1986, p. 57) registra ser Mboteteí lexia de origem guarani que designava apenas o rio Miranda. Proença (s/d. p. 26) confirma a informação de Holanda (1981), ao registrar que na mesma época em que o rio Miranda era designado de Mboteteí o rio Aquidauana era chamado de Uacogo Ainda, de acordo com Mello (1968, p. 170), o rio Aquidauana era chamado pelos índios guaykurus de Nabi-nugo, que significa água negra.

81 81 Miranda Taquaral LT Fitotopônimo Miranda Baía do Miranda AF/lagoa LP Hidrotopônimo Miranda Cachoeirinha AH/aldeia LP Hidrotopônimo Miranda Cachoeirinha LP Hidrotopônimo Miranda Barreiro LP Litotopônimo Miranda Bodoquena AF/serra LT Litotopônimo Miranda Poeira LP Litotopônimo Miranda Lalima AH/aldeia indígena NE Miranda Pilade de Ribuá AH/aldeia NE SC SC Quadro IV Topônimos da Microrregião de Bodoquena (MR-09) Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Bela Vista Bonita AF/sanga LP Animotopônimo eufórico Bela Vista Bonsucesso LP Animotopônimo eufórico Bela Vista de Bela Vista AH/município LP Animotopônimo eufórico Bela Vista João Cândido LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Bela Vista Estrela AF/rio LP Astrotopônimo Bela Vista Estrelinha LP Astrotopônimo Bela Vista Azul LP Cromotopônimo Bela Vista Nunca-te-vi AH/distrito LP Dirrematopônimo Bela Vista Nunca-Te-Vi LP Dirrematopônimo Bela Vista Cadeado LP Ergotopônimo Bela Vista da Cadeira LP Ergotopônimo

82 82 Bela Vista Sombrero LE Ergotopônimo Bela Vista Arrozal LP Fitotopônimo Bela Vista Bananal AF/rio LP Fitotopônimo Bela Vista Capi-y LG Fitotopônimo Bela Vista Ingá LT Fitotopônimo Bela Vista Nhuatim LG Fitotopônimo Bela Vista Piripucu AF/rio LG Fitotopônimo Bela Vista Piripucu - açu LG+LT Fitotopônimo Bela Vista Taquaruçu LT Fitotopônimo Bela Vista Serrinho LP Geomorfotopônimo Bela Vista Santa Anselma LP Hagiotopônimo aparente Bela Vista Nossa Senhora de Fátima AH/distrito LP Hagiotopônimo autêntico Bela Vista Santa Vitória LP Hagiotopônimo autêntico Bela Vista São Luiz LP Hagiotopônimo autêntico Bela Vista Água Azul LP Hidrotopônimo Bela Vista Água Azul 2 LP Hidrotopônimo Bela Vista Cabeceira do Engenho LP Hidrotopônimo Bela Vista do Rio Apa AF/cabeceira LP+NE Hidrotopônimo Bela Vista Gateado LP Hidrotopônimo Bela Vista Salobra LE Hidrotopônimo Bela Vista Sujo LP Hidrotopônimo Bela Vista Santa Fé LP Hierotopônimo Bela Vista Independência LP Historiotopônimo Bela Vista do Ouro LP Litotopônimo Bela Vista Ita LT Litotopônimo Bela Vista Lajeado LP Litotopônimo

83 83 Bela Vista Apa AF/rio NE SC Rio da Lapa 62 Rio Tepoti 63 Bela Vista Apa-mi NE SC Bela Vista Aterradinho LP SC Bela Vista Córrego Jacadigo NE SC Bela Vista Caracolzinho LP Zootopônimo Bela Vista Caba-cuê LT+LG Zootopônimo Bela Vista do Boi LP Zootopônimo Bela Vista Jaguaretê LT Zootopônimo Bela Vista Mosquiteiro LE Zootopônimo Bela Vista Piracuã AH/aldeia indígena LG Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Bonito Bonito LP Animotopônimo eufórico Bonito de Bonito AH/município LP Animotopônimo eufórico Bonito Formosinho LP Animotopônimo eufórico Bonito Formoso LP Animotopônimo eufórico Bonito Mimoso AF/rio LP Animotopônimo eufórico Bonito Miranda AF/rio LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Bonito da Divisa LP Cardinotopônimo Bonito Bolívia LE Corotopônimo 62 - A obra Para além dos Bandeirantes (MELLO, 1968) é uma biografia do capitão Francisco Rodrigues, homem responsável pela construção do Forte de Coimbra. Na obra em questão, encontramos citações de correspondências entre o capitão e seus superiores, nas quais Rodrigues faz descrições da geografia física da região e de nomes de acidentes. Em uma das cartas escrita por Rodrigues ao Governador de Mato Grosso, relatando o ataque ao Forte São José do Apa do dia 19/12/1801 a 29/12/1801 há referência ao rio Apa, como chamado pelos portugueses de rio da Lapa. Outro documento que se encontra na Coleção Visconde do Rio Branco da Biblioteca Nacional (apud MELLO, 1968, p ), escrita também por Rodrigues, verifica-se a seguinte passagem: Tendo se rendido as armas de Portugal o novo Forte hespanhol q se achava situado na parte superior do rio da Lapa. Já outro documento de fonte castelhana, constante também do Arquivo Histórico da Biblioteca Nacional, Coleção Visconde do Rio Branco (apud MELLO, 1968, p. 260), parece justificar que se trata do mesmo rio: Acavan de darme parte a como seis soldados q estavan custodiando la cavallada nel Fuerte Nuevo Del Rio Apa De acordo com Holanda (1986, p. 57), o atual rio Apa é aparentemente de origem guaikuru, e anteriormente a esse nome, ao que parece, se chamava rio Tepoti.

84 84 Bonito Chocolate LE Ergotopônimo Bonito Acurizal LT Fitotopônimo Bonito Bacuri AF/rio LT Fitotopônimo Bonito Bananal LP Fitotopônimo Bonito Coqueiro LP Fitotopônimo Bonito Jenipapo LT Fitotopônimo Bonito Pitangueira LT Fitotopônimo Bonito Ramada LP Fitotopônimo Bonito Taquaral LT Fitotopônimo Bonito Taquaralzinho LT Fitotopônimo Bonito Taquarussu LT Fitotopônimo Bonito Taquarussu 2 LT Fitotopônimo Bonito Tarumã LG Fitotopônimo Bonito Santa Tereza LP Hagiotopônimo autêntico Bonito São João LP Hagiotopônimo autêntico Bonito Baía LP Hidrotopônimo Bonito Roncador LP Hidrotopônimo Bonito Salobra AF/rio LE Hidrotopônimo Bonito Barreiro LP Litotopônimo Bonito Chapena AF/rio NE SC Bonito Lau-de Já NE SC Bonito Seputã NE SC Bonito da Olaria LP Sociotopônimo Bonito Fazenda LP Sociotopônimo Bonito Retiro LP Sociotopônimo Bonito Anhumas LT Zootopônimo

85 85 Bonito da Onça LP Zootopônimo Bonito de Jabuti AH/distrito LT Zootopônimo Bonito do Peixe AF/rio LP Zootopônimo Bonito Mutum LT Zootopônimo Bonito Passarinho LP Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Guia Lopes da Feio LP Animotopônimo Laguna disfórico Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Guia Lopes da Laguna Feio AF/rio LP Animotopônimo disfórico de Guia Lopes da Laguna AH/município LP Antropotopônimo Miranda LP Antropotopônimo Fundo LP Dimensiotopônimo da Chaleira LP Ergotopônimo Ramalhete AF/rio LP Ergotopônimo Campo Novo LP Fitotopônimo da Mata LP Fitotopônimo Jardim LP Fitotopônimo Pindaíba LT Fitotopônimo Tarumã AF/rio LG Fitotopônimo Desbarrancado AF/rio LP Geomorfotopônimo Santo Antônio LP Hagiotopônimo autêntico Santo Antônio AF/rio LP Hagiotopônimo autêntico São Francisco AF/rio LP Hagiotopônimo autêntico Cabeceira LP Hidrotopônimo Chapada LP Litotopônimo Variante Toponímica (VT) Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Variante Toponímica (VT)

86 86 Jardim Solidão LP Animotopônimo disfórico Jardim Aurora LP Animotopônimo eufórico Jardim Mimoso LP Animotopônimo eufórico Jardim Verde AF/rio LP Cromotopônimo Jardim Cambarecê LT Dirrematopônimo Jardim de Jardim AH/município LP Fitotopônimo Jardim Limeira LP Fitotopônimo Jardim Mangaval LT Fitotopônimo Jardim Santa Clara LP Hagiotopônimo autêntico Jardim São Lourenço LP Hagiotopônimo autêntico Jardim Água Amarela LP Hidrotopônimo Jardim Cachoeirinha LP Hidrotopônimo Jardim Rosário LP Hierotopônimo Jardim Santa Cruz LP Hierotopônimo Jardim da Prata AF/rio LP Litotopônimo Jardim Lajeado LP Litotopônimo Jardim dos Velhos AF/rio LP Sociotopônimo Jardim Guardinha LP Sociotopônimo Jardim Arara LT Zootopônimo Jardim Cervo LP Zootopônimo Jardim Sucuri LT Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Bodoquena Escondido AF/rio LP Animotopônimo disfórico Bodoquena Miranda AF/rio LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Bodoquena de Bodoquena AH/município LT Corotopônimo Bodoquena Campina LP Fitotopônimo

87 87 Bodoquena Taquaral LT Fitotopônimo Bodoquena Taquarussu LT Fitotopônimo Bodoquena Morraria do Sul AH/distrito LP Geomorfotopônimo Bodoquena do Rio Salobrinha AF/cabeceira LP+LE Hidrotopônimo Bodoquena Salobra AF/rio LE Hidrotopônimo Bodoquena Salobrinha LE Hidrotopônimo Bodoquena Seco LP Hidrotopônimo Bodoquena Pederneira LP Litotopônimo Bodoquena Betione AF/rio NE SC Bodoquena Chapena AF/rio NE SC Bodoquena do Acampamento LP Sociotopônimo Bodoquena Cascavel LP Zootopônimo Bodoquena da Cascavel AF/morro LP Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Nioaque Bom Jardim LP Animotopônimo eufórico Nioaque João Mariano LP Antropotopônimo Variante Toponímica (VT) Nioaque do Meio LP Cardinotopônimo Nioaque do Meio AF/cabeceira LP Cardinotopônimo Nioaque Nioaque AH/aldeia indígena LGK Corotopônimo Nioaque Grita Lobo LP Dirrematopônimo Nioaque Rapadura 64 LP Ergotopônimo Nioaque Bálsamo LP Fitotopônimo Nioaque Buriti LT Fitotopônimo Nioaque Buritizinho LT Fitotopônimo 64 - Rapadura tem origem no gótico e vem da lexia hrapôn que significa açúcar mascavo em forma de tijolos (CUNHA, 1986).

88 88 Nioaque Carandá LT Fitotopônimo Nioaque Palmeira LP Fitotopônimo Nioaque Taquarussu LT Fitotopônimo Nioaque Taquarussu AF/ribeira LT Fitotopônimo Nioaque Urumbeba LT Fitotopônimo Nioaque Morrinho LP Geomorfotopônimo Nioaque São João 1 LP Hagiotopônimo autêntico Nioaque São João 2 LP Hagiotopônimo autêntico Nioaque São Miguel AF/rio LP Hagiotopônimo autêntico Nioaque do Salto LP Hidrotopônimo Nioaque Chapada LP Litotopônimo Nioaque das Areias LP Litotopônimo Nioaque do Limo AF/cabeceira LP Litotopônimo Nioaque Lajeadinho AF/cabeceira LP Litotopônimo Nioaque Cavadonga NE SC Nioaque Dominguena NE SC Nioaque Espinídio NE SC Nioaque Retiro LP Sociotopônimo Nioaque de Nioaque AH/município LGK Somatotopônimo Nioaque Nioaque AF/rio LGK Somatotopônimo Nioaque Ariranha LT Zootopônimo Nioaque Canindé AF/rio LT Zootopônimo Nioaque das Araras LT Zootopônimo Nioaque do Burro LP Zootopônimo Nioaque Formiguinha LP Zootopônimo Município Topônimo TA/acidente Língua de origem Classificação Variante Toponímica (VT)

89 89 Caracol Alegre LP Animotopônimo eufórico Caracol João Candido LP Antropotopônimo Caracol Fundo LP Dimensiotopônimo Caracol da Porteira LP Ergotopônimo Caracol Rapadura LP Ergotopônimo Caracol Tereré AF/rio LG ergotopônimo Caracol Capim Scardine LT Fitotopônimo Caracol Tuna LE Fitotopônimo Caracol Santa Maria LP Hagiotopônimo autêntico Caracol São Vicente LP Hagiotopônimo autêntico Caracol Água Turva LP Hidrotopônimo Caracol Sanga Bonita LAFR+ LP Hidrotopônimo Caracol Sujo LP Hidrotopônimo Caracol Apa AF/rio NE SC Caracol Carapé NE SC Caracol Caracol AF/rio LP Zootopônimo Caracol Caracolzinho LP Zootopônimo Caracol de Caracol AH/município LP Zootopônimo Caracol do Boi LP Zootopônimo Caracol dos Porcos LP Zootopônimo ]

90 Análise dos dados Como já foi registrado, neste estudo apresentam-se e analisam-se os topônimos contidos no Quadro II Topônimos da Microrregião do Baixo Pantanal (MR-01), no Quadro III Topônimos da Microrregião de Aquidauana (MR 02) e Quadro IV Topônimos da Microrregião de Bodoquena (MR 09). No que se refere aos topônimos da Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01), em particular, como já foi explicitado anteriormente, este trabalho configura-se como um complemento de outra pesquisa já realizada que abrangeu acidentes físicos do Pantanal (SCHNEIDER, 2002). Sendo assim, os topônimos de acidentes humanos (AH) e os topônimos de acidentes físicos que não apareceram no trabalho mencionado foram também tomados como objeto de estudo desta pesquisa. Por isso, não raras vezes, fizemos referência aos resultados da pesquisa de Schneider (2002) na análise dos topônimos relacionados a essa Microrregião. Na análise do conjunto dos dados procurou-se estabelecer confrontos e comparações dentre os dados obtidos por outras pesquisas voltadas para a toponímia sul-mato-grossense, a saber: Schneider (2002) e Dargel (2003). O objetivo desse recurso foi evidenciar tendências semelhantes entre as diferentes regiões do Estado e, conseqüentemente, apontar particularidades da toponímia da porção Sudoeste do Estado. A análise dos dados foi organizada da seguinte forma: primeiramente analisamos o nome da microrregião, por este funcionar, a nosso ver, como um hiperônimo, ou termo mais geral em relação aos nomes dos municípios que fazem parte de cada uma das microrregiões, concebendo-se estes como hipônimos ou termo mais específico, por exemplo: a microrregião Baixo Pantanal foi tomada como um hiperônimo e Ladário, Corumbá e Porto Murtinho como seus hipônimos. Para estabelecer essa relação, tomamos o conceito de hiponímia proposto por Lyons (1979, p. 482): A hiponímia, pode ser definida em função de uma implicação unilateral, por exemplo: X é escarlate implicará X é vermelho, mas a recíproca em geral não é verdadeira. Tomando então como parâmetro o ponto de vista de Lyons (1979) sobre a relação de hiponímia, estabelecemos que Baixo Pantanal, por exemplo, é um hiperônimo em relação aos municípios que engloba por relação de inclusão, e essa inclusão ocorre pelo fato de os municípios pertencerem à Microrregião em questão e possuírem algum traço em comum com ela: localização geográfica, aspectos sóciohistórico-culturais, econômicos e demográficos. Por exemplo, Corumbá é uma região de criação bovina, isso implica que Corumbá está inclusa em uma região que tem como base

91 91 econômica a criação bovina. Buscamos, então, levantar a origem e o significado de cada hiperônimo 65, nome da microrregião, bem como descrevê-lo em suas particularidades significativas e históricas ligadas à realidade que nomeia. Em uma segunda etapa, analisamos os nomes de cada município, considerando a etimologia e o significado lingüístico do termo específico do sintagma designativo. Na análise da motivação, consideramos também aspectos históricos e geográficos que, possivelmente, tenham influenciado a denominação. Por último, analisamos as 05 (cinco) taxes mais produtivas no total dos topônimos coletados nas três microrregiões em estudo, consoante os resultados obtidos com a aplicação do modelo taxionômico adotado (DICK, 1992). Neste item, então, apresentou-se um quadro com a distribuição quantitativa da classificação geral dos topônimos e um gráfico com a distribuição percentual da classificação do total dos topônimos das três microrregiões; segue-se a isso a análise individual das 05 (cinco) taxes mais produtivas em que se focalizam, principalmente, as possíveis causas motivadoras dos nomes em estudo. Nesta parte inserimos um quadro que demonstra a produtividade de cada taxe e um gráfico que visualiza a presença de línguas indígenas na nomenclatura estudada. Para registrar a presença de estratos lingüísticos, na nomenclatura geográfica, analisamos possíveis influências de estratos da linguagem falada, sejam as das camadas portuguesa, indígenas e/ou outras línguas na localidade, por meio da investigação da língua de origem do topônimo com base em consultas a dicionários da língua portuguesa, dicionários de línguas indígenas, obras apresentadas anteriormente, e em registros históricos sobre a colonização e o povoamento do Estado. Há que se registrar, aqui, que foram recuperados a língua de origem e o significado dos topônimos para fins de análise apenas dos fitotopônimos e zootopônimos, haja vista terem sido essas taxes as que mais evidenciaram presença de nomes de base indígena. No próximo item apresentamos os topônimos coletados na microrregião do Baixo Pantanal (MR 01) e a análise dos nomes dos municípios que a compõe Análise dos designativos das microrregiões e dos municípios estudados 65 - Para caracterizar os nomes das microrregiões como hiperônimos, utilizamo-nos também o critério adotado para a divisão em microrregiões no Estado: A divisão em microrregiões homogêneas e naturais é feita pelos órgãos de Planejamento do Estado e do IBGE, levando-se em conta os aspectos históricoculturais, alem dos sociais, econômicos e demográficos (RAVAGNANI E RASLAN, s.d).

92 Microrregião do Baixo Pantanal (MR 01): Corumbá, Ladário e Porto Murtinho. Inicialmente há que se esclarecer que a designação Baixo Pantanal refere-se ao nome da região pantaneira que pertence ao estado de Mato Grosso do Sul 66, enquanto Alto Paraguai nomeia a região pantaneira de Mato Grosso, uma vez que o Pantanal cobre área desses dois estados brasileiros. A região pantaneira, em sua totalidade, é estimada numa superfície de quase duzentos mil quilômetros quadrados e adentra também pela região dos chacos paraguaios e bolivianos. Já em relação a seus limites reais, não existe um consenso entre os estudiosos que se ocupam da demarcação territorial, ficando esta muito à mercê dos critérios usados por eles para a demarcação desse sistema ecológico. Outro dado de igual relevância, e que tem dificultado o trabalho de pesquisadores, é a complexidade do sistema hidrográfico, que é marcado pelo grande número de vazantes, de baías e de corixos (NOGUEIRA, 2002, p. 25). Pantanal é ainda considerado por estudiosos da área geográfica como toda a área contínua inserida na Bacia do Alto Paraguai, sujeita a inundações periódicas inter e intra-anual (SILVA; ABDON, 1998, apud SCHNEIDER, 2002, p. 43). Ainda no que se refere à utilização de adjetivos como alto, médio e baixo, em sintagmas nominativos de microrregiões, aplicam-se a uma adaptação de terminologias usadas em relação à posição ocupada na bacia hidrográfica pelo curso de um rio, como, por exemplo, alto curso do rio Paraguai ou alto Paraguai; médio curso do rio Paraguai ou médio Paraguai; baixo curso do rio Paraguai ou baixo Paraguai. Desse modo, esses adjetivos podem ser utilizados para designar também a região de abrangência situada numa dessas porções do curso fluvial. Assim, baseando-se nesses critérios o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (1989) criou um novo quadro microrregional para o Brasil, e no que se refere à região pantaneira, a dividiu em duas microrregiões: microrregião do Alto Paraguai, localizada no Mato Grosso, e do Baixo Pantanal, localizada no Mato Grosso do Sul, e para isso considerou a localização geográfica do principal curso d agua que adentra na região, o rio Paraguai. É importante destacar ainda que em relação à terminologia baixo na nomeação da microrregião Baixo Pantanal, considerou-se apenas uma parte da localização do rio Paraguai, já que a maior parte do Pantanal sul-mato-grossense localiza-se na bacia do Médio Paraguai e não na bacia do baixo Paraguai, portanto, na escolha do nome 66 - O Pantanal sul-mato-grossense cobre grande parte de cinco dos municípios em estudo neste trabalho Aquidauana, Corumbá, Ladário, Miranda, Porto Murtinho (NOGUEIRA, 2002, p. 26).

93 93 desconsiderou-se que de fato o baixo curso do rio Paraguai se encontra localizado em territórios dos países Paraguai e Argentina, onde se liga à bacia platina em confluência com o rio Paraná 67. Frente a esses dados, consideramos que pantanal constitui-se na lexia que concentra a substância de conteúdo mais relevante do sintagma nominativo Baixo Pantanal, pois a lexia baixo que acompanha Pantanal tem a função de localizar geograficamente a extensão do acidente físico que faz parte da geografia do estado de Mato Grosso do Sul. A seguir, apontamos aspectos que nos levou a considerar Pantanal como o nome específico do sintagma nominativo Baixo Pantanal, contrariando assim, em parte, o modelo taxionômico adotado. O termo pantanal, conforme Houaiss (2001), deriva de pântano, com origem obscura, provavelmente pré-romana e ligado a pântanus, nome de um lago na Apúlia da época romana. O uso do nome Pantanal para designar a região inundável dos estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, é creditado aos monçoeiros 68 paulistas, em meados do século XVIII. Anteriormente, o Pantanal era conhecido como Laguna de los Xarayes, denominação que lhe fora atribuída pelos espanhóis por volta do século XVI. Esse lugar, segundo relatos de viajantes espanhóis, guardava uma imagem mágica, pois os espanhóis acreditavam que dele é que vertiam as águas do rio Paraguai. O Lago ou Laguna de los Xarayes ainda era visto como um lugar encantado e como porta de entrada para países fabulosos e para o reino das guerreiras Amazonas. A denominação Pantanal ou Pantanaes só aparece nos primeiros relatos dos monçoeiros paulistas, fato confirmado nos relatos escritos de Francisco Palácio 69, ao caracterizar Pantanal ou Pantanaes, como campos alagados com várias lagoas e sangradouros (COSTA, 1999, p. 179). Nota-se que a designação Pantanal/Pantanaes, em sua origem, não se configurava como um topônimo propriamente, mas sim como uma unidade lexical do vocabulário da língua que nomeava os lugares alagados, ou em outras palavras, o próprio ambiente fisiogeográfico pelos quais passaram 70, primeiramente, os espanhóis e depois os monçoeiros paulistas, no início do século XVIII, esses últimos com objetivo de atingir as minas de 67 - Informações prestadas em conversa informal, pela Professora Cleonice Garden (2004) da UFMS Dourados MS, Doutora em Geografia, área de concentração: Planejamento Governamental pela USP Universidade de São Paulo FFLCH Faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Monçoeiros eram os viajantes que faziam parte das monções no século XVIII, com o objetivo de chegar às minas da Cuiabá e povoara Mato Grosso (vide Capítulo II, p. 58) Essa informação aparece no relato realizado por Francisco Palácio que, ao elaborar o roteiro de viagem de São Paulo para as minas de Cuiabá, no ano de 1726, registra pela primeira vez, graficamente, os termos Pantanal e Pantanaes para caracterizar a planície alagada (apud COSTA, 1999, p. 179) Sobre a presença dos espanhóis na região pantaneira sul-mato-grossense, vide Capítulo II deste trabalho.

94 94 Cuiabá. Elegemos alguns relatos redigidos por espanhóis, portugueses e paulistas, registrados na obra de Costa (1999), que demonstram o porquê de a área alagada ficar conhecida como Pantanal. Para tanto, obedecemos à ordem cronológica dos relatos das viagens que indicam a possibilidade para a motivação do uso da unidade lexical pantanal que hoje denomina a região alagada de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, e pode estar relacionada às características mais aparentes do ambiente físico local. Os relatos dos espanhóis registram a existência de um local que possui dois ambientes que dependem das condições climáticas: um que se configura como um imenso mar de águas na época das cheias, e outro quando vem a seca e as águas voltam ao seu curso normal, deixando grandes poças que aos poucos vão desaparecendo. Outra descrição que os espanhóis nos legaram sobre o Pantanal é a de que os lugares molhados, pelos quais se podia viajar a pé, eram constituídos por lamaçais em que muitas vezes afundava o viajante até a cintura, como registrou o espanhol Cabeza de Vaca-Hernández (1555, apud COSTA, 1999, p. 104), ao narrar uma viagem a pé ao Lago de los Xarayes, caminhando com grandes dificuldades através de pântanos: de tal maneira que ao por um pé afundavam até o joelho, e logo metiam o outro e só com muita sorte os conseguiam retirar. Consoante Costa (1999, p. 19), os monçoeiros desconheciam a denominação castelhana Lago de los Xarayes e, ao chegarem à grande planície inundável, a denominaram como Pantanal ou Pantanaes. Os próprios relatos dos monçoeiros encarregam-se de explicar o uso dessas palavras. O de Francisco Palácio (1726, apud COSTA, 1999, p. 187), por exemplo, esclarece que Pantanal ou Pantanaes são campos alagados com vários varadouros e lagoas. Tem muito peixe e caça ; o de João Antônio Cabral Camelo (1727, apud COSTA, 1999, p. 187) informa que Pantanal chamam os cuiabanos a umas vargens muito dilatadas, que começando no meio do Taquari, vão acabar quase junto ao mesmo rio Cuiabá. Antônio Rolim de Moura, que assumiu a capitania de Mato Grosso em 1749, assim descreve o que vê, ao se defrontar com o Pantanal, (1751, apud CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p ): sempre tive gosto de ver com meus olhos o que já me tinham contado mas não persuadido: eu fui marchar com as canoas por cima de vastíssimos arrozais, que naturalmente sem serem plantados crescem por aquele pantanal, e ali o vem colher todos os anos o Gentio. Quanto mais as águas crescem tanto mais cresce o arroz de sorte, que sempre está cinco ou seus (sic) palmos fora da água.

95 95 Com base nas descrições acerca do Pantanal ou Pantanaes, a que se teve acesso, pode-se perceber que essa denominação contém uma descrição genérica do próprio ambiente alagado, coberto por vegetação, pântanos e imensos rios, identificando e nomeando toda a planície inundável da região. Dentro desse contexto específico, a lexia pantanal (ou pantanaes) nomeia toda a extensão hidrográfica da qual faz parte o Pantanal, mesmo quando ocorre o período de seca e as águas se tornam escassas e passa a configurarse como nome próprio na designação de uma microrregião do estado de Mato Grosso do Sul, a do Baixo Pantanal. que A respeito dessa correlação entre nome e ambiente físico, Dick (1990, p. 72) registra o mecanismo da descrição de um lugar, através de seus aspectos mais relevantes ou transparentes, inscreve-se naqueles meios que retratam o espaço geográfico de um ponto de vista imediato ou direto, facilmente denotado, portanto, pelo observador. A referência que despertou, de pronto, a sua atenção encontra-se na própria natureza do acidente nomeado, salientando-lhe as qualidades de modo objetivo. O recurso utilizado para batizar um local, considerando particularidades físicas significativas para o homem alocado no espaço geográfico, gera o chamado nome descritivo puro 71. Salientamos, porém, que essa descrição nem sempre pode abranger as características naturais locais como um todo, como evidencia Dick (1990, p. 73): bastará para tanto a presença do nomeador em apenas um ponto qualquer do local a fim de que o aspecto observado seja extensivo ao conjunto, genericamente. Isso traz como conseqüência, via de regra, uma reprodução parcial das condições do lugar. Com base no exposto sobre as características do ambiente designado de Pantanal, consideramos que a lexia pantanal é mais significativa em termos de substância de conteúdo do que baixo, haja vista que a primeira descreve e/ou retrata se não na totalidade pelo menos parte do ambiente físico da região. Desse modo o sintagma nominativo poderia até ser invertido, Pantanal Baixo, uma vez que baixo parece refletir a localização do mesmo acidente em estados diferentes: Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É relevante destacar que o nome Pantanal pode ser considerado como uma nomeação espontânea, enquanto baixo resulta de critérios geográficos. Frente a essas considerações, optamos por adotar Pantanal como o elemento específico do sintagma nominativo e o classificamos como 71 - Nomes descritivos puros seriam aqueles nomes que denotariam as cargas naturais e permanentes que transformaria um topônimo em um espécime simbólico e ideal daquilo que se quer exprimir (DICK, 1992, p. 41).

96 96 litotopônimo, por acreditarmos que, neste caso, a provável motivação para a escolha do nome tenha sido a característica mais evidente do ambiente físico, ou seja, a grande extensão de lodaçal que se forma na região após as enchentes, sobressaindo-se a grande abundância de água 72, o que indica que a descrição, neste caso, não é total, mas parcial, uma vez que abrange apenas parte das características fisiogeográficas do ambiente 73. Já o topônimo Corumbá, de acordo com Sampaio (1987, p. 225), tem origem no tupi Curu-mbá, que significa banco de cascalho. Fontes históricas sobre o município de Corumbá apontam outras possíveis origens para o designativo, curupáh ou curumpáh, de curu rugoso, mais páh ou mbá abundante, referindo-se ao local onde as aroeiras eram abundantes e curumbatá uma espécie de peixe da região que por apócope originou Corumbá (PROENÇA, s/d. p ). Como já foi informado, anteriormente ao nome Corumbá, o município fora nomeado de povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, no ato de sua fundação em 1778, em homenagem ao então governador da província de Mato Grosso, Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, passando a receber o nome de Vila de Santa Cruz de Corumbá, ao passar para a categoria de Vila em Este último sintagma designativo foi reduzido a apenas Corumbá, quando a vila foi elevada a município em 15 de novembro de 1878 (PROENÇA, s/d. p ). Pelo registrado na obra A gênese de Corumbá (ESSELIM, 2000), a designação Corumbá pode estar relacionada à presença de um dos recursos minerais do solo local, a grande concentração de ferro, manganês, fosfato, cobre, cálcio 74, pedra calcária, essa última uma fonte de desenvolvimento no início do povoamento da localidade e que oferece um aspecto áspero 75 ao solo. Aqui optamos pela informação registrada por Sampaio (1987), o que nos levou a classificar esse designativo como um litotopônimo. O topônimo Porto Murtinho, por sua vez, parece estar relacionado ao Porto do mesmo nome. Consideramos, então, a denominação como um sociotopônimo, uma vez que 72 - O espanhol Cabeza de Vaca (apud COSTA, 1999, p. 100), em uma de suas descrições sobre o Pantanal, assim o descreve: as águas crescem seis braças sobre os barrancos, e aquelas terras se estendem mais de cem léguas terra adentro pelos planos, que parece mar, e cobre as árvores e toda a vegetação que existe na terra, e os navios passam por cima deles; e isto acontece todos os anos do mundo ordinariamente (grifo nosso) 73 - A esse respeito encontramos uma observação na obra de Nogueira (2002, p. 149) que, ao referir-se ao termo pantanal, informa que na época das enchentes o ambiente físico não se constitui no lodaçal ou pântano a que o nome pode remeter Consoante Esselim (2000, p.146), a descoberta de grandes formações de cálcio, pelos colonos e sertanistas, constituiu-se como fonte de renda para os primeiros moradores daquela localidade. 75 Após seis anos da fundação de Corumbá, Ricardo Franco, incumbindo de fazer o reconhecimento do rio Paraguai, faz a seguinte anotação em seu diário sobre o município: a caça e a pesca abundantíssimas, e ainda que esta habitação esteja cercada pelos gentios Payaguá e Auruz ou Cavalheiro, contudo pela aspereza do terreno e sua situação que franquea todos estes vários territórios pelo meio do rio Paraguay, não tem sido até o presente insultada pelo gentio (apud ESSELIM, 2000, p. 146).

97 97 o povoado que deu origem ao município surgiu em suas imediações, concentrando basicamente os trabalhadores do Porto, que recebeu o nome de seus proprietários, os irmãos Murtinho 76. Já a lexia Ladário, que nomeia o município de Ladário, de origem latina (HOUAISS, 2001), remete a ladairos, unidade lexical que possui duas entradas no dicionário: procissão de penitência como pagamento de uma promessa e preces coletivas em situação de perigo ou por ocasião de calamidades. Segundo Proença (s.d., p. 27), o designativo Ladário é uma homenagem a pequena Vila portuguesa de Ladário, onde nasceu Luis de Albuquerque de Melo e Cáceres, situada no distrito de Viseu, região da Beira Alta em Portugal. Então, pelo fato de o nome estar recuperando o nome de uma Vila, o classificamos como corotopônimo. Na seqüência apresentamos a análise dos nomes dos municípios da Microrregião de Aquidauana (MR 02): Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti e Miranda Microrregião de Aquidauana (MR 02): Aquidauana, Anastácio, Dois irmãos do Buriti e Miranda. A denominação da Microrregião de Aquidauana (MR 02) recupera o nome do rio Aquidauana que também nomeia um dos municípios que pertence a essa Microrregião município de Aquidauana. Acreditamos que a escolha desse nome esteja relacionada à importância desse rio para a região, uma vez que é um rio navegável e corta vários municípios do Estado Corguinho, Dois Irmãos do Buriti, Aquidauana e Miranda e se encontra com o rio Miranda. A importância do rio Aquidauana já era reconhecida desde a época do início da colonização de Mato Grosso, por tratar-se de um rio abundante em alimento e ter servido como rota e fonte de sobrevivência para bandeirantes que navegaram em suas águas entre 1600 e 1700 e também como rota da Força Expedicionária de Mato Grosso, que ficou conhecida como Coluna de Camisão, entre os anos de 1865 e 1867, na época da Guerra do Paraguai (GUIMARÃES, 1999, p. 209). A importância do rio Aquidauana é referenciada por Taunay em sua obra Paizagens brasileiras 77 (1926, p. 8-11), ao descrever especificamente esse rio: 76 - Os irmãos Murtinho, sócios da Companhia Mate Laranjeira fundada em 1883, construíram um porto, que passou a se chamar Porto Murtinho, para a exportação da erva. Para tanto, compraram a fazenda Três Barras às margens do rio Paraguai e doaram ha ao Estado. Nessa área, nasceu o povoado de Porto Murtinho.

98 98 Em peixes é fartíssimo o Aquidauana, alguns do mais delicado sabor. Abundam jahús, surubys, dourados, em certos mezes os pacus, pirapitangas, piranhas, além de coribatás, traíras, pacupévas, abotoados, papaterras, raias, piaus e outros comuns aos rios do Brasil. [...] em todo o percurso do rio se formam as mais sedutoras paisagens em suas cercanias, povoadas de toda a casta de animais, as scenas mais inesperadas e sorridentes. Por toda a parte é prodigiosa abundância de pescado e caça de alto vôo. Já a origem e o significado da lexia Aquidauana não foram elucidados, pela bibliografia consultada, uma vez que foram identificadas várias hipóteses sobre a origem do nome. De acordo com Emille Rivasseau (apud FARIAS 1992, p. 14), por exemplo, aquidauana é um termo de origem guaikuru que significa rio estreito: aqui rio + uana estreito, fino, delgado. Levy Cardoso (1961, p. 17), em sua obra Toponímia Brasílica, também atribui à lexia aquidauana a origem guaikuru, mas não esclarece o seu significado. Na obra Décio Corrêa D Oliveira: alinhador do insólito cotidiano, D Oliveira (apud BOGOSSI; BALDO, s/d. p. 25) discorda da hipótese do agrimensor Rivasseau, acreditando que os índios guaikurus não dariam um nome que significasse rio estreito a um dos maiores rios da região. D Oliveira propõe outro significado para o termo e para isso decompõe a lexia aquidauana em ac+dac+ana que, segundo ele, significa lugar de muitas araras. Todavia, não discorda da origem guaikuru do termo. Taunay (1923, apud DICK, 1992, p. 135), por sua vez, registrou ter havido na região um capitão cadivéu com o nome de Taquidauana e do qual pode ter originado o nome do rio. Pelas interpretações apontadas para o significado da lexia aquidauana, verifica-se que todos os autores citados aceitam a hipótese da origem guaikuru do termo, mas o significado do nome continua obscuro, o que nos impossibilitou atribuir uma classificação a esse topônimo. Já o topônimo Anastácio parece estar relacionado ao sobrenome da primeira família que habitou a margem esquerda do rio Aquidauana, onde se localiza hoje o município de Anastácio. Desse modo, por recuperar o nome e homenagear a primeira família que habitou o lugar o classificamos como antropotopônimo. Dois Irmãos do Buriti, por seu turno, recupera o nome do rio Dois Irmãos que possui sua nascente dentro do território do município e se desmembra em dois braços: braço esquerdo que está na divisa com o município de Anastácio e braço direito que cruza o município em toda sua extensão e deságua no Rio Aquidauana. A presença da lexia buriti Referimo-nos ao texto Viagens de outr ora: scenas e quadreos mattogrossenses ( ) que faz parte da obra Paizagens brasileiras (1926), no qual Taunay relata episódios ocorridos em Mato Grosso na época da Guerra do Paraguai A palmeira buriti é encontrada no tipo de vegetação denominada Florestas-Galeria. Na Região do município de Dois Irmãos do Buriti, esse tipo de vegetação se mistura ao Cerrado, principalmente em lugares

99 99 no sintagma nominativo do município, ao que parece, está relacionada à presença dessa palmeira na região. A planta buriti também assinala, quase sempre, a presença de brejos ou cursos d água, aspecto presente na geografia local (IBGE, 1977, p. 73). Devido à natureza do primeiro formante do sintagma toponímico Dois Irmãos do Buriti, esse topônimo foi classificado como numerotopônimo. O designativo Miranda recupera o nome do rio Miranda que foi assim nomeado em homenagem ao governador da capitania de Mato Grosso, em 1797, Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Assim classificamos o topônimo Miranda como um antropotopônimo, uma vez que esse nome se caracteriza como uma homenagem a um cidadão que fez parte da história dessa região. Agora passemos à análise do nome da microrregião de Bodoquena (MR 09) e de seus respectivos municípios Microrregião de Bodoquena (MR 09): Bela Vista, Bodoquena, Bonito, Guia Lopes da Laguna, Caracol, Jardim e Nioaque. A Microrregião de Bodoquena (MR 09) engloba os seguintes municípios: Bodoquena, Bonito, Bela Vista, Caracol, Guia Lopes da Laguna, Jardim e Nioaque. O designativo Bodoquena nomeia uma microrregião e um município. O nome Bodoquena recupera o nome da serra da Bodoquena que ocupa grande parte da região, onde estão localizados os municípios de Bonito, de Bodoquena, de Jardim e Porto Murtinho. A serra apresenta formas e características relacionadas às litologias calcárias e a sua altura varia de quatrocentos a seiscentos metros. Da riqueza natural da serra, o calcário, se produz o cimento uma das fontes econômicas da região. O designativo bodoquena tem origem no tupi e quer dizer atoleiro em cima da Serra (TEIXEIRA, 1989, p. 3). Assim, pelo fato da do nome da microrregião e do município recuperarem o nome da serra que ocupa grande parte da região pesquisada, classificamos os designativos próximos aos cursos d água. Esse município possui como tipo de vegetação o Cerrado (vide mapa Mato Grosso do Sul Vegetação, anexo IV), mas pode-se encontrar nos lugares mais úmidos estratos da vegetação Florestas-Galeria que se constituem basicamente de palmeiras. Sobre a presença da palmeira Buriti no Cerrado da Região Centro Oeste é registrada na obra Geografia do Brasil Região Centro Oeste: IBGE (1977, p. 72): É larga e extensa a área brasileira ocupada pelos Cerrados, especialmente no Centro-Oeste [...], cuja paisagem também se compõem das Florestas-Galeria a sublinharem o curso sinuoso dos rios, e se completa com as ilhas-de-mato dos capões e as aglomerações de buritis, ambas de forma isolada e circunscrita a pontos de lençol d água aflorante.

100 100 que nomeiam a microrregião de Bodoquena e o município de Bodoquena como corotopônimo. O designativo bonito recuperado para nomear o município de Bonito parece se relacionar à beleza física do ambiente onde ele se encontra localizado, já que é considerado um paraíso ecológico por abrigar uma diversidade de vida, tanto da fauna regional quanto da flora e, ainda, tem sua paisagem marcada por inúmeras correntes d água de extrema transparência, rico em peixes e com inúmeras cachoeiras (BOGGIANI, 2001, p. 151). Diante do exposto classificamos o designativo Bonito como animotopônimo eufórico, por considerarmos que transparece em seu conteúdo semântico um estado de espírito positivo do denominador, frente à realidade, motivado, ao que tudo indica, pela beleza física do ambiente. Já o município de Bela Vista localiza-se à margem do rio Apa, do lado norte, enquanto terras do lado sul pertencem à República do Paraguai, tendo também em terras paraguaias um município chamado de Bela Vista. Por volta de 1660 essas terras eram de domínio absoluto dos índios guaikurus. Desse modo, as terras espanholas até o rio Apa foram desabitadas até por volta de 1700 devido à presença desses índios que fizeram amizade com os portugueses, mas continuaram inimigos dos espanhóis. A região brasileira também só começou a ser povoada após a guerra do Paraguai tendo, ao que parece, como seu primeiro morador José Lemes Bugre. Com ele também chegou um grande contingente de imigrantes paraguaios em busca de trabalho nos ervais da empresa Mate Laranjeira, dando início ao povoado que, em 1908, passou a município (GUIMARÃES, 1992, p ). O topônimo Bela Vista (AH) foi classificado como animotopônimo eufórico, por materializar um estado de espírito positivo frente à realidade local, refletindo a imagem percebida pela visão, em decorrência, ao que tudo indica, da própria beleza física da paisagem. Já o município de Caracol 79 foi fundado no fim do século passado e passou a distrito em 1914 e a município em 1963 (CAMPESTRINI;GUIMARÃES, p. 236). O topônimo Caracol foi classificado nesta pesquisa como zootopônimo, pelo fato da lexia caracol nomear um tipo de molusco. O município de Jardim surgiu no local onde se localizava a antiga fazenda Jardim, situada às margens do rio Miranda e de propriedade de José Francisco Lopes, conhecido após a guerra pela alcunha de Guia Lopes da Laguna. A essa fazenda chegou a Coluna de 79 - A escassez de bibliografia acerca do município de Caracol impossibilitou o levantamento de mais informações sobre essa localidade.

101 101 Camisão, sem seu comandante Camisão e sem o proprietário da fazenda José Francisco Lopes, pois esses haviam morrido de cólera no caminho de volta da histórica Retirada da Laguna (GUIMARÃES, 1992, p ). Consta nos registros de Taunay (1963, p. 79) que a fazenda tinha um riquíssimo pomar de laranjeiras e de limoeiros, plantado pelo proprietário e seus filhos durante os anos que ali viveram. O topônimo Jardim (AH) foi por nós classificado como fitotopônimo por guardar em sua substância de conteúdo a referência a plantas. Já o topônimo Guia Lopes da Laguna (AH) faz referência ao guia da Força Expedicionária brasileira, José Francisco Lopes. Essa Força tinha como objetivo expulsar os paraguaios da fazenda Laguna, localizada em território paraguaio. Grande parte do município de Guia Lopes da Laguna localiza-se em terras que pertenceram à fazenda Jardim, situadas à margem esquerda do rio Miranda. O município foi fundado em 19 de março de 1948 e teve como território terras da antiga fazenda Jardim, doada pelo filho de Guia Lopes da Laguna, que tinha o mesmo nome do pai, José Francisco Lopes (GUIMARÃES, 1992, p. 130). Pelo fato de o topônimo Guia Lopes da Laguna (AH) recuperar a denominação de uma pessoa o classificamos como antropotopônimo. O topônimo Nioaque (AH), por sua vez, foi classificado como somatotopônimo, haja vista que, pela bibliografia consultada, nioaque é de origem guaikuru e significa clavícula quebrada. Nioaque começou a ser povoada por volta de 1854, quando lá se estabeleceu um destacamento militar. Em 1877 foi elevada a distrito de Miranda com o nome de Levergéria, em homenagem a Augusto Leverger, cônsul do Brasil no Paraguai e presidente da província de Mato Grosso. Em 1883 voltou a ter o primeiro nome Nioaque. Em 1890 foi elevado a município e voltou a se chamar Levergéria, porém, prevaleceu o nome de Nioaque que, em 1892 foi reconhecido como nome oficial do município (GUIMARÃES, 1992, 153). Verificou-se, pela análise dos topônimos dos acidentes humanos, que os designativos recuperados para nomear os acidentes estão em sua maioria relacionados aos aspectos físicos da região em que se encontram inscritos, sejam de ordem subjetiva como em Bonito, Bela Vista, Jardim, ou de ordem objetiva como em Corumbá, Dois Irmãos do Buriti; O primeiro bloco de topônimos Bonito, Bela Vista e Jardim, por exemplo, denotam a beleza do ambiente físico percebido pelo denominador. Já Corumbá denota uma característica natural do solo, a formação calcária, onde está assentado o município, e Dois Irmãos do Buriti resgata dois aspectos físicos da região: a presença de duas correntes hídricas com a mesma nascente e da planta buriti muito comum na região pesquisada. Nos

102 102 topônimos de acidentes humanos, notou-se também a motivação cultural, já que alguns antropotopônimos que nomeiam os municípios de Miranda, de Guia Lopes da Laguna e de Anastácio recuperam nomes de pessoas que participaram de episódios históricos ocorridos, mais especificamente, na região em que estão inscritos. A motivação cultural pode ainda ser resgatada nos topônimos relativos aos municípios de Ladário e de Porto Murtinho, o primeiro demonstrando a influência da colonização portuguesa e o segundo recuperando o nome de dois homens que influenciaram no surgimento e desenvolvimento do atual município de Porto Murtinho. Por ora, pôde-se perceber a correlação entre os nomes dos acidentes humanos e a realidade extralingüística, demonstrando que aspectos de ordem histórica, cultural e física influenciam na escolha dos nomes geográficos. Na seqüência passamos à análise por classificação taxionômica Análise dos topônimos segundo as taxes mais produtivas Inicialmente, apresentamos o Gráfico I que demonstrou a distribuição percentual das categorias que orientam a divisão taxionômica no modelo de Dick (1992): Natureza Física e Natureza Antropo-cultural. O Quadro V contém 05 (cinco) campos. No primeiro foram registradas as categorias taxionômicas; no segundo, terceiro e quarto campos, a quantificação numérica das taxes em cada uma das microrregiões, e no sexto, a quantificação numérica do total geral de cada taxe, obtido pela classificação dos 422 (quatrocentos e vinte e dois) topônimos coletados na área investigada. Por fim, apresentouse o Gráfico II, que visualiza o sexto campo do Quadro V em valores percentuais. Para a análise dos topônimos no seu conjunto acidentes físicos (AF) e acidentes humanos (AH), foram consideradas as 05 (cinco) primeiras taxes de maior incidência, por ordem decrescente. No início da análise das 05 (cinco) primeiras taxes, também são apresentados quadros que visualizam todos os topônimos da categoria em estudo Apresentação e análise dos dados, segundo a classificação taxionômica. Assim, a partir da observação do Gráfico I Distribuição percentual dos topônimos por categorias taxionômicas, a seguir, podemos notar que a taxionomia de natureza física

103 103 prevaleceu sobre a de natureza antropo-cultural, 58% e 42%, respectivamente. Parece-nos que a maior produtividade das taxes de natureza física na região vem confirmar que o ambiente físico exerceu influência significativa no ato da nomeação dos acidentes situados nesse espaço físico. Gráfico I Distribuição percentual dos topônimos por categorias taxionômicas 42% Categorias de Natureza Física 58% Categorias de Natureza Antropocultural Já o Quadro V Distribuição quantitativa das taxes toponímicas nas microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) e o Gráfico II Quantificação percentual do total geral dos topônimos investigados têm o objetivo de demonstrar o grau de incidência de cada categoria taxionômica em valores numéricos e percentuais.

104 104 Quadro V - Distribuição quantitativa das taxes toponímicas nas microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Aquidauana Taxionomias de Natureza Física Baixo Pantanal (MR 01) (MR 02) Bodoquena (MR 09) Total Geral Astrotopônimo Cardinotopônimo Cromotopônimo Dimensiotopônimo Fitotopônimo Geomorfotopônimo Hidrotopônimo Litotopônimo Meteorotopônimo Morfotopônimo Zootopônimo Total Taxionomias de Natureza Antropo-cultural Baixo Pantanal (MR 01) Aquidauana (MR 02) Bodoquena (MR 09) Total Geral Animotopônimo Antropotopônimo Axiotopônimo Corotopônimo Cronotopônimo Ecotopônimo Ergotopônimo Etnotopônimo Dirrematopônimo Hagiotopônimo Hierotopônimo Historiotopônimo Hodotopônimo Numerotopônimo Poliotopônimo Sociotopônimo Somatotopônimo Topônimos SC Total Total geral de cada coluna

105 105

106 106 O sexto campo (Total Geral) do Quadro V e os resultados do Gráfico II demonstraram, em ordem decrescente de produtividade das taxes, os seguintes resultados: fitotopônimos 80 (81 19,19 %), zootopônimos (59 ocorrências 13, 98 %), hidrotopônimos (54 12,79 %), topônimos S/C (30 7,10 %), antropotopônimos (28 6,63 %), hagiotopônimos (28 6,63 %), litotopônimos (24 5,71 %), animotopônimos (23 5,45 %), ergotopônimos (19 4,50 %), sociotopônimos (14 3,31 %), geomorfotopônimos (10 2,38 %), dimensiotopônimos (07-1,65 %), corotopônimos (06 1,43 %), numerotopônimos (06 1,43 %), cromotopônimos (05 1,18 %), dirrematopônimos (04 0,94 %), hierotopônimos (04 0,94 %), cardinotopônimos (04 0,94 %), ecotopônimos (04 0,94 %), astrotopônimos (03 0,71 %), somatotopônimos (03 0,71 %), historiotopônimo (02 0,47 %), axiotopônimo (01 0,23 %), etnotopônimo (01 0,23 %), hodotopônimo (01 0, 23 %). Já para as taxes meteorotopônimos, morfotopônimos, cronotopônimos e poliotopônimos não houve ocorrências. Totalizaram, portanto, 422 (quatrocentos e vinte e dois) topônimos coletados nesta pesquisa. Assim, no item seguinte passamos a apresentação e à análise dos topônimos classificados como fitotopônimos, os de maior incidência na região pesquisada Fitotopônimos Como já foi assinalado, os fitotopônimos, topônimos de índole vegetal foram os mais produtivos no recorte toponímico por nós examinado, com 19,44 % do total da classificação. Na seqüência, o Quadro VI visualiza os fitotopônimos coletados e analisados nesta pesquisa e o Gráfico III, os estratos lingüísticos registrado nessa taxe. Para a análise dos fitotopônimos, iniciamos com o registro lingüístico da língua de origem. Assim, os topônimos foram agrupados da seguinte maneira: topônimos de base tupi, guarani, da língua portuguesa, da língua espanhola e africana Os fitotopônimos totalizaram 13,73% das ocorrências nas sub-regiões do Pantanal investigadas por Schneider (2002, p. 126), ficando em segundo lugar no grau de incidência taxionômica. Já em Dargel (2003) totalizaram 15,36%, situando-se em primeiro lugar na classificação geral.

107 107 Quadro VI Total geral dos fitotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Topônimo Carandazal Urucum Cedral Ingazeiro Campo dos Índios Paratudal Taquaral Carandá Baguaçu Taquaruçu Aquidauana (MR 02) Buriti Limão Verde de Cipolândia de Palmeira da Campina Indaiá Cipó Pirizal Lixa Capim Branco Carrapicho Pipoca Buriti Angico Cipó Piúva Taboco Buriti Cafezal Canela Preta Carandá Laranjal Taquaral Buritizal Capim Branco Taquaruçu Do Mamão Taquaral Bodoquena (MR 09) Piripucu-açu Nhuatim Capi-Y Tipo/acidente AH/povoado AH/povoado AH/povoado AH/povoado AH/povoado AF/lago AF/vazante AH/aldeia AH/aldeia AH/distrito AH/distrito AF/vazante AF/cabeceira AF/rio AF/ribeirão AF/baía

108 108 Taquaruçu Ingá Arrozal Bananal AF/rio Piripucu AF/rio Taquaral Acurizal Coqueiro Jenipapo Pitangueira Taquaruçu Ramada Tarumã Taquaralzinho Bananal Taquaruçu Pindaíba Bacuri AF/rio Jardim Campo Novo da Mata Ramalhete AF/rio Tarumã AF/rio de Jardim AF/município Mangaval Limeira Campina Taquaruçu Taquaral Palmeira Taquaruçu Bálsamo Buritizinho Carandá Urumbeba Buriti Tuna Capim Scardine Taquaruçu AF/ribeira

109 109 Gráfico III Distribuição percentual dos estratos lingüísticos presentes na taxe dos fitotopônimos 1% 2% 32% Língua Portuguesa Língua Guarani Língua Tupi 59% 6% Língua Espanhola Língua africana No gráfico III, demonstramos que os topônimos de origem tupi representaram um total de 59 % do total das ocorrências nessa taxe, com 47 (quarenta e sete): povoado Carandazal (AH/ Cor), córrego Carandá (AF/PM), córrego Carandá (AF/An) e córrego Carandá (AF/Nio) carandá de kara nda com variação para caraná, que significa escamoso, cascudo, cheio de asperezas e denomina uma palmeira (SAMPAIO, 1987, p. 217); povoado Urucum - urucum urucum de uru ku com variação para urucu que significa o vermelhão e denomina um tipo de planta da qual o indígena extraía uma substância tintorial com que pintava o corpo (SAMPAIO, 1987, p. 341); povoado Ingazeiro (AF/Cor) e córrego Ingá (AF/BV) - ingazeiro ingazeiro de Ingá de y-igá, que significa o que é embebido, ou úmido, alusão à polpa da fruta (SAMPAIO, 1987, p. 249); ); vazante Taquaral (AF/PM) córrego Taquaral (AF/An), córrego Taquaral (AF/Mir), córrego Taquaral (AF/Bon), córrego Taquaralzinho (AF/Bon), córrego Taquaral (AF/Jar) - taquara de ta-quara que significa a haste furada, ou oca (SAMPAIO, 1987, p. 325); córrego Baguaçu (AF/PM) - baguaçu de iüagüa su - i üa (fruta) + üassu (grande) com variação para babaçu, bagussú e babassú que denomina um tipo de palmeira (CUNHA, 1986); córrego Taquaruçu (AF/BV), córrego taquaruçu (AF/Bo), córrego Taquaruçu (AF/Nio), ribeira Taquarussu (AF/Nio) - taquaruçu de taquar-uçu que significa a cana grande, a taquara grossa, bambu (SAMPAIO, 1987, p. 325); aldeia Buriti (AH/DIB), córrego Buriti (AF/An), córrego Buritizal (AF/An), córrego Buriti (AF/Nio),

110 110 córrego Buritizinho (AF/Car) - buriti de mbiriti e significa árvore que emite líquido, palmeira com variação para murity, mirity, mority (SAMPAIO, p. 209); córrego Cipó (AF/Aqu), Distrito de Cipolandia (AF/Aqu) - cipó de içá-pó e significa galho-mão ou ainda galho que tem poder de se prender (SAMPAIO, p. 223); córrego Indaiá (AF/Aqu) - indaiá de anda-yá e significa amêndoas ou cocos caídos, é uma palmeira (SAMPAIO, p 249); vazante Pirizal (Aqu) - pirizal de pirí que nomeia uma espécie de junco, planta aquática de que se fazem esteiras (SAMPAIO, 1987, p. 303); córrego Capim Branco (AF/DIB), córrego Capim Branco (AF/An), córrego Capim Scardine (AF/Car) - capim de caápií e nomeia uma planta de folha fina (SAMPAIO, 1987, p. 215); córrego Pipoca (AF/DIB) - pipoca de py-poca e significa grão de milho que arrebenta em flor por efeito da torra (SAMPAIO, 1987, p. 301); cabeceira Piúva (AF/DIB) -piúva variação de peúva de ïpi ïwa ïpi (casca) + ïwa (planta) e é considerada o mesmo que ipê-rosa (AH, 2001); rio Taboco (AF/DIB) - taboca 81 de ta-bóca e significa a haste furada, o tronco oco (SAMPAIO, 1987, p. 318); córrego Nhuatim (AF/BV) - nhuatim 82 de nhuã que significa campo alto (SAMPAIO, 1987, p. 289) + tim contração de tinga que significa branco, alvo (SAMPAIO, 1987, p. 329); córrego Mangaval (AF/Jar) - mangaba 83 - de mongaba e significa o grude, o visco; alusão ao látex, substância abundante na planta de mesmo nome (SAMPAIO, 1987, p. 279); córrego Urumbeba (AF/Nio) - urumbeba - de ymirá-mbeba, alterada para ur-mbeba e significa a madeira chata, ou em forma de espátula (SAMPAIO, 1987, p. 342); córrego Acurizal (AF/Bom) - acuri 84 de ïuaku ri que nomeia uma planta da família das grutíferas e são registradas as seguintes variantes: baquori, bacori, bacuri, bacuripari (AGC, 1986); córrego Jenipapo (AF/Bon) - jenipapo 85 de yanípáb ou yandipab ou ainda nhandipab que se decompões em yandi-ipab, e significa fruto das extremidades que dá suco. yandi ou nhandi significa suco, óleo e ipab, contrato de í-pab e se traduz fruto da ponta (SAMPAIO, 1987, p. 232); córrego Pitangueira (AF/Bon) - pitanga significa vermelho, corado, fino delicado e nomeia a fruta ácida de pele delicada 81 - Houaiss (2001) registra taboco como variante de taboca A etimologia e significado da palavra Nhuatim já havia sido esclarecida por ocasião do exame de qualificação deste trabalho, pela professora Dick que argumentou ser de origem tupi e significar campo branco Acreditamos que mangava seja uma variante de mangaba. A mangaba é uma planta típica de cerrados e solos arenosos (SCHNEIDER, 2002, p. 114), características também da região onde aparece seu registro na toponímia: a microrregião de Bodoquena (vide mapa da vegetação de Mato Grosso do Sul, em anexo) Nogueira (2002, p. 144), ao estudar o homem e a cultura pantaneira, registrou que a lexia acuri é uma variante de bacuri que nomeia uma espécie de palmeira muito comum na região, informação tomada como referência para considerar acuri como variante de bacuri Teodoro Sampaio (1987, p. 232) esclarece que os frutos do jenipapo são tantos as extremidades de seus galhos.

111 111 e corada da Eugenia uniflora (SAMPAIO, 1987, p. 304); córrego Pindaíba (AF/GLL) pindaíba de pindá-yba e significa a vara do anzol, a cana do anzol (SAMPAIO, 1987, p. 300). Encontramos ainda outro registro, segundo o qual pindaíba nomeia uma planta da família das anonáceas (CUNHA, 1986). Já da língua guarani, com 6% das ocorrências, registramos córrego Piripucu (AF/BV) e córrego Piripucu-açu (AF/BV). Piripuku-açu 86 piripuku 87 encontra-se registrada no vocabulário guarani, significando junco que nasce em lugares úmidos (ARNAUD SAMPAIO, 1986); já a lexia açu é do tupi e significa grande (SAMPAIO, 1987, p. 191); córrego Capi-y (AF/BV) - capi-y 88, registrado como capi i e significa palha, capim (GUASCH; ORTIZ, 1986/ ARNAUD SAMPAIO, 1986); córrego Tarumã (AF/Bon) e rio Tarumã (AF/GLL) - tarumã 89 encontramos duas acepções para tarumã 90 : árvore silvestre, medicinal e espécie de oliveira (ARNAUD SAMAPIO, 1986/GUASCH; ORTIZ, 1986). Das línguas espanhola e africana constatou-se apenas 1% das ocorrências de cada uma: córrego Tuna (AF/Car) tuna que designa duas plantas da família das cactáceas e tem origem no espanhol americano (CUNHA, 1986); e rio Bananal (AF/Bon) e córrego Bananal (AF/BV) banana é de origem africana e nomeia o fruto da bananeira (CUNHA, 1986). Não é demais lembrar que todas as lexias que não são de origem indígena, nem da língua espanhola, nem africana e estão registradas em dicionários da língua portuguesa foram consideradas neste trabalho como da Língua Portuguesa. Já a lexia canela recuperada no topônimo córrego Canela (AF/An) tem origem no antigo francês e nomeia a planta da família das lauráceas, cuja casca se utiliza como especiaria (CUNHA, 1986); e a lexia jardim recuperada nos topônimos município de Jardim (AH/Jar) e córrego Jardim (AF/GLL) tem origem na língua francesa e significa terreno onde se cultivam plantas ornamentais (CUNHA, 1986); 86 - Quando o topônimo apresentar mais de um estrato lingüístico na formação do topônimo consideramos como topônimo híbrido, dentre outros, citamos: piripucu (LG) +-açu (LT), caba (LT) + cuê (LG) Encontramos a lexia piripuku na obra Vocabulário da língua guarani (ARNAUD SAMPAIO, 1986, p. 128) que a registra com o mesmo significado de junco: Tem no guarani os nomes de ka aikysé, piripuku e pirimí. Aproveitado no artesanato e no fabrico de esteiras Dick por ocasião do nosso Exame de Qualificação, esclareceu que capi-y apresenta uma estrutura típica do guarani Tarumã nomeia uma árvore de mais ou menos 20 metros que é comum na região estudada. Segundo Pott e Pott (1994, apud SCHNEIDER, 2002, p. 114) essa árvore cresce em matas, capões ciliares e em solos arenosos ou argilosos Houaiss (2001), registra que tarumã nomeia uma árvore nativa do Brasil que fornece madeira e óleo medicinal.

112 112 No que diz respeito aos topônimos aldeia Limão Verde (AF/Aqu), córrego Limeira (AF/), córrego Laranjal (AF/An), córrego Cafezal (AF/An) e córrego Arrozal (AF/BV), as lexias limão, laranja e lima arroz e café que servem como fonte onomástica para os designativos são de origem árabe e nomeiam os frutos do limoeiro, da laranjeira, da limeira e do cafeeiro respectivamente (CUNHA, 1986). No que se refere às lexias de origem controversa, obscura ou incerta, presentes nos designativos geográficos, temos: córrego Lixa (AF/DIB) lixa 91 registrada pelo lexicógrafo Houaiss (2001) que remete o consulente a lixa que pode ser de origem latina. Quanto ao significado pode ser um tipo de peixe ou uma árvore 92 da família das cecropiáceas, nativa das Guianas e do Brasil; lagoa Paratudal (AF/Cor) paratudo 93 nomeia uma árvore da família biagnoníceas, nativa do Brasil, O lexicógrafo Houaiss (2001) registra como controversa a etimologia de paratudo, apresentando duas possíveis etimologias de outros lexicógrafos: segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, vem de para+tudo e para José Pedro Machado vem do tupi; córrego Carrapicho (AF/DIB) carrapicho 94 de carrapito tem origem obscura, e nomeia várias plantas, cujos frutos pequenos aderem facilmente à roupa ou no pêlo de animais (CUNHA, 1986); córrego Angico (AF/DIB) angico designa várias árvores da família das leguminosas, quanto à origem Houaiss (2001) registra como obscura, mas esclarece que outros lexicógrafos admitem algumas possibilidades e cita Nei Lopes que credita a origem à língua quicongo 95, já José Pedro Machado indaga se não seria do tupi. Pudemos observar que os fitotopônimos em estudo neste trabalho são em sua maioria de origem indígena: 59 % das ocorrências do tupi e 6 % do guarani. As investigações de Schneider (2002) e de Dargel (2003) também registram tendência semelhante. Schneider (2002) constatou em sua pesquisa, que dos 42 (quarenta e dois) topônimos pertencentes à taxe dos fitotopônimos, 22 (vinte e dois) 96 são de origem tupi e 91 - Cunha (1986) a respeito da lexia lixa, registra apenas como deverbal de lixar com o significado de desgatar com lixa, cuja origem é incerta Optamos por árvore como significado de lixa pelo fato de na bibliografia consultada, tanto geográfica quanto histórica, não termos encontrado nenhuma referência a peixe com essa denominação, o que não ocorreu com a planta lixa, sobre a qual encontramos várias referências em obras históricas e geográficas sobre a região Cunha (1986) não registra a lexia paratudo Os dicionários consultados (HOUAISS, 2001/ CUNHA, 1986) não levantam nenhuma hipótese de qual língua poderia ter se originado a lexia carrapicho. 95 Grupo de línguas bantas faladas pelos quicongos na África (HOUAISS, 2001) Córrego Cambará, Córrego Buriti Vermelho, Vazante Tarumã e rio Tarumã, rio Taquari, Vazante Landizinho (02 ocorrências), Vazante Aguaçu, Vazante Caraguatá e Ilha Caraguatá, Vazante Mangabal (02

113 (dezessete) 97 de origem portuguesa. Já de origem guarani registra apenas a lexia tarumã: córrego Tarumã e rio Tarumã. O estudo de Dargel (2003) sobre a toponímia da região do Bolsão sul-matogrossense também confirma a presença de fitotopônimos com etimologia tupi, uma vez que dos 206 topônimos dessa categoria coletados por essa pesquisadora, 106 são de origem tupi e 96 de origem da língua portuguesa, isto é, 51, 45% das ocorrências são de origem indígena, enquanto 48,55% da língua portuguesa. Todavia, no Bolsão não houve registro de fitotopônimos de base guarani. Já no nosso estudo, a língua guarani deixou sua marca na fitotoponímia local. Os seguintes registros demonstram essa afirmação: córrego Piripucu-açu (AF/BV), córrego Capi-y (AF/BV), rio Piripucu (AF/BV), córrego Tarumã (AF/Bon) e rio Tarumã (AF/GLL). A presença de nomes de origem guarani na fitotoponímia local pode ser explicada historicamente, já que grande parte do território, onde foram registrados tais nomes, foi área guarani. Assim, a localização geográfica dos topônimos em questão também justifica a presença da marca dessa língua na toponímia em estudo. O município de Bela Vista, por exemplo, era território dos guaranis e, os espanhóis, no século XVI, para garantirem a posse do lugar passaram a constituir famílias com o povo dessa etnia, aproveitando-se do princípio guarani de que as relações de trabalho deviam ser baseadas na ajuda recíproca entre parentes (ESSELIM, 2000, p. 31), mas também pode ser explicada pela presença de paraguaios, a partir do século XX, falantes do guarani, que vieram trabalhar na extração da erva-mate (CORRÊA, 1999, p. 102). Manifestando-se sobre a presença de nomes de origem indígena na nomenclatura geográfica, Sampaio (1987, p. 144) esclarece que, no Brasil, um país onde a vegetação é exuberante e intensa, a nomenclatura geográfica de origem indígena, que recupera o nome de plantas, deve traduzir a feição local do ponto de vista de sua vestimenta vegetal, ou pelas espécies características. Dick (1990, p. 304), por sua vez, registra que a presença mais acentuada da marca indígena ocorre nas nomeações da flora e da fauna, assim não é de se estranhar o registro de um maior número de designativos de base indígena, nos fitotopônimos e nos zootopônimos. Logo, nossos dados confirmam essa tendência. Como já foi assinalado, os topônimos de índole vegetal foram os mais produtivos na região pesquisada, com uma significativa recuperação da flora regional, pois os ocorrências), Brejão Taboco, Córrego Jatobá, Córrego Piúva, Vazante Ingá, Ilha do Capão Queimado, Morro do Urucum, Ilha Jequeri,, Corixo Mandioca Brava (SCHNEIDER, 2002, p. 89) Córrego das Flores, Vazante Uval, Córrego da Figueira e Ilha da Figueira, Corixo do Cerrado, Morro da Pimenta, Morro do Mato Grande e Ilha do Mato Grande (SCHNEIDER, 2002, p. 89).

114 114 fitotopônimos registrados nesta pesquisa remetem a plantas que fazem parte desse ambiente natural. Assim, é importante resgatar aqui a divisão da flora brasileira proposta por Sampaio (1938 apud DICK, 1990, p. 146) na obra A fitogeografia do Brasil, onde focaliza a importância da fauna brasileira na vida do homem ao argumentar que a tendência de se preservar as plantas e de proteger a natureza está, muitas vezes, relacionada aos benefícios das plantas: uns conhecidos de toda a gente, outros reconhecidos pela ciência, nas suas pesquisas sobre as relações entre os seres vivos, a atmosfera e o solo. Todo o mundo conhece numerosas plantas úteis, campestres e florestais; geralmente se compreende o papel protetor das florestas para os mananciais; não há quem desconheça a utilidade uma árvore frutífera, ornamental ou de sombra. Sampaio (1938, apud DICK, 1990, p 148) nessa mesma obra, ao se referir especificamente à fauna brasileira, a divide em duas grandes províncias: Amazônica ou Flora Amazônica e Extra-Amazônica ou Flora Geral. Detemo-nos na segunda província, uma vez que é nesta que se situa a fitotoponímia do recorte geográfico por nós investigado. A flora Extra Amazônica ou Geral é subdividida em seis zonas, a saber: dos Cocais, das Caatingas, das Florestas Orientais, dos Pinhais ou Sul Brasileira da Araucária, dos Campos e Marítima. Mato Grosso do Sul, dentro do panorama nacional, enquadra-se na Zona dos Campos (RAVAGNANI; RASLAN, s.d, p. 10). Já numa perspectiva regional, a vegetação sul-mato-grossense apresenta quatro tipos básicos de revestimentos florísticos: cerrado, mata tropical, campos limpos e complexo do pantanal. A região foco desta pesquisa compreende parte do cerrado e do complexo do pantanal, como já registrado anteriormente. A análise dos fitotopônimos aqui arrolados permitiu-nos confirmar aspectos da relação entre o uso do nome da planta, principalmente o de origem indígena, para nomear um acidente, físico ou humano, e a presença da planta na localidade. Outro aspecto observado é que apesar de a flora regional ter suas particularidades, algumas dessas plantas que emprestam o nome à toponímia local são encontradas em outros Estados brasileiros e são esses nomes os mais produtivos nos fitotopônimos da região em estudo: taquara, buriti, capim. A planta taquara empresta o nome para os fitotopônimos vazante Taquaral (AF/Cor), córrego Taquaruçu (AF/PM), córrego Taquaral 98 (AF/An), ribeirão Taquaruçu (AF/An), córrego Taquaral (AF/Mir), córrego Taquaruçu (AF/BV), córrego 98 - Quando o topônimo se apresenta com o mesmo nome em municípios diferentes, optamos por repeti-lo.

115 115 Taquaral (AF/Bon), córrego Taquaruçu (AF/Bon), córrego Taquaralzinho (AF/Bon), córrego Taquaruçu 2 (AF/Bon), córrego Taquaruçu (AF/Jar), córrego Taquaral (AF/Jar), córrego Taquaruçu (AF/Nio), ribeira Taquarussu (AF/Nio). Na perspectiva de Dick (1990, p. 190), a taquara é uma planta típica do Brasil, pois os topônimos que a recuperam incidem nas mais diferentes zonas do território brasileiro, inclusive na área aqui pesquisada, como descreve Taunay (1963, p. 35), referindo-se à região de Nioaque: Apertada entre altas ribanceiras, cobertas de taquaruçus, correm as águas frescas do Nioac sobre um leito, quase contínuo, de grés vermelho, disposto em grandes lajes, que se recomenda à atenção e ao estudo do geólogo. Schneider (2002) e Dargel (2003) registram, também, a presença da planta taquara na toponímia das regiões por elas pesquisadas 99. Já buriti é recuperado na região em pesquisa nos seguintes fitotopônimos: aldeia indígena Buriti (AH/DIB), córrego Buriti (AF/DIB), córrego Buriti (AF/An), córrego Buritizal (AF/An), córrego Buriti (AF/Nio), córrego Buritizinho (AF/Car). Acreditamos que a possível motivação para o uso de buriti na nomeação desses acidentes seja a presença dessa palmeira na região, como já foi assinalado na análise do topônimo Dois Irmãos do Buriti. Dick (1990, p. 155) registra que a designação buriti é bastante encontrada na nomenclatura geográfica do país. Atestam isso, dentre os vários exemplos, os seguintes registros: Buriti Alegre (AH GO), Buriti Bravo (AH MA), Buriti Cortado (AH MA), Buriti Grande (AH PI), Buritirana (AH BA), Buritizinho (AH BA CE GO MA PI). O estudo de Dargel 100 (2003, p. 86) registrou que o emprego de buriti e derivados na nomeação dos acidentes do Bolsão foi um dos recursos mais produtivos, o que a levou a considerar que a possível motivação seja a característica da vegetação local o cerrado, uma vez que essa palmeira é típica do cerrado. O item lexical carandá, por sua vez, foi recuperado nos seguintes fitotopônimos em exame nesta pesquisa: povoado Carandazal (AH/Cor), córrego Carandá (AF/PM), córrego Carandá (AF/An) e córrego Carandá (AF/Nio). A árvore carandá, ao que parece, é uma planta típica da região pantaneira, a julgar pela descrição de Sampaio (1938, apud DICK, 1990, p. 185) sobre a formação vegetal do Pantanal: A vegetação, tendo de suportar alternadamente épocas de grande umidade e épocas secas, é tropófila, salientando-se como planta mais 99 - Schneider (2002) registrou uma ocorrência de fitotopônimo no Pantanal formado com a unidade lexical taquara enquanto Dargel (2003) registrou 5 (cinco) ocorrências na região do Bolsão Dos 206 fitotopônimos catalogados por Dargel (2003) na região do Bolsão, 14 (quatorze) recuperam a palmeira buriti.

116 116 característica a palmeira carandá [...] que, por longo tempo foi considerada a mesma carnaúba do maranhão, do Nordeste e da Bahia; o carandá, além de outras diferenças, não dá cera; forma à margem do rio Paraguai grandes carandazais. Na obra Características de Mato Grosso do Sul, Ravagnani e Raslan (s.d, p. 14) destacam que as árvores carandá e paratudo aparecem em grande quantidade nas encostas do Pantanal: Carandazais e Paratudais entre a área sujeita a inundações e os restos de chapadas que testemunham o planalto próximo. A forte presença da lexia carandá 101 na nomeação dos acidentes em estudo nesta pesquisa parece apontar para uma particularidade toponímica desse recorte regional 102, dada a relação entre o tipo de vegetação local e os fitotopônimos que nomeiam os seus acidentes. Este ponto de vista é reforçado pelo fato de Dargel (2003) ter registrado apenas uma ocorrência do uso de carandá na nomenclatura geográfica do Bolsão córrego Carandá (AF) dentre os 206 fitotopônimos por ela registrados. Isso nos levou a inferir que a concentração dos topônimos na região examinada nesta pesquisa também segue a tendência da relação entre a área geográfica com suas particularidades vegetais e a toponímia. No que se refere aos fitotopônimos 103 que recuperam a lexia capim, registramos córrego Capim Branco (AF/DIB), córrego Capim Branco (AF/An), córrego Capim Scardine (AF/Car), córrego Capi-y (AF/BV). Ao que parece, o uso da unidade lexical capim, para nomear acidentes físicos dessa região, está relacionada à presença desse tipo de gramínea no complexo do Pantanal, marcado por excelentes pastagens que desaparecem na época das secas e reaparecem sempre após as enchentes (IBGE, 1977, p. 79). Já Dick (1990, p. 180) registra que a denominação capim é bastante utilizada na nomenclatura geográfica e principalmente em acidentes físicos, ressaltando que, na maioria das vezes, tais topônimos se apresentam em sua estrutura composta. Acrescenta ainda a estudiosa que a presença de capim na nomenclatura geográfica, principalmente nos compostos, são mais comuns nos estados do Pará e de Minas Gerais. Parece-nos que a Dick (1990, p. 185) registra 6 (seis) ocorrências de fitotopônimos com a lexia carandá e derivados na região de Mato grosso. Considerando a informação de Sampaio (1938 apud DICK 1990, p. 185) de que grandes carandazais se formam à margem do rio Paraguai, acreditamos que a recuperação de tal planta também esteja ligada às características da vegetação, uma vez que o rio Paraguai também faz divisa com o estado de Mato Grosso Para confirmação dessa hipótese haveria a necessidade de cruzamento dos nossos dados com os de estudos que abrangessem toda toponímia brasileira. Todavia, em termos de Mato Grosso do sul, considerando os trabalhos já realizados sobre a toponímia local, por ora, pode-se considerá-la uma particularidade regional A pesquisa de Schneider (2002) não registrou fitotopônimos que recuperassem a planta capim. Já no estudo de Dargel (2003) há apenas um registro: córrego Capim Branco.

117 117 tendência do uso de topônimos compostos com a lexia capim, para nomear acidentes físicos, também se confirma na nomenclatura geográfica por nós estudada. Já os fitotopônimos povoado Ingazeiro (AH/PM) e córrego Ingá (AF/BV) recebem o nome da planta ingá, uma árvore de até 10 m de altura comum em regiões tropicais e temperadas da América. Na região pesquisada nomeia também um acidente físico de Aquidauana, vazante Ingá (SCHNEIDER, 2002, p. 83). Dargel (2003, p.133), por sua vez, registrou apenas um acidente no Bolsão formado com nome da planta em questão: Córrego Ingar (AF). Outras plantas presentes na região em pesquisa, também são recuperadas nos fitotopônimos, citamos, como exemplo, entre os de origem indígena: córrego Baguaçu (AF/PM), córrego Pindaíba (AF/GLL), córrego Mangaval (AF/Jar), córrego Acurizal 104 (AF/Bo), rio Bacuri (AF/Bo), povoado Urucum (AH/Cor). Esses acidentes levam nome de plantas que fazem parte do meio ambiente regional e que ainda hoje possuem utilidades práticas, como é o caso das folhas da palmeira acuri, da babaçu que são utilizadas na região pantaneira para cobrir as roupas no coradouro, na confecção de estrados de cama e coberturas dos ranchos (NOGUEIRA, 2002, p. 82 e 144). Já a lexia baguaçu merece algumas considerações: baguassu aparece dicionarizada em Houaiss (2001) que remete o consulente a babaçu de origem tupi - iwagwa su - i wa (fruta) + gwassu (grande) - com variação ainda para bagussú e bagassú, que denominam um tipo de palmeira. Schneider (2002, p. 113) registrou um topônimo formado com a lexia aguassu (Vazante Aguassuzinho), que também remete a babaçu e que, de acordo com Pott- Pott (1994, apud SCHNEIDER, 2002, p. 113), nomeia uma palmeira de 10 a 20 metros de altura que é dominante em matas não inundáveis, com solos argilosos, em cordilheiras mais altas, associadas a salinas e a grandes vazantes, no centro Sul da sub-região da Nhecolândia. Considerando que esta sub-região também está localizada dentro do município de Corumbá acreditamos que baguassu seja uma variante de babaçu. Dargel (2003, p. 95) também registrou na região do Bolsão uma ocorrência com outra variante de babaçu: córrego Babuaçu (AF). Em se tratando da utilização do nome da planta mangaba como fonte onomástica, Dick (1990, p. 153) registra que o uso dessa lexia e de seus derivados na toponímia confirma a informação de Sampaio (1938), de que a zona distributiva do topônimo está Em se tratando de etimologia, acreditamos que acuri e bacuri sejam variantes de guacuri. Houaiss (2001) registra bacuri e remete o consulente a guacuri com origem no tupi ïwaku ri espécie de palmeira. Registra também como variantes acuri, auacuri,bacuri. Nogueira (2002, p. 144), por sua vez, define bacuri como uma espécie de palmeira muito comum na região, possui como variante a lexia acuri.

118 118 relacionada à localização fitogeográfica da espécie, uma vez que não há registros onomásticos desse vegetal fora dos pontos citados: a forma mangaba no Amazonas e no Pará e a forma mangabeira na Bahia, no Ceará, em Goiás, no Maranhão, em Minas Gerais, no Pará, no Piauí e no Rio Grande do Norte. Ao que parece esse tipo de vegetal também está presente na vegetação do Mato Grosso do Sul. Informações obtidas sobre a vegetação da Região Centro-Oeste, mais especificamente sobre o cerrado 105, que é a que ocupa a maior parte da região do estado de Mato Grosso do sul, registra que dentre a variedade botânica merece destaque, pela ocorrência comum, a mangabeira (IBGE, 1977, p. 71). Esses dados talvez justifiquem a presença de outros fitotopônimos no Estado que recuperaram a planta mangaba: Schneider (2002) registrou 02 (ocorrências) na região pantaneira vazante Mangabal (AF) e Dargel (2003, p. 90) registrou 1 (uma) ocorrência no Bolsão Morro da Mangava (AF). Já a planta urucum, recuperada no topônimo povoado Urucum, era muito utilizada pelos indígenas, que dela extraíam uma tinta vermelha para pintar o corpo (SAMPAIO, 1987, p. 164). O termo urucum também nomeia outro acidente na região, o Morro Urucum, que pode ter recebido essa nomeação por associação da cor do morro 106 à tinta da planta. Dentre outros nomes de plantas que nomeiam acidentes da região em estudo e que fazem parte do panorama ambiental em questão, citamos, como exemplo: o paratudo, o cedro e a lixeira. Em passagem do texto Viagem de regresso de Mato Grosso à Corte (1867), de Taunay (1929, p. 41), encontramos várias descrições das paisagens da região em pesquisa, dentre outras citamos, como exemplo, a seguinte: Alli se passa já o Aquidauana em suas cabeceiras. Depois de comermos boas laranjas n um pomar que a mamona invadira victoriosa, fomos caminhando, chegando, com o cahir da tarde, ao ribeirão Cachoeira, três léguas além, sempre por campos quebrados, onde se notam cerrados altos de bombaceas, paratudos (bignoniácea), [...] lixeiras ou pastagens do capim branco, tão estimado pelos animais e salpicado com profusão de pés de lixeira rasteira, cujas propriedades medicamentosas em certas affecções são incontestáveis. (grifo nosso) A árvore paratudo, fonte onomástica do topônimo lago Paratudal (AF/Cor), é da família Tabetuia Caraíba, possui folhas com propriedades purgativas e flores amarelas e é Vide Mapa Estado de Mato grosso do Sul: vegetação na seção de anexos Nos relatos do espanhol Cabeza de Vaca (1541, apud COSTA, 1999, p. 102), aparece a descrição do morro que mais tarde veio a ser chamado de Morro Urucum: umas serras que estão no meio do rio, mui altas e redondas, que a forma delas era como um sino [...] Estas serras estão ermas, e não criam erva nem árvore nenhuma, e são vermelhas, cremos que têm muito metal.

119 119 comum na região Centro-Oeste, já a origem do designativo paratudo é controversa (HOUAISS, 2001). Todavia, se se considerar o valor medicinal que a planta paratudo possui para o homem pantaneiro, pode ser atribuída sua etimologia em para + tudo, uma vez que é considerada a mais famosa da região, por ser, dentre todas, a mais milagreira, pois cura as mais variadas doenças como tosse, problema de estômago, doenças do sangue, enfim, cura todas as mazelas (NOGUEIRA, 2002, p. 35). O designativo da planta lixeira, também apreciada pelos moradores da região pelas propriedades curativas, é recuperado no topônimo córrego Lixeira (AF/DIB). O Bolsão, por sua vez, não registrou fitotopônimos com as lexias paratudo, lixeira ou lixa (DARGEL, 2003). Apesar de não podermos afirmar, por falta de trabalhos que abranjam a toponímia de outras localidades do Estado, podemos inferir que tais nomeações sejam mais específicas da região por nós pesquisada: córrego Paratudal (AF/Cor), córrego Lixeira (AF/DIB). A árvore denominada cedro, que deve ter motivado o nome do povoado Cedral, também faz parte da fitogeografia da localidade. Ao que parece, essa árvore atualmente não é tão abundante na região como no passado. Nogueira (2002, p.48), que investigou o homem e a cultura pantaneira, registra que a madeira dessa árvore era utilizada para construir os batelões 107, um dos meios de locomoção fluvial no Pantanal, hoje já em extinção. Ribeiro (1984, apud NOGUEIRA, 2002, p. 48) explica que com os batelões eram improvisadas as balsas e para isso utilizavam o cedro por ser uma madeira resistente: escolheu grandes cedros, que abundavam naquela época, e fez sua balsa com três batelões. Por ela passavam 03 ou 04 cavalos arreados, carretas e suas mercadorias, carros e até os pequenos caminhões da época. No Bolsão, Dargel (2003, p ) registrou 04 (quatro) ocorrências na nomeação de acidentes físicos: córrego do Cedro (AF) e ribeirão do Cedro (AF), córrego Cedro (AF), córrego Cedro (AF). Frente ao exposto, parece-nos que há, no sistema toponímico em estudo, a valorização da flora local, uma vez que a maioria das plantas recuperadas pela fitotoponímia é abundante na região. Vale recuperar aqui o ponto de vista de Sampaio (1938, apud DICK, p. 185) que, ao se referir especificamente à formação vegetal do estado Nogueira (2002, p. 47) esclarece que o batelão era uma canoa de grande porte, com tábuas laterais, onde se alojavam os remadores ou puxadores de zinga, uma vara de mais de três metros, com um ferro na ponta.

120 120 de Mato Grosso 108, destaca que a formação vegetal do lugar constitui os estratos fitotoponímicos. Essa associação entre a toponímia e a vegetação foi ressaltada também por Helmut Troppmair (1969, apud DICK, 1990, p. 194). Em seu estudo acerca da cobertura vegetal primária do estado de São Paulo, esse estudioso encontrou dados relevantes da fitogeografia da região ao associar à pesquisa de campo, a consulta de cadastros, de documentos históricos e à interpretação da toponímia da localidade. Outro estudo que demonstrou a relação entre a fitogeografia da região e a toponímia foi a pesquisa de Leo Weibel (1984, p. 7) sobre a vegetação cubana, publicada pela primeira vez em Para a realização do estudo da vegetação cubana, tomou como principal fonte a toponímia registrada em mapas. Chamou a atenção do pesquisador a quantidade de topônimos que recuperavam a lexia savana 109 e variações, no mapa por ele consultado, pois dos 109 (cento e sessenta e nove) topônimos, 51 (cinqüenta e um) recuperavam sabana, 26 (vinte e seis) sabanilhas, 04 (quatro ) sabanitas, 02 (dois) sabanozas e 01 (um) sabanetón. Assim, por meio da investigação da toponímia cubana, concluiu que na época do descobrimento do país, 1492, havia grandes espaços com savanas, e que a fitogeografia havia se modificado pela influência humana. Em 1984, foi publicado o trabalho do botânico Ricardo Herrera Peraza que confirmou o estudo de Léo Waibel, isto é, que os topônimos coletados realmente recuperavam a primitiva paisagem natural da Ilha. Esse trabalho de Waibel (1943) demonstra a relação entre o nome geográfico e a vegetação, assinalando que mesmo que desapareça algum tipo de vegetação, ela pode ficar registrada na toponímia local. O seu estudo também confirma que a vegetação serve e tem servido como fonte motivadora na toponímia, para povos de regiões diferentes e culturas diferentes. Pode-se também observar o caráter descritivo que o nome de origem indígena possui e assim a origem semântica da denominação pode revelar, por meio do significado do designativo, a motivação, que na toponímia investigada por Waibel (1943), por exemplo, foi de ordem objetiva, visto que a presença em grande quantidade daquele tipo de vegetação pode ter motivado a toponímia cubana Onde se lê Mato Grosso, leia-se também Mato Grosso do Sul, já que a obra citada é anterior à divisão do Estado O estudioso Leo Weibel interessou-se pela paisagem primitiva cubana ao supor que a lexia sabana era de origem indígena e significava um espaço sem árvores, o que de acordo com o autor lhe sugeriu de imediato um enfoque toponímico. Entre as várias definições para sabana encontrou uma (1929, Troll apud 1984 WAIBEL, p. 6) que afirmava ser a palavra espanhola sabana derivada de uma língua caribe que significava planície sem árvores.

121 121 Dick (1990, p. 195), por sua vez, sublinha a importância e a função motivadora da flora, na nomenclatura geográfica, que se caracteriza não apenas pela variedade de fatores determinantes como a importância de um tipo vegetal para a região, mas também de acordo com o elemento vegetal predominante. No decorrer da análise da toponímia das microrregiões Baixo Pantanal (MR 01), Aquidauana (MR 02) e Bodoquena (MR 09), pudemos verificar que, por meio da investigação toponomástica de uma região, é possível resgatar características da flora local presentes nos nomes geográficos. Desse modo, a recorrência ao nome de plantas na nomenclatura geográfica aqui pesquisada parece estar relacionada à diversidade da flora da região, e a nomeação motivada pela presença das plantas ao redor do acidente geográfico no ato da sua nomeação. Isso significa dizer, também, que na escolha dos designativos para nomear os acidentes concorreram circunstâncias de ordem objetiva, já que a nomenclatura geográfica da região pesquisada recupera um grande número de plantas do meio ambiente local, o que ratifica a influência do ambiente físico no recorte toponímico ora pesquisado. Na seqüência, analisamos a segunda taxionomia mais recorrente entre os topônimos coletados: os zootopônimos Zootopônimos Os zootopônimos, topônimos de índole animal, perfizeram um total de 13,98% do total da classificação taxionômica, totalizando 59 (cinqüenta e nove) ocorrências denominativas dos 422 (quatrocentos e vinte e dois) topônimos coletados nas cartas cartográficas relativas às três microrregiões. O Quadro VII, a seguir, visualiza todos os topônimos classificados nessa categoria. Quadro VII Total geral dos zootopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09). Piranha Tungo Veado Gordo Pacu do Periquito das Gaivotas Mandioré dos Cabritos Topônimo Tipo/acidente AF/corixo AF/corixo AF/corixo AF/morro AF/vazante AF/ilha AF/lagoa AF/rio

122 122 Anta Formiga Seriema Tamanduá do Papagaio Sucuri do Malhadão da Onça Aquidauana (MR 02) de Piraputanga Quati da Anta Piraputanga Pirainha Arara Morcego Mosquito Quati Pinhé da Veada Marimbondo Piraputanga Sucuri Piraputanga Bodoquena (MR 09) Piracuã Caba-cuê Jaguaretê Mosquiteiro do Boi Caracolzinho Jabuti Anhumas Mutum da Onça Passarinho do Peixe Arara Cervo Sucuri Cascavel Cascavel do Burro Ariranha Formiguinha das Araras Canindé dos Porcos de Caracol AF/serra AF/ ilha AF/morro AF/lagoa AH/distrito AF/vazante AH/vila AH/aldeia AH/distrito AF/rio AF/morro AF/rio AH/município

123 123 dos Porcos do Boi Caracolzinho Caracol AF/rio Essa grande produtividade de zootopônimos vem corroborar, pelo menos no que diz respeito às denominações geográficas da microrregião do Baixo Pantanal (MR01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09), a presença da fauna na nomenclatura em estudo. Esses dados se opõem aos apresentados por Dauzat (1922, apud DICK, 1990, p. 255), que registrou uma menor freqüência denominativa de índole animal em relação a outras categorias na toponímia francesa, e à perspectiva de Beckheuser (1952, apud DICK, 1990, p. 255) de que na toponímia brasileira os zoônimos 110 são menos numerosos. Ainda com referência à toponímia brasileira, Ivan Lind (1963, apud DICK, 1990, p. 255) também entende que os zoônimos não deixaram grandes marcas na nomenclatura, ponto de vista registrado no seu estudo De Portugal ao Brasil. Um pequeno estudo de toponímia brasileira (1963). Todavia, este pesquisador salienta que a presença de zoônimos indígenas para a nomeação de lugares, mesmo não sendo a principal fonte motivadora, configura-se como uma indiscutível realidade brasileira e que, dentre os nomes de índole animal, os que mais despertaram interesse nominativo foram os de peixes. Já Teodoro Sampaio (1987, p. 147) põe em relevo que a fauna regional refletiu-se na geografia do Brasil, mesmo que não em sua totalidade, já que os registros toponomásticos não abarcaram toda a variedade das espécies animais. Dick (1990, p. 255), por sua vez, considera natural essa tendência, uma vez que seria muito difícil abarcar todas as espécies animais da fauna brasileira na toponímia, considerando as diversidades de espécies. Contudo, isto não anula o grau de importância e significação de que se revestem tais referências, uma vez que estão vinculadas aos dados existenciais do próprio grupo e à presença física do animal lembrado. Em relação a essa perspectiva, Sampaio (1987, p. 147) também destaca que o nome do animal está vinculado à freqüência ou à presença do animal na localidade. Dessas últimas considerações de Sampaio depreendemos que o processo de nomeação estaria, assim, condicionado ao meio geográfico e às espécies animais que ali vivem, considerando que cada habitat possui uma fauna e uma flora peculiar às condições ambientais Segundo Dick, a terminologia zoônimos é utilizada por toponimistas norte-americanos. Já no Brasil, nos trabalhos coordenados e orientados por essa toponimista, é adotada a terminologia zootopônimo para referirse ao nome de um acidente geográfico que recupere o nome de um animal. (Esclarecimento prestado pela autora por ocasião do nosso Exame de qualificação).

124 124 Dick (1990, p. 256), por sua vez, salienta que o toponimista norte-americano Stewart possui outro ponto de vista quanto à relação entre a presença do animal em uma localidade e o seu habitat natural, pois para Stewart (apud Dick, 1990, p. 256), a presença do animal lembrado não pressupõe, necessariamente, que ela constitua seu habitat natural. Basta a simples ocasionalidade do encontro, no ato da nomeação, quando o toponomástico resultante configuraria, segundo a classificação que propõe, o chamado incident name. Retomando a concepção de Ivan Lind (1963, apud DICK, 1990, p. 255) com relação à representatividade de nomes de peixes na nomeação geográfica, salientamos que, ao que parece, a constatação desse estudioso não se aplica ao recorte geográfico por nós pesquisado, conforme dados extraídos do gráfico IV, demonstramos o predomínio de nomes de outros tipos de animais na toponímia estudada com 83% das ocorrências, como córrego Veado Gordo (AF/Cor), rio dos Cabritos (AF/PM), córrego Tamanduá (AF/PM), córrego Quati (AF/Aqu), córrego do Boi (AF/Car), vazante Periquito (AF/Cor), ilha das Gaivotas (AF/Cor), serra do Papagaio (AF/PM). Em contrapartida, foram registrados apenas 17% - 10 (dez) topônimos com nomes de peixes -: corixo Piranha (AF/Cor), Lagoa Mandioré (AF/Cor), Morro Pacu (AF/Cor), distrito de Piraputanga (AH/Aqu), córrego Piraputanga (AF/Aqu), córrego Pirainha (AF/Aqu), córrego Piraputanga (AF/An), vila Piraputanga (AH/An), aldeia Piracuã (AH/BV), rio do Peixe (AF/Bon). Gráfico IV Distribuição percentual de designativos com nomes de peixe em relação aos nomes de outros animais na taxe dos zootopônimos 17% Nomes de peixes Nomes de outros animais 83% A pesquisa de Schneider (2002), que estudou recortes toponímicos da mesma região, tem para este trabalho valor corroborativo, uma vez que registrou como a taxe mais produtiva no Pantanal de Mato Grosso do Sul os zootopônimos, com 53 (cinqüenta e três) ocorrências, perfazendo um total de 17,32% na classificação geral das taxionomias. Em se tratando da recuperação de nomes de peixes para a nomeação de acidentes físicos, no

125 125 trabalho dessa pesquisadora foram registrados apenas 04 (quatro) topônimos: corixo Pacu (AF), córrego Piranha (AF), corixo Piranha (AF) e baía Piranha (AF) (SCHNEIDER, 2002, p. 91 e 97). Esses dados apontam para uma tendência na nomenclatura geográfica da região sulmato-grossense: menor incidências de nomes de peixes 111 na nomenclatura local. Isto fica mais evidente ao compararmos os dados deste estudo com os da pesquisa de Dargel (2003, p ), que identificou na região do Bolsão a seguinte distribuição percentual entre os zootopônimos: 95,48 % dos designativos recuperaram outros animais (190 ocorrências) e apenas 4,52 % recuperam nomes de peixes (09 ocorrências). Já o exame dos zootopônimos sob a perspectiva lingüística, que abrange o campo etnodialetológico, revela que o maior número de topônimos são oriundos da língua portuguesa com 51 % no total das ocorrências (31 registros) e da língua tupi, com 39 % do total das ocorrências (23 registros). Na seqüência foram localizados topônimos de base guarani, com 3 % (02 registros), de origem espanhola, com 3% (02 ocorrências), e de base africana, com 2 % (01 registro). O Gráfico V, a seguir, visualiza esses dados. Gráfico V Distribuição percentual dos estratos lingüísticos presentes na taxe dos zootopônimos 3% 2% 39% 53% Língua Portuguesa Língua Guarani Língua Tupi Língua Espanhola Língua Africana 3% O principio ecológico da distribuição dos animais em três classes, animais terrestres, animais aéreos e animais aquáticos, aparece nos relatos de Gabriel Soares (apud DICK, 1990, p. 259), que descrevem a fauna brasileira.

126 126 Entre os zootopônimos coletados nesta pesquisa registramos como oriundos da língua guarani os seguintes designativos: lagoa Mandioré 112 (AF/Cor) mandioré é um tipo de peixe; e aldeia indígena Piracuã (AH/BV) piracuã nomeia o ninho ou toca de peixes (ARNAUD SAMPAIO, 1986). A presença de topônimos de base guarani da porção Sudoeste do Estado parece estar relacionada à presença da etnia guarani nessa localidade e após a Guerra do Paraguai à presença de falantes da língua guarani que migraram do país vizinho e vieram trabalhar na extração da erva-mate no Brasil, como já foi assinalado anteriormente. Há que se registrar aqui que dos 53 (cinqüenta e três) zootopônimos registrados por Schneider (2002, p. 103), (dezessete) são de origem tupi. Essa pesquisadora não registrou zootopônimos de base guarani. Já Dargel (2003) identificou apenas um topônimo de base guarani na região do Bolsão: córrego Tereré 114 (AF). No que se refere à presença da língua tupi, temos os seguintes dados no corpus estudado: morro Pacu (AF/Cor) pacu, de Pag-ú que significa o que é vívido no comer ou tomar a isca (SAMPAIO, 1987, p. 292); corixo Piranha (AF/Cor), córrego Pirainha (AF/Aqu) piranha, de Pir-ã, que significa o que corta a pele (SAMPAIO, 1987 p, 302); córrego Seriema (AF/PM) seriema de çariama, com variação para çarí-ama, que significa a crista levantada (SAMPAIO, 1987, p. 313); córrego Tamanduá (AF/PM) tamanduá de ta-monduá, que significa o caçador de formigas (SAMPAIO, 1987, p. 320); ilha Sucuri (AF/PM), córrego Sucuri (AF/Jar), córrego Sucuri (AF/An) sucuri - de Çuucurí que significa aquela que morde rápido, atira o bote (SAMPAIO, 1987, p. 316); distrito Piraputanga (AF/Aqu), córrego Piraputanga (AF/Aqu) piraputanga - de pi ra pïtanga e significa peixe avermelhado (HOUAISS); córrego Quati (AF/Aqu), córrego Quati (AF/DIB) quati de qua-ti, nome de um animal e significa o que traz riscas pelo corpo (SAMPAIO, 1987, p. 308); córrego Arara (AF/Jar), córrego das Araras (AF/Nio) arara significa voz onomatopaica com que se designam os grandes papagaios (SAMPAIO, 1987, p. 199); córrego Jaguaretê (AF/BV) jaguaretê de yaguar-ê e significa a onça verdadeira (SAMPAIO, 1987, p. 266); distrito de Jabuti (AF/Bon) jabuti de ya-u-tí e significa aquele que não bebe, insensível à sede (SAMPAIO, 1987, p. 262); córrego Anhuma A origem e o significado da lexia mandioré foi retirada do site: (acessado em outubro de 2003) corixo Capivara, vazante Capivara e córrego Capivara; corixo Sabiá, corixo Jaguatirica, corixo Pacu, córrego Piranema, córrego Baguari, vazante Caetetu Magro e córrego Caetetu, corixo Anhuma, córrego Piranha, baía Piranha e corixo Piranha, córrego Jibóia, córrego Sucuri, córrego Mutum, morro da Paca, rio Naitaca, rio Caracanã, vazante Jacaré e ilha Patativa (SCHNEIDER, 2002, p. 103) Dargel (2003) registrou a lexia tereré como de origem tupi-guarani.

127 127 (AF/Bon) anhuma de a ñïma e nomeia uma ave da família anhmídeos; mutum de mïtu e nomeia uma ave (HOUAISS, 2001); córrego Ariranha (AF/Nio) ariranha de irarana e significa a falsa irara 115 (SAMPAIO, 1987, p. 201); rio Canindé (AF/Nio) canindé é a arara de cor azul e amarelo (SAMPAIO, p. 215). Já da língua espanhola temos: vazante do Periquito (AF/Cor) periquito ave da família dos psitacídeos; córrego Mosquiteiro (AF/BV) mosquiteiro que significa bando de mosquitos (CUNHA, 1986). Lagoa da Onça onça de origem francesa e nomeia um mamífero carnívoro da família dos felídeos (CUNHA, 1986). Córrego Anta (AF /PM) anta de origem árabe e nomeia um mamífero da família dos tapirídeos (CUNHA, 1986). Pinhé, segundo o lexicógrafo Antenor Nascentes (apud HOUAISS, 2001), é de origem onomatopaica e nomeia um tipo de gavião: o gavião-carrapateiro. Córrego Marimbondo (AF/An) marimbondo de origem na língua africana quimbundo e designa várias espécies de vespas (CUNHA, 1986). No que se refere aos topônimos formados com lexias de origem controversa, registramos: serra do Papagaio (AF/PM) papagaio que parece derivar do árabe babbagâ (CUNHA, 1986), já o lexicógrafo José Pedro Machado (apud HOUAISS, 2001) acha tal origem improvável e acredita numa origem provençal com influências do árabe ocidental, assim o vocábulo teria se formado a partir de uma onomatopéia da voz desse animal. Já Corominas (apud HOUAISS, 2001) aceita como a mais provável das hipóteses a origem árabe. Caracol nomeia um caramujo. A presença de zootopônimos de origem tupi catalogados nesta pesquisa - somada aos coletados nas pesquisas de Schneider (2002, p. 103) 17 ocorrências - e de Dargel (2003, p. 80-) 33,67 % - 67 ocorrências -, parece justificar-se pela importância que o tupi adquiriu na época das entradas de bandeiras 116 que percorreram o Brasil, adentrando nas regiões sul-mato-grossense e mato-grossense por volta de 1600, com o objetivo de encontrarem minas de metais preciosos e de aprisionarem índios catequizados pelos jesuítas espanhóis. Essas bandeiras marcaram presença até mais ou menos 1700, quando tiveram início as viagens dos monçoeiros paulistas (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 16 e 20). Em termos de origem, dos 199 zootopônimos coletados na região do Bolsão sulmato-grossense por Dargel (2003), 65,83 % são da língua portuguesa (131 ocorrências); 115 Sampaio informa que irara é a lontra, animal encontrado nos rios do sertão (1987, p. 201) Os portugueses dominaram e aculturaram grande parte do povo tupi da costa litorânea brasileira. Os tupis vieram do sul do continente em grandes movimentos migratórios e serviram de guias e aliados aos portugueses na marcha de penetração da terra (CÂMARA JR, 1976, p. 26).

128 128 33,67 % são de origem tupi (67 ocorrências). Já de base guarani, Dargel (2003) registrou apenas 0,50% (01 ocorrência) nessa taxe. Comparando-se a questão da presença de estratos lingüísticos na região do Bolsão (2003) com a porção Sudoeste, percebe-se que na última há uma maior incidência de topônimos de base indígena, 45% dos zootopônimos nesta, e 34,17% naquela. A maior presença de zootopônimos de base tupi e guarani pode, também, estar relacionada à colonização da porção Sudoeste, uma vez que a presença dos bandeirantes portugueses que falavam a língua geral e viajavam acompanhados do povo tupi foi mais forte na região por nós pesquisada, conforme ilustra o mapa Mato Grosso do sul: Caminhadas históricas (anexo, V). Já de base guarani, pode-se creditar em parte ao fato de que na região habitou o povo guarani, mas também pode ser herança dos paraguaios que vieram trabalhar na extração da erva-mate, após a Guerra do Paraguai, e falavam a língua guarani. Todavia, há que se registrar que o povo tupi é considerado uma das mais importantes famílias indígenas que a etnografia já registrou no contexto brasileiro, e a influência que se fizera sentir, de maneira considerável, na própria língua portuguesa, está ligada a fatores de ordem histórica, como foi evidenciado por Câmara Jr. (1976, p. 26), ao argumentar que os portugueses aculturaram os tupis para servir-lhes de guia e aliados. Assim, quando se busca fazer uma investigação antropo-lingüística para discutir aspectos referentes às raízes da terra e dessa etnia, esbarra-se no fator deslocamento, uma vez que os tupis também tinham como hábito migrar de uma localidade para outra (DICK, 1992, p. 39). Dentre os estudiosos desse grupo, citamos Arthur Ramos (1943, apud DICK, p. 39), que aponta como condição para a mobilidade geográfica dos tupis a mobilidade sóciocultural. A essa concepção de mobilidade, Dick (1992, p. 122) acrescenta que a difusão dos topônimos tupis em vários pontos do Brasil pode ser atribuída não só à maior mobilidade geográfica ou mesmo sóciocultural do grupo, como também à ação religiosa dos missionários e à participação das antigas bandeiras, que difundiram a língua dita então geral, dilatando conseqüentemente, a área ocupada por esses indígenas. Por conseqüência das mobilidades geográfica, sociocultural ou histórica, esse povo deixou uma gama variada de contribuição à língua portuguesa, preservando nos próprios vocábulos fossilizados, as características de uma realidade ambiental diversificada ou de múltiplos domínios de experiência. Desta forma, se por um lado muitos desses designativos perderam sua vitalidade no linguajar corrente, devido ao dinamismo da língua,

129 129 por outro, isto não ocorreu na Toponímia, que se vale deles como fonte contínua de motivação, mantendo, assim, vivas, as tradições culturais indígenas (DICK, 1992, p. 39). No tocante à presença da etimologia tupi na toponímia e na antroponímia, Theodoro Sampaio (1987, p. 179) salienta o caráter descritivo dos nomes oriundos desse idioma e sublinha que sempre exprimem as feições características do objeto denominado, como produtos que são de impressões nítidas, reais, vivas de um povo inculto no seu máximo convívio com a natureza. Exprimem também, muitas vezes, meros acontecimentos em uma dada circunstância que, de alguma forma, deixaram viva recordação no ânimo do selvagem. Por essas razões, destaca a necessidade de, ao se estudar o nome tupi vinculado a uma localidade, estudar-se e conhecer-se também características topográficas, produções mais abundantes, tanto atuais como anteriores, que decerto deram origem à denominação que investiga. Dick (1992, p. 41) também destaca que essa relação de nomes indígenas a fatores ambientais é uma das características mais notáveis na onomástica. Sapir (1969, p. 46), por sua vez, explica a influência do quadro ambiental 117 no léxico de uma língua ao observar que não são especificamente a fauna e os aspectos topográficos da região que uma língua reflete, mas o interesse da nação nesses traços ambientais. Assim, de acordo com o interesse do grupo, o traço ambiental que mais lhe interessa é perpetuado como signo lingüístico, marcando a língua com tipologias identificadoras ligadas às suas necessidades e, por isso, significativa para o grupo que nomeia o meio que o circunda. Retomando o caráter descritivo dos nomes indígenas evidenciado por Sampaio, Dick (1992, p. 41) discute essa questão valendo-se dos mecanismos de nomeação propostos por Stewart (1954) como argumento. Nessa perspectiva, justifica que ao lado dos descritivos totais existem outros que se reportam a fatos circunstanciais, temporários, incidentais ou momentâneos, que são fatores que rotulam o lugar devido a características externas, não penetrando em sua essência, mas que nem por isso são menos significativos. Tais constatações, porém, não invalidam a tese mais representativa de Sampaio: a de que a vinculação toponímica aos traços ambientais aparece, via de regra, na nomenclatura indígena, como uma constante (DICK, 1992, p. 41). Assim, ao analisarmos os zootopônimos da localidade pesquisada, observou-se a valorização da fauna local, uma vez que os nomes de animais utilizados para a nomeação Sapir (1969, p. 46) explica que em se tratando de língua um complexo de símbolos que reflete todo o quadro físico e social de um grupamento humano alocado em um espaço geográfico necessário se faz compreender no termo ambiente tanto os fatores físicos como os sociais.

130 130 dos acidentes físicos se reportam ao ecossistema da regional. A abundância e a diversidade de animais na região podem ser observadas já nos relatos de espanhóis e de portugueses, onde encontramos o registro da presença e da riqueza da fauna da localidade: Alvarez Cabeza de Vaca (1541), por exemplo, descreve que havia tanta caça veados, porcos do mato e antas que a pauladas matavam tudo o que queriam comer (COSTA, 1999, p. 106). Nos relatos do português Antonio Rolim de Moura (1751) encontramos as seguintes descrições dos animais 118 vistos durante sua viagem, ao adentrar na região pantaneira pelo Rio Taquari: uma das coisas raras que se encontram nesta terra são as árvores todas tomadas por pássaros que, a seu ver parecia roupa que estava a enxugar [...] porcoespinho, cachorro d água (certamente a ariranha), tamanduá, o peixe tesoura (piranha) e a arraia (COSTA, 1999, p. 197). Dentre os animais que nomeiam acidentes geográficos na região pantaneira temos o córrego Tamanduá (AF/PM), juntamente com os coletados por Schneider (2002), como vazante da Garça (AF), lagoa das Garças (AF), morro do Bugio (AF) que, além de fazerem parte do ecossistema pantaneiro, alguns estão ligados a crendices populares do homem que habita a localidade: se um tamanduá-bandeira cruzar em frente do cavalo do vaqueiro isto significa azar; o canto de bugio na mata anuncia mudança de tempo; a presença de garça e de tuiuiú nas partes altas dos campos significa grandes enchentes (NOGUEIRA, 2002, p ). Ao que parece, os animais têm sua importância não só como fonte de alimentação, mas também como fator de sobrevivência em um local marcado por secas prolongadas e grandes enchentes que se alternam e nem sempre com a regularidade esperada (NOGUEIRA, 2002, p. 31). Schneider (2002, p ), baseando-se no conceito de Dick (1992, p. 44) de que um determinado tipo de atividade econômica ligada a um momento histórico específico pode refletir-se no topônimo, o que possibilita estabelecer uma relação entre o nome do lugar e a condição social que o determinou, analisou a relação entre topônimos do Pantanal e a possível condição sociológica que o determinou, exemplifica com topônimos que remetem às principais atividades econômicas da localidade o turismo, pois a maioria dos nomes de animais recuperados nos toponímia investigada, além de fazer parte da fauna O espanhol Cabeza de Vaca (1541) também se refere à presença desses animais na região pantaneira, o que pode ser confirmado na seguinte passagem de um de seus relatos: há muita diversidade estranha de peixes. Todos os dias que não fazia tempo para navegar à vela, os índios e espanhóis matavam tantos no rio, coisa que não se pode crer; e como as canoas são ligeiras e andam muito ao remo, tinham tempo de ficar nelas caçando daqueles porcos d água e ariranhas (apud COSTA, 1999, p. 98).

131 131 local, configura-se como atração turística do Pantanal sul-mato-grossense, dentre outros, ilustram essa situação córrego Anhuma (AF), corixo Capivara (AF), corixo dos Porcos (AF), vazante da Garça (AF), córrego Sucuri (AF), córrego Piranha (AF), ilha do Jacaré (AF); e à pecuária, como corixo dos Touros (AF) e corixo dos Cavalos (AF). Cabe registrar ainda a relevância do cavalo para o vaqueiro da região, pois além de ser o seu meio de locomoção no campo, o orgulha e lhe oferece segurança. Isto transparece no próprio depoimento de um vaqueiro do Pantanal: sistema lá pra nóis, a melhor condução é um cavalo bem gordo, bem arreado, bastante argola, pelego bom, bota, uma botona bem arta, uma guaiaca na cintura, um chapéu, daí tá nos úrtimo tipo, sai pra passiá (NOGUEIRA, 2002, p. 125). Em nossa pesquisa e no estudo de Schneider (2002), verificou-se a recorrência aos designativos da fauna local para a nomeação da maioria dos topônimos coletados e classificados na categoria zootopônimos, se comparados à presença de nomes de animais que fazem parte da principal atividade econômica da região, a pecuária. Acreditamos que isso se justifique em decorrência da própria riqueza e diversidade da fauna pantaneira que acabou por influenciar a nomeação dos acidentes geográficos que se enquadram nessa taxe. Nesta pesquisa os animais da flora local que foram recuperados nos topônimos foram os seguintes: o veado 03 (três) ocorrências, a arara 03 (três) ocorrências, a sucuri 03 (três) ocorrências, a onça - 03 (três) ocorrências, o papagaio e o periquito 02 (duas) ocorrências, o caracol 03 (três) ocorrências, e os peixes: piranha 02 (duas) ocorrências e piraputanga 03 (três) ocorrências. Dargel (2003, p ) registrou tendência semelhante, uma vez que os nomes de animais mais recorrentes na toponímia do espaço geográfico do Bolsão foram também os da fauna regional. Entre outros citamos como exemplos: a sucuri que é recuperada em 11 (onze) topônimos, a onça em 11 (onze), a arara em 05 (cinco), o cervo e o veado em 05 (cinco), o papagaio em 04 (quatro). Vale destacar também os topônimos, registrados nesta pesquisa, que recuperam nomes de animais relacionados à principal atividade econômica da localidade pesquisada, a pecuária: morro do Malhadão (AF/Cor) córrego do Boi (AF/Car) 02 ocorrências - e córrego do Burro (AF/Nio). Apesar de se apresentarem em número menor em relação aos designativos que recuperam a fauna regional, refletem a atividade econômica da região e isso pode ser percebido se tomarmos como exemplo não só os topônimos que se referem a animais da pecuária, mas também outros que recuperam essa atividade. Desse modo, percebemos também nesse recorte toponímico, aspectos da condição sociológica que pode

132 132 ter motivado algumas nomeações. Ilustram isso os seguintes topônimos relacionados à mesma camada significativa, ou à geografia do gado, no dizer de Eugênio de Castro (1941 apud Dick, 1990, p. 274), morro do Malhadão (AF/Cor), córrego do Curtume (AF/DIB), cabeceira Potreirinho (AF/DIB), córrego Cangalha 119 (AF/An), córrego do Burro (AF/Nio), córrego do Boi (AF/BV), córrego da Porteira (AF/Nio), córrego do Boi (AF/Car). Verificou-se então que a toponímia local documenta uma das principais atividades econômicas do estado de Mato Grosso do Sul, em torno da qual gira uma estrutura social por ela construída e que ainda a sustenta. Neste particular merece destaque nesta pesquisa o zootopônimo morro do Malhadão (AF/Cor), formado a partir de malhadão, nome de matriz portuguesa: malha + dão. Dentre as acepções registradas por Houaiss (2001) para essa lexia, a mais condizente com o contexto aqui pesquisado seria sinal natural, de coloração diferente na pele ou no pêlo dos animais, mancha. Era comum na região pantaneira o boi malhado, conhecido como boi de carro, espécie hoje extinta na localidade (NOGUEIRA, 2002, p. 56). Notamos que quando a condição sociológica motiva a nomeação de um acidente geográfico também permite que designativos comuns da língua passem à categoria de nomes próprios, neste caso os topônimos córrego do Curtume (AF/DIB), cabeceira Potreirinho (AF/DIB), córrego Cangalha (AF/An), córrego do Burro (AF/Nio), córrego do Boi (AF/BV), córrego da Porteira (AF/Nio), córrego do Boi (AF/Car), exemplificam tal aspecto. No estudo sobre a toponímia do Bolsão a autora também registrou que alguns topônimos estão relacionados à pecuária, também, um dos principais meios de subsistência daquela localidade. Dentre outros, ilustram essa tendência: córrego da Invernada (AF), ribeirão Cangalha (AF), rio dos Bois (AF), córrego do Campeiro (AF), córrego do Boiadeiro (AF), córrego do Cavalo (AF), povoado Vaca Parida (AH), córrego Potreiro (DARGEL, 2003, p. 162). Tais constatações demonstram certa homogeneidade nas características naturais da flora regional e no tipo de atividade econômica, principalmente no que diz respeito às regiões sul-mato-grossenses que já foram objetos de estudos toponímicos. Em síntese, os topônimos de índole animal aqui analisados estão ligados ao ecossistema regional, às atividades básicas da economia local, a algumas crendices e também à sobrevivência do homem alocado num lugar sem os recursos tecnológicos de Cangalha, lexia derivada de canga, com etimologia provavelmente do céltico e significa peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro ou arado (CUNHA, 1986).

133 133 previsão de fenômenos naturais como chuvas prolongadas e secas freqüentes, principalmente na região pantaneira, razão pela qual se pode supor que o homem que viveu/vive nesse espaço geográfico aprendeu a ler, no comportamento de certos animais, a própria natureza. Isto parece justificar o fato de tantos animais terem inspirado a nomeação geográfica. Assim, a toponímia local, além de registrar fatos da vida do homem, também perpetua espécies animais, mesmo aquelas que já desapareceram do convívio do grupo, como é o caso do boi malhado. Passemos à analise dos hidrotopônimos 120, a terceira taxe mais produtiva na região aqui pesquisada Hidrotopônimos Os hidrotopônimos se constituíram na terceira taxe mais produtiva na região investigada, totalizando 12,79 % das ocorrências 54 (cinqüenta e quatro). Foram classificados como hidrotopônimos os designativos que contêm no sintagma nominativo o elemento água ou a referência a ele. O Quadro VIII visualiza os hidrotopônimos que foram analisados nesta pesquisa, com destaque também para a estrutura morfológica evidenciada nessa categoria de nomes. Quadro VIII Total geral dos hidrotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Topônimo TA/acidente Estrutura Morfológica do topônimo Baixo Pantanal (MR 01) Água Limpa AF/Corixo Composto do Rio Negrinho AF/Lagoa Composto Gaíba 121 AF/lagoa Simples Riozinho 1 AF/vazante Composto Riozinho 2 AF/vazante Composto Riozinho 3 AF/vazante Composto Corixinha AF/vazante Simples Claro Simples Cachoeira AF/colônia Simples Sanga Funda Composto Brejão Simples Os hidrotopônimos totalizaram 8,5% das ocorrências nas sub-regiões do Pantanal, investigadas por Schneider (2002) De acordo com Costa (1999, p. 225) a lexia gaiba tem origem na língua guarani e significa água feia.

134 134 Baía Branca Composto Água Limpa AF/Serra Composto da Cachoeira AF/Serra Simples Aquidauana (MR 02) Água Limpa Composto Córrego Seco AH/aldeia Composto Vazantinha AF/vazante Simples do Brejão AF/vazante Simples Baía do Miranda AF/Lagoa Composto Água Azul AH/aldeia Composto Corrente Simples Cachoeirão Composto Ribeirão Vermelho Composto Cachoeirinha AF/lagoa Composto Água Azul Simples Cachoeirão Simples Pulador AH/colônia Simples Cachoeirinha AH/aldeia Simples Cachoeirinha Composto Baía do Miranda AF/Lagoa Composto Bodoquena (MR 09) Água Azul Composto Salobra Simples Água Azul 2 Simples Gateado 122 Simples Cabeceira Simples Sujo Simples do Rio Apa AF/cabeceira Composto Cabeceira do Engenho Composto Cachoeirinha Simples Baía Composto Rio Formoso Composto Roncador Simples Salobra AF/rio Simples Cabeceira Simples Cachoeirinha Simples Água Amarela Composto Salobrinha Simples Seco Simples Salobra AF/rio Simples do Rio Salobrinha AF/cabeceira Composto do Salto Simples Água Turva Composto Sanga Bonita Composto Sujo Simples Considerou-se córrego Gateado (AF/BV) como hidrotopônimo pelo fato de uma da lexia gateado incorporar como um de seus significados cor do olho amarelo-esverdeado, como o do gato (HOUAISS, 2001), desse modo, acreditamos que gateado pode estar se referindo a um aspecto da água do córrego.

135 135 No que se refere ao aspecto lingüístico etnodialetológico, nesta taxe predominou a influência da língua portuguesa com 88,68 % das ocorrências nos hidrotopônimos 47 (quarenta e sete), seguida da presença de designativos de base espanhola 123, com 7,55 % 4 (quatro) córrego Salobra (AF/BV), rio Salobra (AF/Bon), córrego Salobrinha (AF/GLL), rio Salobra (AF/GLL); e de base africana, com 3,77 % 02 (dois): córrego Sanga Funda (AF/PM) e córrego Sanga Bonita(AF/Nio). Não foram registrados nessa categoria topônimos de base indígena. Do ponto de vista morfológico, os hidrotopônimos evidenciam a presença das duas estruturas: simples, genérico + específico, entre outros, citamos como exemplo, vazante Corixinha (AF/Cor), córrego Brejão (AF/PM), serra da Cachoeira (AF/PM) e colônia Cachoeira (AH/PM), e composta, elemento genérico + substantivo + adjetivo, como por exemplo: serra Água Limpa (AF/PM) e corixo Água Limpa (AF/Cor), córrego Baía Branca (AF/PM), córrego Sanga Funda (AF/PM), lagoa do Rio Negrinho (AF/Cor), vazante Riozinho 1 (AF/Cor), vazante Riozinho 2 (AF/Cor), vazante Riozinho 3 (AF/Cor). O Gráfico VI, a seguir, visualiza a distribuição da estrutura dos hidrotopônimos no corpus. Gráfico VI - Quantificação percentual da estrutura morfológica dos hidrotopônimos 49% Simples 51% Composta Os topônimos aqui encontrados emprestam à geografia o termo para denominar os acidentes em estudo: sanga, baía, rio, corixo, brejo, cachoeira, vazante, lagoa, lago, Os topônimos com origem em línguas que não sejam a portuguesa serão analisados no item Estratos lingüísticos presentes na toponímia da porção Sudoeste de Mato Grosso do Sul: algumas considerações, deste Capítulo.

136 136 cabeceira. Nestas condições o elemento genérico transforma-se em elemento específico, o topônimo por excelência. Esse recurso de buscar a denominação na própria geografia justifica o aparecimento de vocábulos toponímicos básicos, que refletem um determinado estrato do ambiente, como observa Dick (1992, p. 64): [...] o aproveitamento, pela Toponímia, dessa terminologia específica e convencional, seja hidrográfica ou de origem orográfica, traduz, de perto muitas vezes, a realidade conhecida e experimentada pelo homem. E o traço ambiental que mais o impressionou, despertando-lhe a sensibilidade, e tornando-se um fator nominativo, justifica o aparecimento dos chamados vocábulos toponímicos básicos. Sinteticamente, podem ser considerados como o elemento genérico, definidor de um determinado estrato do ambiente, o qual, na medida em que o homem o transforma em uma das peças nucleares de suas condições de existência, ganhará um interesse e uma utilidade que passam a ser, então, consideradas por ele significativamente (grifo nosso). Os nomes formados por meio da recuperação de nomes de acidentes podem ter sido motivados pelo próprio ambiente físico, já que são característicos do lugar as vazantes, os corixos, as baías, as sangas e os brejos 124, marcas deixadas pelas enchentes quando as águas vão baixando na época das secas. O aproveitamento de nomes de acidentes fluviais que fazem parte de um curso d água na toponímia é denominado por Dick (1990, p. 245) como toponimização de nomes genéricos de acidentes. A pesquisa, sobre os topônimos dos acidentes físicos do Pantanal, realizada por Schneider (2002, p. 126), também resgatou a tendência de toponimização de nomes genéricos na região do Pantanal. Dentre outros, pode-se citar vazante Riozinho (AF), ilha do Rio Negro (AF), vazante Baía Negra (AF), vazante Baía Branca (AF), vazante do Corixão (AF), vazante do Corixinho (AF), vazante do Brejão (AF). Também no estudo de Dargel (2003), dos 188 (cento e oitenta e oito) hidrotopônimos coletados, 110 (cento e dez) recuperaram acidentes hidronímicos, dentre outros: córrego Cabeceira Alta (AF), córrego Cachoeira Alta (AF), córrego Lagoinha (AF) Em síntese, 58,51% dos hidrotopônimos do Bolsão foram originados de nomes genéricos de acidentes (DARGEL, 2003), o que demonstra certa semelhança na nomeação das correntes hídricas das duas regiões A presença de grande quantidade de acidentes físicos como baías, lagoas e corixos no Pantanal é registrada na obra Características de Mato Grosso do Sul (RAVAGNANI & RASLAN, s.d, p. 16) da seguinte forma: É uma gigantesca planície, como o fundo de um enorme prato, cheio de reentrâncias, que levam os nomes de baías, lagoas e corixos.

137 137 Nesta pesquisa, os hidrotopônimos com estrutura morfológica simples, chamounos a atenção os seguintes: córrego Corrente (AF/DIB), córrego Salobra (AF/BV), córrego Roncador (AF/Bon), rio Salobra (AF/GLL), córrego Salobrinha (AF/GLL), córrego do Salto (AF/Nio). Os nomes córrego Corrente (AF/DIB), córrego Roncador (AF/Bon) e córrego do Salto (AF/Nio) parecem estar relacionados aos aspectos do movimento das águas próprio desses acidentes. Pertencem, pois, ao mesmo campo de significação, já que corrente se refere ao movimento das águas de um rio, roncador ao que tudo indica remete ao barulho do movimento das águas de rios subterrâneos, e salto pode ser resultado de quedas d água. Recuperam, pois, características de acidentes hidronímicos presentes na região em estudo, o que pode ser confirmado por estudos acerca da hidrografia da Região Centro-Oeste (IBGE, 1977, p. 90): Na região Centro Oeste, como decorrência das condições do quadro morfológico, a sua hidrografia vê-se representada, na maior parte, por rios de planalto que se caracterizam por apresentar, ao longo de seus cursos, certo número de quedas d água, algumas majestosas, e inúmeros acidentes de menor vulto, tais como corredeiras. Schneider (2002, p. 90) também observou que aspectos relacionados ao movimento das águas de correntes hídricas podem estar presentes no nome geográfico: córrego do Salto (AF), córrego Pulador (AF), córrego Louco (AF). Os resultados dessa pesquisa reforçam a hipótese de que a possível motivação para a nomeação dos hidrotopônimos córrego Corrente (AF) e córrego do Salto (AF), coletados em nosso recorte regional, seja o aspecto da água, no que se refere ao seu movimento. Na região do Bolsão Dargel (2003) também registrou a presença de hidrotopônimos que evidenciam o aspecto mencionado. Entre outros exemplificam essa tendência: córrego do Salto (AF), córrego Salto (AF), córrego Saltador (AF), córrego Pulador (AF), córrego Saltinho (AF). Depreendemos disso que parece haver certa semelhança na escolha das designações nas regiões já estudadas, que recuperam o movimento das águas de alguns acidentes, se considerarmos que apenas o topônimo córrego Louco não se repete na região do Bolsão sul-mato-grossense. Já a recorrência a salto foi mais intensificada nessa mesma região, fato explicado pelas próprias características hidrográficas da região, onde saltos, cachoeiras são muito abundantes. Já a recorrência ao nome genérico do acidente cachoeira também foi significativa no recorte regional ora examinado, registrando-se 08 (oito) ocorrências: colônia Cachoeira (AF/PM), serra da Cachoeira (AF/PM), córrego Cachoeirão (AF/DIB), córrego

138 138 Cachoeirinha (AF/An), aldeia Cachoeirinha (AF/An), lagoa Cachoeirinha (AF/An), córrego Cachoeirinha (AF/BV) e córrego Cachoeirinha (AF/GLL). Fato que também se aplica à região do Bolsão onde foram registradas 14 (quatorze) ocorrências (DARGEL, 2003). Esses dados confirmam uma tendência na nomenclatura brasileira, uma vez que os registros de Dick (1990, p. 246) já assinalaram um grande número de hidrotopônimos que recuperam o acidente físico cachoeira em vários pontos do país. Ivan Lind (1957), em sua obra Varadouro, considera que o maior empecilho para um viajante fluvial, diante do qual a única coisa a fazer é descer a terra e puxar o barco a braços é um salto, tombo ou queda (apud DICK, 1990, p. 248). Podemos depreender do ponto de vista desse estudioso que a recuperação de nomes de acidentes como cachoeira e salto para designar um acidente pode representar uma forma de marcar os lugares que mais traziam/trazem dificuldades para os navegadores, evidenciando a estreita relação entre ambiente físico e a nomenclatura geográfica. A presença de roncador na toponímia local parece também se referir a um aspecto da água, decorrente da característica de alguns rios da Região Centro-Oeste, e bastante recorrente na hidrografia da região em estudo: os rios que somem. Assim, ronco seria o barulho da água do rio que corre por baixo da terra. Essa característica hidronímica é bastante comum na microrregião da Bodoquena 125 (MR 09), onde se verifica a existência de sumidouros e ressurgências (IBGE, 1977, p. 92), o que pode explicar a presença do córrego Roncador nessa microrregião. No Bolsão Dargel (2003) também registrou um topônimo com a lexia roncador: córrego Roncador (AF). Também os hidrotopônimos córrego Salobra (AF/GLL), rio Salobra, (AF/GLL) córrego Salobrinha (AF/GLL) recuperam um aspecto da água muito comum na região em estudo. Na sua obra Memórias 126, Taunay (1946, p. 193) descreve as dificuldades encontradas pela tropa brasileira na Guerra do Paraguai e faz referência à presença de água salobra nas regiões Sul e Sudoeste de Mato Grosso do Sul: só se podiam então queixar da falta de sal, esta mesma, até certo ponto, minorada pela exploração imperfeitíssima, dos barreiros ou terrenos salitrosos, tão abundantes de matéria salina e numerosos nesse Sul de Mato Grosso As formações rochosas da serra da Bodoquena encontram-se atualmente em processo de dissolução e pelas fraturas rochosas as águas de rios vão se infiltrando e formando cavernas, abismos e condutos subterrâneos. Nos lugares em que a água se infiltra são denominados sumidouros e onde aparecem são denominados ressurgências (SOUZA, 1999, p. 16). 126 A obra Memórias de Taunay foi publicada somente em 1946 e reúne textos que relatam aspectos da vida do escritor e de sua participação na Guerra do Paraguai, contemplando os anos de 1843 a 1870.

139 139 Os hidrotopônimos rio Salobra (AF) e baía Salina (AF), registrados por Schneider (2002), juntamente com os registrados nesta pesquisa, apontam para a possibilidade de interpretação do motivo do surgimento desses nomes: os hidrotopônimos terem sido motivados pela presença da água salobra na localidade. Interessante que na região do Bolsão, Dargel (2003) não registrou topônimos que recuperassem a lexia salobra. Já nos topônimos compostos, objeto de estudo desta pesquisa serra Água Limpa (AF/PM), corixo Água Limpa (AF/Aqu), lagoa do Rio Negrinho (AF/Cor), córrego Sanga Funda (AF/PM), córrego Baía Branca (AF/PM), córrego Ribeirão Vermelho (AF/DIB), córrego Água Amarela (AF/GLL), córrego Água Turva (AF/Nio), vazante Riozinho 1 (AF/Cor), vazante Riozinho 2 (AF/Cor), vazante Riozinho 3 (AF/Cor), lagoa Baía do Miranda (AF/Na), córrego Cabeceira do Engenho (AF/BV), cabeceira do Rio Salobrinha (AF/GLL), o termo que aparece como terceiro elemento do sintagma nominativo, pode estar definindo os acidentes por meio de referência ao estado dos elementos: corixo Água Limpa (AF/Aqui); aos índices cromáticos: lagoa do Rio Negrinho (AF/Cor) córrego Baía Branca (AF/PM), córrego Ribeirão Vermelho (AF/DIB), córrego Água Amarela (AF/GLL), córrego Água Turva (AF/Nio); à dimensão: córrego Sanga Funda (AF/PM) e à quantidade de um mesmo tipo de acidente próximo um do outro: vazante Riozinho 1 (AF/Cor), vazante Riozinho 2 (AF/Cor), vazante Riozinho 3 (AF/Cor); ou ainda, a possível relação entre dois acidentes, neste caso, seria a referência às nascente nas quais o acidente nomeado tem sua origem como lagoa Baía do Miranda (AF/Na), córrego Cabeceira do Engenho (AF/BV), cabeceira do Rio Salobrinha (AF/GLL). Pôde-se observar, também, no estudo de Schneider (2002, p. 126) a tendência ao uso de topônimos compostos com o terceiro elemento, referindo-se ao estado dos elementos: corixo Água Limpa (AF), córrego Água Fria (AF), córrego Água Doce (AF); aos índices cromáticos: ilha do Rio Negro (AF), vazante Baía Negra (AF). Confirmamos, então, a presença de duas tipologias de construção toponímica nos dados analisados: simples elemento genérico + substantivo singular; e composto elemento genérico + substantivo + adjetivo. Nessas tipologias salientamos que o substantivo do sintagma nominativo reporta-se a um nome genérico de acidente geográfico. Sobre essa construção toponomástica Dick (1995, p. 61) esclarece o seguinte: o uso de substantivos é a forma mais adequada para vivenciar a concretude dos objetos e retratá-los segundo uma perspectiva lógica; o vocabulário é de origem geográfica e os acidentes, no processo

140 140 denominativo, vão se sucedendo na relação direta de seu conhecimento que, na maioria das vezes, é permeado pela objetividade dos sentidos: o rio, o lago, o morro, a colina são recortes lingüísticos da paisagem, apreendidos pelo denominador, que os identifica pelo próprio chamamento na língua falada. Essas palavras lexicais acabam se posicionando, depois, como nomes ou nomes referenciais de uma determinada categoria, denotativos em sua natureza, e advindos do uso fáctico da língua. Acrescentamos, ainda, que na tipologia elemento genérico + substantivo singular + adjetivo o uso do adjetivo pode referir-se a uma característica imediata do acidente, evidenciando uma marca de correntes hídricas por meio de seus constituintes, como cor, forma, grandeza, etc. Conforme Dick (1992, p ), a tipologia de uso de vocábulos básicos e sua relação geográfica é a de maior freqüência nominativa, deixando transparecer o aspecto descritivo como traço pertinente à categoria, que geralmente reflete um aspecto duradouro do acidente, o que ocorre muito mais quando o topônimo é água: água azul, água comprida, água limpa. A respeito do aproveitamento da forma lingüística correspondente a rio, lago, córrego ou água acompanhado ou não de um elemento relacionado a um atributo adjetivo de cor volume, natureza da corrente hídrica é comum a diversas línguas, característica consideradas como arquétipos toponímicos, o que reflete de certa maneira um interesse comum do homem por alguns traços da geografia física, já que espontânea por nascer no seio da população sem uma autoria identificável à primeira vista, como observou Dick (1990, p. 49). Dauzat (apud DICK, 1990, p. 49) chama atenção para esse tipo de designação espontânea e explica que muitas vezes há um motivo dominante ao se designar o lugar, o que muitas vezes está relacionado a uma das particularidades geográficas mais marcantes. Outro dado relevante acerca da significativa presença de hidrotopônimos na nomenclatura geográfica da região pesquisada diz respeito à importância de que se revestiram e se revestem os cursos d água nesse espaço geográfico, pois no passado serviram não só como fonte de alimentação, como também possibilitaram o povoamento e o desenvolvimento econômico da região. Isso pode ser observado, por exemplo, na explicação para o surgimento dos três primeiros núcleos populacionais da microrregiões em estudo, fundados às margens do rio Paraguai: Corumbá, o distrito de Albuquerque e Porto Murtinho (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 21). Cabe aqui resgatar o ponto de vista de Dick (1990, p. 196) a respeito da importância dos cursos d água na vida de uma população. Segundo essa estudiosa, desde os tempos

141 141 mais remotos da história da humanidade a água sempre serviu como fator de equilíbrio em um determinado espaço, fato este justificado pelo nascimento de grandes civilizações junto a oceanos, a rios e a zonas ribeirinhas. Outro aspecto evidenciado por Dick é o fato de as águas possibilitarem a locomoção, muitas vezes, como único meio, fato que se aplica à localidade em estudo, uma vez que, até metade do século XVIII, a locomoção dentro da região era basicamente pelas águas. Assim, no que se refere ao estado de Mato Grosso do Sul, podemos estabelecer uma estreita vinculação entre a atividade humana e a hidrografia, basta relembrarmos os primórdios de seu povoamento e a extração do ouro no decorrer do século XVIII, nas minas de Cuiabá, um dos fatores que concorreu para a sua anexação ao território brasileiro, quando as viagens eram realizadas, em grande parte, pelos rios, o que pode ser visualizado na rota das viagens dos monçoeiros no mapa Mato Grosso do sul: caminhadas históricas, disponibilizado na seção de anexo deste trabalho, que demonstra a rota das viagens dos bandeirantes entre os anos de 1600 a 1700 e dos monçoeiros entre os anos de 1700 e Não é demais lembrar que as águas do rio Paraguai foram também de grande importância para o desenvolvimento econômico do Estado, pois puseram a região em contato com outros países: navios saíam duas vezes por mês de Corumbá, rumavam para Cuiabá, a então capital de Mato Grosso, depois iam para Buenos Aires e finalmente chegavam a Montevidéu (NOGUEIRA, 2002, p. 58). Por ora, destacamos que o grande número de topônimos que recuperaram designativos de correntes hídricas da própria localidade pode ter sido motivado pelo interesse que os caminhos fluviais despertaram no denominador, uma vez que serviram não apenas como meio para desbravar e conhecer uma região desconhecida, mas também como fonte de sobrevivência, devido à riqueza de alimentos fornecidos pelos rios da região estudada. Justificam tal ponto de vista o grande número de municípios localizados às margens dos rios, como Aquidauana, Anastácio, Miranda, Porto Murtinho, Guia Lopes da Laguna, Bela Vista. A seguir passamos a analisar os hagiotopônimos.

142 Hagiotopônimos A taxe hierotopônimo se divide em hagiotopônimos, topônimos que recuperam os nomes de santos e santas do hagiológio romano, e mitotopônimos, designativos que recuperam os nomes de origem mitológica. Reserva-se à categoria dos hierotopônimos também a classificação de nomes que recuperam nomes sagrados de diferentes crenças, que se referem às efemeridades religiosas, às associações religiosas ou locais de culto. Considerando as subdivisões da taxe registramos: hagiotopônimos com 6,63 % do total das ocorrências - 28 (vinte e oito); e hierotopônimos com 0,94 % das ocorrências - 04 (quatro). O quadro a seguir visualiza os hierotopônimos e os hagiotopônimos coletados nesta pesquisa. Para registrar a etimologia dos nomes dos Santos, neste estudo, utilizamos como fonte principal o Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes (GUÉRIOS, 1981). Quadro IX Total geral dos hierotopônimos e dos hagiotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09). Topônimo Corumbá (MR 01) Santa Rita São Manuel São Lourenço Santa Maria São João São Miguel São Francisco Aquidauana (MR 02) Santa Fé São João São Firmino São José São Manuel de Santa Bárbara Bodoquena (MR 09) Santa Fé Santa Vitória Nossa Senhora de Fátima São Luiz Santa Anselma Santa Tereza Santo Antônio TA/acidente AF/corixão AF/lagoa AH/colônia AH/aldeia AF/serra AF/serra AF/serra AF/distrito

143 143 Santo Antonio São Francisco Santa Cruz Santa Clara São Lourenço Rosário São João 1 São João 2 São Miguel São Vicente Santa Maria AF/rio AF/rio AF/rio De acordo com Dick (1990, p. 311), a toponímia religiosa reflete a mentalidade coletiva de uma época e liga-se a todo um processo subjetivo de reflexão, muito mais próximo, portanto, do inatingível, que das manifestações reais do mundo sensível, a cercar o ambiente natural onde o indivíduo se movimenta. Esse ponto de vista aplica-se à presença da toponímia religiosa no corpus aqui estudado, se considerarmos que a região em estudo começou a ser explorada, já no século XVI, por dois povos de tradição cristã: os portugueses e os espanhóis. Fatos registrados acerca da história da colonização do Brasil demonstram o espírito religioso e o ideal de disseminação do cristianismo que invadiu o País e permaneceu por séculos. Basta citarmos a chegada dos jesuítas ao Brasil, em 1549 e, conseqüentemente, o início da criação de reduções, para aldear e catequizar os índios (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 15). A mentalidade religiosa da época, faz-se presente nas atas de registros da fundação de povoados, vilas, fortes que sempre eram iniciadas com a referência a Jesus Cristo. Exemplo disso é o início da ata da fundação do Forte de Coimbra na região de Corumbá: Ano do nascimento de Nosso senhor Jesus Cristo de 1775 (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 15). A presença de nomes de origem cristã na nomenclatura brasileira parece ser uma tendência que remonta aos primórdios da colonização do País, já que, segundo Dick (1990, p. 317), o Brasil nasceu sob o signo da Cruz e da Fé. Portanto, é nesses elementos que se devem buscar as raízes da toponímia religiosa brasileira. Todavia, Dick (1992, p. 109) faz uma ressalva acerca da toponomástica de procedência religiosa, argumentando que muitas vezes se utilizam os elementos lingüísticos São ou Santo para homenagear uma pessoa que fez parte da história da região, aspecto bastante comum na toponímia de origem religiosa brasileira. Isso acaba criando

144 144 dificuldades para a classificação terminológica, ou tipológica, pois empresta ao topônimo uma aparência religioso-devocional e que nem sempre corresponde à realidade fáctica. Considerando que tal aspecto pode se aplicar à nomenclatura de origem religiosa, levantada nesta pesquisa, passaremos então a utilizar a proposta de subdivisão dos hagiotopônimos em autênticos e aparentes, proposta por Lima (1997, apud SCHNEIDER, 2002, p. 26). Assim, com o objetivo de buscar dados sobre o hagiológio católico com vistas a embasar a classificação dos hagiotopônimos como aparentes ou autênticos, consultamos os livros Orações e santos populares (ESCOPEL, 2003) e Um santo para cada dia (SGARBOSSA; GIOVANNINI, 1996). A análise dos hagiotopônimos seguiu a ordem de maior para menor recorrência do nome do santo ou da santa registrados no corpus deste trabalho. Também buscamos pontuar o registro dos hagiotopônimos com tendências assinaladas por Dick (1990, p ) na recuperação de nomes de santos na toponomástica brasileira, bem como buscar uma relação com os resultados obtidos por Schneider (2002) e por Dargel (2003). Dentre os nomes de santos mais recuperados na toponímia da região em estudo situam-se São João, com 04 (quatro) ocorrências: aldeia São João (AH/PM), córrego São João (AF/Aqu), córrego São João 1 (AF/Nio) e córrego São João 2 (AF/Nio); São Francisco, com 02 (duas) ocorrências: serra São Francisco (AF/PM) e rio São Francisco (AF/GLL); Santo Antônio, com 02 (duas) ocorrências: córrego Santo Antônio (AF/GLL) e rio Santo Antônio (GLL); São Lourenço, com 02 (duas) ocorrências: colônia São Lourenço (AH/Cor) e córrego São Lourenço (AF/Jar); São Miguel, com 02 (duas) ocorrências: serra São Miguel (AF/PM) e córrego São Miguel (AF/Nio); e São Manuel, com 02 (duas) ocorrências: lagoa São Manuel (AF/Cor) e córrego São Manuel (AF/An); Santa Maria, com 02 (duas) ocorrências: córrego Santa Maria (AF/PM) e córrego Santa Maria (AF/Car); e com apenas uma ocorrência: São Firmino: córrego São firmino (AF/An); São Luiz: córrego São Luiz (AF/BV); São Vicente: córrego São Vicente (AF/Car); Santa Vitória: córrego Santa Vitória (AF/BV); Santa Clara: rio Santa Clara (AF/Jar); Santa Rita: Córrego Santa Rita (AF/Cor); serra de Santa Bárbara (AF/Aqu); córrego Santa Anselma (AF/BV); distrito de Nossa Senhora de Fátima (AH/BV); córrego Santa Tereza (AF/Bon). Estes topônimos, menos os que recuperam São Manuel e Santa Anselma, foram por nós classificados como hagiotopônimos autênticos por pertencerem ao hagiológio romano. Já córrego Santa Fé (AF/BV) e córrego Santa Fé (AF/Aqu); córrego Santa Cruz (AF/Jar) e córrego Rosário (AF/Jar) foram aqui classificados como hierotopônimos, pelas razões já expostas.

145 145 Dentre os topônimos que recuperam nomes de santos há que se destacar que, com exceção de São Manuel, de Santa Anselma, de Santa Bárbara e de Santa Tereza, todos aparecem em grande quantidade em pontos diferentes da toponímia brasileira (DICK, 1990, p ). Já São Manuel 127, recuperado nos topônimos lagoa São Manuel (AF/Cor) e córrego São Manuel (AF/An), pode representar uma homenagem a um dos governadores da província de Mato Grosso ( ), Manuel Carlos de Abreu Meneses que faleceu vitimado de febres malignas (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 34), razão por que esses topônimos foram classificados como hagiotopônimos aparentes. Quanto à Santa Anselma, recuperada no topônimo córrego Santa Anselma (AF/BV), parece ser uma variação de Santo Anselmo 128 que figura entre os nomes de acidentes geográficos com registros únicos, rio Santo Anselmo (AF/PR) (DICK, 1990, p. 337). Como não encontramos registro de Santa Anselma, na bibliografia consultada sobre santos, optamos por classificar esse acidente como hagiotopônimo aparente. Após essas ressalvas a respeito dos topônimos que recuperam São Manuel e Santa Anselma e antes de iniciarmos a discussão sobre a questão da maior ou menor recorrência a certos nomes de santos na toponímia em análise, faz-se necessário retomar informações registradas por Dick (1990, p. 332) sobre os primeiros cultos realizados no Brasil que se tem registro, quando foram citados os nomes dos apóstolos São Pedro e São Paulo, de São João Batista e de Santo Antônio, cujos nomes marcaram a toponímia brasileira. Destes o mais produtivo, na toponímia brasileira, é o nome de Santo Antônio, apenas perdendo em valor quantitativo para São José. Seguem-se a esses, como os mais empregados, em ordem decrescente de quantidade, os nomes de São Francisco, de São Sebastião, de São Domingos, de São Miguel, de São Bento, de São Lourenço, de São Vicente, de São Gonçalo, de São Joaquim, de São Luís, de São Roque e de São Mateus. Nos topônimos investigados nesta pesquisa somados aos topônimos estudados por Schneider (2002), observou-se a recuperação do nome de São João: aldeia São João (AH/PM), córrego São João (AF/Aqu), córrego São João 1 (AF/Nio) e córrego São João 2 (AF/Nio); seguido do de São Francisco: serra São Francisco (AF/PM), rio São Na bibliografia consultada, acerca de santos e santas do hagiolário romano, não encontramos referência a São Manuel, o que não descarta a possibilidade desse santo pertencer ao hagiolário romano Santo Anselmo nascido aos pés dos Alpes, em Aosta, em 1033, de família nobre, tornou-se monge em Bec na Normandia. Escreveu várias obras filosóficas de reflexão sobre a fé, dentre as mais famosas destacamse o Monólogo ou modo de meditar sobre a fé e o Prólogo, ou a fé que procura a inteligência. Faleceu em 21 de abril de 1109 e. em 1720 o papa Clemente XI declarou-o doutor da Igreja (SGARBOSSA; GIOVANNINI, 1996, p.124).

146 146 Francisco (AF/GLL), vazante São Francisco (AF); do de Santo Antônio: córrego Santo Antônio (AF/GLL) e rio Santo Antônio (GLL); do de São Lourenço: colônia São Lourenço (AH/Cor) e córrego São Lourenço (AF/Jar), vazante São Lourenço (AF), e do de São Miguel: serra São Miguel (AF/PM) e córrego São Miguel (AF/Nio). Já na região do Bolsão 129 foram mais produtivos os topônimos que recuperaram os nomes de São José (04 ocorrências), seguido dos de São Pedro, de São João, de Santo Antônio, de São Domingos e de São Luis (03 ocorrências cada um) (DARGEL, 2003). Já a nomenclatura geográfica brasileira registra maior número de ocorrências para os nomes de São José e de Santo Antônio, o que caracteriza uma tendência na toponímia brasileira (DICK, 1990, p.324). Entendemos que a escolha dos nomes de santos para nomear os lugares na região por nós estudada e na região do Bolsão (DARGEL, 2003) demonstra a influência devocional herdada dos padres jesuítas a certos santos como São José, Santo Antônio, São Francisco, São Lourenço, São Miguel, São Domingos, São Sebastião, São Pedro e São Bento. Ao que tudo indica, o espírito religioso dos colonizadores também influenciou na nomenclatura geográfica aqui estudada, uma vez que predominaram os nomes de santos do hagiológio romano. Prova disso é o fato de não termos registrado, entre os topônimos coletados, designativos que recuperassem entidades mitológicas, o que nos leva a supor que a cultura religiosa do colonizador suplantou a indígena, hipótese válida para a região do Bolsão, onde também não houve registro de mitos indígenas nos topônimos coletados por Dargel (2003). Outro aspecto a ser destacado é que por volta do ano 1776, na época da demarcação de territórios, a coroa portuguesa orientou o chefe de demarcação João Leme de Prado a atribuir nomes portugueses aos acidentes geográficos do Sul de Mato Grosso. Assim, acreditamos na possibilidade de que uma investigação diacrônica em mapas dos séculos XVI a XVIII poderia revelar outra realidade toponímica da região investigada, inclusive encontrando nomes de entidades mitológicas de culturas indígenas de etnias que habitaram Hagiotopônimos coletados na região do Bolsão (DARGEL, 2003): rio São Domingos, córrego São João, município Aparecida do Taboado, córrego São João, córrego São Domingos, córrego São José, córrego São Paulo, ribeirão São Pedro, córrego Santa Inês, vila Santa Rita, córrrego Santa Maria, córrego Santo Antônio, córrego Santa Marta, ribeirão São João, ribeirão São Luis, córrego São Luiz, córrego Santa Helena, ribeirão Santa Rita, córrego Santa Rita, ribeirão Santa Rosa, córrego Santa Rosa, rio Santana, córrego Santo Antonio, rio São José, povoado São José do Sucuriú, córrego São Marcos, rio São Mateus, rio São Pedro, vila São Pedro, córrego Santa Marta, rio Santana, distrito São José do Aporé, córrego São Luis, município Santa Rita do Pardo, córrego Santana, córrego Santo Antonio, ribeirão Santa Rita, ribeirão São Mateus, córrego São Domingos.

147 147 a região estudada. Pode justificar essa possibilidade de outra realidade toponímica a presença de vários nomes indígenas identificados como designações anteriores de alguns acidentes geográficos, como por exemplo, o rio Miranda rio Mboteteí, rio dos Guachis e o rio Aquidauana rio Mboteteí e rio Nabi-nugo, nomes que foram substituídos no decurso da história por outros designativos. Já topônimos que recuperam nomes de santas na toponímia brasileira são menos produtivos em relação aos designativos masculinos (1990, p. 337), fato observado também neste trabalho, já que os nomes de santas coletados nesta pesquisa juntamente com os coletados pela pesquisadora Schneider 130 (2002) confirmam essa tendência na porção Sudoeste, pois totalizaram 30 (trinta) ocorrências com o uso de nomes de santos nos designativos geográficos e 18 (dezoito) ocorrências para nomes de santas: córrego Santa Maria (AF/PM); córrego Santa Maria (AF/Car); vazante Santa Maria (AF) e ilha Santa Maria (AF); rio Santa Clara (AF/Jar), vazante Santa Clara (AF); córrego Santa Rita (AF/Cor), vazante Santa Rita (AF); serra de Santa Bárbara (AF/Aqu), córrego Santa Anselma (AF/BV), córrego Santa Tereza (AF/Bon), morro Santa Tereza (AF), ilha Santa Rosa (AF) e córrego Santa Rosa (AF); ilha Santana (AF) e baía Santana (AF), distrito de Nossa Senhora de Fátima (AH/BV), córrego Santa Vitória (AF/BV). O predomínio da recuperação de nomes de santos também foi observado por Dargel (2003), que registrou 23 (vinte e três) ocorrências para o uso de designativos de santos e 15 (quinze) para os de santas na nomenclatura geográfica do Bolsão sul-mato-grossense. Em se tratando de hierotopônimos foram registrados nesta pesquisa os seguintes designativos: córrego Santa Fé (AF/Aqu), córrego Santa Fé (AF/BV), córrego Santa Cruz (AF/Jar), córrego Rosário (AF/Jar). Schneider (2002), por sua vez, registrou ilha de Santa Fé (AF). Já na região do Bolsão não foram registrados topônimos dessa categoria. Outro aspecto a ser ressaltado é que no estudo da toponímia da região do Bolsão (DARGEL, 2003), a taxe hierotopônimo ficou em 10º (décimo) lugar na ordem de produtividade, enquanto nesta pesquisa configurou-se como a 4ª (quarta) taxe no grau de ocorrências e na pesquisa de Schneider (2002) na 3ª (terceira). Desse modo, considerando o resultado da nossa pesquisa e o de Schneider, supomos que a maior produtividade de Os santos homenageados na toponímia da região pantaneira registrados por Schneider (2002) foram São Domingos: córrego São Domingos e morro São Domingos; São Lourenço: vazante São Lourenço, São Francisco: vazante São Francisco; São Romão: córrego São Romão; São Sebastião: corixo São Sebastião; São Carlos: córrego São Carlos, São Manoel: ilha São Manoel; São Pedro: morro São Pedro; São Claro: córrego São Claro; São Bento: vazante São Bento. Quanto aos nomes de Santas estão presentes nessa região Santa Rita: vazante Santa Rita, Santa Maria: vazante Santa Maria e ilha Santa Maria; Santa Clara: vazante Santa Clara; Santa Rosa: ilha Santa Rosa e córrego Santa Rosa; Santana: ilha Santana e baía Santana, Santa Tereza: morro Santa Tereza.

148 148 hierotopônimos na porção Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul esteja relacionada à presença dos bandeirantes portugueses e das monções paulistas na localidade, homens herdeiros da devoção cristã do colonizador português. Isso parece se justificar pelas rotas fluviais dos viajantes portugueses e paulistas que aportaram, primeiramente, às terras da porção Sudoeste do Estado 131. Por ora, pôde-se verificar também que a toponímia que recupera nomes sagrados na porção Sudoeste contraria outro aspecto da hagiotoponímia brasileira, no que se refere à preferência aos nomes de santas. Dick (1990, p. 350) constatou que o designativo Santana é o mais recorrente na toponímia brasileira, já na porção Sudoeste registrou-se o designativo de Santa Maria. Na seqüência, analisamos os antropotopônimos que figuraram a 5ª (quinta) taxe mais produtiva na região pesquisada Antropotopônimos Os Antropotopônimos podem ser constituídos por prenomes (aqueles escolhidos); por sobrenomes (apelidos de família ou patronímicos), por um onomástico completo (prenome + sobrenome apelido de família ou sobrenome) ou por hipocorísticos (designativo carinhoso que outros aplicariam ao indivíduo) (DICK, 1990, p. 290). Essa categoria foi bastante produtiva na região pesquisada, surgindo com freqüência nas nomeações dos acidentes físicos e humanos da região pesquisada. Na seqüência, o quadro X visualiza os antropotopônimos coletados nesta pesquisa. Quadro X Total geral dos antropotopônimos das microrregiões do Baixo Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) Topônimo Corumbá (MR 01) Domingos Ramos Albuquerque Maria Coelho Leverger Conceição Fernandes Braga Tomásia Marco TA/acidente AH/povoado AH/vila AF/corixo AF/lagoa AF/baía AF/lagoa AH/aldeia AF/ilha Confira o mapa Mato Grosso do Sul: caminhadas históricas, na seção de anexos deste trabalho.

149 149 Aquidauana (MR 02) de Camisão de Taunay Norato do João dias do Eugênio Felix Taunay Felipe de Anastácio Miranda da Julia Camisão de Miranda do Rodrigues Bodoquena (MR 09) João Cândido Guia Lopes da Laguna Miranda Miranda João Mariano João Cândido AH/distrito AH/distrito AF/ilha AH/município AF/rio AH/vila AH/município AH/município AF/rio AF/rio Entre os antropotopônimos em estudo registramos 14 (quatorze) que recuperam sobrenomes (apelidos de família ou patronímicos): vila Albuquerque (AF/Cor), corixo Maria Coelho (AF/Cor), lagoa Leverger (AF/Cor), distrito de Camisão (Aqu), distrito de Taunay (AH/Cor), corixo Maria Coelho (AF/Cor), ilha de Taunay (AF/Aqu), município de Anastácio (AH/An), rio Miranda (AF/An), vila Camisão (AF/An), município de Miranda (AF/Mir), córrego do Rodrigues (AF/Mir), rio Miranda (AF/Bon), rio Miranda (AF/Bod); 09 (nove) designativos que resgatam prenomes: baía Conceição (AF/Cor), aldeia Tomásia (AF/PM), ilha do Marco (AF/Cor), córrego Norato (AF/Aqu), córrego do Eugênio (AF/Aqu), córrego Félix (AF/Aqu), córrego do Felipe (AF/DIB), córrego da Julia (AF/An); 05 (cinco) que incorporam onomásticos completos: povoado Domingos Ramos (AF/Cor), córrego Fernandes Braga (AF/Cor), córrego do João Dias (AF/Aqu), córrego João Cândido (AF/BV), rio João Mariano (AF/Nio), e um que recupera uma alcunha: município de Guia Lopes da Laguna (AF/GLL). Buckheuser (1952, apud DICK, 1990, p. 294) propôs uma sistematização à categoria dos antropotopônimos nas obras de Dauzat em relação às causas motivadoras da antroponímia, e nessa regra considera que Os topônimos antroponímicos revelam no povo que os acolhe: ou acanhado horizonte mental, ou oportunidade e autolatria, ou modéstia e

150 150 espiritualidade, ou acentuada intelectualidade e sentimento cívico consoante os nomes escolhidos sejam respectivamente de pessoas anônimas ou de potentados, ou de santos e efemérides religiosas, ou de homens ilustres nas letras, artes e ciências ou de relevo histórico. Dick (1990, p. 294), analisando a regra proposta por Beckheuser, discorda da primeira parte, que evidencia que nomear um acidente geográfico com um nome de pessoa anônima é uma técnica denominativa de pequeno horizonte. Para a estudiosa essa técnica se chama, no âmbito da Toponímia, denominação espontânea, que se distingue da técnica por imposição, que ocorre devido à ordem de uma autoridade ou de alguém que detém o poder, já que desta última, muitas vezes, resulta uma nomeação distante da realidade na qual se inseriu o nome. No Brasil é comum a recorrência a nomes de pessoas anônimas na nomenclatura geográfica, o que pode se concretizar pelo prenome, seguido ou não de alcunha, ou pelo hipocorístico, ou pelo apelido de família, ou ainda pelo conjunto onomástico completo do indivíduo. Porém, nomes geográficos com essas características não se espalham para outras localidades, pelo fato de não possuírem nem a força e nem o prestígio de nomes históricos ou de projeção nacional (DICK, 1990, p. 295). Do recorte aqui estudado, a maioria dos nomes em exame enquadra-se na técnica de nomeação espontânea, fato também registrado por Dargel (2003) na toponímia do Bolsão. Para Dick (1992, p. 206), não importa se a nomeação de acidentes físicos foi em decorrência de criações espontâneas ou sistematizados pelo cunho oficial, pois isso não tira o mérito de topônimos antroponímicos refletirem aspectos histórico-culturais da região onde foram registrados. Em decorrência disso, acrescenta a estudiosa que toponimistas de um modo geral, são contrários às alterações dos designativos. Alguns dos antropotopônimos levantados neste estudo parecem se relacionar a pessoas que tiveram uma significativa participação na história no Estado, mais especificamente na região ora em estudo distrito de Albuquerque (AH/Cor), córrego Albuquerque (AF/Cor), rio Miranda (AF/BV), município de Miranda (AH/Mir), corixo Maria Coelho (AF/Cor), lagoa Leverger (AF/Cor), distrito de Camisão (AH/Aqui), vila Camisão (AH/An), distrito de Taunay (AH/Aqu), ilha de Taunay (AF/Aqu), município de Guia Lopes da Laguna (AH/GLL) enquadrando-se, portanto, na técnica de nomeação por imposição proposta por Buckheuser (1952). Esse mesmo estudioso acentua ainda que, se por um lado os nomes geográficos de índole antroponímica podem revelar aspectos de autolatria, imodéstia ou desejo de perpetuação dos feitos individuais, por

151 151 outro, se bem aplicados, isto é, buscando-se um vínculo aproximado entre as circunstâncias do lugar e o denominador que lhe permitiu a designação, podem possibilitar o registro de uma parte da história regional, ou até mesmo nacional (BECKHEUSER, apud DICK, 1990, p. 310). Nessa perspectiva, acreditamos que os antropotopônimos citados no parágrafo anterior podem estar relacionados com a história da região em diferentes épocas: garantia de posse e defesa das terras da região Sudoeste: o designativo Albuquerque, por exemplo, homenageia o quarto governador da província de Mato Grosso, Luis Albuquerque Pinto de Sousa de Melo Pereira e Cáceres, que governou entre os anos de 1772 e A ele credita-se a construção do Forte de Coimbra em 1775, localizado à margem direita do Rio Paraguai, e a preocupação com a povoação da região Sul de Mato Grosso. Foi em seu governo que nasceram os povoados Albuquerque e Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, este último, hoje o município de Corumbá. Já o antropotopônimo Miranda recupera o nome do 6º governador da capitania de Mato Grosso, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, que governou entre os anos de 1796 e Fundou o presídio 132 de Miranda, ao redor do qual nasceu o povoado com o mesmo nome do presídio, atual município de Miranda. O antropotopônimo lagoa de Leverger (AF/Cor), por sua vez, homenageia o 12º (décimo segundo) governador da província de Mato Grosso, Augusto Leverger, ( ). Leverger, em 1839, antes de ser governador foi cônsul-geral do Brasil em Assunção no Paraguai. Já os antropotopônimos corixo Maria Coelho (AF/Cor), vila de Camisão (AH/Aqu), distrito de Camisão (AH/Aqu), distrito de Taunay (AH/Aqui), ilha Taunay (AF/Aqu), município de Guia Lopes da Laguna (AH/GLL) homenageiam personalidades ligadas a episódios da Guerra do Paraguai, ou seja, são designativos que recuperam nomes de cidadãos que marcaram a história da região com suas heróicas participações nessa Guerra. Outro aspecto a ser destacado é que esses designativos foram registrados na região por onde marcou presença o personagem, cujo nome foi recuperado. Antônio Maria Coelho 133, por exemplo, comandou a coluna Antônio Maria Coelho que defendeu Corumbá dos paraguaios e seu nome integra um topônimo que nomeia um acidente no município de Fortificação que tinha como objetivo zelar pelas terras que se estendiam até o rio Apa (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 47) Logo após a proclamação da República em 1889, Antonio Maria Coelho foi aclamado o primeiro governador de Mato Grosso pelos principais políticos da época (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 47).

152 152 Corumbá. Já os designativos Camisão 134, Taunay 135 e Guia Lopes da Laguna nomeiam acidentes geográficos na região por onde passou a Expedição da qual faziam parte o coronel Camisão, o tenente Taunay e Francisco Lopes, mais conhecido como Guia Lopes da Laguna 136. Na seqüência, analisaremos outras taxes produtivas no âmbito desta pesquisa, detendo-nos em aspectos que julgamos serem particulares à região pesquisada. Esta etapa da análise também adotou o critério da ordem decrescente quanto ao grau de produtividade de cada taxe, a partir desta etapa da análise, agrupadas em categorias de natureza antropocultural e de natureza física. Categorias de natureza antropo-cultural: animotopônimos 23 (vinte e três) ocorrências; ergotopônimos 19 (dezenove) ocorrências; sociotopônimos 14 (quatorze) ocorrências; numerotopônimos 06 (seis) ocorrências; corotopônimos 06 (seis) ocorrências; dirrematopônimos 04 (quatro) ocorrências; ecotopônimos 04 (quatro) ocorrências; somatotopônimo 03 (três) ocorrências; historiotopônimo 02 (duas) ocorrências; axiotopônimo 137, etnotopônimo e hodotopônimos 1 (uma) ocorrência em cada uma. Já as taxes dos cronotopônimos 138 e dos poliotopônimos 139 não foram identificadas no corpus desta pesquisa. Categorias de natureza física: litotopônimos 24 (vinte e quatro) ocorrências; geomorfotopônimos 10 (dez) ocorrências; dimensiotopônimos 07 (sete) ocorrências; cromotopônimos com 05 (cinco) ocorrências; e cardinotopônimos 04 (quatro) ocorrências; astrotopônimos 03 (três) ocorrências. As taxes Meteorotopônimo 140 e morfotopônimo também não tiveram ocorrência no corpus analisado. Os ergotopônimos se caracterizam como aqueles designativos que recuperam elementos da cultura material do homem. Dick (1990, p. 343) acentua que designativos desse tipo avultariam sua importância, se possível fosse relacioná-los aos avanços técnicos de um povo ou, pelo menos, os mais significativos produtos de um grupo O coronel Camisão, vindo de Cuiabá, assumiu o comando da Força a 1º de janeiro de 1867, que ficou conhecida como a célebre Retirada da Laguna. Em face disso, o guia da tropa, José Francisco Lopes, ficou conhecido como Guia Lopes da Laguna (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 122) Alfredo d Escragnolle Taunay era tenente da Força Expedicionária e escreveu o diário da Força, que intitulou A retirada da Laguna (CAMPESTRINI; GUIMARÃES, 2002, p. 116) Vide mapa Mato Grosso do Sul: caminhadas históricas, nos anexos deste trabalho Na categoria axiotopônimo Schneider (2002) registrou morro do Padre (AF) e morro do Sargento (AF) Na categoria cronotopônimo Schneider (2002) coletou e anlisou os seguintes designativos: rio Novo (AF), rio Velho (AF) e morro Novos Dourados (AF) Designativos que recuperam os termos vila, aldeia, povoado, arraial também não foram identificados na pesquisa de Schneider (2002) As taxes meteorotopônimo e morfotopônimo também não tiveram ocorrência no corpus analisado por Schneider (2002).

153 153 qualquer. Convém mencionar que os avanços técnicos e a conseqüente diversidade de objetos criados pelo homem no decorrer do tempo, em termos de uma técnica toponímica, dificilmente refletirão reflexos da atualidade. Outro aspecto ressaltado por Dick (1990, p. 343) é que os ergotopônimos de origem indígena refletem muito mais um estágio cultural que se viveu no país. Considerando a postura teórica de Dick, acreditamos que os ergotopônimos aqui registrados, em sua maioria, fazem parte da cultura do grupo de um modo geral. Povoado Paiolzinho (AH/Cor), corixo Revólver (AF/Cor), vazante Forquilha (AF/Cor), vazante do Funil (AF/Cor), córrego Sabão (AF/Aqu), córrego da Porteira (AF/Aqu), córrego Ponte de Pedra (AF/Aqu), córrego Cangalha (AF/An), córrego Pandeiro (AF/An), morro do Chapéu (AF/An), córrego Cadeado (AF/BV), córrego Sombrero (AF/BV), córrego da Cadeira (AF/BV), córrego Chocolate (AF/Bon), córrego da Chaleira (AF/GLL), córrego Rapadura (AF/Nio), córrego da Rapadura (AF/Car), córrego da Porteira (AF/Car). Difere dessa tendência o ergotopônimo rio Tereré (AF/Car) que recupera o nome de uma bebida comum em toda a região pesquisada, principalmente entre os vaqueiros. Nogueira (2002, p ), por exemplo, pondera sobre o conceito de tereré e a tradição de seu consumo que extrapolou os campos e ganhou espaço, principalmente, na região de fronteira, inclusive, entre os mais jovens e de diferentes classe sociais: O tereré, tipo de mate frio, constitui herança paraguaio-guarani e tornou-se hábito quase obrigatório na região, uma vez que as novas gerações o elegeram como a bebida refrescante que os acompanha papo afora, até altas madrugadas. Destaca-se também que, apesar de alguns ergotopônimos incorporarem nomes de elementos pertencentes à realidade brasileira como um todo, refletem também características de ruralidade como córrego Cangalha (AF/Na), córrego da Porteira (AF/Car), córrego Sombrero (AF/BV), morro do Chapéu. A cangalha, por exemplo, nomeia um objeto ainda presente na vida dos vaqueiros da região em estudo, pois nas comitivas boiadeiras, organizações que transportam por terra o gado de um lugar para outro, Os quatros cargueiros, burros que carregam utensílios, levam no lombo as cangalhas e as bruacas 141, nas quais são pendurados os utensílios necessários para a alimentação dos vaqueiros (NOGUEIRA, 2002, p. 110) Bruaca, tipo de caixas ou baús, revestidos de couro, assentados, por meio de cangalhas, nos dois lados do animal de carga e onde carregam as tralhas de cozinha e as bagagens dos peões das comitivas boiadeiras e mesmo das comitivas bagualeiras (NOGUEIRA, 2002, p. 144).

154 154 Ainda sobre ergotopônimos 142 que se relacionam à cultura e aos tipos de atividades do meio rural podemos citar: córrego da Porteira (AF/Aqu), córrego da Porteira (AF/Car). Porteira nomeia um objeto utilizado para fechar a entrada das fazendas ou as comunicações entre as invernadas, nas propriedades de criação bovina; córrego Sombrero (AF/BV), morro do Chapéu. As lexias sombrero e chapéu nomeiam um dos componentes da vestimenta do vaqueiro ou peão pantaneiro que serve para protegê-lo do sol (NOGUEIRA, 2002, p, 118). Passemos à análise dos animotopônimos, designativos que se relacionam à vida psíquica e à cultura espiritual de um grupo. Os animotopônimos foram subdivididos em eufóricos e disfóricos, subdivisão proposta por Isquerdo (1996, p. 118), em que a autora busca valorizar o que o indivíduo pode estar sentindo em relação à realidade e ser transmitido para o nome do referente no ato da nomeação. Nos topônimos coletados nesta pesquisa prevaleceram os animotopônimos eufóricos com 18 (dezoito) ocorrências: povoado Boa Esperança (AF/Cor), morro Triunfo (AF/PM), povoado Vista Alegre (AF/Cor), serra da Alegria (AF/PM), córrego Hilário (AF/DIB), município de Bela Vista (AH/BV), povoado Bela Vista (AH/BV), córrego Bonsucesso (AF/BV), sanga Bonita (AF/BV), município de Bonito (AH/Bon), córrego Formosinho (AF/Bon), córrego Bonito (AF/Bon), córrego Formoso (AF/Bon), rio Mimoso (AF/Bon), córrego Mimoso (AF/Jar), córrego Bom Jardim (AF/Jar), córrego Aurora (AF/Jar), córrego Alegre (AF/Car). Já os animotopônimos disfóricos apresentaram menor índice de produtividade 05 (cinco) topônimos: córrego Engano (AF/An), córrego Feio (AF/GLL), rio Feio (AF/GLL) e córrego Escondido (AF/Bod), córrego Solidão (AF/Jar). Pode-se verificar que o conjunto de animotopônimos eufóricos revela sentimento de contentamento, de admiração e de confiança no futuro frente à realidade. Por exemplo, os designativos formados pelas lexias alegria e alegre parecem conotar um estado de espírito momentâneo de bem estar; bonsucesso, triunfo, boa esperança podem remeter a um sentimento de credibilidade positiva no futuro; bela vista, bonita, bonito, mimoso, bom jardim, formoso transmitem a sensação de que o panorama ambiental é aprazível de se ver, de se contemplar. Acreditamos que os animotopônimos eufóricos, em grande parte, foram motivados pela beleza do ambiente físico, fato esse comprovado em várias obras que 142 Schneider (2002, p. 137) registrou córrego da Porteira (AF) e rio Tereré (AF), vazante do Funil (AF), vazante do Bocó (AF), corixo Canoa (AF), ilha Sepultura (AF), morro do Azeite (AF), morro do Rabichão (AF), morro do Baú (AF), lagoa do Colarinho (AF), lagoa do Baú (AF), córrego Rapadura (AF), vazante Pranchada (AF), vazante Panela (AF).

155 155 retratam o meio ambiente da região em estudo. Já nos animotopônimos disfóricos córrego Engano (AF/An), córrego Feio (AF/GLL), rio Feio (AF/GLL), córrego Escondido (AF/Bod), córrego Solidão (AF/Jar), a lexia feio pode remeter à aparência física dos acidentes hidrográficos e engano, escondido podem ter motivado os nomes dos acidentes características muito comum em correntes hídricas da região, já abordado na análise da taxe hidrotopônimo: os sumidouros, correntes que de repente tornam-se subterrâneas. Desse modo, atribuiu-se, metaforicamente, ao nome do acidente uma característica humana negativa, a de iludir, a de enganar ou se esconder; o designativo solidão, por sua vez, parece resgatar o isolamento do acidente, que também por uma relação metafórica atribuiuse um sentimento humano ao nome do acidente. Talvez justifique essa escolha o fato que a principal característica da região, principalmente, na época de enchentes, seja o isolamento. Nos animotopônimos coletados por Schneider (2002), também houve maior incidência de eufóricos: ilha do alegre (AF), rio Formoso (AF), vazante Formosa (AF), córrego Alegria (AF), córrego Proteção (AF), vazante Vista Alegre (AF), vazante Vista Limpa (AF), vazante Alegria (AF), morro Boa Vista (AF), morro do Conselho (AF), córrego Mastigo (AF), córrego Alegre (AF) e ilha Formosa (AF), enquanto que disfóricos só foram registrados rio Criminoso (AF), vazante Ressaca (AF), rio Perdido (AF) e córrego Brabo (AF). A pesquisa de Dargel (2003) também registrou na região do Bolsão maior incidência de animotopônimos eufóricos 59 (cinqüenta e nove) ocorrências, dos 76 (setenta e seis) coletados. Eis os animotopônimos eufóricos mais recorrentes registrados por essa pesquisadora: Bonito, Boa Vista, Vista Alegre, Formoso. Essa mesma pesquisa recuperou apenas dois animotopônimos disfóricos: Engano e Inferno. Pelo exposto pode-se perceber que os animotopônimos eufóricos registrados nesta pesquisa e na de Schneider (2002) revelam em seu conteúdo semântico a beleza física apreendida pela visão, isso pode ser explicado pelo próprio ambiente físico em que estão inscritos esses topônimos, já que a região em estudo é considerada como santuário ecológico e louvada pela beleza em várias obras de cunho científico e literário. Inclusive os animotopônimos disfóricos córrego Engano (AF/An), córrego Escondido (AF/Bod) e rio Perdido (AF) também podem ter sido motivados pelo ambiente físico, onde a presença de rios subterrâneos é bastante evidenciada. No que se refere à categoria taxionômica dos sociotopônimos, foram registrados nesta pesquisa: vila Amolar (AF/Cor), vila Porto Esperança (AF/Cor), ilha do Marinheiro (AF/Cor), lago do Conselho (AF/Cor), município de Porto Murtinho

156 156 (AF/PM), córrego do Curtume (AF/DIB), córrego Retiro (AF/DIB), córrego Retiro (AF/Bon), córrego da Olaria (AF/Bon), córrego Fazenda (AF/Bon), lago do Conselho (AF/Cor), córrego Guardinha (AF/Jar), rio dos Velhos (AF/Jar), córrego do Acampamento (AF/Bod) e córrego Retiro (AF/Nio). Nesses sociotopônimos, chamou-nos a atenção o designativo retiro que nomeia acidentes em diferentes pontos da região em estudo: córrego Retiro (AF/DIB), córrego Retiro (AF/Bon), córrego Retiro (AF/Nio). Pela bibliografia consultada, a possível explicação para a grande produtividade de topônimos formados com a lexia retiro tem raízes históricas. Após a Guerra do Paraguai quando teve início a ocupação do território sul-mato-grossense e a formação de extensas fazendas, para abrigar peões que cuidavam das terras, construíam-se os retiros, considerados subsedes, já que não tinham as mesmas condições de conforto da sede, e não podiam estar localizadas nem menos de duas léguas e nem mais de três, em relação à sede. Ainda hoje são comuns na região em estudo os retiros, ou seja, a casa onde vive o retireiro e onde se trabalha o gado (NOGUEIRA, 2002, p. 62). Os sociotopônimos registrados neste trabalho parecem, pois, recuperar designações de lugares de atividades que foram ou ainda são comuns na região, entre outras, acampamento e curtume. A primeira resgata o nome das paradas dos soldados na época da Guerra do Paraguai e a parada das comitivas boiadeiras do Pantanal, esta última ainda comum na região, uma vez que na época das cheias faz-se necessário transportar o gado para lugares mais altos, longe do perigo das enchentes. E a segunda remete a uma das atividades econômicas do começo do século XX, a produção de couro (CORRÊA, 1999, P. 57). Na categoria dirrematopônimos 143, nomes constituídos de frases ou enunciados lingüísticos, registramos 05 (cinco) ocorrências: morro Fecho dos Morros (PM), distrito Nunca-te-vi (AF/BV), córrego Cambarecê (AF/Jar), córrego Grita Lobo (AF/Nio), córrego Passa Dois (AF/DIB), colônia Chora-Chora (AH/An). Destacamos aqui o dirrematopônimo córrego Cambarecê: camba do tupi significa o negro africano (SAMPAIO, 1987, p. 213). Os dicionários consultados não registram a lexia cambarecê, mas pelos dados históricos encontrados significa onde o negro chorou. Desse modo, adotou-se o significado registrado nas fontes históricas consultadas. Guimarães (1999, p. 277), por exemplo, assim se refere ao córrego Cambarecê: embora branco, o nosso soldado era chamado de negro pelos paraguaios, (...). Cambarecê quer dizer onde o negro Schneider (2002) registrou apenas um dirrematopônimo: Vazante Lambe Olho (AF).

157 157 chorou, referindo-se aos pedidos de misericórdia que os coléricos abandonados naquele riacho fizeram aos seus perseguidores, para não serem mortos, enquanto Taunay (1963, p. 132) registrou a passagem histórica em que foram abandonadas as pessoas com cólera à beira de um rio. Igualmente destacamos o designativo bodoquena 144 que nomeia toda extensão da serra e foi classificado como dirrematopônimo por significar atoleiro em cima da serra. Dargel (2003), por sua vez, catalogou no Bolsão 07 (sete) ocorrências dessa taxe: córrego Quebra-Canga (AF), córrego Tira Prosa (AF), gruta Tope de Pedra (AF), córrego do Espicha Couro (AF) 02 (duas) ocorrências, córrego do Quenta Sol (AF), córrego Acaba Roupa (AF). Verificou-se nos dirrematopônimos coletados na porção Sudoeste e na região do Bolsão, uma diversidade de enunciados, o que demonstrou uma riqueza de criatividade nos nomes dessa índole que, ao que tudo indica, são muito particulares de cada localidade, já que não se constatou repetição dos enunciados entre as regiões. Já os numerotopônimos corixão 1 (AF/Cor), vazante Cinqüenta (AF/Cor), ilha Três Bocas (AF/Cor), município Dois Irmãos do Buriti (AF/DIB), rio Dois Irmãos (AF/An) recuperam números, categoria que, segundo Dick (1990, p. 361), tem natureza semântica da mais variadas procedências, porém, o que mais os influencia parece ser a de ordem física. A categoria dos Corotopônimos que recupera nomes de cidades, países, estados, regiões e continentes, nesta pesquisa, fez-se presente com o registro de 05 (cinco) ocorrências: município de Ladário (AH/Lad), vila Coimbra (AH/Cor), córrego Bolívia (AF/Bon), aldeia indígena Nioaque (AF/Nio), município de Bodoquena (AH/Bod), cabeceira Três Lagoas (AF/DIB). Schneider, por sua vez, registrou rio Paraguai (AF), córrego Fortaleza (AF), vazante Piauí (AF), morro Coimbra (AF), morro Pantanal (AF), rio Paraguai (AF), vazante Pantanalzinho (AF), córrego Bodoquena (AF), rio Paraguai Mirim (AF), Moro Pão de Açúcar (AF), córrego São Paulo (AF). Os corotopônimos município de Ladário (AH/Lad), vila Coimbra (AH/Cor), morro Coimbra (AF) parecem ter sido motivados pela lembrança do colonizador português. Os corotopônimos desta pesquisa juntamente com os coletados por Schneider (2002) evidenciaram a recorrência a designativos que nomeiam os acidentes da própria O termo bodoquena tem sua origem na língua tupi e quer dizer atoleiro em cima da serra (TEIXEIRA, 1989, p. 3).

158 158 localidade pesquisada. Atestam essa tendência os seguintes topônimos: aldeia indígena Nioaque (AF/Nio), município de Bodoquena (AH/Bod), morro Pantanal (AF), vazante Pantanalzinho (AF), córrego Bodoquena (AF), rio Paraguai Mirim (AF). Destacamos, ainda, que ao compararmos os corotopônimos desta pesquisa com os da região do Bolsão (DARGEL), verificamos que a homenagem ao colonizador português é mais recorrente na toponímia da porção Sudoeste, uma vez que se percebeu maior incidência de nomes de localidades brasileiras na nomenclatura geográfica da região do Bolsão. Confirmam isso os seguintes corotopônimos que integram o Bolsão: município de Brasilândia (AF), córrego Pirinópolis (AF), salto da Costa Rica (AF), córrego Pernambuco (AF), córrego Santa Fé (AF), distrito Guadalupe do alto Paraná (AF). Já os ecotopônimos, que se constituem naqueles nomes que se referem às habitações, puderam ser identificados na porção Sudoeste em acidentes como córrego do Abrigo (AF/Cor), córrego da Tapera (AF/An), vazante Ranchinho (AF/Aqu) que, juntamente com os já catalogados por Schneider (2002) córrego do Abrigo (AF), vazante do Ranchinho (AF), vazante Castelo (AF), ilha do Castelo (AF) e ilha do sobradinho (AF) demonstraram a produtividade de topônimos formados pelas lexias abrigo, tapera e ranchinho. Pelos registros de Dick (1990, p. 356), o uso de tais nomes é bastante produtivo na nomenclatura geográfica brasileira, principalmente, para nomear acidentes humanos, no entanto, neste estudo verificou-se que nomeiam acidentes físicos. O trabalho de Dargel (2003) parece comprovar essa tendência nos ecotopônimos da toponímia do Estado, a de nomear acidentes físicos, pois no Bolsão, do total de 18 (dezoito), apenas 1 (um) ecotopônimo nomeia acidente humano: distrito Pouso Alegre (AH). Já na taxe dos somatotopônimos observou-se um fenômeno interessante: a mesma lexia integra quase todos os topônimos dessa categoria e ocorre no mesmo município: município de Nioaque 145 (AH/Nio), aldeia indígena Nioaque (AH/Nio) e rio Nioaque (AF/Nio). Corrobora essa tendência a pesquisa de Schneider (2002) que investigou 306 (trezentos e seis) topônimos no Pantanal e registrou apenas o somatotopônimo córrego do Bracinho (AF). A taxe dos historiotopônimos, por sua vez, fez-se representar pelos seguintes designativos: córrego Independência (AF/BV) e lagoa da República (AF/PM). Quanto às taxes com apenas uma ocorrência, temos: Axiotopônimo ilha Coronel Braga (AF/PM); De acordo com Taunay (1946, p. 190), Nioaque é uma lexia de origem guaycuru e significa clavícula quebrada. Nos antigos mapas dos exploradores portugueses é grafada como anhuac.

159 159 etnotopônimo lagoa dos Bugres e hodotopônimo córrego Picada. Não houve registro das taxes dos cronotopônimo e dos poliotopônimo. Vale resgatar aqui o ponto de vista de Dick (1990, p. 350), a respeito de categorias toponímicas de natureza antropo-cultural. Segundo a estudiosa, nem sempre se pode vincular de maneira objetiva o designativo a um motivo aparente uma vez que a verdadeira razão-de-ser do topônimo, a sua causalidade necessária e única pode estar ligada a fatores que transcendem ao procedimento de verificação momentânea. Assim é que, em certos casos, sabe-se que um designativo reveste-se de características tais que o vinculam a uma determinada compartimentação do ambiente físico ou social. Desse modo a tentativa de se justificar a relação entre o nome e o fato que o gerou, acrescenta Dick (1990, p. 351), pode resultar em redundâncias ou em explicações desnecessárias. Na seqüência, analisamos as seguintes taxes de natureza física: litotopônimos, geomorfotopônimos, dimensiotopônimos, cromotopônimos, cardinotopônimos, astrotopônimos. Os litotopônimos, topônimos de índole mineral, totalizaram 24 (vinte e quatro) ocorrências: município de Corumbá (AH/Cor), córrego das Pedras (AF/Cor), vazante da Pedra (AF/Cor), córrego Lajeadinho (AF/Aqu), córrego Areia (AF/PM), serra da Bodoquena (AF/PM), córrego Lajeadinho (AF/Aqu), morro do Manganês (AF/Aqu), córrego Lajeado (AF/DIB), córrego Barreiro (AF/Mir), córrego Poeira (AF/Mir), serra da Bodoquena (AF/Mir), córrego Ita 146 (AF/BV), córrego Lajeado (AF/BV), córrego Barreiro (AF/Bon), córrego Chapada (AF/GLL), córrego do Ouro (AF/ BV), córrego Barreiro (Bon), córrego Lajeado (AF/Jar), córrego Pederneira (AF/Bod), córrego das Areias (AF/Nio), cabeceira Lajeadinho (AF/Nio). Schneider (2002), por sua vez, catalogou vazante da Pedra (AF), rio Areião (AF), córrego Lajeado (AF). Dick (1990, p. 125) destaca que geralmente aos topônimos de índole mineral aliam-se à natureza constitutiva dos solos ou dos terrenos onde estão inscritos, fenômeno que se aplica à região examinada, uma vez que a maior recorrência nos litotopônimos ocorreu com designativos formados com a lexia pedra, que nomeia um minério de índole genérica, uma vez que se utiliza esse nome para designar vários tipos de minérios rochosos, e com a unidade lexical lajeado que nomeia pedra de superfície plana (CUNHA, 1986): Ita de y-tá, de origem tupi e significa o que é duro, a pedra, o penedo, a rocha, o seixo, o metal em geral, o ferro (SAMPAIO, 1987, p. 254).

160 160 córrego das Pedras (AF/Cor), vazante da Pedra (AF/Cor), córrego Ita (AF/BV), córrego Lajeado (AF/BV), córrego Lajeado (AF/Jar), cabeceira Lajeadinho (AF/Nio). Esses topônimos resgatam o nome de um elemento natural presente em grande quantidade no solo de Corumbá e de Ladário, área de solos com características sílico-calcários, e no planalto da Bodoquena mais conhecido como serra da Bodoquena, que se constitui num maciço de rochas calcárias (BOGGIOANI, 2001, p. 151). Verificou-se também a recorrência a lexia barro ou a incorporação de outras lexias que possuem valor semântico relacionado a barro, na composição de nomes de acidentes geográficos, uma das características do solo da região, exemplificam isso, os seguintes topônimos: serra da Bodoquena 147 (AF/PM), serra da Bodoquena (AF/Mir), córrego Barreiro (AF/Mir) e córrego Barreiro (AF/Bon). A região do Bolsão também revelou características toponímicas semelhantes, principalmente, no que se refere à recuperação das unidades léxicas lajeado e lajeadinho (DARGEL, 2003). Dick (1990, p ) informa que, dentre os litotopônimos relacionados a minerais de índole genérica, física, ambiental, especifico às regiões da terra, em sua constituição, destacam-se os designativos pedra e lajeado que são bastante produtivos como fonte onomástica na toponímia brasileira, o que demonstra que nas regiões aqui estudadas a toponímia segue uma tendência já constada na nomenclatura geográfica brasileira. Todavia, há que se registrar que na toponímia brasileira os topônimos constituídos pela lexia pedra aparecem, em sua maioria, acompanhados por um determinante, o que não se aplica à região pesquisada, uma vez que se registrou apenas sintagmas toponímicos simples com o uso da unidade lexical em questão. Já os geomorfotopônimos incorporam topônimos relativos às formas topográficas. Nesta pesquisa foram registrados nessa categoria os seguintes designativos: povoado Barranqueira (AF/Cor), povoado Bocaina (AH/Cor), córrego Morrinhos (AF/Cor), serra da Bocaina (AF/PM), distrito Morraria do Sul (AH/Bod), córrego Serrinho (AF/BV), córrego Aterradinho (AF/BV), rio Desbarrancado (AF/GLL), córrego Morrinho (AF/Nio) córrego do Meio (AF/Nio). Os geomorfotopônimos catalogados nesta pesquisa parecem se relacionar às próprias formações físicas do acidente, uma vez que o ambiente natural da região examinada possui serras, elevações, morros, chapadas. Assim podemos considerar que essas nomeações configuram-se como espontâneas, uma vez que ocorrem O termo bodoquena é de origem tupi e significa atoleiro em cima da serra (TEIXEIRA, 1989, p. 3).

161 161 por associação a um dos aspectos do acidente. A esse respeito Dick (1990, p. 114) evidencia que as formas de relevo terrestre, seja no sentido de elevações ou de depressões, costumam emprestar à toponímia uma variedade de signos onomásticos que, em sua maioria, traduzem uma técnica espontânea de designação. Essa estudiosa destaca ainda que as formações topográficas, quando em função toponímica, refletem em sua origem semântica, a natureza topográfica que, em tantas ocasiões, motiva o denominador. Considerando o exposto supomos que a motivação para a escolha de tais designativos para nomear os acidentes dessa categoria seja a sua própria característica topográfica. Os dimensiotopônimos, por sua vez, totalizaram 07 (sete) ocorrências: córrego Fundo (AF/Aqui), córrego Grande (AF/Aqu), córrego Comprido (AF/DIB), cabeceira Comprida (AF/DIB), córrego Fundo (AF/An), córrego Fundo (AF/Car), córrego Fundo (AF/GLL). Verificou-se nessa categoria toponímica a produtividade da lexia fundo como fonte onomástica. Essa recorrência pode estar relacionada também a uma característica do próprio acidente, uma vez que a escolha do nome pode estar baseada em um dos aspectos do local a ser nomeado. Todavia, salientamos que essa característica considerada no ato da nomeação pode ser muito particular da região, já que a dimensão pode ser relativa, isto é, um córrego pode ser fundo, ou comprido em relação a outro córrego da mesma localidade. Na categoria dos cromotopônimos identificamos 05 (cinco) ocorrências corixo Vermelho (AF/), córrego Branco (AF/An), córrego Vermelho (AF/An), córrego Azul (AF/BV), rio Verde (AF/Jar). Schneider (2002), por sua vez, registrou rio Vermelho (AF), corixo Negrinho (AF), rio Negrinho (AF), rio Negro (AF), baía Negra (AF), lagoa Negra (AF), morro Azul (AF), morro Vermelho (AF), rio Branco (AF). Verificou-se na região pesquisada uma razoável presença de índices cromáticos na composição do nome geográfico. Assim, considerando-se os aspectos ambientais da região pesquisada, principalmente o das correntes hídricas, inferiu-se que a possível motivação para a produtividade cromática na composição do nome tenha sido a referência a um de seus aspectos imediatos, a cor. Desse modo, essa recorrência a cores na construção do sintagma nominativo, pode ser considerada como um mecanismo de descrição de um lugar sob um ponto de vista imediato, portanto, facilmente percebido. Quanto aos cardinotopônimos, registramos: rio do Meio (AF/Cor), morro do Meio (AF/ Cor), córrego do Meio (AF/PM), córrego do Meio (AF/Nio), cabeceira do Meio (AF/Nio), córrego da Divisa (AF/Bon). Já Schneider (2002) catalogou corixo do Meio (AF), córrego da Divisa (AF) e vazante da Divisa (AF). É interessante notar que nesta categoria prevaleceu a recorrência à lexia que denota uma localização relativa do meio,

162 162 o que pode denotar que o valor semântico de localização nesses nomes geográficos é muito particular para cada região, uma vez que para localizar o que está no meio é necessário conhecer o que está ao seu redor. Já para a taxe astrotopônimos registramos: córrego Estrela (AF/DIB), córrego Estrelinha (AF/BV), rio Estrela (AF/BV). Não houve registro no corpus de meteorotopônimos e morfotopônimos. A análise dos topônimos catalogados nesta pesquisa permitiu-nos observar algumas generalizações a respeito da toponímia investigada. Por exemplo, verificou-se que dentre as duas condutas motivadoras proposta por Dick (1990) natureza física e natureza antropocultural prevaleceu a de natureza física, já que foi mais recorrente a recuperação de designativos que nomeiam plantas fitotopônimos, animais zootopônimos e correntes hídricas hidrotopônimos para nomear os acidentes investigados. Ainda relacionado a essa mesma conduta motivadora, verificou-se que os topônimos podem revelar características do ambiente físico por meio de seus constituintes imediatos como cor, forma dimensão, como se pôde perceber nos cromotopônimos, nos geomorfotopônimos e nos dimensiotopônimos. Todavia, isso não anulou a importância das categorias de natureza antropo-cultural que preservaram em seus vocábulos fossilizados aspectos sociais e culturais, como os hagiotopônimos, que demonstraram a religiosidade herdada do colonizador português, os ergotopônimos, que recuperaram elementos da cultura geral e da cultura local, os antropotopônimos, que incorporaram personalidades históricas da região. Faz-se necessário aqui retomar também alguns dos topônimos sem classificação lagoa Jacadigo 148 (AF/Cor), ilha Nabileque (AF/Cor), córrego Lau-de-já (AF/PM), município de Aquidauana (AF/Aqu), serra de Aquidauana (AF/Aqu), rio Aquidauana (AF/DIB), córrego Acôco (AF/An), aldeia Lalima (AF/Mir), aldeia Pilade de Ribuá (AF/Mir), córrego Jacadigo (AF/BV), rio Apa-mi (AF/BV), rio Apa (AF/BV), córrego Lau-de já (AF/Bon), córrego Seputã (AF/Bon), rio Chapena (AF/Bod), rio Betione (AF/Bod), córrego Espinídio (AF/Nio), córrego Cavadonga (AF/Nio), córrego Dominguena (AF/Nio), rio Apa (AF/ Car) nos quais, por ausência de fontes, não foi possível identificar o significado do termo específico, o que demonstra que certos designativos perdem a transparência de seu conteúdo semântico, principalmente os de Dick (1990, p. 134) registra que lexia eponadigo é de procedência guaikuru. Valendo-nos dessa informação e comparando-a com a lexia jacadigo, pela semelhança da formação das duas lexias, acreditamos que jacadigo também seja de procedência guaikuru.

163 163 origem indígena, o que resulta em sua opacidade. Por não estarem registrados em dicionários de línguas e em obras gerais esses designativos tornaram-se, por ora, verdadeiros enigmas a serem desvendados. Acreditamos que algumas das lexias sem classificação tenham origem em línguas de povos que habitaram a região, como o Guikuru que ocupou toda a região entre os rios Taquari e Miranda. Além disso, no século XVI, grande parte do vale do Paraguai estava ocupada pela nação guarani e, ao norte, pelos Xaraié (Corrêa, 1999, p. 120) Estratos lingüísticos presentes na toponímia da porção Sudoeste de Mato Grosso do Sul: algumas considerações. Neste item do trabalho analisamos a presença de estratos lingüísticos, principalmente, de base indígena nos topônimos catalogados na região examinada, conforme os dados extraídos do gráfico VII, apresentado na seqüência. Gráfico VII - Estratos lingüísticos registrados na toponímia investigada 5% 2% 1% 19% Língua guarani Língua guaikuru 3% Língua tupi Língua espanhola 69% 1% Língua africana Língua portuguesa Língua NE Os dados evidenciados nesse gráfico, permite-nos observar a seguinte seqüência, em se tratando da produtividade em termos de língua de origem dos topônimos: língua portuguesa: 69 %; língua tupi: 19 %; língua espanhola: 3 %; língua guarani: 2 %; língua guaikuru: 1 % e língua africana: 1 %. O Brasil, no início de sua povoação, era formado basicamente por três grupos étnicos: os portugueses, os indígenas e os africanos. Dick (1992, p. 81) acrescenta os de procedência estrangeira, mas que chegaram após a colonização brasileira. Do convívio dessas várias etnias portuguesa, indígena e africana resultaram reflexos tanto na língua

164 164 quanto na cultura de um modo geral. Desse modo, pelo fato de o topônimo se constituir como uma unidade da língua, isto é, um signo lingüístico como todos os outros, não poderia, então, a toponímia brasileira de origem indígena permanecer indiferente à presença de outra língua, como a portuguesa, por exemplo. É sabido que quando os europeus chegaram ao Brasil já encontraram uma toponímia básica de origem indígena e que muitos desses vocábulos foram incorporados à nova nomenclatura geográfica que passaria a se formar. Entretanto, nas zonas costeiras, por onde o colonizador viajou, esse quadro começou a ser alterado, haja vista que, por desconhecimento da nomenclatura primitiva, o português passou a renomeá-la segundo os padrões culturais lusitanos da época. Exemplo disso é a presença de nomes de origem cristã, registrados nas cartas geográficas européias que contêm o roteiro das expedições que viajaram pelo litoral brasileiro entre os anos de 1502 a 1509 (DICK, 1992, p. 313). O colonizador português encontrou no Brasil, além do povo tupi, outras nações como a dos aruak e a dos karib, principalmente na região da Amazônia, ou ainda algumas muito menores, que aparecem lingüisticamente isoladas, entre outras, a guaikuru. Pela necessidade que o português tinha de desbravar o território brasileiro em busca de riquezas, transformou o povo tupi da região costeira em guia e aliado. Os povos tupi do litoral, entre a Bahia e o Rio de Janeiro, formavam uma série de etnias bastante homogêneas cultural e lingüisticamente. Desse contato lingüístico entre portugueses e tupis surgiu e se desenvolveu uma língua geral, estudada e descrita normativamente pelos jesuítas portugueses para fins de catequese. Essa língua era facilmente aprendida por outras etnias não-tupis. Assim, estabeleceu-se a língua geral, ao lado do português, na vida cotidiana do Brasil colônia. Porém, com a intensificação da vinda de portugueses, no século XVII, a língua geral foi praticamente extinta em detrimento do português (CÂMARA JR, 1976, p. 27). Frente ao exposto, não é de se estranhar a superioridade numérica de nomes da língua portuguesa na nomenclatura geográfica brasileira e também na região por nós estudada. Todavia, isso não anula a significativa herança de nomes indígenas, principalmente do tupi, na geografia brasileira, e isso se estende também aos nomes originados de línguas africanas. Na toponímia examinada neste trabalho, destacamos, além do tupi, a presença das línguas indígenas guaykuru e guarani, povos que habitavam a região e hoje se encontram em pequeno número de representantes, principalmente os guaikurus. Outro dado relevante que se observou no recorte analisado foi a superioridade numérica de fitotopônimos e de zootopônimos de origem indígena, já que a concentração

165 165 de topônimos oriundos do tupi e do guarani concentraram-se nessas duas taxes. Os fitotopônimos, por exemplo, reuniram 58 % do total das ocorrências nessa taxe e de base guarani 6%. Já os zootopônimos revelaram que 39 % são constituídos por nomes de origem tupi e 3% de base guarani. Acreditamos que a incidência de nomes de origem tupi, nas taxes mencionadas, possa ser explicada em parte pelo fato de que entre os anos de 1600 e 1700, época em que era falada a língua geral, ter havido a penetração dos bandeirantes, que vieram em busca de índios, para o trabalho escravo, e de riquezas 149, questão já discutida na análise das taxes fitotopônimos e zootopônimos. Outro fator que também pode ter contribuído para a perpetuação dos nomes de origem tupi, principalmente, nessas duas taxes, é o caráter descritivo de nomes de origem indígena já reconhecido por Sampaio (1987, p. 179). Além disso, há que se considerar a incorporação do léxico tupi no sistema lexical da língua portuguesa. Sapir, (1969, p. 46), ao tratar da influência do ambiente no léxico, argumenta que não são especificamente a fauna ou os elementos topográficos da região que uma língua reflete, mas o interesse da nação nesses traços ambientais, e Dick (1992, p. 18) complementa que o topônimo, como um signo lingüístico, pertence ao léxico e assim ao ser recuperado passa a refletir de certa forma a própria mentalidade coletiva. Assim, a significativa presença do tupi na toponímia aqui estudada pode estar revelando muito mais do que o espaço geográfico juntamente com sua diversidade da flora e fauna, mas também a porção positiva desse espaço para o homem que viajava pela região enfrentando as dificuldades naturais da época e para o que ali fixou residência. Esse grau de incidência de nomes de origem tupi evidencia também a influência do léxico tupi no patrimônio lexical da língua portuguesa, o que dá mostras da importância dessa etnia na formação do povo brasileiro e para o enriquecimento da língua portuguesa, em sua variante brasileira, que ainda preserva também por meio da toponímia a base tupi no seu sistema lexical. Isso porque muitas formas preservadas pela onomástica não fazem parte do linguajar corrente e o seu significado também na maioria das vezes é ignorado. A toponímia local analisada neste trabalho também revela estratos de outras línguas de etnias que viveram na região, particularmente nomes de origem guarani: aldeia indígena Piracuã (AH/BV), córrego Nhuatim (AF/BV), córrego Capi-y (AF/BV), córrego Essas viagens entre os anos de 1600 e 1700 podem ser visualizadas no mapa Mato Grosso do Sul: caminhadas históricas, na seção de anexos.

166 166 Piripucu (AF/BV), rio Tarumã (AF/GLL) e de origem guaykuru 150 : município de Nioaque (AH/Nio), aldeia indígena Nioaque (AH/Nio) e rio Nioaque (AF/Nio). Pela bibliografia consultada foi possível, ainda, perceber índices de alterações sofridas pela toponímia aqui focalizada. Holanda (1986, p ), por exemplo, registrou que a toponímia da região em estudo era outra, fato constatado no ano de 1750, pelas comissões demarcadoras, que verificaram que formas guaraníticas haviam desaparecido, o que até dificultou a localização de certos acidentes geográficos pelos mapas antigos e pelas notícias registradas. Cita como exemplo o antigo Tepoty que agora se chamava Apa, nome que aparentemente fora atribuído ao acidente pelos guaycuru. Outro exemplo é a denominação do atual Miranda que tinha o nome guarani Mboteteí. O rio Mboimboi que aparece nos anais bandeirantes, mas que do qual hoje não se sabe a localização exata, poderia ser o atual Nebileque 151 ou o rio Aquidavão, ambos os topônimos derivados de vozes guaycuru 152. O rio Aquidauana também era designado de Nabi-nugo 153, nome de origem guaykuru que significa água negra (MELLO, 1981, p. 170). Quanto aos topônimos de origem africana, a recorrência foi mínima. Tendência semelhante também foi observada na toponímia brasileira por Dick( 1985, p. 24): se os topônimos indígenas são mais significativos em extensão, na proporção direta do próprio vocabulário transmitido, os africanos configuram-se menores, extensivamente. Porque o próprio contingente vocabular legado ao português é pequeno, cerca de trezentos termos mais ou menos, numa desproporção clara com o total de negros imigrados. Tal fato pode estar relacionado ao papel de escravo que foi imposto ao negro no período colonial do Brasil. Todavia, isso não anulou a sua contribuição na formação cultural brasileira. Na toponímia da região ora estudada registraram-se 03 (três) topônimos de base africana: córrego Sanga Funda (AF/PM), córrego Marimbondo (AF/An) e córrego Cangalha 154 (AF/An). O designativo marimbondo, por exemplo, integra a toponímia de Cardoso (1961, p. 17) registra como lexias de origem tapuia guaykuru nabilek, aquidauana, aquidaban, mas não esclarece o significado Esse designativo foi registrado na obra de Holanda (1986, p. 54) com a grafia de nebileque Holanda adverte que não é identificação tranqüila a origem guaykuru de tais lexias. Há que se registrar aqui que a escassez de pesquisas acerca de línguas indígenas da região em muito dificultou a análise dos dados Mello (1981) retirou esse dado dos apontamentos de Augusto Leverger. Acrescenta que Leverger lera tal informação em uma correspondência de Rodrigues do Prado, homem responsável pela construção do presídio de Miranda, o que o levou a um contato por muitos anos com os índios Guaikuru. Porém, Mello adverte que não encontrou documento mencionado no arquivo histórico de Mato Grosso De acordo com Dick (1992, p. 148), o designativo cangalha deriva de canga, lexia de origem africana, e significa trave de madeira adaptada ao pescoço dos animais.

167 167 vários estados brasileiros, como em Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, enquanto cangalha aparece em topônimos das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste (DICK, 1992, p. 148). Já sanga é pouco produtivo na toponímia brasileira e também nas duas regiões já examinadas em Mato Grosso do Sul porção Sudoeste e região do Bolsão (DARGEL, 2003), já que se configurou como registro único na toponímia catalogada na duas regiões À língua espanhola, a toponímia local também não ficou indiferente. Atestam isso os seguintes topônimos: povoado Paiolzinho (AH/Cor), povoado Bocaina (AH/Cor), vila Amolar (AF/Cor), vazante Forquilha (AF/Cor), vazante Periquito (AF/Cor), serra da Bocaina (AF/PM), vazante Ranchinho (AF/Aqu), córrego Pandeiro (AF/An), córrego Salobra (AF/BV), córrego Chocolate (AF/Bon), rio Salobra (AF/Bon), córrego Salobrinha (AF/Bod) e rio Salobra (AF/Bod). Também aqui razões histórico-geográficas podem esclarecer a presença de nomes de base espanhola na nomenclatura da região, uma vez que ao Paraguai pertenciam as terras onde estão localizados os atuais municípios de Bela Vista, de Caracol e de Porto Murtinho, territórios que, após a Guerra do Paraguai, foram incorporadas às terras brasileiras. Acrescenta-se ainda a questão da imigração do povo paraguaio para a região Sudoeste e Sul de Mato Grosso do Sul, após a Guerra do Paraguai para trabalhar na extração da erva-mate, em decorrência da condição de miséria e do conseqüente desemprego no Paraguai pós-guerra e também a própria situação de fronteira entre Brasil e Paraguai que sugere a possível influência do léxico dessa língua na toponímia local. Há que se pontuar mais uma vez que vários topônimos permaneceram sem classificação no término deste trabalho, haja vista a falta de fontes que pudessem elucidar o significado de algumas lexias que, acreditamos, serem provenientes de línguas indígenas de povos que habitaram ou ainda habitam a região Exemplificam esse quadro as lexias jacadigo, aquidauana, lau-de-já, acôco, lalima, pilade de ribuá, apa-mi, seputã, chapena, betione, espinídio, cavadonga, carapé, apa, e outras por na termos nesse momento conseguido enquadra-las em uma das taxes como precata, rasgado, dominguena e alumiador. Na sequência, apresentamos as considerações finais.

168 168 CONSIDERAÇÕES FINAIS O recorte toponímico investigado nesta pesquisa abrangeu as microrregiões do Pantanal (MR 01), de Aquidauana (MR 02) e de Bodoquena (MR 09) e foi objeto de estudo a nomenclatura de acidentes físicos e humanos. Como já foi explicitado, este estudo não investigou a toponímia em sua totalidade, pois se deteve aos nomes dos acidentes humanos colônias, vilas, povoados, aldeias indígenas, municípios e aos nomes de acidentes físicos cabeceiras, córregos, corixos, baías, lagoas, morros, ilhas, serras, rios, vazantes registrados nas folhas cartográficas eleitas como fontes de dados. Consideramos, então, esta pesquisa como um estudo inicial, já que foi contemplada apenas uma parcela da toponímia local, razão pela qual os resultados por ora observados não sejam de cunho conclusivo, pois apontam tendências e particularidades observadas no estudo do recorte selecionado para o estudo. O principal objetivo da pesquisa foi o de coletar, o de catalogar e o de analisar os topônimos dos acidentes físicos e humanos das localidades selecionadas. Os dados foram classificados, fundamentalmente, segundo o modelo taxionômico proposto por Dick (1992), o que permitiu a busca da possível motivação da toponímia da localidade em seu conjunto, além de evidenciar fatores de natureza geográfica e sociocultural, refletidos e preservados nos nomes dos acidentes físicos e humanos investigados, e de registrar a presença de estratos lingüísticos, principalmente, de base indígena na nomenclatura geográfica do recorte territorial estudado. Após a catalogação, a classificação e a análise dos dados, verificou-se que a toponímia local, em parte, representa a realidade porque a nomeação geográfica registrou tanto informações acerca de características de ordem física quanto de natureza sociocultural da região, o que comprovou a primeira hipótese proposta nesta pesquisa: o signo lingüístico em função toponímica o topônimo foi influenciado por particularidades lingüísticas, sócio-histórico-culturais e geográficas da região que ficaram preservadas nos designativos dos acidentes físicos e humanos investigados. Desse modo, pôde-se, por hora, perceber que elementos de ordem física do próprio ambiente estão refletidos na nomeação dos acidentes físicos e humanos estudados, principalmente a flora, a fauna e os cursos d água, uma vez que predominaram, na classificação taxionômica, topônimos de natureza física na seguinte ordem: fitotopônimos

169 169 com 19,19 % das ocorrências, zootopônimos com 13,98 % e hidrotopônimos com 12,60 %. Já em relação às categorias de natureza antropo-cultural, faz-se necessário destacar que a toponímia examinada também revelou a influência de aspectos de ordem religiosa, hagiotopônimos e hierotopônimos, com 7,58 %; de ordem histórica, antropotopônimos, com 6,64 %; de estado de espírito frente à realidade, animotopônimos, com 5,45 %; de aspectos culturais presentes em designativos que recuperaram objetos da cultura material geral do Brasil, mas também da cultura local incorporados nos ergotopônimos, com 4,50 %; os sociotopônimos, com 3,32 %, que recuperam designativos de lugares de atividades que foram ou ainda são comuns na região. A análise das diferentes categorias taxionômicas permitiu-nos, desse modo, confirmar o caráter motivacional do signo toponímico e evidenciar que o nome geográfico, além de identificar e individualizar um acidente, guarda também em sua substância de conteúdo uma significação que vai além do simples fato de dar um nome a um acidente físico ou humano. Os fitotopônimos, por exemplo, parecem recuperar plantas nativas da região. Muitas dessas plantas que servem como fonte onomástica, são consideradas medicinais como o paratudo, a lixa e, de acordo com o conhecimento comum do grupo, podem curar algumas doenças do homem que mora na localidade, já que muitas vezes, longe dos recursos da medicina, utiliza as plantas como remédio. Exemplificam isso topônimos como lago Paratudal (AF/Cor) e córrego Lixa (AF/DIB). Há ainda outras plantas que possuem utilidade prática na vida cotidiana dos moradores da região, como as palmeiras acuri, babaçu, cujas folhas servem também para cobrir os ranchos provisórios de moradores do Pantanal, evidenciados pelos topônimos córrego Palmeira (AF), córrego Acurizal (AF). De um modo geral, percebeu-se que plantas presentes na fitogeografia regional serviram como fonte onomástica na toponímia local. Ilustram essa situação designativos como córrego Taquarussu (AF), córrego Buritizinho (AF), córrego Taquaral (AF), córrego Campina (AF), córrego Mangaval (AF), córrego Jenipapo (AF), córrego Pitangueira (AF), povoado Urucum (AF), lagoa Paratudal (AF), povoado Carandazal (AF), córrego Baguaçu (AF), povoado Cedral (AF), povoado Ingazeiro (AF). Os zootopônimos também demonstraram que nomes de animais presentes no ecossistema da região pesquisada foram recuperados na nomenclatura geográfica, como lagoa da Onça (AF), ilha Sucuri (AF), serra Papagaio (AF), córrego Tamanduá (AF), córrego Seriema (AF), córrego Formiga (AF), córrego Anta (AF), rio dos Cabritos (AF),

170 170 vazante do Periquito (AF), ilha das Gaivotas (AF), morro Pacu (AF), morro do Malhadão (AF). Também os topônimos resultantes de correntes hídricas ou que recuperam o valor semântico de água foram bastante produtivos na região, com a tendência à toponimização. Esse fenômeno, que pode ser ilustrado pelos topônimos vazante Vazantinha (AF), rio Cachoeirão (AF), Córrego Lagão (AF), córrego Sanga Funda (AF), parece descrever o ambiente físico referindo-se aos tipos de correntes hídricas presentes na localidade. A recorrência a nomes de índole zoonímica, vegetal e resultantes de correntes hídricas pode ser explicada pela própria inter-relação entre o ambiente físico e social no cotidiano do homem que habita na região, já a região pesquisada, sobretudo o espaço do pantanal, leva o habitante a depender do ambiente físico, uma vez que é natural ocorrerem enchentes e secas periódicas e, apesar do avanço dos recursos tecnológicos, há alguns anos mais escassos, esses problemas naturais não foram resolvidos. Desse modo, pode-se depreender que as enchentes e secas podem gerar uma interdependência entre os elementos naturais e o homem que habita esse espaço geográfico, levando a natureza física a exercer grande importância na vida cotidiana, o que explica o fato, por exemplo, de o homem pantaneiro observar o comportamento de alguns animais e a partir daí fazer a previsão do tempo o canto do bugio na mata anuncia mudança de tempo, a presença de garça nas partes altas dos campos indica grandes enchentes. As correntes hídricas também consistem em importante fonte de desenvolvimento, tanto na época da colonização do Estado, quanto na atualidade, já que os rios possibilitaram aos bandeirantes e aos monçoeiros adentrarem na região e, ainda, serviram de fonte de alimento para esses grupos e para os que passaram a residir na localidade, pois os rios da região sempre foram ricos em pescados e às suas margens abundavam, antigamente, muito mais, a caça. O surgimento dos primeiros povoados de Porto Murtinho, de Anastácio, de Aquidauana, de Corumbá, de Guia Lopes da Laguna comprovam a importância das correntes hídricas da região na vida dos seus moradores. Outro dado importante a ser destacado é o fato de os nomes geográficos de índole animal e vegetal, analisados neste trabalho, serem em grande número de origem tupi e, considerando o conceito de Sampaio (1987) de que nomes de origem indígena possuem um caráter descritivo inegável, a produtividade de designativos nas categorias fitotopônimos e zootopônimos, de origem indígena, pode justificar que realmente há uma correspondência entre a flora e a fauna e a nomenclatura geográfica estudada. Conseqüentemente, isso também demonstra que a língua sofre influências do quadro ambiental, neste caso, mais do

171 171 físico, o que pode ocorrer quando o homem valoriza um traço ambiental de interesse do grupo, já que a simples presença ou existência de uma espécie vegetal ou animal, ou de um curso d água na localidade não é prerrogativa para influenciar o processo denominativo. A análise dos dados também permitiu verificar que, além da valorização da fauna, da flora e dos cursos d água, outras características do meio sugerem uma correspondência entre o nome geográfico e a condição determinativa, como é o caso da categoria litotopônimos, topônimos motivados por aspectos de índole mineral, na qual se verificou, principalmente, a recorrência ao designativo pedra, ou a nomes que possuem um conteúdo semântico ligado a esse mineral, como por exemplo laje. Os seguintes topônimos exemplificam essa situação: município de Corumbá (AF), córrego das Pedras (AF), córrego Lajeado (AF), córrego Itá (AF/BV), córrego Pederneira (AF/Bod). Citamos ainda, como exemplo, o topônimo Pantanal (AF), relativo a uma das características do solo mais evidente, os imensos lodaçais que se formam quando as águas baixam, após a ocorrência de uma enchente, fenômeno natural, comum e periódico em grande parte da região pesquisada. Diante do exposto, percebeu-se ainda que designativos que integram o vocabulário comum da língua podem passar à categoria de nomes próprios que, ao mesmo tempo em que nomeiam um acidente, descrevem também a realidade do ambiente regional. Já dentre as taxes pertencentes à categoria de natureza antropo-cultural, destacamos os hierotopônimos que recuperaram nomes de santos do hagiológio romano como serra São Miguel (AF), corixão Santa Rita (AF), córrego São João (AF), seguindo uma tendência já constatada na toponímia brasileira por Dick (1990), religiosidade herdada ainda de nossos colonizadores; os antropotopônimos que recuperam nomes de pessoas, nos designativos dos acidentes geográficos da localidade parecem incorporar nomes de personalidades históricas da região, como vila Albuquerque (AH), lagoa Leverger (AF), distrito de Taunay (AF), rio Miranda (AF), município de Guia Lopes da Laguna (AF), vila Camisão (AF). Já os ergotopônimos, além de incorporarem designativos de elementos da realidade brasileira como um todo, refletem, algumas vezes, características da cultura regional, como o topônimo rio Tereré (AF), que recupera o nome de uma bebida muito consumida na região; e características da vida rural como nos termos que nomeiam objetos utilizados na atividade campesina, do trato com o gado e da vestimenta para o trabalho no campo como cangalha, porteira, chapéu, sombrero, recuperados em nomes de acidentes como córrego Cangalha (AF), córrego da Porteira (AF), morro do Chapéu (AF), córrego Sombrero (AF). Outro dado de igual relevância observado na nomenclatura investigada foi a

172 172 incorporação de nomes ligados à pecuária, principal atividade econômica do estado de Mato Grosso do Sul, na toponímia local, o que transparece sobretudo ao agruparmos alguns topônimos em um mesmo campo de significação. Atestam isso os topônimos morro do Malhadão (AF), córrego Cangalha (AF), córrego do Burro (AF), córrego do Boi (AF), córrego da Porteira (AF). Por ora, registra-se também que o estudo dos nomes geográficos das microrregiões permitiu-nos verificar que a nomeação de acidentes físicos e humanos não é aleatória, pois, no momento de nomeá-los, podem concorrer vários fatores de ordem lingüística e extralingüística. Por meio dos recursos lingüísticos, busca-se a adequação do nome ao referente, e por meio da análise de fatores extralingüísticos evidenciam-se na nomenclatura local aspectos da necessidade de sobrevivência, de crenças, de costumes, de atividades econômicas, de fatos históricos do grupo humano habitante da região pesquisada, que são significativos não só para o denominador, mas também para o grupo como um todo. Diante do exposto, vale registrar que os dados permitiram a confirmação da primeira hipótese estabelecida pela pesquisa, da mesma maneira que a segunda os topônimos da região estudada revelam estratos lingüísticos oriundos das línguas das diferentes etnias presentes na formação da população que habita e/ou habitou a área geográfica estudada. Além de topônimos da língua portuguesa, registramos topônimos de base tupi, de base guarani e de base guaikuru, com maior incidência de topônimos da língua portuguesa, fator que pode estar relacionado ao privilégio de que se revestiu como língua materna imposta pelo colonizador português. Entretanto, a nomenclatura geográfica, aqui pesquisada, não ficou indiferente a outros estratos lingüísticos, como é o caso da presença da língua tupi, principalmente nos fitotopônimos e nos zootopônimos, o que pode ser explicada, em parte, pelo fato de que muitos termos de origem tupi já estão incorporados ao léxico da língua portuguesa, mas também pode ser em decorrência das viagens de bandeirantes portugueses que viajaram pela região por mais de cem anos acompanhados por falantes do tupi. Também foi possível perceber estratos de outras línguas indígenas como a de base guarani e a de base guaykuru, em menor recorrência, se comparadas a tupi, o que, a nosso ver, não anula a importância da presença dessas línguas na nomenclatura regional, que denotam uma possível sobreposição lingüística na toponímia da região e, desse modo, talvez um estudo mais específico a partir de outras fontes poderia comprovar essa hipótese e resgatar um número maior de designativos de origem lingüística de outras etnias na nomenclatura local. Ainda sobre estratos lingüísticos, registramos a presença do espanhol

173 173 na toponímia estudada, o que pode ser explicado pela posição de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, mas também pode ser devido ao contato entre os dois países desde o início de suas colonizações, uma vez que grande parte da região em estudo faz fronteira com o Paraguai. Também pode ser pela migração de paraguaios para o Brasil, após a Guerra do Paraguai, que forneceu mão-de-obra barata aproveitada nos ervais brasileiros, uma vez que os trabalhadores paraguaios dominavam a técnica de extração da erva-mate. A investigação dos dados levou-nos também a perceber que, além de uma investigação sincrônica da toponímia, como a aqui realizada, o estudo dos nomes geográficos permite outros recortes de investigação, como por exemplo, o diacrônico com fontes em mapas antigos, o que poderia demonstrar outro quadro toponímico da região. Por fim, há que se registrar que para análise dos dados, limitou-nos a falta de estudos específicos da geografia regional, as informações de fontes históricas que muitas vezes se revelaram contraditórias e ainda a inexistência de estudos e descrições de línguas indígenas de etnias que viveram ou vivem na região, como por exemplo, a guaikuru. Ainda assim, acreditamos que os objetivos propostos foram atingidos e esperamos que este trabalho possa ter contribuído, em parte, uma vez que não se constitui como uma pesquisa conclusiva, para o conhecimento da realidade da região, tendo em vista que a toponímia local revelou a estreita relação entre os designativos e o ambiente físico, bem como a relação com aspectos sócio-históricos e, ainda, a presença de grupos étnicos que habitaram e/ou habitam a localidade. Esperamos que este trabalho possa despertar o interesse por outras pesquisas na área da toponímia, o que para nós já teria atendido o maior de nossos objetivos, o de demonstrar a importância de pesquisas nessa área como fonte de conhecimento e de registro da região investigada, por meio do estudo da nomenclatura geográfica.

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176 176 FARIAS, O. O significado etimológico da palavra Aquidauana. In Revista Centenária Jornal O Pantaneiro Aquidauana. Cidade Centenária. 15 de agosto Centro de Documentação de História. Centro Universitário de Dourados UFMS: 1992, p Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: SERGRF IBGE, GUASCH, S. J. A.; ORTIZ, S. J. D. Dicionário castellano guarani; guarani castelhano. 13ª ed. Paraguay: Centro de Estúdios Paraguaios, GUÉRIOS, R.F.M. Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes, 3ª ed., São Paulo: Ave Maria Ltda, 1981 GUIMARÃES, A. V. Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica. Campo Grande/MS: Editora UCDB, Mato Grosso do Sul: história dos municípios. Campo Grande/MS: Editora UCDB, HOUAISS, A.; Villar, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-, SEPLANCT Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia: folhas 1, 2, 4, 5, 6,8,9, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23. Campo Grande /MS, 1987, escala 1: ISQUERDO. A. N. O fato lingüístico como recorte da realidade sócio-cultural Tese (Doutorado em Letras) Faculdade Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara-SP, 1996, p LYONS, J. Introdução à lingüística teórica. Tradução Rosa V. Mattos e Silva e Hélio Pimentel. São Paulo: Editora Nacional: Editora da Universidade de São Paulo, 1979, p Mapa do estado de Mato Grosso do Sul: IBGE, MELLO, R. S. de. Para além dos bandeirantes. Coleção General Benício, Vol 67: Biblioteca do Exército editora: São Paulo, NOGUEIRA, A. X. Pantanal. Homem e cultura. Campo Grande/MS: Editora UFMS, OLIVEIRA, B. C. de. A política do estado Novo em Mato Grosso Dissertação (Mestrado em Letras) Faculdade Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, 1999 p páginas. PROENÇA, C. A. Corumbá de todas as graças. Gráfica e Editora Ruy Barbosa, Campo Grande/MS: s.d.

177 177 RAVAGNANI, G. T. P.; RASLAN, L. L. Características do Mato Grosso do Sul. Estado de Mato Grosso do Sul. Secretaria de educação. Coordenadoria geral de educação. Centro de documentação CEUD/UFMS, Dourados/MS: s.d. RICARDO, C. Marcha para Oeste. Coleção documentos brasileiros. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, SALAZAR-QUIJADA, A. La toponímia en Venezuela. Caracas: Universidad Central de Venezuela, Faculdad de Ciencias Económicas y Sociales, SAMPAIO, M. A. Vocabulário guarani português. Porto Alegre RS: L & PM, SAMPAIO, T. O tupi na geografia nacional. 5ª ed., São Paulo: Editora Nacional, SAPIR, E. Língua e ambiente. Lingüística como ciência. Ensaios. Tradução Joaquim Mattoso Câmara Jr. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, SCHNEIDER, M. Um olhar sobre os caminhos do Pantanal Sul-mato-grossense: a toponímia dos acidentes físicos, , Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Federal de Mato grosso do Sul, Três Lagoas. SCOPEL, J. P. Orações e santos populares. 60 ª ed., Canoas RS: Salles Editora, SEREJO, H. Caraí. In: Ciclo da erva-mate em Mato Grosso do Sul. Série histórica. Coletânia. Campo Grande: Instituto Euvaldo Lodi, p SGARBOSSA M.; GIOVANNI, L. Um santo para cada dia. 5ª ed., São Paulo: Editora Paulus, SOUSA, P. R. de. Porque Bonito é Bonito. SCREMIN, E. D.; SOUZA, P. R. de (Orgs.). Nos jardins submersos da Bodoquena. Guia para identificação de plantas aquáticas de Bonito e região. Campo Grande/MS: UFMS, 1999, p SOUZA, L. G. de. Bacia do Paraguai: geografia e história. Ministério da educação e Cultura: Departamento de documentação e divulgação, Brasília: TAUNAY, V. A retirada da Laguna. Episódio da guerra do Paraguai. 16ª ed., São Paulo: Edições Melhoramentos, Memórias do Visconde de Taunay. Vol. VI. São Paulo: Edições Melhoramentos, Paizagens brasileiras. São Paulo: Editora Comp. Melhoramentos de São Paulo: São Paulo, TEIXEIRA, J. A. Bodoquena: luta e glória de um povo. 2ª ed. Centro de documentação CEUD/UFMS, Dourados/MS: 1989.

178 178 ULLMANN, E. Semântica. Uma introdução à ciência do significado. Tradução: J. A. Osório Mateus. 4ª. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, VASCONCELLOS, J. L. Opúsculos Vol. III: Onomatologia. Coimbra: Imprensa da Universidade, VASCONSELOS, C. A. A questão indígena na província de Mato Grosso. Conflito, trama e continuidade. Campo Grande/MS: Editora UFMS, 1999.

179 ANEXOS 179

180 180 Anexo I - Lista de topônimos investigados por (SCHNEIDER, 2002) ARROIOS Arroio Conceição (SRNab) BAÍAS Baía Negra (SRNab) Baía de Santana (SRPar) Baía do Cordeiro (SRN) Baía Grande (SRPM) Baía Pedro Batista (SRNab) Baía dos Periquitos (SRPar) Baía Piranha (SRPM) Baía Salina (SRNab) Baía dos Touros (SRNab) CORIXOS Corixo Acupari (SRNab) Corixo Benjamin (SRP) Corixo da Canoa (SRNab) Corixo Capivara (SRP) Corixo dos Cavalos (SRN e SRAb)) Corixo do Cerrado (SRAb) Corixo do Meio (SRP) Corixo dos Porcos (SRN) Corixo dos Touros(SRNab) Corixo do Veado Gordo (SRNab) Corixo Jacaré (SRNab) Corixo Jaquatirica (SRP) Corixo João Leme (SRN) Corixo Mandioca Brava (SRPar) Corixo Namocoli (SRNab) Corixo Negrilho (SRNab) Corixo Negrinho (SRP) Corixo Sabiá (SRP) Corixo São Domingos (SRP) Corixo São Sebastião (SRNab) Corixo Pacu (SRP) Corixo Trinta e Nove (SRNab) Corixo Tunac (SRNab) CÓRREGOS Córrego Agachi (SRM) Córrego Aguada (SRAq) Córrego Anhuma (SRN) Córrego Água Branca (SRAq) Córrego Água Doce (SRPM) Córrego Água Fria (SRNab) Córrego Alegre (SRPM) Córrego Alegria (SRN) Córrego Azul (SRNab) Córrego Baía das Amoreiras (SRNab) Córrego Baguari (SRP) Córrego Banda Alta (SRNab) Córrego Bodoquena (SRNab) Córrego Brabo (SRNab) Córrego Buracão (SRPM) Córrego Buriti Vermelho (SRP) Córrego Cabrito (SRPM) Córrego Caititu (SRPM) Córrego Capivara (SRNab e SRPM) Córrego Chatelodo (SRPM) Córrego Cervo (SRPM) Córrego Cervo Novo (SRN)

181 181 Córrego Congonha (SRPM) Córrego do Cervo (SRN) Córrego da Figueira (SRN) Córrego das Flores (SRP) Córrego da Piúva (SRAq) Córrego da Porteira (SRPM)p Córrego do Abrigo (SRN e SRNab) Córrego do Otávio (SRNab) Córrego do Veado (SRNab) Córrego dos Porcos (SRPM) Córrego Divisa (SRAq) Córrego Dois Córregos (SRAq) Córrego Congonha (SRNab) Córrego Fortaleza (SRN) Córrego Fundo (SRPM) Córrego Getúlio (SRNab) Córrego Jatobá (SRAq) Córrego Jibóia (SRNab) Córrego Laranjal (SRAq e SRM)) Córrego Lajeado (SRPM) Córrego Liema (SRNab) Córrego Louco (SRPM) Córrego Mastigo (SRNab) Córrego Matança (SRNab Córrego Mutum (SRNab) Córrego Papagaio (SRPM) Córrego Piranema (SRP) Córrego Piranha (SRAq) Córrego Progresso (SRPM) Córrego Proteção (SRAq) Córrego Pulador (SRAq) Córrego Rapadura (SRPM) Córrego São Carlos (SRNab) Córrego São Claro (SRPM) Córrego São Romão (SRN Córrego São Paulo (SRPM) Córrego Santa Marina (SRPM)) Córrego Santa Rosa (SRPM) Córrego Sara (SRPar) Córrego Serrinha (SRNab) Córrego Sucuri (SRN e SRNab) Córrego Tarumã (SRNab) Córrego Triunfo (SRPM) Córrego Tuna (SRPM) Córrego Valinho (SRN) ILHAS Ilha Caraguatá (SRPar) Ilha da Figueira (SRPar) Ilha da Onça (SRPM) Ilha de Santana (SRPar) Ilha do Alegre (SRP) Ilha do Castelo (SRPar) Ilha do Capão Queimado (SRNab) Ilha do Chapéu (SRNab) Ilha do Figueirinha (SRNab) Ilha do Jacaré (SRNab) Ilha do Mato Grande (SRPar) Ilha do Puga (SRNab) Ilha do Rio Negro (SRNab) Ilha do Sobradinho (SRPar) Ilha do Velho (SRP) Ilha Fecho dos Morros (SRPM) Ilha Fernandes Braga (SRNab) Ilha Florinda (SRPM) Ilha Formosa (SRPM) Ilha Jequeri (SRNab) Ilha Laranjeira (SRPar)

182 182 Ilha Mandunã (SRPM) Ilha Maria (SRPM) Ilha Miguel Henrique (SRPar) Ilha Santa Fé (SRPar) Ilha Santa Maria (SRPM) Ilha Santa Rosa (SRNab) Ilha São Manoel (SRNab) Ilha Patativa (SRNab) Ilha Ponto Novo (SRNab) Ilha Porto Carrero (SRNab) Ilha Porto Novo (SRNab) Ilha Sepultura (SRNab) LAGOAS Lagoa das Garças (SRNab) Lagoa do Arroz (SRNab) Lagoa do Colarinho (SRNab) Lagoa do Joanino (SRNab) Lagoa Negra (SRNab) MORRARIAS Morraria Coimbra (SRNab) Morraria do Albuquerque (SRPar) Morraria do Azeite (SRNab) Morraria do Baú (SRNab) Morraria do Caieira (SRPar) Morraria do Jacadigo (SRNab) Morraria do Mato Grande (SRNab) Morraria do Pantanal (SRNab) Morraria do Rabichão (SRNab) Morraria do Sajutá (SRNab) Morraria do Urucum (SRNab) Morraria do Zanetti (SRNab) Morraria Grande (SRNab) Morraria Santa Rosa (SRPar) Morraria Santa Teresa (SRPar) Morraria Pelada (SRNab) MORROS Morro Azul (SRNab) Morro Boa Vista (SRNab) Morro Cabeça de Boi (SRNab) Morro Caracanã (SRPar) Morro da Arara (SRNab) Morro da Paca (SRNab) Morro do Pantanal (SRNab) Morro da Pimenta (SRNab) Morro do Bugio (SRNab) Morro do Conselho (SRNab) Morro do Chané (SRPar) Morro do Chapéu (SRNab) Morro do Padre (SRNab) Morros do Puga (SRNab) Morro do Singular (SRNab) Morro Comprido (SRNab e SRPar) Morro Grande (SRNab) Morro Limoeiro (SRNab) Morro do Sargento (SRPar) Morro Novos Dourados (SRP) Morro Pão de Açúcar (SRPM) Morro São Domingos (SRN) Morro São Pedro (SRNab) Morro Solteiro (SRNab) Morro Vermelho (SRNab) RIBEIRÕES Ribeirão Caracol (SRN)

183 183 RIOS Rio Abobral (SRAb) Rio Aquidabã (SRNab) Rio Aquidauana ( SRAq) Rio Amonguipá (SRPM) Rio Apa (SRPM) Rio Areião (SRPar) Rio Branco (SRPM) Rio Caracol (SRPM) Rio Capivari (SRN) Rio Corrente (SRP) Rio Criminoso (SRN) Rio dos Periquitos (SRPar) Rio Formoso (SRP) Rio Marcelino (SRP) Rio Miranda (SRN, SRAb e SRAq) Rio Nabileque (SRNab) Rio Naitaca (SRNab) Rio Negrinho (SRP) Rio Negro (SRN, SRAb e SRNab) Rio Novo (SRNab) Rio Perdido (SRPM) Rio Piquiri (SRP) Rio Paraguai (SRPar, SRP, SRN, SRNab e SRPM) Rio Paraguai Mirim (SRP) Rio Salobra (SRM) Rio Verde (SRNab) Rio São Lourenço (SRP) Rio Salobra (SRAq) Rio Velho (SRP) Rio Vermelho (SRP) Rio Verde (SRN) Rio Vermelho (SRAb) Rio Taquari (SRP) Rio Tabaco (SRAq) Rio Tarumã (SRPM) TIL Rio Tereré (SRPM) SERRAS Serra do Amolar Serra dos Touros (SRNab) Serra Isolada (SRNab) VAZANTES Vazante Alegria (SRAq) Vazante Aguaçu (SRP) Vazante Aguassuzinho (SRN) Vazante Angical (SRAq) Vazante Apertado (SRPM) Vazante Aroeira (SRP) Vazante Arrozal (SRP) Vazante Baía Branca (SRNab) Vazante Baía Negra (SRNab) Vazante Caeté (SRN) Vazante Caetetu Magro (SRP) Vazante Caraguatá (SRN) Vazante Capivara (SRP) Vazante Capivarí (SRN) Vazante Castilha (SRAq) Vazante Castilha (SRPar) Vazante Castelo (SRN) Vazante da Margarida (SRNab) Vazante da Divisa (SRAq) Vazante da Garça (SRN) Vazante da Marreca (SRP) Vazante da Pedra (SRP)`` Vazante do Almoço (SRN) Vazante do Arroz (SRN)

184 184 Vazante do Baio (SRP) Vazante do Bocó (SRP) Vazante do Bugio (SRN) Vazante do Papagaio (SRN) Vazante do Pato (SRN) Vazante Bracinho (SRN) Vazante Bocaina (SRNab) Vazante Cambará (SRP) Vazante Cinqüenta (SRP) Vazante do Brejão (SRN) Vazante do Carro (SRP) Vazante do Corixão (SRN) Vazante do Corixinho (SRN) Vazante do Estevão (SRN) Vazante do Fuzil (SRP) Vazante do Lara (SRP) Vazante do Ranchinho (SRN) Vazante do Salto (SRN) Vaz. Jacaré (SRPM) Vazante Lambe Olho (SRNab) Vazante Landi (SRN) Vazante Landizinho (SRP e SRN) Vazante Formosa (SRP) Vazante Formosa (SRNab) Vazante Grande (SRN) Vazante Ingá (SRAq) Vazante Mangabal (SRN e SRAq) Vaz. Mandunã (SRPM) Vazante Pantanalzinho (SRNab) Vazante Pandovi (SRP) Vazante Panela (SRPM) Vazante Pranchada (SRPM) Vazante Piauí (SRAq) Vazante Quaxi (SRN) Vazante Ressaca (SRAq) Vazante Riozinho (SRP) Vazante São Bento (SRPM) Vazante São Francisco (SRP) Vazante Santana (PAb) Vazante Santana (SRAq) Vazante Santa Clara (SRAq) Vazante Santa Maria (SRP) Vazante Santa Rita (SRP) Vazante Tarumã (SRP) Vazante Tendal (SRP) Vazante Vista Alegre (SRAq) Vazante Uval (SRP) VOLTAS Volta de Santana (SRPar) Volta do Jatobá (SRPar) Volta do Mirim (SRPar)

185 185

186 186

187 187

188 188

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