Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2017/ ) RELATORA RECORRENTE ADVOGADOS RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : COOPERATIVA REGIONAL AURIVERDE : PAULO ANDRÉ GOLLMANN E OUTRO(S) - SC ÂNGELA FABIANA BEUTLER - SC : C.R.F. : DANIEL BAVARESCO MALLMANN - RS EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. NECESSIDADE DE PRÉVIA INTIMAÇÃO DO CREDOR-EXEQUENTE. 1. Execução de título extrajudicial ajuizada em 04/05/2007, da qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 25/11/2016 e concluso ao gabinete em 26/04/ O propósito recursal é dizer, à luz do CPC/73, sobre a necessidade de prévia intimação pessoal do credor-exequente, quando suspensa a execução por ausência de bens penhoráveis, antes de o juiz pronunciar a prescrição intercorrente. 3. A Terceira Turma, valendo-se, por analogia, do que prevê o art. 40, 2º, da Lei 6.830/80, firmou a tese de que, na ausência de bens penhoráveis do executado, e não tendo o juiz fixado outro prazo, a execução se suspende por 1 ano, findo o qual se inicia a contagem do prazo prescricional, nos termos da súm. 150/STF. 4. Antes de pronunciar a prescrição intercorrente, deve o credor-exequente ser intimado, a fim de que, no exercício regular do contraditório, tenha a oportunidade de comprovar a eventual existência de fatos impeditivos à incidência da prescrição. Precedentes da Terceira Turma. 5. Recurso especial conhecido parcialmente e, nessa parte, provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 19 de setembro de 2017(Data do Julgamento) Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 1 de 8

2 MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 2 de 8

3 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2017/ ) RELATORA RECORRENTE ADVOGADOS RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : COOPERATIVA REGIONAL AURIVERDE : PAULO ANDRÉ GOLLMANN E OUTRO(S) - SC ÂNGELA FABIANA BEUTLER - SC : C.R.F. : DANIEL BAVARESCO MALLMANN - RS RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR): Cuida-se de recurso especial interposto por COOPERATIVA REGIONAL AURIVERDE, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional. Recurso Especial interposto em: 25/11/2016. Concluso ao gabinete em: 26/04/2016. Ação: de execução de título extrajudicial, ajuizada pela recorrente, em face de C.R.F., na qual requer o pagamento da quantia total de R$ ,54, consubstanciada em quatro duplicatas mercantis com vencimento em 20/12/2006, 27/12/2006, 17/01/2007 e 27/01/2007, no valor de R$ 7.950,00 cada uma. Sentença: extinguiu o processo, com resolução do mérito, nos termos do art. 269, IV, do CPC/73, em virtude da prescrição intercorrente. Acórdão: negou provimento à apelação interposta pela recorrente, nos termos da seguinte ementa: APELAÇÃO CÍVEL EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DUPLICATA MERCANTIL PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE INTIMAÇÃO PESSOAL DESNECESSIDADE. REVISÃO DE POSICIONAMENTO. PRECEDENTES STJ. 1. A prescrição é instituto criado com o objetivo de estabilizar relações jurídicas perpetradas no tempo, penalizando o credor pela inércia em exercer seu direito em face do devedor, extinguindo, por conseguinte, o direito do primeiro de exercer sua pretensão em juízo. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 3 de 8

4 2. Verificado que a paralisação do feito por aproximadamente 07 (sete) anos, sem que a parte credora tivesse tomado as diligências cabíveis para o prosseguimento da execução, mostra-se correta a sentença lançada que reconheceu a prescrição intercorrente. 3. Em decorrência de alteração da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, via Recurso Especial /MS, ao que se adita o novel Código de Processo Civil, procedo na alteração de entendimento anterior para expressar que é desnecessária a intimação pessoal prévia do credor para andamento do feito, conforme exigia a Súmula 240 do STJ. 4. Apelo improvido. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. (e-stj, fl. 90). como dissídio jurisprudencial. Recurso especial: alega violação do art. 791, III, do CPC/73, bem Sustenta que a sentença foi prolatada sobre a égide do CPC/73, na qual prevalecia o entendimento de que o início do prazo prescricional intercorrente no período em que a execução se encontrava suspensa (por ausência de localização de bens passíveis de penhora) estava condicionado à inércia do credor, depois de intimado a diligenciar. Alega que, embora tenha ocorrido a paralisação do processo, não o foi por desídia da recorrente, mas por ausência de bens penhoráveis da recorrida, e que ademais disso, não houve a intimação pessoal da recorrente para impulsionar o feito, razão pela qual se torna inviável o reconhecimento da prescrição intercorrente e devida a reforma do decisum (fls , e-stj). É o relatório. RELATORA RECORRENTE ADVOGADOS RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : COOPERATIVA REGIONAL AURIVERDE : PAULO ANDRÉ GOLLMANN E OUTRO(S) - SC ÂNGELA FABIANA BEUTLER - SC : C.R.F. : DANIEL BAVARESCO MALLMANN - RS VOTO O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR): Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 4 de 8

5 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2017/ ) O propósito recursal é dizer sobre a necessidade de prévia intimação pessoal do credor-exequente, quando suspensa a execução por ausência de bens penhoráveis, antes de o juiz pronunciar a prescrição intercorrente. 1. Da fundamentação deficiente Constata-se, da leitura das razões do recurso especial, que, quanto ao alegado equívoco do acórdão, porque a decisão colegiada se apresenta lastreada na novel legislação processual civil e no entendimento jurisprudencial que vem se formando em razão dela (fl. 108, e-stj), a recorrente não indica violação de qualquer dispositivo infraconstitucional, o que importa na inviabilidade do recurso especial ante a incidência da Súmula 284/STF. De mais a mais, ao contrário do que afirma a recorrente, o TJ/RS baseou-se na orientação exarada por esta Turma no julgamento do REsp /MS, em 06/10/2015; anterior, portanto, à entrada em vigor do CPC/ Da necessidade de prévia intimação do credor-exequente para o reconhecimento da prescrição intercorrente da pretensão executória A prescrição é instituto que objetiva evitar o estado de intranquilidade social. Não por outro motivo, nosso ordenamento jurídico disciplina a prescrição como regra e a imprescritibilidade como exceção. Nessa linha, o art. 921 do CPC/15 prevê que a suspensão da execução se limita ao prazo de 1 ano, quando o executado não possuir bens penhoráveis, estabelecendo, ainda, que, uma vez transcorrido aquele prazo, sem manifestação do exequente, começa a correr o prazo da prescrição intercorrente, a qual pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, depois de ouvidas as partes. O CPC/73, no entanto, não possui regra semelhante, dando azo à Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 5 de 8

6 intensa discussão nas esferas doutrinária e jurisprudencial. No âmbito do STJ, a 4ª Turma possui o entendimento de que não tem curso o prazo de prescrição intercorrente enquanto a execução estiver suspensa com base na ausência de bens penhoráveis (art. 791, III), exigindo-se, para o seu início, a intimação do exequente para dar andamento ao feito (AgInt no AREsp /SP, Quarta Turma, julgado em 09/05/2017, DJe de 16/05/2017). Esta Turma, todavia, valendo-se, por analogia, do que prevê o art. 40, 2º, da Lei 6.830/80, firmou a tese de que, na ausência de bens penhoráveis do executado, e não tendo o juiz fixado outro prazo, a execução se suspende por 1 ano, findo o qual se inicia a contagem do prazo prescricional, nos termos da súm. 150/STF (REsp /MS, Terceira Turma, julgado em 06/10/2015, DJe de 13/10/2015). E, especificamente quanto à necessidade de prévia intimação do credor-exequente, decidiu esta Turma, mais recentemente, que o contraditório é princípio que deve ser respeitado em todas as manifestações do Poder Judiciário, que deve zelar pela sua observância, inclusive nas hipóteses de declaração de ofício da prescrição intercorrente, devendo o credor ser previamente intimado para opor algum fato impeditivo à incidência da prescrição (REsp /PR, Terceira Turma, julgado em 17/05/2016, DJe de 31/05/2016; REsp /SC, Terceira Turma, julgado em 22/09/2016, DJe de 30/09/2016). É dizer, a intimação, em hipóteses como a dos autos, é necessária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 6 de 8

7 apenas para que, em homenagem ao contraditório, o credor-exequente possa demonstrar a ocorrência de fato impeditivo à prescrição intercorrente e não para que dê andamento ao feito, como prevê o 1º do art. 267 do CPC/73. No particular, extrai-se do acórdão recorrido que, a contar de 30/10/2007 (fls. 34/35), nenhuma diligência foi tomada pela parte credora para fins de andamento da ação (...), tendo a parte somente em 2015 requerido o prosseguimento da execução. Assim, considerando-se suspensa a execução por 1 ano, iniciou-se, em outubro de 2008, a contagem do prazo prescricional de 5 anos. Então, de fato, o cenário delineado pelo TJ/RS induz a conclusão de que, em tese, operou-se a prescrição intercorrente da pretensão executória. Diz-se em tese porque a recorrente não foi previamente intimada, a fim de que, no exercício regular do contraditório, tivesse a oportunidade de comprovar a eventual existência de fatos impeditivos à incidência da prescrição. Forte nessas razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso especial e, nessa parte, DOU-LHE PROVIMENTO para anular a sentença e determinar o retorno dos autos ao Juízo de primeiro grau, a fim de que observe o devido processo legal, antes de eventualmente pronunciar a prescrição intercorrente da pretensão executória. CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2017/ PROCESSO ELETRÔNICO REsp / RS Números Origem: PAUTA: 19/09/2017 JULGADO: 19/09/2017 Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 7 de 8

8 Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA RECORRENTE ADVOGADOS AUTUAÇÃO : COOPERATIVA REGIONAL AURIVERDE : PAULO ANDRÉ GOLLMANN E OUTRO(S) - SC ÂNGELA FABIANA BEUTLER - SC RECORRIDO : C.R.F. ADVOGADO : DANIEL BAVARESCO MALLMANN - RS ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Títulos de Crédito - Duplicata CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e, nesta parte, deu-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze (Presidente) e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/09/2017 Página 8 de 8