Boca no trombone Fusca, o besouro mais querido

Transcrição

1 Boca no trombone Fusca, o besouro mais querido Lançado em 1939, ele chegaria ao Brasil em O modelo importado era o conhecido "Split Window", com vidro traseiro dividido em dois. Diante do sucesso, a empresa Brasmotor (hoje chamada Brastemp) começou a montar os veículos no bairro do Ipiranga (SP) em Não é qualquer carro que ganha tantos apelidos ao redor do mundo: fusca no Brasil, "käffer" na Alemanha, "beetle" no Reino Unido, "coccinelle" na França, volla na África do Sul, baratinha em Cabo Verde, peta em Bolívia, escaravelho em Portugal, "escarabajo" no Uruguai É difícil imaginar que um produto tão carinhosamente apelidado tenha sido encomendado por nada menos que o governo de Adolf Hitler, e lançado para ostentar o desenvolvimento tecnológico da Alemanha. Seu projeto é atribuído a Ferdinand Porsche, mas várias empresas estiveram envolvidas no processo de criação do Fusca, e até mesmo o próprio governo alemão. Isso culminou na fundação de uma fábrica dedicada exclusivamente ao modelo. Na época, as fábricas alemãs eram, em sua maioria, direcionadas a veículos de luxo, montados manualmente, o que os tornava excessivamente caros. O Fusca viria a ser um carro pequeno, econômico, eficiente e de fácil produção. Literalmente um Volkswagen: um carro do povo alemão. No ano de 1959 o Fusca passou a ser oficialmente produzido no país, com motor 1200 e 54% de componentes nacionais. Dentre as novidades, o novo volante cálice, maçanetas externas ganharam botão de acionamento, para-sol emborrachado, dínamo de 160 watts e janela traseira de tamanho maior e retangular. Em seu primeiro ano de produção local, o Fusca vendeu unidades foi o ano do lançamento do Fusca com teto-solar, que ficou conhecido como "Cornowagen". Logo o acessório foi rejeitado e muitos proprietários, incomodados com o apelido (segundo rumores, dado ao carro por um executivo da Ford), mandaram fechar o teto. Houve também mudanças nas lanternas que passaram a ser modelo "sorriso curto". Em 1967, a Volkswagen lançou motor 1300 cc com 46cv. Nas propagandas, apareciam os carros com uma cauda de tigre saindo da traseira em alusão a maior potência. Durante esta época, o Fusca sedimentou a Volkswagen no mercado nacional, permitindo o lançamento de vários derivados, tais como o VW 1600, a Variant, a Brasília e o Gol. Começa os anos de 1970 ganhando nova versão, apelidada de Fuscão, com motor 1500 de 52 cavalos, além de novas lanternas traseiras, parachoques mais resistentes, cintos de segurança e freios a disco. Vale lembrar que o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, deu 25 Fuscas aos vencedores da Copa do Mundo, do México. JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil. Editor: Leonardo Moreira. Mail: jornal@casadobrasil.com.uy

2 Em 1972 atinge-se a marca de 1 milhão de Fuscas vendidos. 6 anos depois, a versão sedã 1600 ganha lanternas estilo Fafá, ou seja, grandes e arrendondadas (numa referência aos seios da cantora brasileira, Fafá de Belem). Porém, em 1993 o então presidente Itamar Franco promoveu a Lei do carro popular, que previa isenções de impostos para os carros com motor 1.0. Assim, o Fusca foi relançado no ano seguinte, ganhando incluso uma versão movida exclusivamente a etanol. Mas o carro vendeu muito menos que da meta esperada. A chegada de concorrentes mais modernos -como o Fiat Uno e o Chevrolet Corsa- e de leis ambientais mais rígidas, decretaram o fim definitivo da fabricação do Fusca no Brasil. Ao final deste período, haviam sido produzidos em território brasileiro mais de 3 milhões de unidades. Em 1981 lança-se o Fusca 1300, com motor a álcool, e 1983 será o ano em que a Volkswagen muda a logotipia e resolve rebatizar o modelo no Brasil, adotando finalmente o nome que o tornara popular, Fusca. Até então o automóvel era oficialmente denominado "VW Sedan". Desde 1996, todo dia 20 de janeiro é comemorado o Dia Nacional do Fusca por amantes e colecionadores, que se reúnem para contar histórias de afeto sobre seus carros. Em 1986 a Volkswagen desistiu de fabricá-lo alegando que era um modelo muito obsoleto, apesar de ser ainda um dos carros mais vendidos daquela época. Um dos motivos era a necessidade de abrir espaço em linha de montagem da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) para os modelos Santana e Fox, a ser exportado para os Estados Unidos. Mão na roda Casa do Brasil reflete sobre O Brasil no mundo D ando começo ao terceiro e último Ciclo do ano, chamado Brasil no mundo, na sexta-feira 14 de setembro às 21 horas, haverá Charla & Caipirinha sobre O Brasil visto de fora, com os palestrantes Rafael Teixeira e Fábio Oliveira, ambos professores da CasaDoBrasil. Teixeira é licenciado em História (UVA-RJ) e membro da Comunidad de Aprendizaje del Departamento de Educación en Docencia (FHCE-UDELAR), enquanto Oliveira é historiador (PUC-RS) e pesquisador da arqueologia da escravidão (UDELAR). O convite á aberto para todo público, gratuito e com uma delícia de caipirinha. A Casa convida! Para o 29 de setembro está previsto o workshop: Samba no pé. Informe-se em Br. España, 2469 (esq. Prudencio Vázquez y Vega) ou ligue para o phone

3 Emblemas Os símbolos do Brasil Abandeira, o selo, as armas nacionais e o hino são os quatro símbolos oficiais do país. autenticar os atos de governo, assim como os diplomas e os certificados emitidos pelos estabelecimentos de ensino oficiais ou reconhecidos. Sua importância é fundamental, visto que denota autoridade e poder, podendo ser usado também para preservação de informações confidenciais. O selo nacional é formado por um círculo que representa uma esfera celeste, igual à da bandeira nacional, e tem ao seu redor as palavras: República Federativa do Brasil. Pode ser usado em sua versão colorida, com as cores da bandeira, ou em preto e branco. A bandeira nacional foi desenhada em 1889 por Décio Vilares, tendo sido inspirada na bandeira do Império. Fazem parte de sua composição um retângulo verde, um losango amarelo e um círculo azul que se sobrepõem. No círculo está atravessada uma faixa branca com o lema nacional Ordem e Progresso, acompanhada de vinte e sete estrelas brancas, que correspondem às unidades da federação. A cor verde representa as matas, a amarela, o ouro das minas, e a azul, o céu estrelado. Possui normas de apresentação, sendo hasteada diariamente nos órgãos públicos federais, estaduais e municipais e nas unidades da marinha mercante; nos dias de festa e luto nacional; e pelo menos uma vez por semana nas escolas. Como símbolo da pátria, a bandeira nacional permanece hasteada na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Quando precisa ser substituída, a nova bandeira é hasteada antes que a antiga seja retirada. O selo nacional é um sinal de autoridade e poder que deve ser sempre utilizado para As armas nacionais são representadas por um brasão encomendado pelo marechal Deodoro da Fonseca. O brasão nacional também está presente na faixa presidencial. Conta com a presença de um escudo azulceleste que contém cinco estrelas dispostas como na constelação Cruzeiro do Sul; ao seu redor, há uma bordadura de ouro que traz estrelas de prata em número igual ao das estampadas na bandeira nacional; sob o escudo está uma estrela partida e gironada; seus suportes são uma espada empunhada de ouro e uma coroa que tem de um lado ramos de café, no outro um de fumo; e, finalmente, abaixo se encontra o listel, onde se lê República Federativa do Brasil e as expressões 15 de novembro e Seu uso é obrigatório no palácio da Presidência da República, nas prefeituras, câmaras municipais e outros.

4 Ao pé da letra Hino Nacional Brasileiro Ohino brasileiro é um canto em louvor à pátria. A canção original não era oficial, além de ser bem diferente da atual, com versos que comemoravam a abdicação de Dom Pedro I. Após a Proclamação da República em 1889, um concurso foi realizado para escolher um novo Hino Nacional. A música vencedora, entretanto, foi hostilizada pelo público e pelo próprio Marechal Deodoro da Fonseca. Esta composição ("Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós!...") seria oficializada como Hino da Proclamação da República do Brasil, e a música original, de Francisco Manuel da Silva, continuou como hino oficial. Somente em 1906 foi realizado um novo concurso para a escolha da melhor letra que se adaptasse ao hino, e o poema declarado vencedor foi o de Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909, que foi oficializado por decreto do Presidente Epitácio Pessoa em 1922 e permanece até hoje. Há uma série de regras a serem seguidas no momento da execução do hino: todos devem estar de pé, militares devem estar em continência, e está proibida qualquer outra forma de saudação. Sua execução é permitida ainda na abertura de sessões cívicas, nas cerimônias religiosas de caráter patriótico e antes de eventos esportivos internacionais. Em 2009, tornou-se obrigatório tocar o hino nacional brasileiro nas escolas, de modo que todos os alunos do ensino fundamental devem cantá-lo pelo menos uma vez por semana. Ouviram do Ipiranga às margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante E o sol da liberdade em raios fúlgidos Brilhou no céu da Pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria Amada. Idolatrada. Salve! salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à Terra desce, Se em teu formoso céu risonho e límpido A imagem do Cruzeiro resplandece! Gigante pela própria natureza És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, entre outras mil, És tu Brasil, ó pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra mais garrida Teus risonhos lindos campos têm mais flores, "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio, "mais amores". "Ó Pátria amada. Idolatrada. Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado E diga ao verde-louro desta flâmula Paz no futuro e glória no passado. Mas se ergues da justiça a clava forte Verás que o filho teu não foge à luta, Nem teme quem te adora a própria morte. Terra adorada, entre outras mil, És tu, Brasil, ó pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria Amada, Brasil! Discos onde ouvir: Fafá de Belem - Aprendizes da esperança (1985) Sebastião Tapajós - Terra Brasis (1989) Miltinho Edilberto - Viola que fala (1997) Orquestra Paulistana de Viola Caipira (2003) Eliezer Setton - Brasil, Hinos à Paisana (2009)

5 De Oiapoque ao Chui Parque Nacional do Iguaçu C riado em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu fica em posição estratégica, na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, tornando-se o mais importante contínuo biológico da América do Sul. Com mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e outros 400 mil em florestas ainda primitivas, abrange três cidades: a brasileira Foz do Iguaçu -no extremo oeste do Estado do Paraná-, a paraguaia Ciudad del Este e a argentina Puerto Iguazú. É ali que o rio Iguaçu se encontra com o Rio Paraná e segue para a Argentina. No caminho, eles formam umas 275 quedas de água, que são consideradas uma das maiores belezas naturais do planeta. Esta maravilha não pode continuar a pertencer a um particular; eu vou a Curitiba falar com o presidente para providenciar imediatamente a expropriação das Cataratas. Três meses depois, ainda em 1916, o Estado do Paraná comprava o lote de terras com as Cataratas, graças à intervenção pessoal do autor dessa indignada frase, Santos Dumont, o pai da aviação, que acabara de conhecer a região. Em 1919, estava lavrada a escritura, mas somente em 1939 o Parque foi criado legalmente no Brasil e seu decreto recebeu emendas em 1944 e 1981, com o intuito de ampliar a área de abrangência. Os primeiros habitantes foram os indígenas das nações tupis-guaranis e grênscaingangues, das quais hoje se encontram sítios arqueológicos ao longo do caminho anteriormente utilizado para migrações entre o interior e a costa, durante o período précolombiano. Por decreto do Papa Alexandre VI, de 1494, denominado Tratado de Tordesilhas, a região pertencia à Coroa da Espanha, que a colonizou a partir do Vice- Reinado do Prata, que se estendia do Peru até a Argentina, sendo capital Assunção (atual capital do Paraguai), fundada em O navegador espanhol Alvar Nuñez Cabeza de Vaca admirou esta que é considerada uma das mais belas quedas-d água do mundo já em 1542, denominando-a Santa Maria. Mais tarde, os jesuítas fundaram várias missões na região, sendo uma delas Santa Maria, em cujo local teria existido a primeira oficina tipográfica no Novo Mundo, sendo ali impresso o primeiro dicionário guaraniespanhol, compilado pelo padre Antonio Luiz de Montoya em O ímpeto expansionista dos bandeirantes paulistas que dimensionaram o atual país-continente, Manoel Preto, em 1619, e Raposo Tavares, em 1629, frustraram as pretensões espanholas na região limítrofe dos três países que, pelo Tratado de Madri de 1750, passou legalmente a pertencer ao território brasileiro. O Parque Nacional do Iguaçu faz parte de um amplo platô, formado por lavas basálticas durante a era mesozóica, há mais de 135 milhões de anos, quando a Bacia do Paraná foi palco das maiores e mais intensas

6 atividades vulcânicas de toda a história geológica do planeta. Durante as tensões que redundaram na separação dos continentes africano e americano, as lavas ascenderam pelas falhas e fendas tectônicas, sem formar os típicos cones vulcânicos, cobrindo uma área de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados no Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. As ocorrências de basalto aconteceram durante um período de clima árido, e as lavas cobriram grande porção do imenso deserto triássico designado Botucatu. Entre os vários fluxos de lava, o vento do deserto continuou a depositar areia, originando assim camadas de arenito por entre as camadas de rocha basáltica. ensurdecedor das águas foi causado por Tarobá, guerreiro e namorado que raptara a bela virgem Naipi, que seria oferecida ao deus-serpente M Boi, filho de Tupã, que morava no calmo Rio Iguaçu. Raivoso, o deus desnivelou a terra precipitando a canoa dos amantes pela Garganta do Diabo, onde hoje vive a virgem no meio das espumas, enquanto Tarobá se ergue por entre as pedras transformado em árvore, contemplando-a por entre a brisa e o arcoíris. O Parque Nacional do Iguaçu protege uma riquíssima biodiversidade, constituída por espécies representativas da fauna e flora brasileiras, das quais algumas ameaçadas de extinção, como onça-pintada, puma, jacaréde-papo-amarelo, jaguatirica, papagaio-depeito-roxo, gavião-real, capivara, além de muitas outras espécies de relevante valor e de interesse cientifico. Essa expressiva variabilidade biológica, somada à paisagem singular de rara beleza cênica das Cataratas do Iguaçu, fizeram do Parque Nacional do Iguaçu a primeira Unidade de Conservação do Brasil a ser instituída como Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, no ano de O Rio Iguaçu nasce no reverso da Serra do Mar, a metros de altura, e em seu início recebe os dejetos da capital do Estado do Paraná, Curitiba. Seu curso atravessa a serrinha paranaense, segue rumo oeste por um sinuoso curso de mais de 300 quilômetros, indo desaguar no Rio Paraná, a apenas 90 metros acima do nível do mar. Sua vazão varia entre 300 e metros cúbicos, com média de metros cúbicos por segundo. A força das águas do Parque Iguaçu (do guarani, água-grande ) é a mesma que há 250 milhões de anos se precipita sobre as rochas, esculpindo esse ícone das belezas naturais da terra. Uma lenda indígena conta que o estrondo Quando e como chegar: O ingresso ao Parque ocorre diariamente, inclusive domingos e feriados, e a melhor época para visitá-lo é nos meses de dezembro e janeiro, quando o volume de água é maior. Para chegar lá, por via aérea, o Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, localiza-se exatamente no quilômetro 16 da BR 469, que é a que possibilita o acesso às cataratas. Por terra, uma opção é através da Ruta 8 até Aceguá e logo pegar as BR 153, 392 e 158.

7 Conversafiada Murilo Ramos: Brasília é uma grande síntese P rofessor da Faculdade de Comunicação na Universidade de Brasília e pesquisador do Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) desde quase quatro décadas, Murilo César Ramos deu um jeito na sua apertada agenda e esteve em Montevidéu para dar um curso e palestrar sobre sua especialidade: políticas públicas de comunicação. Também integrante do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) -que inclui a Agência Brasil, TV Brasil e as rádios Nacional e MECafirmou, uma e outra vez, que o mais importante que pode fazer este e qualquer governo é gerar um marco normativo que lhe ofereça à EBC uma verdadeira autonomia política e financeira. JornalDaCasa aproveitou para conversar com ele sobre a capital do Brasil, política e, claro, comunicação. - Você nasceu em Lages (SC) e até morou em Missouri (USA), onde fez um doutorado, mas desde os anos de 1970 mora em Brasília. Que de melhor e pior tem a capital do país? -Sou, de fato, catarinense de nascimento, e vivi durante alguns anos, como estudante de pós-graduação nos Estados Unidos. Mas, Brasília tornou-se desde 1974 a minha terra natal adotiva. São já 38 anos vividos aqui, bem mais que a metade dos meus 65 de idade. Além do mais, minha filha mais velha veio para Brasília com poucos meses de idade; a mais nova nasceu aqui, e já são três netos brasilienses. Não tenho como não me sentir também um brasiliense. A melhor coisa de Brasília eu descobri pouco tempo depois de mudar-me para cá; em Brasília, mais do que em qualquer outra parte do país, se conhece de verdade o Brasil. Em Brasília passei a conviver com brasileiros do Norte, Nordeste, do próprio Centro-Oeste, do Sudeste, além do meu Sul de origem. Essa cidade é uma grande síntese da nação, da diversidade de suas regiões, da nossa rica cultura. Mas, não estamos imunes aqui aos problemas do resto do país. Diferenças sociais, de classe; falta de segurança urbana; nossos políticos têm os vícios e as virtudes de seus colegas de outros estados. Até problemas de mobilidade urbana já temos nesta cidade de apenas 50 anos, projetada - que foi equivocadamente, reconheço- para o transporte individual. Aliás, como síntese do Brasil, o Distrito Federal, do qual Brasília é o núcleo central, não poderia deixar de reproduzir o que de bom e ruim o país tem, para mostrar a si e ao mundo. - Recentemente o sociólogo Chico de Oliveira afirmou que a política no Brasil está num lugar que não comove ninguém, que há um consenso muito raso, sem discordâncias. Porém, você afirmou que se vive uma forte polarização Lula - FHC. Existe realmente essa polarização ou é fabricada pela mídia? - Chico de Oliveira refere-se à polarização que existe entre o PT, de Lula, e o PSDB, de Fernando Henrique Cardoso. Uma polarização artificial, do ponto de vista político-ideológico, e nisso o grande sociólogo está certo, ao defender seu ponto de vista de que os dois partidos quase em nada se diferem hoje em suas práticas políticas, suas visões mais amplas de mundo, com destaque para as políticas macro-econômicas e as alianças de classe que as sustentam. A polarização a que me referi é meramente

8 eleitoral. As eleições hoje no país giram em torno desses dois partidos e seus aliados. Isso empobrece enormemente nosso debate político. - Nestes dias o Congresso está discutindo o projeto de lei sobre o marco civil da internet. De que forma pode afetar isso no dia-a-dia dos brasileiros? - É cedo ainda para se avaliar a proposta que o Congresso Nacional discute, de um marco civil para a internet no Brasil. Há que se esperar que a lei seja aprovada, para então se poder avaliar suas repercussões para o dia-a-dia dos brasileiros. Mas, duas coisas posso dizer com alguma segurança: a primeira é que esse projeto de lei pôs fim a outros, que tinham uma visão punitiva, um viés de criminalizar determinadas práticas e seus supostos responsáveis. Felizmente, sem deixar de atribuir responsabilidades e permitir a ação eventual da justiça, o atual projeto foi construído tendo a liberdade de expressão como premissa fundamental. A segunda, é que o atual projeto trouxe à baila a polêmica discussão sobre a neutralidade de rede. Discussão que está sendo muito rica, e sobre a qual ainda não formei um juízo definitivo. Não estou seguro ainda se a ideia de neutralidade beneficia acima de tudo a sociedade, ou se vai fortalecer grandes corporações como Google e Facebook, que estão entre os seus principais defensores, eles que representam uma ameaça terrível hoje às nossas vidas privadas. - Como você acha que o Brasil é percebido desde fora? E como gostaria de ser identificado? - É muito difícil fugir dos estereótipos na hora dessas discussões. Ora somos os campeões das desigualdades sociais, da corrupção, e do futebol e do samba. Ora nos tornamos campeões entre os chamados países emergentes, por reduzir desigualdades sociais, por ampliar em 25 milhões de pessoas a classe média consumidora, por compensar o futebol medíocre dos últimos anos com a realização de uma Copa do Mundo em 2012 e de uma Olimpíada em 2016, etc. etc. O que eu acho que o Brasil tem de melhor é um povo extremamente diversificado em sua composição étnicoracial; um povo trabalhador, apesar de ainda pouco educado do ponto de vista formal; um povo solidário consigo mesmo e com os que os visitam; um povo alegre. Nesse ponto, o carnaval, estereótipos à parte, revela dois traços fundamentais da nossa cultura; o do amor pela música, de cujo alcance internacional devemos muito nos orgulhar, e o da já mencionada alegria. Navegar é preciso Surfando São Paulo F.C. homenageia craques uruguaios com camisetas celestes Cien años de Amado. La invención de Brasil Nos 30 anos do pornô brasileiro, Coisas eróticas ganha livros e filme Bola da Copa 2014 vai se chamar Brazuca Piracicaba torna-se capital do humor gráfico Os novos centros da arte no mundo Fernando Meirelles, el brasileño más internacional Brasil. En el día de la in(ter)dependencia