Juliana Cristina Bonilha (Doutoranda UNESP/Assis CAPES)
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- Adelina Palha Fidalgo
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1 II Colóquio da Pós-Graduação em Letras UNESP Campus de Assis ISSN: INTRODUÇÃO AO SUPLEMENTO LITERÁRIO DA GAZETA DE NOTÍCIAS : EÇA DE QUEIRÓS E O PRIMEIRO NÚMERO DA PUBLICAÇÃO Juliana Cristina Bonilha (Doutoranda UNESP/Assis CAPES) RESUMO: Conhecido por seus romances realistas que abordavam criticamente a sociedade de seu tempo, Eça de Queirós também pode ser considerado notável por seus textos jornalísticos. Apesar de morar na Europa, o escritor mantém um contato íntimo com a imprensa brasileira, colaborando, durante anos, em um conhecidíssimo periódico carioca: a Gazeta de Notícias. Neste periódico, atua, principalmente, na função de correspondente estrangeiro, tarefa que lhe abre portas para um novo projeto: o Suplemento Literário, de De correspondente, o autor de O primo Basílio passa a diretor e com este papel passa a selecionar as notícias europeias que serão lidas pelos brasileiros. Além de coordenar todo o processo de edição, imprime sua personalidade marcante nos editoriais deste informativo, sobretudo naquele que principia a publicação, em janeiro de PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós; Suplemento Literário; Gazeta de Notícias; Europa; século XIX. 1. Da modernização da imprensa ao Suplemento Literário da Gazeta de Notícias (1892) O processo de modernização da imprensa ocorrido durante o século XIX, no Brasil, foi decisivo para o surgimento de alguns periódicos brasileiros e, ainda, para que novos meios de informação ganhassem prestígio em face à sociedade. De 1870 a 1872, surgem no país mais de vinte jornais com motivação política, pois vivia-se, naquele momento a expectativa do ato da proclamação da República. Indubitavelmente estes eram periódicos engajados politicamente e seu intuito era exclusivamente o de conscientizar que este processo poderia mudar os rumos do país. Neste mesmo momento surgem, ainda, inúmeras revistas ilustradas, cujo advento foi facilitado devido ao avanço das técnicas da imprensa. Dentre as publicações deste gênero, destacam-se A cigarra e A bruxa, comandadas por Olavo Bilac e Julião Machado. Algumas revistas ilustradas, no entanto, eram ainda 662
2 impressas no exterior, dentre elas A estação, que era publicado em Paris, e a revista O novo mundo, impressa em Nova Iorque. Se se pode dizer que havia neste período o aprimoramento da imprensa, pode-se apontar, em 2 de agosto de 1875, no Rio de Janeiro, o surgimento de uma publicação que traria novidades notáveis no campo jornalístico. A Gazeta de Notícias, publicada na capital imperial brasileira trazia uma série de novidades que seriam seu ponto-chave para a conquista de leitores, dentre elas a facilidade de aquisição, dada por seu preço acessível, como registra Sodré: A Gazeta de Notícias era, realmente, jornal barato, popular, liberal, vendido a 40 réis o exemplar. (1966, p. 257). Esta novidade bem como as demais que são observadas no interior do periódico, como a presença de ilustres escritores, a adoção da publicação de trechos de romances, e o espaço, em geral dedicado à literatura, foram aos poucos incorporadas nas colunas da Gazeta. Esta dedicação em explorar o conteúdo literário teria partido, principalmente, da constatação de Ferreira de Araújo, diretor do periódico, de que era necessário que o país tivesse um espaço jornalístico que se dedicasse à literatura e não somente à política, como faziam os meios de comunicação do gênero. Sobre o diretor Ferreira de Araújo, Sodré revela que era um homem de iniciativas, tendo reformado a imprensa do seu tempo, para dar espaço à literatura e às grandes preocupações, com desprezo pelas misérias e mesquinharias da política (SODRÉ, 1993, p.257). A postura ideológica de Ferreira de Araújo focada em dilatar a relevância da literatura em face aos demais acontecimentos, traduzia-se, portanto, nas páginas da Gazeta, mesmo sendo este um momento de grandes questionamentos sobre a política Assim, pode-se dizer que o engajamento da Gazeta em relação à divulgação da literatura em face à política, aliado à veiculação do periódico sob valor acessível favoreceram seu processo de consolidação. Se, de um lado estavam as novidades aplicadas na Gazeta de Notícias para que houvesse uma maior veiculação de conteúdos literários dentre os brasileiros, de outro estava a difícil situação social e educacional do país. A educação era ainda privilégio de uma pequena parcela da população, a aristocracia brasileira, formada por fazendeiros, banqueiros e alguns profissionais liberais que conseguiam manter um padrão de vida elevado. Era este pequeno estrato social que tinha acesso à educação e à cultura. 663
3 A formação dos estudantes brasileiros, por vezes, dava-se em colégio e universidades europeias. Muitos aristocratas ainda preferiam enviar seus filhos à Europa, para que lá estudassem e adquirissem experiência cultural.. Vale ressaltar que a Europa neste momento era ainda considerada uma referência em relação à educação e formação. Naquele continente, os estudantes não só se graduavam, mas também mantinham o contato constante com as Letras e as Belas Artes por meio das exposições artísticas, teatros, museus e salões literários. A convivência em solo europeu proporcionava não só a educação, mas também experiência moral, política e social diferenciadas em relação à formação brasileira. Sob o ponto de vista da educação, a situação do Brasil era ainda precária, principalmente ao se comparar à formação que se podia obter no exterior e à que era obtida no país, e ao se observar que havia poucos colégios de credibilidade. A Gazeta tinha, portanto, como leitores uma camada da população que ainda se inspirava nos modelos sócio-educacionais europeus. Sob o prisma da literatura brasileira, pode-se dizer que apesar de neste momento já existir uma consciência da importância da valorização do nacional, da presença de uma escola literária própria, os literatos brasileiros ainda eram constantemente influenciados pelas leituras europeias e estes influxos traduziam-se na elaboração de tendências literárias que inspiravam-se naqueles moldes, porém já com características próprias. Estes literatos, juntamente com escritores, bacharéis em direito, e até médicos e cientistas brasileiros eram constantemente requisitados pelos periódicos brasileiros. Todas essas reflexões visam a dizer que a Gazeta de Notícias selecionava seus escritores criteriosamente, buscando obter em suas páginas um resultado que lhe cedesse credibilidade e respeito e, por vezes, eram estes estudantes formados no exterior que ocupavam a redação do jornal. Os convites para atuar no periódico eram enviados apenas àqueles escritores e profissionais cujos nomes tivessem relevância na sociedade brasileira. Foi assim que a Gazeta, sob a direção de Ferreira de Araújo foi gradativamente conquistando seu espaço dentre os maiores periódicos brasileiros. Além de valorizar os escritores nacionais, a Gazeta valia-se, ainda, de escritores europeus para atrair ainda mais leitores para suas páginas. É o caso de Eça de Queirós, admirado dentre os brasileiros por seus romances realistas. Durante as 664
4 últimas décadas do século XIX, o escritor de O primo Basílio, participa desta publicação carioca atuando em diversão funções, dentre elas a de jornalista, de correspondente estrangeiro e de diretor de um suplemento de literatura, o Suplemento Literário. 2. Breves considerações a respeito do número inaugural do Suplemento Literário (janeiro de 1892) Maior representante da narrativa realista-naturalista portuguesa, Eça de Queirós deixou um acervo de obras que se caracterizam, principalmente, pelo sentido crítico às instituições burguesas e pelo retrato da sociedade portuguesa da época relativa à segunda metade do século XIX e que são, portanto, fonte para estudiosos tanto da área literária, como histórica. Os romances realistas queirosianos apresentam, de certa forma, um panorama histórico descrito criteriosamente, por meio do uso de adjetivos minuciosamente escolhidos pelo escritor, a fim de fornecer ao leitor uma imagem quase completa de Portugal, no século XIX. Em seus textos jornalísticos, Eça procurava também manifestar sua opinião e lançava críticas ferrenhas aos fatos que julgava dignos de questionamentos. No Brasil, o escritor destinava seus textos, pertencentes ao gênero jornalístico, ao periódico Gazeta de Notícias. Durante vários anos manteve-se na tarefa de correspondente estrangeiro e de cronista, tendo uma grande aceitação do público brasileiro. Mas, é no ano de 1892, que ganha um espaço amplo na publicação. Eça é convidado por Ferreira de Araújo, diretor da Gazeta, a se tornar diretor de um suplemento de literatura, uma espécie de informativo, o "Suplemento Literário da Gazeta de Notícias", onde estariam presentes notícias sobre a Europa. Seria um informativo especializado em destacar as notícias sócio-culturais, artísticas e literárias europeias para o brasileiro. Dentre as tarefas do escritor de O primo Basílio estaria a de escrever sobre a realidade europeia, dando um panorama geral sobre moda, livros, cultura, arte e notícias de caráter científico. Ressalta-se que as notícias teriam como público alvo os leitores brasileiros, que por vezes eram motivados a viajar até o Velho Continente em busca das 665
5 novidades, fossem científicas, como no caso dos médicos e pesquisadores, fossem de ordem "mundana" (roupas e lugares da moda), fossem ainda acadêmicas (livros e divulgações de trabalhos). O papel do até então correspondente estrangeiro Eça de Queirós não se restringiria apenas à escritura deste Suplemento. O propósito era o de gerenciar, dirigir a elaboração de textos que agradassem ao público. Eça seria além de redator da coluna inicial de cada exemplar, o diretor do informativo e coordenaria, portanto, algumas personalidades do período. O intuito do periódico, inserido na terceira página do jornal Gazeta de Notícias é por ele comentado em carta a Teixeira de Queirós (Bento Moreno) de 29 de dezembro de 1891: [...] Eu porém tenho agora, não um jornal, mas um suplemento literário para a Gazeta de Notícias (do Rio de Janeiro) de que sou Diretor, ou pelo menos o organizador. A Gazeta é, como V. sabe, um dos primeiros jornais do Brasil. O suplemento comporta, e até necessita, um resumo do movimento de Portugal - literário, científico, social, mundano, etc. Se V. vir que esta necessidade do jornal concorda com seu plano de trabalho - mande dizer e ao mesmo tempo as condições. Em todo caso V. tem jornal - diga pois que trabalho quer dar e em que período, e por enquanto. Com um grande [jornal?] como a Gazeta é necessário tratar assim as coisas praticamente. E eu por mim não tenho [senão que?] esfregar as mãos de alegria, pela sua boa ideia de trabalhar para nós. (BERRINI, V.4, p. 943) Todos esses interesses "mundanos", como diz o próprio Eça, que faziam parte da sociedade brasileira do fim do século XIX seriam pesquisados e retratados por Eça. E isso pode ser constatado por meio da observação das seções presentes que constituem os exemplares: "A Europa em resumo", "Livros novos", "Bellas artes", "Os teatros", entre outras. Uma primeira abordagem sobre o primeiro número da publicação revela que sua formação constitui-se de onze seções, com temas que abordam desde assuntos corriqueiros, como científicos: "A Europa em resumo"; "Notas de um curioso"; "Livros novos"; 'Sciencias", "Bellas artes", "Histórias singulares", "Os theatros"; "Pessoas e casos"; "O dinheiro"; "A elegância e a moda" e "O Brasil na Europa". Elaborando um panorama geral dos textos dentro de cada uma das seções, isto é do total de artigos que integram as seções, notamos que na primeira delas: "A Europa em resumo" temos um único texto, intitulado "O nosso supplemento". Em "Notas de um curioso", são publicadas três novidades que envolvem a ciência da 666
6 época, denominadas no exemplar de "Curiosidades científicas". "Livros novos", traz o texto "Memoires du général Baron de Marbet". A seção "Sciencias" é formada por três pequenos artigos sob o título "A medicina contada aos doentes". Em "Bellas artes" são seis artigos sob o título "A música na Europa". "Histórias singulares" traz "Quatrocentos contos de joias", único texto. "Os theatros" possui apenas um artigo, sem título, mas com um breviário de assuntos a serem discorridos ("La Mer; A convenção no theatro e o Sr. Francisque Sarcey; Les Sobards"). Em "Pessoas e casos", podemos notar dois textos: "Emilio Castellar" e "As recepções no Vaticano". Na seção "O dinheiro" há apenas um texto, sem título. "Elegância e moda", possui quatro artigos, também sem título. Por fim, "O Brasil na Europa" traz três textos. São, portanto, vinte e seis artigos, versando sobre temas como ciências, cultura, economia, atualidades e assuntos variados. Logo abaixo, pode ser observado um quadro em que foram organizadas todas as seções constantes neste exemplar em sua ordem de aparição, bem como o número de artigos e o tema de cada um deles. Todos foram classificados de acordo com os temas acima citados. Seções Artigos Temas A Europa em resumo 1 Atualidades Notas de um curioso 3 Ciências Livros novos 1 Cultura Sciencias 3 Ciências Bellas artes 3 Cultura Os theatros 1 Cultura Pessoas e casos 2 Assuntos variados O dinheiro 1 Economia A elegância e a moda 4 Assuntos variados O Brasil na Europa 3 Atualidades Historias singulares 1 Cultura Nota-se que ao longo deste primeiro exemplar do Suplemento Literário da Gazeta de Notícias, estão presentes vinte e seis artigos, cada um com sua temática principal e certamente com assuntos que teriam validade ao serem lidos no Brasil, no sentido em que eram propositalmente selecionados para públicos pré-determinados. Eça procurava selecionar notícias que realmente informassem o público brasileiro, ou seja, que fossem do interesse daqueles que naquele país estudavam, trabalhavam e mesmo, viviam. No caso dos textos do exemplar inaugural, o nome das seções pode revelar o leitor pretendido delas. Assim, enquanto Sciencias visava a um atento 667
7 observador das ciências médicas ou mesmo das questões geográficas, Elegância e moda destinava-se àqueles que se interessavam pelos modismos europeus da época. Primeiro número do Suplemento Literário 18 de janeiro de
8 Como dito anteriormente, Eça de Queirós não só dirigiu, mas também escreveu alguns artigos dentro do Suplemento, embora deixasse seu estilo registrado apenas na primeira seção de cada exemplar. Neste primeiro volume, o texto de autoria de Eça é A Europa em resumo. Analisando os textos pertencentes a esta seção, nota-se que o intuito do artigo inicial do periódico é de mostrar a que veio o Suplemento, que se trata de um editorial. Ao ler este editorial, o leitor estava diante de um texto-resumo que continha informações preciosas sobre o Suplemento Literário, as quais se dirigiam principalmente aos letrados, aos estudiosos e aos desejosos de cultura, daquele tempo. Veja-se a passagem retirada do referido texto: Ora, foi para que o Brasil pudesse realizar ideal tão cômodo, que nós criamos este Suplemento. Ele é o compte rendu desta famosa representação que se dá no teatro da Europa, mandado cada semana pelo paquete, para que o enredo e os actores possam ser conhecidos sem o cansaço, a despesa, o tempo consumido em atravessar as águas e vir ao teatro, que não é confortável, nem bem ventilado, e está cheio de lazaretos. Melhor ainda! É a própria representação condensada em meia folha de jornal, com uma selecção cuidadosa dos seus episódios mais atraentes, dos seus personagens mais característicos, das suas decorações mais vistosas e ricas. Neste Suplemento vai o resumo de uma civilização. E toda ela deste modo se goza no que tem de mais belo ou de mais fino, sem a desconsolação de perpetuamente se surpreender a rude fealdade do seu avesso. (QUEIRÓS, Supl. Lit. I, p. 1) O texto original foi preservado a fim de que se notassem os vocábulos a serem atualizados bem como a linguagem usada por Eça. É notável que se trata de um texto denso, diferentemente dos textos jornalísticos da época. Faz-se mister destacar que a estudiosa queirosiana Elza Miné esboçou alguns comentários acerca do Suplemento Literário em seu livro Textos de imprensa I, no qual faz uma análise de toda a obra jornalística de Eça de Queirós. No entanto, no que concerne ao periódico em questão, seu trabalho se limita à atualização do primeiro texto de cada exemplar, haja vista ser seu único objetivo o estudo de textos de autoria do referido autor. Como em cada nova edição do Suplemento havia mais de cinco colaboradores, muitos textos nele contidos ficaram isolados, sem receberem uma análise detalhada. Enfim, o que se deseja enfocar é que o estudo desses exemplares pretende aprofundar as pesquisas iniciais de Elza Mine, dando um enfoque maior aos demais textos, que possuem valor histórico e também literário. 669
9 3. O editorial: "A Europa em resumo", de Eça de Queirós Uma das peculiaridades de Eça enquanto escritor, como se sabe, é o humor empregado, especialmente, por meio da ironia, em seus romances. Esta marca estilística também está presente na maior parte de seus textos jornalísticos. É válido dizer que dentro do Suplemento seus textos sempre apareciam com linguagem e forma diferentes das esperadas para um texto de imprensa. A Europa em resumo revela um autor que justifica o aparecimento do periódico, mas que emprega grandes metáforas e compõe quase que um conto para esboçar uma Europa que merece (ou não) ser apreciada pelos leitores brasileiros. O trecho que se segue mostra a presença da ironia no texto: Aquele que vive misturado a esta representação da Europa, topa a cada instante com o avesso sórdido das coisas belas. (QUEIRÓS, Supl. Lit. I, p.1) O texto inaugural do Supplemento Litterario A Europa em resumo: O Nosso Suplemento - traz essa marca estilística com evidência, como pode ser notado. Pode ser percebido ainda que a estruturação e o tom usados em sua composição fazem jus ao tipo de escrita de Eça. O tom irônico está presente durante o decorrer de toda a exposição de ideias. O tema desse texto é o surgimento do Suplemento Literário. Eça escreve sobre o porquê da escrita do Suplemento, e quebra a estrutura de um texto puramente informativo, pois opta por alegoria, uma imagem que faz referência à Europa. Como um palco de um teatro, ela é o cenário para que as pessoas nele atuem. Sua argumentação em torno dessa figura torna-se muito interessante quando se percebe estar diante da figura de um jornalista-artista, ou seja, um autor que escreve com efeitos de um escritor de romances. Pode-se ressaltar que se o Suplemento todo aparenta ser de antemão uma espécie de escrito voltado a uma elite cultural, nesse primeiro texto temos confirmada essa questão, haja vista a citação de nomes de cidades tanto europeias, como americanas e mesmo africanas (somente conhecidas por aqueles que tinham algum conhecimento cultural) e ainda, as referências a escritores memoráveis e nobres como Virgílio. É, portanto, de suma importância considerarmos os textos de Eça publicados no Suplemento como parte de um trabalho de verdadeiro valor, seja histórico, seja literário ou mesmo cultural. São textos que merecem um maior cuidado e um maior 670
10 conhecimento do público, pois são fontes ricas da marca estilística do escritor, de fontes históricas e de inúmeras espécies de conhecimento e de questões que podem surgir a partir de sua leitura. O trabalho com o corpus Suplemento Literário engloba além de uma análise de seus textos, uma recuperação física, sendo, portanto, um processo de redisponibilização desses textos a fim de se poder apreciar ou mesmo de se criticar. Veja-se abaixo um pequeno trecho do artigo inicial com sua versão atualizada, processo que tem sido feito com todos os números: 4. Considerações finais O estudo de fontes históricas na área de Literatura vem sendo ampliado nas últimas décadas, desde que se percebeu a relevância de alguns textos escritos por autores consagrados e se reconheceu que a imprensa jornalística brasileira foi 671
11 exercida por muitos literatos que ajudaram no desenvolvimento da literatura nacional. Não são poucos os textos da Gazeta de Notícias que vem sendo cada vez mais procurados com o intuito de agregar valores à literatura brasileira. A recuperação do conteúdo do Suplemento Literário traz, portanto, a possibilidade de se entrar em contato com a literatura e a cultura europeia do final do século XIX; o conhecimento sobre a atuação de Eça de Queirós, autor canônico, como diretor na Gazeta de Notícias; e, ainda, a facilidade de se observar e analisar as crônicas e artigos presentes neste suplemento, por meio da disponibilização dos textos no formato digital. Neste artigo a proposta foi a de recriar o contexto de publicação do Suplemento Literário e adentrar sucintamente no editorial da primeira edição, publicada em de janeiro de Referências bibliográficas ABDALA JUNIOR, Benjamin (organizador). Ecos do Brasil: Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesa. São Paulo: Editora SENAC. São Paulo, BROCA, Brito. Horas de leitura. Rio de Janeiro: MEC, INL, BROCA, Brito. A vida literária no Brasil Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, CARONE, EDGAR. A primeira república ( ): texto e contexto. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, FAUSTO, Boris. O Brasil republicano. Rio de Janeiro: Difel, tomo 3, v.2, FREITAS, Affonso A. de. A imprensa periódica de São Paulo: os seus primórdios em 1823 até São Paulo: Typografia do Diário Oficial, GAZETA de Notícias. Rio de Janeiro, 18 jan.; 08 fev.; 29 fev.; 21 mar.; 26 abr.; 13 jun., 1892 LUSTOSA, Isabel. O nascimento da imprensa brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
12 MACHADO NETO, A. L. Estrutura social da República das Letras. São Paulo: Guijalbo, Edusp, MATOS, A. Campos (organização e coordenação). Dicionário de Eça de Queiroz. 2.ed. Lisboa: Caminho, (organização e coordenação). Suplemento ao dicionário de Eça de Queiroz. Lisboa: Caminho, MENESES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro ilustrado. São Paulo: Saraiva, v. MINÉ, Elza. Páginas flutuantes: Eça de Queirós e o jornalismo no século XIX. Cotia: Ateliê Editorial, Eça de Queirós jornalista. 2.ed. Lisboa: Livros Horizonte, OBRAS de Eça de Queiroz. Porto: Lello & Irmão, 4 v, PEREIRA, Lúcia Miguel, CÂMARA REYS (organização). Livro do centenário de E.Q. Lisboa/Rio de Janeiro: Edições Dois Mundos, QUEIROZ, Eça de. Obra completa (organização geral, introdução, fixação dos textos autógrafos e notas introdutórias de Beatriz Berrini). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v (Biblioteca Luso-Brasileira-Série Portuguesa), SANTANA, Maria Helena. Introdução. In:. (edição). Textos de imprensa. VI (da Revista de Portugal). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995, p (Edição crítica das obras de Eça de Queirós: textos de imprensa). SARAIVA, António José; Oscar Lopes. História da literatura portuguesa. 17.ed. Porto: Porto, SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, TENGARRINHA, José. História da imprensa periódica portuguesa. Lisboa: Portugália,
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