PROJETO LER E ESCREVER É DA HORA! : LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL SOB A PERSPECTIVA INTERACIONISTA
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1 PROJETO LER E ESCREVER É DA HORA! : LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL SOB A PERSPECTIVA INTERACIONISTA Patrícia Cristina de Oliveira (UEM UENP/Jacarezinho) Vera Maria Ramos Pinto (UEL UENP/Jacarezinho) Introdução O Projeto Ler e Escrever é da Hora! UENP/Jacarezinho, integrante do Programa Universidade Sem Fronteiras, vem desenvolvendo suas atividades junto às escolas de Jacarezinho e região, desde outubro de 2007, objetivando valorizar a leitura, o discurso e a produção de textos nas salas de aula do ensino fundamental do 2º ciclo. A abordagem teórico-metodológica adotada pelos integrantes do Projeto fundamenta-se na concepção interacionista, segundo a qual a linguagem, em toda a sua dimensão discursiva, é uma forma de ação entre sujeitos. Dessa forma, o objetivo deste artigo é apresentar a trajetória, a metodologia de trabalho e os resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto. Sobre o projeto Considerando-se que a prática de leitura e de produção textual na escola continua sendo um assunto urgente e necessário tem-se observado que, embora muito se tenha discutido a questão, pouquíssimas mudanças têm-se observado nas práticas de sala de aula do ensino fundamental. Assim sendo, o projeto Ler e escrever é da hora! surgiu para tentar apresentar algumas contribuições aos professores das escolas da rede pública, os quais estão inseridos no referido projeto.
2 Portanto, o Projeto Ler e Escrever é da Hora!, prioriza, em suas práticas pedagógicas, os conteúdos estruturantes de língua portuguesa: prática da oralidade, prática da leitura, prática da escrita e prática da análise linguística. Objetivos específicos do projeto Desenvolver no aluno, do ensino fundamental, a habilidade de empregar a língua oral, sabendo adequá-la em casa contexto; Causar reflexão sobre os textos ouvidos, lidos ou produzidos, mostrando os conceitos de gêneros, tipo de textos e elementos da gramática; Aperfeiçoar a capacidade de pensamento crítico através dos textos literários; Aprimorar as práticas da oralidade, da leitura e da escrita por meio dos recursos da literatura, tal como, a expansão do lúdico; Proporcionar ao graduando uma oportunidade de efetivo exercício da prática docente, atendendo o modelo teórico proposto pelas DCEs de Língua Portuguesa. Equipe de trabalho A equipe de trabalho está composta da seguinte forma: Patrícia Cristina de Oliveira professora coordenadora Nerynei Meira Carneiro Bellini professora orientadora Vera Maria Ramos Pinto professora orientadora Ana Clara Souza Cunha profissional recém-formado Alessandro da Silva - estagiário Bruna Rodrigues de Souza estagiária Francielle Forte da Silva - estagiária Maiara Siqueira - estagiária Tatiane Aparecida Merlim estagiária
3 Escolas e municípios participantes As escolas participantes são: Colégio Estadual Anésio de Almeida Leite EFM (Jacarezinho) Colégio Estadual José Pavan EFM (Jacarezinho) Colégio Estadual Luiz Setti EFMP (Jacarezinho) Colégio estadual Marques dos Reis EFM (Jacarezinho) Colégio Estadual Dona Moralina Eleutério EFM (Santo Antonio da Platina) Escola Estadual Dr. João da Rocha Chueiri EF (Ribeirão Claro) A perspectiva interacionista A linha teórica que sustenta as atividades desenvolvidas pelo projeto Ler e escrever é da hora! é a interacionista, a qual fundamenta-se no pensamento de Bakhtin (2003) e Bakhtin/Volochínov (1999). Vale dizer que, no Brasil, Geraldi (1995) é quem primeiro se ocupou em fazer uma adaptação e divulgação das ideias de Bakhtin. Bakhtin (1999, p.113), ao tratar da interação verbal, destaca que toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Assim, nota-se que a presença do interlocutor vem a constituir-se o grande diferencial das práticas de linguagem, seja de natureza oral ou escrita concebidas sob a ótica do interacionismo. Uma vez que, nesta perspectiva teórica, o interlocutor passa a ser visto de forma diferente, ou seja, deixa de ser meramente passivo e passa a ocupar um papel também ativo na recepção e produção de todo e qualquer tipo de enunciado. É justamente por isso que a partir desse
4 enfoque teórico não foi mais possível conceber a atividade de leitura e escrita como atividades monológicas. Dessa forma, a linguagem é entendida como o grande instrumento que faz a interação social e marca-se o texto como o lugar da interação. É nesse viés que Geraldi (1995, p.135) afirma que é no texto que a língua se revela em sua totalidade, por isso considera o texto como ponto de partida e ponto de chegada de todo o processo de ensinoaprendizagem da língua. Geraldi (1995, p.160), partindo dessa mesma concepção, traça um quadro de condições necessárias à produção de um texto: a)se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz.; e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d). Desse modo, Geraldi defende uma concepção interacionista de linguagem e afirma que, nesta concepção, a língua só tem existência no jogo que se joga na sociedade, na interlocução, e é no interior de seu funcionamento que se pode procurar estabelecer as regras de tal jogo. Depreende-se, assim, que a concepção interacionista trouxe novos objetivos e novas alternativas ao ensino da língua portuguesa, tanto no que diz respeito à leitura quanto à produção textual. Resultados obtidos As atividades do projeto tiveram início em outubro de 2007, acompanhando gradativamente a 6ª, 7ª e 8ª séries de uma mesma turma nas escolas da rede pública de ensino, e, a partir da observação,foi possível constatar alguns resultados, os quais passamos a comentar abaixo. A prática da leitura foi motivada pela ciranda de livros, na qual havia um incentivo para que os alunos lessem sem haver obrigatoriedade em termos avaliativos. Além disso, cada aluno motivava
5 o outro a partir do relato de sua experiência de leitura, mensalmente, tornando-se assim um Promoter do seu livro. Como leitura e produção de texto são temas recorrentes e interdependentes, a partir das atividades de leitura foram desenvolvidas e aplicadas estratégias de produção de diversos gêneros textuais: produção de Hq Literária, resenha crítica, colagens, escrita e dramatização de conto. Tudo isso, a fim de que os alunos pudessem conhecer e identificar diferentes gêneros no âmbito da leitura e da produção, estabelecendo um diálogo entre textos distintos e despertando o maior interesse dos alunos para a leitura. Ao aplicar diferentes metodologias, o projeto proporcionou aos alunos um maior contato com narrativas curtas como: fábulas, contos, poesias e músicas. Isso se deu através de estratégias utilizadas por meio de vários recursos audiovisuais como: cartazes, quadro-negro, inclusive o uso da Tv- Pen drive, sendo esta de extrema importância no desenvolvimento das diversas metodologias, uma vez que proporcionou maior dinamismo e enriquecimento nas aulas. Cabe destacarmos, aqui, que estas diferentes metodologias e gêneros textuais trabalhados em sala de aula proporcionaram a realização de um Sarau, envolvendo toda comunidade escolar. O sarau surgiu, especificamente, como resultado das atividades de leitura, análise e produção de poemas e, nesse momento, ficou claro o interesse e a necessidade de outros alunos participarem das atividades promovidas pelo projeto. Além disso, os professores responsáveis pelas turmas que participam do projeto, testificaram, na prática de sala de aula, que os alunos desenvolveram maior habilidades nas práticas de oralidade, leitura, escrita e análise linguística. Por isso, estariam mais bem preparados para ingressar no ensino médio. Os próprios docentes e a equipe pedagógica das escolas sugeriram que as atividades aplicadas fossem desenvolvidas em outras 8ª séries.
6 Nas atividades desenvolvidas pelo projeto, verificou-se a recorrência do trabalho com diversos gêneros, o que vem comungar com as idéias disseminadas nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná. Foi perceptível, também, que os alunos desenvolveram mais habilidades de leitura, oralidade e produção textual. Além disso, as atividades com metagêneros ampliaram o conhecimento do aluno em termos de estrutura textuais, assim como a perspicácia crítica quanto aos diferentes discursos disponibilizados pela língua portuguesa, não só os discursos de circulação acadêmica, mas, também, os discursos midiáticos. O estudo dos diversos gêneros também vai ao encontro de uma possível assessoria do projeto Ler e Escrever é da Hora aos integrantes do projeto Somando conhecimento para geração de rendas. Este projeto consiste em uma cooperativa de artesãs que confeccionam e vendem seus trabalhos na região. A ação conjunta entre os projetos reside no fato de promover oficinas e minicursos que trabalhem a leitura crítica e produção de textos, tais com publicitários opinativos e documentais, os quais contribuiriam para o exercício das práticas administrativas e a divulgação dos produtos desenvolvidos por aquele projeto. Uma vez que a aprendizagem torna-se mais eficiente em situações concretas, a realização desse projeto tem se mostrado relevante tanto para os acadêmicos da UENP, campus de Jacarezinho, como para a comunidade envolvida: alunos e artesãs do COMFIBRA. Conclusão Por fim, a execução do projeto em questão parece que tem sido bastante significativa na vida escolar dos alunos, tanto para os que participam na condição de aluno, como os estagiários da graduação, que estão sendo os executores, de fato, do projeto. O graduando porque tem a oportunidade de conviver com alunos do ensino fundamental, em uma situação real, e assim fortalecer o
7 exercício da docência, atividade que realizarão em um futuro próximo.já O aluno do ensino fundamental tem a oportunidade de participar de um grupo de trabalho, que é realizado de forma sistemática e contínua. Por atuar diretamente na comunidade escolar, acreditamos que poderá trazer melhorias dentro e fora da escola. O trabalho em sala possibilitará aos alunos atividades dinâmicas que os levarão à reflexão e vão de encontro ao conteúdo programático a ser seguido. Fora da escola, o Projeto trem ainda o propósito, como já foi mencionado anteriormente, de auxiliar as artesãs do CONFIBRA, visto que muitas têm seus filhos matriculados nas escolas atendidas pelo projeto, possibilitando-lhes uma nova chance de estudo, expansão do conhecimento e possibilidades de melhorar suas condições de vida e das pessoas que as rodeiam. Na verdade, os impactos sócio-econômicos produzidos pelo projeto serão observados a longo prazo, tendo em vista que nosso objeto de trabalho são pessoas e o conhecimento não pode ser medido de forma imediata. Acreditamos que esses alunos estejam adquirindo multiletramento, e isso poderá lhes proporcionar um futuro mais promissor e, consequentemente, melhor qualidade de vida. Referências BAKHTIN, M. (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, GERALDI, João Wanderley (org). O texto na sala de aula. 9.ed. São Paulo: Ática, Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação SEED. Diretrizes curriculares da rede pública de educação básica do estado do Paraná. Curitiba, 2009.
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