A ÉTICA NO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: OS CONCEITOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA
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- Camila Canela Leal
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1 A ÉTICA NO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: OS CONCEITOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA 1. Introdução Michelle Ranckel 1 Melissa R. da Silva 2 Rodrigo F. Pedro 3 O tema da ética é universal e traduz na atualidade anseios, expectativas, crenças e desejos dos seres nos mais diversos territórios. A idéia de ética está comprometida com a sociedade, onde o indivíduo procura ancorar-se a utilizando como padrão de conduta. O compromisso e a responsabilidade para conservar e amparar os valores das situações vividas no dia-a-dia. A ética exige uma vida ativa, caracterizada pela própria condição humana. Nunca seremos éticos se não convivermos com os demais, portanto, é necessário percorrer com ética a própria vida. Sendo assim, inicia-se o trabalho lançando uma pergunta para refletir: Porque estudar Ética num Curso Superior? Esta é uma questão que está constantemente na mente de nossos alunos e até dos professores de nossos cursos superiores. A Ética gira em torno do comportamento moral do homem, que nada mais é que o conjunto de normas, princípios e valores que regulam o comportamento individual dos homens. Para definirmos a ética devemos recorrer à filosofia, que a define como o estudo da conduta ideal, do homem ideal. A ética consiste em especificar as ações do ser humano, definindo-as como boas ou ruins. 1 Graduada em Letras Português/Inglês, especialista em Língua Portuguesa e Literatura, mestranda em Educação na linha de pesquisa Práticas de ensino e elementos articuladores, pela Universidade Tuiuti do Paraná. 2 Professora do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro Oeste/ UNICENTRO, Graduada em Pedagogia, especialista em Supervisão Escolar, mestranda em Educação na linha de pesquisa Práticas de ensino e elementos articuladores, pela Universidade Tuiuti do Paraná. 3 Graduado em Pedagogia (licenciatura) e Tecnologia em Processamento de Dados, especialista em Tecnologias Educacionais (PUC/PR), mestrando em Educação na linha de pesquisa de Políticas Públicas e Gestão pela Universidade Tuiuti do Paraná UTP, estudante no grupo de pesquisa Estado e Políticas Educacionais. Professor efetivo da prefeitura de São Bento do Sul e professor da Universidade do Contestado UnC/Mafra.
2 Já deontologia nada mais é que o conjunto de regras e princípios que conduzem o comportamento de um profissional, uma ciência que estuda os deveres de uma determinada profissão. As Instituições de Ensino Superior (IES) quando criam um Curso Superior, tem como principal, o comportamento voltado ao atendimento à população, pois segue uma filosofia quanto à escolha dos professores, especialistas, mestres, doutores que comporão o Corpo Docente do curso. Pois cabe aos professores, não só os de Ética e Deontologia que possuem o conhecimento pleno de Filosofia de realizar na sala de aula a análise dos princípios que se encontram subjacente a cada profissão. Desse modo, a IES deve sempre preocupar-se com a postura ética que seus acadêmicos deverão assumir após formados, pois, é fundamental para o exercício de qualquer profissão. Mas isso, não é o bastante. É necessário que os acadêmicos mudem de comportamento, pois, a realidade de hoje gira em torno da individualidade, de uns comportamentos descompromissados com a sociedade em que se encontram inseridos. Assim, para refletirmos sobre a concepção ética vamos recorrer a Aristóteles, Comênio e Comparato. Esse trabalho tem como principal objetivo evidenciar o papel da ética e da moral para o educador. Sabendo que ética constitui-se dos princípios morais e dos valores que norteiam os seres humanos. 2. Revendo o conceito de ética Iniciamos a reflexão apropriando-se do discurso ético de Aristóteles (2001), em sua obra Ética a Nicômaco, onde alguns conceitos como: virtude; justo meio; discernimento; equidade e amizade são citados. Aristóteles (2001) compreende virtude como uma prática. Para ele, os seres só serão completos se terem virtude. Nesse sentido, pode-se dizer que, em sua obra Ética de Aristóteles (2001), virtude é hábito hábito construído pela proximidade da relação potência e ato:... em relação a todas as faculdades que nos vêm por natureza recebemos primeiro a potencialidade, e, somente mais tarde exibimos a atividade (isto é claro no caso dos sentidos, pois não foi por ver repetidamente ou repetidamente ouvir que adquirimos estes sentidos; ao contrário, já os tínhamos antes de começar a usufruí-los, e não passamos a tê-los por usufruí-los); quanto às várias formas de
3 excelência moral, todavia, adquirimo-las por havê-las efetivamente praticado, tal como fazemos com as artes. As coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemo-las fazendo-as por exemplo, os homens se tornam construtores construindo, e se tornam citaristas tocando cítara; da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados agindo moderadamente, e corajosos agindo corajosamente. Essa asserção é confirmada pelo que acontece nas cidades, pois os legisladores formam os cidadãos habituando-os a fazerem o bem; esta é a intenção de todos os legisladores; os que não a põem corretamente em prática falham em seu objetivo, e é sob este aspecto que a boa constituição difere da má. (ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, p.35-6) Na citação acima Aristóteles (2001) ratifica a perspectiva da virtude como uma prática que não depende necessariamente de conhecimento teórico, pois, a virtude é construída pelo hábito, pela ação repetitiva do homem. O discernimento, é a moderação ao agir, é a razão presente no ser humano, é se debruçar sobre coisas passíveis de variação e, portanto, ocasionais. O discernimento, por outro lado, relaciona-se com as ações humanas e coisas acerca das quais é possível deliberar; de fato, dizemos que deliberar bem é acima de tudo a função das pessoas de discernimento, mas ninguém delibera a respeito de coisas invariáveis, ou de coisas cuja finalidade não seja um bem que possamos atingir mediante a ação. As pessoas boas de um modo geral são as capazes de visar calculadamente ao que há de melhor para as criaturas humanas nas coisas passíveis de ser atingidas mediante a ação. Tampouco o discernimento se relaciona somente com os universais; ele deve também levar em conta os particulares, pois o discernimento é prático e a prática se relaciona com os particulares... O discernimento se relaciona também com a ação, de tal modo que as pessoas devem possuir ambas as suas formas, ou melhor, mais conhecimento dos fatos particulares do que conhecimento dos universais. (ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, p.119) Em seu parecer, Aristóteles (2001, p.120), dá a entender que há dificuldade nos jovens em relação à prática do discernimento. Não parece possível que um jovem seja dotado de discernimento, pois isso exige experiência, tempo de vida e amadurecimento. Já a amizade supõe convívio, semelhança, tempo e intimidade. Amizade é o mesmo que ser generoso. Quando os seres humanos são amigos não têm necessidade de justiça, são honestos uns com os outros. A Teoria do justo-meio sugere o homem na busca da felicidade, a excelência, ser virtuoso, ele tem que agir conforme as virtudes (justo-meio). Para Aristóteles (2001), o homem é parte da cidade e sua felicidade depende da felicidade da cidade. Assim, o
4 homem feliz é aquele que chega à cidadania. Para Aristóteles (2001) não é possível chegar ao justo-meio fora de uma ação. Por último uma das maiores contribuições de Aristóteles (2001) a meu ver, está na sua teoria da eqüidade. Partindo da noção de eqüidade percebe-se a íntima relação da atividade interpretativa com a experiência. Aristóteles (2001) assinala o fato de que toda lei é geral e abstrata, mesmo assim, a lei não pode prever todas as possibilidades. A equidade é algo para além do juízo de mediedade, isto é, tudo dependente das circunstâncias da ação. 2.2 A Ética de Comenius Um dos maiores patrimônios que teve grande aporte e influencia no processo de educação é a obra de Johann Amos Comenius. Sua obra se ajusta ao tempo, por isso ela pode ser relida com o passar dos anos e ainda assim, continua a iluminar nossas realidades pedagógicas. Sua ilusão sempre foi ensinar tudo a todos. Em sua obra A Didática Magna ele expressa suas idéias e utopias e propõe uma reforma escolar com o intuito de buscar um ensino, que se prepara o indivíduo para a cidadania, partindo de uma visão religiosa da vida. Para ele, a educação pode ser um instrumento capaz de realizar reformas sociais que a sociedade pode exigir, sendo o caminho para se chegar à libertação e à salvação de todos. Comenius (1997) buscava ver o ser humano como um todo. Já em relação à educação do homem e da mulher Comenius (1997) dizia que a educação era condição sine qua non para a sua humanizacão. Essa condição da educação ser acessível a todas as pessoas rompeu com muitas barreiras ideológicas de seu tempo. Até então, a educação era somente de direito para as elites, e para gênero masculino. Sendo assim, Comenius (1997) propôs uma radicalização da universalização da escola e cita em sua obra que: Devem ser confiados à escola não só os filhos dos ricos ou das pessoas mais importantes, mas todos em igualdade, de estirpe nobre ou comum, ricos e pobres, meninos e meninas, em todas as cidades, aldeias, povoados, vilarejos. (Comenius 1997, p. 89) Para Comenius (1997), a mulher é criada imagem e semelhança de Deus, sendo assim é capaz de aprender tal qual o homem. Para ele, a ensino escolar deve formar o
5 homem para a autonomia, para que ele seja participativo das transformações do mundo e não só um espectador dele. Com esta condição o homem tornar-se-á ético e cidadão. A educação passou a ter uma dimensão cidadã. Foi com Comenius (1997) que iniciou o pensamento de deixar nas mãos do Estado os compromissos com a educação. Sua ideia era vincular a educação e o aluno ao cotidiano, isto é, ler e escrever problematizando. Assim, sua ética teve como marca o humanismo teológico. Ele propunha formar pessoas generosas, com sabedoria, para se aproximarem de Deus, para ele o método de ensinar a moral deve ser introduzido em todas as escolas para instruir a juventude. Segundo ele, a escola deveria ensinar as virtudes, para que assim, possamos com equidade e sabedoria distinguir o valor de todas as coisas. Temos com Comenius (1997) a possibilidade de dar outro significado à educação mantendo a ética e a cidadania unidas e em lugares de destaque aproximando-os da realidade de nossa sociedade. 2.3 A ética de Comparato O conceito de Comparato (2006) diz respeito ao viver para o bem, ou viver para o mal. Para ele a felicidade não é uma dádiva, mas sim, uma recompensa de esforços, e isso, é o foco de atenção da ética. A definição dado à ética em sua obra Ética, Direito, Moral e Religião no mundo Moderno se baseia na compreensão e destaca estudo fortemente auxiliado de reflexões, críticas e pontos de vista do dever-ser humano, tanto no campo das ideias, como também modos de vida. Nos proporciona vários sentimentos obtidos pela ética e pela moral ao longo da trajetória humana, os quais são tratados e apresentados em três partes. Dessas, a qual nos interessa é a terceira que situa a ética em um mundo onde exige que se sobressaia o dever-ser solidário, além de destacar o que é necessário reconsiderar a conduta humana. A religião, moral e direito, ainda indispensável, mas que antigamente formavam um único conjunto e no mundo moderno, onde eles se diferenciam e se opõem entre si. Como cita Comparato (2006, p.49) Na verdade, a consideração da ética antiga é indispensável à compreensão do mundo moderno, pois todo processo de conhecimento desdobra-se na operação conjunta de distinguir e relacionar. Mas, verifica-se que no período axial com o surgimento da fé monoteísta e do saber filosófico que se fundava na razão, houve um rompimento da compreensão da
6 liberdade no mundo antigo. Os diferentes tipos de religiões começaram a desaparecer dando lugar a uma religião universal. Uma crença de um único e verdadeiro Deus. Apropriar-se do objeto tratado no estudo de Comparato (2006) é fundamental, pois, além de trazer os princípios e os fundamentos para compreensão da ética, nos faz lembrar o sentido ético da vida, pontuando as lições da sabedoria e suas explanações, como também a finalidade da vida humana que consiste na convivência pacífica e harmoniosa de todos os seres humanos. Assim, viver não é simplesmente existir biologicamente, é existir no contexto do mundo com todos os conflitos. O conceito de Comparato (2006) finaliza a análise: a dignidade da pessoa humana que é imperecível. Pois, é ela que nos indicará o caminho da Vida, na Verdade, na Justiça e no Amor. 3. Metodologia Faz-se uso do estudo bibliográfico para efetuar-se a revisão dos conceitos e das práticas pedagógicas relacionadas à ética docente e, das entrevistas efetuadas com acadêmicos do curso de Licenciatura em Letras da única faculdade pública da região sudoeste do Paraná (Brasil). Têm-se como objetivos refletir sobre a formação do profissional ético; analisar como ocorre o ensino da ética nos cursos de formação docente e verificar nos relatos dos acadêmicos da referida licenciatura em Letras quais as noções de ética adquiridas durante sua formação. Para tanto, far-se-á uma revisão de literatura embasada em autores como Aristóteles, Comparato, Comênio, por serem de extrema importância nas discussões sobre a questão da ética. Conclusão Tomando como ponto de partida a teoria moral de Aristóteles (2001), em sua obra Ética a Nicômaco verificamos que a problemática do individual e do público acaba por culminar do interesse comum sobre o interesse individual. Muitos estudiosos de Aristóteles (2001) acabam por avaliar a Ética a Nicômaco como um tratado sobre a felicidade, colocando em questão as virtudes; justo meio; discernimento; equidade; e amizade. Já Comenius (1997) teve sempre a ilusão de ensinar tudo a todos. Em sua obra Didática Magna ele expressa suas idéias e utopias e propõe uma reforma escolar com o
7 intuito de buscar um ensino, que se prepara o indivíduo para a cidadania, partindo de uma visão religiosa da vida. Para ele, a educação pode ser um instrumento capaz de realizar reformas sociais que a sociedade pode exigir, sendo o caminho para se chegar à libertação e à salvação de todos. Comenius (1997) buscava ver o ser humano como um todo. E Comparato (2006) coloca em sua obra que felicidade não é uma dádiva, mas sim, uma recompensa de esforços, e isso, é o foco de atenção da ética. A definição dada à ética em sua obra Ética, Direito, Moral e Religião no mundo Moderno se baseia na compreensão e destaca estudo fortemente auxiliado de reflexões, críticas e pontos de vista do dever-ser humano, tanto no campo das ideias, como também modos de vida. Nesse sentido, diz que viver não é simplesmente existir biologicamente, é existir no contexto do mundo. E que a dignidade da pessoa humana que é imperecível e que deve sempre ser mantida. Após este estudo, podemos dizer que o ser humano vem perdendo os seus referenciais éticos e a sua base cidadã-comunitária pela ausência da aprendizagem prática, acabam por entregar-se ao individualismo e ao materialismo, atribuem uma cidadania restringida aos que controlam o dinheiro e o poder e mesmo sem perceber estão contra uma ética humanista capaz de respeitar as diferenças dos seres humanos. Mas, esta realidade está visível na educação. Nas entrevistas, os acadêmicos apontam que as noções básicas de ética lhes foram passadas, mas que poucos a utilizam em seu cotidiano. Das dez entrevistas realizadas, sete justificaram o não uso da ética pela inexistência de situações em que essa atitude pudesse ser aplicada. Desse modo, é necessário tentar resgatar uma ínfima compreensão sobre a aplicabilidade do conceito de ética na prática pedagógica, pois estes acadêmicos serão futuros profissionais da educação e responsáveis em incutir em seus alunos as virtudes, os direitos iguais e a felicidade, tão necessários para a uma vida digna. Freqüentemente entendemos por ética as normas de caráter obrigatório e universal, onde a ideia de respeito deve ser recíproco, onde as pessoas se sintam bem em cumprir com o seu dever moral. Desse modo, os princípios éticos repousariam nos modos de agir e na conduta, seja ela a felicidade, a excelência humana ou mesmo o prazer, onde o conceito está ausente na perspectiva deontológica. Em nosso estudo confirmou-se tais suposições por meio dos seguintes passos. Primeiramente, seguindo a ética aristotélica a qual possui a perspectiva teleológica. A seguir, pensando em caracterizar a perspectiva de uma educação para todos, assumimos
8 Comenius (1997) como o modelo, onde se tornou necessário aprofundarmos o conceito universalização da educação. Uma vez que tal conceito mostrou-se necessário para entendermos o conceito de ética de Comparato (2006) e finalmente, mediante a problematização e os resultados das entrevistas caracterizar a conclusão da pesquisa. Sendo assim, a revisão nos cursos de formação de professores é impreterivelmente urgente, nossa sociedade precisa de educadores completos. Educadores que tenham atitudes éticas em sua essência e que possam orientar nossos jovens e que também possam buscar algo melhor para sua formação e para suas vidas. Referências ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. trad: Mário Gama Kury. 4. ed. Brasília: UNB, COMENIUS. Didática Magna. trad: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
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