Alterações Fisiológicas e benefícios do Treinamento Resistido na Hipertensão Arterial
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- Bernardo Santiago Carmona
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1 Alterações Fisiológicas e benefícios do Treinamento Resistido na Hipertensão Arterial Professor Esp. Roger Naves Vicente INTRODUÇÃO A hipertensão arterial caracteriza-se pelo aumento dos níveis de pressão arterial; esta patologia mostra uma crescente atividade em âmbito mundial ultrapassando outras patologias acometendo principalmente pessoas com mais de 35 anos, e é geralmente desconhecida a presença pela maioria dos portadores. ¹ O aumento da pressão arterial ao longo da vida não é um processo fisiológico, estratégias de prevenção são as melhores para combater este male, evitando dificuldades e alto custo no tratamento. ¹ O treinamento de força, também conhecido como treinamento contra resistência ou treinamento com pesos, tornou-se uma das formas mais procuradas de exercício para melhora de aptidão física. Os termos citados acima têm sido utilizados para descrever um tipo de exercício que exige que a musculatura promova ou tente promover movimentos contra a oposição de alguma força. O treinamento resistido tem sido estudado desde meados de 1960 com relação as suas adaptações cardiovasculares, mas somente nos últimos anos essa estratégia tem sido difundida e utilizada como estratégia para aquisição e manutenção de variáveis de saúde. ² O treinamento resistido regular colabora para a manutenção da PA, isso é evidente tanto no resultado crônico como no agudo. TREINAMENTO RESISTIDO: Alterações hemodinâmicas As principais alterações durante um esforço contra resistência são aumentos na freqüência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS), volume sistólico, débito cardíaco e pressão arterial diastólica (PAD), ao passo que a PAD aumenta concomitantemente às outras variáveis em maiores esforços (cargas altas) e se mantém enquanto as outras aumentam em esforços mais brandos (cargas leves). ² Encontra-se maiores aumentos de FC e PA nas últimas repetições de séries até a fadiga, o que tem sido contraindicado; e dentre outros fatores que influenciam o comportamento pressórico verifica-se respostas também aumentadas em exercícios que envolvem grandes quantias de massa muscular. ²
2 Vale ressaltar que o maior volume e a menor intensidade em uma única série (repetições), elevam o trabalho cardiovascular, e que o menor volume com grande intensidade aumenta o risco para as estruturas articulares envolvidas no movimento. Sendo assim o bom senso por parte do profissional no momento da prescrição e escolha dos exercícios é fundamental para que haja um estímulo ótimo e seguro no sistema cardiovascular e meio articular. IMPORTÂNCIA DA FORÇA PARA CONTROLE PRESSÓRICO Qualidades de aptidão física como força, resistência, coordenação, velocidade, potência e flexibilidade são estimuladas de forma diferente pelos diversos tipos de exercícios. Potência aeróbia máxima e limiar anaeróbio são parâmetros metabólicos de aptidão que também recebem estímulos diferentes em cada tipo de exercício. Assim sendo, para objetivos específicos, alguns tipos de exercícios poderão ser mais eficientes. O aprimoramento das qualidades de aptidão físicas tem evidente importância quando existe o objetivo de realizar grandes esforços, como na prática esportiva. No entanto, os esforços da vida diária exigem aptidão em níveis adequados para que as atividades sejam possíveis e não representem fatores de desconforto ou risco de lesões ou acidentes cardiovasculares. O sedentarismo ou a hipocinesia induzida por doenças levam a uma redução gradativa e às vezes acentuada das qualidades de aptidão física, podendo comprometer a capacidade de realizar atividades diárias, dificultando a locomoção, aumentando a possibilidade de quedas, e criando situações de risco cardiovascular nos esforços habituais. 5 Uma das qualidades física mais desenvolvida em treinamentos contra resistência é a força; qualidade esta que em termos de saúde é essencial para atividades ocupacionais e de lazer, proporcionando independência aos portadores de diversos tipos de patologias. ³ A força é definida como capacidade do músculo em gerar tensão, a contração habitual dos músculos resulta em hipertrofia e também o aprimoramento da coordenação neuromuscular, no sentido do recrutamento de unidades motoras para ação simultânea. A hipertrofia e a coordenação neuromuscular causam o aumento da força. 5 A capacidade de locomoção pode ser seriamente afetada pela redução da força muscular. Para que a marcha seja possível, confortável e segura, a força é a aptidão mais importante. A capacidade de manutenção da postura e do equilíbrio, e a capacidade de aceleração para os passos, dependem diretamente da força muscular. Resistência para caminhar significa poder prolongar a marcha confortavelmente. Esta condição depende da força muscular, que é proporcional ao limiar anaeróbio. Define-se
3 limiar anaeróbio a intensidade de esforço que não pode ser realizada com produção energética exclusivamente aeróbia. Sempre que as fibras musculares apresentarem pouca capacidade de gerar tensão, a força necessária para os movimentos será produzida por meio do recrutamento de maior número de fibras. Pessoas fortes caminham com ativação de poucas unidades motoras, enquanto que pessoas mais fracas utilizam muitas fibras musculares para a marcha. Quando mais do que 30 a 40% das fibras musculares são ativadas a produção energética não pode ser realizada exclusivamente pela via metabólica aeróbia. Idosos debilitados caminham anaerobiamente, com desconforto por acidose metabólica e conseqüente fadiga precoce. O quadro clínico é o de claudicação intermitente, com o repouso permitindo continuar a marcha por mais algum tempo. Pessoas debilitadas têm limiar anaeróbio baixo porque pequenas potências de esforço já solicitam mais de 40% das fibras musculares. O aumento da força muscular eleva o limiar anaeróbio, o que melhora a resistência para esforços de baixa intensidade, como caminhar. Os exercícios resistidos também são os mais eficientes para aumentar a chamada Resistência Muscular localizada (RML), permitindo prolongar as atividades intensas. 5 A força muscular é de suma importância para a preservação da saúde pulmonar e cardíaca desviando e evitando o excesso de trabalho, diminuindo os riscos de acidentes cardiovasculares nos esforços do cotidiano. Isso acontece, pois uma pessoa forte utiliza menos fibras musculares nos esforços quando comparada com uma pessoa mais debilitada; com isso terminações nervosas livres dispersas entre as fibras (ergoceptores) são menos ativados. Os ergoceptores aumentam, por ação reflexa, a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a freqüência respiratória. Em resumo as pessoas com músculos mais fortes realizam esforços diários com menores riscos cardiovasculares e com maior conforto cardiorespiratório. 5 EFEITOS AGUDOS E CRÔNICOS APÓS SESSÃO DE TREINAMENTO RESISTIDO Nos exercícios em que as repetições são executadas até a fadiga, observa-se um aumento na PAS e na PAD logo após uma ou três séries, diferentemente ao que ocorre em exercícios com esforços submáximos. 9 Observou-se, porém, nos momentos subseqüentes uma diminuição acentuada da PA, isso se especula que seja pelo efeito baroreflexo, pela supressão da atividade simpática e pela hiperemia causada pela contração muscular; 9 além desses valores declinarem para além do valor observado no pré-exercício. Esses mecanismos ainda não estão bem elucidados.
4 Os resultados são controversos sobre os efeitos do treinamento resistido sobre a PA. Alguns estudos demonstram poucas alterações significativas da PA decorrentes de treinamentos resistidos 8 e outros mostram alterações significativas relacionadas ao volume de séries. O importante é que apesar das discrepâncias com relação às alterações da PA encontradas nos textos publicados, os benefícios dos exercícios físicos no geral são identificados em todos eles. COMO PRESCREVER UM TREINO AO HIPERTENSO A elaboração do treino resistido envolve a manipulação de uma série de variáveis que compõem o programa de treinamento. De acordo com essa manipulação conseguimos potencializar os benefícios do treinamento e aumentar o nível de segurança. Vale ressaltar que a hipertensão arterial normalmente apresenta-se em conjunto com outras comorbidades, tais como diabetes melito, obesidade, cardiopatias, DPOC, DAOP dentre outras. Para tanto, é necessário que, previamente ao início do programa de TR, o indivíduo seja submetido à avaliação médica que permita diagnosticar todas as comorbidades presentes e atestar a condição física para a prática do exercício físico. Segundo Vincent & Vincent citado por Câmara, Santarém, Wolosker 6, as contra-indicações ao TR, que também se aplicam a todas as outras formas de exercícios em populações especiais, são: pressão arterial sistólica acima de 200 mmhg ou pressão arterial diastólica acima de 110 mmhg, em repouso; queda da pressão arterial ortostática maior que 20 mmhg, com sintomas; hipotensão ao esforço maior que 15 mmhg; angina instável; arritmias não-controladas; estenose aórtica crítica ou sintomática; doença aguda ou febre; freqüência cardíaca de repouso maior que 120 batimentos por minuto; insuficiência cardíaca descompensada; bloqueio átrio-ventricular de 3º grau sem marca-passo; pericardite ou miocardite em curso; infarto ou embolismo pulmonar recente; depressão de segmento ST maior que 2 mv em repouso; problemas ortopédicos graves que proíbam o TR; cardiomiopatia hipertrófica; bypass coronário até 4 semanas; fração de ejeção ventricular esquerda menor que 30%; gravidez avançada ou complicada. 6 O TR para hipertensos não precisa de nenhuma adaptação específica. 5 Saber sobre a administração e efeitos dos medicamentos para hipertensão também é uma estratégia de segurança; verificar ação e alterações fisiológicas que possam comprometer ou modificar variáveis que durante o treino é importante para o controle geral de intensidade.
5 CONCLUSÃO Exercícios de forma geral contribuem para o controle pressórico de forma crônica e aguda, e o treinamento resistido contribui para o aumento da força que é uma qualidade física que protege o coração e pulmão de trabalhos mais intensos durante o dia-a-dia. O aumento do limiar anaeróbio torna-se um dos objetivos primários de pessoas debilitadas que buscam nossos trabalhos. Somos seres predominantemente aeróbios, as tarefas do cotidiano têm que ser desempenhadas dentro de um conforto (aerobiose) e longe de acidez metabólica (anaerobiose) evitando assim a fadiga e a claudicação intermitente. A PA e a FC são aumentadas de forma reflexa pelos ergoceptores quando são expostos a grandes esforços. Músculos fortes causam aumento do limiar anaeróbio, estimulando menos ergoceptores e alterando menos a FC e PA.
6 REFERÊNCIAS 1 Silveira M G da, Nagem M P, Mendes R R. Exercício físico como fator de prevenção e tratamento da hipertensão arterial. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 11 - N Março de Umpierre D, Stein R. Efeitos hemodinâmicos e vasculares do treinamento resistido: implicações na doença cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. vol.89 no. 4 São Paulo Outubro Bermudes A M, Vassallo D V, Vasquez E C, Lima E G. Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial em Indivíduos Normotensos Submetidos a Duas Sessões Únicas de Exercícios: Resistido e Aeróbio. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, volume 82 (nº 1), 57-64, Fleck S J, Kraemer W J. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. 3. Ed. Porto Alegre: Artmed, Santarém J M, Exercícios Resistidos. In: acessado em 07/09/ h40min. 6 Câmara L C, Santarém J M, Wolosker N, Dias R M R, Exercícios resistidos terapêuticos para indivíduos com doença arterial obstrutiva periférica: evidências para a prescrição. Jornal vascular brasileiro vol.6 no. 3 Porto Alegre Setembro Angelis K, Schaan B D, Irigoyen M C, Efeitos do treinamento físico no diabetes associado à hipertensão. Rev. Med. UCPEL, Pelotas, 2(1): 27-31, Jan.-Jun Oliveira S L, Slompo F V C, Mendes O C, Comportamento da frequência cardíaca e pressão arterial em diferentes momentos após uma sessão de exercícios resistidos. 9 Mediano M F, Paravidino V, Simão R, Pontes R L, Polito M D, Comportamento subagudo da pressão arterial após o treinamento de força em hipertensos controlados. Revista Brasileira de Medicina do Esporte vol.11 no. 6 Niterói Nov./Dez
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