CONSTRUINDO CONHECIMENTO EM BUSCA DA CONVIVÊNCIA PACÍFICA E CONSCIENTE ENTRE A POPULAÇÃO E O ARROIO PASSO FUNDO, MUNICÍPIO DE GUAÍBA, RS
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- Salvador Filipe Gentil
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1 CONSTRUINDO CONHECIMENTO EM BUSCA DA CONVIVÊNCIA PACÍFICA E CONSCIENTE ENTRE A POPULAÇÃO E O ARROIO PASSO FUNDO, MUNICÍPIO DE GUAÍBA, RS Jarbas Teixeira Cruz 1 & Teresinha Guerra 2 1 Escola Estadual de Ensino Fundamental Izaura Ibañez Paiva - jcruz@via-rs.net Fone: Fone escola: Centro de Ecologia/UFRGS - tg@ecologia.ufrgs.br Endereço: Av. Bento Gonçalves, 9500 Setor 4 Prédio Fone ou Área temática: Educação Ambiental Trabalho inédito
2 2 CONSTRUINDO CONHECIMENTO EM BUSCA DA CONVIVÊNCIA PACÍFICA E CONSCIENTE COM O ARROIO PASSO FUNDO, MUNICÍPIO DE GUAÍBA, RS Jarbas Teixeira Cruz 1 & Teresinha Guerra 2 1 Escola Estadual de Ensino Fundamental Izaura Ibañez Paiva - jcruz@via-rs.net 2 Centro de Ecologia/UFRGS - tg@ecologia.ufrgs.br Resumo Este trabalho resultou da integração da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), Comitê de Gerenciamento do Lago Guaíba, o Pró-Guaíba, Grupo AMA Jovens Ambientalistase (AJA), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A área de estudo abrangeu a sub-bacia hidrográfica do arroio Passo Fundo, localizada no município de Guaíba/RS, com a finalidade de provocar ações junto à população e que motivem um olhar diferente sobre si e seu espaço, possibilitando a construção do conhecimento, em que os cidadãos possam buscar convivência pacífica e consciente com o arroio Passo Fundo. O trabalho foi realizado em três etapas. A primeira etapa foi realizada em quatro sábados consecutivos em outubro de 2000, através de 4 oficinas, tendo como meta a sensibilização de 100 moradores das vilas São Jorge e Primavera, em torno dos problemas ambientais a partir de seu envolvimento com o Arroio Passo Fundo. A segunda etapa foi realizada em agosto/2002 com a formação da associação dos catadores de lixo denominada Associação Ecológica Nova Esperança (AENE) e em setembro, outubro e novembro/2003 foi realizada a terceira etapa através da parceria AMA/UFRGS com a elaboração do diagnóstico da bacia hidrográfica do arroio Passo Fundo. Este trabalho possibilitou a integração entre organizações não governamentais e órgãos públicos visando despertar mudanças junto às comunidades do entorno sobre as ações antrópicas na área de influência do arroio Passo Fundo. A capacitação, o esclarecimento e a conscientização de um possibilitou o entendimento da situação atual da bacia hidrográfica. Esta comunidade que vive às margens do arroio têm, em sua maioria, uma situação econômica muito precária, tendo seus ganhos econômicos com trabalhos informais, não percebendo a importância do arroio em suas vidas. Palavras-chave: educação ambiental, bacia hidrográfica, arroio Passo Fundo Introdução Atualmente os problemas ambientais tornam-se cada vez mais críticos em todo o mundo, pela má utilização dos recursos naturais gerados pela deficiência no processo de gestão ambiental. O crescimento demográfico e a crescente urbanização da população, associados à miséria de uma porção cada vez maior da população acentuam a problemática e dificultam as soluções. O arroio Passo Fundo está localizado no município de Guaíba. Com uma área de 79,8 km 2, esta bacia hidrográfica encontra-se situada entre as coordenadas UTM N, S, E e W, limitando-se ao norte e noroeste pela bacia do arroio do Conde, ao sul e sudoeste pela bacia do arroio Petim, e a leste pelo lago Guaíba. No curso principal, o arroio apresenta uma extensão de 24 km, tendo suas nascentes localizadas próximas aos seus divisores de águas, na altitude de 119 m e sua foz desembocando no lago Guaíba. As nascentes e o curso médio do arroio estão inseridos em uma área predominantemente rural. O curso médio tangencia as vilas São Francisco, Nova Guaíba e Bom Fim Novo e no curso inferior se encontram as vilas Primavera, São Jorge, Ronca Tripa e Iolanda. O município concentra uma população de aproximadamente habitantes, cuja densidade demográfica é de 247,6 hab/km 2 correspondendo a 2.625,5 hab/km 2 nas áreas urbanas,
3 3 correspondendo à 97,5% da população total e apenas 2,5% na área rural. O entorno do arroio Passo Fundo é ocupado por, aproximadamente 1300 famílias residentes das Vilas São Jorge e Primavera, que vivem em situação precária quanto ao saneamento básico, coleta de resíduos e ocupação das margens do arroio, onde as condições de saúde pública são mínimas. A viabilidade desse projeto ocorreu no momento em que os líderes comunitários e as Associações dos dois bairros, somaram forças com a ONG Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), o Comitê de Gerenciamento do Lago Guaíba, o Pró-Guaíba e o Grupo AJA (AMA Jovens Ambientalistas) tendo como objetivo principal o despertar para a realidade dos problemas ambientais inseridos em seu meio, alertando-os de que é possível mudar a partir da bagagem cotidiana de que cada cidadão. Metodologia Este trabalho contou com a parceria da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), do Comitê de Gerenciamento do Lago Guaíba, do Pró-Guaíba e da UFRGS. Foi realizado em três etapas descritas a seguir. A primeira etapa foi realizada através de 4 oficinas no mês de outubro de 2000, com uma carga horária total de 24 horas. Participaram 100 moradores das vilas São Jorge e Primavera. Foram abordados temas relacionados ao lixo, esgoto e o entendimento destes temas com o meio onde vivem. O grupo AJA (AMA Jovens Ambientalistas) estimularam a auto estima dos participantes através do relato de suas experiências, possibilitando estabelecer estratégias para a sensibilização da população quanto ao seu papel no cuidado com a preservação do arroio. A segunda etapa foi realizada no mês de agosto de 2002, com uma carga horária total de 32 horas. Foram distribuídos folders a respeito do arroio e esclarecimento das dúvidas levantadas pelos moradores locais. Também foram iniciados levantamento de dados (165 entrevistas) sobre os moradores das vilas Primavera e São Jorge. A terceira etapa foi realizada no período de setembro, outubro e novembro de 2003 com o auxílio da turma de alunos da disciplina de Impactos Ambientais do curso técnico em Monitoramento e Controle Ambiental do Centro de Ecologia/Escola Técnica da UFRGS, em parceria com Associação amigos do Meio Ambiente (AMA) e a Prefeitura Municipal de Guaíba. Foram realizados levantamentos a campo, coleta e análise da água do arroio Passo Fundo para identificar a qualidade das águas fluviais. Resultados e Discussão Na primeira etapa houve a necessidade de envolver parte da população dos bairros Vila Primavera e Vila São Jorge e, da cidade de Guaíba em um trabalho de Educação Ambiental, visto que enfrentam várias situações de riscos, como doenças provindas do contato com as águas do Arroio Passo Fundo, inundações freqüentes, são pontos relevantes do Projeto Para o Arroio Viver, a capacitação, o esclarecimento, a conscientização é uma proposta de modificação de hábitos a um grupo de 100 (cem) moradores, visando a formação de multiplicadores das idéias; principalmente com a população que vive às margens do arroio, a fim de tornar viável a convivência entre a comunidade, meio ambiente e a solução para os conflitos ambientais. Através de relatos de experiências do grupo de alunos integrantes do AJA (Ama Jovens Ambientalistas), procurou-se estimular a auto estima dos participantes, socializando-os com os demais, a fim de que os esclarecimentos sobre os problemas ambientais locais sejam sanados por especialistas através de palestras específicas. Destacamse as descobertas e o crescimento pessoal de cada integrante do grupo AJA, bem como das comunidades das Vilas Primavera e São Jorge. Houve necessidade de se utilizar atividades teatrais para expressar e abordar temáticas como o lixo, a fim de demonstrar que todos somos responsáveis pelo meio ambiente. A partir do que foi visto e discutido sobre as possíveis
4 4 soluções para os problemas ambientais do arroio Passo Fundo, a continuidade do processo iniciado será feito pela AMA. Como resultado prático da primeira etapa do trabalho das oficinas com a comunidade, surge o interesse na construção de um Galpão de Reciclagem, tendo em vista que alguns moradores destas vilas são catadores de resíduos na cidade e no lixão existente na área da bacia hidrográfica do arroio. Também foi criada uma Comissão Permanente de discussão para manter vivo o trabalho iniciado em outubro do ano de 2000, idealizado pela comunidade. Na segunda etapa do projeto Para ao Arroio Viver foi formado a Associação dos Catadores de Lixo denominada Associação Ecológica Nova Esperança AENE. O registro da entidade e a concretização do projeto de construção e funcionamento do Galpão de Reciclagem foi uma conquista da Integração entre as diferentes instituições, possibilitando melhores condições de vida das pessoas que têm seu sustento a partir da coleta, separação e venda de resíduos. A terceira etapa foi realizada a partir do contato da AMA e do Comitê do Lago Guaíba com a UFRGS. O levantamento de dados foi realizado na disciplina do Curso Técnico em Monitoramento e Controle Ambiental e possibilitou que a AMA, Prefeitura Municipal, Comitê do Lago, a comunidade escolar e a comunidade das Vilas Primavera e São Jorge pudessem ter em mãos um diagnóstico da bacia hidrográfica do arroio Passo Fundo. O curso superior é formado por mata ciliar nativa (Floresta Estacional Semi-Decidual) proporcionando ainda, uma proteção aceitável às nascentes e ao curso d água principal. É de suma importância a preservação dessa área para a manutenção e existência do arroio. Logo após à área de captação das nascentes, ocorrem extensões de taquaral e eucaliptal, que constituem matas plantadas. Mais adiante, ao longo do curso médio e inferior do arroio, observam-se grandes extensões de campos, mata nativa em capões isolados, pequenas áreas com cultivo de cítricos e arroz. O curso médio é caracterizado por uma área de campo inundável, com rotação de cultivo de arroz e pastagens para o gado. A mata ciliar está extinta, não havendo nenhuma proteção à calha do arroio. O professor Sérgio de Carvalho Leite do departamento de Botânica da UFRGS sugere a reposição da mata ciliar, pelo plantio de espécies nativas anfíbias como a figueira da folha miúda, o ingá, o maricá, o salso (salseiro) e a corticeira do banhado. Entre o curso médio e inferior a área de solo é inundável com predomínio de pastagem para pecuária. A mata ciliar estacional semidecidual é mais baixa do que nas nascentes devido à adaptação da vegetação ao solo inundável. É também importante a preservação dessa mata para a proteção do curso d água, reduzindo a erosão e o assoreamento. No curso inferior, próximo à foz do arroio, a vegetação ciliar é escassa, não chegando a formar mata. Seria necessário a preservação de uma determinada largura ao longo das margens, para permitir a sucessão ecológica com restauração natural da mata ciliar. O Índice de Qualidade da Água (IQA) identificou que, no curso superior as águas do arroio Passo Fundo tem qualidade boa, no curso médio a qualidade da água é aceitável e na foz a qualidade é ruim. Esta qualidade ruim é o resultado da entrada de esgotos domésticos e despejos industriais das áreas urbanas no curso inferior do arroio Passo Fundo.
5 5 Observou-se que a população ribeirinha é, em sua maioria, pobre e com um nível de vida muito baixo. O sustento de muitas famílias provém do trabalho informal, ou através da ajuda de entidades beneficentes. Das 165 famílias visitadas, 93 possuem apenas 1 pessoa trabalhando com renda comprovada. A população apresenta nível de escolaridade baixo, não concluindo o ensino fundamental, em sua maioria. A renda familiar situa-se em torno de R$ 200,00 a R$ 500,00 com 79% das residências sem reservatório de água. Uma minoria tentou omitir valores de renda familiar, dizendo sobreviver sem salário algum, com a intenção de receber algum benefício ou com medo de alguma(s) mudança(s). Os vetores mais freqüentemente observadas nas residências foram ratos, moscas, mosquitos, baratas, caramujos e pulgas, representando 73% das residências. Praticamente todo o lixo gerado na área (97,5%) é recolhido pela Prefeitura Municipal de Guaíba, sendo despejado no lixão onde a Associação Ecológica Nova Esperança (AENE) seleciona os resíduos a serem comercializados e aguarda a construção do galpão de recicalgem pela Prefeitura Municipal. A maioria das residências têm mais de 4 pessoas, em geral agregando em uma só casa, pais, avós, filhos e netos. Esta comunidade considera a água com boa qualidade, quando chega a sua casa e que o atendimento no posto de saúde local também é bom. O tempo de moradia da população ribeirinha é, em média, 3 anos. Isso mostra que a fixação das pessoas a este local ocorreu há um período recente. Além disso, esta população está mais preocupada em sobreviver do que em identificar a importância do arroio ou a importância da preservação das margens ou da mata ciliar. Além disso eles não têm idéia da influência da poluição do arroio sobre suas vidas. Esta realidade se reflete na pesquisa quando perguntamos sobre as doenças enfrentadas pela família, nos últimos meses. Em geral, a maioria das pessoas não consegue estabelecer relação entre as doenças enfrentadas e a poluição do arroio. Isso demonstra a falta de conhecimento da população sobre o meio onde vivem e as interferências que o mesmo tem sobre a saúde, além do que algumas residências têm o pátio praticamente no arroio, associado a muitos resíduos (plásticos, móveis, vasos sanitários, etc.) abandonados nas margens e dentro do arroio. Conclusão A integração dos órgãos públicos com organizações não governamentais despertou a necessidade de integrar diversas áreas, visando despertar mudanças junto às comunidades do entorno sobre as ações antrópicas na área de influência do arroio Passo Fundo. Uma das principais conquistas deste projeto foi a discussão com a comunidade sobre a necessidade de proteger e cuidar do arroio, suas margens e seu entorno. A integração da universidade federal como um meio científico de estudo sobre o ambiente de bacia hidrográfica, a água e a coleta de dados foram importantes no levantamento de dados e de estudo da situação socioeconômica da população ribeirinha. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul vem ressaltar que a recuperação do arroio é uma necessidade urgente, principalmente para a população que vive nas margens do mesmo e sofre com a sua poluição. Referências Bibliográficas GUERRA, T., SPANEMBERG, G. PEDROZO, C., ZANCAN, L. C. HASENACK, H. E MACHADO, N. A. F. Avaliação ambiental da microbacia do arroio Cavalhada, RS, Brasil, Porto Alegre, IN: FALKENBERG, C.L. C., RAYA-RODRIGUEZ, M. T. E CANTELLI, M. (ORGS.). Gerenciamento de resíduos e certificação ambiental. Porto Alegre EDIPUCRS, 2000, p.
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