FACED PARA LICENCIANDOS. Eixo Temático: A docência na escola e na formação de professores

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1 FACED PARA LICENCIANDOS Vanessa Rodrigues Porciúncula* 1 Prof.Dra.Luciane Uberti 2 Eixo Temático: A docência na escola e na formação de professores A presente investigação é resultado da experiência como bolsista de monitoria da disciplina Educação Contemporânea: currículo, didática, planejamento, na Faculdade de Educação da UFRGS. Os estudos feitos para o acompanhamento das aulas, como monitora da disciplina, possibilitou que eu entendesse a docência vinculada ao exercício investigativo, como docência-pesquisa (Uberti, 2013). Neste exercício, busquei coletar e analisar os discursos dos alunos de licenciatura sobre o que eles esperam aprender a respeito do exercício da docência nas disciplinas vinculadas a Faculdade de Educação e, também, como elas poderiam ajudar na formação da sua identidade docente. Estão sendo analisados os discursos dos licenciados que se referem à expectativa em relação às disciplinas da FACED, sobre como entendem que deveriam ser essas disciplinas. De logo percebemos uma visão utilitarista do ensino, que extrapola do imaginário do que deveria se basear a formação docente, muito relacionado com a ânsia pela operacionalização, ânsia pelo caminho, o caminho de como dar uma boa aula. (Corazza, 1996). Observa-se que está muito presente o discurso do como fazer, mostrando uma preocupação, por vezes, exacerbada com a prática. Como se toda a teoria necessária para o exercício da docência fosse aprendida neste espaço. Pode-se afirmar que aparece reincidentemente nos discursos dos alunos a importância das disciplinas mais voltadas para a prática docente. Mais frequente ainda são as narrativas sobre a falta de sintonia entre as disciplinas da Educação com o momento curricular vivenciado por esses alunos. Alguns afirmam que as disciplinas de FACED estão localizadas no inicio da vida acadêmica, no qual, seus interesses estariam mais voltados para as disciplinas da suas áreas especificas. Cabe aqui destacar a boa relação entre alunos e professores, estando a barreira localizada no distanciamento dessas disciplinas com o interesse dos alunos, no conteúdo teórico sobre ensino. Tais discursos vem a confirmar o distanciamento, não apenas físico, das disciplinas da Faculdade de Educação na formação dos licenciandos. Pode-se dizer que os discursos dos alunos trazem à tona experiências importantes em relação a essas disciplinas, todas ligadas ao processo de formação de professores, problematizando e podendo contribuir com a política atual de formação docente da Universidade. Palavras-chave: Formação de professores. Docência-pesquisa. 1 Graduanda em Ciências Sociais- Licenciatura da UFRGS, Vanessa.porciuncula@hotmail.com. 2 Doutora em Educação, professora da área de Didática e Formação de Professores, do DEC-FACED- UFRGS.

2 Existe um movimento dos currículos dos cursos de formação de professores contemporâneos e dos programas de valorização a docência, destacando Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), de estimular os futuros docentes a conhecer o espaço escolar cada vez mais cedo no processo de sua formação. Ao perceber tal movimento alguns discursos passaram a me perturbar em particular os discursos dos alunos de licenciatura, sobre o que eles esperam aprender a respeito do exercício da docência, nas disciplinas vinculadas a Faculdade de Educação. Trata-se aqui de compreender como os licenciando estão olhando para seu processo de formação, e quais os conhecimentos que estão sendo considerados validos para o desenvolvimento da sua pratica docente. A metodologia utilizada gira em torno da analise de discurso, proposta por Michel Foucault (Foucaul, 1995), considerando os discursos como dotados de valor de verdade na área de formação de professores. As falas dos estudantes, em estagio final de curso, foram coletadas através de entrevistas semi-estruturadas que abordavam perguntas sobre as concepções dos alunos a cerca da pratica docente desenvolvida durante da pratica do estagio final. Até o presente momento, as entrevistas feitas com os estudantes possibilitaram circunscrever pontos reincidentes no discurso analisado um deles se referente ao aprender a ser docente para aprender a ser professor é preciso relacionar a teoria da universidade com a prática da escola Os cursos de licenciaturas ao desenvolverem seus currículos formais, com os conteúdos e as atividades de estágios, têm demonstrado um distanciamento com as necessidades dos alunos e com isso, pouco tem contribuído para a formação de uma nova identidade docente, que supere a dicotomia entre teoria e pratica, de maneira a formar um bom professor que de conta das novas demandas das escolas. Visando a formação de um professor reflexivo e pesquisador de sua pratica (Pimenta, 2008, p. 25). Ou ainda como o desenvolvimento de uma docência-pesquisa em que o hífen sustenta uma condição de existência mutua, em um espaço de produção, criação, como um ato e expressão de um pensamento (Uberti 2013). Onde o exercício da docência, ganha um caráter investigativo, e a pesquisa torna-se uma ferramenta para no campo educacional a fim de favorecer a autoria e a construção de conhecimentos que procurem responder questões contraditórias do nosso tempo (Cunha, 2005).

3 Partindo da critica de Donald Schön (Schön, 1992) sobre os currículos de formação de professores que diminuem a importância da pratica durante formação da identidade docente, deixando apenas para o final do curso, propondo que o exercício da pratica estivesse diluído enfatizando o caráter investigativo que está poderia exercer, numa perspectiva de formação docente amparada na reflexão sobre a reflexão na ação levando ao surgimento do professor Pesquisador (Pimenta, 2008). E a partir de Pimenta e Anastasiou (Pimenta e Anastasiou, 2005) onde destaca que para a formação de professores é preciso considerar a existência de quatro tipos de saberes: os saberes da área de conhecimento, os pedagógicos, os didáticos e os saberes da experiência do sujeito (saber pratico). Passamos a configurar um discurso com valor de verdade em torno da formação docente. Considerando a perspectiva dos alunos referente à Faculdade de educação, destacamos a fala onde se localiza a expectativa referente aos ensinamentos referente ao campo da educação. A faced está muito longe da pratica, do conhecimento pratico, os alunos vem para a Faced querendo aprender a dar aula, a planejar a ter domínio de turma. De logo percebemos uma visão utilitarista do ensino, que extrapola do imaginário do que deveria se basear a formação docente, muito relacionado com a ânsia pela operacionalização, ânsia pelo caminho, o caminho de como dar uma boa aula. (Corazza, 1996). Observa-se que está muito presente o discurso do como fazer, mostrando uma preocupação, por vezes, exacerbada com a prática. Outros trazem a necessidade de cadeiras de integração que fazem a articulação entre o conhecimento da área de conhecimentos com a prática docente, com os componentes didáticos, podendo-se assim afirmar a reincidentemente de tais discursos dos alunos a importância das disciplinas mais voltadas para a prática docente. As aulas (da FACED) em si não influem ou, pelo menos não de maneira direta, porque uma coisa é você ter o contexto educacional, formação docente outra coisa é você lecionar a partir de uma corrente de ensino da área de formação [...] como dar uma aula tem mais haver com cadeiras de integração que são bem poucas no nosso currículo (licenciatura em química. Como se toda a teoria necessária para o exercício da docência fosse aprendida neste espaço. Os alunos têm dificuldade de enxergar a interligação entre o conhecimento teórico, especifica da sua área de formação, os conhecimentos da pratica docente, com o campo da

4 educação. Colocando estes conhecimentos em caixas diferentes que são acessadas de formas isoladas quando necessárias. E os alunos vêm para a faculdade de educação buscando essa articulação, e quando as disciplinas da faculdade de educação não fornece essa articulação. Os alunos se encontram com as teorias educacionais, e ao se fecham a esse conhecimento simplesmente por não se tratar do que esperavam. Podemos afirmar que, quando se trata de estudar a formação de docente, a inclusão dos saberes provenientes da experiência dos docentes em sala aula, ou seja, os saberes advindos da prática, produzidos a partir de uma reflexão no ato pedagógico, tornou-se uma demanda dotada de valor de verdade na atualidade, em que a prática de ensino embasa a constituição desse saber docente. Mais frequente ainda são as narrativas sobre a falta de sintonia entre as disciplinas da Educação com o momento curricular vivenciado por esses alunos. Alguns afirmam que as disciplinas de FACED estão localizadas no inicio da vida acadêmica, no qual, seus interesses estariam mais voltados para as disciplinas da suas áreas especificas. Acho que essas disciplinas são muito importantes, só que eu acho que pelo menos no curso de Matemática, elas são propostas no inicio do curso, antes de fazer as observações [...] a gente não tem maturidade suficiente no inicio do curso para entender os textos [...] no final do curso, no estagio temos que relembrar todas as cadeiras. Tais discursos vêm a confirmar o distanciamento, não apenas físico, das disciplinas da Faculdade de Educação na formação dos licenciandos. A reflexão sobre a ação é parte importante no processo de aprendizagem permanente em que consiste a formação docente, contudo percebemos que essa reflexão sobre a pratica de sala de aula não é sentida pelos futuros docentes, durante o desenvolvimento do curso. O que reforça a visão binária entre teoria e pratica. Os licenciandos, ainda estão à procura de didática magna ou de um tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (Corazza, 1996), para se sentirem seguros e capazes de desenvolver um bom trabalho e terem do tão almejado domínio de turma. Muito por conta que os licenciados são a todo o momento seduzidos e interpelados por discursos que dizem como eles devem ser e agir para que sejam mais verdadeiros e perfeitos em seu oficio (Garcia, 2005 ).

5 Quando se apreende um discurso que compreende a construção da identidade docente de forma relacional, tal como: para aprender a ser professor é preciso relacionar a teoria da universidade com a prática da escola. Entende-se que tais argumentações disseminam uma concepção dialética do conhecimento, representada na tríade práticateoria-prática, bastante influente no pensamento pedagógico contemporâneo, em que a prática é valorizada como critério e fim último do processo de produção de conhecimento docente (Uberti, 2012). Afastando-se do entendimento de saber plural, onde o saber docente não se restringe a transmissão do conhecimento, já constituídos e sim que sua pratica integra diferentes saberes, como os saberes oriundos da formação profissional, saberes disciplinares, curriculares e saberes da experiência, com os quais se estabelece diferentes relações (Tardif, 2002) Pode-se dizer que os discursos dos alunos trazem à tona experiências importantes em relação a essas disciplinas, todas ligadas ao processo de formação de professores, problematizando e podendo contribuir com a política atual de formação docente da Universidade. Uma vez que os atuais currículos das licenciaturas ainda estão a formar professores com uma visão de ensino tradicional e conteudista, que não articula a vivencia da pratica das praticas de ensino com a produção de novos conhecimentos na área de ensino. Referências CORAZZA, Sandra Mara. Como dar uma aula? Que pergunta é essa?. In: MORAES, Vera Regina Pires (Org.). Melhoria do Ensino e Capacitação Docente. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, CUNHA, M. I. As políticas públicas de avaliação e docência: impactos e repercussões. In: CUNHA, Maria Isabel (Org.). Formatos avaliativos e concepção de docência. Campinas: Autores Associados, p FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense, GARCIA, Maria Manuela Alves; HYPOLITO, Álvaro Moreira e VIEIRA, Jarbas Santos. As identidades docentes como fabricação da docência. Educação e Pesquisa, Mar 2005, vol.31, no.1, p

6 PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, SCHÖN, Donald A. La formación de profesionales reflexivos. Hacia un nuevo disefio de la enseñanza y el aprendizaje en las profesiones. Barcelona, TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional formação profissional. formação profissional Petrópolis: Vozes, UBERTI, Luciane. ; BELLO, S. E. L.. A docência-pesquisa em movimento no PIBID. In: Luciane Uberti; Samuel Edmundo Lopez Bello. (Org.). Iniciação à Docência: articulações entre ensino e pesquisa. 1 ed. São Leopoldo, UBERTI, Luciane. Das relações entre saberes docentes. Projeto de Pesquisa Departamento de Ensino e Currículo Faculdade de Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PIMENTA, Selma Garrido. Professor reflexivo, construindo uma crítica. In: PIMENTA, Selma Garrido. (Org.) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez editora, 2008.