A CONTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS NA LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA NO ESTADO DO TOCANTINS O CASO CPT, CDHA, REPÓRTER BRASIL.

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1 A CONTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS NA LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA NO ESTADO DO TOCANTINS O CASO CPT, CDHA, REPÓRTER BRASIL. Nome dos autores: Juliana Lopes do Nascimento, Alberto Pereira Lopes. Juliana Lopes do Nascimento 1 ; Alberto Pereira Lopes 2 ; 1 Aluno do Curso de Geografia; Campus de Araguaína/TO; juliana.lopes@mail.uft.edu.br PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de Geografia; Campus de Araguaína/TO; beto@mail.uft.edu.br RESUMO A escravidão permanece presente em nossa sociedade sendo que com uma nova roupagem tal prática transforma trabalhadores vulneráveis em mão de obra escrava, sobretudo em fazendas onde estes perdem a liberdade e a dignidade. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que no Brasil 25 a 40 mil trabalhadores por ano encontrado em situação de trabalho semelhante ao escravo. O estado do Tocantins está atualmente entre os principais estados com maiores índices de trabalho escravo. A prática mais encontrada no estado é a escravidão por divida, que se apresenta como sendo o endividamento do empregado pelo empregador, com cobranças de dividas indevidas que na maioria das vezes são superfaturadas. No Tocantins as instituições não governamentais que apresentam uma atuação mais presente sobre esta problemática é a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Centro de Direitos Humanos de Araguaína (CDHA) e a ONG Repórter Brasil. Portanto, este estudo objetiva compreender a contribuição dessas instituições não governamentais na luta contra a escravidão por dívida no estado do Tocantins. A metodologia utilizada esteve baseada em leituras, pesquisas, entrevistas e analise de dados estatísticos. Palavras-chave: Escravidão por Dívida; Estado do Tocantins; Instituições Não Governamentais. INTRODUÇÃO Este estudo buscou identificar a contribuição das instituições não governamentais na luta contra a escravidão por dívida no estado do Tocantins, mais especificadamente a atuação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Centro de Direitos Humanos de Araguaína/TO (CDHA) e da ONG Repórter Brasil, que são as mais atuantes no estado no combate a tal prática. Desse modo, este estudo torna-se de grande relevância no atual contexto em que se encontra o estado do Tocantins diante da prática de trabalho escravo em seu território, pois são cada vez maiores os números de trabalhadores libertados

2 no estado, a prática em fazendas na região é cada vez mais frequente e até mesmo políticos que se dizem representantes do povo são flagrados utilizando-se de tal prática. Nesse contexto, é por meio dessas instituições que podemos diminuir a ocorrência da escravidão por dívida, a partir dos trabalhos de conscientização, prevenção, inclusão, entre outros que buscam combater tal prática. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo esteve baseado em leituras e pesquisas em dissertações, revistas, jornais, endereços eletrônicos entre outros. Realizamos ainda a leitura do relatório da Organização Internacional do Trabalho OIT (2005) e simultaneamente a realização dessas leituras efetuamos entrevistas com representantes das seguintes instituições: Comissão Pastoral da Terra (CPT) regional do estado do Tocantins, escritório regional da ONG Repórter Brasil, Centro de Direitos Humanos de Araguaína/TO (CDHA), agência regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Araguaína/TO. Analisamos os dados estatísticos referente a escravidão no ano de 2012 números estes disponibilizado pela Comissão Pastoral da Terra, e a partir desses dados foi possível a construção de gráficos e análise dos mesmos. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com este estudo podemos constatar que a Sociedade civil desempenha atualmente uma função de grande relevância no combate à escravidão por divida no estado do Tocantins, sobretudo por meio da atuação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ONG Repórter Brasil e Centro de Direitos Humanos em Araguaína/TO. Sobre a função e relevância dessas instituições concordamos com Lopes quando afirma que: O papel das entidades no combate ao tráfico de pessoas, na luta contra a escravidão por dívida, é relevante, no sentido da denúncia, da orientação dos trabalhadores, como também nos projetos de integração social para que estes trabalhadores não retornem às fazendas em condições de degradação do trabalho. (LOPES, p. 252) Analisando os dados disponibilizados pela Comissão Pastoral da Terra referente ao ano de 2012 o estado do Tocantins encontra-se atualmente no seguinte quadro: 22 casos identificados, 360 pessoas envolvidas, 18 casos fiscalizados e 321 pessoas resgatadas. Assim o estado está em segundo lugar no ano de 2012 no ranking nacional da escravidão, estando atrás apenas do estado do Pará. Estes números alarmantes reforçam a importância de se combater tal prática.

3 A Comissão Pastoral da Terra (CPT) é uma instituição não governamental fundada em 1975 que atua em âmbito nacional. Em termos de denúncia sobre a existência de trabalho escravo em território brasileiro a CPT foi à pioneira, sendo que atualmente a pastoral recebe denúncias de trabalhadores vitimas da escravidão, em seguida encaminha estas denuncias aos órgãos competentes para que sejam apuradas e fiscalizadas. Porém segundo os dados analisados constatamos que muitas das denúncias realizadas não são fiscalizadas. É importante destacar que a pastoral tem uma relação de confiança por parte dos trabalhadores com a instituição, algo primordial para que a denúncia seja efetivada. A pastoral realiza algumas medidas preventivas visando erradicar o trabalho escravo como, por exemplo, palestras, oficinas, seminários, e a distribuição de material de prevenção com alerta e informações sobre a problemática como cartazes, calendários entre outros. Desde o ano de 1997 a Comissão Pastoral da Terra coordena uma campanha permanente de atuação nacional denominada De Olho Aberto para não Virar Escravo, que tem como meta a erradicação da escravidão em nosso país. No Tocantins a campanha está com uma atuação mais presente na região norte do estado, área denominada de Bico do Papagaio onde os índices de trabalho escravo são mais recorrentes. Em entrevista Frei Xavier Plassat expressa à importância da campanha: A primeira dificuldade absolutamente foi à negação e a invisibilidade do trabalho escravo, por isso nossa campanha chama de olho aberto para não virar escravo, pra se tornar visível o que geralmente é invisível, o que as pessoas não querem ver ou acostumou a ver tantas vezes que acham que é normal. (F. X. P., entrevista em Nov ) A instituição disponibiliza frequentemente dados estatísticos relacionados à escravidão em nosso país, números estes relevantes para um planejamento mais atuante no combate a tal prática. Outra frente importante que identificamos é que a instituição atua cobrando do Estado ações que buscam combater o trabalho escravo. A ONG Repórter Brasil é uma das mais relevantes fontes de informação sobre trabalho escravo no Brasil. No trabalho realizado pela ONG identificamos três áreas principais de atuação voltadas para a problemática da escravidão em nosso país, a agência de notícias, a realização de pesquisa em cadeias produtivas e o programa Escravo, nem pensar!. Sendo este último à atuação mais presente da entidade no estado do Tocantins. O programa Escravo, Nem Pensar vêm sendo desenvolvido desde o ano de 2004 e visa por meio da educação combater a escravidão a partir da prevenção. Tal programa realiza formações de

4 educadores e lideranças sociais em locais com maior ocorrência de trabalho escravo e/ou de aliciamento de trabalhadores para está prática. O programa considerado como o primeiro a prevenir a escravidão em âmbito nacional, já realizou formações com mais de 2 mil educadores e lideranças, desenvolvendo ações com 60 mil pessoas, entre estudantes e pessoas nas comunidades. No Tocantins o programa já foi realizado em vários municípios entre eles: Ananás, Araguaína, Axixá do Tocantins, Campos Lindos, Palmeirante, Wanderlândia e Xambioá. A ONG manteve um escritório local na cidade de Araguaína/TO durante o ano de 2007 a 2012, no qual a entidade buscava fortalecer sua atuação local e a articulação com os participantes do programa Escravo, Nem Pensar! na região. De acordo com informações um dos motivos para esse escritório local deixar de funcionar seria a falta de recursos, mas especificadamente os recursos financeiros. Nesse sentido, em entrevista à coordenadora do escritório regional Carolina Motoki aponta que um dos nossos grandes desafios é consegui recursos pra continuar funcionando, porque a gente não tem financiamento institucional, o financiamento que a gente tem é todo por projeto. Porém, a entidade mantém suas ações e trabalhos a partir da sede em São Paulo/SP. O Centro de Direitos Humanos em Araguaína/TO (CDHA) atua orientando os trabalhadores sobre seus direitos. A entidade realizou um projeto denominado de trilhas de liberdade que era financiado pela Catholic Relief Services (CRF) uma entidade ligada a Igreja Católica dos Estados Unidos. Nesse projeto era realizado o atendimento a trabalhadores vitimas da escravidão, assim como o encaminhamento de denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o acompanhamento de trabalhadores resgatados do trabalho escravo. Sobre a atuação do CDH em entrevista a atual coord. Carmelita Coimbra expressa que: (...) o objetivo do CDH é combater o trabalho escravo e também o trabalho infantil. Acho que a gente precisa tá se fortalecendo, precisa tá buscando parceria que comunguem do mesmo sentimento pra que a gente não permita que isso continue, é uma luta, é uma luta muito grande. (C. C. Entrevista em Abril de 2013) Entretanto, quando não era necessário realizar a denúncia junto ao MTE, esses trabalhadores eram encaminhados à cooperativa de geração de emprego e renda localizada no município de Ananás/TO, denominada de vida nova que produzia hortaliças para comercializa-las. Esta ação prevenia as famílias para não saírem às fazendas à procura de emprego e tornem-se mais vitimas nas estatísticas sobre o trabalho escravo em nosso país.

5 Após o fim do projeto no ano de 2010 verificamos que o CDHA passou por um momento de estagnação, com ausência projetos e sem a realização de seus trabalhos por falta de recursos, sobretudo financeiros. É importante destacar que os recursos são advindos por meio dos projetos para a realização dos mesmos, assim as instituições não podem utilizar do dinheiro de projetos para uso próprio, por exemplo, para manter-se funcionando. Em 2013 possuindo uma nova coordenação o CDH de Araguaína/TO encontra-se com um projeto pronto que espera apenas assinatura do contrato com a financiadora para o inicio dos trabalhos. Denominado de mãos empreendedoras o projeto é voltado para a indústria têxtil e visa fazer com que mães carentes e desempregadas tenham uma nova oportunidade e possam ter uma renda para ajudar no sustento da família. LITERATURA CITADA CPT, Comissão Pastoral da Terra. Síntese Estatística do Trabalho Escravo. Janeiro, COIMBRA, Carmelita. Centro de Direitos Humanos de Araguaína (CDHA) Nova Coordenação. Araguaína/TO. Abril, Entrevista concedida a Juliana L. do Nascimento. LOPES, Alberto Pereira. Escravidão por divida no norte do estado do Tocantins: vidas e destinos fora do compasso. Tese (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade Federal de São Paulo - USP, MOTOKI, Carolina. ONG Repórter Brasil. Araguaína/TO. Novembro, Entrevista concedida a Juliana L. do Nascimento. PLASSAT, Frei Xavier. Comissão Pastoral da Terra (CPT). Araguaína-TO. Novembro, Entrevista concedida a Juliana L. do Nascimento. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Alberto Pereira Lopes pela orientação nesta pesquisa, por sempre esta incentivando, apoiando e, sobretudo acreditando em minha capacidade. Aos amigos e amigas, sobretudo a Adriana Moreira dos Santos pela grande amizade e por toda compreensão. A Minha família em nome de Valdene B. Lopes (Mãe), Marcos Júnior L. do Nascimento (irmão) e Gilmar de Sousa Nascimento (Pai In Memoriam) por todo o apoio, compreensão e amor. Aos representantes e membros das instituições que concederam entrevistas e dados que foram relevantes a está pesquisa, portanto agradeço ao Frei Xavier Plassat (CPT); Evandro Rodrigues (CPT); Carolina Motoki (ONG Repórter) Brasil; Claudiene Gomes Borges (CDHA), Carmelita Coimbra (CDHA), Verônica Cardoso Dias (MTE). Ao CNPq pela bolsa que me possibilitou a realização desta pesquisa, e pela oportunidade única de aprendizado. "O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil"