COMO CALCULAR A PEGADA HÍDRICA NA INDÚSTRIA

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1 COMO CALCULAR A PEGADA HÍDRICA NA INDÚSTRIA

2 FICHA TÉCNICA Título Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria Projeto EFIDRIC - Eficiência Hídrica na Indústria Entidade Promotora AEP - Associação Empresarial de Portugal Equipa Maria da Conceição Vieira José António Monteiro Manuela Roque Depósito Legal /15 Junho 2015

3 ÍNDICE GERAL 1. INTRODUÇÃO 9 2. ÁGUA: RECURSO ESSENCIAL, BEM ESCASSO ENQUADRAMENTO ÁGUA PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL PEGADA HÍDRICA CONCEITO ÁGUA VIRTUAL E PEGADA HÍDRICA AS CORES DA PEGADA HÍDRICA TIPOS DE PEGADA HÍDRICA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA CONTABILIZAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA ENQUADRAMENTO PEGADA HÍDRICA DE UMA ETAPA DO PROCESSO PEGADA HÍDRICA DE UM PRODUTO PEGADA HÍDRICA DE UM CONSUMIDOR OU GRUPO DE CONSUMIDORES PEGADA HÍDRICA DE UMA EMPRESA PEGADA HÍDRICA, PEGADA ECOLÓGICA E PEGADA DE CARBONO OPÇÕES DE MEDIDAS PARA A REDUÇÃO DA PEGADA HÍDRICA CORPORATIVA 7. NORMA ISO ENQUADRAMENTO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO COMUNICAÇÃO REVISÃO CRÍTICA LIMITAÇÕES DA PEGADA HÍDRICA CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 5

4 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Distribuição da água no Planeta Terra 11 Figura 2. Stress hídrico. Cenários para 2025 de acordo com o Word Water Council 13 Figura 3. Pegada hídrica dos diversos países (m 3 /hab/ano) (Hoekstra e Chapagain, 2007) 20 Figura 4. Água virtual de alguns produtos 23 Figura 5. Pegada azul, verde e cinza de alguns produtos alimentares 27 Figura 6. Quatro fases distintas na avaliação da pegada hídrica 30 Figura 7. Pegadas hídricas de processo como a unidade básica para todas as outras pegadas hídricas 39 Figura 8. Composição da pegada hídrica de uma empresa 47 Figura 9. Fases da avaliação da pegada hídrica 59 Figura 10. Exemplos de fronteiras de sistema diferentes para a avaliação da pegada hídrica numa organização 63 6 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

5 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. Objetivos da avaliação da pegada hídrica 32 Quadro 2. Explicação espaço temporal na contabilização da pegada hídrica 34 Quadro 3. A relação entre os diferentes tipos de pegadas hídricas 39 Quadro 4. Unidade da pegada hídrica 40 Quadro 5. Exemplos de componentes da pegada hídrica de uma empresa 47 Quadro 6. Opções de redução da pegada hídrica corporativa 54 Quadro 7. Aspetos que compõem a norma ISO Quadro 8. Princípios fundamentais da norma ISO Quadro 9. Relatório de pegada hídrica 77 Quadro 10 Relatório de pegada hídrica destinado a terceiros 78 EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 7

6 8 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

7 1. INTRODUÇÃO A água é hoje, à escala global, um bem escasso. Por essa razão, está cada vez mais no centro do debate político. O setor industrial, pelo seu perfil de grande consumidor de água e crónica ineficiência na gestão sustentável da água, é um dos atores em destaque neste debate em curso. A própria sociedade civil e os consumidores estão cada vez mais sensibilizados para estas matérias, exigindo às empresas que cumpram com critérios de responsabilidade social cada vez mais apertados. Este cenário cria riscos externos de difícil gestão às empresas. De modo a diminuírem esses riscos externos, bem como a enfrentar a sua ineficiência interna, muitas empresas começaram a adotar práticas de racionalização dos consumos da água, no sentido de aumentarem a eficiência hídrica nos processos produtivos. Uma das ferramentas mais importantes desenvolvidas neste âmbito foi a «pegada hídrica». A pegada hídrica representa o volume total de água utilizado na produção de um bem ou serviço, durante um determinado período de tempo e numa dada área geográfica. Naturalmente, as empresas de maior dimensão foram as primeiras a adotar esta tendência, desenvolvendo em muitos casos metodologias próprias para a gestão sustentável da água, com bons resultados. No entanto, o grande desafio é trazer esta e outras ferramentas de crucial importância para a gestão da água às empresas de menor dimensão, às PME, que representam cerca de 95% do tecido económico nacional. Como recurso fundamental que é no fabrico da esmagadora maioria dos produtos, a água tem um peso preponderante na estrutura de custos das empresas e é uma barreira adicional à competitividade das empresas portuguesas. Foi com o objetivo de promover a eficiência hídrica na indústria portuguesa e a adoção de ferramentas de apoio como o cálculo da pegada hídrica, que a AEP - Associação Empresarial de Portugal decidiu desenvolver a presente publicação, intitulada "Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria", no âmbito do projeto «EFIDRIC - Eficiência Hídrica na Indústria». A publicação pretende ser um guia prático de apoio ao cálculo da pegada hídrica em contexto industrial, explicitando conceitos fundamentais neste âmbito e apresentando os méritos do seu uso. Com esta iniciativa, a AEP oferece um contributo adicional à sustentabilidade do uso da água na indústria portuguesa e à promoção da sua competitividade pela melhoria da eficiência. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 9

8 2. ÁGUA: RECURSO ESSENCIAL, BEM ESCASSO 2.1. ENQUADRAMENTO O mundo não será capaz de cumprir os enormes desafios de desenvolvimento do século XXI desenvolvimento humano, cidades sustentáveis, alterações climáticas e segurança alimentar e da energia se não se melhora a forma como os países administram os seus recursos hídricos e se garante à população acesso a serviços confiáveis de água e saneamento. O mundo enfrenta uma crise de disponibilidade de água. Um relatório do Fórum Económico Mundial classificou este tema como o segundo risco global de maior impacto e entre os cinco riscos mais prováveis de se materializarem a nível mundial. A água é fundamental para o desenvolvimento económico e social: é vital para manter a saúde, cultivar alimentos, desenvolver o meio ambiente e criar empregos. Também influencia o acesso dos mais carenciados às escolas e a capacidade de resposta dos países a situações de seca e inundações. Mas a má gestão deste elemento vital tem provocado milhões de mortes e a perda de milhares de milhões de dólares em crescimento económico potencial todos os anos, restringindo gravemente o desenvolvimento dos países. Atualmente, milhões de pessoas vivem sem saneamento básico. A má qualidade deste serviço tem efeitos na saúde, na educação, no meio ambiente e atividades como o turismo. Também aumenta a probabilidade das crianças abandonarem a escola. Pelo menos 780 milhões de habitantes não têm acesso a água potável. A população mundial cresce rapidamente. As estimativas indicam que, seguindo as práticas atuais, o mundo enfrentará uma escassez mundial de 40% entre a procura prevista e o fornecimento disponível em Para alimentar os milhões de habitantes que o planeta terá em 2050, será necessário um adicional de 50% de água. Mais da metade da população do planeta vive hoje em zonas urbanas e a tendência é para um aumento significativo. Como enfrentarão o incremento da procura aquelas cidades onde já escasseia a água potável segura? Atualmente, milhões de pessoas habitam em países com escassez extrema e prevê-se que o número crescerá para milhões até Um novo relatório do Banco Mundial indica que se a temperatura do planeta aumenta em 4 Celsius, o stress pelo deficit deste elemento intensificar-se-á por todo o mundo. Os mais vulneráveis são os quase milhões de pessoas que vivem em bacias hidrográficas afetadas por monções e os 500 milhões que habitam nos deltas dos rios. Os países mais pobres, que são os que menos contribuem para este problema, serão os mais prejudicados. A água é um elemento natural renovável, presente na natureza em três estados físicos - líquido, sólido (gelo) e gasoso (vapor) e pode ser classificado como água doce, salobra e salgada, de acordo com a sua salinidade. Quanto à sua distribuição no planeta Terra, as águas salgadas compõem os oceanos e mares 10 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

9 97,5%, sendo os restantes 2,5% águas doces. Estas últimas apresentam-se sob a forma de glaciares e calotes polares - 79%, águas subterrâneas 20%, e águas superficiais 1%. Estima-se que o volume total de água no planeta ronde os 1,35 milhões de quilómetros cúbicos. Fonte: Wikipédia Figura 1 - Distribuição da água no Planeta Terra Nem toda a água é recurso hídrico. O conceito de recurso hídrico refere-se apenas ao conjunto de águas que se encontram disponíveis, ou que podem vir a ser mobilizadas, para satisfazer em quantidade e qualidade uma certa necessidade, num determinado local e durante um determinado período de tempo. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 11

10 Stress Hídrico O stress hídrico também chamado de escassez hídrica física é um termo utilizado para designar uma situação em que a procura de água é maior do que a sua disponibilidade e capacidade de renovação em determinada localidade. Trata-se de uma expressão elaborada para representar uma situação grave que pode ser ocasionada tanto por fatores naturais quanto por fatores socioeconómicos. Em muitos casos, o risco de stress hídrico dificulta ou até impede o desenvolvimento económico e humano, pois não permite que práticas como a indústria e a agricultura se desenvolvam, uma vez que essas são as áreas da economia que mais utilizam água. Além da própria água, torna-se necessário importar uma grande quantidade de produtos, o que faz com que se elevem as relações de dependência económica, sem falar na baixa geração de emprego e poucas expectativas de crescimento local. Existem algumas situações em que o stress hídrico é provocado não pela escassez propriamente dita dos recursos hidrográficos regionais, mas sim pela poluição das águas, das nascentes e reservas fazendo com que o stress hídrico se torne mais intenso ou aconteça em regiões onde a sua manifestação, em teoria, seria improvável. Em outros casos, o stress hídrico está relacionado com problemas de gestão pública. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o stress hídrico poderá afetar até 18 milhões de pessoas até 2020, mas existem outras previsões que falam em números maiores. Um estudo do Fórum Económico Mundial (WEF) de 2011, sobre riscos globais identificou a segurança hídrica como um dos grandes desafios mundiais. Na pesquisa WEF Global Risks, realizada em 2013, mil especialistas das áreas industrial, académica e da sociedade civil avaliaram os riscos globais com maior probabilidade de ocorrer ao longo dos próximos 10 anos e aqueles que terão maior impacto. Entre esses, crises de abastecimento de água aparecem entre os cinco mais importantes nas duas perspetivas. A potencial crise de falta de água é o principal risco para a sociedade e as falhas em promover medidas de adaptação às alterações climáticas, o principal risco ambiental. As perspetivas para 2050, de acordo com relatório publicado pela OCDE (OCDE, 2012), indicam que mais de 40% da população mundial viverá em bacias hidrográficas com grave escassez de água, principalmente no Norte de África, na África Austral, no Sul da Ásia e na Ásia Central, o que afetará de forma significativa a competitividade dessas regiões. Os problemas de poluição das águas na Índia e na China fazem com que os governos enderecem esforços crescentes ao tema. O estudo OECD Environmental Outlook to The Consequences of Inaction sinaliza uma procura crescente por água. Estima-se que num cenário de continuidade das práticas, modelos e políticas atuais, ou seja, se nada for feito para mudar, um aumento de 55% das exigências globais de água, devido à procura crescente pela indústria (+400%), pela geração termoelétrica (+140%) e pelo consumo doméstico (+130%). O detalhamento dos critérios adotados nos cenários da OCDE pode ser visualizado em: O estudo indica, de forma clara, um aumento significativo da procura de água causado pelo crescimento demográfico e da economia nos países emergentes dos BRIICS (Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul). Para o mesmo cenário económico global, os países da OCDE reduzem a procura por água em praticamente todos os setores, exceto o industrial, indicando a estreita relação entre o aumento da atividade económica e o aumento do consumo de água. 12 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

11 As Previsões do Word Water Council De acordo com as previsões do Word Water Council, 23 países poderão enfrentar uma escassez absoluta de água em 2025 e entre 46 e 52 países (totalizando cerca de milhões de pessoas) poderão sofrer de stress hídrico. No caso dos países mediterrânicos, como Portugal, as alterações climáticas poderão afetar significativamente as disponibilidades deste recurso a curto / médio prazo, pelo que se torna urgente desenvolver medidas em todos os setores para um aumento da eficiência no uso da água. De facto, países como França, Itália, Espanha e Portugal estarão em risco de ter um stress hídrico igual ou superior a 40%, pelo menos em parte do seu território. Fonte: World Water Council Figura 2 Stress hídrico. Cenários para 2025 de acordo com o Word Water Council Numa perspetiva de sustentabilidade, a medida prioritária a adotar é, naturalmente, aumentar a eficiência no uso da água. Em Portugal, estima-se que as ineficiências totais no uso da água, nos diversos setores, totalizem 3100x10 6 m 3 /ano, representando aproximadamente 0,64% do Produto Interno Bruto português. Cerca de metade deste valor é atribuído a ineficiências no abastecimento urbano (sistemas públicos e prediais). No setor predial, considera-se que uma especial atenção deve ser dada ao uso de produtos eficientes e à eficiência global dos edifícios, ponderando, para além do uso de dispositivos eficientes, a reutilização ou reciclagem da água e o recurso a origens alternativas (como a água da chuva ou águas freáticas). Face a este cenário, o Governo português decidiu implementar recentemente um Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), o qual prevê melhorar a eficiência de utilização da água, sem pôr em causa as necessidades vitais e a qualidade de vida das populações, bem como o desenvolvimento do país, tendo como objetivos complementares a redução da poluição das massas de água e a redução do consumo de energia. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 13

12 O Dia Mundial da Água O Dia Mundial da Água celebra-se anualmente a 22 de março. A data visa alertar as populações e os governos para a urgente necessidade de preservação e poupança deste recurso natural tão valioso. A comemoração surgiu no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente que decorreu na cidade brasileira do Rio de Janeiro, em Os países foram convidados a celebrar o Dia Mundial da Água e a implementar medidas com vista à poupança deste recurso, promovendo a sua sustentabilidade. "A água não deve ser desperdiçada, nem poluída A 22 de março de 1992 a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o "DIA MUNDIAL DA ÁGUA", a ser observado a partir de 1993, publicando um documento intitulado "Declaração Universal dos Direitos da Água". No Dia Mundial da Água realizam-se atividades que promovem a sensibilização pública através de publicações, difusão de documentários e organização de conferências, mesas redondas, seminários e exposições relacionadas com a conservação e desenvolvimento dos recursos hídricos, que têm como objetivo, entre outros: Abordar assuntos relacionados a problemas de abastecimento de água potável; Aumentar a consciência pública sobre a importância de conservação, preservação e proteção da água, fontes e abastecimento de água potável; Aumentar a consciência dos governos, de agências internacionais, organizações não-governamentais e setor privado. Em Portugal foi criado o DIA NACIONAL DA ÁGUA, comemorado a 1 de OUTUBRO de cada ano. 14 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

13 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DA ÁGUA 1º A água faz parte do património do planeta. Cada continente, cada povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. 2º A água é a seiva do nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo o ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no artº 30º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 3º Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo a água deve ser utilizada com racionalidade, preocupação e parcimónia. 4º O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e em normal funcionamento, para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos por onde os ciclos começam. 5º A água não é somente uma herança dos nossos predecessores, ela é sobretudo um empréstimo aos nossos sucessores. A sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do Homem para as gerações presentes e futuras. 6º A água não é uma doação gratuita da natureza, tem um valor económico: é preciso saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo. 7º A água não deve ser desperdiçada nem poluída. De forma geral, a sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração de qualidade das reservas atualmente disponíveis. O tema do DIA MUNDIAL DA ÁGUA 2015 é ÁGUA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Os temas dos Dias Mundiais da Água anteriores foram: 2014: Água e energia 2013: Cooperação pela água 2012: Água e segurança alimentar 2011: Água para cidades: respondendo ao desafio urbano 2010: Água limpa para um mundo saudável 2009: Águas transfronteiriças: água partilhada, oportunidades partilhadas 2008: Saneamento 2007: Lidando com a escassez de água 2006: Água e cultura 2005: Água para a vida 2004: Água e desastres 2003: Água para o futuro 2002: Água para o desenvolvimento 2001: Água e saúde 2000: Água para o século XXI 1999: Todos vivem rio abaixo 1998: Água subterrânea: o recurso invisível 1997: Água no Mundo: há suficiente? 1996: Água para cidades sedentas 1995: Mulheres e água 1994: Cuidar dos nossos recursos hídricos é função de cada um 8º A utilização da água implica o respeito da lei. A sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo o homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo Homem nem pelo Estado. 9º A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos da sua proteção e as necessidades de ordem económica, sanitária e social. 10º O planeamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em função da sua distribuição desigual sobre a Terra. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 15

14 2.2. ÁGUA PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL A água é a base do desenvolvimento sustentável. A redução da pobreza, o crescimento económico e a sustentabilidade ambiental dependem dos recursos hídricos e da gama de serviços que proporcionam. Desde a alimentação e a segurança energética até à saúde humana e ambiental, a água contribui para melhorar o bem-estar social e o crescimento industrial, o qual afeta a subsistência de milhares de seres humanos. As Consequências do Crescimento Sustentável As vias de desenvolvimento não sustentáveis e as falhas da governança têm afetado a qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos, comprometendo a sua capacidade de gerar benefícios sociais e económicos. A procura de água doce está a aumentar. A menos que se restabeleça o equilíbrio entre a procura e oferta limitada, o mundo enfrentará um deficit global de água cada vez mais grave. A procura mundial de água está muito condicionada pelo crescimento demográfico, pela urbanização, pelas políticas de segurança alimentar e energética e por processos macroeconómicos como a globalização do comércio, as alterações na alimentação e o aumento do consumo. Prevê-se que a procura mundial de água aumente em 55% até 2050, devido principalmente às crescentes necessidades da indústria, da produção térmica de eletricidade e do uso doméstico. As diferentes necessidades concorrenciais da água obrigam a que se tomem decisões difíceis e limitam a expansão de setores cruciais para o desenvolvimento sustentável, em particular a produção de alimentos e energia. A concorrência pela água entre usos e utentes da água aumenta o risco de conflitos localizados e desigualdades continuadas no acesso aos serviços, com um impacto significativo nas economias locais e no bem-estar humano. A excessiva extração é fruto de modelos obsoletos de utilização e gestão dos recursos naturais. O fornecimento de águas subterrâneas está a diminuir, e calcula-se que na atualidade se está a exceder em 20% a exploração dos aquíferos mundiais. A alteração dos ecossistemas através da incessante urbanização, das práticas agrícolas inadequadas, da desflorestação e da contaminação são alguns dos fatores que estão a abalar a capacidade do meio ambiente de proporcionar serviços do ecossistema, como água limpa. A pobreza persistente, o acesso desigual à água e aos serviços sanitários, um financiamento inadequado e uma informação deficiente sobre o estado dos recursos hídricos e a sua utilização, impõem restrições adicionais na gestão dos recursos hídricos e na sua capacidade de contribuir para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável. 16 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

15 A Água e as Três Dimensões do Desenvolvimento Sustentável O progresso de cada uma das três dimensões do desenvolvimento sustentável social, económica e ambiental está circunscrito aos limites impostos pelos recursos hídricos, finitos e com frequência vulneráveis, e pela forma como se gerem os mesmos recursos para proporcionar serviços e benefícios. Pobreza e Igualdade Social Se o acesso ao abastecimento de água de uso doméstico é crucial para a saúde das famílias e dignidade social, o acesso à água para usos produtivos é vital para criar oportunidades de subsistência, gerar rendimentos e contribuir para a produtividade económica. Investir numa melhor gestão da água e dos serviços hídricos pode ajudar a reduzir a pobreza e sustentar o crescimento económico. As atuações hídricas orientadas no sentido de aliviar a pobreza podem marcar uma diferença para milhares de milhões de pobres que beneficiam muito diretamente da melhoria nos serviços hídricos e sanitários através da melhoria da saúde, da redução dos custos sanitários, do aumento da produtividade e da poupança de tempo. O crescimento económico em si não supõe uma garantia de maior progresso social. Na maioria de países há um fosso - com tendência a aumentar - entre os ricos e pobres, e entre quem pode e quem não pode aproveitar as novas oportunidades. O acesso à água potável segura e ao saneamento é um direito humano, e no entanto, a desigualdade a esse acesso verificado a nível mundial tem frequentemente um impacto desproporcionado entre os pobres, em particular entre as mulheres e as crianças. O Desenvolvimento Económico A água é um recurso essencial na produção da maioria dos bens e serviços, incluindo os alimentos, a energia e os produtos. O fornecimento de água (em quantidade e qualidade) onde é necessária tem que ser fiável e previsível, para apoiar os investimentos sustentáveis do ponto de vista financeiro nas atividades económicas. Um investimento sensato, tanto em infraestruturas materiais como imateriais, que se financia, efetua e mantém de forma adequada, facilita as mudanças estruturais necessárias para impulsionar os avanços em muitas áreas produtivas da economia. Isto significa frequentemente mais oportunidades de gerar rendimentos para aumentar a despesa em saúde e educação, reforçando por sua vez uma dinâmica autossustentada do desenvolvimento económico. Podem-se obter muitos benefícios promovendo e facilitando o uso de melhores tecnologias e sistemas de gestão disponíveis no campo do fornecimento de água, a produtividade e a eficiência, melhorando-se os mecanismos de atribuição da água. Este tipo de atuações e investimentos concilia o aumento contínuo do uso da água com a necessidade de preservar os ativos ambientais fundamentais. Proteção Ambiental e Serviços para o Ecossistema A maioria dos modelos económicos não valoriza os serviços essenciais que os ecossistemas de água doce proporcionam e que com frequência conduzem a um uso insustentável dos recursos hídricos e à deterioração do ecossistema. A contaminação devida às águas residuais urbanas e industriais e infiltrações agrícolas também debilita a capacidade do ecossistema de proporcionar serviços relacionados com a água. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 17

16 Os ecossistemas de todo mundo, estão em declínio. As funções dos ecossistemas vão sendo pouco reconhecidas e subutilizadas na maioria das abordagens económicas e de gestão de recursos. Uma abordagem holística dos ecossistemas para a água e o desenvolvimento, que mantenha um equilíbrio benéfico entre infraestruturas naturais e artificiais, pode garantir o máximo de benefícios. Os argumentos económicos podem fazer com que a conservação dos ecossistemas seja um tema de interesse para políticos e gestores. A avaliação dos ecossistemas demonstra que os benefícios superam amplamente os custos dos investimentos relacionados com a água na conservação do ecossistema. Esta avaliação também é importante para valorizar os equilíbrios na conservação dos ecossistemas, e pode ser utilizada para informar melhor os agentes do desenvolvimento. A adoção de uma gestão baseada no ecossistema é a chave para garantir a sustentabilidade da água a longo prazo. O Papel da Água para fazer frente aos Desafios do Desenvolvimento As inter-relações entre a água e o desenvolvimento sustentável vão bem mais além da sua dimensão social, económica e ambiental. A saúde humana, a segurança alimentar e energética, a urbanização e o crescimento industrial, bem como as alterações climáticas, constituem desafios cruciais através dos quais as políticas e as ações que promovem o desenvolvimento sustentável se podem fortalecer (ou se debilitar) através da água. A falta de fornecimento de água, saneamento e higiene supõe um custo enorme para a saúde e o bemestar e representa um elevado custo financeiro, que inclui uma perda considerável de atividade económica. Com o objetivo de conseguir um acesso universal, é necessário o progresso acelerado nos grupos desfavorecidos e garantir a não discriminação nos serviços de abastecimento de água, saneamento e higiene. Os investimentos em água e serviços de saneamento traduzem-se em benefícios económicos substanciais; nas regiões em desenvolvimento, o rendimento do investimento estimou-se entre 5 e 28 dólares/per capita. Calculou-se que seriam necessários proximadamente milhões de dólares/per capita num prazo de cinco anos para atingir a cobertura universal, uma pequena soma, dado que representava menos de 0,1% do PIB mundial em O aumento do número de pessoas que não têm acesso a água nem a saneamento nas áreas urbanas está diretamente relacionado com o rápido crescimento das populações dos bairros marginais no mundo em desenvolvimento e com a incapacidade (ou falta de vontade) dos governos locais e nacionais de proporcionar serviços hídricos e de saneamento adequados nestas comunidades. A população dos bairros marginais no mundo, que se espera que alcance quase os 900 milhões de pessoas em 2020, é também mais vulnerável ao impacto dos eventos climáticos extremos. No entanto, é possível melhorar o rendimento dos sistemas de abastecimento urbano de água sem deixar de expandir o sistema nem de fazer frente às necessidades dos mais desfavorecidos. Em 2050, a agricultura precisará de produzir mais 60% de alimentos a nível mundial e mais 100% nos países em desenvolvimento. À medida que as taxas de crescimento da procura de água da agricultura mundial se vão tornando insustentáveis, o setor terá que aumentar a eficiência do uso que faz da água reduzindo as perdas e, sobretudo, incrementar a produtividade dos cultivos relativamente à água utilizada. A contaminação agrícola da água, que pode piorar com o aumento da agricultura intensiva, pode ser reduzida através da combinação de uma série de instrumentos, incluindo legislação mais restritiva, o cumprimento da mesma e subsídios bem focalizados. 18 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

17 De uma maneira geral, a produção de energia requer um consumo intensivo de água. Responder à crescente procura de energia vai gerar uma pressão cada vez maior nos recursos de água doce, com repercussões em outros utilizadores como o setor agrícola e o industrial. Dado que estes setores também precisam de energia, há espaço para criar sinergias à medida que juntos se desenvolvem. Maximizar a eficiência no uso da água dos sistemas de arrefecimento das instalações de produção de energia e aumentar a capacidade da energia eólica, da energia solar fotovoltaica e da energia geotérmica serão fatores chave decisivos para conseguir um futuro sustentável para a água. Espera-se que a procura mundial de água na indústria transformadora aumente aproximadamente 400% entre 2000 e 2050, pelos demais setores, com a maior parte desse aumento nas economias emergentes e nos países em desenvolvimento. É muito provável que os impactos negativos das alterações climáticas nos sistemas de água doce superem os seus benefícios. As atuais projeções mostram que as mudanças cruciais na distribuição temporária e espacial dos recursos hídricos e a frequência e intensidade dos desastres relacionados com a água aumentam de forma significativa com o aumento das emissões dos gases de efeito de estufa (GEE). O uso de novas bases de dados, melhores modelos e métodos de análises de dados mais potentes, bem como o desenho de estratégias de gestão adaptadas, podem ajudar a responder de forma eficaz às mudanças e às condições de incerteza. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 19

18 3. PEGADA HÍDRICA 3.1. CONCEITO O conceito de pegada hídrica foi introduzido em 2002 por Arjen Hoekstra na reunião de peritos internacionais sobre o comércio de água virtual realizada em Delf, Holanda. A pegada hídrica das nações foi avaliada quantitativamente por Hoekstra & Huang (2002) e, posteriormente, de forma mais abrangente, por Hoekstra & Chapagain (2007). O termo pegada hídrica foi escolhido por Hoekstra em analogia à pegada ecológica; no entanto, os conceitos referentes às outras pegadas possuem outras raízes, visto que pegada ecológica é expressa em hectares e a PH em volume de água doce consumida. A pegada hídrica foi introduzida com o propósito de ilustrar as relações pouco conhecidas entre o consumo humano e o uso da água, tal como também entre o comércio global e a gestão de recursos hídricos. O conceito de pegada hídrica tem sido usado como indicador do consumo de água de pessoas e produtos em diversas partes do mundo. A média da pegada hídrica é de aproximadamente m 3 /ano per capita, variando subtancialmente este valor de país para país. A figura seguinte ilustra a pegada hídrica per capita dos diferentes paises, permitindo ter uma visão global da distribuição desta pegada no mundo. Figura 3 Pegada hídrica dos diversos países (m 3 /hab/ano) (Hoekstra e Chapagain, 2007) Os países com coloração verde são caracterizados por possuírem uma média nacional de pegada hídrica inferior à média global. Por sua vez, os países a vermelho registam uma pegada hídrica superior à média, como é o caso de Portugal. A pegada hídrica em Portugal é aproximadamente de m 3 /ano per capita. 20 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

19 A China e a Índia, por serem países com elevada densidade populacional, têm reduzidas pegadas hídricas; os Estados Unidos são o país a nível mundial com a pegada mais elevada; Portugal tem uma pegada relativamente elevada quando comparada com outros países europeus. Quanto maior o nível de desenvolvimento de um país, maior o consumo de produtos e, consequentemente, maior a pegada hídrica. A ideia de considerar o uso de água ao longo das cadeias de abastecimento ganhou interesse depois da introdução do conceito. A pegada hídrica é um indicador de uso de água doce que se traduz não só no uso direto de água por parte do consumidor ou do produtor, mas também no uso indireto. É um conceito multidimensional, que revela os volumes de consumo de água por fonte e volume poluído por tipo de poluição. Todas as componentes de uma pegada hídrica são especificadas geograficamente e temporalmente (Hoekstra et al., 2011) A metodologia da pegada hídrica tem uma vasta gama de aplicações que podem ser empregues em escalas que vão desde um único produto, um processo, um setor, individuo e cidades, até nações e todo o mundo. Esta técnica fornece uma resposta específica da pressão humana sobre o meio ambiente e ajuda de forma mais abrangente a monitorizar o pilar ambiental da sustentabilidade. Este indicador de sustentabilidade sugere a possibilidade da humanidade procurar recursos em maior quantidade do que os que o planeta pode fornecer de forma sustentável. Tal excesso de consumo tende a aumentar de forma significativa devido à rápida expansão económica, bem como pela urbanização, migração, mudanças de estilo de vida e outras grandes transições sociais no mundo. Portugal ocupa o 6º lugar do ranking mundial da Pegada Hídrica, entre 151 países com m 3 /pessoa/ano (o equivalente ao conteúdo de uma piscina olímpica) EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 21

20 3.2. ÁGUA VIRTUAL E PEGADA HÍDRICA Para viver precisamos de água; é o elemento essencial do nosso ser. Não obstante, a água que bebemos não é a única que consumimos. Também o fazemos quando tomamos banho, lavamos roupa, limpamos, regamos, cozinhamos e muitas outras atividades em que se utiliza água. Tudo isto representa um grande consumo. No entanto, só constitui o uso direto e representa uma proporção mínima do nosso uso total de água. Além do nosso uso direto, cada vez que consumimos um alimento ou utilizamos algum produto ou serviço, indiretamente aproveitamos a água envolvida nos seus processos de produção, que é onde utilizamos a maior parte da água. Ao darmos conta que a maior parte do nosso consumo de água é indireto, tornou-se necessário quantificar os volumes de água que estão escondidos na fabricação ou elaboração de cada produto. 4% Água que vemos Por exemplo, quando bebemos uma chávena de café, geralmente pensamos que consumimos 125 ml de água. Não entanto, para cultivar o grão foi necessário água, que poderia ter sido água da chuva ou irrigação, o mesmo que para os processos de secagem, moagem e embalagem. Em média, para a nossa chávena de café foram necessários 140 litros de água durante todo seu processo de elaboração. A esta quantidade de água chamamos ÁGUA VIRTUAL (AV). Também é preciso ter em conta que há processos produtivos que apesar de não consumirem água, a contaminam (como a lavagem de veículos ou a descarga de águas residuais em linhas de água), e outros que também utilizam água, que é devolvida ao ecossistema no mesmo lugar onde foi extraída sem estar contaminada (como as hidroelétricas). Outro fator importante é que a água não se distribui homogeneamente no mundo e ao longo dos meses e anos: há lugares e épocas mais secas, e outras onde chove mais. Com a intenção de tomar todos estes fatores em conta e poder contabilizar o que o comércio de produtos entre regiões implica em matéria de água, foi criado o conceito de PEGADA HÍDRICA, que considera toda a água que de alguma maneira nos apropriamos para as nossas atividades. A pegada hídrica pode aplicarse a processos, produtos, regiões, organizações ou pessoas, e pode-se referir à produção ou ao consumo. 22 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

21 Água Virtual A Água Virtual é o volume de água necessária para produzir os bens e serviços de um país tanto para consumo interno como para a exportação. É um conceito criado em 1993 pelo investigador britânico John Anthony Allan, professor da Universidade de Londres, que foi premiado com o Stockholm Water Prize no ano de 1993 por desenvolver um método de cálculo da água usada no fabrico de produtos, a que se chamou água virtual. Consumimos Água sem perceber Veja quanta água potável é necessária para produzir alimentos Figura 4 Água virtual de alguns produtos EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 23

22 Qual a diferença entre a pegada hídrica e a água virtual? A pegada hídrica é um termo que se refere à água utilizada para produzir um determinado produto. Neste contexto, também podemos falar em conteúdo de água virtual de um produto, em vez de pegada hídrica. O conceito da pegada hídrica, no entanto, tem aplicação mais ampla. É possível, por exemplo, falar sobre a pegada hídrica de um consumidor ao analisar as pegadas hídricas dos bens e serviços consumidos por ele ou sobre a pegada hídrica de um produtor (a empresa, o fabricante ou fornecedor de serviços) ao analisar a pegada hídrica dos bens e serviços produzidos. Além disso, o conceito da pegada hídrica não se refere simplesmente ao volume de água, como é o caso do termo conteúdo de água virtual de um produto. A pegada hídrica é um indicador multidimensional que também torna explícito onde a pegada hídrica está localizada, qual é a fonte e quando a água é utilizada. As informações adicionais são fundamentais para avaliar os impactos locais da pegada hídrica de um produto. 24 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

23 3.3. AS CORES DA PEGADA HÍDRICA A pegada hídrica pode ser dividida em três componentes: Pegada Hídrica Azul Pegada Hídrica Verde Pegada Hídrica Cinza Pegada Hídrica Azul Pegada Hídrica Verde Pegada Hídrica Cinza Representa o volume da água superficial e subterrânea consumido como resultado da produção de um bem ou um serviço Refere-se à precipitação sobre a terra que não se infiltra ou recarrega as águas subterrâneas, que se armazena no solo temporariamente ou permanece no primeiro plano do solo ou a vegetação Define-se como o volume de água doce que se requer para assimilar o ónus de contaminantes até concentrações naturais segundo as normas de qualidade ambiental. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 25

24 PEGADA HÍDRICA AZUL ÁGUA AZUL Volume de água doce, proveniente dos corpos hídricos superficiais e subterrâneos, que é efetivamente consumido (uso consuntivo), ou seja, não retorna ao sistema e, portanto, fica indisponível para uso na região em que foi extraído. Desta forma, esta componente refere-se a qualquer tipo de consumo (ex., incorporação no produto final) que ocorrer com o uso da água de rios, lagos, aquíferos, entre outros. PEGADA HÍDRICA VERDE ÁGUA VERDE Volume de água consumida proveniente do processo de precipitação (chuva, neve, orvalho, etc.), após infiltração ficando armazenada no solo. Portanto, esta refere-se basicamente ao consumo pela vegetação, incluindo os cultivos agrícolas e florestais, uma vez que esta é a única forma de utilização desta fonte de água. Por que devemos reduzir as pegadas hídricas verdes? Pode-se argumentar que a chuva é de graça; se o homem não utilizar a água verde para produzir alimentos, fibras, madeira ou bioenergia ela vai-se evaporar de qualquer maneira. Há, no entanto, duas boas razões para reduzirmos a pegada hídrica verde. A chuva é de graça, mas não é ilimitada. Na verdade, a água verde é um recurso escasso, assim como a água azul, principalmente em alguns locais e durante determinados períodos do ano. Uma vez que parte da área de qualquer bacia hidrográfica deve ser reservada para a natureza, automaticamente uma determinada quantidade de água verde passa a ficar indisponível para a agricultura. No caso de bacias onde a água verde é escassa, aumentar a produtividade da água verde (em outras palavras, reduzir a pegada hídrica verde de um produto) é fundamental para otimizar a produção, já que há restrição de água verde. O aumento da produção baseada nos recursos de água verde reduz a necessidade de recursos de água azul para esta produção. Por isto é recomendável reduzir a pegada hídrica verde mesmo nas áreas onde a água verde é abundantemente disponível. 26 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

25 PEGADA HÍDRICA CINZA ÁGUA CINZA Volume teórico de água necessária para diluir os poluentes descarregadas no meio hídrico, de modo que estes permaneçam com um padrão de qualidade (concentração) previamente estabelecido. Dessa forma, esta componente é uma maneira de estimar a diminuição da assimilação dos poluentes que um determinado meio hídrico possui. Porquê distinguir as pegadas hídricas verde, azul e cinza? A disponibilidade de água doce na Terra é determinada pela precipitação anual sobre o solo. Uma parte da precipitação evapora e a outra parte escoa para o oceano através de aquíferos e rios. Tanto o fluxo de evaporação quanto o de escoamento podem ser utilizados para fins humanos. O fluxo de evaporação pode ser utilizado no crescimento de culturas ou reservado para a manutenção de ecossistemas naturais. A pegada hídrica verde mede qual parte do fluxo de evaporação total foi realmente apropriado para fins humanos. O escoamento a água que flui em aquíferos e rios pode ser utilizado para diversas finalidades, incluindo irrigação, lavagem, processamento e refrigeração. A pegada hídrica azul mede o volume da água de superfície e subterrânea consumida (em outras palavras, captada e então evaporada ou incorporada num produto). A pegada hídrica cinza mede o volume da vazão em aquíferos e rios poluídos pelo homem. Desse modo, as pegadas hídricas verde, azul e cinza medem diferentes tipos de apropriação da água. Se for necessário, é possível classificar a pegada hídrica em componentes mais específicos. No caso da pegada hídrica azul, pode ser interessante distinguir a água de superfície, a água subterrânea renovável e a água subterrânea fóssil. No caso da pegada hídrica cinza, pode ser importante distinguir os diferentes tipos de poluição. De preferência, essas informações mais específicas devem sempre servir de base para os resultados agregados da pegada hídrica. Figura 5 Pegada azul, verde e cinza de alguns produtos alimentares EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 27

26 3.4. TIPOS DE PEGADA HÍDRICA A análise do uso da água pode ser feita tendo em vista vários objetivos, dando origem a diversos tipos de pegada hídrica. Descrevemos de seguida as principais tipologias de pegada hídrica Pegada Hídrica Direta a pegada hídrica direta de um consumidor ou produtor (ou de um grupo de consumidores ou produtores) refere-se ao consumo de água e à poluição que está associada ao uso da água pelo consumidor ou produtor. É diferente da pegada hídrica indireta, que se refere ao consumo de água e à poluição que pode ser associada à produção de bens e serviços consumidos pelo consumidor ou os materiais usados pelo produtor. Pegada Hídrica Indireta a pegada hídrica indireta de um consumidor ou produtor refere-se ao consumo de água e à poluição por trás dos produtos consumidos ou produzidos. É igual à soma das pegadas hídricas de todos os produtos consumidos pelo consumidor ou de todos os materiais (que não sejam água) usados pelo produtor. Pegada Hídrica de um Produto a pegada hídrica de um produto (uma mercadoria, bem ou serviço) é o volume total de água usado para fabricar o produto, somado ao longo dos vários passos da cadeia produtiva. A pegada hídrica de um produto refere-se não somente ao volume total de água usado, mas também onde e quando a água é usada. Pegada Hídrica de um Consumidor é definida como o volume total de água consumido e poluído pela produção de bens e serviços consumidos pelo consumidor. Pegada Hídrica Corporativa / Pegada Hídrica da Empresa / Pegada Hídrica de um Negócio - a pegada hídrica de um negócio que também pode ser chamada alternativamente de pegada hídrica corporativa ou organizacional é definida como o volume total de água usado direta e indiretamente para conduzir e dar suporte a um negócio. A pegada hídrica de um negócio possui dois componentes: o uso direto da água pelo produtor (para produzir/fabricar ou para dar suporte às atividades) e o uso indireto da água (o uso da água na cadeia produtiva do produtor). A pegada hídrica de um negócio é o mesmo que a pegada hídrica total dos produtos do negócio. Pegada Hídrica da Cadeia Produtiva de um Negócio a pegada hídrica indireta ou da cadeia produtiva é o volume de água consumido ou poluído ao se produzir todos os bens e serviços que formam os inputs da produção de um negócio. Pegada Hídrica Operacional de um Negócio a pegada hídrica operacional (ou direta) de um negócio é o volume de água consumido ou poluído em função de suas operações. Pegada Hídrica da Produção Nacional outro termo para pegada hídrica interna de um país. Pegada Hídrica dentro de uma Área Delimitada Geograficamente é definida como o volume total de água consumido e poluído dentro dos limites de uma área específica. A área pode ser, por exemplo, uma unidade hidrológica como uma bacia hidrográfica ou uma unidade administrativa, como um município, estado ou país. 28 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

27 Pegada Hídrica dentro de um País é definida como o volume total de água consumido ou poluído dentro do território de um país. Pegada Hídrica do Consumo Nacional é definida como o volume total de água usada para produzir os bens e serviços consumidos pelos habitantes de uma nação. A pegada hídrica do consumo nacional pode ser avaliada de duas formas. A abordagem de baixo para cima considera a soma de todos os produtos consumidos multiplicados pelas respetivas pegadas hídricas. Na abordagem de cima para baixo, é calculada como o uso total dos recursos hídricos locais mais a importação bruta de água virtual, menos exportação bruta de água virtual. Pegada Hídrica Interna do Consumo Nacional a parte da pegada hídrica do consumo nacional que está dentro do país considerado, isto é, a apropriação dos recursos hídricos locais para a produção de bens e serviços que são consumidos internamente. Pegada Hídrica Externa do Consumo Nacional a parte da pegada hídrica do consumo nacional fora do país considerado. Refere-se à apropriação dos recursos hídricos em outras nações pela produção de bens e serviços que são importados e consumidos dentro da nação considerada. Pegada Hídrica Nacional é o que seria mais corretamente chamado de pegada hídrica do consumo nacional, que é definida por sua vez como o volume total de água usado para produzir os bens e serviços consumidos pelos habitantes de um país. Parte desta pegada hídrica vem de fora do território do país. O termo não deve ser confundido com pegada hídrica interna de um país, que se refere ao volume total de água consumido ou poluído dentro do território do país. Pegada Hídrica do Uso Final de um Produto quando o consumidor usa um produto pode haver uma pegada hídrica no estágio final de uso, tal como a poluição da água que resulta do uso de sabões nas residências. Neste caso, pode-se falar da pegada hídrica do uso final de um produto. Esta pegada não é, estritamente falando, parte da pegada hídrica do produto, mas da pegada do consumidor. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 29

28 4. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA A avaliação da pegada hídrica refere-se a um amplo âmbito de atividades, visando: Quantificar e localizar a pegada hídrica de um processo, produto, produtor ou consumidor ou quantificar no espaço e no tempo a pegada hídrica em uma determinada área geográfica; Avaliar a sustentabilidade ambiental, social e económica dessa pegada hídrica; Formular estratégias de resposta. Em termos gerais, o objetivo de quantificar as pegadas hídricas é analisar como atividades humanas ou produtos específicos se relacionam com questões de escassez e poluição da água e verificar como atividades e produtos se podem tornar mais sustentáveis sob o ponto de vista hídrico. A avaliação da pegada hídrica é uma ferramenta analítica que pode auxiliar na compreensão sobre como atividades e produtos interagem com a escassez e a poluição da água e os seus impactos relacionados e o que pode ser feito para assegurar que atividades e produtos não contribuam para o uso não sustentável dos recursos hídricos. Como ferramenta, a estimativa da pegada hídrica fornece uma visão adicional, mas não diz às pessoas o que fazer. Ao invés disso, ajuda as pessoas a entenderem o que pode ser feito. Uma avaliação completa de pegada hídrica consiste em quatro fases distintas, indicadas na figura seguinte, nomeadamente: Definição de objetivos e âmbito; Contabilização da pegada hídrica; Avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica; Formulação de respostas à pegada hídrica. Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 Medir Objetivos e Âmbito Contabilização da Pegada Hídrica Avaliação da Sustentabilidade da Pegada Hídrica Formulação de Resposta à Pegada Hídrica Fonte: Waterfootprint Definição de objetivos e âmbito Figura 6 - Quatro fases distintas na avaliação da pegada hídrica Para maior transparência nas escolhas feitas num estudo de avaliação da pegada hídrica, deve-se começar pela definição clara de objetivos e âmbito do estudo. Um estudo da pegada hídrica pode ser realizado por razões diferentes. Contabilização da pegada hídrica A fase da contabilização da pegada hídrica é a fase em que os dados são recolhidos e as quantificações são desenvolvidas. O âmbito e o nível de detalhe na contabilização dependem das decisões feitas na fase anterior, de definição de objetivos. Avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica A fase de avaliação da sustentabilidade é a fase seguinte à contabilização, na qual a pegada hídrica é avaliada de uma perspetiva ambiental, social e económica. Formulação de respostas à pegada hídrica. Na fase final, são formuladas opções de respostas, estratégias ou políticas. 30 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

29 Objetivos da Avaliação da Pegada Hídrica A avaliação da pegada hídrica pode ser aplicada em vários contextos e pode ter vários objetivos. Cada um deles requer uma análise específica e permitirá alternativas diferentes em relação aos pressupostos usados. Pode-se avaliar a pegada hídrica de diferentes entidades, por isso, é mais importante começar por especificar qual a pegada hídrica de interesse. Pode-se estar interessado, por exemplo, na: Pegada hídrica de uma etapa do processo; Pegada hídrica de um produto; Pegada hídrica de um consumidor; Pegada hídrica de um grupo de consumidores de: - pegada hídrica de consumidores de um país; - pegada hídrica consumidores de um município, distrito ou região; - pegada hídrica de consumidores numa bacia hidrográfica; Pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente: - pegada hídrica dentro de um país; - pegada hídrica dentro de um município, distrito ou região; - pegada hídrica dentro de uma bacia hidrográfica; Pegada hídrica de uma atividade; Pegada hídrica de um setor de atividade; Pegada hídrica da humanidade como um todo; O quadro seguinte apresenta uma lista de atividades para definir o objetivo da avaliação da pegada hídrica. Se o objetivo é: Consciencialização: então provavelmente serão suficientes estimativas de médias nacionais ou globais em relação às pegadas hídricas dos produtos; Identificação de pontos críticos: será necessário incluir maior detalhe no âmbito e na subsequente avaliação e contabilização, de modo a que seja possível localizar exatamente onde e quando a pegada hídrica tem os maiores impactes ambientais, sociais ou económicos locais; Formular politicas e estabelecer metas de redução quantitativa da pegada hídrica: será necessário um grau ainda maior de detalhe espacial e temporal. Além disso, será necessário inserir a avaliação da pegada hídrica numa avaliação mais ampla incorporando outros fatores que não só a água. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 31

30 Quadro 1 - Objetivos da avaliação da pegada hídrica Objetivos da avaliação da pegada hídrica Geral Qual é a meta final? Conscientização, identificação de ponto crítico, formulação de políticas ou definição de metas quantitativas? Há um foco numa fase específica? Focar na contabilização, na avaliação de sustentabilidade ou na formulação de respostas? Qual é o âmbito de interesse? Pegada hídrica direta e/ou indireta? Pegada hídrica verde, azul e/ou cinza? Qual a escala temporal? Visa a avaliação de um determinado ano, a média de alguns anos ou a análise de tendências? Avaliação da pegada hídrica do processo Qual processo considerar? Um processo específico ou um alternativo (a fim de comparar a pegada hídrica de técnicas alternativas)? Em qual escala? Um processo específico numa localização específica ou o mesmo processo em diferentes localizações? Avaliação da pegada hídrica do produto Que produto considerar? Uma unidade em stock de uma marca em particular, um tipo particular de produto ou toda uma categoria de produtos? Em qual escala? Incluir produto(s) de um setor ou fábrica, uma ou mais empresas ou uma ou mais regiões de produção? Avaliação da pegada hídrica do consumidor ou da comunidade Qual comunidade? Um consumidor em particular ou consumidores dentro de um município, distrito ou região? Avaliação da pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente Quais são os limites da área? Uma bacia hidrográfica, um município, distrito ou região ou país? Qual é o campo de interesse? Examinar como a pegada hídrica dentro da área é reduzida pela importação da água virtual e como a pegada hídrica dentro da área aumenta pelo fabrico de produtos para exportação; analisar como os recursos hídricos das áreas são alocados para vários propósitos, e/ou examinar onde a pegada hídrica dentro da área viola as procuras locais de vazão ambiental e de padrões ambientais de qualidade da água? Avaliação nacional da pegada hídrica (pegada hídrica dentro de um país e pegada hídrica do consumo nacional) Qual é o âmbito de interesse? Avaliar a pegada hídrica dentro de um país e/ou a pegada hídrica do consumo nacional? Analisar a pegada hídrica interna e/ou externa do consumo nacional? Qual é o campo de interesse? Avaliar a escassez nacional da água, a sustentabilidade da produção nacional, a exportação dos recursos hídricos escassos de forma virtual, a economia nacional da água através da importação de água na forma virtual, a sustentabilidade do consumo nacional, os impactos da pegada hídrica do consumo nacional em outros países e/ou dependência de recursos hídricos estrangeiros? Avaliação da pegada hídrica de empresas Qual é a escala do estudo? Uma unidade da empresa, a empresa inteira ou todo um setor? (Quando a escala de interesse for a nível de produto, ver o tópico de avaliação da pegada hídrica do produto.) Qual é o ponto de interesse? Avaliar a pegada hídrica operacional e/ou da cadeia produtiva? Qual é o campo de interesse? Risco do negócio, transparência do produto, relatórios ambientais corporativos, rotulagem dos produtos, benchmarking, certificação de empresas, identificação de componentes críticos da pegada hídrica, formulação de metas quantitativas da sua redução? 32 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

31 Âmbito da Contabilização da Pegada Hídrica Devemos ser claros e explícitos em relação aos limites de inventário quando planeamos a contabilização de uma pegada hídrica. Estes referem-se a o que incluir e o que excluir da contabilidade. Os limites de inventário devem ser escolhidos de acordo com o propósito da contabilização. No planeamento da contabilização da pegada hídrica podemos utilizar a seguinte lista de verificação: Considerar a pegada hídrica azul, verde e/ou cinza? Que fronteiras considerar na análise retroativa ao longo da cadeia produtiva? Qual o nível de resolução espaço temporal? Qual o período de dados? Para consumidores e empresas: considerar a pegada hídrica direta e/ou indireta? Pegada Hídrica Azul, Verde e/ou Cinza? Pode haver um motivo para se focar apenas na contabilização da pegada hídrica azul, atendendo a que os recursos da água azul são geralmente mais escassos e têm custos de oportunidades mais elevados do que a água verde. No entanto, os recursos de água verde também são limitados e escassos, o que reforça a necessidade da contabilização da pegada hídrica verde. Além disso, a água verde pode ser substituída pela água azul e na agricultura também ocorre o inverso de modo que um quadro completo só pode ser obtido pela contabilização de ambas. O argumento para a inclusão do uso da água verde é que a tradição da engenharia em focar a água azul levou à subestimação da água verde como um importante fator de produção (Falkenmark, 2003; Rockström, 2001). A ideia da pegada hídrica cinza foi introduzida a fim de expressar a poluição da água em termos de volume poluído, podendo ser comparada com o consumo de água, que também é expresso como um volume (Chapagain et al, 2006b; Hoekstra e Chapagain, 2008). Se houver interesse na poluição da água e na comparação dos impactos associados a esta e ao consumo dos recursos hídricos disponíveis, é importante contabilizar a pegada hídrica cinza em adição à azul. Que Fronteiras considerar na Análise Retroativa ao Longo da Cadeia Produtiva? A questão da definição das fronteiras é uma questão básica na contabilização da pegada hídrica. A mesma questão se coloca na contabilização das pegadas de carbono e ecológica, análise energética e avaliação do ciclo de vida dos produtos. Ainda nenhuma orientação definitiva foi desenvolvida no campo da contabilização da pegada hídrica, mas a regra geral é incluir a pegada hídrica de todos os processos dentro de um sistema de produção (árvore de produção) que contribuam significativamente para a pegada hídrica total. No entanto, várias questões se podem colocar: O que se entende por significativo? Deverá ou não ocorrer contabilização da pegada hídrica do trabalho? A pegada hídrica do transporte deve ser incluída? Para uma análise mais detalhada destas questões, poderá ser consultado o site EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 33

32 Qual o Nível de Resolução Espaço Temporal? Pode ser feita uma avaliação das pegadas hídricas em diferentes níveis de resolução espaço temporal. Podemos considerar 3 níveis, a saber: Nível A No nível A, nível mais baixo de detalhe, a pegada hídrica é avaliada com base nos dados da pegada hídrica média global a partir de uma base de dados disponível. Os dados referem-se às médias de vários anos. Este nível de detalhe é suficiente e adequado para fins de sensibilização. O mesmo pode ser útil quando o objetivo é identificar produtos e ingredientes que contribuem de forma mais significativa para a pegada hídrica total. Dados da pegada hídrica média global também podem ser usados para o desenvolvimento de projeções preliminares do consumo global de água no futuro, devido a mudanças nos padrões de consumo (tais como mudança para maior consumo de carne ou uso de bioenergia). Nível B Neste nível, a pegada hídrica é avaliada com base na média nacional ou regional ou em dados da pegada hídrica de bacias hidrográficas específicas, obtidos de uma base de dados geográficos disponíveis. Apesar das pegadas hídricas serem, preferencialmente, especificadas por mês, esse nível de análise utiliza dados mensais médios de vários anos. Este nível de contabilização é adequado para fornecer uma base para identificar onde áreas críticas em bacias hidrográficas locais podem ser esperadas e na tomada de decisões relativas à alocação da água. Nível C Neste nível, as contabilizações de pegada hídrica são geográfica e temporalmente explícitas, baseadas em dados precisos sobre os inputs usados e as fontes de informação detalhadas desses inputs. A resolução espacial mínima é o nível de pequenas bacias ( ~ km 2 ). Apresentamos mais detalhadamente os níveis A,B e C no quadro seguinte: Quadro 2 - Explicação espaço temporal na contabilização da pegada hídrica Resolução espacial Resolução temporal Fonte de dados necessários sobre uso da água Uso típico das contabilizações Nível A Média global Anual Literatura e base de dados disponíveis sobre o consumo e poluição de água típicos, por produto ou processo. Ações de sensibilização, identificação preliminar dos componentes que mais contribuem para a pegada hídrica total; desenvolvimento de projeções globais do consumo da água. Nível B Nacional, regional ou de bacia Anual ou mensal Como no caso acima, mas o uso de dados específicos nacionais, regionais ou de bacias. Identificação preliminar da dispersão e variabilidade espaciais; base de conhecimento para identificação de áreas críticas e decisões sobre alocação de água. Nível C Pequena bacia ou gleba Mensal ou diária Dados empíricos ou (se não forem diretamente mensuráveis) melhores estimativas do consumo e poluição da água, especificados por local e durante o ano. Base de conhecimento para a realização de uma avaliação de sustentabilidade de uma pegada hídrica; formulação de uma estratégia para reduzir a pegada hídrica e os impactos locais associados. Observação: Os três níveis podem ser distinguidos para todas as formas de contabilização de pegada hídrica (por, exemplo, contabilização de produto, nacional, corporativa). 34 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

33 Qual o Período de Dados? A avaliação da tendência de uma pegada hídrica ao longo do tempo deve ser feita com cautela, pois tanto a disponibilidade como a procura variam ao longo de um ano e entre anos diferentes. Por isso, em qualquer estudo sobre pegada hídrica, deve-se explicitar o período de dados utilizado, pois o período escolhido irá influenciar o resultado. Em anos secos, a pegada hídrica azul de um produto agrícola será muito mais alta do que em anos húmidos, pois mais irrigação será necessária. Pode-se escolher calcular as pegadas hídricas de um ano em particular ou um número específico de anos, mas alternativamente pode-se escolher calcular a pegada hídrica em um ano médio, considerando o clima existente (definido como a média ao longo de um período consecutivo de 30 anos). Neste caso, pode-se combinar diferentes períodos numa só análise: tome-se, por exemplo, dados de produção e produtividade para um período recente de cinco anos, mas dados médios de clima (temperatura e precipitação) nos últimos 30 anos. Pegada Hídrica Direta e/ou Indireta? Aconselha-se a incluir as pegadas hídricas direta e indireta. Apesar das pegadas hídricas diretas serem os focos tradicionais dos consumidores e empresas, a pegada hídrica indireta é geralmente muito maior. Ao abordar apenas a pegada hídrica direta, os consumidores negligenciariam o facto de que a maior parte das suas pegadas hídricas está associada aos produtos que eles compram em supermercados ou em outros lugares e não à água que eles consomem em casa. Para a maior parte das empresas a pegada hídrica da sua cadeia produtiva é muito maior do que a pegada hídrica das suas próprias operações. Assim, ignorar este componente pode levar a investimentos em melhorias no uso operacional da água da empresa, enquanto investimentos em aperfeiçoamentos na cadeia poderiam ser mais eficazes em termos de custos. Dependendo do objetivo de um estudo específico, entretanto, pode-se decidir incluir apenas a pegada hídrica direta ou indireta na análise. Pegada Hídrica Direta A pegada hídrica direta de um consumidor ou produtor (ou um grupo de consumidores ou produtores) refere-se ao consumo de água e à poluição que está associada ao uso da água pelo consumidor ou produtor. É diferente da pegada hídrica indireta, que se refere ao consumo de água e à poluição que pode ser associada à produção de bens e serviços consumidos pelo consumidor ou aos inputs usados pelo produtor. Pegada Hídrica Indireta Pegada Hídrica Indireta a pegada hídrica indireta de um consumidor ou produtor refere-se ao consumo de água e à poluição por trás dos produtos consumidos ou produzidos. É igual à soma das pegadas hídricas de todos os produtos consumidos pelo consumidor ou de todos os inputs (que não sejam água) usados pelo produtor. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 35

34 Âmbito da Avaliação de Sustentabilidade da Pegada Hídrica A avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica é a fase na avaliação da pegada hídrica que procura verificar se certa pegada hídrica é sustentável de um ponto de vista ambiental, social e económico. O âmbito da avaliação da sustentabilidade de uma pegada hídrica depende primeiramente da perspetiva escolhida, que poderá ser: Perspetiva geográfica; Perspetiva de um processo, produto, consumidor ou produtor. Perspetiva geográfica No caso de uma perspetiva geográfica será considerada a sustentabilidade da pegada hídrica agregada numa certa área, preferencialmente uma área de drenagem ou toda uma bacia hidrográfica, pois esta é a unidade espacial natural que permite a comparação da pegada hídrica e disponibilidade de água, bem como da alocação dos recursos hídricos e os potenciais conflitos. Nesta situação pode usar-se a seguinte lista de verificação: Considerar a sustentabilidade da pegada hídrica verde, azul e/ou cinza? Considerar a dimensão de sustentabilidade ambiental, social e/ou económica? Identificar somente pontos críticos ou analisar detalhadamente impactos primários e/ou secundários nestas áreas? Perspetiva de um processo, produto, consumidor ou produtor Se interessar a perspetiva de um processo, produto, consumidor ou produtor, o foco não está na pegada hídrica agregada numa área geográfica, mas na contribuição da pegada hídrica individual do processo, produto, consumidor ou produtor em relação ao panorama geral. A questão da contribuição contém dois elementos: Qual é a contribuição da pegada hídrica do processo, produto, consumidor ou produtor específico para a pegada hídrica global da humanidade? Qual é a contribuição para as pegadas hídricas agregadas em áreas geográficas específicas? Na avaliação da sustentabilidade da pegada hídrica de um processo, produto, consumidor ou produtor, o foco será avaliar: Se a pegada hídrica contribui desnecessariamente para a pegada hídrica global da humanidade: Se a pegada hídrica contribui para pontos críticos específicos. Para o primeiro caso, pode ser suficiente comparar separadamente a pegada hídrica do produto ou processo com um valor de referência global, caso a referência já exista. Na ausência de tais referências, o âmbito da avaliação terá de ser estendido para identificar o que possa ser uma referência razoável. Para explorar se a pegada hídrica de um processo, produto, consumidor ou produtor contribui para pontos críticos específicos, pode ser suficiente verificar cada componente da pegada hídrica e se está localizado num ponto crítico ou não. Esta análise necessita de uma base de dados global de pontos críticos no nível de detalhe espacial e temporal procurado. Quando estes dados básicos não estão disponíveis, o âmbito do estudo deve ser estendido a fim de incluir estudos da bacia de uma perspetiva geográfica e para todas as bacias onde os componentes (principais) da pegada hídrica do processo, produto, consumidor ou produtor estão localizados. 36 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

35 Âmbito da Formulação das Respostas da Pegada Hídrica O tipo de pegada hídrica vai considerar o âmbito da fase de formulação das respostas da pegada hídrica. Para definir o âmbito da formulação de resposta, deve haver clareza relativamente a «quem será responsável pela resposta». No caso da pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente, a questão é: o que pode ser feito (e por quem) para reduzir a pegada hídrica dentro daquela área, por quanto tempo e qual o caminho? Pode-se imaginar o que os governos poderiam fazer que é o que as pessoas provavelmente vão pensar primeiro, no caso da pegada hídrica dentro de uma área geográfica mas pode-se também procurar o que consumidores, produtores rurais, empresas e investidores poderiam fazer e o que deveria ser feito através da cooperação intergovernamental. E relativamente ao governo, podem distinguir-se níveis diferentes de governo e diferentes órgãos governamentais em cada nível. No âmbito nacional, por exemplo, a resposta necessária pode-se traduzir em ações em diferentes ministérios, desde ministérios da Agricultura, Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, até ministérios da Economia, Negócios Estrangeiros. Ao configurar o âmbito para identificar as medidas de resposta, é importante que fiquem claras, desde o início, os pressupostos que cada um irá usar na identificação dessas medidas. No caso da pegada hídrica de um consumidor ou comunidade de consumidores, pode-se simplesmente olhar para o que os consumidores podem fazer, mas neste caso também devemos incluir uma análise sobre o que os outros neste caso, empresas e governos podem fazer. Ao considerar respostas no contexto de avaliação da pegada hídrica de uma empresa é mais lógico olhar para qual o tipo de resposta que a empresa pode desenvolver sozinha, sendo também possível uma maior abrangência. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 37

36 5. CONTABILIZAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA Neste capítulo apresentam-se algumas indicações sobre a contabilização de diferentes tipos de pagada hídrica Pegada Hídrica de Uma Etapa de Processo, Pegada Hídrica de Um Produto, Pegada Hídrica de um Consumidor e Pegada Hídrica de uma Empresa. A informação aqui disponibilizada teve como fonte o Manual de Avaliação da Pegada Hídrica desenvolvido pela Rede da Pegada Hídrica (Waterfootprint Networ WFN). O objetivo é disponibilizar conteúdos que permitam uma base de partida para quem pretender familiarizar-se com a temática da pegada hídrica. Não se enquadra no âmbito desta publicação, um tratamento profundo desse tema. No entanto, quem desejar conhecer mais em detalhe os métodos de contabilização da pegada hídrica poderá consultar o Manual de Avaliação da Pegada Hídrica disponível no site ENQUADRAMENTO A base de todos os cálculos da pegada hídrica é a pegada hídrica de uma simples etapa do processo. A pegada hídrica de um produto intermédio ou final (bens ou serviços) é a agregação da pegada hídrica de vários passos relevantes do processo de elaboração do produto. A pegada hídrica individual de um consumidor é função das pegadas hídricas dos diversos produtos consumidos por ele. A pegada hídrica de uma comunidade de consumidores por exemplo, os habitantes de um município, estado ou país é igual à soma das pegadas hídricas individuais dos membros da comunidade. A pegada hídrica de um fabricante ou qualquer tipo de empresa é igual à soma das pegadas hídricas dos produtos que o fabricante ou a empresa comercializam. A pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente podendo ser um estado, país ou uma bacia hidrográfica é igual à soma das pegadas hídricas de todos os processos ocorridos naquela área. A pegada hídrica total da humanidade é igual à soma das pegadas hídricas de todos os consumidores do mundo, que é a soma das pegadas hídricas de todos os bens e serviços consumidos anualmente e também é igual à soma de todos os processos de consumo ou poluição de água no mundo. A figura e o quadro seguintes ilustram a relação entre os diferentes tipos de pegada hídrica. 38 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

37 Pegada Hídrica de um grupo de produtores (p.e. um setor) Pegada Hídrica de um produtor (p.e. um negócio, uma empresa) Pegada Hídrica de um grupo de consumidores (p.e. um país, estado ou município) Pegada Hídrica de consumidor Pegada Hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente (p.e. um país ou uma bacia) Somar as pegadas hídricas de processo de todos os processos que ocorrem dentro de uma área. Somar as pegadas hídricas de todos os produtos elaborados Somar as pegadas hídricas de todos os produtos consumidos Pegada Hídrica de produtos Somar as pegadas hídricas de todos os processos no sistema de produção de um produto Pegada Hídrica de processos Fonte: Manual de Avaliação da Pegada Hídrica Figura 7 - Pegadas hídricas de processo como a unidade básica para todas as outras pegadas hídricas As pegadas hídricas de produtos finais (de consumo) podem ser somadas sem que haja dupla contabilidade. Isto deve-se ao fato das pegadas hídricas dos processos serem sempre e exclusivamente alocadas a um único produto final ou, quando um processo contribui para mais que um produto final, a pegada hídrica de um processo é dividida entre os diferentes produtos finais. Não faz sentido somar pegadas hídricas de produtos intermédios, pois a dupla contabilização pode ocorrer facilmente. Se somarmos, por exemplo, a pegada hídrica do tecido de algodão com a pegada hídrica do algodão em pluma (bruto), ocorrerá dupla contabilidade, pois o cálculo da primeira já inclui o da segunda. Do mesmo modo, é possível somar as pegadas hídricas individuais dos consumidores sem que ocorra a dupla contabilização; mas não se deve somar as pegadas hídricas de diferentes produtores, já que isso pode levar à dupla contabilização. Quadro 3 - A relação entre os diferentes tipos de pegadas hídricas A pegada hídrica de um produto = a soma das pegadas hídricas das etapas do processo ocorridas na elaboração do produto (considerando toda a cadeia produtiva e de abastecimento). A pegada hídrica de um consumidor = a soma das pegadas hídricas de todos os produtos consumidos por ele. A pegada hídrica de uma comunidade = a soma das pegadas hídricas dos seus membros. A pegada hídrica de consumo nacional = a soma das pegadas hídricas dos habitantes de um país. A pegada hídrica de uma empresa = a soma das pegadas hídricas dos produtos finais que a empresa produz. A pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente (por exemplo, um município, país, bacia hidrográfica) = a soma das pegadas hídricas de todos os processos que ocorrem naquela área. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 39

38 Uma pegada hídrica é expressa em termos de volume de água por unidade de produto ou através do volume de água por unidade de tempo. A pegada hídrica de um processo é expressa como o volume de água por unidade de tempo. Quando dividida pela quantidade de produtos que resultam do processo, ela também pode ser expressa como o volume de água por unidade de produto. A pegada hídrica de um produto é expressa sempre em termos de volume de água por unidade de produto (normalmente m 3 /ton ou litro/kg). A pegada hídrica de um consumidor ou produtor ou a pegada hídrica dentro de uma área é sempre expressa como o volume de água por unidade de tempo. Dependendo do nível de detalhe desejado, a pegada hídrica pode ser expressa por dia, mês ou ano. No quadro seguinte apresentam-se as unidades em que as diferentes pegadas hídricas devem ser expressas. Quadro 4 Unidade da pegada hídrica A pegada hídrica de um processo é expressa como o volume de água por unidade de tempo. Quando dividida pela quantidade de produtos que resultam do processo (unidades de produto por unidade de tempo), pode também ser expressa como o volume de água por unidade de produto. A pegada hídrica de um produto é expressa sempre como o volume de água por unidade de produto. Exemplos: volume de água por unidade de massa (para produtos em que o peso é um bom indicador de quantidade) volume de água por unidade monetária (para produtos em que o valor tem mais importância do que o peso) volume de água por unidade (para produtos que são contados em unidades e não por peso) volume de água por unidades de energia (quilocalorias para produtos alimentares ou joules para eletricidade ou combustíveis) A pegada hídrica de um consumidor ou empresa é expressa como o volume de água por unidade de tempo. Pode ser expressa como o volume de água por unidade monetária quando a pegada hídrica por unidade de tempo é dividida pelo rendimento (no caso dos consumidores) ou volume de negócios (no caso das empresas). A pegada hídrica de uma comunidade de consumidores pode ser expressa em termos de volume de água por unidade de tempo per capita. A pegada hídrica dentro de uma área delimitada geograficamente é expressa como o volume de água por unidade de tempo. Pode ser expressa em termos de volume de água por unidade monetária quando é dividida pelo rendimento dos consumidores daquela área. 40 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

39 5.2. PEGADA HÍDRICA DE UMA ETAPA DO PROCESSO Todos os cálculos da pegada hídrica devem começar pela pegada hídrica de uma etapa do processo. Apresentamos de seguida a metodologia de cálculo dos diferentes tipos de pegada hídrica pegada hídrica azul, pegada hídrica verde e pegada hídrica cinza para uma etapa do processo. A Pegada Hídrica Azul A pegada hídrica azul é um indicador do uso consuntivo da chamada água azul; por outras palavras, a água doce superficial ou subterrânea. O termo uso consuntivo da água refere-se a um dos quatro casos abaixo: Quando a água evapora; Quando a água é incorporada ao produto; Quando a água não retorna à mesma bacia hidrográfica, mas sim escoa para outra bacia ou para o oceano; Quando a água não retorna no mesmo período; por exemplo, quando é retirada num período de seca e retorna num período de chuvas. Pegada Hídrica Azul Volume de água superficial e subterrânea consumida pela produção de um bem ou serviço. O consumo refere-se ao volume de água usado e então evaporado ou incorporado ao produto. Inclui também água captada de uma fonte superficial ou subterrânea numa bacia e descarregada noutra bacia ou no mar. É a quantidade de água captada de uma fonte superficial ou subterrânea que não retorna para a bacia da qual foi retirada. De uma maneira geral, o primeiro componente (a evaporação) é o mais significativo. Consequentemente, o uso consuntivo é geralmente equiparado à evaporação, mas os outros três componentes devem ser incluídos quando forem relevantes. Toda a evaporação relacionada à produção deve ser calculada incluindo a água que evapora no processo de armazenamento (por exemplo, de reservatórios artificiais), o transporte (por exemplo, de canais abertos), o processamento (por exemplo, a evaporação de água aquecida que não é recuperada) e a recolha e descarga (por exemplo, de canais de drenagem e de estações de tratamento de águas residuais). O uso consuntivo da água não significa que a água desaparece, pois a água permanecerá dentro do ciclo e retornará sempre para algum lugar. A água é um recurso renovável, mas isso não significa que a sua disponibilidade seja ilimitada. A pegada hídrica azul mede a quantidade de água disponível que é consumida num determinado período (por outras palavras, a que não retorna imediatamente para a mesma bacia). Dessa forma, fornece uma medida da quantidade de água azul consumida pelo homem. O restante, ou seja, os fluxos de água subterrânea e superficial não utilizados para as atividades humanas permitem a manutenção da vida nos ecossistemas que dependem destes fluxos. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 41

40 A pegada hídrica azul numa etapa do processo é calculada da seguinte forma: O último componente refere-se à porção do fluxo de retorno que não está disponível para a reutilização dentro da mesma bacia hidrográfica, no mesmo período de retirada, seja por ter retornado à outra bacia (ou por ter sido lançado no mar) ou por ter retornado em outro período. Ao avaliar a pegada hídrica azul de um processo, pode ser importante (dependendo do âmbito do estudo) distinguir entre os tipos de fontes de água azul. A divisão mais relevante compreende a água superficial, o fluxo (renovável) de água subterrânea e a água subterrânea fóssil. É possível fazer a distinção ao mencionar, respetivamente, a pegada hídrica azul de água superficial, a pegada hídrica azul de água subterrânea renovável e a pegada hídrica azul de água subterrânea fóssil (ou pegada hídrica azul clara, azul escura e preta, se for preferível a utilização de cores). Na prática, geralmente, é muito difícil fazer esta distinção, pois os dados são insuficientes (razão pela qual frequentemente a distinção não é feita). A unidade da pegada hídrica azul do processo é o volume de água por unidade de tempo, por exemplo, por dia, mês ou ano. Quando dividida pela quantidade do produto resultante do processo, a pegada hídrica do processo também pode ser expressa em termos de volume de água por unidade de produto. De referir ainda que há dois casos específicos que podem suscitar duvidas sobre o modo de fazer o cálculo da pegada hídrica, a saber: Reciclagem e reutilização da água; Situações em que há transferência de água entre a bacia hidrográfica. Para encontrar informação detalhada sobre este tema, pode-se consultar o Manual de Avaliação da Pegada Hídrica disponível no site Pegada Hídrica Verde A pegada hídrica verde é um indicador do uso da água verde por parte do homem. A água verde refere-se à precipitação que não escoa ou não repõe a água subterrânea, mas é armazenada no solo ou permanece temporariamente na superfície do solo ou na vegetação. Eventualmente, essa parte da precipitação evapora ou é transpirada pelas plantas. A água verde pode ser produtiva para o desenvolvimento das culturas (mas nem toda água verde pode ser absorvida pelas culturas, pois haverá sempre evaporação de água do solo e porque nem todas as áreas e nem todos os períodos do ano são adequados para o crescimento de culturas). Pegada Hídrica Verde A pegada hídrica verde é o volume da água da chuva consumido durante o processo de produção. Isto é particularmente relevante para os produtos agrícolas e florestais (grãos, madeira etc.), correspondendo ao total de água da chuva que sofre evapotranspiração (dos campos e plantações) mais a água incorporada nos produtos agrícolas e florestais colhidos. 42 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

41 A fórmula para calcular a pegada hídrica verde numa etapa do processo é a seguinte: A distinção entre as pegadas hídricas azul e verde é importante, uma vez que os impactos hidrológico, ambiental e social, bem como os custos de oportunidade referentes ao uso de águas superficiais e subterrâneas para a produção diferem muito dos impactos e custos do uso da água da chuva (Falkenmark e Rockström, 2004; Hoekstra e Chapagain, 2008). Pegada Hídrica Cinza O indicador de poluição da água associado a uma etapa de processo é a chamada pegada hídrica cinza. Pegada Hídrica Cinza A pegada hídrica cinza de um produto é um indicador da poluição da água que pode ser associado à elaboração do produto ao longo de toda a cadeia produtiva. É definida como o volume de água necessário para assimilar a carga de poluentes baseada nas concentrações naturais e em padrões de qualidade de água existentes. É processada como o volume de água necessário para diluir os poluentes num nível em que a qualidade da água permanece acima dos padrões definidos. O conceito de pegada hídrica cinza surgiu do reconhecimento de que a dimensão da poluição hídrica pode ser expressa em termos do volume de água necessário para diluir os poluentes de forma a que se tornem inócuos. A pegada hídrica cinza é calculada dividindo a carga poluente (L, em massa/tempo) pela diferença entre a concentração do padrão ambiental de qualidade da água para um determinado poluente (a concentração máxima aceitável c max, em massa/volume) e a sua concentração natural no corpo da água recetor (c nat, em massa/volume). A concentração natural numa linha de água recetora corresponde à concentração que ocorreria se não houvesse intervenção humana na bacia hidrográfica. Para substâncias de origem humana que naturalmente não ocorrem na água, c nat = 0. Quando as concentrações naturais não são conhecidas com precisão, mas são consideradas baixas, pode-se considerar c nat = 0, para simplificação. No entanto, isso resultará numa pegada hídrica cinza subestimada, quando c nat não for realmente igual a zero. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 43

42 5.3. PEGADA HÍDRICA DE UM PRODUTO O cálculo da pegada hídrica de um produto é semelhante para todos os tipos de produtos, sejam eles provenientes dos setores agrícola, industrial ou dos serviços. A pegada hídrica de um produto é subdividida nas componentes verde, azul e cinza. Um termo alternativo para a pegada hídrica de um produto é conteúdo de água virtual, mas o significado deste último é mais restrito. Pegada Hídrica de um Produto A pegada hídrica de um produto (uma mercadoria, bem ou serviço) é o volume total de água usado para elaborar o produto, somado ao longo dos vários passos da cadeia produtiva. A pegada hídrica de um produto refere-se não somente ao volume total de água usado, mas também a onde e quando a água é usada. A pegada hídrica de um produto é geralmente expressa em termos de: Produtos agrícolas m 3 /ton ou litros/kg Em muitos casos, quando os produtos agrícolas podem ser medidos em unidades, a pegada hídrica também pode ser expressa como volume de água por unidade. Produtos industriais m 3 / ou m 3 /U Outras formas de expressar a pegada hídrica de um produto são, por exemplo, pelo volume de água/kcal (no caso de dietas alimentares) ou volume de água/joule (no caso da eletricidade ou dos combustíveis). Para estimar a pegada hídrica de um produto, primeiramente é preciso entender a forma como é produzido. Por esta razão é preciso identificar o sistema de produção. Um sistema de produção consiste em etapas de processos sequenciais. A esquematização de um sistema de produção em etapas distintas do processo envolve, inevitavelmente, suposições e simplificações. O cálculo da pegada hídrica de um produto pode ser feito através de duas formas alternativas, a saber: Abordagem da soma das cadeiras; O método sequencial acumulativo. Estas duas metodologias encontram-se descritas em detalhe no Manual de Avaliação da Pegada Hídrica. 44 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

43 5.4. PEGADA HÍDRICA DE UM CONSUMIDOR OU GRUPO DE CONSUMIDORES A pegada hídrica de um consumidor (PH cons ) é calculada através da soma da pegada hídrica direta do indivíduo e sua pegada hídrica indireta: Pegada Hídrica de um Consumidor Definida como o volume total de água consumido e poluído pela produção de bens e serviços consumidos pelo consumidor. É calculada adicionando o uso direto e indireto da água pelas pessoas. O uso indireto pode ser obtido multiplicando-se todos os bens e serviços consumidos pelas suas respetivas pegadas hídricas. A pegada hídrica direta refere-se ao consumo e à poluição relativas ao uso da água em casa ou no jardim. A pegada hídrica indireta refere-se ao consumo e à poluição da água que podem estar associados à produção dos bens e serviços utilizados pelo consumidor. Diz respeito à água que foi usada para produzir, por exemplo, roupas, papel, energia e bens industriais de consumo. O uso indireto da água é calculado multiplicando todos os produtos consumidos pelas suas respetivas pegadas hídricas de produto: Onde: C[p] é o consumo do produto p (unidades de produto/tempo) PH* prod [p] representa a pegada hídrica desse produto (volume de água/unidade de produto). O conjunto de produtos considerados refere-se ao somatório completo de bens e serviços utilizados pelo consumidor final. A pegada hídrica de um produto é definida e calculada conforme descrito na seção anterior. A pegada hídrica de um grupo de consumidores é igual à soma das pegadas hídricas de cada consumidor. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 45

44 5.5. PEGADA HÍDRICA DE UMA EMPRESA A pegada hídrica de uma empresa é composta por: Pegada hídrica operacional (ou direta) de uma empresa corresponde ao volume de água doce consumida ou poluída como resultado das operações realizadas. Pegada hídrica da cadeia produtiva (ou indireta) de uma empresa consiste no volume de água doce consumida ou poluída para produzir todos os bens e serviços que compõem os materiais utilizados pela empresa. Em vez do termo pegada hídrica de uma empresa pode-se também usar os termos pegada hídrica corporativa ou pegada hídrica organizacional ou pegada hídrica de uma empresa. Pegada Hídrica de uma Empresa Pode ser chamada pegada hídrica corporativa ou organizacional é definida como o volume total de água usado direta e indiretamente para conduzir e dar suporte a um negócio. A pegada hídrica de um negócio possui dois componentes: o uso direto da água pelo produtor (para produzir/fabricar ou para dar suporte às atividades) e o uso indireto da água (o uso da agua na cadeia produtiva). A pegada hídrica de uma empresa é o mesmo que a pegada hídrica total dos produtos da empresa. A pegada hídrica total de uma empresa pode ser esquematizada em componentes, como mostra a figura seguinte. Após essa distinção entre pegada hídrica operacional (direta) e a da cadeia produtiva (indireta), é possível distinguir a pegada hídrica que pode estar imediatamente associada ao(s) produto(s) elaborado(s) pela empresa, da pegada hídrica adicional. A última é definida como a pegada hídrica relacionada com as atividades gerais para manter uma empresa e aos bens e serviços gerais consumidos pela empresa. O termo pegada hídrica adicional é utilizado para identificar o consumo de água necessário ao funcionamento contínuo da empresa, mas não está diretamente relacionada com a produção de um produto em particular. Em todos os casos é possível distinguir os componentes das pegadas hídricas verde, azul e cinza. O quadro seguinte mostra exemplos de vários componentes da pegada hídrica de uma empresa. 46 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

45 Fonte: Manual de Avaliação da Pegada Hídrica Figura 8 - Composição da pegada hídrica de uma empresa Quadro 5 - Exemplos de componentes da pegada hídrica de uma empresa Pegada hídrica operacional Pegada hídrica da cadeia de abastecimento Pegada hídrica diretamente associada à elaboração dos produtos da empresa Pegada hídrica adicional Pegada hídrica diretamente associada à elaboração dos produtos da empresa Pegada hídrica adicional Água incorporada no produto. Água consumida ou poluída através de um processo de lavagem. Água poluída termicamente devido ao uso de refrigeração. Consumo ou poluição da água relacionados ao uso da água em cozinhas, limpeza, jardinagem ou lavagem de roupas. Pegada hídrica dos ingredientes do produto comprado pela empresa. Pegada hídrica de outros itens comprados pela empresa para processar os seus produtos. Pegada hídrica de infraestrutura (materiais de construção, etc). Pegada hídrica de energia e materiais de uso geral (materiais de escritório, carros e camiões, combustível, eletricidade, etc). Além das pegadas hídricas operacional e da cadeia produtiva, a empresa pode querer identificar uma pegada hídrica de uso final do seu produto. Esta pegada hídrica refere-se ao consumo e à poluição da água que ocorrem quando o produto é utilizado pelos consumidores como acontece, por exemplo, no caso da poluição da água resultante do uso de sabão nas residências. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 47

46 Pegada Hídrica do Uso Final de um Produto Quando o consumidor usa um produto pode haver uma pegada hídrica no estágio final de uso, tal como a poluição da água que resulta do uso de sabões nas residências. Neste caso, pode-se falar da pegada hídrica do uso final de um produto. Esta pegada não é, estritamente falando, parte da pegada hídrica do produto, mas sim da pegada do consumidor. Estritamente falando, a pegada hídrica do uso final de um produto não é considerada como parte da pegada hídrica do produto, mas sim parte da pegada hídrica do consumidor. Os consumidores podem utilizar os produtos de várias formas, de modo que será necessário adotar suposições sobre o seu uso típico, no cálculo da pegada hídrica de uso final de um produto. Por definição, a pegada hídrica de uma empresa é igual à soma das pegadas hídricas dos produtos da empresa. A pegada hídrica da cadeia produtiva de uma empresa é igual à soma das pegadas hídricas dos materiais consumidos na empresa. Calcular a pegada hídrica de uma empresa ou calcular a pegada hídrica dos principais produtos elaborados por uma empresa é praticamente a mesma coisa, mas o foco é diferente. No cálculo da pegada hídrica de uma empresa há grande preocupação com a distinção entre a pegada hídrica operacional (direta) e a pegada hídrica da cadeia produtiva (indireta). Este aspeto é altamente relevante do ponto de vista de políticas de gestão, pois uma empresa tem controlo direto sobre sua pegada hídrica operacional e influência indireta sobre a pegada hídrica da sua cadeia produtiva. Ao calcular-se a pegada hídrica de um produto, não há distinção entre as pegadas hídricas direta e indireta; são consideradas apenas as pegadas hídricas do processo para todos os processos relevantes que integram o sistema de produção, ignorando o facto de que o sistema de produção pode pertencer ou ser operado por empresas diferentes. Neste sentido, é possível estabelecer um cálculo híbrido entre a pegada hídrica de um produto e a pegada hídrica de uma empresa, focalizando-se o cálculo da pegada hídrica de um produto em particular por exemplo, escolhendo apenas um dos diversos produtos produzidos por uma empresa explicitando, porém, qual parte da pegada hídrica do produto ocorre nas próprias operações da empresa e qual parte ocorre na cadeia produtiva da empresa. O cálculo da pegada hídrica de uma empresa oferece uma nova perspetiva para o desenvolvimento de uma estratégia corporativa informativa sobre o uso da água. Tal facto resulta da pegada hídrica como indicador do uso da água diferir do indicador de captação de água nas operações, adotado pela maioria das empresas até o momento. 48 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

47 A Escolha dos Limites Organizacionais da Empresa Visando a estimativa da pegada hídrica de uma empresa, o tipo de negócio deve ser claramente delineado. Devem ficar claros quais são os limites da empresa considerada. Deve ser possível esquematizar a empresa num sistema que seja claramente distinguido do seu ambiente e onde inputs e produtos sejam claramente conhecidos. Qualquer que seja o seu tipo, as empresas geralmente consistem de certo número de unidades. Por exemplo, uma empresa pode ter operações (tais como fábricas) em vários locais. A empresa pode ter divisões separadas num único local. Para calcular a pegada hídrica é útil distinguir as diferentes unidades da empresa. Por exemplo, quando uma empresa transformadora possui fábricas diferentes em locais diferentes, essas fábricas provavelmente operam sob condições diferentes e obtêm seus inputs de distintos lugares. Neste caso, convém calcular primeiramente a pegada hídrica de cada unidade da empresa e somar os resultados individuais como a pegada global da empresa. É necessário definir que unidades da empresa serão analisadas e especificar os inputs e os produtos anuais para cada unidade. Os inputs e produtos devem ser descritos em unidades físicas. Preferencialmente, uma unidade de empresa refere-se a uma parte da empresa que produz um determinado produto num determinado lugar. Quando uma empresa tem atividades em lugares diferentes é preferível esquematizar em termos de unidades de empresa, de modo a que as unidades individuais operem num local. Além disso, as operações de uma empresa num determinado local são esquematizadas, preferencialmente, em diferentes unidades de empresas, cada uma produzindo o seu próprio produto. É mais interessante esquematizar a empresa com base nos principais produtos primários que ela desenvolve. No entanto, também é possível distinguir as unidades de serviços que fornecem apenas bens ou serviços para as unidades de produção primárias. Quando uma empresa é grande e heterogénea (com locais e/ou produtos diferentes), pode ser interessante esquematizar a empresa em algumas unidades principais e cada unidade principal num número de unidades menores novamente. Desta maneira, a empresa pode ser esquematizada na forma de um sistema com subsistemas, em diversos níveis. Ao final, o resultado da pegada hídrica no nível mais baixo pode ser agregado ao resultado do segundo nível mais baixo e assim por diante, até envolver todos os níveis da empresa. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 49

48 O Cálculo da Pegada Hídrica de uma Empresa A pegada hídrica da unidade de uma empresa (PH emp, volume/tempo) é calculada através da soma da pegada hídrica operacional desta unidade com a pegada hídrica da sua cadeia produtiva: Os dois componentes consistem numa pegada hídrica que pode estar diretamente associada à elaboração do produto na unidade de empresa e à pegada hídrica adicional: A pegada hídrica operacional equivale ao uso consuntivo da água e à poluição da água que pode estar relacionada com as operações da empresa. A pegada hídrica adicional o consumo e a poluição da água relacionados com as atividades da empresa que requerem o uso da água pode ser identificada e quantificada do mesmo modo que a pegada hídrica operacional que está diretamente associada ao processo de produção. No entanto, a pegada hídrica adicional frequentemente servirá mais de uma unidade da empresa em questão. Por exemplo, a pegada hídrica adicional de uma fábrica com duas linhas de produção terá que ser distribuída entre essas duas linhas. Caso uma unidade da empresa tenha sido definida como uma das linhas de produção, é necessário calcular a parcela da pegada hídrica adicional pertinente a essa linha de produção. Isto pode ser feito de acordo com os valores de produção das duas linhas. A pegada hídrica da cadeia produtiva por unidade de negócio (volume/tempo) pode ser calculada através da multiplicação do volume dos diversos materiais (dados disponíveis na própria empresa) pelas respetivas pegadas hídricas dos materiais (dados que devem ser obtidos junto dos fornecedores). Supondo que há diferentes materiais originários de x fontes diferentes, a pegada hídrica da cadeia produtiva de uma unidade da empresa é calculada conforme se segue: Onde: PH emp,cad representa a pegada hídrica da cadeia produtiva da unidade da empresa (volume/tempo), PH prod [x,i] a pegada hídrica input i da fonte x (volume/unidade do produto) e I[x,i] o volume de input i da fonte x para a unidade da empresa (unidades de produto/tempo). A pegada hídrica do produto depende da origem do produto. Quando o produto vem de outra unidade da mesma empresa o valor da pegada hídrica do produto é conhecido a partir do próprio sistema de cálculo. Quando o produto provém de um fornecedor externo o valor da pegada hídrica do produto deve ser obtido junto do fornecedor ou estimado com base em dados indiretos referentes às características de produção do fornecedor. As pegadas hídricas do produto são compostas por três cores (verde, azul e 50 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

49 cinza), que devem ser calculadas separadamente de forma que o resultado da pegada hídrica da cadeia produtiva da unidade da empresa possa também contemplar os três componentes. A pegada hídrica de cada produto final específico de uma unidade da empresa é estimada pela divisão da pegada hídrica da unidade da empresa pelo volume de produção. A alocação da pegada hídrica aos produtos finais pode ser feita de diferentes formas como, por exemplo, de acordo com a massa, o conteúdo energético ou o valor económico. Segundo os procedimentos tradicionais em estudos de avaliação de ciclo da vida é recomendável alocar a pegada hídrica de acordo com o valor económico dos produtos. Assim, a pegada hídrica do produto final p de uma unidade da empresa (PH prod [p], volume/unidade do produto) pode ser calculada conforme do seguinte modo: Onde: P[p] é o volume do produto final p da unidade da empresa (unidades de produto/tempo); E[p] é o valor económico total do produto final p (unidade monetária/tempo); ΣE[p] é o valor económico total de todos os produtos finais juntos (unidade monetária/tempo). Se a unidade da empresa produz um único produto, a equação acima é simplificada, conforme se indica: Todas as equações acima devem ser aplicadas no âmbito da unidade de uma empresa. Supondo que uma empresa é esquematizada num número de unidades u, a pegada hídrica de uma empresa como um todo (PH emp,tot ) é calculada pela agregação das pegadas hídricas das suas unidades. A fim de evitar duplicação de cálculos é necessário subtrair os fluxos de água virtual entre as diversas unidades da empresa: onde P*[u,p] representa o volume anual da produção do produto final p da unidade de empresa u para outra unidade da mesma empresa (unidades de produto/tempo). EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 51

50 5.6. PEGADA HÍDRICA, PEGADA ECOLÓGICA E PEGADA DE CARBONO A Pegada Ecológica é o indicador mais conhecido quando se fala em medir o impacto do consumo humano sobre os recursos naturais renováveis. Mas não é o único. A Família das Pegadas é composta também pela Pegada Hídrica e Pegada de Carbono. Pegada Ecológica Mede os impactos da ação humana sobre a natureza, analisando a quantidade de área bioprodutiva necessária para suprir a procura das pessoas por recursos naturais renováveis e para a absorção do carbono (CO 2 ). Pegada de Carbono Mede a quantidade de dióxido de carbono (CO 2 ) emitido para a atmosfera, de maneira direta ou indireta, por uma atividade humana ou acumulada ao longo da vida útil de um produto. Pegada Hídrica Mede a água utilizada nos produtos e serviços consumidos por um indivíduo, comunidade ou atividade económica, em termos de volume, uso e poluição e também de localização. Tem como referência as bacias hidrográficas. Como a pegada hídrica está relacionada com a pegada ecológica e com a pegada de carbono? O conceito da pegada hídrica faz parte de uma família de conceitos que foram desenvolvidos nas ciências ambientais na última década. Em geral, o termo pegada é conhecido como uma medida quantitativa que indica a apropriação dos recursos naturais pelo homem ou o stress ambiental causado por ele. A pegada ecológica mede o uso do espaço bioprodutivo (em hectares). A pegada de carbono mede a quantidade de gás do efeito estufa (GEE) que é produzida em unidades de carbono equivalente (em toneladas). A pegada hídrica mede o uso da água (em metros cúbicos por ano). Os três indicadores são complementares uma vez que medem coisas completamente diferentes. Do ponto de vista metodológico, existem muitas semelhanças entre as diferentes pegadas, mas cada uma tem suas próprias peculiaridades devido à singularidade das substâncias em questão. No caso da pegada hídrica é importante especificar o espaço e o tempo. Isso é necessário porque a disponibilidade de água varia muito no espaço e no tempo, de modo que a apropriação da água deve ser sempre considerada em seu contexto local. 52 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

51 6. OPÇÕES DE MEDIDAS PARA A REDUÇÃO DA PEGADA HÍDRICA CORPORATIVA As pegadas hídricas azul e cinza em indústrias podem, na maior parte dos casos, ser reduzidas a zero através de soluções técnicas / tecnológicas, como por exemplo, a reciclagem total da água. Em um ciclo fechado, não haverá perda por evaporação nem poluição por efluentes. Nas fábricas ou nos sistemas de refrigeração a água evaporada pode ser capturada e reutilizada ou devolvida ao corpo d água de onde foi extraída. Há algumas exceções onde a pegada hídrica azul de um processo não pode ser completamente reduzida a zero: principalmente quando a água é incorporada ao produto. Essa parte da pegada hídrica azul não pode ser evitada, mas representa frações mínimas da pegada hídrica azul da humanidade. quando a água é aplicada a céu aberto por necessidade e, assim, parte da evaporação não pode ser evitada. O único tipo de pegada hídrica cinza que nunca pode ser totalmente reduzida a zero é aquela relativa à poluição térmica; mas, mesmo neste caso, o calor pode ser parcialmente recapturado dos efluentes aquecidos dos sistemas de refrigeração e utilizado para outros fins antes que o efluente seja descarregado no meio ambiente. Uma estratégia corporativa de pegada hídrica pode incluir uma variedade de metas e atividades. As indústrias podem reduzir sua pegada hídrica operacional ao diminuir o consumo de água nas suas próprias operações e reduzir a poluição hídrica a zero. As palavras-chave são: evitar, reduzir, reciclar e tratar antes de rejeitar. Ao se evitar a evaporação, a pegada hídrica azul pode ser reduzida a zero. Ao reduzir a produção de água residual ao máximo possível e tratando a água residual que ainda é produzida, a pegada hídrica cinza também pode ser reduzida a zero. O tratamento pode ser realizado dentro das próprias instalações da empresa ou em uma estação pública de tratamento de esgotos; é a qualidade da água finalmente lançada no sistema hídrico recetor que determina a pegada hídrica cinza. Para muitas indústrias a pegada hídrica da cadeia produtiva é muito maior do que a pegada hídrica operacional. Portanto, é fundamental que as empresas também observem isso. Implantar melhorias na cadeia produtiva pode ser mais complicado pois não é controlada diretamente mas podem ser mais efetivas. As indústrias podem reduzir a pegada hídrica da sua cadeia produtiva, estabelecendo acordos com os seus fornecedores para que incluam certos padrões ou, simplesmente, trocando de fornecedor. Em muitos casos pode ser um processo bastante trabalhoso, pois talvez haja necessidade de transformar todo o modelo de negócios para incorporar ou controlar melhor as cadeias produtivas e torná-las completamente transparentes para os consumidores. Uma empresa também pode desejar reduzir a pegada hídrica do consumidor que é inerente ao uso do seu produto. Quando os consumidores utilizam sabonete, shampoo, produtos de limpeza ou tintas é provável que esses produtos sejam despejados pelo ralo. Quando a água não é tratada ou quando a quantidade de substâncias químicas é tal que não seja total ou parcialmente removida, é gerada uma pegada hídrica cinza que poderia ter sido evitada se a empresa tivesse utilizado substâncias menos tóxicas, menos prejudiciais e mais facilmente degradáveis. A clareza sobre as atividades adotadas para reduzir a pegada hídrica corporativa pode ser reforçada com a definição de metas quantitativas de redução da pegada hídrica ao longo do tempo. Uma ferramenta importante para as grandes empresas ou para setores específicos é o benchmarking: o resultado que pode ser alcançado na (cadeia produtiva de uma) fábrica também pode ser obtido em (uma cadeia produtiva de) outra fábrica. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 53

52 Quadro 6 - Opções de redução da pegada hídrica corporativa Metas de redução da pegada hídrica operações Benchmarking de produtos ou locais. Definir as melhores práticas e estabelecer metas para serem implementadas em toda a empresa. Pode ser feito na própria empresa ou no setor como um todo. Redução da pegada hídrica azul em geral. Redução do uso consuntivo da água nas operações através da reciclagem, adoção de acessórios e equipamentos que economizam água, substituição dos processos de uso intensivo de água por processos de uso extensivo de água. Redução da pegada hídrica azul em pontos críticos. Priorizar as medidas acima indicadas nas áreas que sofrem com a escassez de água ou onde a procura de vazão ambiental de um rio são violadas, ou ainda nos casos em que os níveis de água subterrânea ou de lagos estão diminuindo. Redução da pegada hídrica cinza em geral. Reduzir o volume de água residual; reciclar as substâncias químicas. Tratar a água residual antes de a descaregar. Recapturar o calor dos efluentes. Redução da pegada hídrica cinza em pontos críticos. Priorizar as medidas nas áreas onde os padrões de qualidade da água em seu estado natural são violados. Metas de redução da pegada hídrica cadeia produtiva Acordar metas de redução com os fornecedores. Trocar de fornecedores. Ter maior ou total controle sobre a cadeia produtiva. Alterar o modelo de negócio para incorporar ou ter maior controle da cadeia produtiva. Metas de redução da pegada hídrica uso final Reduzir as necessidades de água inerentes à fase de utilização do produto. Reduzir o uso de água quando o produto é utilizado (por exemplo, descargas com dois níveis, sanitário seco, chuveiros e máquinas de lavar roupa que economizam água, equipamentos de irrigação que economizam água). Reduzir o risco de poluição na fase de utilização do produto. Evitar ou minimizar o uso de substâncias nos produtos que podem ser prejudiciais quando atingem os recursos hídricos (por exemplo, substâncias usadas em sabonetes e shampoo). Medidas de compensação da pegada hídrica Compensação ambiental: Investimento no aperfeiçoamento da gestão e no uso sustentável da água na bacia onde a pegada hídrica (residual) da empresa estiver localizada. Compensação social: Investir no uso equitativo da água onde a pegada hídrica (residual) da empresa estiver localizada, por exemplo, diminuindo a pobreza e melhorando o acesso à água limpa e ao saneamento. Compensação económica: Compensar os utilizadores a jusante, afetados pelo uso intensivo de água a montante na bacia, onde a pegada hídrica (residual) da empresa estiver localizada. Transparência nos negócios e nos produtos Conformidade com as definições e métodos compartilhados. Promover e adotar o padrão global para o cálculo e a avaliação da pegada hídrica. Promover a contabilidade hídrica ao longo de toda a cadeia produtiva. Cooperar com todos os agentes ao longo da cadeia produtiva para viabilizar a contabilização total dos produtos finais. Relatórios da pegada hídrica corporativa. Relatar os esforços, as metas e os progressos referentes à questão da água no relatório anual de sustentabilidade, incluindo a cadeia produtiva. Divulgação da pegada hídrica do produto. Divulgação de dados relevantes através de relatórios ou pela internet. Elaborar rótulos sobre o uso da água no produto. Assim como no item anterior, mas agora incluindo a informação em um rótulo separado ou em um único rótulo maior. Certificação de água da empresa. Promover e ajudar a elaborar um esquema de certificação hídrica e manter a sua conformidade. Envolvimento Comunicação com o consumidor; envolvimento com organizações da sociedade civil. Trabalho proativo com o governo para desenvolver leis e regulamentações relevantes. 54 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

53 7. NORMA ISO ENQUADRAMENTO A Organização Internacional da Normalização (International Organization for Standardization) publicou a norma sobre a pegada hídrica - ISO 14046, que estabelece os princípios, requisitos e diretrizes para a avaliação da pegada hídrica de produtos, processos e organizações, a partir da análise do seu ciclo-devida. O principal objetivo desta norma é avaliar os impactes ambientais provenientes das atividades das organizações na água, melhorando desta forma a gestão deste recurso escasso. Ao longo deste capítulo, estabelece-se uma caracterização da norma ISO centrada em cinco pilares, a saber: Princípios fundamentais; Enquadramento metodológico; Comunicação; Revisão crítica; Limitações da pegada hídrica. O quadro seguinte identifica os aspetos da norma ISO apresentados ao longo deste capítulo do estudo. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 55

54 Quadro 7 Aspetos que compõem a norma ISO Aspeto Princípios fundamentais Descrição Princípios fundamentais Princípios fundamentais. Definição do objetivo e âmbito Definição do objetivo; Definição do âmbito; Definição da fronteira do sistema; Requisitos de dados e da qualidade dos dados. Enquadramento metodológico Análise do inventário da pegada hídrica Avaliação do impacto da pegada hídrica Identificação de fluxos elementares; Procedimento de alocação de entradas e saídas de recursos; Cálculo do inventário da pegada hídrica. Seleção de categorias de impacto, indicadores de categoria e modelos de caracterização; Classificação dos impactos; Caracterização dos impactos; Pegada hídrica segundo a sua disponibilidade; Pegadas hídricas que consideram a degradação da água Perfil da pegada hídrica. Interpretação dos resultados Interpretação dos resultados. Relatório da pegada hídrica Relatório da pegada hídrica. Comunicação Relatório da pegada hídrica destinado a terceiros Relatório da pegada hídrica destinado a terceiros. Declaração comparativa e estudos comparativos Declaração comparativa; Estudos comparativos. Revisão crítica Tipos de revisões críticas Revisão crítica por um perito interno ou externo; Revisão crítica por um painel de partes interessadas. Limitações da pegada hídrica Limitações da pegada hídrica Limitações da pegada hídrica. 56 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

55 7.2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS A ISO rege-se por um conjunto de princípios fundamentais. Estes princípios devem ser usados como orientações para decisões relacionadas com o planeamento, realização e apresentação da avaliação da pegada hídrica. O quadro seguinte apresenta os 12 princípios que regem a norma ISO Quadro 8 Princípios fundamentais da norma ISO Princípio Descrição A avaliação da pegada hídrica de um produto considera todas as etapas do ciclo-de-vida desse produto, desde a aquisição da matéria-prima até a disposição final. Perspetiva de ciclo-de-vida Através de uma visão e perspetiva sistemáticas, a transferência de um potencial impacte ambiental entre as etapas do ciclo-de-vida dos processos individuais pode ser identificada e possivelmente evitada. Uma avaliação da pegada hídrica de uma organização adota uma perspetiva de ciclo-de-vida que engloba todas as suas atividades. Quando apropriado e justificado, a avaliação da pegada hídrica pode ser restringida a uma ou varias etapas do ciclo-de-vida. A avaliação da pegada hídrica avalia os potenciais impactes ambientais relacionados com a água associados a um produto, processo ou organização. Foco ambiental Abordagem relativa e unidade funcional Abordagem iterativa Transparência Pertinência Integridade Coerência Os impactos económicos ou sociais, estão, tipicamente, fora do âmbito da avaliação da pegada hídrica. No entanto, outras ferramentas podem ser combinadas com a avaliação da pegada hídrica para uma avaliação mais extensiva e complementar. Uma avaliação da pegada hídrica está relacionada com uma unidade funcional e com os resultados calculados relativamente a essa unidade funcional. Uma avaliação de pegada hídrica é uma técnica iterativa. As fases individuais de uma avaliação de pegada hídrica utilizam os resultados das outras fases. A abordagem iterativa dentro e entre as fases, contribui para a integridade e coerência do estudo e dos resultados apresentados. É divulgada informação suficiente e adequada, a fim de permitir que o utilizador da avaliação da pegada hídrica tome decisões com razoável grau de certeza. São selecionados os dados e métodos que sejam apropriados para a avaliação da pegada hídrica. Todos os dados que providenciam uma significativa contribuição para a avaliação da pegada hídrica são incluídos no inventário. As suposições, métodos e dados são aplicados da mesma forma em toda o avaliação da pegada hídrica para se chegar a conclusões em conformidade com a definição do objetivo e âmbito. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 57

56 Quadro 8 Princípios fundamentais da norma ISO (conclusão) Princípio Precisão Prioridade da abordagem científica Relevância geográfica Integralidade Descrição O preconceito e a incerteza são reduzidas, na medida do possível. As decisões que se tomam sobre a avaliação da pegada hídrica têm, de preferência base nas ciências naturais. Se isso não for possível, outras abordagens científicas (por exemplo, de ciências sociais ou económicas) podem ser usadas, assim como convenções internacionais. Se não existe uma base científica nem uma justificação baseada noutras abordagens científicas ou convenções internacionais é possível, então, conforme o caso, que as decisões se possam basear em juízos de valor. A avaliação da pegada hídrica é realizada a uma escala e resolução (por exemplo, uma bacia de drenagem), que oferece resultados relevantes de acordo com o objetivo e âmbito do estudo e leva em conta o contexto local. Uma pegada hídrica considera todos os atributos ambientalmente relevantes ou aspetos do ambiente natural, da saúde humana e dos recursos relacionados com a água (incluindo a disponibilidade e degradação da água). Uma avaliação não-integral acarreta o risco de não ter em conta a transferência de poluição de uma categoria de impacte para a outra. Fonte: ISO A avaliação da pegada hídrica, de acordo com esta norma internacional, pode ser realizada e comunicada como uma avaliação independente (onde apenas potenciais impactes ambientais relacionados com a água são avaliados), ou como parte de uma avaliação do ciclo-de-vida (onde são considerados todos os potenciais impactes ambientais, e não só aos potenciais impactes relacionados com a água). Deve ser compreensiva e considerar todos os aspetos ou atributos relativos ao ambiente, saúde humana e recursos. Ao considerar todos os atributos e aspetos relevantes dentro de um estudo através de um cruzamento de perspetivas, eventuais compensações podem vir a ser identificadas e avaliadas. 58 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

57 7.3. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO Requisitos Gerais Uma avaliação da pegada hídrica trata os potenciais impactes ambientais relacionados com a água associada a um produto, processo ou organização. A avaliação da pegada hídrica de acordo com esta norma deve incluir as quatro fases de uma avaliação do ciclo-de-vida, a saber: Definição do objetivo e âmbito; Análise do inventário da pegada hídrica; Avaliação do impacto da pegada hídrica; Interpretação dos resultados. A figura seguinte apresenta as fases de avaliação da pegada hídrica, de acordo com os princípios da ISO Avaliação da Pegada Hídrica Estudo do Inventário da Pegada Hídrica Definição do Objetivo e Âmbito Análise do Inventário da Pegada Hídrica Interpretação dos Resultados Avaliação do impacto da Pegada Hídrica Fonte: ISO Figura 9 Fases da avaliação da pegada hídrica De seguida, apresentam-se as quatro fases de avaliação da pegada hídrica constantes da norma ISO EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 59

58 Definição do Objetivo e Âmbito Antes de se iniciar uma avaliação da pegada hídrica numa empresa, é necessário definir o objetivo e âmbito dessa mesma avaliação, delineando as fronteiras da análise e a qualidade e características dos dados a recolher, de modo a fundamentar a análise. A definição do objetivo e âmbito da avaliação da pegada hídrica assenta em quatro eixos, a saber: Definição do objetivo; Definição do âmbito; Definição da fronteira do sistema; Requisitos de dados e da qualidade dos dados. De seguida, aborda-se cada uma destas etapas para a definição do âmbito e objetivo da avaliação da pegada hídrica. Definição do Objetivo Na definição do objetivo da avaliação da pegada hídrica, diversos elementos devem ser indicados de forma precisa, de modo a que a estrutura da avaliação possa ser delineada. Definição do Objetivo Elementos a considerar na definição do objetivo: A aplicação pretendida. As razões para realizar o estudo. O público-alvo, isto é, as entidades a quem se pretende comunicar os resultados do estudo. Se o estudo é uma avaliação independente ou faz parte de uma avaliação do ciclo-de-vida. Se o estudo é parte de uma avaliação do ciclo-de-vida, destinado a ser usado em declaração comparativa. Definição do Âmbito O âmbito da avaliação da pegada hídrica deverá ser consistente com o objetivo da avaliação da pegada hídrica. Na definição do âmbito do estudo, devem ser considerados e claramente descritos um conjunto de elementos especificados em pormenor mais adiante. Em alguns casos, o âmbito do estudo pode ser revisto devido a limitações imprevistas, condicionalismos ou em resultado de informações adicionais. Tais modificações, juntamente com as suas justificações, deverão ser documentadas. 60 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

59 Definição do Âmbito Elementos a serem considerados e descritos claramente: Sistema em estudo, fronteira do sistema e limite organizacional quando pertinente. Unidade funcional. Cobertura e resolução temporal e geográfica do estudo. Requisitos de dados e de qualidade dos dados. Critérios de exclusão. Procedimentos de alocação. Pressupostos, escolhas de valor e elementos opcionais. Metodologia de avaliação do impacto da pegada hídrica e as categorias de impacto selecionadas. Se os resultados das avaliações da pegada hídrica irão incluir um indicador de impacto (especificando qual), um perfil de pegada hídrica e/ou uma pegada hídrica após ponderação. Se a avaliação da pegada hídrica é integral. Que relação causa-efeito e impactes ambientais potenciais são abrangidos pela avaliação da pegada hídrica e identificação das consequências previsíveis dos potenciais impactes ambientais excluídos. Incertezas e limitações. Justificações para as exclusões do estudo. Condições de base com as quais as condições atuais causadas pelas atividades estão a ser comparadas, se aplicável (as condições da linha de base podem incluir o período utilizado como referência para a comparação e o seu inventário). Tipo de relatório. Tipo de revisão crítica, se for o caso. Definição da Fronteira do Sistema Ao proceder a uma avaliação de pegada hídrica de uma organização, deverão ser determinados o limite organizacional e a fronteira do sistema. O método de consolidação aplicado deverá ser documentado e quaisquer alterações ao método de consolidação deverão ser explicadas. O limite organizacional aplica-se em empresas com diversas unidades produtivas. Os potenciais impactes ambientais relacionados com a água podem resultar de uma ou mais unidades físicas ou processos. A organização deve consolidar os potenciais impactes ambientais das suas instalações relacionados com a água, optando por uma das seguintes metodologias: Controlo: a organização avalia os potenciais impactes ambientais relacionados com a água de processos e unidades físicas de instalações sobre as quais tem controlo financeiro ou operacional; Participação de capital: a organização avalia os potenciais impactes ambientais relacionados com a água de processos e unidades físicas das respetivas instalações, na proporção da sua participação de capital. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 61

60 Quando a instalação é controlada por várias organizações, estas devem adotar a mesma abordagem de consolidação. A organização deve ainda documentar que método de consolidação aplica e explicar qualquer alteração ao método selecionado. A fronteira do sistema determina quais os processos unitários a incluir na avaliação da pegada hídrica e o nível de detalhe com que devem ser analisados. Esta identificação pode ser revista durante a fase de interpretação de resultados. Ao selecionar os processos unitários a incluir no estudo, deve-se considerar que as questões da água dependem da quantidade e qualidade da água disponível no local. Processos unitários que estão localizados em áreas diferentes devem ser mantidos separados. A seleção da fronteira do sistema deve ser consistente com o objetivo do estudo. O critério utilizado no estabelecimento da fronteira do sistema deverá ser identificado e explicado. A definição da fronteira do sistema deve estar claramente documentada e indicar se a pegada hídrica a avaliar se refere a um produto, processo ou organização. Caso se refira a um produto, devem aplicar-se os requisitos e diretrizes da ISO para a definição da fronteira do sistema. A omissão de etapas do ciclo-de-vida, processos, entradas ou saídas só é permitida caso não se alterem significativamente as conclusões gerais do estudo. Etapas do ciclo-de-vida, processos, entradas ou saídas omitidos devem ser claramente identificados, explicando-se as razões e implicações da sua exclusão. Definição da Fronteira do Sistema Elementos a considerar na definição da fronteira do sistema: Processos unitários a incluir na avaliação. Processos unitários que exigem uma avaliação detalhada com base em dados primários, em virtude da expectativa de uma contribuição significativa nos resultados. Processos unitários para quais o inventário pode ser baseado em dados secundários ou dados estimados, devido à sua menor importância, ou se são de difícil obtenção como dados primários. Nível de detalhe no estudo de cada processo unitário. Inputs e outputs a incluir na avaliação. Nível de detalhe da análise do inventário da pegada hídrica. Nos casos em que o limite organizacional imposto inclua múltiplas unidades produtivas, podem aplicar-se requisitos especiais para a definição da fronteira do sistema. De acordo com o objetivo e âmbito definidos, uma organização pode estar interessada em desenvolver uma avaliação da pegada hídrica adotando diferentes perspetivas. A organização deve adotar uma perspetiva de ciclo-de-vida, tendo em consideração todas as atividades diretas e indiretas relacionadas com a sua atuação. A organização deve considerar o ciclo-de-vida completo para cobrir todas as entradas e saídas, divulgando e justificando qualquer exclusão. A avaliação completa do ciclo-de-vida (cradle-to-grave) inclui as fases de uso e fim-de-vida dos produtos vendidos no período de referência. 62 Como Calcular a Pegada Hídrica na Indústria

61 Devem tomar-se em consideração as emissões na fase de uso de um produto ao longo do seu tempo de vida estimado, bem como as formas de eliminação e tratamento de resíduos provenientes de produtos vendidos pela organização (no período de referência). Os fluxos na fase de uso devem estar incluídos quando os produtos usam água, consomem energia ou geram emissões com possíveis impactes ambientais sobre a água, durante a utilização. É o caso, por exemplo, de máquinas de lavar roupa, de lava-louças, de vestuário (lavagem e secagem), alimentos (preparação e refrigeração) ou sabões e detergentes (água aquecida). O cálculo de entrada e saídas na fase de uso requer a consulta das especificações do produto e pressupostos sobre a forma como os consumidores usam os produtos da organização (perfis de uso, tempo de vida útil assumido, etc.). A figura seguinte apresenta um exemplo da definição da fronteira do sistema numa organização Organização Fábrica 1 Fábrica... n Aquisição de matérias primas Produção Processo produtivo Uso Fim de vida Aquisição de matérias primas Produção Uso Fim de vida Outras atividades Outras atividades Limites de uma fábrica Limites de uma organização Limites de ciclo-de-vida de um produto Limites "cradle to gate" de uma organização Limites de ciclo-de-vida de uma organização Figura 10 Exemplos de fronteiras de sistema diferentes para a avaliação da pegada hídrica numa organização Caso seja devidamente justificado na fase de definição de objetivo e âmbito, a avaliação pode ser realizada excluindo as fases de uso e fim-de-vida. EFIDRIC Eficiência Hídrica na Indústria 63

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