JUSTIÇA E RAZÃO PRÁTICA KANT E RAWLS

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "JUSTIÇA E RAZÃO PRÁTICA KANT E RAWLS"

Transcrição

1 JUSTIÇA E RAZÃO PRÁTICA EM KANT E RAWLS MARCOS ALVES DE ANDRADE Barbacena 2003

2 À memória de meus pais Waldemar Alves de Andrade e Maria Venina de Andrade, agradecendo sua lições de honestidade, trabalho e perseverança. À minha família, Vilma, Cyntia, Marcos Júnior, Sandra, minha gratidão pelo constante incentivo ao meu trabalho e a meus estudos jurídicos.

3 RESUMO JUSTIÇA E RAZÃO PRÁTICA EM KANT E RAWLS Marcos Alves de Andrade Dezembro de 2003 Rawls contrasta o construtivismo kantiano no uso teórico da razão pura com o construtivismo de sua filosofia prática, afirmando, categoricamente, que o procedimento de construção é baseado essencialmente na razão prática e não na razão teórica, embora esta seja considerada, quando formamos crenças e saberes, inferências e juízos requeridos na formulação dos princípios da justiça. Os dois princípios da justiça, formulados por Rawls para a realização da justiça como eqüidade (fairness) (o Equal Liberty Principle e o Difference/Fair Equality Principle), tiveram inspiração kantiana, sendo equiparados por ele aos imperativos categóricos de Kant. Para Kant, o véu de ignorância priva as pessoas na posição original dos conhecimentos que lhes permitiriam escolher princípios heterônomos. Para Rawls, o véu de ignorância impede uma decisão racional bem definida. Rawls ressalva que o princípio de universalizabilidade de proposições práticas do construtivismo kantiano deve ser reformulado como um dispositivo político, e não metafísico e transcendental, de regras formais-procedurais capazes de estabelecer critérios normativos e de determinar resultados eqüitativos. A idéia de justiça como eqüidade sustentada por Rawls deriva do pensamento de Kant, com a ressalva de que o primeiro nega o valor da generalização e universalidade defendido pelo segundo. O conceito de autonomia política de Rawls diferencia da autonomia moral de Kant, conforme será demonstrado. Palavras chaves: justiça, eqüidade, razão prática, princípios, imperativo categórico, construtivismo, véu de ignorância, direito, Kant, Rawls.

4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO OS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA CONSTRUTIVISMO MORAL DE KANT E O CONSTRUTIVISMO POLÍTICO DE RAWLS JUSTIÇA EM KANT JUSTIÇA EM RAWLS RAZÃO PRÁTICA EM KANT RAZÃO PRÁTICA EM RAWLS CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 21

5 5 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo geral identificar os pensamentos jusfilosóficos de Kant e Rawls, as influências que o primeiro filósofo teve sobre o segundo, suas similitudes e divergências. Seus postulados, além de contribuírem para o desenvolvimento da filosofia do direito, respaldaram diversas outras teorias, principalmente Kant, particularmente no que diz respeito à moralidade, à liberdade e à idéia de justiça. Será demonstrado, também, que, com base no construtivismo moral proposto por Kant, Rawls estabeleceu sua teoria da justiça. Para melhor entender os postulados de Kant e Rawls é necessário, primeiramente, verificar o panorama filosófico e o momento sócio histórico em que eles foram formulados. Immanuel Kant Nasceu em Könisgberg, na Prússia Oriental (hoje Alemanha), em 22 de abril de 1724, onde sempre viveu e faleceu em fevereiro de Foi educado sob o espírito pietista da Igreja Luterana, que caracterizava o protestantismo alemão da época. Com dezesseis anos, em 1740, ingressou na Universidade de Königsberg, matriculando-se em Teologia seguindo as ordens do pai, mas passava a maior parte do tempo estudando matemática, física e medicina. Quando se candidatou ao grau de mestrado e a um posto de professor na Universidade de Königsberg, ele defendeu idéias filosóficas cuidadosamente elaboradas. Inicialmente ministrou aula de matemática e física e, posteriormente, lógica e metafísica. Sua obra Crítica da Razão Pura foi publicada em 1781 e, em 1797, escreveu a Doutrina do Direito. O pensamento kantiano despertou, tanto na sua época quanto em épocas posteriores, muitas críticas e discussões jusfilosóficas, algumas com o objetivo de entendê-las, outras com o intuito de superá-las ou reformulá-las. John Bordley Rawls nasceu no dia 21 de fevereiro de 1921 em Baltimore, estado americano de Maryland. Após alguns anos de escola pública, Rawls passou a freqüentar um tradicional colégio episcopal em Connecticut e, aos dezoito anos de idade, ingressou na Universidade de Princeton, onde foi direcionado para a filosofia pelo professor Norman Malcolm, um amigo íntimo e seguidor de Wittgenstein. Após

6 6 concluir seus estudos em Princeton, em 1943, serviu ao exército americano e chegou a participar de manobras militares no pacífico, testemunhando, assim, pessoalmente, os horrores da guerra. Terminada a Segunda Guerra Mundial, Rawls retornou a Princeton em 1946 e passou a estudar questões de filosofia para a sua tese de doutorado. No seu último ano acadêmico, Rawls iniciou seus estudos de aprofundamento em teoria política, culminando com a publicação, depois de duas décadas, do famoso tratado sobre a justiça (A Theory of Justice). Rawls, considerado o mais importante pensador político da segunda metade do século XX, trouxe novo ânimo à Filosofia Política, particularmente quando publicou, em 1971, em Harvard, em pleno clima de agitação cultural e geopolítica, em razão da Guerra do Vietnã, que mobilizou professores e estudantes a respeito, a sua obra A Theory of Justice (Uma Teoria da Justiça), onde, inspirado no pensamento kantiano, abordou a sua noção de justiça, gerando efervescentes debates intelectuais a respeito. Referida obra, na virada do século, já havia se tornado o maior bestseller filosófico das últimas décadas. Rawls, por ter sempre levado a sério as críticas de seus interlocutores, revisou várias vezes a sua Teoria da Justiça, nas três décadas que se seguiram à primeira publicação. Antes de abordar o tema propriamente dito, para uma melhor compreensão da matéria e para demonstrar as semelhanças e divergências entre seus postulados, foi feita uma breve explanação sobre os princípios da justiça e sobre o construtivismo moral de Kant e o construtivismo político de Rawls.

7 7 2 OS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA Para os antigos filósofos, entre eles Platão, a justiça e a virtude centralizavam todo o problema moral. Na idade moderna, Kant abordou o princípio supremo da moralidade, desde a sua Fundamentação da Metafísica dos Costumes, entendendo que a natureza dotou o homem de razão e afirmando a necessidade de se estabelecer uma filosofia moral pura, despida de tudo que seja baseado na experiência. Apoiando-se no artigo 4 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 ( A liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudica a um outro. O exercício dos direitos naturais de um homem só tem como limites os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo de iguais direitos. Esses limites só podem ser estabelecidos através de leis ), Kant formula o seu princípio geral de direito, segundo o qual toda ação é eqüitativa quando sua máxima permite uma convivência entre a liberdade de arbítrio de cada um e a liberdade de todos, conforme uma lei geral. Depreende-se deste princípio que a liberdade de cada um deve coexistir com a igual liberdade de todos, segundo uma lei geral. Para Kant, os princípios da justiça constituem também imperativos categóricos. Ele define imperativo categórico como um princípio de conduta que se aplica a um sujeito em virtude de sua natureza como ser racional livre e igual. O imperativo categórico formulado por Kant afirma que a autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais, consistindo essa autonomia na independência em relação a toda matéria da lei e na determinação do livre-arbítrio embasado na lei universal de que uma máxima deve ser capaz. Em sua primeira formulação age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal - o imperativo categórico ordenava imediatamente o comportamento do indivíduo, com base apenas no livre-arbítrio, sem apelar a qualquer outra intenção. Kant idealizou o imperativo categórico do Direito, apontando princípios racionais para o agir, como decorrência lógica do imperativo categórico da moral, segundo o qual, a pessoa deve agir externamente de tal modo que o livre uso do seu arbí-

8 8 trio possa coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal. Kant distingue o imperativo categórico do imperativo hipotético, afirmando que este enuncia um mandamento subordinado a determinações, enquanto aquele é totalmente desvinculado de qualquer condição. Kant entende que o agir moral deve estar de acordo com princípios universais, ou leis universais, que atendam a maior parte das pessoas ou, pelo menos, grande parte delas. A pessoa deve agir de forma a pressupor que a sua ação possa configurar uma ação moral e, assim, se tornar uma lei universal. Observando os princípios universais, a humanidade desenvolve a ética pelo dever, sem ser guiada pelo prazer ou pelo desejo, mas, apenas pela razão. No entendimento de Kant, uma pessoa age de modo autônomo quando escolhe os princípios que regem a sua ação como a melhor expressão possível da sua natureza enquanto ser racional, livre e igual. Os princípios, neste caso, não são adotados em razão da sua posição social ou qualidades naturais, nem com base na espécie particular da sociedade em que vive, nem os objetos específicos que deseja. Assim, uma pessoa age de modo heterônomo se agir de acordo com estes princípios. Segundo Kant, agir de acordo com os princípios da justiça, a pessoa estará expressando a sua natureza enquanto ser humano livre e igual, sujeita às condições da vida humana, e assumirá as limitações da posição original. Agir com base nos princípios da justiça é agir com base em imperativos categóricos. Os dois princípios da justiça, formulados por Rawls para a realização da justiça como eqüidade (fairness), chamada por ele de justiça eqüitativa, (o Equal Liberty Principle e o Difference/Fair Equality Principle), de inspiração kantiana, são enunciados da seguinte maneira: Primeiro: Todas as pessoas têm igual direito a um projeto inteiramente satisfatório de direitos e liberdades básicas iguais para todos, projeto este compatível com todos os demais; e, nesse projeto, as liberdades políticas, e somente estas, deverão ter seu valor eqüitativo garantido. Segundo: As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer dois requisitos: (a) devem estar vinculadas a posições e cargos abertos a todos, em condições de igualdade eqüitativa de oportunidades; e (b) devem representar o maior benefício possível aos membros menos privilegiados da sociedade. 1 1 OLIVEIRA, Nythamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Sahar Ed., 2003, p.18.

9 9 O primeiro princípio, princípio da igual liberdade (equal liberty principle), em razão da primazia do justo sobre o bem, tem prioridade sobre o segundo princípio, que se divide em dois: o princípio da igualdade quantitativa de oportunidades (fair equality of opportunities) e o princípio da diferença (difference principle). Rawls enfatiza que esses princípios se aplicam à estrutura básica da sociedade, determinando a atribuição de direitos e deveres e regulando as vantagens e- conômicas e sociais e devem ser observados como regras formais-procedurais capazes de estabelecer critérios normativos e de determinar resultados eqüitativos. O primeiro princípio assegura que todas as pessoas têm igual direito aos bens primários e liberdades básicas iguais. O segundo justifica as desigualdades sociais e econômicas quando estas resultam em benefício para todos. O véu de ignorância de Kant priva as pessoas na posição original dos conhecimentos que lhes permitiriam escolher princípios heterônomos. As partes, como pessoas racionais livres e iguais que conhecem apenas as circunstâncias que originam a necessidade dos princípios da justiça, efetuam a sua escolha conjuntamente. Para Rawls, o véu de ignorância impede uma decisão racional bem definida e assegura que as concepções particulares do bem, a posição social, os talentos e habilidades das partes e dos cidadãos representados não serão consideradas na deliberação para a escolha dos princípios na posição original. A posição original é a situação hipotética na qual as partes contratantes escolhem, sob um véu de ignorância, os princípios da justiça que devem governar a estrutura básica da sociedade. A concepção de rawlsiana da posição original pode ser vista como ponto de partida da justiça como eqüidade. A posição original é uma interpretação procedural dos conceitos de Kant a respeito da autonomia e do imperativo categórico. Rawls equipara seus princípios de justiça aos imperativos categóricos de Kant, pois eles se aplicam a uma pessoa tendo em vista a sua natureza como ser racional, livre e igual, não pressupondo, entretanto, que ela tinha desejos e interesses particulares.

10 10 3 CONSTRUTIVISMO MORAL DE KANT E O CONSTRUTIVISMO POLÍTICO DE RAWLS O construtivismo de Rawls, embasado no pensamento de Kant, se fundamenta na circunstância de que, assim como o imperativo catégorico o é na moral, a justiça é universalizável e prescritiva na política, ou seja, a justiça realiza o princípio supremo da moral na própria existência histórico-política dos seres humanos, enquanto pessoas autônomas. Nythamar de Oliveira afirma que Rawls propõe o seu construtivismo nos seguintes termos: (1) os princípios da justiça política (conteúdo) podem ser representados como resultado de um procedimento de construção (estrutura). Neste procedimento, os agentes racionais, enquanto representantes de cidadãos e sujeitos a condições razoáveis, selecionam os princípios que devem regular a estrutura básica da sociedade; (2) o procedimento de construção é baseado essencialmente na razão prática e não na razão teórica embora esta desempenhe algum papel, ao formarmos crenças e saberes; inferências e juízos requeridos na formulação de justiça; (3) o construtivismo político pressupõe uma concepção complexa da pessoa e da sociedade (entendidas como entes racionais com capacidade moral - senso de justiça e senso de uma concepção do bem e sistema eqüitativo de cooperação social de uma geração à seguinte ); (4) é mister recorrermos à distinção entre o razoável e o racional: o razoável é aplicado a concepções e princípios, juízos e fundamentos, pessoas e instituições, sem recorrer ao conceito de verdade, viabilizando o conceito de um consenso justaposto (overlapping consensus), a saber, que todas as doutrinas religiosas, filosóficas e morais razoáveis, apesar de se oporem e serem incompatíveis, persistem através dos tempo e mantém um certo número de adeptos num regime constitucional democrático. 2 Segundo o construtivismo político de Rawls, a teoria da justiça como eqüidade, por ser a mais razoável e traduzir um consenso justaposto, é a mais apropriada para sociedades democráticas pluralistas, que não se opõe ao intucionismo, mas se mostra mais fundamental e abrangente do ponto de vista conceitual. Nythamar de Oliveira, discorrendo a respeito das diferenças entre os construtivismos kantiano e rawlsiano, observa: (1) Enquanto o construtivismo moral de Kant reivindica pretensões de 2 Op. cit, p. 28.

11 validez como uma doutrina abrangente, o construtivismo político de Rawls apenas representa um modelo teórico capaz de estabelecer um consenso mínimo necessário para que diferentes doutrinas morais, filosóficas e religiosas possam coexistir em uma sociedade democrático-liberal, numa concepção razoável de pluralismo; (2) Rawls procura, assim, diferenciar seu conceito de autonomia política do conceito kantiano de autonomia moral: este desempenha um papel regulador, viabilizando a autoconstituição de valores morais e políticos pelos princípios da razão prática, ao passo que aquele apenas representa a ordem de valores políticos embasados nesses mesmos princípios e inseparáveis de concepções políticas da sociedade e da pessoa; (3) assim como Kant, Rawls mantém que os princípios da razão prática originam-se na consciência moral; ao contrário de Kant, concepções metafísicas tais como o idealismo transcendental não desempenham nenhum papel de fundamentação no estabelecimento de concepções básicas de personalidade (faculdades de um senso de justiça e de concepções do bem) e sociedade (associação de pessoas em cooperação social eqüitativa); (4) enquanto a filosofia de Kant pode ser tomada como uma apologia da racionalidade (coerência e unidade da razão nos seus usos teórico e prático, tese dos dois mundos opondo e compatibilizando natureza e liberdade), a teoria da justiça como eqüidade apenas desvela o fundamento público da justificação em questões de justiça política dado o fato de pluralismo razoável. 3 Rawls ressalva que o princípio de universalizabilidade de proposições práticas do construtivismo kantiano deve ser reformulado como um dispositivo político, e não metafísico e transcendental, de regras formais-procedurais capazes de estabelecer critérios normativos e de determinar resultados eqüitativos Op. cit, p.30.

12 12 4 JUSTIÇA EM KANT Para Kant são três os elementos constitutivos do conceito de Direito: em primeiro lugar, este conceito, enquanto este se refere a uma obrigação correspondente, diz respeito somente à relação externa e absolutamente prática de uma pessoa com relação a outra, na medida em que suas ações possam ter como base influências recíprocas; em segundo lugar, o conceito do Direito não significa a relação do arbítrio com o desejo, como ocorre nas ações benéficas ou cruéis, mas significa a- penas a relação do arbítrio de um com o arbítrio do outro; em terceiro lugar, nesta relação recíproca de um arbítrio com outro, não se considera a matéria do arbítrio, mas apenas a forma na relação do arbítrio de ambas as partes, enquanto estas são consideradas unicamente como livres. Com base no terceiro elemento, Kant formula o seu conceito de direito: Direito é o conjunto de condições sob as quais o arbítrio de cada um pode conciliar-se com o arbítrio dos demais segundo uma lei universal da liberdade. Com esse conceito, ele procurou estabelecer o que deveria ser o direito para corresponder ao ideal de justiça, ou seja, o critério com base no qual seja possível distinguir o justo do injusto. 4 A chamada lei universal do direito foi extraída por Kant do seu conceito de direito: Atue externamente de maneira que o uso livre do teu arbítrio possa estar de acordo com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei universal. 5 Com estas definições, Kant procurou estabelecer o critério para distinguir uma ação justa de uma ação injusta. Para ele, uma ação é justa, quando, por meio dela, ou segundo a sua máxima, a liberdade do arbítrio de um pode coexistir com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei universal. Todo o pensamento jurídico de Kant tem por objeto teorizar a justiça como liberdade, o que leva à conclusão de que a sua teoria do direito deve ser considerada como um dos fundamentos do estado liberal. 4 BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. 4.ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997, p.7o. 5 idem, p.70.

13 13 Kant ressalva, outrossim, que a noção de direito é estritamente ligada à noção de coação e define o direito subjetivo como faculdade de obrigar. O dever é jurídico quando surge no outro a faculdade de obrigar. Na ética kantiana, o dever caracteriza a necessidade de uma ação por respeito à lei moral, isto é, a lei universal que manda agir de acordo com a máxima que a vontade quer que se torne uma lei que possa valer para todos os demais. O direito é liberdade, porém esta é limitada pela presença da liberdade dos outros. Quando houver transgressão dos limites da liberdade, invadindo a esfera de liberdade de outrem, o ato do transgressor pode ser repelido pela coação. Assim, embora a coação seja antiética com relação à liberdade, a mesma é necessária para conservação da liberdade e para a realização da justiça. Desse modo, segundo Kant, a força é necessária para a justiça quando o seu fim é repelir uma outra força que impede a atuação da justiça, ou seja, uma força injusta. Kant, porém, admite duas situações em que o direito existe sem coação: quando for caso de equidade (justiça no caso concreto) ou quando se tratar de estado de necessidade (caso de não-punibilidade).

14 14 5 JUSTIÇA EM RAWLS A idéia de justiça eqüitativa ou justiça como eqüidade sustentada por Rawls, conforme ele próprio reconhece, deriva do pensamento de Kant, com a ressalva de que o primeiro nega o valor da generalização e universalidade defendido pelo segundo, por entender que não se tratam de princípios inéditos na história da Filosofia. Para Rawls, o conceito de justiça com eqüidade é superior ao conceito de justiça desenvolvido pelo utilitarismo, o qual, de uma maneira geral, defende que os arranjos sociais sejam tais que maximizem a felicidade plena de seus membros, sem levar em conta como os benefícios e as desvantagens são distribuídos, a menos que afetem o total 6. Rawls, em Uma Teoria da Justiça, procura situar seu modelo procedimental de inspiração kantiana opondo-se a modelos teleológicos em filosofia moral, na medida em que estes concebem o bem independentemente do justo, como um fim exterior ao agir moral. Para ele, os dois tipos principais de teorias teleológicas são as perfeccionistas (identificam o bem com a realização da perfeição humana na cultura) e as utilitaristas (concebem o bem enquanto princípio de utilidade). Contra os modelos utilitaristas, Rawls, através da reformulação do seu liberalismo político, procura manter a idéia diretriz da primazia do justo sobre o bem. Por sempre levar a sério as questões colocadas por seus críticos, particularmente quanto ao uso que faz da filosofia kantiana e quanto à oposição que faz aos modelos utilitaristas, Rawls, a fim de melhor justificá-la, revisa e corrige, continuamente, sua Teoria da Justiça, ao ponto de ser criticado, erroneamente, por alguns, de que estivesse abandonando, definitivamente, o seu intento original. A teoria da justiça de Rawls apresenta uma estrutura procedimental capaz de representar, teoricamente, os dois princípios fundamentais de justiça política, viabilizando a construção de uma sociedade livre e eqüitativa. Rawls mantém o princípio de universalizabilidade de proposições práticas do construtivismo kantiano como modelo normativo para a fundamentação da teoria da justiça. Desse modo, ele reitera um procedimentalismo universalista que em muito 6 OLIVEIRA, Nythamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Sahar Ed., 2003, p.25.

15 15 se assemelha ao modelo procedimental do imperativo categórico de Kant, o qual estrurura a sua própria formulação da teoria da justiça como eqüidade. Rawls entende que o contrato social é inerente à filosofia moral: o melhor para a sociedade é o que é justo. A teoria da justiça de Rawls pode ser entendida como resultado de um procedimento de construção em que os cidadãos integrantes de uma sociedade democrática regida por uma constituição e sujeitos a condições razoáveis, escolhem os princípios que devem regular a convivência a vida social e permitir a convivência pluralista de diversas doutrinas religiosas, filosóficas e morais. Para Rawls, o conceito de justiça desempenha um papel de justificação análogo ao conceito de verdade para uma teoria do conhecimento para a filosofia prática. A justiça como eqüidade tem por premissa uma certa tradição política, assumindo como sua idéia fundamental a da sociedade como um sistema eqüitativo de cooperação e a de que os cidadãos, envolvidos em tal sistema, são pessoas livres e iguais.

16 16 6 RAZÃO PRÁTICA EM KANT Na concepção kantiana, chama-se livre-arbítrio o arbítrio que pode ser determinado pela Razão pura. O arbítrio seria bruto e irracional, portanto, não puro, quando determinado somente pela inclinação enquanto impulso sensível ou estímulo. O humano arbítrio é afetado por tais impulsos ou estímulos, mas não deve ser determinado por eles, ou seja, deve ser um livre-arbítrio, no sentido de poder ser determinado pela razão pura. O conceito negativo do livre-arbítrio é dado pelo fato de que a liberdade do arbítrio é sua independência de ser determinado por estímulos ou impulsos sensíveis. Quando a vontade é a capacidade da Razão pura de ser prática em si, temos o conceito positivo de liberdade, com a ressalva de que isso somente é possível pela incidência da máxima de que toda ação deve estar sujeita à condição de servir como lei universal. Razão pura para Kant é a que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori (fora do mundo real). Depreende-se do sistema kantiano que a razão pura é conjunto de conceitos puros a priori, deduzidos pela razão da experiência, enquanto que a razão prática deve abranger os princípios puros do exercício da razão pura no campo da moral e do direito. Kant chama de conhecimento ao uso da razão que se ajusta ao uso das categorias no ambiente dos estímulos ou impulsos sensíveis, enquanto chama de razão pura ao uso da razão a priori e cujo conteúdo são as idéias da razão. A razão prática pode ser considerada como Faculdade de Princípios, sendo, neste contexto, fonte dos princípios práticos, quando aplicada como Razão pura ao Arbítrio e considerada à parte de seu objeto. O estudo da razão prática proporciona a Kant formular os princípios básicos de sustentação de sua metafísica dos costumes, que é conceituada por ele como um sistema de conhecimento a priori por puros conceitos, uma filosofia prática, que não tem por objeto a natureza, mas a liberdade do arbítrio.

17 17 Segundo Kant, para que uma ação seja moral não é suficiente que seja coerente com o dever, sendo necessário que seja também cumprida pelo dever. Com base nessa proposição, Kant distingue a moralidade da legalidade: quando a ação é cumprida por dever, e não por inclinação ou interesse, tem-se a moralidade, pois, neste caso, o dever conteria a boa vontade; quando a ação é cumprida em conformidade ao dever, mas segundo alguma inclinação ou interesse diferente do puro respeito ao dever, tem-se a legalidade (conformidade à lei). Kant afirmou que nenhuma ação baseada apenas na obediência da lei deve ser considerada como moral. Com base neste entendimento podemos afirmar que as pessoas que torturaram e mataram inocentes durante a segunda guerra mundial, embora obedecendo a lei nazista e as leis nazi-fascistas, não agiram humana e eticamente, tendo, na realidade, praticado atos não morais. A moral que estava centrada no individual e era subjetiva tornou-se, com a razão prática de Kant em universal e objetiva. Para Kant, o conhecimento da moralidade precede o conhecimento da liberdade, sendo assim, esta seria o fundamento da lei moral.

18 18 7 RAZÃO PRÁTICA EM RAWLS Rawls, assim como Kant, mantém que os princípios da razão prática originam-se na consciência moral, contudo, distanciando do pensamento kantiano a respeito da moral universal, entende que as concepções metafísicas não desempenham nenhum papel de fundamentação no estabelecimento de concepções básicas de personalidade e sociedade e enfatiza que a razão prática destina-se exclusivamente a seres humanos e não a seres racionais. Rawls entende que devemos recorrer à distinção entre o razoável e o racional para a aplicação da justiça eqüitativa. Através da reapropriação do construtivismo kantiano, Rawls procura demonstrar a normatividade da razão prática pura na própria concepção de uma sociedade contratual, regulada por uma constituição e formada por pessoas morais livres e i- guais. Segundo Rawls, seu conceito de autonomia política, que apenas representa a ordem de valores políticos embasados nos princípios da razão prática, mas inseparáveis das concepções políticas da sociedade e das pessoas, configura uma autonomia doutrinária, que se diferencia da autonomia moral de Kant, que desempenha um papel regulador, na medida em que é viabilizada a autoconstituição de valores morais e políticos pela atividade da razão prática. Desta forma, Rawls contrasta o construtivismo kantiano no uso teórico da razão pura com o construtivismo de sua filosofia prática, afirmando, categoricamente, que o procedimento de construção é baseado essencialmente na razão prática e não na razão teórica, embora esta seja considerada, quando formamos crenças e saberes, inferências e juízos requeridos na formulação dos princípios da justiça. Rawls formula também a razão pública, conceituando-se como a razão dos cidadãos de uma sociedade democrática liberal na medida em que compartilham igual liberdade por todos reconhecida e desejada, através de argumentos e critérios que possam ser pública e consensualmente estabelecidos na elaboração de uma sociedade mais justa. Pode-se falar em uma democracia deliberativa, na medida em que a razão política é compartilhada por todos, publicamente.

19 19 8 CONCLUSÃO O pensamento de Kant teve grande influência para o direito, principalmente, para estudiodos da filosofia do direito, entre eles Rawls, o qual fundamentou sua Teoria da Justiça através do construtivismo kantiano. Os dois princípios da justiça, formulados por Rawls para a realização da justiça como eqüidade (fairness) (o Equal Liberty Principle e o Difference/Fair Equality Principle), tiveram inspiração kantiana. Rawls, como ele próprio reconhece, equipara seus princípios de justiça aos imperativos categóricos de Kant. O véu de ignorância de Kant priva as pessoas na posição original dos conhecimentos que lhes permitiriam escolher princípios heterônomos. Para Rawls, o véu de ignorância impede uma decisão racional bem definida e assegura que as concepções particulares do bem, a posição social, os talentos e habilidades das partes e dos cidadãos representados não serão consideradas na deliberação para a escolha dos princípios na posição original. A concepção de rawlsiana da posição original pode ser vista como ponto de partida da justiça como eqüidade. A posição original é uma interpretação procedural dos conceitos de Kant a respeito da autonomia e do imperativo categórico. Rawls ressalva que o princípio de universalizabilidade de proposições práticas do construtivismo kantiano deve ser reformulado como um dispositivo político, e não metafísico e transcendental, de regras formais-procedurais capazes de estabelecer critérios normativos e de determinar resultados eqüitativos. A idéia de justiça como eqüidade sustentada por Rawls deriva do pensamento de Kant, com a ressalva de que o primeiro nega o valor da generalização e universalidade defendido pelo segundo. Rawls, assim como Kant, entende que os princípios da razão prática originam-se na consciência moral, contudo, distancia do pensamento kantiano a respeito da moral universal, argumentando que as concepções metafísicas não desempenham nenhum papel de fundamentação no estabelecimento de concepções

20 20 básicas de personalidade e sociedade e enfatiza que a razão prática destina-se exclusivamente a seres humanos e não a seres racionais. O conceito de autonomia política de Rawls, que apenas representa a ordem de valores políticos embasados nos princípios da razão prática, mas inseparáveis das concepções políticas da sociedade e das pessoas, diferencia da autonomia moral de Kant, que desempenha um papel regulador, na medida em que é viabilizada a autoconstituição de valores morais e políticos pela atividade da razão prática. Portanto, pode ser observado no presente trabalho que Kant teve grande influência sobre Rawls, sendo que este baseou todo seu postulado no pensamento daquele, reformulando algumas das idéias kantianas.

21 21 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. 4.ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, OLIVEIRA, Nythamar. Rawls. Rio de Janeiro: Jorge Sahar Ed., 2003.

22/08/2014. Tema 7: Ética e Filosofia. O Conceito de Ética. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes

22/08/2014. Tema 7: Ética e Filosofia. O Conceito de Ética. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes Tema 7: Ética e Filosofia Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes O Conceito de Ética Ética: do grego ethikos. Significa comportamento. Investiga os sistemas morais. Busca fundamentar a moral. Quer explicitar

Leia mais

O caminho moral em Kant: da transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão prática pura

O caminho moral em Kant: da transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão prática pura O caminho moral em Kant: da transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão prática pura Jean Carlos Demboski * A questão moral em Immanuel Kant é referência para compreender as mudanças ocorridas

Leia mais

Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls

Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls Justiça Equitativa e Autonomia Política em John Rawls XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Bolsista Apresentador: Iuri Hummes Specht 1, Thadeu Weber 2 (orientador) 1 Faculdade de Filosofia, PUCRS, 2

Leia mais

Dignidade Humana e Justiça Social

Dignidade Humana e Justiça Social Dignidade Humana e Justiça Social Francisco José Vilas Bôas Neto Francisco José Vilas Bôas Neto Dignidade Humana e Justiça Social Belo Horizonte 2013 Lista de Siglas 1) CKTM Construtivismo Kantiano na

Leia mais

Cotações. Prova Escrita de Filosofia. 10.º Ano de Escolaridade Março de Duração da prova: 90 minutos. 3 Páginas

Cotações. Prova Escrita de Filosofia. 10.º Ano de Escolaridade Março de Duração da prova: 90 minutos. 3 Páginas Prova Escrita de Filosofia Versão A 10.º Ano de Escolaridade Março de 2016 Duração da prova: 90 minutos 3 Páginas Leia atentamente o enunciado Para cada resposta, identifique o grupo e o item. Apresente

Leia mais

Kant e a Razão Crítica

Kant e a Razão Crítica Kant e a Razão Crítica Kant e a Razão Crítica 1. Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é para si mesma a sua lei (independentemente da natureza dos objetos do querer). O princípio

Leia mais

NODARI, Paulo César. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010

NODARI, Paulo César. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010 NODARI, Paulo César. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010 12 Daniel José Crocoli * A obra Sobre ética apresenta as diferentes formas de se pensar a dimensão ética, fazendo

Leia mais

2 A Concepção Moral de Kant e o Conceito de Boa Vontade

2 A Concepção Moral de Kant e o Conceito de Boa Vontade O PRINCÍPIO MORAL NA ÉTICA KANTIANA: UMA INTRODUÇÃO Jaqueline Peglow Flavia Carvalho Chagas Universidade Federal de Pelotas 1 Introdução O presente trabalho tem como propósito analisar a proposta de Immanuel

Leia mais

Escola Secundária 2-3 de Clara de Resende COD COD

Escola Secundária 2-3 de Clara de Resende COD COD CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE AVALIAÇÃO (Aprovados em Conselho Pedagógico de 27 de outubro de 2015) No caso específico da disciplina de FILOSOFIA, do 10º ano de escolaridade, a avaliação incidirá ao nível do

Leia mais

IMMANUEL KANT ( )

IMMANUEL KANT ( ) CONTEXTO HISTÓRICO Segunda metade do século XVIII época de transformações econômicas, sociais, políticas e cultural-ideológicas. A Revolução Industrial e a consolidação do Capitalismo. A Revolução Científica,

Leia mais

OBRA DA ÉPOCA MODERNA: FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES, DE KANT

OBRA DA ÉPOCA MODERNA: FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES, DE KANT Ano lectivo de 2004 / 2005 FILOSOFIA 12º ANO PLANIFICAÇÃO OBRA DA ÉPOCA MODERNA: FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES, DE KANT ESCOLA SECUNDÁRIA ALBERTO SAMPAIO 1 Ano lectivo de 2004 / 2005 FILOSOFIA

Leia mais

IMMANUEL KANT ( ) E O CRITICISMO

IMMANUEL KANT ( ) E O CRITICISMO AVISO: O conteúdo e o contexto das aulas referem-se aos pensamentos emitidos pelos próprios autores que foram interpretados por estudiosos dos temas RUBENS expostos. RAMIRO Todo JR exemplo (TODOS citado

Leia mais

Prof. Talles D. Filosofia do Direito A Teoria da Norma Jurídica

Prof. Talles D. Filosofia do Direito A Teoria da Norma Jurídica Prof. Talles D. Filosofia do Direito A Teoria da Norma Jurídica Os pontos elencados são tópicos da obra de Norberto Bobbio, sempre presente nas provas dos concursos públicos, o que provavelmente se repetirá

Leia mais

A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER. Professora: Susana Rolim

A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER. Professora: Susana Rolim A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER Professora: Susana Rolim MAX WEBER Sociólogo alemão, nascido em 21 de abril de 1864. Seu primeiro trabalho foi A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905).

Leia mais

A FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA DOS DIREITOS HUMANOS NA TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS

A FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA DOS DIREITOS HUMANOS NA TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS A FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA DOS DIREITOS HUMANOS NA TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS Caroline Trennepohl da Silva * RESUMO: A intenção do trabalho é refletir acerca da fundamentação ética dos direitos humanos

Leia mais

A Liberdade e a Igualdade em Kant: fundamentos da cidadania. Sob a égide do Estado Democrático de Direito, instituído pela

A Liberdade e a Igualdade em Kant: fundamentos da cidadania. Sob a égide do Estado Democrático de Direito, instituído pela A Liberdade e a Igualdade em Kant: fundamentos da cidadania Simone Carneiro Carvalho I- Introdução Sob a égide do Estado Democrático de Direito, instituído pela Constituição da República de 1988, batizada

Leia mais

RESENHA. ALESSANDRO PINZANI (UFSC / Brasil)

RESENHA. ALESSANDRO PINZANI (UFSC / Brasil) TONETTO, Milene C. Direitos Humanos em Kant e Habermas. Florianópolis: Insular, 2010. RESENHA ALESSANDRO PINZANI (UFSC / Brasil) O livro de Milene Tonetto é mais ambicioso do que o título poderia deixar

Leia mais

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2 ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2 Índice 1. Ética Geral...3 1.1 Conceito de ética... 3 1.2 O conceito de ética e sua relação com a moral... 4 2 1. ÉTICA GERAL 1.1 CONCEITO DE ÉTICA Etimologicamente,

Leia mais

Clóvis de Barros Filho

Clóvis de Barros Filho Clóvis de Barros Filho Sugestão Formação: Doutor em Ciências da Comunicação pela USP (2002) Site: http://www.espacoetica.com.br/ Vídeos Produção acadêmica ÉTICA - Princípio Conjunto de conhecimentos (filosofia)

Leia mais

O. 8. BITTÇ~R EDU~RDO. Curso de Etica Jurídica. É ti c a geral e profissional. 12ª edição, revista, atualizada e modificada ..

O. 8. BITTÇ~R EDU~RDO. Curso de Etica Jurídica. É ti c a geral e profissional. 12ª edição, revista, atualizada e modificada .. EDU~RDO O. 8. BITTÇ~R "" Curso de Etica Jurídica É ti c a geral e profissional 12ª edição, revista, atualizada e modificada.. ~ o asaraiva SUMÁRIO Prefácio... 15 Apresentação... 19 PARTE I-Ética Geral

Leia mais

Recensão. Nythamar de Oliveira, Rawls, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003, 74 p. ISBN

Recensão. Nythamar de Oliveira, Rawls, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003, 74 p. ISBN Recensão Nythamar de Oliveira, Rawls, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003, 74 p. ISBN 85-7110-704-1. Nythamar de Oliveira afronta, em Rawls, o desafio de nos apresentar uma das mais complexas e polémicas

Leia mais

Sobre Kant. Kant nasceu em Konigsberg, no ano de 1724 e morreu em 1804 sem nunca ter saído da sua cidade natal.

Sobre Kant. Kant nasceu em Konigsberg, no ano de 1724 e morreu em 1804 sem nunca ter saído da sua cidade natal. Sobre Kant Kant nasceu em Konigsberg, no ano de 1724 e morreu em 1804 sem nunca ter saído da sua cidade natal. Foi um dos últimos europeus a dominar toda a ciência do seu tempo, incluindo a física, a geografia,

Leia mais

Ricardo Terra. Kant & o direito. Rio de Janeiro

Ricardo Terra. Kant & o direito. Rio de Janeiro Ricardo Terra Kant & o direito Rio de Janeiro Copyright 2004, Ricardo Terra Copyright desta edição 2004: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2108-0808

Leia mais

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO SOFISTAS Acreditavam num relativismo moral. O ceticismo dos sofistas os levava a afirmar que, não existindo verdade absoluta, não poderiam existir valores que fossem validos universalmente. A moral variaria

Leia mais

Ética e gestão organizacional Aula 04. Virgílio Oliveira UFJF FACC

Ética e gestão organizacional Aula 04. Virgílio Oliveira UFJF FACC Aula 04 Virgílio Oliveira UFJF FACC 1 As fontes dos preceitos morais no presente A compreensão de nossos próprios preceitos morais requer: uma espécie de arqueologia das instituições sociais contemporâneas

Leia mais

Hans Kelsen. Prof. Nogueira. O que é Justiça?

Hans Kelsen. Prof. Nogueira. O que é Justiça? Hans Kelsen Prof. Nogueira O que é Justiça? Biografia Básica 1881 1973 Austríaco Judeu Biografia Básica 1 ed. Teoria Pura do Direito 1934 O que é Justiça? 1957 2 ed. Teoria Pura do Direito 1960 Histórico

Leia mais

Ficha de filosofia. A necessidade de fundamentação da moral Análise comparativa de duas perspectivas filosóficas. Fundamento e critérios da moralidade

Ficha de filosofia. A necessidade de fundamentação da moral Análise comparativa de duas perspectivas filosóficas. Fundamento e critérios da moralidade Ficha de filosofia A necessidade de fundamentação da moral Análise comparativa de duas perspectivas filosóficas Fundamento e critérios da moralidade Ética deontológica Ética consequencialista Respeito

Leia mais

MORAL E ÉTICA. Consciência Moral: noção de bem e mal/certo e errado/justo e injusto.

MORAL E ÉTICA. Consciência Moral: noção de bem e mal/certo e errado/justo e injusto. MORAL E ÉTICA O homem é um ser dotado de senso moral. Consciência Moral: noção de bem e mal/certo e errado/justo e injusto. Senso moral se manifesta em sentimentos, atitudes, juízos de valor Moral vem

Leia mais

Fundamentação da ética

Fundamentação da ética Fundamentação da ética Objeto da ética Problemas: O que é a ética? Que tipo de problemas ela tenta resolver? Por que o ser humano deve ser guiado pela ética e não pelos instintos? Que elemento nos distingue

Leia mais

TEORIA DO CONHECIMENTO Immanuel Kant ( )

TEORIA DO CONHECIMENTO Immanuel Kant ( ) TEORIA DO CONHECIMENTO Immanuel Kant (1724-1804) Obras de destaque da Filosofia Kantiana Epistemologia - Crítica da Razão Pura (1781) Prolegômenos e a toda a Metafísica Futura (1783) Ética - Crítica da

Leia mais

O KANT DE JOHN RAWLS: APROPRIAÇÕES DA MORAL KANTIANA NA JUSTIÇA COMO EQUIDADE

O KANT DE JOHN RAWLS: APROPRIAÇÕES DA MORAL KANTIANA NA JUSTIÇA COMO EQUIDADE O KANT DE JOHN RAWLS: APROPRIAÇÕES DA MORAL KANTIANA NA JUSTIÇA COMO EQUIDADE Danilo de Oliveira Caretta Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo Pavão RESUMO Neste trabalho, pretendo expor algumas das apropriações

Leia mais

Deficiência Mental: Contribuições de uma perspectiva de justiça centrada nos funcionamentos.

Deficiência Mental: Contribuições de uma perspectiva de justiça centrada nos funcionamentos. Deficiência Mental: Contribuições de uma perspectiva de justiça centrada nos funcionamentos. Alexandre da Silva Costa Estudo que faz uma análise acerca das contribuições da perspectiva de justiça baseada

Leia mais

Conceito de Moral. O conceito de moral está intimamente relacionado com a noção de valor

Conceito de Moral. O conceito de moral está intimamente relacionado com a noção de valor Ética e Moral Conceito de Moral Normas Morais e normas jurídicas Conceito de Ética Macroética e Ética aplicada Vídeo: Direitos e responsabilidades Teoria Exercícios Conceito de Moral A palavra Moral deriva

Leia mais

Parte I Filosofia do Direito. Teoria Geral do Direito e da Política

Parte I Filosofia do Direito. Teoria Geral do Direito e da Política S u m á r i o Parte I Filosofia do Direito. Teoria Geral do Direito e da Política CAPÍTULO I Filosofia do Direito I: O Conceito de Justiça, O Conceito de Direito, Equidade, Direito e Moral...3 I. O conceito

Leia mais

Filosofia Iluminista. Profª Karina Oliveira Bezerra Unidade 01. Capítulo 04: p Unidade 08. Capítulo 05: pg

Filosofia Iluminista. Profª Karina Oliveira Bezerra Unidade 01. Capítulo 04: p Unidade 08. Capítulo 05: pg Filosofia Iluminista Profª Karina Oliveira Bezerra Unidade 01. Capítulo 04: p.57-58 Unidade 08. Capítulo 05: pg. 442-446 Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século

Leia mais

1. Quanto às afirmações abaixo, marque a alternativa CORRETA : I O direito é autônomo, enquanto a moral é heterônoma.

1. Quanto às afirmações abaixo, marque a alternativa CORRETA : I O direito é autônomo, enquanto a moral é heterônoma. P á g i n a 1 PROVA DAS DISCIPLINAS CORRELATAS TEORIA GERAL DO DIREITO 1. Quanto às afirmações abaixo, marque a alternativa CORRETA : I O direito é autônomo, enquanto a moral é heterônoma. II O valor jurídico

Leia mais

Preocupações do pensamento. kantiano

Preocupações do pensamento. kantiano Kant Preocupações do pensamento Correntes filosóficas Racionalismo cartesiano Empirismo humeano kantiano Como é possível conhecer? Crítica da Razão Pura Como o Homem deve agir? Problema ético Crítica da

Leia mais

A ética e a política em Kant e Rawls

A ética e a política em Kant e Rawls Ana Luísa CAMPOS CASSEB y José Claudio MONTEIRO DE BRITO FILHO A ética e a política em Kant e Rawls Rediscutindo a tolerancia a partir do respeito Ana Luísa CAMPOS CASSEB y José Claudio MONTEIRO DE BRITO

Leia mais

JUSTIÇA E EQUIDADE EM JOHN RAWLS

JUSTIÇA E EQUIDADE EM JOHN RAWLS JUSTIÇA E EQUIDADE EM JOHN RAWLS John Rawls (1921-2002) viveu no século XX e passou sua vida na busca da construção de uma teoria da justiça que fosse capaz de conjugar os dois principais valores morais

Leia mais

Informação-Exame Final Nível de Escola para N.E.E. Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro Prova de Filosofia 10º e 11.º Anos de Escolaridade Prova 225 2015 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Leia mais

O caráter não-ontológico do eu na Crítica da Razão Pura

O caráter não-ontológico do eu na Crítica da Razão Pura O caráter não-ontológico do eu na Crítica da Razão Pura Adriano Bueno Kurle 1 1.Introdução A questão a tratar aqui é a do conceito de eu na filosofia teórica de Kant, mais especificamente na Crítica da

Leia mais

Vocabulário Filosófico Dr. Greg L. Bahnsen

Vocabulário Filosófico Dr. Greg L. Bahnsen 1 Vocabulário Filosófico Dr. Greg L. Bahnsen Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / felipe@monergismo.com GERAL Razão: capacidade intelectual ou mental do homem. Pressuposição: uma suposição elementar,

Leia mais

Aula Véspera UFU Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Professor Uilson Fernandes Uberaba 16 Abril de 2015

Aula Véspera UFU Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Professor Uilson Fernandes Uberaba 16 Abril de 2015 Aula Véspera UFU 2015 Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Professor Uilson Fernandes Uberaba 16 Abril de 2015 NORTE DA AVALIAÇÃO O papel da Filosofia é estimular o espírito crítico, portanto, ela não pode

Leia mais

Ética deontológica (do dever) de I. Kant. Influências

Ética deontológica (do dever) de I. Kant. Influências Ética deontológica (do dever) de I. Kant Influências Ética Kantiana Influências Iluminismo* Séc. XVII/XVIII ( 1650-1790) Revolução francesa Séc. XVIII (1789) Pietismo** Séc. XVII Física Newtoniana Sec.

Leia mais

Posição original: um recurso procedimental puro

Posição original: um recurso procedimental puro Posição original: um recurso procedimental puro 3 Original position: a resource pure procedural Elnora Gondim * Osvaldino Marra Rodrigues ** Resumo: O objetivo do presente artigo é mostrar que a posição

Leia mais

Filosofia 2016 INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA

Filosofia 2016 INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA Filosofia 2016 Prova 161 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Leia mais

Desenvolvimento como liberdade

Desenvolvimento como liberdade Desenvolvimento como Liberdade PET - Economia - UnB 02 de julho de 2013 Amartya Kumar Sen Amartya Sen 03 de novembro de 1933: nasceu em Santiniketan, atual Bangladesh. 1959: PhD Trinity College, Cambridge

Leia mais

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA MORAL (conclusão)

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA MORAL (conclusão) INTRODUÇÃO À FILOSOFIA MORAL (conclusão) 25 DE FEVEREIRO DE 2013 (6ª aula) Sumário da Aula Anterior: Egoísmo ético: definição, pontos fortes e fragilidades. Utilitarismo. O Princípio da Utilidade. Utilitarismo

Leia mais

Posição original: um recurso procedimental puro

Posição original: um recurso procedimental puro Posição original: um recurso procedimental puro Original position: resource pure procedural 9 Elnora Gondin * Osvaldino Gondin ** Resumo: o objetivo do presente artigo é mostrar que a posição original

Leia mais

Nessa perspectiva, a posição original faz parte das condições de elegibilidade dos

Nessa perspectiva, a posição original faz parte das condições de elegibilidade dos Posição Original: um recurso procedimental justo. Elnora Gondim 1 Osvaldino Marra Rodrigues 2 Resumo: A posição original, em Rawls, é um procedimento que faz parte das condições de elegibilidade dos princípios

Leia mais

Teorias éticas. Capítulo 20. GRÉCIA, SÉC. V a.c. PLATÃO ARISTÓTELES

Teorias éticas. Capítulo 20. GRÉCIA, SÉC. V a.c. PLATÃO ARISTÓTELES GRÉCIA, SÉC. V a.c. Reflexões éticas, com um viés político (da pólis) _ > como deve agir o cidadão? Nem todas as pessoas eram consideradas como cidadãos Reflexão metafísica: o que é a virtude? O que é

Leia mais

DATA DE ENTREGA 19/12/2016 VALOR: 20,0 NOTA:

DATA DE ENTREGA 19/12/2016 VALOR: 20,0 NOTA: DISCIPLINA: FILOSOFIA PROFESSOR: ENRIQUE MARCATTO DATA DE ENTREGA 19/12/2016 VALOR: 20,0 NOTA: NOME COMPLETO: ASSUNTO: TRABALHO DE RECUPERAÇÃO FINAL SÉRIE: 3ª SÉRIE/EM TURMA: Nº: 01. RELAÇÃO DO CONTEÚDO

Leia mais

ÉTICA PROFISSIONAL NA PSICOPEDAGOGIA DR. ANGELO BARBOSA

ÉTICA PROFISSIONAL NA PSICOPEDAGOGIA DR. ANGELO BARBOSA ÉTICA PROFISSIONAL NA PSICOPEDAGOGIA DR. ANGELO BARBOSA ÉTICA: Ética vem do grego ethos que significa modo de ser. É a forma que o homem deve se comportar no seu meio social. A ética pode ser o estudo

Leia mais

INFORMAÇÃO-PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA FILOSOFIA MAIO 2017 Prova: 161

INFORMAÇÃO-PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA FILOSOFIA MAIO 2017 Prova: 161 INFORMAÇÃO-PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA FILOSOFIA MAIO 2017 Prova: 161 Escrita 10.º e 11.º de Escolaridade (Portaria n.º 207/2008, de 25 de Fevereiro - Cursos Tecnológicos de informática; Contabilidade

Leia mais

DATA: VALOR: 20 pontos NOTA: NOME COMPLETO:

DATA: VALOR: 20 pontos NOTA: NOME COMPLETO: DISCIPLINA: FILOSOFIA PROFESSOR: ENRIQUE MARCATTO DATA: VALOR: 20 pontos NOTA: NOME COMPLETO: ASSUNTO: TRABALHO DE RECUPERAÇÃO FINAL SÉRIE: 3ª EM TURMA: Nº: I N S T R U Ç Õ E S 1. Esta atividade contém

Leia mais

Notas sobre a Liberdade de Consciência em John Rawls

Notas sobre a Liberdade de Consciência em John Rawls Notas sobre a Liberdade de Consciência em John Rawls Jaderson Borges Lessa 1 Resumo: A liberdade de consciência é uma das liberdades fundamentais garantidas pelo primeiro princípio de justiça de John Rawls.

Leia mais

LÓGICA JURÍDICA E A NOVA RETÓRICA

LÓGICA JURÍDICA E A NOVA RETÓRICA LÓGICA JURÍDICA E A NOVA RETÓRICA RENÉ DESCATES (1596-1650) HANS KELSEN (1881-1973) Kelsen pregava uma objetividade ao ordenamento jurídico, a tal ponto que o juiz, ao prolatar uma sentença, por exemplo,

Leia mais

A CONCEPÇÃO POLÍTICA EM JOHN RAWLS: TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO ENTRE LIBERDADE E IGUALDADE

A CONCEPÇÃO POLÍTICA EM JOHN RAWLS: TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO ENTRE LIBERDADE E IGUALDADE A CONCEPÇÃO POLÍTICA EM JOHN RAWLS: TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO ENTRE LIBERDADE E IGUALDADE Guilherme de Oliveira Feldens / Unisinos, Brasil I. Introdução A publicação de Uma teoria da justiça (A Theory of

Leia mais

AULA 01 FILOSOFIA DO DIREITO KANT E A FILOSOFIA CRÍTICA

AULA 01 FILOSOFIA DO DIREITO KANT E A FILOSOFIA CRÍTICA AULA 01 FILOSOFIA DO DIREITO KANT E A FILOSOFIA CRÍTICA 1. A VIDA DE EMANUEL KANT (1724 1804) Nasceu em Königsberg, cidade da Prússia, em 1724. A condição de sua família era modesta. Foi educado no Colégio

Leia mais

Unidade I ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL. Prof. Aguinaldo Pereira Alves

Unidade I ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL. Prof. Aguinaldo Pereira Alves Unidade I ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL Prof. Aguinaldo Pereira Alves Introdução Por que aprender Ética hoje? Uma sociedade em crise de princípios e valores. A cultura do relativismo: a) Niilismo. b) Hedonismo.

Leia mais

O ESTADO MODERNO COMO PROCESSO HISTÓRICO A formação do Estado na concepção dialética de Hegel

O ESTADO MODERNO COMO PROCESSO HISTÓRICO A formação do Estado na concepção dialética de Hegel 1 O ESTADO MODERNO COMO PROCESSO HISTÓRICO A formação do Estado na concepção dialética de Hegel ELINE LUQUE TEIXEIRA 1 eline.lt@hotmail.com Sumário:Introdução; 1. A dialética hegeliana; 2. A concepção

Leia mais

COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA. Professores Daniel Hortêncio de Medeiros, Eduardo Emerick e Ricardo Luiz de Mello

COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA. Professores Daniel Hortêncio de Medeiros, Eduardo Emerick e Ricardo Luiz de Mello COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA Professores Daniel Hortêncio de Medeiros, Eduardo Emerick e Ricardo Luiz de Mello Excelente prova. Clara, direta, coerente e consistente. Os alunos e alunas prepararam-se

Leia mais

Cristiann Wissmann Matos *

Cristiann Wissmann Matos * JUSTIÇA COMO EQUIDADE: JUSTIFICAÇÃO DE UMA TEORIA SUBSTANTIVA. Cristiann Wissmann Matos * Resumo: O presente trabalho descreverá o modelo de justificação moral desenvolvido na justiça como equidade de

Leia mais

Crítica do conhecimento teórico e fundamentação moral em Kant

Crítica do conhecimento teórico e fundamentação moral em Kant 72 Crítica do conhecimento teórico e fundamentação moral em Kant João Emiliano Fortaleza de Aquino I Filosofia crítica e metafísica Ao Fábio, com amor. A metafísica, tal como Kant a entende, 1 não teria

Leia mais

Teorias do conhecimento. Profª Karina Oliveira Bezerra

Teorias do conhecimento. Profª Karina Oliveira Bezerra Teorias do conhecimento Profª Karina Oliveira Bezerra Teoria do conhecimento ou epistemologia Entre os principais problemas filosóficos está o do conhecimento. Para que investigar o conhecimento? Para

Leia mais

INFORMAÇÃO-EXAME A NÍVEL DE ESCOLA FILOSOFIA 2017

INFORMAÇÃO-EXAME A NÍVEL DE ESCOLA FILOSOFIA 2017 INFORMAÇÃO-EXAME A NÍVEL DE ESCOLA FILOSOFIA 2017 PROVA 225 Cursos Científicos Humanísticos Artigo 20.º do Decreto- Lei n.º 3 / 2008, de 7 de janeiro 11.º Ano de Escolaridade Duração da Prova: 120 minutos

Leia mais

Direito, Justiça, Virtude Moral & Razão: Reflexões

Direito, Justiça, Virtude Moral & Razão: Reflexões Direito, Justiça, Virtude Moral & Razão: Reflexões Maria de Assis Straseio * A obra do professor Moacyr Motta da Silva trata, com objetividade, em linguagem científica, de temas de interesse de pesquisadores,

Leia mais

LIBERDADE E MORALIDADE EM KANT 1

LIBERDADE E MORALIDADE EM KANT 1 1 LIBERDADE E MORALIDADE EM KANT 1 Diego Carlos Zanella 2 Liliana Souza de Oliveira 3 Resumo: O texto tem a pretensão de discorrer sobre um dos principais problemas da ética kantiana, a saber, como é possível

Leia mais

jurídico; em segundo lugar, mesmo que o perecimento do soberano significasse o perecimento do sistema, ainda assim não seria possível explicar nos

jurídico; em segundo lugar, mesmo que o perecimento do soberano significasse o perecimento do sistema, ainda assim não seria possível explicar nos 6 Conclusão Foi visto no segundo capítulo que, de acordo com Raz, uma teoria dos sistemas envolve quatro questões diferentes: a questão de sua existência, de sua identidade, de sua estrutura e de seu conteúdo.

Leia mais

FILOSOFIA Objeto de avaliação. Análise e interpretação. Problematização e conceptualização

FILOSOFIA Objeto de avaliação. Análise e interpretação. Problematização e conceptualização Informação-prova FILOSOFIA 2018 Prova 714 11.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho) O presente documento divulga informação relativa à prova de exame final nacional do ensino secundário

Leia mais

Filosofia Geral e Jurídica Prof. Matheus Passos Silva

Filosofia Geral e Jurídica Prof. Matheus Passos Silva Immanuel Kant Filosofia Geral e Jurídica Prof. Matheus Passos Silva ANDRADE, Regis de Castro. Kant: a liberdade, o indivíduo e a república. In: WEFFORT, Francisco C. (org.). Os clássicos da política. Volume

Leia mais

EFA NS C P 5 _ D E O N T O L O G I A E P R I N C Í P I O S É T I C O S

EFA NS C P 5 _ D E O N T O L O G I A E P R I N C Í P I O S É T I C O S Ética e Moral EFA NS C P 5 _ D E O N T O L O G I A E P R I N C Í P I O S É T I C O S 2009/2010 Valores No mundo contemporâneo o Homem já não segue valores modelos mas cria os seus próprios valores em função

Leia mais

Álvaro Luiz Montenegro Valls

Álvaro Luiz Montenegro Valls Álvaro Luiz Montenegro Valls Formação: -Doutorado em Filosofia (1981) Atuação profissional: - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, Brasil. São Leopoldo - RS Linha de pesquisa: Sistemas éticos

Leia mais

Prof. Ricardo Torques

Prof. Ricardo Torques Revisão de Filosofia do Direito para o XXI Exame de Ordem Prof. Ricardo Torques www.fb.com/oabestrategia INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA FILOSOFIA CONCEITO GERAL DE FILOSOFIA: refletir e questionar o saber instituído,

Leia mais

Filosofia (aula 20) Dimmy Chaar Prof. de Filosofia. SAE

Filosofia (aula 20) Dimmy Chaar Prof. de Filosofia. SAE Filosofia (aula 20) Prof. de Filosofia SAE leodcc@hotmail.com Teorias Éticas - Antropocentrismo; - Reflexão Filosófica; - Ascensão da Burguesia; - Surgimento do Capitalismo; - Visa tornar-se senhor da

Leia mais

ESTÁGIOS DA POSIÇÃO ORIGINAL E SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS

ESTÁGIOS DA POSIÇÃO ORIGINAL E SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS ESTÁGIOS DA POSIÇÃO ORIGINAL E SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS Catarina Alves dos Santos Doutora em Filosofia pelo PPGF-UFRJ E-mail:catarina_santos@terra.com.br Resumo: Podemos considerar a posição original

Leia mais

FUNDAMENTOS DA ÉTICA. A Geografia Levada a Sério

FUNDAMENTOS DA ÉTICA.  A Geografia Levada a Sério FUNDAMENTOS DA ÉTICA 1 Eu não sei o que quero ser, mas sei muito bem o que não quero me tornar. Friedrich Nietzsche 2 CHEGA Gabriel, o pensador (2015) 3 A Ética e a Cidadania Desde cedo aprendemos a não

Leia mais

Aula 00 Ética na Administração do Estado e Atribuições p/ ARTESP (Analista de Suporte à Regulação)

Aula 00 Ética na Administração do Estado e Atribuições p/ ARTESP (Analista de Suporte à Regulação) Aula 00 Ética na Administração do Estado e Atribuições p/ ARTESP (Analista de Suporte à Regulação) Professor: Tiago Zanolla 00000000000 - DEMO LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA ARTESP Teoria e questões comentadas

Leia mais

FILOSOFIA. As informações apresentadas neste documento não dispensam a consulta da legislação referida e do Programa da disciplina.

FILOSOFIA. As informações apresentadas neste documento não dispensam a consulta da legislação referida e do Programa da disciplina. INFORMAÇÃO-EXAME FILOSOFIA 2017 Exame a Nível de Escola 225 11.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho) 1. Introdução O presente documento visa divulgar as características do exame

Leia mais

John Rawls entre Kant e Hegel

John Rawls entre Kant e Hegel A Revista de Filosofia Elnôra Gondim *,Osvaldino Marra Rodrigues ** John Rawls entre Kant e Hegel RESUMO John Rawls enfoca a justiça como tema principal das suas obras tendo influências de Kant e Hegel,

Leia mais

John Rawls e a justiça como eqüidade: algumas considerações

John Rawls e a justiça como eqüidade: algumas considerações John Rawls e a justiça como eqüidade: algumas considerações 131 Resumo Elnôra Gondim e Osvaldino Marra Rodrigues John Rawls, considerado um dos mais ilustres filósofos do direito da segunda metade do século

Leia mais

Planificação Anual - Disciplina Filosofia 10º Ano /2018

Planificação Anual - Disciplina Filosofia 10º Ano /2018 Planificação Anual - Disciplina Filosofia 10º Ano - 2017/2018 OBJECTIVOS GERAIS DO PROGRAMA DE FILOSOFIA 10º ANO Domínio cognitivo - Apropriar-se progressivamente da especificidade da filosofia Reconhecer

Leia mais

ÉTICA E MORAL. O porquê de uma diferenciação? O porquê da indiferenciação? 1

ÉTICA E MORAL. O porquê de uma diferenciação? O porquê da indiferenciação? 1 ÉTICA E MORAL O porquê de uma diferenciação? O porquê da indiferenciação? 1 Ética e Moral são indiferenciáveis No dia-a-dia quando falamos tanto usamos o termo ética ou moral, sem os distinguirmos. Também

Leia mais

A POSIÇÃO ORIGINAL NA TEORIA DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE DE JOHN RAWLS. Adriano Ribeiro Caldas

A POSIÇÃO ORIGINAL NA TEORIA DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE DE JOHN RAWLS. Adriano Ribeiro Caldas 1 A POSIÇÃO ORIGINAL NA TEORIA DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE DE JOHN RAWLS Adriano Ribeiro Caldas Resumo: O pluralismo de doutrinas religiosas, morais, filosóficas e éticas que marca uma sociedade democrática

Leia mais

A MORAL TRANSCENDENTAL DE KANT

A MORAL TRANSCENDENTAL DE KANT ARTIGO A MORAL TRANSCENDENTAL DE KANT Sergio Manuel Fialho Lourinho Mestrando em Direito do Estado - UFPR Especialista em Direito Ambiental - Universidade de Lisboa Bacharel em Direito na área de Ciências

Leia mais

6. Conclusão. Contingência da Linguagem em Richard Rorty, seção 1.2).

6. Conclusão. Contingência da Linguagem em Richard Rorty, seção 1.2). 6. Conclusão A escolha de tratar neste trabalho da concepção de Rorty sobre a contingência está relacionada ao fato de que o tema perpassa importantes questões da reflexão filosófica, e nos permite termos

Leia mais

No arquivo Exames e Provas podem ser consultados itens e critérios de classificação de provas desta disciplina.

No arquivo Exames e Provas podem ser consultados itens e critérios de classificação de provas desta disciplina. INFORMAÇÃO-PROVA FILOSOFIA 2017 Prova 714 11.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho) O presente documento divulga informação relativa à prova de exame final nacional do ensino secundário

Leia mais

O esvaziamento da dimensão política da justiça nas teorias de Rawls e Habermas

O esvaziamento da dimensão política da justiça nas teorias de Rawls e Habermas O esvaziamento da dimensão política da justiça nas teorias de Rawls e Habermas VERA LUCIA DA SILVA * Resumo: O presente artigo tem por objetivo questionar os termos e a existência do debate contemporâneo

Leia mais

Considerações acerca da moral kantiana e suas implicações no direito

Considerações acerca da moral kantiana e suas implicações no direito P á g i n a 29 Considerações acerca da moral kantiana e suas implicações no direito Considerações acerca da moral kantiana e suas implicações no direito Sumário: 1 Introdução; 2 A ética de Kant; 3 Ética,

Leia mais

IUS RESUMOS. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais Parte III. Organizado por: Elaine Cristina Ferreira Gomes

IUS RESUMOS. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais Parte III. Organizado por: Elaine Cristina Ferreira Gomes Teoria Geral dos Direitos Fundamentais Parte III Organizado por: Elaine Cristina Ferreira Gomes SUMÁRIO I. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - PARTE III... 4 1. A Constituição de 1988 e os direitos

Leia mais

Próxima aula: Ética III Kant (ponto 6).

Próxima aula: Ética III Kant (ponto 6). Próxima aula: Ética III Kant (ponto 6). Leitura: Rachels, Cap. 10. Perguntas: 1. É deontológica a ética kantiana? 2. São diferentes as duas versões do imperativo categórico? 3. Qual é a função do sistema

Leia mais

A MORAL DEONTOLÓGICA KANTIANA SOB O VÉU DO IMPERATIVO CATEGÓRICO. Luzia Cunha Cruz Universidade Iguaçu

A MORAL DEONTOLÓGICA KANTIANA SOB O VÉU DO IMPERATIVO CATEGÓRICO. Luzia Cunha Cruz Universidade Iguaçu A MORAL DEONTOLÓGICA KANTIANA SOB O VÉU DO IMPERATIVO CATEGÓRICO Luzia Cunha Cruz Universidade Iguaçu RESUMO: Neste artigo pretende-se mostrar, de forma concisa, a questão do dever kantiano. A vontade

Leia mais

Ética Prof. Vitor Maciel. iversidade Federal da Bahia

Ética Prof. Vitor Maciel. iversidade Federal da Bahia Ética Prof. Vitor Maciel iversidade Federal da Bahia A Ética responde à pergunta: - Como viver? O que é a Ética? A palavra ética vem do grego ethos, que significa, caráter do sujeito, maneira habitual

Leia mais

Linguagem, Teoria do Discurso e Regras

Linguagem, Teoria do Discurso e Regras Linguagem, Teoria do Discurso e Regras FMP FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO FACULDADE DE DIREITO LINGUAGEM, TEORIA DO DISCURSO E REGRAS DA ARGUMENTAÇÃO PRÁTICA OS JOGOS DE LINGUAGEM (SPRACHSPIELEN)

Leia mais

JURISPRUDÊNCIA DOS INTERESSES

JURISPRUDÊNCIA DOS INTERESSES JURISPRUDÊNCIA DOS INTERESSES Sequência da Jurisprudência Teleológica, de Jhering: Direito vinculado a um determinado fim desejado pela sociedade. Decisões judiciais: objetivam satisfazer as necessidades

Leia mais

Filosofia e Política

Filosofia e Política Filosofia e Política Aristóteles e Platão Aristóteles Política deve evitar a injustiça e permitir aos cidadãos serem virtuosos e felizes. Não há cidadania quando o povo não pode acessar as instituições

Leia mais

C O N T E X T O S D A J U S T I Ç A

C O N T E X T O S D A J U S T I Ç A CONTEXTOS DA JUSTIÇA Rainer Forst CONTEXTOS DA JUSTIÇA FILOSOFIA POLÍTICA PARA ALÉM DE LIBERALISMO E COMUNITARISMO TRADUÇÃO Denilson Luís Werle Sumário Prefácio... 7 Introdução Liberalismo, comunitarismo

Leia mais

Locke e Bacon. Colégio Ser! 2.º Médio Filosofia Marilia Coltri

Locke e Bacon. Colégio Ser! 2.º Médio Filosofia Marilia Coltri Locke e Bacon Colégio Ser! 2.º Médio Filosofia Marilia Coltri John Locke Locke divide o poder do governo em três poderes, cada um dos quais origina um ramo de governo: o poder legislativo (que é o fundamental),

Leia mais

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS NÚCLEO ACADÊMICO DE PESQUISA FACULDADE MINEIRA DE DIREITO. Camila Cardoso de Andrade

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS NÚCLEO ACADÊMICO DE PESQUISA FACULDADE MINEIRA DE DIREITO. Camila Cardoso de Andrade PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS NÚCLEO ACADÊMICO DE PESQUISA FACULDADE MINEIRA DE DIREITO Ementa do Grupo de Pesquisa Introdução à Filosofia Política de Jürgen Habermas Camila Cardoso

Leia mais

Teoria do Conhecimento:

Teoria do Conhecimento: Teoria do Conhecimento: Investigando o Saber O que sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer,

Leia mais