UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Roberta Bilibio Westphalen ENTREVISTA RADIOFÔNICA: UM JOGO ENREDADO ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER

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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Roberta Bilibio Westphalen ENTREVISTA RADIOFÔNICA: UM JOGO ENREDADO ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER Curitiba 2006

2 ENTREVISTA RADIOFÔNICA: UM JOGO ENREDADO ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER Curitiba 2006

3 Roberta Bilibio Westphalen ENTREVISTA RADIOFÔNICA: UM JOGO ENREDADO ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação e Linguagens, da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora: Prof. Dra. Claudia Irene de Quadros Curitiba 2006

4 TERMO DE APROVAÇÃO Roberta Bilibio Westphalen ENTREVISTA RADIOFÔNICA: UM JOGO ENREDADO ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Comunicação e Linguagens, no Curso de Mestrado da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 11 de abril de Nome da Coordenadora: Prof. Dra. Denize Araújo Nome do Curso: Mestrado em Comunicação e Linguagens Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora Prof. Dra. Claudia Irene de Quadros Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná. Prof. Dra. Kati Caetano Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná. Prof. Dra. Maria Lúcia Becker Instituição: Universidade Federal do Paraná.

5 Dedico este trabalho a minha mãe Maria Adélia e ao meu pai Jorge que desde cedo me ensinaram o valor do estudo. Para o amor da minha vida, meu marido Lucas, pelo carinho, apoio, incentivo, paciência e dedicação. E para minha avó Maria Bandarra que deixou o exemplo intelectual de quem tinha um profundo amor pelas letras.

6 AGRADECIMENTOS Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus que é SEMPRE o grande responsável pelas minhas conquistas. Agradeço ainda por Deus, Jesus e o Espírito Santo, fazerem parte do meu dia-a-dia e por me concederem tantas vitórias. Este trabalho também não seria possível sem a dedicação de minha orientadora, professora Claudia Quadros, que, em todos os momentos, foi mais que uma mestre: foi amiga, incentivadora e conselheira. Ela soube, com seu jeito dócil de ser, criticar, acrescentar e modificar o necessário. Nunca mediu esforços, e, de um modo especial, soube me mostrar o caminho para chegar a este resultado Agradeço ainda: * À todos os professores do Mestrado que, certamente, de alguma forma ou de outra, contribuíram com a minha dissertação e com o meu crescimento intelectual. * À querida Silmara, amiga de todas as horas. * Ao colega Lasier Martins, de cuja amizade tive que manter distância para a realização de uma análise mais isenta possível. trabalho. * A toda equipe da Rádio Gaúcha pelas informações fornecidas para este Curitiba. * Aos amigos Danda e Marcos Medeiros por terem me acolhido tão bem em * Aos amigos Katia, André, Edenilson, Denise, Jéferson, Liliane e Lolo pelas orações, carinho e conselhos. * Aos primos Anelise e Ricardo Guimarães, parceiros de todas as horas.

7 * Ao José Onofre e à Renata, pela lealdade de sempre. * A minha vó Maria Etelvina, que pôde assistir mais essa conquista. * Aos meus irmãos, Jorge e Pedro, pelo carinho. * Aos cunhados, Andréa, Rosana, Marcos e Miguel, pelo incentivo. * E a minha sogra Madalena, pelo apoio e pelo exemplo de garra e determinação. * Em memória, lembro ainda dos bons exemplos deixados pelos meus avôs: Dinílio e Jorge, e pelo meu sogro Jones.

8 Uma das tarefas essenciais da linguagem é vencer o espaço, abolir a distância, criar uma continuidade espacial, encontrar e estabelecer uma linguagem comum através das ondas. Roman Jakobson

9 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES RESUMO 1 INTRODUÇÃO ENTREVISTA: O ESPETÁCULO DA ARTE DE DIALOGAR? A ENTREVISTA NO JORNALISMO ENTREVISTAS DO GAÚCHA REPÓRTER O verdadeiro herói do resgate Fuga de um perigoso presidiário CATEGORIAS DE ENTREVISTAS RADIOFÔNICAS Edgar Morin Cremilda Medina Araújo Emílio Prado Chantler e Harris Robert McLeish Lasier Martins Exemplos de entrevistas do Gaúcha Repórter ENTREVISTA E AS FUNÇÕES DE LINGUAGEM Sujeitos da comunicação e as funções da linguagem POLIFONIA NA ENTREVISTA RADIOFÔNICA Discurso na entrevista radiofônica VOZES QUE TECEM O RÁDIO: ENTREVISTADOR, ENTREVISTADO E OUVINTE RÁDIO: CONTRATOS DE LEITURA E VINCULAÇÃO SOCIAL AS RELAÇÕES ENTRE ENTREVISTADOR, ENTREVISTADO E OUVINTE Os atores discursivos: O pacto comunicativo Barreiras a superar PLURALIDADE DE VOZES NA CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS Objetividade-sem-parêntese e Objetividade-entre-parêntese A Objetividade-sem-parêntese A objetividade-entre-parêntese: Percurso da entrevista radiofônica: GAÚCHA REPÓRTER UM ESTUDO DE CASO GAÚCHA REPÓRTER:UMA HISTÓRIA DE 23 ANOS DE ENTREVISTAS NO AR O apresentador Lasier Martins A audiência do Gaúcha Repórter METODOLOGIA PARA ANÁLISE DAS ROTINAS PRODUTIVAS E DAS ENTREVISTAS DO PROGRAMA GAÚCHA REPÓRTER ROTINAS PRODUTIVAS DO GAÚCHA REPÓRTER DA PAUTA À ENTREVISTA NO AR Marcação do entrevistado A pauta...107

10 4.4.3 Roteiro A abertura do Gaúcha Repórter Internet e as rotinas produtivas A EXECUÇÃO DA ENTREVISTA Ao vivo ou gravada Por telefone ou no estúdio A mecânica da entrevista radiofônica As perguntas GAÚCHA REPÓRTER NO AR RÁDIO WEB: UM MEIO EM BUSCA DE NOS RUMOS RÁDIO WEB E O PERCURSO INICIAL CARACTERÍSTICAS DO NOVO MEIO Expansão da transmissão radiofônica A interatividade Memória no radiojornalismo Internet um meio de exclusão ou interação das mídias? RÁDIO GAÚCHA ON-LINE ENTREVISTA E CIBERESPAÇO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES ANEXOS...182

11 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 CATEGORIA DAS ENTREVISTAS RADIOFÔNICAS...37 QUADRO 2 - ESQUEMA DA COMUNICAÇÃO PROPOSTO POR JAKOBSON...49 QUADRO 3 FUNÇÕES DE LINGUAGEM DE JAKOBSON...50

12 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 ESQUEMA DO UNIVERSO COMUNICATIVO DA ENTREVISTA...74 FIGURA 2 CAMINHOS EXPLICATIVOS DE MATURANA...86

13 RESUMO O presente estudo trata de um dos gêneros mais utilizados pelo rádio: a entrevista, que agrega possibilidades com a Internet. Parte-se da hipótese de que sua potencialidade é pouco explorada por desconhecimento de seus recursos e, principalmente, pela falta de sistematização de suas rotinas produtivas, que têm sofrido mudanças com o impacto provocado pelas tecnologias avançadas de comunicação. Esse gênero é observado aqui como um jogo enredado, onde entrevistador e entrevistado podem percorrer um caminho não-linear tanto no rádio analógico como no digital. O programa Gaúcha Repórter, veiculado de segunda a sexta-feira na Rádio Gaúcha, sediada em Porto Alegre, RS, foi escolhido como corpus dessa pesquisa por estar há 23 anos no ar e possuir uma versão de seu programa na web. Na análise das entrevistas selecionadas, que foram ao ar no período de 1/11 a 10/12 de 2004, é percebida a relação dialética entre a rotina produtiva e o programa de entrevista que hoje pode ser disponibilizado no sistema World Wide Web e/ou utilizar os recursos da rede das redes. Fundamentam essa pesquisa, que também aponta novos caminhos para a entrevista na web, autores como Meditsch, Balsebre, Cebrián, Cripa, Medina, Lemos, Cantavella, Prado e Morin. Palavras-chave: comunicação; entrevista; rádio; jornalismo e Internet.

14 ABSTRACT The present study deals with one of the most used systems of the radio: the interview, which adds possibilities with the Internet. Here, we start from the hypothesis that the radio potentiality is not much explored on account of the lack of knowledge of its resources and, mainly, the lack of the productive routines systematization, which undergo by changes with the impact provoked by the advanced technologies of communication. This system is observed here as a game that get entangled where the interviewer and the interviewee can go through a nonlinear way both in analog radio and digital radio. Gaúcha Repórter is a program of Rádio Gaúcha, Porto Alegre, RS, Brazil, that spread its opinions from Monday to Friday, was chose to be the corpus of this research because it is on air for 23 years and nowadays has a version of that program in the web. In the analysis of the selected interviews that was on air in the period from November 1, to December 10, in 2004, we can perceive the dialectic connection between the productive routine and the interview program that at present is available in the Worl Wibe Web and/or to make use the resources of the Net of the nets. This research to be basead on authors as Meditsch, Balsebre, Cebrián, Cripa, Medina, Lemos, Cantavella, Prado e Morin and it points to new ways for interviews in the web. Keywords: communication; interview; radio; journalism, Internet

15 1 INTRODUÇÃO O radiojornalismo utiliza diversos gêneros para estruturar a sua programação, mas é o da entrevista um dos mais explorados pelos programas radiofônicos. Por meio da entrevista é possível aprofundar os assuntos e esclarecer os fatos, especialmente quando o microfone fica aberto para múltiplas e diferentes vozes. Como afirma Maturana (1998), os seres humanos são conhecedores e observadores, portanto, ao perceberem seu entorno, fazem reflexões, analisam os fatos e, para isso, fazem perguntas. É assim no dia-a-dia e é assim na entrevista. Constituída por perguntas e respostas, a entrevista pode ser entendida como um percurso não-linear para chegar a uma informação desejada. Nesse sentido, entrevistador, entrevistado e ouvinte/ciberouvinte participam de um jogo enredado, onde sempre há um mediador que supostamente deveria trabalhar em função daquele que escuta desde um radinho de pilha até um rádio na web. A entrevista nasceu e expandiu-se no século XIX, quando o jornalismo informativo já se encontrava em desenvolvimento (CANTAVELLA,1996). No entanto, o diálogo tem sua raiz desde o surgimento da fala, quando, por meio da interação, as pessoas conversavam e tentavam se entender. Apesar de a implantação da entrevista no jornalismo ter sido lenta, atualmente, existem vários programas do gênero, inclusive com estilos diferentes. Muitos radialistas têm se destacado ao longo da história do radiojornalismo por apresentar um estilo próprio no momento de fazer uma entrevista. Na Espanha, só para citar um exemplo, o jornalista Iñaki Gabilondo é considerado uma estrela do rádio por manter fiéis seus ouvintes e ter a confiança de suas fontes há mais

16 de 30 anos 1. Com seu estilo tranqüilo e apaziguador, consegue revelar dados importantes durante seus diálogos. O mesmo vem acontecendo com Lasier Martins, apresentador há 18 anos do programa Gaúcha Repórter, da Rádio Gaúcha, objeto de estudo da pesquisa em tela. Neste estudo, é mostrada a importância do entrevistador para o desenvolvimento desse gênero bastante utilizado no rádio, bem como a do entrevistado e do ouvinte que, durante a execução da entrevista, interligam-se em uma única vivência. A experiência de vida, o conceito ou a dúvida de cada indivíduo tornam-se uma pequena ou grande história. É durante o percurso da entrevista que seus partícipes despontam. Nesse jogo enredado, entrevistador/entrevistado/ouvinte têm posições supostamente definidas. No entanto, ainda que as regras sejam estabelecidas, elas não são rígidas e podem ser desobedecidas fazendo com que o jogo fique imprevisível e desafiante. As novas tecnologias tornam a trama comunicacional da entrevista um processo ainda mais complexo à medida que integram todo o percurso, desde a produção até a execução, além de constituir-se em um canal de acesso livre ao ouvinte/usuário. De passivo, o ouvinte também pode tornar-se ativo pela comunicação mediada pelo computador CMC. O objetivo desta pesquisa é verificar a relação dialética entre a rotina produtiva e o programa de entrevista no rádio, considerando os impactos da Internet nos sistemas radiofônicos e também as mudanças do gênero ao migrar para a WWW. Nos programas 1 Iñaki Gabilondo é licenciado em Jornalismo pela Universidade de Navarra. Iniciou sua trajetória na Rádio Popular, em San Sebastián, aos 21 anos. Em 1986 começou a apresentar o programa Hoy por Hoy ( que chegou a ser, por dez anos (1995 até 2005), o programa mais escutado da rádio espanhola. Em 2005, seus ouvintes foram surpreendidos com o anúncio de que Iñaki estaria deixando a direção do Hoy por Hoy para ser apresentador de um informativo do Canal Cuatro ( Ainda em 2005, Iñaki publicou o livro Testigo de la Historia sobre as principais entrevistas realizadas por ele no programa Hoy por Hoy ( Acesso em janeiro de 2006.

17 de radiojornalismo, como citado anteriormente, a entrevista tem sido bastante utilizada, mas se parte da hipótese de que a sua potencialidade é pouco explorada por desconhecimento de seus recursos e, principalmente, pela falta de sistematização de suas rotinas produtivas. Ao longo da dissertação a ênfase é dada ora ao discurso, ora às rotinas produtivas; em outros momentos eles se imbricam. A dissertação poderia ser apenas sobre as rotinas produtivas, mas acredito que o texto, tal como já descreveu Bakhtin (1993), deve ser estudado como um todo. As abordagens internas e externas também são importantes. A entrevista radiofônica: um jogo enredado é um estudo de caso do Gaúcha Repórter, um programa tipicamente de entrevistas, veiculado de segunda a sexta-feira na Rádio Gaúcha, sediada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Líder de audiência no horário em sua categoria, o programa foi escolhido por também propiciar uma abordagem empírica da entrevista. Dessa forma, a investigação teórica ganha uma maior fundamentação. Como destaca Meditsch (2001), o verdadeiro conhecimento depende da prática. Isso não quer dizer que a ciência, no caso do jornalismo, dependa apenas dos profissionais que atuam no mercado para o seu desenvolvimento. Mas, como destaca Bordieu: A diferença não está entre a ciência que opera uma construção e a ciência que não o faz, mas entre a ciência que o faz sem sabê-lo e a ciência que, sabendo-o, procura conhecer e dominar o máximo possível seus atos, inevitáveis, de construção e os efeitos que produzem também inevitavelmente. (BORDIEU apud BARROS FILHO E MARTINO, 2003, p. 25) A minha experiência anterior na produção do referido programa contribuiu na observação de campo, realizada no mês de novembro de 2004, que teve como objetivos a atualização da pesquisadora em relação às rotinas (desde a produção até a execução e

18 o discurso dos diálogos), a percepção das razões práticas que orientam o cotidiano do programa analisado e coleta de dados empíricos. Para a análise, também foram gravados 30 programas, dos quais foram escolhidas, aleatoriamente, algumas entrevistas que integram o estudo. Vale destacar que a entrevista é um gênero radiofônico pouco estudado no Brasil, portanto, ao analisar todo o processo da entrevista no rádio tento apontar caminhos para esse gênero e produzir uma reflexão nova, pois, cada contexto demanda um tipo diferente de diálogo e nem sempre se conhecem as possibilidades que esse gênero pode oferecer. Com esse propósito, no capítulo II desta dissertação, intitulado como o espetáculo da a arte de dialogar?, a entrevista é analisada sob o ponto de vista de diversos autores, além de se apontar a sua importância para o jornalismo radiofônico, que, conforme já destacado, tem sofrido mudanças em suas rotinas produtivas com o uso da Internet. A entrevista, denominada de gênero (PRADO, 1989; CANTAVELLA, 1996; BALSEBRE, MATEU E VIDAL, 1998), técnica (DINES, 1998; MARTINS, 2004; MEDINA, 2004), instrumento (BALSEBRE, MATEU E VIDAL, 1998; LODI, 1998; CRIPA, 1998), método (BALSEBRE, MATEU E VIDAL, 1998; LODI,1998), conversa (CANTAVELLA,1996) e diálogo (PRADO, 1989; MORIN, 1973; CRIPA, 1998; FERRARETO, 2000, MEDINA, 2004), é apresentada, neste estudo, em suas categorias radiofônicas e com sua maneira dialógica para contar, descobrir e esclarecer os fatos. Nesta dissertação, como já citado, a entrevista também é observada como um puzzle (quebra-cabeças), um jogo enredado e desafiante para entrevistador, entrevistado e ouvinte/usuário.

19 Em seguida, no capítulo III, Vozes que tecem o rádio: entrevistador, entrevistado e ouvinte, são abordadas as relações entre entrevistador, entrevistado e ouvintes que tornam, na rede das redes, o triálogo possível. As tecnologias avançadas da comunicação permitiram uma maior interatividade com todos os atores envolvidos na arte da entrevista, mas a questão aqui não é de determinismo tecnológico. Também são analisados os papéis do entrevistador e entrevistado, donos de vozes que podem estabelecer contratos com seus ouvintes. Nesse sentido, pouco importa se a rádio é online ou off-line. O essencial está na evolução de emissores e de receptores que podem inverter ou não os seus papéis. Já, o quarto capítulo Gaúcha Repórter, um estudo de caso, contém a contextualização do corpus e apresentação detalhada da metodologia utilizada para a análise das rotinas produtivas e das entrevistas do programa. Esse capítulo demonstra ainda como a Internet interfere em todo o percurso do Gaúcha Repórter, desde a definição da pauta até a execução da entrevista. O quinto e último capítulo desta dissertação, intitulado Rádio Web: um meio em busca de novos rumos, aborda a conversão do rádio para a Internet, que também é denominada rede mundial de computadores, web, WWW (World Wide Web), net, rede, dentre outros. Essa conversão altera as características do veículo convencional pois o rádio pode aproveitar o potencial das novas tecnologias e construir diferentes canais de acesso e difusão de informações. Nesse contexto, a entrevista fica com características labirínticas, semelhantes às da Internet, tais como: não-linearidade, interatividade, hipertextualidade e multimodalidade. Aqui os ouvintes também são denominados ciberouvintes.

20 Enfim, é preciso deixar claro que a intenção deste trabalho não é estabelecer verdades absolutas e nem constituir parâmetros imutáveis de radiofonia. Ao contrário, trata-se de uma análise parcial que não se esgota aqui, permanece aberta para novas e novas abordagens. No entanto, foi realizada com a esperança de apontar diferenciados rumos para esse gênero tão utilizado pelas emissoras radiofônicas no Brasil. Além disso, muitas vezes, também reapresento recomendações para o desenvolvimento da entrevista jornalística. Nesse sentido, preferi utilizar um pouco do estilo manual a favor das noções essenciais para entrar neste jogo enredado.

21 2. ENTREVISTA: O ESPETÁCULO DA ARTE DE DIALOGAR? 2.1. A ENTREVISTA NO JORNALISMO A entrevista, um gênero 2 jornalístico bastante utilizado, pode ser um instrumento para aprofundar os assuntos e chegar à clareza dos fatos. A entrevista, normalmente, busca a contextualização das experiências e dos acontecimentos a partir do ponto de vista de cada entrevistado e, sendo assim, torna-se primordial na execução diária do jornalismo. Entrevistar e interrogar é virtualmente a alma do jornalismo (BETEZ apud CANTAVELLA, 1996, p. 22). Emílio Prado acredita que a entrevista, dentre os gêneros jornalísticos, é a que mais se adapta ao rádio e às características do veículo. É uma das fórmulas mais ágeis para conhecer uma informação ou para aprofundar o conhecimento dos fatos e suas conseqüências, assim como para aproximar-se da personalidade dos protagonistas das histórias (1989, p. 57). As primeiras entrevistas radiofônicas foram levadas ao ar nos Estados Unidos, durante a década de 20 (MAYEUX apud FERRARETO, 2000, p. 270). Porém, as origens remotas dessa técnica de obtenção de informações aludem aos diálogos de Platão para difundir os seus princípios filosóficos. Nas obras de Platão, conhecemos a filosofia de Sócrates que colocava as pessoas frente a frente e as instigava ao debate. Atento às contradições, o filósofo abordava a questão sob todos os ângulos, mas sem jamais induzir a uma conclusão final. Ele afirmava que a verdade estava dentro das pessoas, acreditando, assim, na natureza dialógica da verdade. 2 Para Bakthin (1992) gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados que se caracterizam por aspectos relacionados ao conteúdo, à composição estrutural e aos traços lingüísticos (PRATA, 2005, p. 235).

22 (...) Segundo Bakhtin, Sócrates, como bom debatedor, foi um astuto manejador da anácrise. Ele tinha uma habilidade incomum para fazer as pessoas se expressarem, mesmo quando as idéias não estavam ainda bem formuladas: a clareza vinha do diálogo e da consideração das ponderações do(s) outro(s). Assim, os protagonistas dos diálogos socráticos eram homens de idéias (...) mesmo quando se tratava de pessoas simples, incorporadas ao diálogo como debatedores involuntários. (MACHADO, 2001, p. 73). Atualmente, a entrevista tem ocupado espaços privilegiados nos meios de comunicação, sobretudo nas emissoras radiofônicas, sejam elas populares ou não. Essa oferta de entrevistas nas rádios não acontece por acaso, afinal este gênero despende pouco investimento e parece ser bem aceito pelos ouvintes. Para colocar no ar uma entrevista, é preciso ter apenas um entrevistador, um produtor e um telefone. Vale ressaltar que, muitas vezes, um único jornalista realiza essas duas funções e, em algumas emissoras, o diálogo ocorre no próprio estúdio, evitando, assim, mais despesas. As rádios também optam por este gênero para cumprir com a grade de programação 3, especialmente as emissoras que transmitem vinte e quatro horas de programação local. Nesse sentido, programas de entrevistas também servem para preencher espaços. Na Rádio Gaúcha, por exemplo, são realizadas, em média, quinze entrevistas por dia (MORETO, 2004), sendo que, nas duas horas de duração do Gaúcha Repórter, cerca de cinco pessoas são entrevistadas por programa. Além disso, quando as entrevistas são bem executadas, é possível apresentar fatos novos, discutir assuntos importantes e informar a população. Nesses casos, quanto maior o interesse e a participação do ouvinte sobre o assunto em pauta, aumentam as possibilidades de elevar os índices de audiência. Por exemplo, no Gaúcha Repórter, durante as entrevistas, os ouvintes participam do diálogo por meio de fax, ou 3 Esquema da programação semanal ou mensal de uma emissora de rádio (RABAÇA, 1998, p.302).

23 telefone. No entanto, é preciso destacar que essas participações são indiretas e controladas, pois passam pelo filtro de um produtor. O IBOPE (2004) aponta que este programa, tipicamente de entrevistas, é líder de audiência no horário (ANEXO I). Apesar de ser um gênero bastante utilizado no Brasil, a entrevista não tem recebido o destaque e a atenção teórica e bibliográfica que merece. Alguns manuais têm deixado de lado esse gênero, já outros se limitam a escrever poucos parágrafos sobre o assunto. Os autores que abordam essa temática, muitas vezes, conceituam a entrevista de forma diferente. As diferenças, no entanto, se imbricam e ajudam a explicar o gênero. De maneira geral, é possível considerar a definição de entrevista feita por Juan Cantavella: entrevista es la reproducción de un diálogo del periodista con alguna persona o incluso con varias, siempre que aparezca meridianamente la existencia de ese dialogo (CANTAVELLA,1996, p ). Já, Cremilda Medina de Araújo, faz uma reflexão sobre o gênero e afirma que a entrevista é uma técnica de interação social, de interpretação informativa. (...) constitui sempre um meio cujo fim é o inter-relacionamento humano (2004, p. 8). A autora define, portanto, entrevista como: (...) técnica jornalística e das ciências humanas em que se obtêm informações através de um diálogo (2004, p. 92). O diálogo a que Medina se refere pode ser compreendido como a relação existente para concretizar a comunicação. Para Marcos Cripa, a entrevista é matéria básica do jornalismo cuja essência está no movimento de querer saber (1998, p. 7). Assim, o diálogo, segundo o autor, depende, fundamentalmente, da curiosidade do profissional. O dicionário de Mota (apud CANTAVELLA,1996, p. 26) define a entrevista como uma conversación de especiales características, en cuanto a su técnica, y que en su

24 desarrollo periodístico expone las opiniones y noticias recogidas como respuestas a las preguntas formuladas o a los temas provocados. Alguns autores acreditam que a entrevista é um método de coleta de informações (LODI,1998, p. 15). Para outros, é busca de algo mais: La entrevista es uno de los principales instrumentos con los que opera un periodista para conocer qué ha pasado y aproximarse más a la verdad de los hechos que observa (BALSEBRE,1998, p.15). Robert Mcleish entende a entrevista como um evento espontâneo cujo objetivo é fornecer, nas próprias palavras do entrevistado, fatos, razões ou opiniões sobre um determinado assunto (1999, p. 43). As definições de entrevistas levantadas para esta investigação contemplam aspectos importantes de um diálogo. Conforme já mencionado, apesar de diferentes, elas não são contraditórias, pois se complementam na tentativa de explicar o que é exatamente esse instrumento da comunicação. As diferenças mais contundentes estão em torno de como os autores pesquisados classificam as entrevistas. Alguns a entendem como uma arte por depender do talento dos sujeitos (CRIPA,1998, FERRARETO, 2000; ALTMAN, 1996, BARBEIRO, 1998, DIAS,1998). Porém, outros defendem que esse gênero jornalístico é produzido por meio da técnica (MARTINS, 2004; DINES, 1998 E MEDITISCH, 2001). E há, ainda, pesquisadores que consideram a entrevista como um diálogo, superando, assim, os limites da técnica. (MEDINA, 2004, BALSEBRE, MATEU E VIDAL,1998, MORIN, 1973). Os autores que classificam entrevista como arte, afirmam que ela é imprevisível. Nesse caso, pode tanto esclarecer os fatos quanto confundir ainda mais. Cripa (1998) acredita que a entrevista passou a ser praticada como arte desde os anos 90, quando o entrevistador passou a ter mais sensibilidade para conduzi-la, além de se preparar melhor

25 para a sua execução. Para Fábio Altman (1996), essa idéia é tão evidente que serviu como título de seu livro A arte da entrevista. Segundo o autor, esse gênero jornalístico sempre despertou sentimentos fortes nas pessoas envolvidas. Heródoto Barbeiro (apud CRIPA,1998, p.102) entende a entrevista como a arte de tirar do entrevistado aquilo que a sociedade gostaria de conhecer. Para Miguel Dias ( apud CRIPA, 1998), a entrevista também é descobrir o que interessa ao ouvinte, sendo o entrevistador o principal responsável pelo desenvolvimento dessa arte que está em (...) buscar o lead 4 da entrevista, o cerne, aquilo que você quer tirar (Ibidem, 193). Já Ferrareto (2000) e Garret (1991) identificam no ato de entrevistar, acima de tudo, a arte de ouvir, perguntar e conversar. Outros autores e profissionais do meio, no entanto, discordam que a entrevista seja uma arte. O apresentador do programa Gaúcha Repórter, Lasier Martins (2004), a julga como uma técnica que deve ser sempre aprimorada. Alberto Dines também prefere destacar que a qualidade de uma entrevista é determinada pela curiosidade do jornalista. Entrevistar não é uma arte, é um movimento de querer saber. Se você não quer saber, você não vai fazer nenhuma entrevista (apud CRIPA, 1998, p. 44). Nesse caso, o que deve estar presente na conversa é a curiosidade, o desejo de saber, de se informar ou de desvendar alguma coisa. Eduardo Meditsch (2001, p ) descreve que o jornalismo tem, como ideal, a reprodução fiel de uma realidade exterior a que se refere 5. Essa realidade referencial, segundo o autor, representa um impedimento para a criatividade do jornalismo, no uso 4 Abertura de notícia, reportagem etc., onde se apresenta sucintamente o assunto ou destaca o fato essencial, o clímax da história (RABAÇA, 1998, p. 360). 5 A teoria espelho, considerada ultrapassada no jornalismo, destaca que os fatos devem ser descritos como são apresentados na realidade. Hoje, a teoria espelho é rejeitada por muitos pesquisadores, tais como, Tuchman (1983) e Schlesinger (1992) (apud VIZEU,2003), que preferem dizer que a realidade é processo em construção.

26 que faz da mesma linguagem. Meditsch pensa, portanto, que o jornalista não tem a mesma liberdade do artista na composição de sua obra. O jornalismo afasta-se da arte, aproximando-se da ciência, pela função referencial que tem em comum. (2001, p.176) Alguns pesquisadores não consideram a entrevista nem arte e nem técnica, mas um diálogo, forma mais completa de interação, que vai além da técnica e transforma-se numa extensão do cotidiano das pessoas. Medina (2004) afirma que a entrevista é a técnica jornalística e das Ciências Humanas em que se obtêm informações por meio de um diálogo entre entrevistador e entrevistado. Um diálogo realizado, segundo a autora, para alcançar o inter-relacionamento humano. Balsebre, Mateu e Vidal (1998, p ) reforçam o Diálogo Possível de Medina, pois se referem à necessidade da presença do diálogo nas entrevistas para cumprir os objetivos finais, especialmente no sentido de tornar as emissões radiofônicas um prolongamento do cotidiano das pessoas. Edgar Morin também acredita na prática do diálogo. De acordo com o autor, o diálogo deve acontecer para que os envolvidos na entrevista, de uma forma ou de outra, saiam modificados: O diálogo (...) atinge a interação humana criadora, ou seja, ambos os partícipes do jogo da entrevista interagem, se modificam, se revelam, crescem no conhecimento do mundo e deles próprios (MORIN, 1973, p.116). Ao considerar o conceito de Lúcia Santaella (2004, p. 154) de que interação é a atividade de conversar com outras pessoas e entendê-las, pode-se dizer que a entrevista radiofônica se torna interativa no momento em que ocorre o diálogo, defendido pelos autores já citados. Dessa forma, quando o diálogo é mantido, há uma participação de todos os sujeitos envolvidos. Nesse caso, atinge-se um auto-esclarecimento: eu falo, eu pergunto, você escuta. Você responde, você fala, eu escuto e nós nos modificamos e nos

27 aperfeiçoamos. Assim, a interatividade, um conceito tão discutido devido à explosão das novas tecnologias, encontra no diálogo sua forma privilegiada de comunicação. Ao fazer uma reflexão entre os autores pesquisados para o presente estudo, a entrevista pode ser entendida como um encontro intenso em que, publicamente, seres compartilham sentidos e vão se modificando de acordo com os seus sentimentos e técnicas apreendidas. Por isso, ela é defendida nesta investigação como o espetáculo da arte de dialogar que promove jogos enredados. O espetáculo acontece devido ao fato de a entrevista colocar o ouvinte em contato com o emissor e com a fonte, expondo, assim, os atores da comunicação. Essa exposição torna, muitas vezes, a conversa fascinante, na medida em que o receptor tem a oportunidade de acompanhar um diálogo imprevisível, sobretudo pela volatilidade da palavra. Dessa forma, a entrevista pode ser entendida como um percurso não-linear para se chegar à informação desejada. Nesse sentido, entrevistador, entrevistado e ouvinte participam de um jogo enredado, como será exposto no próximo capítulo. Conduzir uma conversa de forma que envolva todos os sujeitos requer, por parte do jornalista, muito talento e sensibilidade, características de um artista. Assim como a entrevista, a arte, além de expressar sentimentos, valores ou atitudes, pode também construir, provocar e gerar conhecimento. A presença da arte identificada, por mim, na entrevista radiofônica está baseada no escritor russo Tolstoy que fundamenta a atividade da arte no fato de que um homem, recebendo através da audição ou visão a expressão de sentimentos de outro homem, seja capaz de experimentar a emoção que moveu o homem que a expressou (1989, p. 749). Assim, de um lado, estão o entrevistador e o entrevistado, com suas capacidades

28 de expressão; do outro lado, está o ouvinte, com sua capacidade de percepção dessa expressão. Essa relação demonstra que a arte não acontece somente porque os espectadores são infectados pelas emoções dos emissores, mas por ser uma forma de unir os homens no mesmo sentimento. Emoções e sentimentos, no entanto, participam, mas não definem e nem são o foco principal do processo comunicacional da entrevista radiofônica. É preciso considerar ainda o discurso da conversa e, para isso, necessariamente, tem de haver diálogo, sem o qual se dificultaria a comunicação humana. Numa entrevista de rádio, o diálogo é percebido quando entrevistador e entrevistado se completam, mesmo que tenham opiniões divergentes, quando as perguntas formuladas são feitas no momento certo, no tom apropriado e com a clareza necessária para compreensão do público. Assim, dialogar, mais que conversar, significa entender-se, comunicar-se. Quando existe diálogo numa entrevista radiofônica, são transmitidos num mesmo meio informação, imaginação e sentimento. 2.2 ENTREVISTAS DO GAÚCHA REPÓRTER Com o intuito de demonstrar como acontecem na prática aspectos até aqui levantados pelos autores, foram selecionados trechos de duas entrevistas veiculadas no programa Gaúcha Repórter. As entrevistas encontram-se transcritas na íntegra e disponíveis em áudio através de CD, no ANEXO V..2.1 O verdadeiro herói do resgate

29 O primeiro diálogo demonstra, principalmente, como o espetáculo da arte de dialogar se processa por meio de uma entrevista radiofônica. No dia 12/11/2004, Martins entrevistou a advogada aposentada Vera Marisa Lopes Soares, que, durante uma noite de chuva forte, caiu com o carro no Arroio Dilúvio na cidade de Porto Alegre. O objetivo do diálogo era revelar o verdadeiro herói, responsável pelo resgate da aposentada, pois, segundo Marisa, o rapaz, divulgado nos meios de comunicação de massa como o seu salvador, recuperou apenas a sua bolsa com documentos. Conforme sua versão, foi um taxista que a tirou das águas. O diálogo é precedido de uma introdução para o apresentador situar o ouvinte em relação ao assunto a ser abordado. O entrevistador Lasier Martins inicia a sua abertura destacando que acontecimentos são muitos importantes, justificando o motivo da conversa com a advogada. O apresentador já coloca em dúvida a participação do rapaz que se intitulou o herói do caso para toda a mídia sem mencionar o motorista de táxi. Assim, Martins inicia o espetáculo ao despertar a atenção do público (ouvinte), prometendo revelar novidades sobre o episódio. Martins: Há acontecimentos que marcam muito. Às vezes, aparentemente são menores, mas nem sempre... Às vezes implicam na salvação de uma vida. O caso da dona Vera Marisa já está dando o que falar. É aquele caso, não sei se todos acompanharam, saiu no jornal, na Zero Hora, o pseudo salvador dela foi ao Jornal do Almoço, falou para todo Estado como é que aconteceu. O caso da dona Vera Marisa é o caso que aconteceu antes de ontem, no início da madrugada. Estava chovendo muito, ela estava dirigindo seu wolksvagem pela avenida Ipiranga, altura da PUC, e perdeu o controle, chovia muito e acabou caindo com o carro dentro do Arroio Dilúvio, que já estava com água alta. Imaginem (grifo da autora), noite, início da madrugada, meia noite e 30, e agora se criou polêmica foi ou não foi salva, salvou-se por meios próprios ou foi salva pelo rapaz que deu entrevistas? Dona Vera Marisa Lopes Soares, boa tarde! Vera: Boa tarde Lasier. A palavra imaginem do texto acima foi grifada em negrito para demonstrar que, o apresentador utilizou em seu discurso um característica do rádio: conduzir o ouvinte a formar uma imagem do que é dito no veículo. Trata-se de um meio cego, mas que pode

30 estimular a imaginação, de modo que, logo ao ouvir a voz do locutor, o ouvinte tente visualizar o que ouve, criando na mente a figura do dono da voz (McLEISH, P. 15). Assim, é possível perceber que o processo comunicativo no rádio já pressupõe um convite à imaginação e ao envolvimento dos fatos, no entanto, nessa ocasião, isso acontece explicitamente. Além disso, nesse trecho, Martins fala diretamente com os ouvintes, ressaltando outra característica do veículo: o de proximidade com os receptores, que será exposto na página 62. O rádio é muito mais algo pessoal, que vem direto para os ouvintes. O radialista deve buscar (...) um meio de falar diretamente com o ouvinte individual (McLEISH,1999, p.16). O acontecimento inusitado e curioso, aliado a essa introdução convidativa de imaginar o fato, propiciou que o ponto de destaque da entrevista fosse justamente quando a entrevistadora contou como tudo aconteceu. Vale destacar que a aposentada não quis falar com a imprensa no dia em que caiu com o carro, porque estava muito abalada para dar entrevistas. Por isso, muitos meios de comunicação noticiaram apenas um lado do fato: a do rapaz, que diante das câmeras de televisão, gravadores e microfones dos jornalistas, contou como teria salvado a aposentada. Dois dias depois, Martins entrevista a própria aposentada que dá outra versão para o acontecimento: Vera: Dei um belo vôo, espetacular, de fazer inveja ao nosso saudoso Pedro Carneiro Pereira. Eu dei um vôo espetacular sobre aquela ponte de madeira tosca que tem ali, aquela ponte escoteira como eu digo, na frente do posto Shell (...) Eu tive sorte de não ter batido naquela árvore que fica também no caminho. Eu desenhei ali, então quando eu aterissei ali na água, estava uma correnteza violenta, eu tive a impressão de estar em alto-mar, estava terrível a coisa. A única coisa que eu fiz foi manter a calma e eu só disse assim: - Meu Deus, o Senhor não vai me deixar nessa, não é? Desabotoei o cinto de segurança com toda a tranqüilidade, Martins: Já com o carro começando a afundar? Vera: Já com o carro começando a afundar. Martins: Por que ali não dava pé, não é? Vera: Não, depois é que eu vi que não dava, vou lhe explicar por quê. Martins: Tá.

31 Vera: Então o que eu fiz? Eu tentei abrir a minha porta e não deu, tentei abrir o vidro da porta do motorista e também não deu. Normalmente eu deixo o vidro sempre com uma frestinha aberta para entrar um pouco de ar, mas como tava chovendo muito eu fechei toda a minha janela, o que aconteceu? Deu a sorte que o vidro do passageiro estava ligeiramente aberto, um centímetro, e através dele então eu pude abrir, baixar toda a janelinha do Wolksvagem pelo lado do passageiro. Tive equilíbrio, não tive pânico nenhum, peguei a minha bolsa, a minha sacola de lona e botei a tira colo, para poder me atirar de capa Gabardine e tudo, eu tava com uma Gabardine pesada até o pé, entendeu? E, nisso, quando eu botei meio corpo para fora eu ouvi a voz desse senhor que depois eu fui reconhecer no Pronto Socorro, quando eu estava sendo atendida. Martins: Era o motorista de táxi? Vera: Ele gritava: pule senhora. Ele dizia isso para mim, entende? Claro que eu ia pular, era a única salvação porque o carro (Martins interrompe a fala da entrevistada e pergunta:) Martins: Ali não é bem pular, é sair do carro porque o carro já tava submergindo, não é? Vera: É, a água já estava pelo, como é que se diz? Pelo vidrinho da frente. Martins: Ele só não afundou mais rápido porque estava com as janelas fechadas, então ele flutuou um pouquinho. Vera: Ele flutuou. Quando os fotógrafos tiraram foto, já foi às 11 horas da manhã, um pouco antes do guindaste levá-lo, então a água já tinha baixado, mas logo depois que eu sai do carro, ele submergiu quase até o teto, não é? Martins: Mas você sabe nadar? Vera: Não, aí é que tá, eu me atirei e quando me atirei achei que dava pé, eu não prendi a respiração, o que aconteceu? Eu fui ao fundo, perdi meu óculos de grau e também a bolsa não é? A bolsa saiu do meu, a tira colo né? E eu então prendi a respiração lá em baixo e vim batendo pé, nadando cachorrinho entendeu? Aí eu emergi, no momento em que eu emergi eu vi a figura deste senhor, seu Lourivan, um senhor de 38 anos, que é motorista de táxi, mora em Guaíba. A partir dos trechos reproduzidos acima, é possível identificar o que eu entendo por arte na entrevista radiofônica, apoiado no conceito de arte do escritor russo Tolstoy (1989), descrito na página 27. Martins incita a emoção desde o início da conversa quando conduz o ouvinte a imaginar e, supostamente, a sentir as mesmas emoções vivenciadas pela entrevistada. O tom da voz, os detalhes contados pela advogada e a maneira como o diálogo é construído pelo apresentador, proporcionaram que as emoções de Vera fossem sentidas também pelos ouvintes, unindo, assim, emissores e receptores no mesmo sentimento. Como esse diálogo emociona e contamina todos os sujeitos da comunicação é possível identificar também a definição pelo qual o autor Altman (1996) entende a

32 entrevista como arte. Conforme exposto na página 24, a entrevista é, segundo o autor, um gênero que desperta sentimentos fortes nas pessoas envolvidas. Dessa forma, o receptor passa a sentir-se incluído na conversa, mesmo que efetivamente ele não possa participar. É possível perceber ainda o conceito de Cripa (1998), exposto na página 24, de que a arte na entrevista é identificada na sensibilidade do entrevistador em conduzir a conversa, algo que é bastante explícito no diálogo aqui reproduzido. Durante a entrevista, Martins tomou diversas iniciativas para contribuir com o relato do fato e, conseqüentemente, com a formação das imagens mentais e com os sentimentos dos ouvintes. Algumas perguntas foram feitas pelo apresentador para completar lacunas deixadas nas respostas da entrevistada, tornando, assim, a explicação mais detalhada. Conforme pensa McLeish (1999), esse diálogo forneceu, nas palavras da entrevistada (Vera), explicações sobre um determinado acontecimento (quem a salvou) para, segundo Balsebre (1998), chegar próximo das verdades dos fatos que se observa. Assim, além de aprofundar o assunto, os ouvintes se aproximaram da protagonista da história, a aposentada Vera, demonstrando, portanto, por qual motivo Prado (1998) entende que a entrevista é o gênero que mais se adapta às características do rádio, conceito exposto na página 20. Enfim, os aspectos levantados nessa parte da entrevista evidenciaram novamente que as definições apontadas neste estudo se complementam ao enfatizarem aspectos diferentes desse gênero Fuga de um perigoso presidiário

33 Esse segundo exemplo pretende demonstrar, principalmente, como o movimento do querer saber do entrevistador constrói uma entrevista radiofônica, conforme destacam os autores Cripa (1998), exposto neste estudo na página 23, e Dines (1998), mencionado na página 24. No dia 1/12/04, Lasier Martins entrevistou o Corregedor Geral Penitenciário da Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEP), Humero Negrello. O assunto em questão foi a fuga de um presidiário perigoso, conhecido pelo nome de Melara, que já escapou diversas vezes da prisão. Na ocasião, a fuga foi da Penitenciária Estadual do Jacuí (Peje). No diálogo, Martins, através de um jogo de questionamentos, tenta captar a atenção do ouvinte pela possível revelação de um fato (onde está o criminoso). Para saber o local onde se encontrava o presidiário, o que tornaria essa entrevista um furo de reportagem já que nenhum veículo tinha esse dado, Martins utiliza algumas estratégias discursivas, que aparentemente podem parecer insignificantes, mas que estão cheias de pretensões. Primeiro, o apresentador expõe algumas informações que são de seu conhecimento, demonstrando, assim, que ele também está fazendo uma investigação paralela à polícia e, segundo, Martins tenta sensibilizar o entrevistado, valorizando seu cargo e currículo. Martins: Dizem que a polícia já tem pistas, né? Que ele teria saído do Estado. A sua intuição, a sua longa convivência no trato com presidiários dessa dimensão e desse currículo, o que está achando? Será que ele está aqui por perto ou está longe? Negrello: É difícil Lasier, é difícil fazer uma avaliação, mas a gente tem conhecimento dessa informação que ele estaria inclusive fora do Estado em razão de ligações até familiares no Estado do Paraná, mas é complicado, é muito difícil a gente avaliar isso porque agente não sabe qual é, porque o habitat dele é a Região Metropolitana, Porto Alegre, né? E até há um esquema de controle de saída e de entrada de veículos muito grande, possivelmente, eu custo a acreditar na saída dele, mas, enfim, isso fica a encargo da polícia. Martins: Ele já fugiu da prisão seis ou sete vezes, né? Seis, né? Negrello: Seis, essa é a sétima.

34 Martins: É sétima, teve aquela do Plaza São Rafael, que ele não chegou a ter a liberdade porque ele foi perseguido durante dois dias, ele não chegou a ter liberdade. Então teríamos concretamente cinco. E dessas cinco, sempre de pouca duração, não é? Então ele é contumaz, ele foge, mas fica por aí, daqui a pouco ele é preso de novo. Negrello: É exatamente. Ele teve, contabilizada a do Plaza São Rafael e essa última aí então do regime semi-aberto, as outras foram todas do regime fechado, o maior espaço de tempo que ele ficou fora do estabelecimento prisional foi por quatro meses e quatro dias, que foi numa fuga do presídio regional de Passo Fundo, em primeiro de julho de A partir daí, o entrevistador começa a fazer o papel de um jornalista investigativo. Quando se fala em jornalismo investigativo imagina-se aquele tipo de trabalho jornalístico em que se buscam informações não disponíveis facilmente para o público nem distribuídas voluntariamente por alguma fonte e que recorre a métodos de dedução e investigação (LÉO apud PINHEIRO,2003). Para isso, Martins elabora perguntas que vão recapitulando a fuga de Melara. Martins: Doutor Homero Negrello já sabem, mais ou menos, qual foi a última vez que ele foi visto lá na penitenciária Estadual do Jacuí, para calcular, mais ou menos, quando realmente ele fugiu? Negrello: No dia da fuga, essa informação eu ainda não tenho ela concreta, né? Isso está sendo investigado se realmente ele fugiu depois da conferência que, segundo consta, foi às duas horas da tarde, logo em seguida, ou pouco antes da segunda conferência que foi realizada às 20h30, né? Acredita-se, acredita-se que foi ao entardecer, mas ainda não se têm dados concretos para se dar uma informação dessa natureza. O bombardeio de perguntas continua e o entrevistador se utiliza da ironia na construção desse discurso, sempre demonstrando estar bem preparado para o diálogo. Martins: E saindo da Peje o caminho normal não seria pela porta da frente da penitenciária, né? Negrello: É, evidentemente que não, né? Martins: Seria pelos fundos? Negrello: É. Martins: Aí os fundos não é que vai dar lá no rio Jacuí? (Lasier mostra que tem conhecimento do ambiente) Negrello: No Jacuí, exatamente. Martins: É possível que ele tivesse atravessado o rio ou sairia margeando o rio? Negrello: É possível até que tenha atravessado o rio, é possível, mas a gente trabalha agora e comenta em cima de hipótese, né? Isso é muito complicado a

35 gente afirmar: se ele saiu pelo rio ou ele saiu margeando o rio ou saiu até pela parte da frente do estabelecimento, né? Como eu já mencionei, o regime semiaberto ele se caracteriza pela auto disciplina, então, o controle não é tão rígido assim da vigilância como no regime fechado obviamente. Martins desenvolve o papel da polícia, levantando indícios, dos quais nem o próprio entrevistado havia se dado conta. Assim, ele além de questionar, contribui com a investigação. Martins: O Melara, desde que entrou na Peje, ele vinha trabalhando na cozinha, né? Negrello: Exato. Martins: A tarefa dele era descascar batata. Negrello: Eu tenho aqui inclusive a função dele lá era auxiliar de cozinha, então, todas as atividades, né? Martins: Bom, mas aí vejamos, se ele ajuda na cozinha, provavelmente ele ajuda na preparação do almoço e janta dos outros presos. Negrello: Sim. Martins: Então ele deveria estar sendo visto quando fez o almoço e depois do almoço tem tarefas, já no meio da tarde começa a preparação do jantar. Negrello: Sim. Martins: E aí não foi dada a falta dele? Negrello: Sim, possivelmente talvez, o almoço, tudo bem porque até a conferência das 14 horas ele estava presente. No trecho abaixo é possível perceber que o entrevistado responde para não deixar a pergunta sem resposta, pois, isso o desqualificaria, uma vez que é o Corregedor Geral Penitenciário da SUSEPE. O entrevistado é, portanto, intimado a produzir um discurso de explicação. Martins: Até as 14 horas ele estava presente? Negrello: Sim teve a conferência, foi entre essa conferência e a das 20h30, então, ali é uma questão de administração, talvez ele estivesse com folga no dia, ou enfim, qualquer outra coisa que não implicasse que ele fosse trabalhar e que não fosse visto. Martins: Mas isso não foi investigado ainda? Negrello: Está sendo investigado Lasier. A insegurança transmitida na voz de Negrello ao falar que o caso está sendo investigado ficou tão evidente que, para não perder a fonte, Martins ameniza a situação e não expõe ainda mais o entrevistado. É possível pressupor que o apresentador percebeu

36 que Negrello não tinha a informação que desejava (onde estava escondido o Melara) e, por isso, não insistiu mais no diálogo, terminando a entrevista. Martins: A investigação demora um pouco. Negrello: É no calor da coisa, não se pode fazer uma coisa que venha até passar uma imagem diferente da forma como aconteceram os fatos. Martins: Tá bom, doutor Homero Negrello, obrigado pela presença no programa. Negrello: Tá bom, obrigado. Martins: O Corregedor Geral Penitenciário da Superintendência do Serviço Penitenciário. O diálogo demonstra que a entrevista é comandada, do início ao fim, por Martins, que questiona, interpreta, ironiza e até enfrenta o entrevistado quando acha necessário. Embora toda entrevista envolva investigação, algumas, como a descrita acima, exigem um maior grau do que as outras, pois propõe enigmas a serem desvendados. Martins se dedica a abrir as informações desconhecidas, ocultas e fundamentais; para isso, realiza o diálogo num querer saber. A curiosidade do apresentador e a busca por desvendar algo é explícita durante todo o percurso da entrevista, no qual ele arrisca e faz diversas tentativas, sempre orientado pelos indícios e por um processo lógico de interpretação. As informações levantadas pelo apresentador, aliadas ao seu querer saber, contribuíram para sua autonomia no diálogo, fortificando, assim, seu poder ser (entrevistador) e seu poder fazer (questionar da maneira que ele quiser). Sociedades democráticas exigem do jornalista enquanto enunciador de enunciações coletivas, um poder-saber e um poder fazer discursivo em que o saber fazer, no caso, produzir uma entrevista, solicita desse profissional uma atividade contínua de solução de problemas frente à realidade sociocultural. Nesse sentido, seu trabalho se aproxima ao policial. (Silva, 2002, p. 01)

37 Diante de tudo isso, é possível perceber que essa entrevista foi construída, principalmente, pelo querer saber do entrevistador. Martins demonstrou, através de suas perguntas e interpretações, uma técnica e uma qualificação diferenciada para desenvolver o diálogo. No entanto, a entrevista foi marcada, especialmente, pela curiosidade, pelo desejo de saber, de se informar e de desvendar algo. 2.3 CATEGORIAS DE ENTREVISTAS RADIOFÔNICAS A entrevista faz parte da grade de programação de, praticamente, todos os tipos de veículos de comunicação, tais como: rádio, televisão, jornal, revista, Internet, entre outros. No rádio, foco deste estudo, existem categorias bem específicas para a entrevista. Com o intuito de elucidá-las, foi elaborado um quadro que ilustra as categorias de entrevistas criadas por alguns dos autores pesquisados. QUADRO 1: Categorias das entrevistas radiofônicas Autores/Ano Edgar Morin (1973) Emílio Prado (1989) Entrevistas radiofônicas: categorias Entrevista-rito Entrevista-anedótida Entrevista-diálogo Entrevista-neoconfissões Entrevista de caráter Entrevista noticiosa, que se divide em: Entrevista de informação estrita

38 entrevista de informação em profundidade declarações ou falsas entrevistas Chantler e Harris (1998) Robert Mcleish (1999) Cremilda Medina de Araújo (2004) Lasier Martins (2004) Entrevista informal Entrevista interpretativa Entrevista emocional Entrevista informativa Entrevista interpretativa Entrevista emocional As que visam à espetacularização: Perfil do pitoresco Perfil do inusitado Perfil da condensação Perfil da ironia intelectualizada As que visam compreender o assunto: Entrevista conceitual Enquete Entrevista investigativa Confrontação-polemização Perfil humanizado Entrevista esclarecedora Entrevista aula Edgar Morin Conforme exposto no quadro 1, Edgar Morin (1973) enumera quatro tipos de classificações para a entrevista radiofônica: rito, anedótica, diálogo e neoconfissões. Na entrevista-rito, o que é levado em consideração, segundo o autor, são as palavras do entrevistado. Por exemplo, ao final de uma partida de futebol, quando o jornalista entrevista o goleador da partida, o que interessa são apenas as palavras que registram o momento, não o conteúdo ou qualquer outro aspecto.

39 Na entrevista anedótica, o entrevistador busca algo picante, fazendo perguntas tolas sobre boatos. Esta entrevista se situa no nível dos mexericos (1973, p. 129). Contrariando esse tipo de conversação superficial, Morin entende a entrevista-diálogo, como a de maior êxito por se tratar de uma conversação que vai além da mundana. É uma busca em comum. Na entrevista-diálogo, o entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona a verdade a respeito de um fato (1973, p. 129). Nas neoconfissões, o entrevistador se apaga diante do entrevistado, que ultrapassa certos limites e dá um profundo mergulho no seu íntimo, deixando vir à tona as verdades do seu eu. Alcança-se aqui a entrevista em profundidade da psicologia social. Para o autor, esta entrevista traz em si uma ambivalência: Ela é feita para atrair o libido psicológico do espectador, quer dizer, pode ser objeto de uma manipulação sensacionalista, mas também toda a confissão vai muito mais longe, muito mais profundamente que todas as relações humanas superficiais e pobres da vida cotidiana. (Morin, 1973, p. 129) Cremilda Medina de Araújo Ao observar o entusiasmo de Morin pela raridade das duas últimas categorias (entrevista-diálogo e neoconfissões) e a crítica explícita à superficialidade das duas primeiras (entrevista-rito e entrevista anedótida), Medina agrupa as entrevistas em duas tendências: as que visam à espetacularização do ser humano e as que possuem a intenção de compreendê-lo (2004, p ). Os subgêneros apresentados pela autora, em relação à espetacularização, são: A) Perfil do pitoresco: trata-se daquelas que se apegam em caricaturas do perfil humano, salientando os boatos, o grotesco, os traços sensacionalistas, os modismos sexuais etc. B) Perfil do inusitado: quando o enfoque está nas características da pessoa. C) Perfil da condensação: são as entrevistas tendenciosas, bastante utilizadas no setor policial onde, por exemplo, o entrevistador

40 força para que o bandido seja condenado. D) Perfil da ironia intelectualizada : quando o entrevistador contesta ironicamente as idéias do entrevistado. Entre as entrevistas que buscam compreender o assunto em pauta, Medina apresenta cinco subdivisões: A) Entrevista conceitual: o jornalista procura especialistas que expliquem conceitos e não comportamentos. Ou seja, o entrevistador busca bagagem informativa. Aqui podemos citar, como exemplos, as entrevistas com filósofos, sociólogos, cientistas, economistas. B) Enquete: o tema é o fundamental da pauta e procura-se mais de uma fonte para depor em relação ao tema. É importante salientar que este tipo de entrevista não cumpre a função de pesquisa científica; assim, o jornalista deve ouvir opiniões aleatórias para obter um conceito geral das pessoas a respeito de um determinado assunto. As perguntas normalmente são objetivas, como, por exemplo: você é a favor ou contra a legalização do aborto no Brasil? A terceira subdivisão apresentada pela autora é a entrevista investigativa, (C) quando o jornalista vai investigar onde a informação não está disponível. Esta classificação requer muita habilidade, tempo, cuidado e atenção do jornalista. Normalmente este tipo de entrevista cobre os temas de repercussão pública, como tráfico de drogas, gestão de dinheiro público, abusos de poder, entre outros. Muitas das denúncias de corrupção no Brasil foram levantadas pela imprensa após entrevistas e reportagens investigativas. Já a classificação Confrontação-polemização (D) caracterizase pelas divergências de opiniões, gerando, quase sempre, polêmica acerca do tema debatido. Nesse caso, o jornalista deve coordenar a discussão com bastante atitude frente aos entrevistados. E, por fim, a autora denomina como Perfil humanizado (E) a entrevista que tem a finalidade de traçar um perfil humano, não para ridicularizá-lo, mas para compreender

41 seus conceitos, valores, comportamentos. Esta tipologia é, freqüentemente, utilizada para entrevistas com grandes personalidades Emílio Prado Diferente de Medina, Prado (1989, p ) divide a entrevista em entrevista de caráter e entrevista noticiosa. A primeira tem como foco a personalidade do entrevistado. Neste caso, o que mais importa é quem diz e não o que é dito. Prado entende que esse tipo de conversa é ideal para conhecer a personalidade do entrevistado já que, através da fidelidade expressiva, de sua espontaneidade, penetra-se nas zonas profundas das pessoas que nos rodeiam. Assim, é fundamental ficar atento às reações ante uma pergunta, à expressão do rosto, aos movimentos do corpo etc. São elementos que, às vezes, dizem mais do que as palavras. Quando a entrevista é feita no estúdio de uma rádio, o entrevistador pode descrever a reação do entrevistado para orientar o ouvinte, que acompanha o diálogo não somente pelo seu conteúdo verbal, mas pela tonalidade da voz e também do silêncio. A outra categoria defendida pelo autor é a entrevista noticiosa que tem como foco principal a informação. Diferente da anterior, o que importa é o que se diz e não, necessariamente, quem fala. O autor subdivide a entrevista noticiosa em três tipos: a) entrevista de informação estrita, b)entrevista de informação em profundidade, c) declarações ou falsa entrevista. A entrevista de informação estrita caracteriza-se por sua brevidade. Já a entrevista de informação em profundidade tem um papel reflexivo no rádio informativo. Por meio dela, além de uma informação estrita, são fornecidos aos ouvintes dados adicionais que ajudarão a compreender os fatos, sendo, por isso, maior o tempo do

42 diálogo. As falsas entrevistas referem-se àquelas que, normalmente, são incluídas nos programas informativos. Sua função é levar ao público, em forma noticiosa, a opinião de alguns entrevistados. Conforme já exposto na introdução, este tipo de entrevista em que se produz uma comunicação unidirecional direta não é objeto desta dissertação Chantler e Harris De forma mais simplificada, os autores Chantler e Harris (1998, p ) classificam as entrevistas radiofônicas em três categorias: informal, interpretativa e emocional. A entrevista informal é, segundo eles, fundamental para revelar fatos ou informações. As perguntas são as mesmas feitas para compor um lead (O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?), porém, podem ser utilizadas questões mais amplas para evitar respostas curtas. Nas entrevistas interpretativas, o entrevistador precisa interpretar alguns fatos que já são conhecidos do público (1998, p ). Nesse caso, os autores chamam a atenção para a escolha dos entrevistados que, mais que saber, precisam ter autoridade para falar sobre determinado assunto, como política, economia, entre outros. Já a entrevista emocional é a mais complicada. Bons repórteres sabem como cobrir as diferentes formas de manifestações emocionais. Há a alegria do esportista que bateu novo recorde; a angústia da mãe que procura a filha desaparecida; a raiva do homem agredido e roubado. Nesse caso, Chantler e Harris entendem que certa dose de silêncio fala mais do que muitas palavras. Como a entrevista radiofônica é caracterizada, sobretudo, por perguntas e respostas, o silêncio dificilmente integra o diálogo, no entanto, quando isso acontece, a própria interação define os significados presentes no silêncio.

43 Assim como a ausência de som pode significar um momento de emoção, também pode representar dúvida, medo etc. Além disso, muitos entrevistados utilizam a falta de silêncio como uma estratégia para evitar certos questionamentos. A ausência da fala, portanto, pode ser utilizada como um recurso para exercer dominação Robert Mcleish Classificação semelhante de entrevista no rádio é oferecida por Mcleish (1999, p ). A entrevista informativa tem como objetivo, segundo o autor, transmitir informações ao ouvinte. Temas para esse tipo de entrevistas incluem ação que envolve operação militar, reuniões e decisões dos sindicatos ou propostas de planos de desenvolvimento da cidade. Por isso, há necessidade de explicar de forma muito clara os fatos. Na entrevista interpretativa, o entrevistador fornece os fatos e o entrevistado precisa interpretá-los, sendo que os assuntos já são de conhecimento público. A questão fundamental é que o entrevistador não está solicitando fatos sobre o assunto (...) ele está investigando a reação do entrevistado a esses fatos (1999, p. 41). Este tipo de entrevista permite ao ouvinte chegar a um consenso sobre valores do entrevistado. Já na entrevista emocional, o que importa é a força das emoções presentes e não o significado racional. O objetivo é passar o estado de espírito do entrevistado. Um exemplo, de acordo com Mcleish, seria entrevistar uma família, de baixa renda, que perdeu tudo em uma enchente. O entrevistador, portanto, precisa ser sensível ao lidar com essas situações. Ele deve saber o que e em que momento perguntar, já que, muitas vezes, é criticado por se intrometer no sofrimento alheio.

44 2.3.6 Lasier Martins Diferentemente de todas as categorias já expostas, o apresentador do programa Gaúcha Repórter, Lasier Martins (2004), que há 40 anos atua como entrevistador realizando em média dez entrevistas durante seu dia, divide a entrevista da seguinte maneira: a entrevista esclarecedora e a entrevista aula. A entrevista esclarecedora é, segundo Martins, aquela que dirime dúvidas sobre alguma notícia, fato, boato ou sobre uma versão circulante. Já a entrevista aula, como o próprio nome diz, trata-se de um diálogo que ensina alguma coisa como, por exemplo, um técnico da saúde descrevendo formas de prevenir o mosquito da dengue. Há muito tempo tenta-se classificar as entrevistas com o intuito de torná-las didáticas ao estudante ou ao profissional interessado neste gênero jornalístico. Na prática, no entanto, fica difícil classificá-las, pois os jornalistas, na maioria das vezes, não seguem uma teoria e grande parte das entrevistas se encaixaria em diversas classificações. A teoria indica como podem ser realizadas as entrevistas, mas não pode ditar regras ou engessar um ato que deve fluir naturalmente. Afinal como afirma Mcleish (1999, p. 43), a entrevista é um evento espontâneo e qualquer indicação de ter sido ensaiada prejudica a credibilidade do entrevistador Exemplos de entrevistas do Gaúcha Repórter A entrevista realizada no programa Gaúcha Repórter, no dia 1/11/2004, pode ser citada como um exemplo da dificuldade em classificar um diálogo. Nesse dia, Martins entrevistou a professora de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Céli Pinto, com a intenção de levar aos ouvintes uma avaliação sobre o novo quadro

45 político, após as eleições municipais, principalmente em relação a Porto Alegre, onde o Partido dos Trabalhadores (PT) perdeu as eleições depois de 16 anos administrando a cidade. Antes mesmo de escutar a entrevista, é possível perceber que a classificação que mais se adequaria a esse diálogo é a entrevista interpretativa. (CHANTELER e HARRIS, 1998, e McLEISH, 1999). Martins: Por que o PT perdeu em Porto Alegre? Professora: Acho que é um conjunto de razões que explica a perda do PT em Porto Alegre, eu elencaria umas três ou quatro. A primeira é que é muito difícil um partido ganhar pela quinta vez. Cada vez que um partido ganhar a mais, ele diminui a chance de ganhar a próxima, então, seria realmente excepcional que o PT conseguisse chegar a 20 anos governando Porto Alegre. (...) A segunda é o próprio PT, o PT desde que houve aquela prévia entre Olívio (Dutra) e Tarso (Genro) para o Governo do Estado, ele se quebrou internamente. (...) As campanhas do PT, já não são mais as mesmas de quando ele ganhou as duas primeiras vezes em Porto Alegre. Há brigas internas no partido.(...) E a terceira razão é que aconteceu um bipartidarismo de fato, de um lado o PT, que é o maior partido, mas que daqui para frente vai ter que enfrentar uma coalizão de partidos que se unem em torno do antipetismo. (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 1/11/2004) Como é um diálogo em que a entrevistada analisa determinado fato, a entrevista, além de interpretativa, também poderia ser o que Medina (2004) chama de conceitual, pois se trata de uma cientista política que tenta explicar por que o PT perdeu as eleições na capital gaúcha. Por ter essa característica reflexiva, o diálogo se encaixaria, ainda, na classificação de entrevista em profundidade de Prado (1989). Já o apresentador do programa, Lasier Martins (2004), entende esse tipo de entrevista como esclarecedora. Essas quatro diferentes classificações, no entanto, seriam apenas para um trecho da entrevista. Como um diálogo raramente é linear, mais adiante, é possível observar que, sutilmente, o apresentador demonstra uma certa tendência e, neste caso, entraria numa outra classificação denominada por Medina (2004) como perfil da condensação. Martins: Há algum desencanto com o governo federal? Dá para fazer esta ligação? Professora: Eu acho que não. Martins: Não, é? (surpreso)

46 Professora. Não, pelo seguinte: o maior desencanto com o governo federal, na minha análise, eu chamo de fogo amigo, os maiores críticos do governo federal são os próprios grupos do PT. Martins: É uma grande parte porque (ou seja, não só dentro do PT) o governo federal contrariou algumas velhas e fortes bandeiras e o que estamos vendo aí são tarifas públicas que não param de subir, os salários estão baixos e o desemprego alto, os grandes investimentos que pretendia para o Brasil não são possíveis em razão dos juros altos, as nossas reservas poderiam ser aplicadas em infra-estruturas, tem que guardar para pagar os juros da dívida, isso aí acaba não sendo apreendido pelo eleitor? (Martins, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 1/11/2004) Através das colocações do entrevistador, ficou claro que ele não está satisfeito com a política do PT. Como Martins é uma pessoa pública, cuja opinião pode influenciar os ouvintes que também são eleitores, a classificação de perfil pitoresco (Medina,2004) se encaixaria em parte dessa entrevista, demonstrando, assim, mais uma vez a dificuldade de enquadrar um diálogo em somente uma classificação. Outro exemplo que evidencia a problemática de categorizar uma entrevista radiofônica pode ser observado no diálogo realizado no dia 15/11/04, quando o jornalista André Machado, substituto oficial de Lasier Martins no programa Gaúcha Repórter, entrevistou o Senador gaúcho Paulo Paim (PT), sobre a reforma trabalhista e sobre o novo salário mínimo. Em alguns momentos, a entrevista se enquadraria no que a autora Medina (2004) chama de conceitual, ou no que Prado (1989) entende por uma entrevista de informação em profundidade, ou ainda no que Martins (2004) denomina entrevista esclarecedora. Machado: Senador, essa questão da reforma trabalhista, que está anunciada hoje na página quinze do jornal Zero Hora de que o governo estaria desistindo da reforma trabalhista durante este mandato do presidente Lula. Paim: Olha, na minha avaliação, a reforma trabalhista e a sindical o governo vai ter muita dificuldade (...) essa é uma avaliação eu digo realista, elas são matérias muito polêmicas (...) a base do governo está digamos desencontrada, não há uma harmonia na visão desse assunto e de tantos outros e, por isso, que o governo deve adiar para o próximo mandato mudanças mais profundas sobre esses dois temas.

47 Machado: Mas esse debate não deveria começar agora, senador? Ser aprofundado neste momento? Paim: (...) O debate até pode ser feito o ano que vem, eu acho que o governo terá dificuldade enorme para votar. Sem sombra de dúvidas, queiramos ou não, o grande debate também das eleições de 2006 está dado já a partir (...) depois das eleições municipais. Machado: Porque na verdade, senador, também um dos problemas que acaba trancando um pouco o país é essa questão que nós acabamos de sair de uma eleição e já estamos pensando no que vai ser debatido em 2006, ou seja, aquilo que necessariamente precisa ser feito acaba sendo adiado. Paim: É por isso que eu defendo a tese pelo menos da coincidência das eleições sem prorrogações de mandato. As eleições aconteceriam normalmente, só que os próximos prefeitos teriam então um mandato de dois anos e conseqüentemente aí seguimos a coincidência, para evitar de que de dois em dois anos você tem uma disputa eleitoral que acaba se dando um ano, um ano e meio antes e, com isso, inviabiliza votações de matérias importantes (...).(MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 15/11/2004) Nesse trecho do diálogo, fica claro que o senador transmite a sua opinião sobre os assuntos questionados a ele. Apesar de ser do mesmo partido que o presidente Lula, Paim, em momento algum, informou definitivamente que a reforma trabalhista seria cancelada neste mandado. O que foi dito são especulações, reflexões que podem, ou não, ser concretizadas. Em outros momentos, no entanto, quando o senador fala sobre salário mínimo, o diálogo aproxima-se do que Chantler e Harris (1998) chamam de entrevista informal ou do que Mcleisch (1999) entende por entrevista informativa. Machado: Senador Paulo Paim, outro assunto que interessa muito aos trabalhadores, e o senhor tem sido um defensor dessa causa, é a questão do salário mínimo. Nós estamos em novembro, ou seja, alguns meses antes da definição do novo mínimo que será acertado para 2005, como é que está esse debate, o que o senhor está defendendo neste momento senador? Paim: Nós estamos preocupados de fato com esse tema. No ano passado, o salário mínimo ficou bem aquém da expectativa que tinha a população (...) esse ano a peça orçamentária aponta para um salário mínimo de no máximo 285 reais, enquanto nós sentimos aqui no congresso que há uma vontade muito grande de que o salário mínimo não seja menor que 300 reais.(..) Nós estamos trabalhando com a possibilidade de que o salário mínimo não fique aquém de 300 reais. (...) O salário mínimo hoje no Brasil é um salário mínimo indecente, é um dos piores do mundo, tem um ou outro país do mundo que tem o salário mínimo menor do que o brasileiro.

48 Nesse trecho da entrevista, observa-se que o entrevistado indica que o senado trabalha para que o salário mínimo seja de, pelo menos, trezentos reais. Além disso, o senador emite dados informativos de que o salário mínimo do Brasil está entre os piores do mundo. Ou seja, o caráter desse trecho da conversa é mais informativo do que reflexivo. No entanto, apesar de o entrevistado passar algumas informações, ele não diz o que efetivamente vem sendo feito para o aumento do salário. Além disso, quando afirma que o Brasil tem um dos piores salários, ele não cita quais são esses índices. Nesse sentido, a entrevista também pode ser entendida como persuasiva por dizer muito e informar pouco. Além de todas essas categorias mencionadas acima, de maneira geral, é possível classificar essa conversa como entrevista-diálogo (MORIN,1973), já que, em termos amplos, trata-se de uma entrevista que vai além da conversação mundana, pela qual entrevistador e entrevistado conseguem manter um diálogo a fim de esclarecer os fatos. As várias formas de classificar as entrevistas radiofônicas são também uma tentativa de tornar a matéria didática. Nesse sentido, as seis funções de linguagens de Roman Jakobson, embora não tenham sido criadas para serem aplicadas especificamente nas entrevistas de rádio, podem ser também categorias deste gênero radiofônico. 2.4 ENTREVISTA E AS FUNÇÕES DE LINGUAGEM A comunicação é um processo complexo de interações entre sujeitos. Nessa relação, o destinador produz uma mensagem ao destinatário, havendo, assim, uma mediação. Dessa forma, de um lado, o emissor faz-fazer, já no outro plano, o receptor

49 tem de interpretar. Esse esquema básico da comunicação serve para todos os tipos de relações, como um diálogo corriqueiro, uma publicidade que, muitas vezes, transmite, implicitamente, uma idéia ou, até mesmo, para uma entrevista radiofônica. Esta dissertação pretende entender que tipo de comunicação existe nas entrevistas radiofônicas. Dessa forma, as funções de linguagem, criadas por Roman Jakobson, contribuem bastante na verificação de como esse objeto de significação relaciona-se neste percurso para produzir sentido Sujeitos da Comunicação e as funções da Linguagem Roman Jakobson contribuiu muito para o estudo da comunicação. Suas propostas ampliaram o modelo da teoria da informação 6, principalmente em relação aos códigos e subcódigos além da variação lingüística. A mais relevante contribuição do autor foi, no entanto, sobre a variedade de funções da linguagem. Jakobson mostrou que a linguagem deve ser examinada em toda variedade de suas funções, não apenas em relação à função informativa, considerada a única ou a mais importante no século XX. A proposta teórica e os esquemas do autor serão tomados como base das discussões sobre comunicação que serão feitas a seguir. Jakobson define o processo lingüístico de todo ato comunicativo da seguinte maneira: O REMETENTE envia uma MENSAGEM ao DESTINATÁRIO. Para ser eficaz, a mensagem requer um CONTEXTO a que se refere (ou referente, em outra nomenclatura algo ambígua), apreensível pelo destinatário e que seja verbal ou suscetível de verbalização; um código total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da mensagem); e, finalmente, um CONTACTO, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e destinatário, que os capacite a ambos a entrarem e permanecerem em comunicação. (1969, p. 123) 6 A teoria da informação foi o primeiro modelo dos processos comunicativos, publicado em A autoria é de Shannon. A teoria não leva em consideração o conteúdo das mensagens, mas, sim, suas condições de transmissão. Esse modelo foi muito imitado, questionado e transformado dando origem a outros modelos, inclusive o elaborado por Roman Jakobson.

50 O esquema abaixo permite visualizar a proposta do autor: Quadro 2 - Esquema da Comunicação proposto por Jakobson CONTEXTO MENSAGEM REMETENTE... DESTINATÁRIO CONTATO CÓDIGO Tendo em vista que os homens se comunicam com diferentes fins, Jakobson entende que a linguagem deve ser estudada em toda variedade de suas funções. Assim, o autor retoma o esquema triádico de Bühler para as funções da linguagem (função expressiva, função apelativa e função representativa) e acrescenta-lhe mais três funções função fática, função metalingüística e função poética. Conforme Jakobson, no processo da comunicação, essas funções não são únicas ou excludentes, mas se organizam hierarquicamente. Dessa forma, cada função da linguagem enfatiza um dos seis fatores envolvidos na comunicação conforme o esquema abaixo (FIORIN, 2004, p. 32). Quadro 3 Funções de linguagem de Jakobson REFERENCIAL (centrada no contexto ou no referencial) EMOTIVA POÉTICA CONATIVA (Centrada no remetente) (centrada na mensagem) (centrada no destinatário) FÁTICA (Centrada no contato)

51 METALINGÜÍSTICA (centrada no código) A função referencial, informativa ou representativa é quando, em um discurso, o contexto é enfatizado. Nesse caso, a principal finalidade dos textos é transmitir uma informação objetiva sobre o contexto ou referente de Jakobson. Normalmente, empregase o uso da terceira pessoa, não são utilizados adjetivos subjetivos ou modalizadores. Dessa forma, essa é a principal função do texto jornalístico. A função referencial integra grande parte das entrevistas radiofônicas e pode ser percebida quando o jornalista mantém sua função de entrevistador, profissional que está ali para perguntar e não para emitir sua opinião, tratando, assim, o tema em pauta de forma referencial. Um exemplo de função referencial pode ser percebido durante a entrevista realizada no dia 4/11/04, quando Martins entrevistou o coordenador do núcleo de estudos em defesa social das Faculdades Integradas de Brasília, George Felipe Dantas, sobre uma medida adotada no RS que autorizou o poder para a Brigada Militar revistar cidadãos nas ruas e veículos. Martins: Enquanto aguardávamos a complementação da ligação (telefônica) estávamos aqui historiando aos nossos ouvintes essa novidade que se toma hoje conhecimento de que a Brigada Militar do RS está determinando cotas, metas aos PMs para que revistem um determinado número de pessoas, de veículos, o que o senhor acha dessa medida? Dantas: Eu acho que é uma medida extremamente efetiva já que a polícia militar, no caso específico a Brigada Militar do RS, tem competências para ações de polícias ostensivas e essas ações de polícias ostensivas está muito provado que se mostram como medidas efetivas no sentido da inibição da criminalidade de massa. (...) Martins: Então primeiro ponto, essa medida é legal? Dantas: Absolutamente, a medida da Brigada Militar é uma medida ao longo de todo o país no sentido exatamente de coibir ações delitivas, (...) Martins: O senhor tem conhecimento dentro da sua área de atuação já há tanto tempo, de um outro lugar do Brasil onde se esteja seguindo essa política? Dantas: Veja, é uma política de rotina, eu acredito que a Brigada Militar do RS tem implementado um programa mais abrangente, mais intenso, como de resto se faz

52 como rotina, com menor intensidade, com menor freqüência.(...) (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 4/11/2004) A função emotiva ou expressiva, quando o remetente é enfatizado, acontece quando o sujeito não relata os fatos, mas seu ponto de vista sobre eles. Nesse caso, há apresentação de seus sentimentos e emoções podendo produzir, inclusive, uma aproximação entre sujeitos. É comum o uso da primeira pessoa, apresentação de qualidades subjetivas, por meio de adjetivos como fantástico, encantador, medonho e outros, ou de advérbios de modo, utilização de modalizadores relacionados com o saber, como eu acho, eu considero etc. uso de recursos prosódios de prolongamento de vogal, pausas, acentos enfáticos, hesitações, interjeições, exclamações.(fiorin, 2004, p. 34) A função emotiva está muito presente na entrevista radiofônica. Aqui estão incluídas tanto as conversas com os ouvintes, quanto com as autoridades e cidadãos em geral. Existem as entrevistas em que a emoção é explícita e contamina todos os sujeitos da comunicação; um exemplo disso pode ser percebido durante um diálogo entre Lasier Martins e Vera Marisa Soares que, conforme já exposto, durante uma noite de chuva, caiu com seu carro no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre. Um dos momentos mais emocionantes da entrevista foi quando ela contou como conseguiu se salvar já que não sabia nadar. Vera: (...) quando eu aterresei ali na água, estava uma correnteza violenta, eu tive a impressão de estar em alto-mar, estava terrível a coisa. (...) desabotoei o cinto de segurança com toda a tranqüilidade, Martins: Já com o carro começando a afundar? Vera: Já com o carro começando a afundar. (...) Então o que eu fiz, eu tentei abrir a minha porta e não deu, tentei abrir o vidro da minha porta do motorista e também não deu (...) deu a sorte que o vidro do passageiro estava ligeiramente aberto, um centímetro, e através dele então eu pude abrir, baixar toda a janelinha (...) daí eu me atirei e quando me atirei achei que dava pé, eu não prendi a

53 respiração (...) eu fui ao fundo, perdi meus óculos de grau e também a bolsa (...) no momento em que eu emergi, eu vi a figura deste senhor, seu Lourivan (...) me acenando para eu me aproximar dele, só que a correnteza era fortíssima, eu mesmo nadando cachorrinho eu não conseguia chegar até a margem, até que eu forcei, forcei, forcei e ele me pegou pelos pulsos. Martins: Ele não chegou a entrar no riacho também? Vera: Não, seu Lourivan não. Estava perigosíssimo entrar ali. (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 12/11/2004) Nessa situação, a emoção tornou-se evidente, mas há ocasiões em que o sentimento está no silêncio ou no tom de voz do entrevistado. O fato é que, embora nem sempre seja percebida, a emoção move qualquer diálogo. Na função conativa, a ênfase está no destinatário. Assim, os textos produzem efeitos de interação com o receptor a que se procura convencer ou persuadir, esperando como resposta atitudes ou comportamentos dos destinatários. A segunda pessoa do imperativo (você) é bastante empregada, pois os diálogos são estruturados, sobretudo, com perguntas e respostas. Essa função é muito utilizada em textos publicitários. Exemplo: Você já foi ao supermercado Mercadorama, hoje? Então deveria ir, tem ofertas incríveis. Na entrevista radiofônica, a função conativa acontece quando o entrevistador disponibiliza o telefone para que o ouvinte emita a sua opinião sobre o tema do diálogo ou quando um entrevistado se dirige, diretamente, ao ouvinte. No programa Gaúcha Repórter, o telefone é disponibilizado para os ouvintes emitirem sua opinião, porém, raramente eles são colocados ao vivo no ar. O método utilizado pela produção é anotar as opiniões e passar para o apresentador ler. Isso aconteceu na entrevista realizada no dia 4/11/04, quando, conforme já exposto na página 51, Martins entrevistou o coordenador do núcleo de estudos em defesa social das Faculdades Integradas de Brasília, George Felipe Dantas, sobre a liberdade para revistar cidadãos concedida à Brigada Militar. Dantas defendeu a medida durante todo o diálogo,

54 porém, Martins colocou no ar a opinião de um ouvinte que não concordou com o entrevistado. Martins: Tem um ouvinte nosso que está escutando a nossa entrevista, ele se diz Policial Militar no Vale dos Sinos, mas pede para não ser identificado. Ele entende, como profissional da segurança pública, que a abordagem devesse ser feita somente quando houvesse suspeita, o que o senhor acha? (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 4/11/2004) A função fática, quando o contato é enfatizado, traz fórmulas prontas para iniciar ou interromper o contato (Olá, tudo bem?, Tchau!) e para verificar se há ou não contato (você está escutando?). Mais do que informar, pretende-se manter o contato com o destinatário. Como a maioria das entrevistas realizadas no Gaúcha Repórter são por telefone, é comum tanto o apresentador quanto o entrevistado verificar se está havendo o contato. Isso aconteceu, por exemplo, no dia 9/11/04, quando o programa foi transmitido de Bento Gonçalves, cidade localizada na Serra Gaúcha. Na volta de um dos comerciais, Martins falava, os ouvintes estavam escutando, porém, como o apresentador ficou sem retorno de audição, parecia que ele não estava no ar. Martins: Aqui Gaúcha Repórter, alô, alô estúdio (ele bate no microfone para ver se funciona), alô estúdio. (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 9/11/2004) A partir daí, o apresentador pára de falar e a trilha sonora do programa é elevada por quase um minuto até que o Coordenador de Jornalismo da Rádio Gaúcha, André Machado, assume o programa do estúdio e confirma o contato com Lasier Martins. Machado: Duas horas e 23 minutos, temperatura de 22 graus e cinco décimos em Porto Alegre. Lasier: Alô, André! Machado: Oi, Lasier! Lasier: Tá chovendo aí, é? André: Bastante viu, aí em Bento Gonçalves também ou não? Lasier: Aqui é um dilúvio. André: É mesmo? Aqui não chega (a ser um dilúvio), choveu, tal, mas não chega a ser torrencial a chuva aqui neste instante. Lasier: Tá bom. Houve um probleminha, não sei o que havia que eu não escutava, estávamos entrando, eu estava chamando... André: Mas agora já está restabelecido, eu vim aqui para te socorrer. (MARTINS, Gaúcha Repórter, Porto Alegre, 9/11/2004)

55 Na função metalingüística, a ênfase é no código. Nesse caso, o efeito de sentido é o de linguagem que fala de linguagem. Assim, essa função acontece na entrevista radiofônica quando o assunto em pauta é o próprio rádio. Durante o mês de novembro de 2004, quando foram gravadas as entrevistas para este estudo, não foi realizado nenhum diálogo no Gaúcha Repórter que tratasse do veículo. E, por fim, a função poética acontece quando a mensagem é enfatizada. Jakobson diz que a função poética projeta o princípio de equivalência do eixo de seleção sobre o eixo de combinação (1969, p. 130). Já Fiorin (2004, p. 41) ressalta que, na função poética, há efeitos de novidade. Apesar de ser possível encontrar a função poética nas entrevistas radiofônicas, raramente isso acontece, pois nos diálogos jornalísticos, que discutem assuntos gerais do mundo, predomina, sobretudo, a função referencial. Durante o período em que foram gravadas as entrevistas para esse estudo, não foi possível encontrar algum exemplo de função poética. Diante de tudo isso, é possível perceber que o modelo comunicacional estabelecido por Jakobson buscou evitar a superioridade do emissor, concebendo a interação humana como um sistema aberto. Foi uma tentativa de aperfeiçoar o paradigma da transmissão da informação em que, por meio de um modelo simples de comunicação, pregava-se uma mensagem unidirecional. O modelo de comunicação linear resume a atividade comunicativa à transmissão de um conteúdo fixo entre dois pólos estáticos, encarregados de codificarem e decodificarem a mensagem (MORAES e PEREIRA, 2003, p. 3).

56 Houve, é inegável, uma expressiva ampliação e complementação do modelo da teoria da informação, mas a comunicação continuou a ser um fazer saber, isto é, a transmissão de um saber sobre o mundo, sobre as emoções do remetente, sobre o código, sobre o plano da expressão da mensagem, sobre o funcionamento do contato. Só na função conativa há, além do fazer-saber, um fazer o outro fazer. (DIANA apud FIORIN, 2004, p. 41) A partir da década de 80, pesquisas mais consistentes sobre os meios de comunicação esclarecem que os efeitos de sentido não poderiam ser apreendidos através de uma forma de comunicação linear. Um novo paradigma elege o dialogismo entre estrutura comunicativa e contexto, numa mútua interferência e interdependência. Os diversos contextos socioculturais determinam a diversidade do processo comunicativo (MORAES e PEREIRA, 2003, p. 3). Assim, o destinatário pode fazer uma leitura independente da mensagem recebida pelo emissor, mesmo que esta esteja carregada de pretensões. Isso demonstra a complexidade da interação humana em que seres compartilham mais do que mensagens, compartilham sentidos. Dessa forma, não se trata de uma mensagem unívoca, mas multidirecional. Essa multidirecionalidade da informação é evidenciada com as novas tecnologias. Se, nas mídias tradicionais, a comunicação obedece à trajetória de um para muitos, na Internet esse fluxo muda e a trajetória passa a ser de muitos para muitos, muitos para um e de um para um. A interatividade, conforme será detalhada no capítulo 5, faz com que emissores e receptores passem a ser agentes num processo de comunicação dinâmico e flexível, aproximando-se assim de um diálogo pessoal em que, mais do que informar, as pessoas se contaminam e trocam sentidos. Enfim, a interatividade na comunicação provocou transformações no esquema clássico da comunicação, pois muda o estatuto do receptor por meio da participaçãointervenção, muda a natureza da mensagem e muda o papel do emissor

57 (SANTAELLA,2004, p. 162). Isso acontece porque a humanidade vive hoje uma cultura influenciada pelo hipertexto que, indiretamente, está relacionado com a polifonia, o dialogismo e a intertextualidade. 2.5 POLIFONIA RADIOFÔNICA O rádio, ainda que pouco valorizado pelos pesquisadores brasileiros, continua sendo um importante difusor de informações e entretenimento. Segundo o IBOPE (2005), nove de cada dez lares brasileiros possuem um aparelho radiofônico. Com este veículo, a transmissão das mensagens passou a promover um sentido de participação nos fatos nunca antes experimentados, fortalecendo, assim, a comunidade. Desde o seu surgimento, essa característica de participação foi acentuada a ponto de esse veículo de massa ser reconhecido como um grande prestador de serviço. Ao considerar o rádio como prestador de serviço, a sua função passa a ser cumprida quando, em uma sociedade democrática, abre os microfones para as pessoas falarem. O rádio possui uma maneira específica de expressão que se dá, sobretudo, no nível relacional. Considerado um grande amigo e aliado das pessoas, o veículo estabelece uma relação de carinho, fidelidade, agradecimento e cumplicidade com os ouvintes. Os receptores não são passivos, mas, sim, participantes do processo comunicativo. O rádio é um convite permanente à imaginação, ao envolvimento e, mesmo, à cumplicidade na realização do processo enunciativo (SALOMÃO, 2003, p. 26). É com o objetivo de estreitar, cada vez mais, esse vínculo emissora/ouvinte, que são estabelecidos nesse meio de comunicação os contratos de leitura. Este termo pode ser entendido como um acordo amplo entre emissor e receptor em que o

58 enunciador estrutura seu discurso a partir do gosto, do comportamento e do estilo do público que se pretende atingir. O pensamento bakhtiniano reforça a idéia de que todo enunciado se dirige a alguém com determinado intuito, ou seja, de que o ato enunciativo é construído por uma pressuposição do destinatário. É justamente por antecipar alguns temas atuais tratados nessa área, que o teórico russo tornou-se conhecido. De acordo com o autor, o estudo da enunciação deve ser o objeto das análises da linguagem. Sua definição de enunciado aproxima-se da concepção atual do texto. O texto é considerado hoje tanto como objeto de significação, ou seja, como um tecido organizado e estruturado, quanto como objeto de comunicação, ou melhor, objeto de uma cultura, cujo sentido depende, em suma, do contexto sócio-histórico. (BARROS apud BARROS e FIORIN, 1994, p. 01) Bakhtin entende que o texto deve ser estudado como um todo, não de forma parcial. A análise do discurso não trata apenas da língua, nem da gramática, mas das abordagens externas e internas da linguagem. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. (ORLANDI, 2000, p. 15) O discurso nunca é autônomo. Ele tem em sua base, toda uma intertextualidade por meio da qual muitas vozes, geradoras de vários textos, se misturam, caracterizando o que Bakhtin denominou polifonia: Emprega-se o termo polifonia para caracterizar um certo tipo de texto, aquele em que se deixam entrever muitas vozes, por oposição aos textos monofônicos, que escondem os diálogos que os constituem (BARROS apud BARROS e FIORIN, 1994, p. 5-6). Nesse contexto, todos os enunciados são dialógicos e não podem ser entendidos isoladamente, mas através do diálogo com outros textos. Para o autor soviético, o texto é (...) um tecido formado polifonicamente por fios dialógicos de

59 vozes que polemizam entre si, se completam ou respondem uma as outras. ( BARROS apud BARROS e FIORIN,1994, p. 4) Diante do exposto, é possível fazer uma relação entre o conceito de polifonia, de Bakhtin, e o conceito de hipertexto, de George Landow (1994, p. 17). Landow entende o hipertexto como uma tecnologia informática que consiste em bloques de textos individuales. Dessa forma, assim como diversas vozes constituem um discurso, vários hipertextos formam a rede das redes. El enlazamiento electrônico, que es una de las características definidoras del hipertexto, encarna la noción (...) de Mikhail Bakhtin en la diversidad de vozes (LANDOW,1994, p. 17) Como foi abordado anteriormente, para Bakhtin, o texto também pode ser objeto de comunicação ou de uma cultura. Nesse sentido, a cultura deve ser sempre relacionada à comunicação, uma vez que os fenômenos culturais só funcionam porque também são fenômenos comunicativos. As leis da comunicação são as leis da cultura. A cultura pode ser estudada completamente sob o perfil semiótico. (ECO apud SANTAELLA, 1996, p. 28). A semiótica percebe os processos comunicativos das mídias também como atividade e processos culturais que criam seus próprios sistemas modelares secundários, gerando códigos específicos e signos de estatutos semióticos peculiares. (SANTAELLA, 1996, p. 29) Essa relação da cultura com a semiótica fica evidenciada na definição de Shukmann: (...) cada trabalho particular de atividade cultural é visto como um texto gerado por um ou mais sistemas. (apud SANTAELLA,1996, p. 28). Assim, o autor coloca a atividade cultural como uma linguagem (texto) que objetiva um ato comunicativo.

60 A cultura da mídia é constituída por vários veículos de comunicação, cada um com uma função específica que se dá através dos códigos e processos sígnicos. Os veículos apresentam potenciais e limites próprios, assim, uma característica fundamental da cultura da mídia é a capacidade de trânsito da informação de um meio de comunicação para o outro, com leves modificações na estrutura, assim como o trânsito do próprio receptor. A notícia no rádio, por exemplo, com suas regras e reduções do conteúdo da informação, tem levado a uma noção de senso comum de que, através desse veículo, o público fica sabendo, primeiro, o que aconteceu. Como aconteceu, ele fica sabendo à noite, na televisão. Os detalhes estarão no dia seguinte, nas páginas dos jornais (SALOMÃO, 2003, p ). É importante ressaltar que a velocidade da comunicação na Internet modifica um pouco essa cultura. Na rede das redes, as informações, além de poderem ser acessadas a qualquer momento, encontram-se disponíveis em diferentes formatos como imagem, áudio e texto. O ciberespaço, portanto, tem provocado muitos efeitos culturais, uma vez que sua estrutura se opõe ao pensamento linear, hierárquico, quebrando, assim, a cultura centrada. A organização dos sistemas hipermidiáticos caracteriza-se por ser uma organização policêntrica. (...) não existe um único centro, mas sim um conjunto dinâmico composto pelos links, sites, páginas, máquinas, homens, instituições etc (...) pode-se dizer que na Internet, o centro está em toda a parte e em lugar nenhum, o que nos leva à definição de acentrado. (LEÃO, 2001, p ) Dessa forma, não existe um roteiro a ser seguido no ciberespaço, pois o próprio navegador escolhe que caminho seguir. Isso é bem diferente de um livro impresso, por exemplo, que possui um conteúdo limitado, com início, meio e fim. No cotidiano, as pessoas sentem essas implicações tendo a necessidade, inclusive, de imprimir o material

61 a ser lido devido à dificuldade de realizar uma leitura na tela do computador. Esse processo é normal, pois o mundo está apenas engatinhando nessa nova era digital. Outro efeito cultural provocado pela Internet é a capacidade de interação por parte do leitor que tem a possibilidade de tecer comentários e modificar a estrutura de uma página na web. Assim, as funções de leitor e escritor misturam-se. (...)la tecnología convierte a los lectores en lectores-escritores, ya que cualquier contribuición o cambio introducido por un lector pronto está al alcance de los demás lectores (LANDOW,1994, p. 31). Conforme já foi dito, foi essa interatividade que provocou mudanças no esquema clássico da comunicação porque altera o estatuto do receptor por meio da participação, modifica a natureza da mensagem e o papel do emissor. A mensagem em circuito é tanto dirigida quanto dirigível por nós, o modo é fundamentalmente interativo ou dialógico (SANTAELLA, 2004, p. 165). Diante de tudo isso, é possível perceber que a mudança cultural vivenciada pelo mundo atual está fortemente influenciada pelo hipertexto e suas características. Apesar de ter características próprias e bem definidas, conforme será detalhado no quinto capítulo dessa dissertação, o hipertexto nada mais é que uma denominação para o texto presente na Internet. Isso comprova a teoria de Bakhtin de que o texto é tão importante e influente que pode ser objeto de uma comunicação ou de uma cultura Discurso na entrevista de rádio A análise do texto oferece pistas sobre a maneira específica como a entrevista radiofônica transmite as informações. O discurso é a interação entre falantes. Trata-se de um sistema aberto, passível de transformações, na medida em que é visto como trocas

62 enunciativas. Bakhtin enfatiza que o discurso (..) não é um acontecimento autoencerrado no sentido de alguma quantidade lingüística abstrata, nem pode ser derivado psicologicamente da consciência subjetiva do falante, tomada em isolamento. (BRAIT apud BARROS e FIORIN, 1994, p ) Para Bakhtin, todo o enunciado se dirige a alguém com determinado intuito, supõe outros enunciados e antecipa respostas ou reações. (BAKHTIN, 1979, p. 311). As idéias do teórico russo sobre o outro no discurso ressaltam o que os estudos sobre a construção de mensagens para o rádio procuram demonstrar: O rádio é muito mais algo pessoal, que vem direto para os ouvintes (...) o radialista não deve abusar dessa natureza direta do meio e considerar o microfone uma entrada para o sistema de discurso público, mas sim, um meio de falar diretamente com o ouvinte individual. (MCLEISH, 1999, p. 16) Portanto, o locutor deve falar como se estivesse próximo, conversando com o receptor. É por isso que os locutores estabelecem, facilmente, uma relação de confiança com os ouvintes. Essa proximidade torna o veículo um companheiro das pessoas. A programação de uma rádio, formada por vários gêneros, é planejada para estreitar essa relação com os ouvintes. Esses gêneros são introduzidos para vincular cada uso da linguagem a uma situação comunicativa. Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos desta utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em formas de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. (...) Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera da utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.(bakhtin, 1979, p. 279) No rádio, esses diferentes gêneros de discursos são produzidos a partir da mesma linguagem. Cabe, assim, a preocupação com a presença do outro na hora de

63 construir um enunciado radiofônico. Isso fica claro, quando ouvimos programas destinados a públicos diferentes. Se o programa for dirigido a jovens, crianças ou agricultores, poderá ter conteúdos semelhantes, mas os discursos, certamente, serão diferentes. Um locutor que apresente programa de culinária destinado às mulheres, por exemplo, jamais se dirigirá a elas como prendas, peonadas, como poderia fazer se o público do programa fosse rural. Por isso, para Bakhtin, o outro é condição de sentido do discurso (BARROS apud BARROS e FIORIN,1994, p. 5) É importante salientar que cada veículo tem uma função específica que se dá através dos códigos e processos sígnicos que atuam em cada mídia, produzindo no receptor efeitos perceptivos diferentes. Nesse contexto, podemos dizer que, no rádio, o papel do ouvinte na comunicação é de co-participante na delimitação do enunciado. O texto radiofônico é escrito a pelo menos duas mãos: locutor e ouvinte; conforme se dá o comportamento discursivo de um, há reação na linguagem e no comportamento do outro. O papel do ouvinte, mesmo silencioso, pode modificar conteúdo e forma: conforme o locutor percebe que sua audiência poderá modificar sua performance e seu texto. (POLETTO, 2003, p. 18) No rádio, prevalece o diálogo em que o emissor produz significações e o destinatário interpreta e constrói sentidos. (...) o próprio advento da cultura das mídias, por si só, modificou sensivelmente todo o território da cultura, transformando-o num território movente, sem contornos definidos, em que formas de produção e recepção de mensagens se intercambiam, se cruzam, constantemente. (SANTAELLA, 1996, p. 43) Sentido é linguagem em movimento, diálogo (SANTAELLA,2004, p. 7). Para dar sentido a algo, portanto, precisamos de diálogo. Isso porque a linguagem viva é também volátil, e para de fato se constituir, depende do ato particular e exclusivo do interpretante, conforme será abordado no capítulo 3 desta dissertação.

64 Nesse contexto, a entrevista radiofônica torna-se importante na medida em que abre espaço para várias vozes dialogarem na tentativa de darem sentido a determinados fatos, afinal, é a linguagem que dá sentido ao ser humano e esse sentido só pode emergir da interação de vozes, deslocamentos e cruzamentos entre o que fala e o que ouve (SANTAELLA, 2004, p ). A conversa pessoal entre dois indivíduos sempre foi considerada a forma mais perfeita da interatividade e a explosão dos novos meios tecnológicos contribuiu para que esse gênero jornalístico ampliasse a abertura de vozes e de discursos no rádio. Um exemplo disso é o celular, pois o aparelho possibilita que o entrevistado conceda a entrevista de qualquer lugar do mundo. No programa Gaúcha Repórter, por exemplo, mais de 90% das entrevistas são realizadas por telefone, o que facilita tanto para a produção localizar a pessoa desejada, quanto para o entrevistado, que contribui com o programa mesmo não podendo se deslocar até a emissora. Além disso, o telefone convencional ou o celular facilitam que os ouvintes possam ligar do automóvel, da rua, de casa, do trabalho etc. para as emissoras. A Internet também influenciou esse processo comunicativo. Os elementos interativos presentes na rede das redes facilitam não somente a troca de informações, mas a troca de sentidos entre os sujeitos que encenam a comunicação face a face. Essa encenação se constrói a partir das ferramentas que são desenvolvidas na medida em que a tecnologia avança. Conforme será detalhado no capítulo 5, a Internet permite atualmente que os internautas se comuniquem através da escrita, do som e/ou da imagem, basta, para isso, que as pessoas tenham o suporte técnico, como caixa de som e câmera. Assim, da mesma forma que as pessoas se cruzam pelas ruas e conversam, elas se encontram na web e dialogam. A diferença é que, mediadas pelo

65 computador, elas não podem manter o contato físico, ainda que esse possa ser estimulado. A interatividade na web evidencia o caráter dialógico da linguagem. Para Bakhtin, a fala não é propriedade privada. Linguagem é fluxo constante tal como as redes comunicacionais do ciberespaço potencializam (SANTAELLA, 2004, p. 171). Esses fluxos são, na entrevista radiofônica, os discursos individuais que passam a ter sentido a partir de enlaces das vozes que se questionam, se confrontam e se contestam a fim de manter uma comunicação num espaço onde a diversidade deve ser privilegiada. A entrevista radiofônica, portanto, pode conter muitas falas e, por meio delas, uma grande variedade de outros gêneros que se articulam no interior de um texto. O intertexto é quem tece um enunciado, às vezes (...) o discurso parece estar tratando do referente X, quando na verdade, o que está em tela é o referente Y, oculto nas malhas da intertextualidade. É ilusão referencial. (BLIKSTEIN apud BARROS e FIORIN, 1994, p. 46) Assim, quando um entrevistado, por exemplo, fala algo, alguns ouvintes, no plano da superfície, captam o ilusório, porém, outros, na estrutura profunda do intertexto, absorvem, inconscientemente, o que corresponde às reais intenções do enunciador. Enfim, são muitos os elementos que devem ser considerados na hora de analisar um discurso radiofônico, seja um texto, uma entrevista ou um programa. O rádio é um veículo de comunicação complexo, caracterizado pela intertextualidade, onde vozes falam e polemizam, reproduzindo o diálogo com outros textos. Esse meio de comunicação de massa, reconhecido por prestar serviço, necessita da polifonia para sobreviver e para cumprir seu papel numa sociedade democrática. Para isso, o veículo conta com as ferramentas da web para ampliar sua interação com os ouvintes.

66

67 3 VOZES QUE TECEM O RÁDIO: ENTREVISTADOR, ENTREVISTADO E OUVINTE 3.1 RÁDIO: CONTRATOS DE LEITURA E VINCULAÇÃO SOCIAL Desde que o rádio passou a existir para a grande maioria da população do Rio de Janeiro e, posteriormente, para o resto do Brasil, houve uma preocupação no sentido de criar uma linguagem específica para esse meio de comunicação. Apesar de serem uma novidade encantadora, os programas, na década de 20, eram muito amadores, não possuíam um ritmo e um tom adequado ao veículo, como explica Ademar Casé, um dos grandes nomes dos primórdios do rádio brasileiro. O amadorismo das rádios daqui não permitia uma dinâmica maior. Quando um músico e um cantor iam se apresentar, o speaker anunciava o número e, depois, desligava o microfone, para que pudessem afinar os instrumentos e até fazer um rápido ensaio. Enquanto isso, o ouvinte ficava totalmente abandonado (apud CASÉ, Rafael, 1995:39). Esse amadorismo prejudicava bastante as vendas, inicialmente dos aparelhos radiofônicos e, depois, da publicidade. Além disso, a programação, feita pela e para a elite não agradava a todos os receptores. Para que o veículo sobrevivesse, portanto, era necessário que mudanças urgentes fossem realizadas. Preocupados com os ouvintes e com a manutenção do rádio, Casé e Roquette-Pinto 7 começaram a popularizar o veículo, com o objetivo de estreitar um vínculo emissora/ouvinte. Nesse período, ocorria no rádio brasileiro o primeiro contrato de leitura, em que o enunciador estrutura seu discurso a partir do gosto, do comportamento e do estilo do público que se pretende atingir. Hoje, essa prática ainda é muito utilizada. 7 Historicamente Roquette-Pinto ficou conhecido como sendo o precursor do rádio no Brasil, por ter inaugurado em 20 de abril de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. (CASÉ,1995, p. 28)

68 Os contratos podem ser entendidos como um acordo afetivo-intelectivo que os media e públicos estabelecem entre si. Os contratos revelam a opção do receptor não apenas por um modo de se mostrar no mundo, mas denotam definições a partir de identificações e representações que se estabelecem a partir do político e do ideológico, da ética e a moral, o estético e o psicológico. (SALOMÃO, 2003, p. 47) Como um discurso pode gerar mais de um efeito, Antônio Fausto Neto entende que o contrato de leitura nem sempre é correspondido pelo receptor. O autor defende que as relações entre a recepção e os produtos não se estruturam apenas nos conteúdos, mas sobre os planos de modalização e a estratégia do dizer (apud SALOMÃO, 2003, p. 26). Dessa forma, é possível pensar que, mesmo o ouvinte ideal sendo uma ilusão, a grade de programação de uma rádio é construída a partir do receptor pressuposto. As pautas, a linguagem, até mesmo a maneira de se comunicar dependem, fundamentalmente, do público-alvo. A Rádio Gaúcha, por exemplo, constrói sua programação para atingir um público das classes A e B, seguindo os índices do Ibope (ANEXO I) que as apontam como ouvintes predominantes da emissora. Ainda com o objetivo de estreitar essa relação entre emissor e receptor, a direção da Gaúcha realiza anualmente pesquisas para saber o que o ouvinte deseja e quais programas devem ser modificados ou inseridos na grade (MORETTO, 2004). Quanto mais o receptor é levado em conta na hora de estruturar a programação, maior a potencialidade do rádio como grande companheiro das pessoas. Essa relação de cumplicidade não ocorre só na atualidade, quando a Internet permite a comunicação de mão-dupla e possibilita, por meio de recursos tecnológicos, conhecer ainda mais o perfil de seu usuário. Por exemplo, os s dos ouvintes, que chegam ao departamento de

69 jornalismo da Gaúcha, podem refletir o tipo de assunto que desejam encontrar na programação da emissora. Outro exemplo de relação entre meio e ouvinte pode ser retirado da Segunda Guerra Mundial, quando os judeus viraram especialistas para fugir das atrocidades dos nazistas e o rádio passou a ser o companheiro de muitos deles. Num trecho do Diário de Anne Frank, ela descreve que um dos momentos mais felizes no esconderijo com a sua família era quando o pai e o tio sintonizavam emissoras, inclusive dos países aliados, para ouvir notícias e músicas. Anne e sua família não tinham acesso aos jornais, mas podiam, por meio do rádio, conhecer os pontos de vista de cada mensagem sobre a guerra e formar, então, uma opinião própria que ora era esperançosa, ora beirava o desespero. Quando uma emissora tocava música, era o entretenimento preferido da família. (...)El mes que viene nos toca a nosotros entregar la radio. Kleiman tiene en su casa una radio miniatura clandestina, que nos dará para reemplazar nuestra Philips grande. Es una verdadera lástima que haya que entregar ese mueble tan bonito, pero una casa en la que hay escondidos no debe bajo ningún concepto, despertar las sospechas de las autoridades. La radio pequeñita nos la llevaremos arriba, naturalmente. Entre judíos clandestinos y dinero negro, qué mas de una radio clandestina. Todo el mundo trata de conseguir una radio vieja para entregar en lugar de su fuente de ánimo. De veras es cierto que a medida que las noticias de fuera van siendo peores, la radio con su voz maravillosa nos ayuda a que no perdamos las esperanzas y digamos cada vez. Adelante, ánimo, ya vendrán tiempos mejores! (FRANK, 1996, p. 100) Apesar da existência concreta do som, a representação dos fatos pelo rádio depende, necessariamente, do conhecimento prévio do ouvinte sobre o assunto e sobre o conjunto de palavras e regras que ele utiliza, o que é denominado repertório. O repertório não varia por acaso, a olho, de pessoa para pessoa; ele depende da vivência e da cultura de cada um, e a cultura depende da faixa socioeconômica em que se situa o receptor. (PIGNATARI, 2002, p. 15)

70 Portanto, para que haja um entendimento entre locutor e ouvinte é necessário que o repertório de ambos contenha um alto grau de similaridade. Para que a comunicação seja horizontal, a fala de um deve ser a linguagem do outro. (POLETTO, 2003, p. 123) Uma mensagem é elaborada pela fonte com elementos extraídos de um determinado repertório e será decodificada por um receptor que, nesse processo, utilizará elementos extraídos de outro repertório; para que a mensagem seja significativa para o receptor, é necessário que os repertórios de F (fonte) e o de R (receptor) sejam secantes, ou seja, tenham algum setor em comum. Se os dois repertórios forem exteriores totalmente um ao outro, a informação não é transmitida ao receptor. Por outro lado, se ambos os repertórios forem absolutamente idênticos (...) em nada alterará seu comportamento (...) (NETTO, 2003, p. 124). Os repertórios dependem, portanto, de hipercódigos comuns a todos os indivíduos. Estes, porém, são alterados pelo uso de cada pessoa ou grupo, surgindo, assim, os chamados repertórios de classe. É importante salientar que o nível repertorial influencia na audiência de cada veículo de comunicação: Quanto maior o repertório de uma mensagem, menor será sua audiência e vice-versa, isto é, repertório e audiência estão numa proporção inversa em relação ao outro (NETTO, 2003, p. 127). O motivo é que grande parte da população possui um nível muito baixo de repertório e, conseqüentemente, de compreensão. Segundo dados do Censo Demográfico 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil cerca de vinte e quatro milhões de pessoas não-alfabetizadas; dessa forma, se um veículo elevar seu conteúdo, a tendência é que, devido à incompreensão, os receptores migrem para outros meios de comunicação. Ao seguir esse raciocínio sobre a compreensão ou não da informação, é possível perceber que a similaridade de repertório torna-se mais necessária no rádio, onde há

71 muitas restrições vocabulares devido à heterogeneidade do público. A preocupação em falar de maneira acessível a qualquer pessoa que ligue o rádio sempre foi levada em consideração pelo apresentador do Gaúcha Repórter. Martins, antes de ser comunicador, atuou algum tempo como advogado, levando para o rádio vícios de linguagem da referida profissão. Para conquistar o carinho, o respeito e a audiência dos ouvintes, necessitou alterar sua forma de comunicar. (...) eu procuro falar a linguagem da média das pessoas. Durante muito tempo fui advogado, então eu tinha o vício de usar uma linguagem de bacharel, que era muito criticada. Eu levei tempo para mudar porque o bacharel em direito tem um vício de linguagem. Mas, me dediquei tanto, me esforcei tanto, que hoje seria incapaz de voltar a ser advogado porque eu virei o fio, a minha linguagem tem, hoje, muito de comunicador social, uma linguagem que todo mundo entende. (MARTINS, 2004) Para assegurar esse grau de inteligibilidade, a redundância é um recurso muito utilizado nas mensagens radiofônicas. Redundância é o que é dito (verbal ou graficamente, ou por outro meio qualquer) em demasia, com a finalidade de facilitar a percepção e compreensão da mensagem (NETTO, 2003, p.135). A redundância objetiva, ainda, a absorção dos ruídos na mensagem que prejudica a compreensão. (...) ruído é todo sinal ou signo indesejável, que não se pretendia transmitir (NETTO, 2003, p. 137). Enfim, cada canal de comunicação tem uma natureza específica e está capacitado para transmitir melhor uma determinada espécie de signo. O rádio é o veículo de comunicação que mais estimula a imaginação das pessoas, de modo que, ao ouvir a voz do locutor, a mente do ouvinte pode criar um cenário único. À medida que o emissor faz a transmissão, que pode ser enriquecida com efeitos sonoros ou músicas para dar mais vida ao fato, as imagens vão surgindo na cabeça do receptor. Sendo assim, para Gaston Bachelard (1985), a falta de imagem deste veículo não consiste em uma desvantagem. (...) a ausência de um rosto que fala não é uma inferioridade: é uma

72 superioridade; é precisamente o eixo da intimidade que vai se abrir. (...) O rádio possui tudo que é preciso para falar na solidão. Não necessita de rosto (BACHELARD apud HAUSSEN,1979, p. 3) Dessa forma, o rádio possui uma maneira própria de expressar os fatos que, embora artificial e fragmentária, pode ser satisfatória e convincente. O som é bastante suscetível a distorções, por isso o profissional que atua neste veículo deve ter a responsabilidade e a integridade em produzir um relato o mais justo, honesto e factual possível. Ainda assim, a construção dos fatos dependerá da imaginação e do repertório de cada indivíduo. Nas entrevistas radiofônicas, essa relação entre emissor e receptor torna-se ainda mais complexa. Afinal, o entrevistador necessita se fazer entender e interpretar, quando necessário, o conteúdo transmitido pelo entrevistado. Nesse sentido, é muito comum produtores radiofônicos optarem por entrevistados que facilitem o trabalho do entrevistador. Ao escolherem personagens comunicativos para opinar, debater ou relatar sobre um determinado assunto, esses produtores acabam por restringir-se a uma agenda de telefones, limitando a quantidade de vozes que poderia tornar o rádio um dos veículos mais democráticos. Nessa ação, na verdade, são diminuídos riscos de levar ao ar um entrevistado desconhecido de uma viciada agenda, bem como pode ser possível escamotear a falta de profissionais que dominem a arte da entrevista. Por outro lado, são reduzidas as possibilidades de o entrevistador demonstrar o seu talento na condução de uma entrevista ou enfrentar novos desafios para ganhar experiência e estabelecer um triplo vínculo: entrevistador, entrevistado(s) e ouvinte participativo.

73 O rádio, quando transposto para a Internet, já deveria deixar de ser chamado dessa forma, pois ganha outras características técnicas e de linguagem verbal e nãoverbal (MEDITSCH, 2001, p. 229). As possibilidades de uma entrevista realizada na rede das redes serão detalhadas no capítulo 5 desta dissertação. Aqui, no entanto, vale destacar o ponto de vista do sociólogo Domique Wolton, que valoriza as vantagens proporcionadas pela Internet, mas faz um alerta: O limite aqui é competência. O acesso a toda e qualquer informação não substitui a competência prévia, para saber qual a informação procurar e que uso fazer desta. O acesso direto não suprime a hierarquia do saber e do conhecimento. (grifo do autor). E há certa bravata em acreditar que é possível se cultivar sozinho por pouco que se tenha acesso à rede ( WOLTON, 2003, p. 87). Nesse sentido, Wolton mostra que as tecnologias avançadas da comunicação não são as únicas responsáveis pelo progresso de uma sociedade. 3.2 AS RELAÇÕES ENTRE ENTREVISTADOR, ENTREVISTADO E OUVINTE A comunicação, conforme exposto no segundo capítulo, consiste num sistema interacional através do qual os sujeitos se emocionam, se contaminam e produzem efeitos uns sobre os outros. Dessa forma, destinador e destinatário vão se modificando e se construindo na comunicação. Este jogo fica bastante evidente na entrevista radiofônica porque a trama comunicativa é complexa por estabelecer fluxos comunicacionais diretos e diferentes. O primeiro fluxo ocorre no diálogo entre entrevistador e entrevistado que irá influenciar diretamente os ouvintes. Essa interação-natural na comunicação humana em nível oral exerce um efeito de aproximação no ouvinte que se sente incluído no nível coloquial ainda que não possa participar (PRADO,1989, p. 57). Isso acontece devido a um grande

74 número de pessoas gostar de ouvir os outros conversarem, principalmente quando esse ato é realizado em meios de comunicação. Afinal, parte-se do pressuposto de que os indivíduos colocados em diálogo são versados no assunto. Ainda que essa afirmação não se aplique em alguns casos pois durante uma entrevista pode haver apenas uma pretensa propriedade que acaba por iludir o ouvinte em ambos os exemplos, independente do ponto de vista ético e objetivos pretendidos, há uma troca de comunicação entre entrevistador e entrevistado que esperam audiência. Da trama comunicacional interpessoal estabelecida entre entrevistador e entrevistado, unidos no papel de emissor, surge uma dupla comunicação unidirecional em relação aos ouvintes. Em outras palavras, embora a interação entre entrevistador e entrevistado seja, muitas vezes, a única explícita, a principal intenção da conversa é atingir os receptores. Por um lado, uma comunicação unidirecional direta surge das respostas do entrevistado. Por outro lado, se produz uma comunicação unidirecional distinta, que surge também das respostas, mas é provocada pela ação entrevistadora do jornalista. Muitas vezes produz-se também outro fluxo unidirecional descritivo, que se desprende das observações, narrativas e descrições efetuadas pelo jornalista transportador de informações, mas que não exigem o contraste do entrevistado. (PRADO,1989, p. 58) Essa trama comunicacional envolvendo entrevistador, entrevistado e ouvinte, a partir de diversos fluxos, torna-se mais clara no Esquema do Universo Comunicativo da Entrevista, idealizado pelo espanhol Emílio Prado.

75 FIGURA 01 Esquema do Universo Comunicativo da Entrevista. Figura 1. Emílio Prado, 1989, p. 58 A partir desse esquema, é possível visualizar a entrevista como um jogo desafiante. De um lado, o entrevistador usa de suas estratégias para questionar e obter uma revelação. Interessante perceber que é o entrevistador quem dita as regras do jogo, pois é ele quem começa e termina a partida e quem determina o curso a ser seguido, além de ser o único, pelas regras pré-estabelecidas, que pode perguntar e até interromper o outro, sem que, para isso, haja constrangimento. Do outro lado está seu adversário, alguém que tenha algo a revelar e, por isso, constitui-se no entrevistado. O desafio estabelecido só termina com o final do jogo. Ele é instituído ser escolhido-a-revelar e da mesma forma ele tem uma partida a ser jogada: evitar a destruição e, se possível, ter benefício no jogo com relação ao ouvinte (mistério da credibilidade) (CHARAUDEAU, apud MEDITSCH, 2005, p. 227). É preciso ressaltar,

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