Programa para Auxiliar aos Tetraplégicos na Edição de Textos

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1 Programa para Auxiliar aos Tetraplégicos na Edição de Textos William T. Watanabe 1, J.L.S.G. Almeida 1, Márcia A. S. Bissaco 1 1 Núcleo de Pesquisas Tecnológicas (NPT), Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Brasil Resumo Este trabalho apresenta um editor de textos desenvolvido para tetraplégicos, que inclui um novo sistema de inserção de letras que previne o movimento excessivo da cabeça e aumenta a velocidade de digitação sem causar efeitos colaterais como a fadiga e a tontura. Este sistema tem um banco de palavras e de frases que diminuem a digitação repetitiva e uma nova forma de selecionar trechos do texto para o tetraplégico formatar. Os testes de funcionalidade mostraram que o editor é mais rápido que o teclado virtual, diminuindo em 1/6 o número de clicks. Palavras-chave: inclusão digital, tetraplegia, editor de textos. Abstract - This work presents a text editor developed for tetraplegics, which includes a new system of letter insertion to avoid excessive head movement and increase the typing speed without causing collateral effects, such as fatigue and giddiness. This system has a phrase and word database to reduce repetitive typing, and also a new way for selecting parts of texts that the tetraplegics wish to format. The functionality tests showed that the editor is faster than the virtual keyboard. Furthermore, the system decreases the number of mouse clicks by 1/6. Key-words: digital inclusion, quadriplegia, text editor. Introdução Os portadores de deficiência engrossam as fileiras dos excluídos digitais devido às dificuldades no manuseio do computador. Para digitar um texto nos editores de textos existentes, como o Microsoft Word, é necessário um dispositivo de entrada de letras, geralmente o teclado, que é inacessível às pessoas portadoras de tetraplegia. Para auxiliar a inclusão digital dessas pessoas foram desenvolvidos dispositivos, que deslocam o cursor lateral e verticalmente na tela do microcomputador e efetuam a ação de click [1] [4], utilizando os movimentos preservados da cabeça, da língua ou das sobrancelhas. Estas ações possibilitam o acesso ao teclado virtual do Windows, que permite a edição de textos através do click do mouse sobre a tecla desejada. Entretanto, a digitação é muito lenta e cansativa [3], pois os teclados virtuais existentes [5] se baseiam em vários botões organizados lado a lado, forçando o usuário a movimentar o ponteiro do mouse por toda a extensão deles. A maioria também não possui nenhum recurso de formatação, nem capacidade de trabalhar com arquivos, de tal forma que todo o trabalho de digitação é perdido, exceto naqueles que enviam o texto digitado para um editor de texto. Além disso, o mouse virtual não é muito preciso, não proporcionando a funcionalidade desejada e causando fadiga após curto período de utilização. Assim sendo, neste trabalho foi implementado um editor de texto com um novo sistema de seleção de caracteres e um banco de palavras de frases, que visa preservar o tetraplégico dos efeitos colaterais causados pelo uso prolongado do teclado virtual. Materiais e Métodos Para desenvolver o editor de texto foram inicialmente obtidas informações sobre os futuros usuários junto às fisioterapeutas do grupo de pesquisa, que no dia-a-dia trabalham com alguns deles. Estas informações conduziram à elaboração de um novo sistema de seleção de caracteres, que exige menos movimentação e clicks do mouse que o teclado virtual, além de um banco de palavras e de frases para evitar digitações repetitivas. Os algoritmos foram elaborados e implementados empregando uma ferramenta de desenvolvimento de aplicações para Windows, o ambiente de programação Delphi versão 6.0, que apresenta uma abordagem baseada em formulários e orientada a objetos, possibilitando a criação de uma interface amigável de fácil interação com o usuário.

2 A funcionalidade e a adequação do programa desenvolvido foi comparada com o teclado virtual do Windows. Para tanto foram quantificados o tempo gasto e o número de clicks. Os voluntários utilizaram um mouse comum habitualmente usado por pessoas não tetraplégicas durante 20 minutos para adaptação e, em seguida, digitaram os textos propostos. Os testes também foram realizados com o dispositivo de acesso ao computador, desenvolvido por [4] especificamente para tetraplégicos. A movimentação do mouse foi realizada com os movimentos preservados da cabeça e o click do mouse através da inflação da bochecha. Implementação O primeiro passo consistiu na elaboração da interface utilizando componentes do Delphi, tais como botões, caixas de texto e outros. Em seguida, a implementação dos eventos a eles associados. a) Seleção de caracteres O sistema de seleção de letras foi elaborado de modo que o alfabeto é exibido, letra após letra, quando o cursor do mouse é posicionado sobre os botões com o ícone de uma seta (para cima/baixo). O botão da seta para cima é responsável pela exibição automática da letra seguinte e, o da seta para baixo, pela letra anterior. A letra desejada é enviada para a área de edição quando o usuário efetuar o click sobre o botão inserir. O mesmo ocorre para a inserção de números e caracteres especiais. b) Velocidade e Aceleração A velocidade controla o tempo de exibição dos caracteres e a aceleração foi introduzida para facilitar e agilizar o processo de seleção dos caracteres, como exemplificam os dois casos citados a seguir: 1º caso: é exibida a letra A, mas deseja-se a letra P; 2º caso: é exibida a letra A, mas deseja-se a letra B; No 1º caso, o usuário pode aumentar a velocidade de alteração dos caracteres para uma seleção mais rápida. Porém, se a velocidade for mantida, a letra B no 2º caso passaria rapidamente, dificultando sua seleção. Portanto, a introdução da aceleração permite que a velocidade aumente gradativamente, facilitando a seleção tanto do caractere próximo quanto do caractere distante. c) Banco de palavras e de frases Na primeira ocorrência, todas as palavras digitadas e as frases formadas são inseridas automaticamente no banco de palavras e de frases. Isto permite ao tetraplégico seleciona-las quando iniciar a digitação em outras ocasiões, evitando dessa forma digitação repetitiva e movimentação excessiva. d) Classificação das palavras e das frases Com a utilização do editor, a tendência do banco de palavras e de frases é aumentar cada vez mais. Dessa forma, procurar a palavra ou a frase desejada no meio de tantas outras se torna uma tarefa demorada e cansativa, mesmo que elas estejam organizadas em ordem alfabética. Para facilitar esta tarefa, foi implementado um sistema de escolha das palavras que leva em consideração sua classificação gramatical. Assim sendo, todas as palavras e as frases inseridas no banco de dados são inicialmente consideradas pelo editor como não classificadas. Para classificá-las, o tetraplégico deve pressionar o botão Classificar Palavras, que apresentará um formulário para escolha e classificação da palavra em categorias e, após a realização das alterações desejadas, deve pressionar o botão Salvar Alterações. A classificação das palavras em categorias pode ser um pouco trabalhosa, mas uma vez realizada, as palavras e frase associadas a ela serão selecionadas mais facilmente. e) Formatação do texto Para o tetraplégico é difícil realizar simultaneamente os movimento de clicar e arrastar. Isto dificulta a seleção de palavras ou de algum trecho do texto e, dependendo do mouse virtual utilizado, deve ser empregado um esforço maior para executá-los. Para solucionar este problema, foram acrescentados os botões Início e Fim. Assim, o tetraplégico escolhe uma extremidade do trecho de texto a ser selecionado, que pode ser tanto o início quanto o fim, visto que o algoritmo corrige automaticamente. Também não há problema quanto ao número de clicks realizados, pois apenas o último é considerado. O click sobre o botão Início indica o início e, após o posicionamento do cursor do mouse na outra extremidade do trecho a ser selecionado, o click sobre o botão Fim indica o fim. Com isso, o trecho do texto é selecionado

3 automaticamente, necessitando somente escolher a formatação (cor, fonte, tamanho...) desejada ou as ações apagar, copiar e outros. Resultados A Figura 1 apresenta a tela principal do editor de texto implementado. Figura 2 - Utilização do editor: edição de texto com 38 palavras. Figura 1 - Tela principal do editor de texto A Tabela 1 mostra o tempo gasto e o número de clicks realizados durante a digitação de dois textos: um com 38 palavras (Figura 2) e outro com 70 palavras (Figura 3). Tabela 1 - Tempo gasto e número de clicks efetuados na composição dos textos. 38 palavras 70 palavras Teclado Virtual Editor Tempo (minutos) 3,33 1,59 N o. de clicks Tempo (minutos) 9,03 6,06 N o. de clicks Figura 3 - Utilização do editor: edição de texto com 70 palavras.

4 Figura 4 - O autor com o dispositivo de acesso ao computador e a fisioterapeuta Figura 5 - O autor testando o Editor com o dispositivo de acesso ao computador desenvolvido por Almeida et al. (2003). Discussão e conclusões Os testes de funcionalidade realizados foram satisfatórios. O programa funcionou como esperado, prolongando consideravelmente o tempo de digitação sem tonturas ou fadigas. O banco de palavras e de frases reduziu consideravelmente o número de clicks efetuados durante a digitação dos textos propostos e a formatação foi facilitada com o sistema de seleção de trechos do texto, que dispensa o movimento de clicar e arrastar. Na Tabela 1 observa-se que a digitação de um texto com 38 palavras utilizando o editor é 2 vezes mais rápida que a realizada com o teclado virtual, além de diminuir em 1/6 o número de clicks necessários. Já na edição de um texto com 70 palavras, pode-se observar que o número de clicks foi reduzido a 1/3, pois o número de clicks varia de acordo com o tamanho das palavras. Por exemplo, para digitar o artigo a é necessário um único clique tanto no editor quanto no teclado virtual. Porém, a digitação de palavras maiores é realizada letra por letra no teclado virtual e, conforme o número de palavras retornadas pelo banco de palavras, com apenas 2 clicks no Editor. A movimentação demasiada da cabeça para todos os lados causa tontura, quando o dispositivo de acesso ao computador é utilizado, mas o editor diminuiu esses movimentos com o auxílio de seu sistema de seleção de caracteres e do banco de palavras e de frases. Com o sistema de seleção de caracteres foi possível escolher todas as letras com um único botão, mantendo o cursor parado, enquanto as letras foram alteradas automaticamente. Esse período também serviu como um pequeno repouso entre um movimento e outro. Se o usuário tiver um bom domínio sobre o dispositivo de acesso ao computador, ele pode aumentar a velocidade de alteração dos caracteres e também pode controlar a aceleração, para que a velocidade aumente gradativamente. O botão Auto também auxiliou bastante, pois eliminou a preocupação com a caixa do texto (alta ou baixa) e a tabulação (quando se pula de linha). O banco de palavras e de frases desempenhou um papel importante, pois foi responsável pela diminuição do número de clicks do mouse em todos os testes realizados. O editor funcionou como esperado, embora tenha havido alguns problemas inerentes ao próprio dispositivo de acesso ao computador: na direção lateral o cursor se movimentava muito pouco. Ele está pronto para a apreciação das pessoas para as quais foi desenvolvido. Agradecimentos À FAEP (Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa da UMC) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo auxílio financeiro. REFERÊNCIAS Moraes, J. C. T. B. (2000), Engenharia de Reabilitação e Dispositivos Assistenciais: Estado da Arte e Perspectivas. In: XVII Congresso

5 Brasileiro de Engenharia Biomédica, Florianópolis, Brasil. Larissa B. A., Santos, R., Santos, G., Corso, W., Martins, S. B., Nohama P. (2000), Plugga: Sistema de Comunicação para Indivíduos Tetraplégicos. In: XVII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica Ilha de Santa Catarina - Brasil, pp. 81. Müller A.F., Zaro M.A., Silva Jr. D.P., Sanches P.R.S., Thomé P.R.O., Ferlin E.L., Lopes D.R. (2000), Dispositivo Emulador de Mouse dedicado à pessoas Tetraplégicas ou portadoras, XVII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica Ilha de Santa Catarina - Brasil, pp. 79. Almeida, J.L.S.G., Komatsu, E.M., Frère, A. F. (2003), Periféricos de baixo custo para inclusão digital do tetraplégico In: Proceedings of the IADI INTERNATIONAL CONFERENCE WWW/Internet, Algarve,. (CD-ROM) Acessibilidade, Internet site address: dor.htm acessado em 10/05/2004. Contato Rua Alberto Rodrigues Bio, 834 Jd. Carlos Cooper Suzano SP Tel: watanabe_william@hotmail.com