PROJETO TIQUINHO DE ALEGRIA COMO ESTRATÉGIA DE HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA PEDIÁTRICA:UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

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1 PROJETO TIQUINHO DE ALEGRIA COMO ESTRATÉGIA DE HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA PEDIÁTRICA:UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Jéssica Íris Franco da Silva¹, Deborah Helena Batista Leite¹, Rafaela Coutinho de Carvalho¹, Thalita Almeida de Oliveira¹, Iaponira Cortez Costa de Oliveira² ¹ Graduandas em Enfermagem - Universidade Federal da Paraíba ² Professora Enfermagem. Doutorado em Administração Hospitalar- UEX/ Espanha INTRODUÇÃO Na maior parte do tempo de hospitalização, a criança fica restringida ao leito, submetida à passividade, cercada de pessoas estranhas e que, para ela, trazem mais dor e sofrimento. Dor representada pelas agulhas, cortes, medicações que ardem na pele, dentre outros procedimentos desagradáveis, até mesmo para um adulto. Imagens, cheiros e sons estranhos no hospital, comuns para os profissionais de saúde, podem ser ameaçadores e confusos para as crianças (OLIVEIRA, et al. 2005). O brincar aparece como uma possibilidade de expressão de sentimentos, preferências, receios e hábitos; mediação entre o mundo familiar e situações novas ou ameaçadoras; e elaboração de experiências desconhecidas ou desagradáveis (MITRE, 2000). Ao brincar no hospital, a criança altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, o que pode ter um efeito bastante positivo em relação a sua hospitalização. Com isso, a própria atividade recreativa, livre e desinteressada, tem um efeito terapêutico, quando se considera terapêutico tudo aquilo que auxilie na promoção do bem-estar da criança (MOTTA, 2004). O Projeto de Extensão Tiquinho de Alegria é desenvolvido no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem como lema humanizar a assistência à criança hospitalizada e promover ações educativas em saúde. Semanalmente são realizadas intervenções nas enfermarias

2 da Clínica Pediátrica- cirúrgica, por estudantes vestidos de palhaços, que interagem tanto com o binômio criança-família, como também com os profissionais do serviço. Diante das considerações, este estudo teve como objetivo relatar a importância de ser palhaço cuidador na formação pessoal e profissional de acadêmicos de Enfermagem, a partir da visão do impacto que tem a hospitalização na vida de crianças e adolescentes atendidos na clínica pediátrica-cirúrgica do HULW. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA Trata- se de um relato da experiência de alunos de graduação do curso de Enfermagem, integrantes do Projeto de Extensão/UFPB Tiquinho de Alegria: humanizando a assistência à criança hospitalizada e promovendo ações educativas em saúde. O dia no HULW começa com aquela preguiçinha em dia de domingo. Entretanto, quando nos lembramos que seremos parte de um bem maior que é trazer alegria para as crianças da pediatra no hospital... Xô preguiça! Não há felicidade maior do que a preparação de tudo aquilo que faremos antes de chegarmos na clínica. A maquiagem (não muito para não assustar), a roupa à carácter e o poderoso nariz vermelho. Geralmente, há muitas crianças, de bebês até as maiores. E quando o grupo chega, muitas já estão no corredor e logo se enturmam. O primeiro contato é com a equipe de enfermagem que está assumindo o plantão, onde nos informam sobre a quantidade de leitos e ocupados, quais as restrições e se podemos atuar. Todavia, caminhando em direção ao balcão, os quartos com janelões de vidro logo expõem a presença do grupo o que já atenta as crianças que estão internas. Um tchauzinho vale nessa hora, antes de realmente iniciar as palhaçadas. As brincadeiras consistem basicamente em bolhinhas de sabão e bichinhos feitos de bexiga, que é sucesso garantido entre os pequenos. Percepção dos palhaços sobre os acompanhantes: É muito gratificante participar e fazer parte desta pelo fato de proporcionar alegria e animação tanto para as crianças como para os acompanhantes, já que todos os se beneficiavam das brincadeiras, distraindo-se juntamente com as crianças, sendo perceptível a alegria e o sorriso estampado no rosto de cada um. As intervenções causam alívio e distração, o que torna importante para ambos, por ser uma forma de esquecer os problemas. A

3 felicidade demonstrada por cada acompanhante é sinal que a palhaçoterapia causa efeitos positivos. (P. 1) A família das crianças sempre nos recebem com semblantes maravilhados, e estão sempre nos questionando sobre o projeto, querem saber mais de nós. É difícil conseguir explicar a felicidade que sinto em meu interior quando eles riem de nossas brincadeiras e expressam a gratidão através de falas como: que trabalho lindo, Deus abençoe vocês, meu filho (a) nunca se divertiu tanto, venham mais vezes. (P. 2) Com a palhaçoterapia e o projeto, temos também a missão de aconselhar e divertir também os acompanhantes. Muitos agradecem a nossa visita e às vezes quem não quer nos deixar ir embora são eles em vez das crianças. Belíssimo projeto, gostei disse uma acompanhante. E outro, Foi Deus que mandou vocês para nos fazer essa visita. Parabéns.. E é esse tipo de apoio e amor dessas pessoas que faz desse projeto tão especial. (P. 4) Os acompanhantes também fazem parte do contexto hospitalar, mesmo as intervenções tendo como público-alvo as crianças hospitalizadas. No geral, ficam maravilhados com a presença dos palhaços, sempre querem tirar fotografias para mostrar aos seus familiares e guardar como recordação. Esse conjunto é de extrema importância para cada extensionista, já que a palhaçoterapia se torna bastante positiva e eficaz. A cada intervenção pode-se observar quanto à presença da família é fundamental no cuidado à criança hospitalizada, já que significa uma fonte de proteção e segurança para a mesma, e desta forma proporciona um ambiente menos hostil. Interação dos palhaços com os profissionais: Quase todas as vezes que entro em uma enfermaria, vejo as enfermeiras e técnicas fazendo suas evoluções e administrando os medicamentos prescritos pelos médicos, os residentes indo e vindo fazendo anamnese e consultando. E quando isso acontece, me ponho no cantinho e espero para poder também cuidar dos meus pacientes com a musicoterapia. Sinto a sintonia de cada profissional, cada um com sua função para o serviço dar certo. É sabido, porém, que o cansaço e a rotina hospitalar cumulam em

4 desânimo, mecanicismo e frieza para com o outro. Todavia, tento arrancar ao menos um sorriso de cada um que encontro e logo sinto a presença de uma pessoa normal, de carne e sangue como eu e que tem dentro de si: alegria! É gratificante demais para mim, sendo acadêmica de enfermagem, sentir minhas colegas de profissão doando-se em prol do bem estar e do cuidado. (P. 3) A importância dos profissionais de Enfermagem no ambiente que estamos é indispensável. Quando estamos com alguma dificuldade ou alguma informação dos pacientes que ali estão, é muito importante. O melhor de tudo é quando estamos em uma brincadeira e vem esse profissional da alegria integrar conosco, parecendo que estamos de férias e não à trabalho. Mas não só os profissionais de Enfermagem que estão com a gente. Os residentes também são muito alegres e também dançam e cantam, se esquecendo de que a criança por um instante está enferma. Isso traz uma alegria imensa ao coração de uma criança, e ver todos aqueles profissionais se dando ao máximo apoiando o nosso projeto, é ter um ataque cardíaco de tanta felicidade. Belíssimo trabalho, Vocês trazem alegria, amor e humanização ao hospital, são algumas das frases que ouvimos por parte dessa categoria que me faz não desistir desse projeto. (P. 4) Os profissionais do setor sempre se demonstram muito agradáveis, nos acolhendo com bastante carinho e atenção. As atividades, como supracitado, são direcionadas também a estes, e têm o objetivo de romper um pouco com a seriedade e dar ânimo. A equipe, frequentemente, agradece a presença do grupo por poder ajudar no trabalho um do outro, até quando algum palhaço falta eles sentem sua ausência.. Percepção dos palhaços sobre as crianças: Nós, participantes desse projeto temos o intuito de levantar a autoestima, amenizar o desconforto e sofrimento que passam no hospital. E percebe-se que durante as intervenções o ambiente hospitalar se torna mais confortável e os ajudam a minimizar as tensões e ansiedade causadas durante esse período no hospital. (P. 1) No momento em que estamos atuando, o hospital passa a ser o hotel, os pacientes são os hóspedes, o termômetro se

5 transforma na maquininha de medir a força e o acesso venoso é a pulseirinha. Eles se divertem muito com essas comparações. (P. 2) As crianças, que são o foco do projeto, são frágeis e sensíveis. Às vezes, um tempo muito longo de hospitalização deixa-a muito mais triste por ter que ficar em um ambiente de estranhos e de remedinhos ruins. Entretanto, com a nossa presença, deixamos tudo colorido de novo, pelo menos por um pequeno espaço de tempo nesse momento tão difícil e delicado para ela. Quando entro na pediatria, olhando aqueles olhinhos brilhando de felicidade quando nos veem, me enche de prazer fazer parte de um trabalho como esse, principalmente quando sou surpreendida com um simples obrigado de um pequeno, encho meus olhos de lágrimas de felicidade e me faz querer continuar. Com os cachorrinhos e bexigas, brincadeiras e bolinhas de sabão, as crianças ficam extasiadas e não nos deixa ir embora. Amei!, Não vão embora é uma das falas mais frequentes entre os pacientes. Melhor ainda, na hora H ou melhor dizendo, na hora de um remédio ou nebulização delas (que todos odeiam), estamos ali para ajudar as enfermeiras dizendo que é doce, tem gosto de bombons e essas coisas que engana-os. Mas, as brincadeiras e conversas entreterem esses seres tão lindos e dóceis age diretamente na humanização do trabalho. Cada olhadinha, cada sorriso, cada risada, cada emoção vale a pena. Como é bom ser o que as crianças mais precisam! (P. 4) A criança é um ser mais sensível do que os outros, então trazer um pouco da Enfermagem Humanizada para elas, é transformar o ambiente hospitalar em um ambiente menos hostil. Apesar de na nossa equipe haver estudantes de graduação em vários cursos, nós que fazemos Enfermagem temos um participação especial nesse papel por ser a ciência da arte de cuidar, da humanização. Significado de ser palhaço cuidador na formação pessoal e profissional dos integrantes: O meu nariz vermelho me faz explorar um mundo desconhecido. Sempre saio do Hospital com muitas histórias na cabeça e no coração, construo a minha história através dessas histórias. Sintome abençoada por carregar um histórico de muitas alegrias devido aos pacientes inesquecíveis que esperam sempre por um amanhã

6 melhor. Ser responsável por levar um tiquinho de alegria pra alguém num momento complexo faz minha caminhada valer a pena. E como a Enfermagem possui uma formação fundamentada em princípios humanistas, essa experiência torna-se ainda mais válida pra mim. (P. 2) Sinto-me completa sabendo que tenho o prazer de desde o aprendizado acadêmico sentir que posso ir além de seringas e injeções. Posso esquentar corações, trazer melodia aos que só ouvem dor e cuidar sorrindo para sanar o choro. Eu aprendi a ser humana quando pude entender que um sorriso cura e uma maquiagem liberta! (P. 3) O projeto me fez abrir os olhos para uma outra realidade, a realidade da humanização na atenção da criança. Além disso, me fez refletir das práticas feitas no âmbito da enfermagem e sua importância. Para mim, esse projeto foi um presente na minha vida. Trabalhar com crianças e ainda ter pessoas maravilhosas ao meu lado, deixa tudo mais especial e cada carinho e sorrisos coloridos valem muito mais do que a pena. (P. 4) Estes discursos revelam como a oportunidade de ser palhaço de hospital permite compreender a criança em sua totalidade, uma vez que, é um ser humano dotado de emoções, anseios e medos. O palhaço cuidador proporciona aos integrantes do projeto, um novo jeito de promover o cuidado, que vai muito além dos métodos convencionais, pois como disse o grande Patch Adams: Comprimidos aliviam a dor, mas só o amor alivia o sofrimento. Deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus (Mateus 19:14) CONSIDERAÇÕES FINAIS A hospitalização apresenta-se como uma experiência traumática e muito desagradável, ainda mais quando se trata de pacientes com enfermidades crônicas que frequentemente estão sendo hospitalizados. Diante disto, a arte de brincar no ambiente hospitalar passa a ser vista como uma ação terapêutica que é capaz de promover um melhor enfrentamento do processo de adoecimento e internação, pois, a criança como portadora de uma subjetividade peculiar, nos permite utilizar os mais diversos recursos

7 para converter seu comportamento através das condutas desempenhadas pelo método da palhaçoterapia. Apesar da sobrecarga diária a qual estamos submetidos, estar nos fins de semana promovendo sorrisos de diversas pessoas no hospital tem um sentido importante na missão de vida de cada um de nós. Pautar nossas experiências na humanização nos dá subsídios para o aperfeiçoamento de nossas futuras condutas profissionais, uma vez que, a Enfermagem por si só tem o poder de influenciar positivamente na qualidade de vida das pessoas. REFERÊNCIAS MITRE, R. M.; Brincando para viver: um estudo sobre a relação entre a criança gravemente adoecida e hospitalizada e o brincar. Dissertação de mestrado. Instituto Fernandes Figueira, Fiocruz, Rio de Janeiro, MOTTA, A. B.; ENUMO, R. S. F.; Brincar no hospital: estratégia de enfrentamento da hospitalização infantil. Psicologia em estudo, Maringá, vol 9, n.1, p , OLIVEIRA, G. F.; DANTAS, F. D. C.; FONSÊCA, P. N.; O impacto da hospitalização em crianças de 1 a 5 anos de idade. V Congresso Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, São Paulo, Set