Experiências de Formação de Nutricionistas para o Sistema Único de Saúde

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1 Experiências de Formação de Nutricionistas para o Sistema Único de Saúde CASO 2: PRÁTICAS PROBLEMATIZADORAS E ATIVAS DE ENSINO NA COMUNIDADE Introdução Neste caso Didático será relatada a experiência do curso de nutrição da Universidade Federal de Sergipe - Campus Universitário Prof. Antônio Garcia Filho, localizado no município de Lagarto (UFS - Campus Lagarto). Trata-se de um novo Campus da UFS, inaugurado em 2011, que é parte do processo de expansão e de interiorização do ensino superior público. Este processo levou em consideração características sociais, políticas, econômicas e culturais do estado de Sergipe e pretende contemplar as demandas existentes na região Centro-Sul do estado. O Campus de Lagarto oferece oito cursos de graduação, sendo todos da área de saúde: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional. A partir do compromisso com uma nova visão de formação profissional para a saúde, esses cursos oferecem aos estudantes uma formação pautada na articulação entre ensino, pesquisa, extensão e assistência, tendo como referência o Sistema Único de Saúde (SUS). Desta maneira, os cursos visam desenvolver as habilidades e as competências necessárias a uma atuação como profissionais de saúde dinâmicos, críticos e transformadores da realidade na qual atuarão. Todos os cursos do Campus de Lagarto inovaram na organização curricular e todo o processo de ensino-aprendizagem está fundamentado na Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem Based Learning PBL). Nesta proposta, as aulas convencionais são substituídas por sessões tutoriais, nas quais o conhecimento, as habilidades, as competências e as atitudes são aprendidas por meio de situações problema, reais ou simuladas, e também nos laboratórios de Elaboração: Kelly Poliany de Souza Alves PPGSC- IMS UERJ. Revisão: Elisabetta Recine OPSAN NUT-UnB; Estelamaris Monego - FANUT UFG; Andrea Sugai - FANUT UFG.

2 práticas. Para tanto, as turmas são estruturadas preferencialmente com número reduzido de alunos, e acompanhadas por um professor-tutor. Diferentemente do ensino tradicional, no qual o professor é o responsável por fornecer o conteúdo a ser aprendido, em aulas geralmente expositivas, as metodologias ativas empregadas na UFS Campus Lagarto, tem como pressuposto que o estudante é o agente ativo da sua aprendizagem e o professor atua como facilitador do processo ensino-aprendizagem. O curso de Nutrição da UFS Campus Lagarto formou a primeira turma no início de 2015 e a experiência subsidiou uma revisão do Projeto Pedagógico, publicado em março deste mesmo ano. Atualmente o curso possui carga horária de horas, com uma estrutura curricular modular, constituída pelo ciclo básico (ciclo I) e pelo ciclo profissionalizante (ciclos II, III e IV), totalizando quatro anos. O ciclo I é desenvolvido com todos os estudantes dos demais cursos do campus, constituindo-se assim o ciclo básico da formação em saúde. Este ciclo tem como foco principal a prática na atenção primária à saúde, a contextualização dos conteúdos teóricos, a construção de competências e, principalmente, a inserção dos discentes na prática da saúde coletiva, presente desde o início do curso. Os ciclos II, III e IV são específicos para a formação do nutricionista e têm como foco teórico-prático a atenção primária à saúde, a atenção de nível secundário, as especialidades ambulatoriais e os núcleos integrados de saúde, necessários para a formação de um profissional generalista. Os estágios curriculares obrigatórios do curso, por meio de prática supervisionada, bem como o Trabalho de Conclusão de Curso, compõem o ciclo IV. Para contemplar a carga horária mínima estipulada para o curso, o discente necessita complementar o seu aprendizado com os componentes curriculares optativos e as atividades complementares. Todas as atividades desenvolvidas pelos alunos, tanto obrigatórias quanto complementares, contemplam as áreas de atuação do nutricionista e as suas atribuições, segundo a Resolução do Conselho Federal de Nutricionistas nº 380/2005; sendo elas: a alimentação coletiva, a nutrição clínica, a saúde coletiva, a docência, a indústria de alimentos, a nutrição em esportes e marketing na área de alimentos e nutrição. 2

3 Cada ciclo é composto por subunidades curriculares articuladas em módulos verticais e horizontais que distribuem os conteúdos curriculares do curso de Nutrição. Os módulos verticais são desenvolvidos por meio de quatro atividades sequenciais: (a) Tutoriais (apresentação teórica dos conteúdos, que tem como propósito a preparação cognitiva dos discentes na resolução de problemas de temas específicos da profissão); (b) Práticas de módulos (buscam desenvolver as competências e as habilidades da profissão); (c) Atividades autodirigidas (o aluno tem um tempo de estudo individual para oportunizar a busca de soluções dos problemas em questão) e, (d) Palestras (realizadas por convidados para compartilhar as suas experiências profissionais. Os temas das palestras são relacionados ao conteúdo que está sendo abordado). Organização didático-pedagógica do curso de Nutrição da UFS Campus Lagarto Os módulos horizontais acompanham os módulos verticais e são desenvolvidos a partir de duas atividades denominadas Habilidades e Atitudes em Saúde e Prática de Ensino na Comunidade (PEC). A cada módulo vertical o discente tem que desenvolver habilidades e atitudes esperadas de um 3

4 profissional nutricionista. Como exemplo, o módulo vertical de conteúdos da nutrição clínica desenvolve no módulo horizontal atividades de estudo de caso e práticas em serviço de saúde que permitem o desenvolvimento de habilidades e atitudes esperados de um nutricionista desta área de atuação. Então, o estudante é avaliado no módulo horizontal quanto às habilidades e às atitudes que está desenvolvendo, a partir dos conhecimentos construídos no módulo vertical. Desta forma, as atividades Práticas de Módulos e Habilidades e Atitudes em Saúde buscam desenvolver as competências e as habilidades da profissão, e, por sua vez, a PEC contribui para o desenvolvimento sócio afetivo do discente, bem como para a formação integrada, partindo-se da observação da realidade de inserção até a prática assistida. Práticas problematizadoras e ativas de ensino na comunidade: aprendizagem a partir de problemas reais As Práticas de Ensino na Comunidade (PEC) são momentos em que os alunos entram em contato direto com a realidade dos diferentes campos de atuação. Esses momentos visam possibilitar ao aluno conhecer as necessidades e os problemas relacionados à alimentação e à nutrição de um determinado local e grupo populacional, bem como a desenvolver competências para elaborar o diagnóstico da situação alimentar e nutricional em nível local; além de realizar ações práticas, levando-se em consideração a condição social da comunidade, e que envolvam, prioritariamente, a prevenção de agravos e a promoção da saúde. As atividades são desenvolvidas no município de Lagarto, em unidades assistenciais do SUS (Unidades básicas de Saúde - UBS, Unidades de Pronto Atendimento, Policlínicas, Hospitais, dentre outros), de Educação (Escolas e Creches) e de Assistência Social (Centros de Referência em Assistência Social - CRAS, Abrigos, dente outros). As atividades das PEC são integradas aos serviços, com a participação ativa dos profissionais e da população, numa relação de parceria, criativa e construtiva para a promoção da saúde. As PEC são supervisionadas pelos docentes na ótica da proposta pedagógica do curso, proporcionando ao aluno uma nova maneira de aprender e de ensinar, vivenciadas com o trabalho em equipe multiprofissional, 4

5 interdisciplinar, baseado na compreensão da articulação entre as condições de vida e de saúde da população. As PECS são desenvolvidas nos Ciclos I, II e III do curso (dos 1º ao 3º anos de graduação) e todas possuem uma carga horária prática (conhecimento dos problemas da realidade e aplicação de hipóteses de solução) e outra teórica (teorização dos problemas identificados na realidade). No Ciclo I, que é comum a todos os cursos do campus, a PEC possui carga horária de 120 horas, sendo 60 horas de atividades teóricas e 60 horas de atividades práticas. O foco é vivenciar a realidade da Atenção Básica à Saúde do município e a teorização envolve o estudo da legislação básica do SUS, da organização da Estratégia Saúde da Família, a territorialização, os sistemas de informação em saúde, os fundamentos de epidemiologia, dentre outros conteúdos. A PEC no Ciclo II possui carga horária de 90 horas, sendo 27 horas para as atividades teóricas e 63 horas para as atividades práticas. Seu desenvolvimento tem como foco no primeiro semestre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em escolas e creches do município (PEC Ciclo II Parte I) e, no segundo, a vigilância alimentar e nutricional (PEC Ciclo II Parte II), incluindo a avaliação antropométrica e de consumo alimentar da população atendida em UBS do município, a identificação dos principais problemas relacionados à alimentação e nutrição da comunidade, bem como de ações de promoção da alimentação adequada e saudável. A PEC no Ciclo III possui carga horária igual a do Ciclo II. O foco é a atenção nutricional em UBS e os Centros de Especialidades a pacientes portadores de doenças crônicas de maior prevalência no território (como hipertensos, diabéticos e obesos) e outras demandas atendidas nos serviços de saúde. Resultados e desafios A metodologia de problematização, a multiplicidade de cenários de aprendizado e a aproximação com a comunidade permite aos alunos uma melhor compreensão da complexidade em torno das questões de saúde e de doença. Observa-se, após a formação da primeira turma de nutricionistas, que essa organização didático-pedagógica tem contribuído para a formação de 5

6 profissionais com maior capacidade reflexiva e crítica e com o despertar de seu desejo de transformar a realidade de onde vivem. Em se tratando de uma experiência inovadora para todos os cursos do campus, cabe ressaltar o desafio da formação dos docentes para empreender a nova proposta didático-pedagógica. Para tanto, a UFS Campus Lagarto instituiu, em 2014, o Programa de Formação Docente, cuja formação continuada tem por objetivo aperfeiçoar a prática didático-pedagógica em metodologias ativas de ensino-aprendizagem. O programa tem caráter contínuo, mas é desenvolvido no formato anual, na modalidade semipresencial, com cargahorária total de 200 horas, das quais 120 horas em ambiente virtual e 80 horas presenciais. Como sugestão, leia a nota pedagógica complementar a este caso e reflita, considerando a sua realidade, sobre as questões apresentadas a seguir: Quais as estratégias didático-pedagógicas utilizadas na formação dos nutricionistas? Como essas estratégias promovem uma interação entre teoria e a prática? Há iniciativas para a qualificação da prática pedagógica dos docentes? PARA SABER MAIS SOBRE ESSA EXPERIÊNCIA, ACESSE: Universidade Federal de Sergipe. Resolução Nº 11/2015/CONEPE. Aprova alterações no Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Nutrição, Bacharelado, do Campus Universitário Prof. Antônio Garcia Filho e dá outras providências. Disponível no endereço eletrônico Acesse também os outros Casos Didáticos sobre Experiências de Formação de Nutricionistas para o SUS, disponíveis na Casoteca da RedeNutri. 6