A Grande Rutura do Código Civil Direito da Família. Cecília Morais M. Martins

Transcrição

1 A Grande Rutura do Código Civil Cecília Morais M. Martins

2 Iter da Apresentação - O Código Civil Português e os últimos 50 anos - Breve olhar: A família ontem e as famílias hoje - A família, «permite-nos descobrir a dimensão mais gratuita do Amor, que nunca cessa de nos surpreender»

3 Código Civil Português Decreto lei n.º47 344, de O Código Civil ao entrar em vigor, no dia 1 de junho de 1967, tomou o lugar do C. Civil de 1867 É certo, C.C. traz os novos ares, os germânicos, mas o seu livro IV, o livro do Direito da família, ficou preso Na família, na qual, A mulher estava nas mãos do homem. Primeiro, o pai, depois, o marido O pai falava a mãe ouvia e o filho obedecia

4 O Livro IV O Direito é um espelho do tempo e do espaço A permeabilidade do à realidade social é superior A evolução das estruturas e perfil das famílias é uma fonte de dinâmica legislativa

5 Livro IV As transformações sofridas, permitem, afirmar: O como um «sensor da geografia e da cronologia social, das conceções de vida, políticas e apolíticas, religiosas e laicas»

6 O Livro IV Em 50 anos muito mudou Ontem, Monismo jusfamiliar casamento, o parentesco, a afinidade e a adoção Hoje, Pluralismo jusfamiliar Novas formas familiares e conjugais Direito à Felicidade versus Responsabilidades Em paralelo a família extensa cedeu lugar à família nuclear

7 O Livro IV Dantes, «Marido é o chefe de família, competindo-lhe nessa qualidade representá-la e decidir todos os atos da vida conjugal comum» A mulher passava da tutela do pai para a do marido Existia clara diferenciação em razão do género O Direito ao divórcio não era um direito universal A única forma de conjugalidade reconhecida era o casamento. Todas as outras formas de conjugalidade eram alvo de censura e não mereciam qualquer tratamento legal A união de facto não era reconhecida e era alvo de punição social

8 O Livro IV Dantes, O poder paternal era confiado ao chefe de família A relação paterno filial era hierarquizada Os filhos, por força de lei, deviam honrar e respeitar os pais Os filhos estavam submetidos ao poder do Pater Os filhos desobedientes, podiam ser, a pedido dos pais, internados em reformatórios e colonias correcionais Os filhos, nascidos fora do casamento, eram sinalizados com o ferrete de ilegítimos A condição de filho ilegítimo era social e juridicamente desfavorável

9 O Livro IV Os princípios plasmados em matéria de família, casamento e filiação na CRP de 1976, impuseram a reforma de 1977 O Decreto Lei n.º496/77, de 25 de Novembro, expurgou o C.C. das inconstitucionalidades supervenientes de que o Livro IV passou a padecer

10 Livro IV A Constituição proclama: «Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade.» Afirmação da Família como conjunto de pessoas unidas pelo sentimento de pertença oferecido pelo parentesco /laços de sangue e unidas por laços de solidariedade, afeto e responsabilidade.

11 O Livro IV A reforma de 1977 proclamou: Igualdade de direitos e deveres entre cônjuges Competência da lei civil fixar os requisitos e efeitos do casamento e respetiva dissolução Direito ao divórcio como Direito de acesso universal Igualdade entre Progenitores Mãe e Pai no exercício do poder paternal-responsabilidades parentais

12 Livro IV A reforma de 1977 proclamou: Proibição da discriminação entre filhos nascidos dentro e fora do casamento Promoção da adoção equiparação entre filhos biológicos e do coração Reconhecimento da procriação medicamente assistida Reconhecimento da qualidade de herdeiro legitimário ao cônjuge sobrevivo Reconhecimento de direitos ao membro sobrevivo da união de facto, direito a exigir alimentos da herança, artº2020

13 Livro IV Decreto Lei n.º261/75, de 27 de Maio (Permitiu direito ao divórcio a todos independentemente da forma de casamento ser civil ou católica) Decreto lei nº 496/77, de 25 de Novembro (expurgação das inconstitucionalidades Proclamação do princípio da Paridade nas relações jusfamiliares) Lei n.º84/95, de31 de Agosto (Faculta aos pais em situação de rutura a opção pelo exercício comum do poder paternal) Decreto Lei n.º 163/95, de 13 de Junho (Atribuiu às Conservatórias do Registo civil a par dos Tribunais competência para decretarem o divórcio por mútuo consentimento)

14 Livro IV Lei n.º47/98, 10 de Agosto (Alterações no instituto do divórcio- possibilidade de requerer o divórcio por mútuo consentimento a todo o tempo e alteração/aligeiramento das causas de divórcio litigioso) Lei n.º59/99, de 30 de Junho (exercício do poder paternal em caso de divórcio, separação judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do casamento) Lei n.º 135/99, de 28 de Agosto (Medidas de proteção da união de facto) Lei n.º7/2001, de 11 de Maio (Reforço das medidas de proteção da união de factoalargamento do âmbito de aplicação às uniões homossexuais) Lei nº23/2010, de 30 de Agosto (reforçou os direitos concedidos aos unidos de facto) Decreto Lei nº272/2001, de 13 de Outubro ( atribuição de competência exclusiva às conservatórias nos divórcios por mútuo consentimento que não são verdadeiros litígios e aboliu a 2.ª conferência)

15 Livro IV Lei n.º32/2006, de 26 de Julho Regime das Técnicas de procriação medicamente assistida Lei n.º61/2008, de 31 de Outubro ( Revolução -Instituto do divórcio eliminação da culpa ) Lei n.º103/2009, de11 de Setembro (Apadrinhamento Civil) Lein.º9/2010,de 31 de Maio (Eliminou a heterossexualidade do elenco de requisitos de validade do casamento e permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo) Lei nº23/2010, de 30 de Agosto (Reforçou os direitos concedidos aos unidos de facto)

16 Livro IV Lei n.º143/2015, de 8 de Setembro, (Alteração ao regime da adoção) Lei n.º2/2016, de 29 de Fevereiro(Eliminação das discriminações no acesso à adoção, apadrinhamento civil e demais relações familiares) Lei n.º17/2016, de 20 de Junho e o Decreto Regulamentar n.º6/2016, de 29 de Dezembro (Alargamento do âmbito dos destinatários das técnicas de PMA)

17 Livro IV Hoje, Novas formas de conjugalidade Casamento hétero/homossexual = relação entre iguais, sem chefe, isto é, a direção da família é conjunta O direito ao divórcio afirma-se como direito fundamental O divórcio sanção cede lugar ao divórcio desamor ou divórcio remédio O casamento para toda a vida, cedeu o lugar, a uma vida de casamentos ou outras conjugalidades

18 Hoje, Livro IV A União de facto é cada vez mais de direito e menos de facto Living Apart Together ( LAT) Muitas pessoas optam por viver a sua afetividade através de uma comunhão de vida em duas casas Família monoparental Família unipessoal

19 Hoje, Livro IV Novos Pais e Novos Filhos Fim da discriminação entre filhos nascidos dentro e fora do casamento o casamento deixou de ser o espaço «natural» para a conceção O poder paternal cede lugar às responsabilidades parentais Exercício conjunto das responsabilidades parentais

20 Hoje, Livro IV «Os filhos devem obediência aos pais, estes, porém, de acordo com a maturidade dos filhos, devem ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.» A eterna tensão entre o reconhecimento da autonomia e a necessidade de proteção

21 Ontem, hoje e amanhã, Livro IV «Os Pais e filhos devem-se mutuamente respeito, auxilio e assistência» Solidariedade familiar é a resposta natural e jurídica. A crise impôs e impõe a manutenção e o regresso dos filhos à casa dos pais e a chegada dos pais à casa dos filhos A crise impõe o renascimento do pacto entre gerações A geração baby boom é hoje a geração sanduíche

22 Direito da família-grandes Desafios Casamentos Censos de (entre pessoas de sexo diferente) Censos de entre pessoas de sexo diferente e do mesmo sexo respetivamente União facto Censos de Censos de Nascimentos fora do casamento 42,8% Fontes: INE e PORDATA

23 Grandes Desafios Divórcios Censos de ,3% Censos de ,2% (Por cada 100 casamentos) Fontes: INE e PORDATA

24 - Grandes Desafios «Família é o 1º núcleo de socialização dos Homens» Ghandi A Família é Amor e Liberalidade Família é o locus da solidariedade entre gerações

25 -Grandes Desafios «A fragilidade dos laços humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos contraditórios de apertar os laços e ao mesmo tempo de os manter frouxos» Zygmunt Bauman A regulação da dimensão pessoal e patrimonial do relacionamento humano e as exigências mínimas de certeza e segurança dos vínculos familiares Os afetos gerados

26 -Grandes Desafios «No mundo da furiosa individualização os relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro» Zygmunt Bauman