A Caridade como força curativa da Alma 27/02/2013

Transcrição

1 Instituição Beneficente A LUZ DIVINA ANDREI MOREIRA A Caridade como força curativa da Alma 27/02/2013 Boa noite a todos. É uma alegria conhecer esta bela casa, este belo trabalho, compartilhar com vocês as reflexões que a Doutrina Espírita nos enseja. Nesta noite, vamos falar sobre A Caridade como força curativa da Alma. Uma parte das pessoas que vem até a Casa Espírita, vem em busca socorro. Bem poucos vêm pelo amor. A maioria vem motivada pela insatisfação, dor, sofrimento, enfermidade, um problema em família, ou mesmo por um sentimento de vazio, de um significado para a vida; vem porque alguém aconselhou buscar uma orientação espírita para encontrar um caminho que preencha este espaço de sofrimento dentro do coração. Quando chegamos à Casa Espírita recebemos orientação e assistência espiritual, e nos é apresentada a beleza da Doutrina Espírita. Allan Kardec nos disse que com paciência, a filosofia, a ciência e a consciência religiosa nos apresentam um caminho de reencontro, de redescoberta e o despertar para nossa riqueza interior, como filhos de Deus. Dentro desta proposta, temos alguns pressupostos básicos e fundamentais que norteiam o ser humano. Um deles é o que Allan Kardec nos apresenta em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando diz que "fora da caridade não há salvação. Esta máxima se tornou uma identidade do Espiritismo e também, a forma pela qual os espíritas e o Espiritismo são reconhecidos em nossa sociedade. Chico Xavier, bom mineiro, foi eleito O Brasileiro do Século, e não à toa e nem por acaso, mas, principalmente, por conta de todo o movimento de caridade que ele ajudou a divulgar em nome da Doutrina Espírita, fazendo com que esta identidade espírita, de sintonia com o bem, que, na verdade, é a sintonia com a Lei Divina, fosse uma marca fundamental. Esta é a marca de todo aquele que está sintonizado com as propostas de Jesus, independente de qualquer religião que esteja estagiando, na presente encarnação. No entanto, ao longo dos milênios, nós mesmos, em múltiplas roupagens, experiências, pouco a pouco deturpamos a mensagem cristã original, introduzindo ao pensamento cristão, os valores do mundo que não nos trazem satisfação nem felicidade. 1

2 O poder, a disputa, a supremacia, o direito à razão tornaram-se mais preponderantes do que a essência da mensagem cristã. Interessante observar que o pensamento cristão é derivado de um mestre, que embora sendo rei, entrou em Jerusalém montado num burrico, sem buscar nenhum aplauso, nenhuma glória, sendo aclamado pela multidão dos desafortunados, com os quais ninguém desejava conviver, sem chamar para si nenhuma autoridade, nenhuma riqueza ou potencialidade, ao contrário, afirmando a sua grandeza com a capacidade de contagiar o ser humano pela potência amorosa, indo ao coração daqueles com os quais ele entrava em contato. Embora egressos de um movimento cristão, de uma forma geral em humanidade, acabamos tornando os valores mundanos mais importantes do que os valores espirituais. Enquanto no século das luzes, Allan Kardec ( ) envolvido em todo o positivismo, típico da sua época, inicia a descoberta das seleções espirituais. Ele logo se apercebe que aquela realidade que se apresentava não se configurava como uma religião a mais, mas se apresentava como um conjunto de conhecimentos, de assertivas que reafirmava o valor essencial do ser humano. Então, imbuído da essência da mensagem cristã que o Espiritismo transmite, e conhecedor da ciência e da filosofia espírita, que leva o homem em direção a Deus, ele anota em O Evangelho Segundo o Espiritismo: Fora da caridade não há salvação. Movimento essencialmente libertador, porque estávamos acostumados com as afirmações "Fora da verdade não há salvação" ou "Fora da igreja não há salvação". Acontece que, se dissermos que a verdade é o caminho, qualquer um que afirmar que a verdade está ali ou aqui, será capaz de conduzir a multidão para o caminho do Reino de Deus. Se dissermos que fora da igreja não há salvação, falamos que uma determinada denominação com uma interpretação da verdade, está na posse da totalidade, portanto quem se afaste daquilo está condenado à perdição. Estes dois movimentos, a briga pela verdade e a briga pela religiosidade, demonstram movimentos separatistas, movimentos que não agrupam, não reúnem e não acrescentam. Allan Kardec sabia que não estava fundando uma religião a mais. Ele sabia que estava enunciando leis eternas e imutáveis e, portanto, esse encontro extraordinário, que viria a ser conhecido como Doutrina Espírita ou Espiritismo, precisava vir revestido de algo que fosse a representação desse movimento. A caridade não é patrimônio de ninguém. A caridade é patrimônio da alma sintonizada com o bem, seja ela cristã, muçulmana ou ateia, não importa

3 onde a alma se coloca no plano da religiosidade, importa que estando conectada ao bem imortal, ela está conectada com a essência da vida e com envolvimento total de espiritualidade. É interessante observar que religiosidade é procurar Deus em toda parte e a encontramos nos ritos, nos sacramentos, nos cultos, nas orações. Espiritualidade é encontrar Deus no endereço certo, que é dentro do próprio coração. A sintonia se faz dentro da própria alma, naquela viagem interior de percepção da presença e da aliança com Deus, através do próprio coração, onde a presença divina está mais exuberante, no que os espíritos chamam de "presença imanente de Deus". A presença divina está em cada ser humano e se conjuga a presença transcendente de Deus, a presença que está em tudo e nos outros e não se resume à sombra de tudo nem à sombra de cada ser humano, como quer crer, por exemplo, a doutrina panteísta, que afirma que é algo que está em tudo e transcende a tudo porque é incapaz de ser limitado, de ser reduzido a uma definição ou a uma questão qualquer. A verdade é a essência da vida. É importante entendermos o porquê. Albert Schweitzer ( ), famoso médico humanista, uma vez postulou que: Os únicos dentre vocês que serão felizes, são aqueles que descobriram que são úteis servindo a Deus". Muito interessante esta assertiva. Schweitzer era um exímio musicista, que largou o conforto da Europa para intervir na África e auxiliar aqueles que realmente, necessitavam dele, encontrando um significado profundo para sua vida de doação, de entrega ao próximo. Ele disse uma grande verdade: "Grande parte dos nossos males, das nossas dificuldades provém do egoísmo, do fechamento em nós mesmo, ou seja, é fruto da nossa desconexão com o Criador". Esse movimento de egoísmo nos leva a viver sempre olhando para nós mesmos, centralizados nas nossas dores, dificuldades e necessidades. É o movimento que alimenta a indigência, que não nos ensina a grandeza da gratidão, não nos ajuda a olhar para o que já temos, mas sempre para o que nos falta, para o que gostaríamos de ter, o que desejamos e poderíamos ter. Este movimento constrói um processo de adoecimento profundo. Segundo os Espíritos, por detrás da depressão, há uma voz inconsciente dizendo: "Já que não tenho a vida que quero, não aceito a vida que tenho. Já que a vida não segue aquilo que exijo, que não posso ser como gostaria de ser, que não tenho o corpo que gostaria, condição socioeconômica, espiritual, qualquer coisa que seja, também do jeito que estão, eu não aceito". É um movimento rebelde que fica centralizado no ego, ou seja, na tangência do ego, que não tem um olhar de gratidão, de compreensão para a vida; entender que todos estão no lugar certo, na hora certa, com 3

4 as pessoas certas, da forma que precisa ser, do jeito necessário que podemos operar nosso destino, através do nosso próprio esforço, não através de uma postura de rebeldia, mas através de uma postura de aceitação ativa, que é aquela que não reduz a aceitação em inação. O processo de aceitação pacífica leva o indivíduo a mobilizar tudo que tem ao seu dispor, para modificar a sua realidade. Não briga e não disputa com a realidade. Os espíritos dizem que a depressão e outras doenças da alma e das emoções surgem em quem exige muito da vida, sem dar nada em troca, que fica sempre esperando que a vida lhe dê aquilo que julga merecer. Em verdade, o que está por detrás disso é um grande sentimento de superioridade. "Eu sou tão bom, mas tão bom, que a vida tem que me atender, tem que me dar do jeito que eu quero. E se não me der do jeito que eu quero, não serve para mim". É um movimento de orgulho e de exigência rebelde. Este é um ser humano que não olha para aquilo que é essencial. O essencial está na humildade, naquilo que é pacífico dentro do coração. Aquela atitude que faz tudo na vida para melhorar, mas que não se fecha ao aprendizado daquilo que a vida tem para ofertar em cada momento, porque sabe que a vida é uma sequência natural de aprendizado, crescimento e conquistas. A caridade é uma proposta do amor em ação, do amor mobilizado em favor do outro, do amor dirigido em favor de uma causa nobre, em favor de uma questão importante e útil. A Doutrina Espírita nos lembra do valor e da riqueza de nos doarmos em uma atividade assistencial, em uma tarefa de socorro, em uma tarefa de amparo e de doação através dos passes. O que caracteriza o verdadeiro espírita é estar com a alma comprometida com o movimento do bem, de ideal renovado porque o que a Doutrina Espírita oferta a todos a oportunidade do reencontro através do serviço. Vocês acham que nós palestrantes, dirigentes, estamos com a vida resolvida e que está tudo uma maravilha? Que todas as pessoas que estão aqui trabalhando, que estão dando passe, trabalhando na cantina e outras atividades são pessoas perfeitas, que não têm problemas na vida? Ao contrário. São pessoas de boa vontade que decidiram ficar bem para poder servir. E descobriram que o servir é o caminho para ficar bem. Então, dedicam-se à tarefa do socorro. Via de regra, são os casos mais graves. Vocês podem até rir, mas estamos internados em regime de religiosidade, em tarefa abençoada.

5 A Doutrina Espírita está nos ofertando esta oportunidade. A vida não espera pessoas capacitadas, capacita aquelas de boa vontade para o dever espírita, porque o trabalho é grande, a seara é enorme e os trabalhadores são poucos. Quando o indivíduo tem o desejo de ser útil, sai do egoísmo, deixa de pensar em si, acorda e desperta para a necessidade de movimentar suas forças em favor do bem. Então, a vida investe naquele indivíduo para que ele encontre o caminho da paz. É bom parar e observar a nossa vida, ver o quanto temos feito e quanto tem de significado para nós as tarefas de bem e de amor. O quanto temos exigido e o quanto nós temos doado. A vida aguarda, muitas vezes, silenciosa até que despertemos. Lembro-me, com clareza, de um momento na minha vida, em que os Espíritos me disseram, com muita propriedade e delicadeza, do jeitinho deles: "Meu filho, está na hora de parar de ser vagal na vida e começar a servir". Foi uma mensagem muito clara para eu parar de reclamar, de falar dos problemas, olhar para o meu umbigo e começar a servir. Você também encontrará as respostas e as soluções. Encontrará alívio para aquilo que reclama no processo de serviço, no amparo e na medida em que der cada passo em direção ao outro. Quando saímos de nós mesmos em direção ao outro a primeira coisa que acontece é uma reavaliação de valores, porque na medida em que vamos olhando para a vida do outro, questionando a nossa, percebemos que não tínhamos os problemas que imaginávamos. Começamos a ver que existem coisas muito melhores e posturas mais dignas. Começamos a reconhecer dentro de nós algo importante, porque a tarefa do passe é sobre energia, a tarefa de doação através das vibrações e do tratamento desobssessivo nos socorrem, e só conseguimos avançar quando começamos a nos alegrar com o bem que conseguimos produzir. A tarefa de amparo espiritual gera um alívio, mas o passo fundamental no caminho do progresso para o espírito é quando começa a comprometer-se com o bem. Quando olhamos para dentro da própria alma e sentimos que há algo para se alegrar, que há motivos na própria conduta com as quais podemos nos satisfazer; que têm valores nobres que podemos alavancar sem ficar preso na infelicidade, no insucesso, na frustração e, sobretudo, sem ficar preso no processo de vítima. Quanto mais acreditarmos que somos vítimas, caminhamos para o fundo do poço. O bom de ir ao fundo do poço é que encontramos a fonte, não é mesmo? Chega uma hora que o espírito cansa de sofrer. É importante observar a vida, pois a vida deixa o espírito se saturar. Socorro e amparo da vida não faltam, mas à medida que o espírito 5

6 escolhe manter-se numa postura de negação do bem, a vida permite que ele vá se frustrando, até que perceba que é um movimento antinatural, porque o bem vibra em cada uma das nossas células e em cada uma das nossas ações. Então, antes de nos aprofundarmos nisso, do ponto de vista espírita, vamos ver o que a ciência tem a nos dizer. Eu trabalho na Associação Médica de Minas Gerais e tenho como princípio integrar a ciência e a espiritualidade. Trouxe algumas pesquisas científicas a respeito do valor da caridade na vida de cada um de nós. A primeira pesquisa foi publicada no jornal Medicina Psicossomática, sob o título "Interesses Altruísticos Sociais. Comportamentos Altruísticos Sociais estão associados com melhor saúde mental". Esta é uma pesquisa feita com membros da Igreja Presbiteriana, nos Estados Unidos, com membros participantes. Numa escala de bem estar, foi verificado como os participantes classificavam suas vidas em vários itens de bem estar, de acordo com seu comportamento. É muito interessante, porque esta pesquisa demonstrou com muita clareza que aqueles que se dedicam à caridade são duplamente beneficiados. Aqueles que recebem se sentem com maior bem estar do que aqueles que não recebem caridade. Aqueles que são alvo da caridade se beneficiam. O que a pesquisa demonstrou de muito interessante é que aqueles que praticam a caridade têm índices de bem estar duas vezes maior do que aqueles que a recebem. Assim, a saúde mental dos que praticam a caridade é muito maior do que aqueles que a recebem, principalmente, dentro dos movimentos religiosos. O autor fez uma revisão científica a respeito da realidade e publicou sob o título "It s Good Be Good" o que significa "É bom ser bom", e mostra em vários estudos as evidências científicas verificadas. Por exemplo: -68% dos voluntários concordam que o voluntariado proporciona sensação de bem estar na questão psicológica e também no quesito físico; -92% relataram que inverteram o seu sentido e seu objetivo na vida; -89% perceberam o aumento do bem estar; -73% sentiram a diminuição do estresse; - 93% afirmaram que o voluntariado faz a pessoa feliz; 77% disseram que o voluntariado ajuda a recuperar perdas e desapontamentos.

7 Outro dado interessante é que os voluntários apresentaram menos problemas no sono, menos ansiedade, menor necessidade de ajuda e maior esperança, ficam mais sintonizados às redes sociais e têm maior controle de doenças crônicas do que pessoas que não exerciam o voluntariado. São resultados científicos, sem qualquer tom religioso que corroboram os conceitos sobre os quais o Espiritismo tem falado desde sempre, quanto ao valor de se dedicar ao bem estar alheio. Estudantes de medicina e profissionais de saúde têm menor taxa de stress quando são indivíduos com senso de auxílio e caridade com a profissão. O desgaste pelo excesso é sintoma de estresse profundo que os profissionais de modo geral têm, em virtude da carga pesada no processo de atendimento ao outro. Isso, algumas vezes, o leva a perder o controle de caminhar. Os profissionais que têm maior senso de caridade e serviço na profissão experimentam muito menos esse efeito. Indivíduos que sofrem de dor crônica relatam diminuição da dor e alívio, bem como diminuição da depressão com a prática do voluntariado e do amor. Pesquisa feita com pacientes com fibromialgia, que é uma doença que está caracterizada, sobretudo, pela sobrecarga de deveres que um indivíduo tem, ocorre em função de necessidades fantasiosas. A fibromialgia é caracterizada por dores por todo corpo ou em alguns pontos específicos e sempre vem acompanhada por insônia. É tratada com antidepressivos sem muito sucesso. Pode-se resumir que as dores da fibromialgia vêm, muito frequentemente, em decorrência do excesso de peso que o indivíduo carrega. Carga que carrega que não lhe pertence, dever que acha que não é seu, e isso, em geral, vem com um sentimento de salvacionismo de um indivíduo e desvalorização do outro. Sempre existe uma postura de salvacionismo. Temos que fazer, que socorrer, que ajudar o outro, de todas as formas e jeitos, sem estabelecer critérios para isso. Somos guiados por carências e necessidades emocionais individuais. Quando fazemos isso, desprezamos as necessidades pessoais do outro. Frequentemente, suprimos aquilo que julgamos que o outro necessita, para que o outro goste de nós. Não é uma grande ajuda, mas uma chantagem emocional. Eu faço isso para você e você me trata como seu queridinho, me classifica como uma pessoa boa, não me exclui e não me isola. Quando fazemos isso, somos guiados pela nossa carência pessoal, que acredita que precisamos ter o afeto através dessa forma de atenção e não por aquilo que valemos realmente. E isso se conjuga também, no olhar que lançamos para o outro, ou seja, tenho que saber tudo sobre o outro para o outro não se dar conta. 7

8 Têm pais que fazem tudo pelos filhos: não os deixam passar por dificuldades, frustrações, problemas, nem assumirem as consequências das suas próprias dificuldades. Na verdade, esses pais não acreditam no potencial dos filhos e na capacidade de serem autônomos. Acabam suprindo aquilo que consideram ser uma deficiência para que o filho não seja desafiado numa determinada situação. Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, vai além quando diz: "aqueles que se preocupam muito com seus filhos, em verdade, desejam que eles morram. É um desejo inconsciente porque é um comportamento tipo "se você me der alívio, eu fico bem". Isto se torna um motivo existencial. É muito interessante que a Constelação Familiar é deduzida da observação da realidade. Não tem uma prévia teoria. Nos campos da Constelação uma questão se apresentou: se o pai acredita no potencial do filho, deixa-o bater asas, sabendo que o papel dos pais é o arco que verga a flecha. A tarefa do arco é envergar-se com dignidade para que a flecha seja lançada com eficácia para atingir o alvo desejado. (Gilbran, Khalil) No entanto, uma vez lançada, a flecha seguirá, naturalmente, a força do arco que a lançou. Sempre sofrerá a potência daqueles pais que são a fonte, sem dúvida alguma. No entanto, também sofrerá a ação de outras fontes em sua trajetória. Os pais devem escolher o bom, mas não devem assumir a vaga. Assumir a descrença no outro não gera indivíduos autônomos. Isso é uma das bases sobre o estudo da adolescência, que trata da delinquência juvenil, que promove o sucesso dos filhos, que passam a se movimentar à sombra dos pais até se tornarem autônomos, ao invés de lidar com frustrações ou dificuldades. Pais que não colocam os filhos para servirem, não lhes ensinam a dividir, a partilhar, a multiplicar os bens que possuem, a olhar para a necessidade do outro em condição socioeconômica diferente, terão filhos egoístas. Acabam centralizados em si mesmos, inteligentes, que manipularão a sociedade para serem servidos em vez de servi-la, como deve ser o trabalho de qualquer filho de Deus. A fibromialgia é o resultado de uma carga que se coloca no ombro desnecessariamente, ou seja, pacientes com fibromialgia precisam tirar do ombro esse peso que não lhes pertence, aprendendo a confiar em si mesmos, a confiar no outro, aprendendo a ter valor pelo que é e não pelo que faz.

9 Cada um tem valor pelo que vibra de si mesmo e não pelo que faz pelo outro. A pesquisa aponta que a atuação voluntária ativa o sistema de recompensa cerebral, o sistema neurológico de satisfação, ativando a rede que produz dopamina reforçada pela euforia. No entanto, a pesquisa demonstra que os maiores benefícios são decorrentes da doação pessoal e não da simples doação financeira. Interessante notar que a pesquisa avaliou os benefícios daqueles que fazem a caridade doando e outros que realizam atividades voluntárias. O resultado mostrou que existe benefício para ambos, mas aqueles que se doam têm um benefício muito maior. Caridade não é dar o que sobra. Aquilo que sobra deve ser partilhado. Caridade é dar aquilo que falta. É dar aquele algo a mais. Algumas pessoas só intervêm se estiver tudo bem, se não tiver enchente, se não estiver chovendo, se não tiver dificuldade na vida. Só agem se tudo estiver num mar de rosas, mas se tiver uma pequena dificuldade, ela não atua. Em verdade são pessoas que criam motivos para não ofertar aquilo que têm. Emmanuel fala com muita clareza. "A grande maioria de nós busca tratamento espiritual não porque quer cura, mas porque quer estar aliviado do sofrimento. Após o tratamento voltam a praticar os mesmos atos que causaram o desequilíbrio anterior". É preciso parar e refletir sobre isso. Tratamento espiritual não é tomar passe todas as sessões. Isso é recurso espiritual. Tratamento espiritual é renovar a alma enquanto se beneficia de tudo isso. É transformar valores e sentimentos, é renovar o coração fazendo a reforma íntima porque o espírita não se caracteriza por ler O Evangelho Segundo o Espiritismo, por ter feito mil cursos ou por ter trinta anos de Espiritismo. Isso de nada vale se o indivíduo não olhar para dentro de seu próprio coração. O espírita se caracteriza pela sua transformação moral, pela sua renovação, por se reconectar com o bem, fazendo o movimento de reintegração à fonte, por se sintonizar novamente com o Criador dentro da sua própria atividade, fazendo a alma se movimentar. E através de todos os recursos do tratamento espiritual encontra o alívio e o socorro que fortifica para se posicionar corretamente sobre o melhor caminho a seguir. O processo de cura é patrimônio do espírito. André Luiz diz: "Somente o doente convertido de médico de si mesmo alcançará a cura positiva". Somente aquele que aprende constrói a sua própria saúde para alcançar a cura definitiva. 9

10 Do que adianta aliviar com passe, com orientações para a ação, com tratamento desobssessivo ou assertivo? Se não acreditarmos nessas ações corremos o risco de voltar para mesma vida de egoísmo, de desentendimentos, maledicência, briga e disputa. É incoerência. Emmanuel diz "É justo receber o socorro magnético que nos alivie do sofrimento, mas é imprudente resgatar os erros com o mesmo tratamento". O resultado se perde se a gente não consolidar o benefício, renovando atitudes. A caridade, o movimento em ação, é o benefício da alma se reconectando à fé. Qual é a nossa essência? Kardec diz que o Espiritismo é uma ciência e uma filosofia que trata da natureza do Espírito na sua relação íntima com a matéria. Então, o Espiritismo nos leva à nossa própria natureza. Qual é essa natureza? Ela é intrinsicamente divina. Nesse contexto, a saúde não é um corpo em harmonia. Somos muito mais que um corpo, somos o espírito, em realização com a nossa condição de criatura, em nosso presente momento evolutivo. Sabemos do grande vazio existencial, daquele sentimento de falta, sentimento que Freud caracterizou, dizendo, que o estado íntimo de solidão do ser humano, em nenhuma relação, em nenhuma circunstância pode ser aplacado, porque é uma condição fundamental. Mesmo acompanhados ainda estaremos em um determinado nível de solidão. É a porta estreita da qual Jesus falou. No caminho, que um não pode fazer, o outro estende a mão, acompanha, motiva, mas vai junto somente até a porta, pois o restante do caminho a pessoa deve ir sozinha e fazer esse trabalho. Emmanuel diz que "O instante do testemunho, do sacrifício é um instante pessoal que ninguém poderá desobstruir. É aquela atitude da alma de encontrar a ação e postura necessárias para caminhar. Trazemos sempre esse vazio, esse estado de solidão. De onde vem esse vazio? Santo Agostinho nos diz: "O homem é a imagem de Deus. Afastar-se de Deus é como extrair as próprias entranhas, esvaziar-se e ser cada vez menos. Quando o homem, em troca, entra em si mesmo descobre a divindade". Quanto mais nos afastamos do Criador, mais desafiamos a vida e mais vazios nos tornamos. Quanto mais caminhamos para dentro de nós, para um conhecimento real, mais encontramos a divindade.

11 Por quê? Porque a natureza humana é ato divino e a essência de cada um de nós é ser divino, constatando a presença do Pai, vibrando no nosso íntimo. Deus é a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas. (Eurípedes Barsanulfo) E o que é o Espírito? É vida inteligente do Universo. O Espírito é a individualização da grandeza de Deus. O Espírito traz, em sua natureza e essência, a herança do Criador e caminha num processo evolutivo, desde a simplicidade e ignorância até a angelitude, fazendo um movimento de crescimento e desdobrar contínuos, no qual aprende a revelar a grandeza de Deus em sua própria vida. O espírito Dias da Cruz, médico homeopata espiritual, nos diz em "Auto Amor e outras potências da Alma", que o espírito pode ser comparado a uma semente que traz em si a genética da árvore que a gerou. A semente traz em sua natureza a presença e a grandeza da árvore que é a fonte. Na semente, a árvore está contida. A semente é uma terra real. Para que ela seja o que deve ser, se reveste de seiva, na qual recebe os nutrientes e alimentos necessários para despertar a sua genética. Nasce o fruto, nasce o caule, do caule vem a galha, da galha a flor, da flor o fruto, do fruto outra semente que perpetua o ciclo. Diz ainda que "o espírito como a galha divina é semente do Criador. Traz o Criador em sua própria essência, na presença imanente do Pai em si. Está destinado a revelar Deus na sua própria experiência humana. Mas para ser aquilo que deve ser, o espírito se reveste de matéria, assim como a semente se reveste de seiva. Como a terra não dá sustento e somente a nutre, também a matéria não dá essência ao espírito, somente o nutre no caminho do progresso. A materialidade não é, portanto, objetivo e nem realidade. É um instrumento, é meio, é canal no qual o espírito recebe os elementos necessários para despertar, pouco a pouco, a presença divina, ou a tarefa copiadora que está na sua própria intimidade. Isso se dá dentro do processo de reencarnação que é a terra, que abriga a semente, que se revestindo, chamamos de reencarnação. Este é um fenômeno essencialmente pedagógico, que nos traz aquele movimento de despertar gradual que o espírito necessita, sem violentar consciências, sem violentar necessidades específicas. Dá, a cada um, o nutriente adequado no campo intelectual e no campo moral para que possa progredir e adquirir uma etapa a mais dentro do progresso. Dentro desse movimento, estamos submetidos às leis divinas que nos guiam. O processo natural que nos conduz. Uma dessas leis é muito importante: a Lei de Causa e Efeito. Acontece que a vida é como o mar. 11

12 Um dia leva para longe aquilo o que atiramos, para no dia seguinte trazer de volta aos nossos pés. E o que é pior: não erra o endereço. Traz, adequadamente, para cada um, exatamente aquilo que cada um faz jus no momento certo, na forma certa, um movimento automático. Notem que a vida não é punitiva nem compensadora. A vida é simplesmente natural, justiceira, no sentido da justiça de que cada um recebe aquilo que semeia. A vida é fase igual a uma maré. Mesmo que esteja numa praia distante de outra reencarnação e de outras realidades. Ela grava em nossos corpos espirituais os efeitos das nossas atitudes. Isso é levado para a formação de um novo corpo, em uma nova reencarnação. Isso também engendra todo o mecanismo de circunstâncias: a família na qual vamos reencarnar, a condição socioeconômica, o contexto. Também define a genética do corpo que vamos ter. A genética com a qual reencarnamos é aquela formada pelas preposições do passado e das nossas necessidades do presente, ou seja, aquela genética que está em sintonia com as marcas que estão em nosso corpo espiritual, seja positiva ou negativa, e também das provas e desafios que escolhemos para esta encarnação. Nossos pais nos fornecem a matriz. Dessa matriz retiramos a carga genética que precisamos. Essa carga genética ao longo de toda uma vida estará 20% permanentemente ativada mantendo a vida, e 80% terá que ser ativada e desativada, igual ao interruptor de luz. Será ativada e reativada através do nosso pensamento e do nosso sentimento. Segundo Emmanuel, "geram correntes e forças que sustentam a vida intracelular, através do universo subatômico". O pensamento e o sentimento coordenam os atos do nosso corpo e as substâncias das nossas células. A medicina hoje estuda essa genética, um conjunto de moléculas que está dentro da célula que controla a própria célula. Isso significa que, antes se imaginava que a célula funcionava em regime de monarquia, que os genes fossem os reis, que mandavam e desmandavam. Eles definiam o que iria acontecer e a desativação ocorria naturalmente. Hoje, sabe-se que a célula é uma democracia. O núcleo manda, mas quando a ordem chega no citoplasma, na parte da usina onde tudo começa a ser testado, discute-se a ordem. Se estiver de acordo, é executada. Se não estiver de acordo, manda-se uma ordem para o núcleo pedindo para mudar a ordem. O que a medicina tem descoberto? Descobriram que existe uma série de substâncias na membrana da célula, no citoesqueleto da célula, dentro do próprio núcleo que controla os genes, que ativa e desativa genes, que ajuda na combinação do material genético de outro, ou seja, é aquilo que, verdadeiramente, regula a vida.

13 André Luiz já explicou isso no livro "Evolução em Dois Mundos" quando fala de ópulus, pois os elementos respondem à força mental, presente dentro do interior da célula, controlando as próprias células. O que isso significa? Que aquela corrente de pensamentos que sustentamos ativa ou desativa os genes do nosso corpo, de acordo com a sintonia. Por exemplo, se eu encarnar com a pré-disposição de ter um câncer e óbito aos 40 anos de idade e, ao longo desses 40 anos aquela energia que estava no meu corpo espiritual foi despertada e a minha alma foi renovada, pois estavam ligados àquela experiência, significa que posso manter com meu pensamento, com o meu sentimento, uma ordem mental que inative aquele gene que determina o câncer. Também digo que você tem um câncer aos 40 anos e se não se renovou e ainda piorou, você, de fato, muitas vezes, terá uma experiência muito pesada. Às vezes, as coisas se armam como uma tempestade e podem passar como uma chuvinha. Às vezes, pode vir como uma garoa fininha e virar uma grande tempestade e enchente. Isso depende de como vamos estimular o funcionamento do nosso corpo, através da vibração, do nosso pensamento e do nosso sentimento. Não herdamos essas características dos nossos pais. Herdamos do nosso passado, das nossas necessidades. Nossos pais são só divinos intermediários que fornecem a forma, e o conteúdo é colocado por nós, de acordo com as nossas necessidades, de tal maneira, que tudo está préprogramado nos pontos principais. Uma grande quantidade de coisas está sendo construída ao longo da vida e são conduzidas pelas leis divinas. Ao longo da encarnação encontraremos muitas circunstâncias desafiadoras. Encontraremos doenças, dores, luta que fazem parte do nosso contexto abençoado de aprendizado e crescimento. Devemos aprender a bendizer isso. Os Espíritos sempre nos dizem para olharmos com amor para nossas provas, sem lamentação e sem queixa. Lamentação e queixa só nos fazem perder o vigor. Desabafe quanto é necessário, libere a catarse quando precisa, chore, lavando a sua alma, mas fique atento para reconhecer qual é o movimento da alma. Muitas vezes as lágrimas não são de desabafo, mas de sentir-se vítima ou de acusação. Assim, não estamos lavando a alma e intoxicando-a através da ativação dos genes específicos da doença. Quando lavamos a alma, de forma abençoada e colocamos para fora os conteúdos mórbidos, renovando a alma com esperança, então a vida se transforma num mar de bênçãos. 13

14 Por isso, Dias da Cruz acabou de escrever um livro chamado A Pílula de Esperança, que diz: É necessário que possamos ingerir todos os dias as pílulas de esperança, de confiança e de gratidão, que são os movimentos essenciais que levam a alma em direção à saúde". Através da gratidão olhamos com amor para tudo que já existe, aprendendo a repartir, ao invés de pedir mais. É uma lei da vida. Aquele que sabe repartir o que tem, recebe mais. À medida que se entra na gratidão, entra-se em sintonia com o fluxo de abundância. Dias da Cruz também diz: "O rio da misericórdia divina está disponível para todos. Do rio da misericórdia cada um bebe de acordo com a caneca que cada um levou ao rio. Se acha que merece uma xícara de café, é isso que terá. Se acha que merece um balde, é isso que terá. O que isso significa? O que se recebe vem de acordo com o tamanho do passo que cada um dá em direção a esse fluxo de abundância. A vida nos ama, incondicionalmente. O sol nasce para justos e injustos, para bons e maus. Para que possamos colher aquilo que já está programado, é necessário ter sintonia, através do livre arbítrio e não da necessidade de chantagear Deus para que Ele nos dê o que queremos, mas na sintonia para percebermos o que Deus tem reservado para nós. A vida não falta. O que falta é uma postura de aceitação, de abertura, de sintonia com a fonte. Nós sabemos dos vários erros de passagem. Cometemos muitos erros, temos muitas quedas e é natural porque a vida é erro e acerto. Trazemos muitas culpas e, em muitas vezes, muito bem estruturadas dentro de nós. Falaremos um pouco sobre culpas e depois encerraremos falando da ação da caridade sobre elas. O livro "Cura e Autocura", o primeiro livro que lancei, aborda a cura através de três aspectos: - O primeiro é o caminho da fuga. Esse caminho é aquele olhar para a isenção de culpa e não tem responsabilidade alguma. A culpa é um fenômeno natural diante das nossas falhas e dificuldades e aparecerá fatalmente em nossas vidas. A culpa não é ruim. Ruim é a forma como lidamos com ela. A culpa é simplesmente uma conscientização e evidencia a responsabilidade pelas nossas próprias atitudes. Quando se nega a culpa, nós fugimos para a dependência, para os vícios, para os comportamentos projetivos, jogando a responsabilidade para o outro, apontando o outro, falando da dificuldade do outro. Quando apontamos o dedo para o outro, temos três dedos apontados para nós mesmos. Se é o outro que tem culpa e não nós, só Deus é quem sabe, só a Justiça e o Ser Divino é quem sabem verdadeiramente.

15 - O segundo é quando não olhamos para a nossa dificuldade, e apontamos a dificuldade no outro. Há um velho ditado que diz: "Quando A fala de B sabe-se mais de A do que de B". Quando alguém fala de outra pessoa, ficamos sabendo mais de quem fala do que da outra pessoa. Quem fala se denuncia na forma de interpretar seus valores de vida, seu comportamento, seu julgamento. - O terceiro é quando encaramos a culpa, assumindo a responsabilidade, podemos tomar dois caminhos diversos: um é o caminho do remorso e o outro do arrependimento. - O caminho do remorso é o caminho do orgulho. Não é um caminho necessário. É um caminho de escolha. A alma orgulhosa fica presa no passado e entra em depressão. A depressão está muito ligada ao passado, enquanto que a ansiedade está projetada no futuro. Muitos de nós temos uma ou a outra. Muitas pessoas projetam as coisas no futuro sem viver o momento presente. Muitos ficam presos ao passado. Cheios de autopiedade e negam o próprio valor. O caminho do remorso determina a autopunição. O indivíduo fica preso na sua própria dor, se autopunindo. Isso é muito interessante, porque nesse livro novo, Dias da Cruz escreveu algo que chamou a atenção: "Muitos dos doentes se comprazem apenas em se admitirem culpados e acham que ao se dizerem culpados e menosprezarem a si mesmos estão se redimindo daquilo que fizeram ou minimizando suas dificuldades". Então, ele complementa: "A felicidade não decorre do reconhecimento da culpa, mas na reparação do mal". Do compromisso e da reconexão com o bem. Este caminho de remorso não leva a nada, gerando depressão e sofrimento desnecessários. - O caminho do arrependimento é o caminho natural. Allan Kardec fala dele no livro "O Céu e o Inferno", 2ª parte, o código penal da vida futura. Ele diz: "O arrependimento é o caminho essencial. Todos que entram em contato com a sua culpa deverão passar por ele. O arrependimento é o filho da humildade". É aquele movimento de se olhar para trás e dizer: "Poxa, não fiz o que devia, o que podia, o que era justo, o que era adequado, não fiz aquilo que sabia, mas sou filho de Deus, caio e levanto, começo e recomeço. Sigo em frente e agora em direção da reparação, de buscar e ofertar o bem onde fiz o mal. Às vezes se encontra o caminho do sofrimento, caminho este que a grande maioria da Humanidade tem escolhido. O sofrimento é uma revolução, não é mesmo? O sofrimento não faz crescer, não faz nada, então, vamos tirar essa ideia da cabeça. O sofrimento é linguagem pedagógica da vida e pode trazer arrependimento. Aquele que sofre se sensibiliza, amadurece, aprende e fica atento ao seu sofrimento. Mas se a pessoa sofre, simplesmente por sofrer, ela não cresce, só endurece e 15

16 muitas vezes, comete outros equívocos. Sofrimento não é caminho, é recurso. Diante do sofrimento não devemos cultivá-lo, mas aprender com ele. Reparação não é sofrer é ofertar o bem onde existe o mal. Dias da Cruz diz que: "Quando for de ausência, agora tem que ter presença, onde houve negação do bem, agora tem que haver o bem manifesto. Simples assim. A alma que entra no arrependimento sincero, segue em direção daquele que foi lesado e busca oferecer reparação. Mas nem sempre isso é fácil. Nem sempre a outra pessoa está disponível, no momento adequado. Entre o arrependimento e a reparação existe um tempo que pode ser mais ou menos longo, depende tanto do esforço do indivíduo quanto das circunstâncias. Allan Kardec chama isso de momento de expiação. É o período em que o indivíduo está desconfortável perante a Lei Divina, muitas vezes, sentindo-se em sofrimento, porque tomou a consciência do mal realizado, mas ainda não consegue realizar o bem. Nesse aspecto e nesse campo, quanto mais o indivíduo se conecta ao bem realizado, à caridade, ao amor ao próximo, mais fortalece a sua vida, mais cresce, porque as próprias culpas, verdadeiramente, só se apagam da nossa consciência, quando temos tanto orgulho do bem realizado, orgulho no sentido benéfico, quanto a alegria de constatar quanto o sofrimento gerou a culpa. Em outras palavras, quando a balança da vida se equilibra, a gente sente que pode seguir num outro movimento. André Luíz diz com muita propriedade: "Todo aquele que opere e coopere no bem pode sempre esperar o melhor. Não é promessa de amizade, é lei". Um indivíduo compromissado com o bem, sempre terá recursos à sua disposição, alívio, mãos amigas, entidades espirituais dedicadas querendo aliviar seu sofrimento. Vai amealhar simpatia, sentimento de gratidão, movimento de amor e voltarão para fazer a limpeza interior daquele que é o beneficente. Saberá renovar valores, sentimentos, renovar o movimento da alma. Isso levou Chico Xavier a dizer: "Toda vez que a Justiça nos procura para acerto de contas, se nos encontra trabalhando em benefício dos outros, manda a Misericórdia Divina que a cobrança seja suspensa por tempo indeterminado. Se a Justiça vem cobrar e nos encontra servindo e amando, manda a vida que a gente acerte as contas no amor e não na dor. O Evangelho nos diz que misericórdia não requer sacrifício. Jesus nos afirmou: Eu vim para que tenham vida e vida em abundância (João, 10:10). Deus deseja que o homem obedeça a sua palavra e não que Lhe ofereça sacrifício: Misericórdia quero, e não sacrifício (Oséias, 6:6).

17 De nada adianta ficarmos lamentando, nos penalizando imaginando que isso é evolução. Quem muito lamenta é uma pessoa muito orgulhosa que não olha para o próprio orgulho. Precisa ficar se menosprezando para poder equilibrar a ordem interna, de tanto ter sentimento de superioridade. Precisamos lidar com naturalidade com a vida. É possível olharmos para nossas experiências com amorosidade e perceber que estamos a caminho, nos alegramos de estar indo ao encontro do Pai, sabendo que o Pai nos espera de braços abertos. Portanto, vamos fazer o máximo que estiver nosso alcance. Paulo de Tarso disse: "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos.... (Atos dos Apóstolos, 17:28) Deus é a misericórdia infinita. É um Deus que ama suas criaturas e que não olha para cada uma delas para listar as dificuldades e problemas, e muito menos para apontar culpas. Deus nos olha com amor incondicional, não por nosso merecimento, mas pela nossa condição fundamental. O espírito não necessita merecer para ser amado. É amado por sua natureza, por ser filho de Deus. Quando Deus olha para a criatura, não vê uma obra imperfeita. Vê uma obra perfeita em evolução. Sabe que mais dia ou menos dia, chegaremos ao porto do seu amor. Ele tem paciência para esperar a semente germinar e frutificar no seu tempo. Assim como a semente, também crescemos, criamos o caule, damos flores e frutos. Independente de ser caule ou fruto maduro o espírito passará sempre pela experiência das quatro estações: primavera, verão, outono e inverno, que são ciclos da alma que serão vivenciados em todas as fases. A abundância do verão, a flora da primavera, a introspecção do outono, a inversão do inverno são os ciclos naturais que nos conduzem adiante. Todas as fases e todas as estações são divinas. É preciso que o homem olhe com amor para a Natureza, não para se acomodar nela, mas para ter consciência que sendo Natureza, tudo se modifica. Amanhã é um dia de esperança. A vida trará sempre outra fase, outro ciclo e tudo se renovará. Depois da noite vem o dia claro. O bem é a linguagem natural do Universo e compete-nos identificarmonos com o bem através dessa linguagem, saindo da posição de vítima, saindo da depressão e colocando a mão no arado, porque as conquistas são 1% de inspiração e 99% de transpiração, esforço e dedicação. André Luiz encerra o livro "Evolução de Dois Mundos" dizendo: 17

18 "Não será lícito, porém, esquecer que o bem constante gera o bem constante e, que, mantida a nossa movimentação infatigável no bem, todo o mal por nós amontoado se atenua, gradativamente, desaparecendo ao impacto das vibrações de auxílio, nascidas, a nosso favor, em todos aqueles aos quais dirijamos a mensagem de entendimento e amor puro, sem necessidade expressa de recorrermos ao concurso da enfermidade para eliminar os resquícios de treva que, eventualmente, se nos incorporem, ainda, ao fundo mental. Amparo aos outros cria amparo a nós próprios...". (Página 219 Pedro Leopoldo, 29/06/1958) André Luiz diz que a vibração e o amor voltam lá dos planos espirituais, sem necessidade de que uma energia doentia se manifeste no plano físico, porque o bem realizado é o nosso maior advogado em todos os momentos. É a essência da vida. À medida que nos movimentamos no bem, nossos recursos e nossas potencialidades, a vida se dilata. Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar. Quando Jesus ouviu o anúncio da morte de João Batista, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que a multidão soube, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que Jesus desembarcou, viu uma grande multidão de aproximadamente cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças, e tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si. Ele poderia ter feito chover o maná dos céus, materializando alimentos, assim como fez com o vinho, em Caná, se assim o desejasse. No entanto, Jesus lhes disse: Dailhes vós mesmos de comer. E os discípulos responderam: Só temos aqui cinco pães e dois peixes. Disse Jesus: Trazei-os aqui. Elevou os olhos ao céu e abençoou. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos e estes à multidão. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. (Mateus, 14:13-21) O recado de Jesus para as nossas vidas é: "Não importa a dor que você vivencie, não importa a luta que você enfrente, não importa a dificuldade que você esteja enfrentando, a vida sempre lhe requisitará cinco pães e dois peixes. Jesus sempre lhe perguntará o que você tem para oferecer. Não importa se é pouco ou muito, porque o que você oferecer para a vida, a vida dirá que é suficiente. Multiplicará e cada vez mais o recurso será maior e mais abundante, fazendo, então, com que tudo se realize.

19 Estamos caminhando em direção à casa do Pai e Ele nos espera de braços abertos. O Pai não tem nenhuma crítica, nenhum julgamento, só os braços amorosos, abertos para nós, dizendo: "Onde estava você, meu filho, que Eu espero há tanto tempo?. Um dia, presenciei um companheiro chegar à Casa Espírita e ser recebido pessoalmente, em uma atitude rara e única, pelo seu mentor, incorporado. Quando ele chegou, o mentor disse-lhe: "Meu filho, a minha alegria pela sua presença, aqui, hoje, é infinita, porque há 400 anos eu espero por você, desde a última vez que nos reunimos sob o céu da verdade. Desde aquele instante em que você se desviou do bem, venho tentando trazê-lo de volta para o caminho do amor, sem conseguir. E, neste momento, que você vem à Casa Espírita, chamado por Deus, para os seus deveres, eu quero lhe dizer que é bem vindo em nome de Jesus. Todos nós temos aqueles que nos amam, bastando que desejemos deixar de reclamar da vida e ofertar aquilo que temos para dar, e a vida multiplique, para que a saúde da alma e do corpo seja encontrada. A vida deve ser de alegria, de satisfação e de felicidade. Espero que estas palavras sejam gotas de água para alimentar o coração de todos vocês, tantas vezes ferido pelas experiências da vida, para que possam se fortalecer na presença da Divina Luz. Palestra proferida em 27 de fevereiro de 2013, na Instituição Beneficente A Luz Divina. Transcrição, com correções, da gravação feita na A Luz Divina, em 27/02/2013. O palestrante afirmou, no final, que o teor desta palestra se encontra em seus dois livros: Cura e Autocura uma visão Médico Espírita e Autoamor e outras potências da alma. -*-*-*-*-*-*- Andrei Moreira Machado e Souza é médico, formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, especializado em Homeopatia. Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, desde Possui treinamento em Constelação Familiar pelo Instituto Bert Hellinger Brasil Central. Contatos:

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