A leitura em língua estrangeira e o uso do computador como meio facilitador: uma breve discussão
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1 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 155 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador como meio facilitador: uma breve discussão Carla Barsotti (Mestranda) Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas - CEFET-PR Maclóvia Correia da Silva (Doutora) Curso de Pós-Graduação em Tecnologia do CEFET-PR
2 156 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... Resumo Este artigo, parte integrante de pesquisa de mestrado, apresenta inicialmente uma pequena introdução ao surgimento e evolução histórica do conceito de língua estrangeira para fins específicos. A seguir algumas das características e objetivos desta modalidade de ensino da língua são apresentadas. Na seqüência são tecidas considerações sobre o processo de leitura em primeira língua e em língua estrangeira. Finalmente realiza-se uma breve discussão sobre a utilização do computador para o ensino de leitura em língua estrangeira, e as possibilidades e restrições apresentadas por esta tecnologia. Palavras-chave: língua estrangeira para fins específicos, leitura em língua estrangeira, instrução via computador. Abstract This paper, part of a dissertation research, presents initially a short introduction to the emergence and historical evolution of the foreign language for specific purposes concept. Some of the characteristics and objectives of this approach of language teaching are then presented. After that some aspects of the reading process in the first language are considered. Finally there is a brief discussion about the use of computers for the teaching of reading in a foreign language, and the possibilities and constraints of this technology. Key words: foreign language for specific purposes, foreign language reading, computer based instruction.
3 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 157 Introdução O conhecimento de uma língua estrangeira é importante para a qualificação de estudantes e profissionais. A continuação da educação superior e a promoção de pesquisas e estudos avançados nas diversas áreas das ciências humanas, exatas e biológicas, exigem o domínio de habilidades específicas de uso de línguas estrangeiras. O conceito de língua, para fins específicos, remonta ao século XVI. Nesta época, constatou-se a necessidade da utilização da língua para fins comerciais, com o objetivo de receber refugiados protestantes que chegavam à Inglaterra. Isto gerou um foco de atenção em torno do inglês comercial nos primórdios do ensino de língua inglesa (Duddley- Evans & ST John, 1998). A partir do século XIX, com o surgimento de livros e manuais direcionados à redação de cartas e ao aprendizado do inglês comercial, esta modalidade de uso da língua foi se popularizando e chegou ao século
4 158 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... XX juntamente com o desenvolvimento da economia mundial, nas décadas de 50 e 60. O inglês foi difundido como língua internacional da ciência, tecnologia e negócios, por estar relacionado aos países mais desenvolvidos e de maior poder econômico. Desde então, o uso da língua para fins específicos tem se desenvolvido numa busca para contemplar os vários níveis da atividade humana. Além disso, no mundo atual, é crescente o número de pesquisadores e estudiosos que desempenham múltiplas tarefas e apresentam dificuldades de horário e locomoção, além de diferenças no ritmo de aprendizagem de línguas estrangeiras. Para permitir a superação destas dificuldades, buscam-se soluções que facilitem o acesso à educação àqueles que não são atendidos pelos meios convencionais. Visando fundamentar à ação docente e promover a adequação pedagógica do ensino de leitura em língua estrangeira às necessidades dos aprendizes a escola, então, terá que ser menos formal e mais flexível (Bastos, 1998, p.38) e fazer uso de novas tecnologias educacionais. Dentro desta linha de pensamento, o presente artigo aborda primeiramente o ensino de línguas para fins específicos juntamente com suas características e objetivos. A seguir são abordados os processos de leitura em primeira língua e em língua estrangeira. Nas considerações finais realiza-se uma retomada das idéias com o objetivo de sintetizar e reforçar os principais pontos discutidos. O ensino de línguas para fins específicos O uso de línguas para fins específicos, também chamado por alguns autores de instrumental, se destina, principalmente, a proporcionar aos usuários uma comunicação eficaz em situações práticas de estudo ou trabalho. Ele é visto como uma modalidade dentro do ensino de línguas estrangeiras. O ensino de língua para fins específicos busca preparar os aprendizes para realizar uma comunicação efetiva. Ele se fundamenta, basicamente, em análises das necessidades dos aprendizes, pois são os propósitos destes que irão nortear o tipo de linguagem, o material e a metodologia a serem empregados. A análise das necessidades busca estabelecer e especificar com clareza o que os aprendizes deverão realizar por meio da linguagem, e em quanto tempo. O ensino de língua inglesa para fins específicos possui, segundo Duddley-Evans & St John (1998), algumas características fundamentais. Entre elas destacam-se: o planejamento realizado de acordo com as necessidades específicas do aprendiz; o ensino centrado na linguagem apropriada para atividades
5 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 159 específicas, incluindo sintaxe, semântica, vocabulário, discurso e análise do discurso; a inexistência de uma metodologia única, padronizada e pré-ordenada, pois ela será definida de acordo com os objetivos traçados; e a possibilidade de restringir o ensino a habilidades específicas. Esta modalidade de ensino apresenta uma diferença marcante em relação ao ensino de inglês geral, o professor não está na posição de ser o principal conhecedor do conteúdo do material (Duddley-Evans & St John, 1998). O aluno, muitas vezes, conhece melhor e mais profundamente aquele conteúdo específico, porque o foco não está na língua estrangeira, mas nas atividades por ela facilitadas. O diagrama a seguir representa uma adaptação da classificação proposta pelos autores para o ensino de inglês para fins específicos, de acordo com a finalidade e a área profissional do aprendiz: INGLÊS PARA FINS ESPECÍFICOS OCUPACIONAL EDUCACIONAL FONTE: Duddley-Evans & St John, VOCACIONAL PROFISSIONAL PARA ESTUDO EM DISCIPLINA ESPECÍFICA COMO DISCIPLINA ESCOLAR Por ser planejado e realizado de acordo com as necessidades específicas dos aprendizes, o ensino da língua para fins específicos pode enfocar habilidades distintas. Estas habilidades são a expressão oral, a compreensão oral, a expressão escrita, a compreensão escrita. Pode-se ainda fazer uma combinação destas habilidades conforme os objetivos a serem atingidos. Vale ressaltar que o presente artigo enfoca a compreensão escrita, ou seja a leitura. O processo de leitura A leitura em qualquer língua objetiva primeiramente a aquisição de informações, seja para estudo, trabalho ou lazer. Portanto, para o leitor, o conteúdo do texto é o mais importante. Os aspectos formais, como o tipo de discurso e os recursos gramaticais, estão normalmente em segundo plano. Pois, conforme Eskey, as pessoas lêem, principalmente, pelo significado. Para elas, a linguagem de um texto é somente um meio para um fim. O fim é a compreensão. (1986, p.4) Foi a partir da teoria psicolingüística de Goodman que o leitor passou a ser visto como um participante ativo no processo de leitura (Carrell, Devine & Eskey, 1988). Processo este que inclui o processamento de informações lingüísticas em vários níveis, como sintático e semântico, além da utilização do conhecimento prévio do leitor, o que lhe permite fazer e confirmar previsões sobre o texto.
6 160 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... A leitura é um processo cognitivo, no qual o cérebro absorve as informações transmitidas pelos olhos e as relaciona com conhecimentos previamente adquiridos. Através deste processo, o leitor constrói a significação do texto, que passa a fazer parte do seu repertório. Ao combinar o seu conhecimento de mundo ao conhecimento específico sobre o discurso, o leitor cria expectativas sobre a linguagem e o conteúdo do texto. A partir destas expectativas o leitor faz previsões que o auxiliam a interpretar o significado do texto, que é negociado com o autor. Segundo Eskey (1986), quanto mais precisas as previsões do leitor, mais independente do texto ele se torna. O cérebro do leitor organiza estas informações e significações, de forma sistematizada, formando modelos e redes de informação aos quais ele recorre ao fazer a interpretação de um texto. Eskey (1986) constata que o processo através do qual o leitor utiliza estes modelos e redes ainda não é claro, mas ele afirma que eles desempenham uma função primordial no processo de compreensão da leitura. São dois os tipos de habilidades complementares que se fazem presentes durante o processo de leitura. São elas: as habilidades cognitivas primárias, através das quais o leitor realiza a simples identificação dos signos, baseando-se no conhecimento da língua; e as habilidades cognitivas complexas, que permitem ao leitor estabelecer relações entre as informações préadquiridas e as que estão no processo de aquisição. As habilidades do segundo tipo dependem da aptidão verbal do leitor, do assunto do texto e de como a informação se organiza no discurso. A processo de leitura em língua estrangeira Apesar de serem utilizadas as mesmas estratégias de leitura em primeira língua e em língua estrangeira, existem aspectos que diferenciam a performance dos leitores nas duas situações. Todo leitor fluente possui um repertório de informações sobre sua língua nativa que lhe permite transitar com desenvoltura por textos de diversas naturezas, sejam eles acadêmicos, científicos, jornalísticos, artísticos ou outros. O seu conhecimento de vocabulário, recursos lingüísticos e estilísticos facilitam o processo de leitura tornando-o automatizado. Por outro lado, o leitor de língua estrangeira, cujo nível de fluência não seja próximo ao do leitor nativo, pode encontrar dificuldades para automatizar o processo de leitura, pois o seu repertório é limitado. Ao não ser capaz de reconhecer os recursos lingüísticos, estilísticos e de vocabulário de um texto, este leitor precisa transferir as estratégias que ele intuitivamente utiliza na leitura em língua nativa para a
7 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 161 leitura em língua estrangeira. A percepção destas técnicas e o seu uso consciente podem facilitar o processo de leitura e proporcionar o acesso às informações desejadas. Os leitores de língua estrangeira, ao se depararem com textos autênticos, sentem-se algumas vezes intimidados e freqüentemente acreditam que para apreender o sentido de um texto devem compreender cada uma das palavras nele contidas. Eskey nota que a leitura é uma habilidade que pode ser desenvolvida, e afirma que: uma aula de leitura deve ensinar uma habilidade, não um conteúdo. Para o leitor quanto mais conhecimento ele puder adquirir, melhor conhecimento da língua, da cultura e do mundo mas nenhuma quantidade de conhecimento garante uma leitura fluente. A leitura é uma habilidade que deve ser desenvolvida, e somente pode ser desenvolvida, através de prática extensiva e contínua. As pessoas aprendem a ler, e a ler melhor, lendo. (1986, p.21) Portanto o leitor pode desenvolver e aprimorar sua habilidade através de prática extensiva, e com o conhecimento e o uso de técnicas apropriadas. Para um leitor não proficiente na leitura em língua estrangeira, as técnicas de leitura, que na primeira língua são aplicadas instintivamente, precisam ser conscientemente utilizadas. O uso destas técnicas impele o leitor a desenvolver estratégias que o auxiliam a lidar com palavras desconhecidas e estruturas aparentemente complexas. Isto permite que ele tenha acesso às informações do texto mesmo sem possuir um grau elevado de fluência lingüística. O ensino de leitura via computador Atualmente o ensino de leitura, seja em primeira língua ou em língua estrangeira, pode se dar por via eletrônica já que o uso do computador como meio de instrução tem se difundido largamente. Ele apresenta características de animação e som que tornam o ensino atraente e versátil. A rápida evolução dos softwares e hardwares possibilita a combinação de características de som, imagem, interação, avaliação e permitem a adaptação de instruções. Estas características somente podiam ser combinadas pelo professor ao utilizar recursos didáticos diversos, como gravadores, vídeos, livros, projetores entre outros. Dever (1986) afirma que o ensino de leitura via computador se mostra especialmente vantajoso em duas áreas: na instrução individualizada extensiva de natureza interativa, e na produção e manutenção de relatórios sobre a atividade e desempenho dos usuários.
8 162 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... A primeira, instrução interativa proporcionada pelo computador, se opõe ao ensino tradicional onde o meio de instrução é o livro. Não há dúvida de que este é um meio relativamente barato de propagar informações para um grande número de pessoas. Por outro lado o livro é um meio de instrução não interativo, cabendo ao professor a tarefa de imprimir interatividade ao processo de ensino. Portanto, no ensino tradicional como ressalta a autora, a quantidade de interação é diretamente proporcional ao número de alunos na sala de aula. (Dever, 1986, p.185) Por conta disso a eficiência da instrução e do monitoramento podem ser prejudicados. A instrução via computador, ao contrário, é comumente um processo de instrução individualizado, pois o aluno pode interagir com o material através do computador, no local e horário que lhe aprouver. Além disso, ele também pode receber vários tipos de feedback a respeito das atividades que desempenha. Sendo assim, o aprendiz tem liberdade de progredir no seu próprio ritmo, o que dificilmente ocorre no ensino presencial, ou mesmo no ensino sincrônico a distância. Segundo Dever, as pesquisas na área da leitura têm mostrado que todos os alunos aprendem através da instrução via computador. Porém alunos de menor habilidade aprendem mais devido ao preenchimento da sua necessidade de interação individual adicional. (1986, p.185) A segunda vantagem apontada pela autora, que é a geração de relatórios sobre o desempenho dos alunos, proporciona ao instrutor e ao próprio aprendiz, a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento de sua habilidade lingüística. Isto porque o computador é capaz de manter um controle de todas as ações do aprendiz de forma não intrusiva. Tais relatórios podem se constituir em fonte de estudo sobre os estilos de aprendizagem, a organização e ordenação dos assuntos e materiais usados, a eficácia do programa, entre outros. O computador como meio de instrução: possibilidades e restrições Não há dúvida de que existem características humanas ainda não aprendidas pelo computador, como a capacidade do professor de fazer ajustes, consciente ou inconscientemente, ao constatar a inadequação do material de leitura ou das técnicas utilizadas. Ou ainda a habilidade de tornar mais interessante um material que o aluno considera desinteressante ou enfadonho. Segundo a autora, nenhum software é ainda capaz de aprender com o input do aluno como o ser humano faz. Presentemente ele [o computador] só é capaz de reagir a respostas pré-definidas. Assim, é responsabilidade do designer
9 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 163 instrucional de software incluir no programa a capacidade de adaptação do conteúdo instrucional e da complexidade das tarefas às necessidades dos alunos. Um dos elementos fundamentais desta capacidade é a provisão de tarefas opcionais em vários níveis de complexidade para cada habilidade de leitura. (Dever, 1986, p.189) O computador, ao se constituir em um meio interativo, pode ser usado durante a utilização de programas para a avaliação contínua da performance do aprendiz. Em tal situação ele pode fornecer dados como velocidade da leitura, precisão das respostas, porcentagem de aproveitamento e grau de conhecimento do leitor. O computador pode ainda, através de programas específicos, guiar o leitor para o material e tipo de atividade mais adequado ao nível em que ele se encontra. Este conjunto de informações confere autonomia ao aprendiz, o qual pode assumir a responsabilidade pelo seu ritmo de estudo e escolha do nível de dificuldade do material utilizado. Ele é enfim co-responsável pelo seu próprio progresso e sucesso, o que não ocorre comumente em situações de ensino presencial onde muitas vezes o professor é levado a assumir toda a responsabilidade. Susan Dever (1986) constata que a maioria dos programas destinados ao ensino e prática de leitura por via eletrônica se limita a uma apresentação simples do texto seguida por algumas questões. Isto mostra que a dinamicidade dos sistemas computacionais é sub-utilizada e pouco explorada, muitas vezes pelo desconhecimento das possibilidades oferecidas pela tecnologia dos computadores e softwares. Outro fator criticado pela autora é a falta de variedade na complexidade das atividades, o que além de empobrecer os programas de ensino de leitura, não oferece aos aprendizes desafios que os guiem a um crescendum. Para ela: [as] atividades, cada uma de um nível diferente de complexidade, são combinadas para produzir um programa mais abrangente. Isto torna a instrução mais eficiente para um maior número de alunos. Na verdade, muito da crítica relacionada ao início do aprendizado de língua via computador se deve ao fato de a instrução se restringir a um único tipo de tarefa, quase sempre de baixa complexidade e por conseguinte muito limitada para uma aplicação tão difundida. (Dever, 1986, p.203) A combinação de atividades que contemplem os diferentes níveis de complexidade cognitiva, pode imprimir maior abrangência à instrução de leitura via computador. Outro aspecto refere-se aos diferentes estilos de aprendizado das pessoas. Alguns alunos que se beneficiam do estilo mais passivo, preferem que o professor ou o computador assuma uma posição
10 164 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... autoritária. Outros preferem ter maior controle e participar mais ativamente do próprio processo de aprendizagem. Os sistemas computacionais podem responder de forma diferenciada aos diferentes usuários. Eles apresentam a possibilidade de adaptar a instrução da leitura às necessidades do aprendiz, desde que tenham sido programados para tal. Estes sistemas podem tanto possibilitar quanto impedir o controle por parte do usuário. A possibilidade de controle encoraja o usuário a selecionar o conteúdo e modelar o seu programa de instrução de leitura de acordo com seus interesses e necessidades. A autora constata que a oportunidade de envolver o estudante em decisões importantes, relacionadas ao seu próprio aprendizado, é uma das maiores vantagens do uso do computador como meio de instrução. Isto porque ao se tornar co-responsável pelo processo, o aprendiz mostra mais interesse e entusiasmo no aprendizado. Um programa de instrução de leitura pode ainda fornecer ao aprendiz uma listagem que lhe permita, com alguma orientação, escolher o tipo de exercício ou habilidade que ele deseja aperfeiçoar. Para tal é necessário que ele tenha acesso rápido e preciso às informações sobre o seu próprio progresso e aproveitamento. Como afirma Dever o controle do aprendiz sobre o planejamento instrucional conduz a um aprendizado mais eficaz quando o aluno recebe informações sobre o quanto ele aprendeu em relação ao que ainda tem para aprender. (1986, p.209) Considerações finais Este artigo discutiu brevemente a utilização do computador como meio facilitador do ensino de leitura em língua estrangeira. Foi abordado o processo de leitura que objetiva a compreensão de textos escritos e a aquisição de informações. Este implica a participação de um leitor ativo que não apenas processa informações lingüísticas, como também utiliza o seu conhecimento para construir a significação de um texto. Ou seja, tanto as habilidades cognitivas primárias quanto as complexas se fazem presentes durante o processo de leitura. Enfatizou-se que as estratégias utilizadas na leitura em língua estrangeira e em língua nativa são as mesmas, porém o grau de automatização no uso delas é diretamente proporcional à fluência lingüística do leitor. Quando o baixo grau de fluência se torna um fator limitante no processo de leitura, as estratégias utilizadas intuitivamente na língua nativa, precisam ser transferidas para a leitura em língua estrangeira. A habilidade de leitura pode ser desenvolvida e aprimorada através da prática extensiva e utilização de técnicas apropriadas. É importante destacar que para intensificar a prática guiada da leitura em língua estran-
11 Carla Barsotti e Maclóvia Correia da Silva 165 geira e aprimorar a fluência, são utilizados meios de instrução variados. Entre eles o computador, que se constitui em um meio versátil e pode desempenhar o papel de facilitador nos processos de ensino e aprendizagem de leitura em língua estrangeira. A instrução individualizada interativa, na qual o aprendiz pode interagir com o programa no local, horário e ritmo que lhe convierem, está entre as vantagens apresentadas por este meio de instrução. Outro fator positivo destacado é a possibilidade receber informações a respeito do seu desempenho e do desenvolvimento de sua habilidade lingüística. A instrução via computador também permite que o aprendiz seja mais autônomo, encorajando-o a assumir parte da responsabilidade pelo seu próprio aprendizado. Por outro lado, as informações obtidas de forma não intrusiva, podem ainda gerar relatórios para o aprimoramento dos programas de ensino. Assim os sistemas computacionais podem adaptar a instrução às necessidades dos aprendizes e responder a eles diferentemente, desde que tenham sido programados para tal. Eles podem tanto facilitar e promover o aprendizado quanto impedi-lo, pois a capacidade de resposta dos sistemas limita-se às informações pré-definidas e programadas. Ou seja, eles não apresentam as mesmas possibilidades de adaptação que comumente fazem parte do repertório das pessoas. Tendo em vista os resultados preliminares desta pesquisa, é interessante destacar que a instrução via computador depende em grande parte, tanto quanto as outras modalidades de ensino, da qualidade da instrução e não somente do seu meio de transmissão.
12 166 A leitura em língua estrangeira e o uso do computador... Referências bibliográficas BASTOS, J. A. de S. L. de A. (1998). A educação tecnológica: conceitos, características e perspectivas. Coletânea educação e tecnologia: Tecnologia e Interação. Curitiba, p CARRELL, P. L.; DEVINE, J.; ESKEY, D. E. (1988). Interactive approaches to second language reading. Cambridge: Cambridge University Press. DEVER, S. Y. (1986). Computer assisted reading instruction. In: DUBIN, F.; ESKEY, D. E.; GRABE, W. Teaching second language reading for academic purposes. USA: Addison-Wesley Publishing Company, pp DUDLEY-EVANS, T.; ST JOHN, M. J. (1998). Developments in English for specific purposes. Cambridge: Cambridge University Press. ESKEY, D. E. (1986). Theoretical foundations. In: DUBIN, F.; ESKEY, D. E.; GRABE, W. Teaching second language reading for academic purposes. USA: Addison-Wesley Publishing Company, 3-22 GRELLET, F. (1981). Developing reading skills. Cambridge: Cambridge University Press. MIKULECKY, B. S. (1990). Teaching reading skills. USA: Addison- Wesley Publishing Company. NUTTALL, C. (1996). Teaching reading skills in a foreign language. Oxford: Heinemann.
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