EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
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- Vagner Castelo Vilaverde
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1 EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Q U E S T Õ E S E R E F L E X Õ E S Suraya Cristina Dar ido Mestrado em Educação Física, na Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, SP, Doutorado em Psicologia Escolar, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, SP, Livre-Docente pela Universidade Estadual Paulista-UNESP/RC, em 2001.
2 4 O Contexto áa Educação Física Escolar comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, fruto de uma etapa recente da Educação Física. Num primeiro momento apresento e analiso as abordagens Desenvolvimentista, Construtivista- Interacionista, Crítico-Supera-dora e Sistêmica, pois estas me foram apresentadas primeiramente. Num segundo momento discuto as abordagens Psicomotricidade, Crítico-Emancipatór ia, Cultural, aquela apoiada nos Jogos Cooperativos, no modelo de Saúde Renovada e também aquela relacionada aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que entendo tenham também papel relevante na construção do pensamento pedagógico nacional Abordagem Desenvolvimentista O modelo desenvolvimentista é explicitado, no Brasil, principalmente nos trabalhos detani (1987),Tani et alii (1988) e Manoel (1994). A obra mais representativa desta abordagem é Educação Física Escolar: Fundamentos de uma Abordagem Desenvolvimentista (Tani et alii, 1988). Vários autores são citados no trabalho exposto, mas dois parecem ser fundamentais: D. Gallahue e J. Connoly. Para Tani et alii (1988) a proposta explicitada por eles é uma abordagem dentre várias possíveis, é dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar. Segundo eles é uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função destas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física Escolar (p.2). Os autores desta abordagem defendem a idéia de que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física, propugnando a especificidade do seu objeto. Sua função não é desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização e o pensamento lógicomatemático, embora tal possa ocorrer como um subproduto da prática motora. É, também, feita a ressalva de que a separação aprendizagem do movimento e aprendizagem através do movimento é apenas possível a nível do conceito e não do fenômeno, porque a melhor capacidade de controlar o movimento facilita a exploração de si mesmo e, ao mesmo tempo, contribui para um melhor controle e aplicação do movimento, Além disso, a proposta desta abordagem também não é buscar na Educação Física solução para todos os problemas sociais do país, com discursos genéricos que não dão conta da realidade /Em suma, uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem do movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens em decorrência da prática das habilidades motoras. Aliás, habilidade motora é um dos conceitos mais importantes dentro desta abordagem, pois é através dela que os seres humanos se adaptam aos problemas do cotidiano, resolvendo problemas motores. Grande parte do modelo conceituai desta abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora. Como as habilidades mudam ao longo da vida do indivíduo, desde a concepção até a morte, constituíram-se numa importante área de conhecimento da Educação Física, a área de Desenvolvimento Motor. Do mesmo modo, estruturou-se também uma outra área de conhecimento em torno da questão de como os seres humanos aprendem as habilidades motoras, a área da Aprendizagem Motora.
3 O Contexto da Educação Física Escolar 5 Para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido através da interação entre o aumento da diversificação e a complexidade dos movimentos. Assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios motores. A partir desta perspectiva passou a ser extremamente disseminada na área a questão da adequação dos conteúdos ao longo das faixas etárias. Como no domínio cognitivo, uma taxiono-mia para o desenvolvimento motor, ou seja, uma classificação hierárquica dos movimentos dos seres humanos, do nascimento à morte, deve ser estabelecida. Os conteúdos devem obedecer a uma seqüência fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor, proposta por Gallahue (1982) e ampliada por Manoel (1994), na seguinte ordem: fase dos movimentos fetais, fase dos movimentos espontâneos e reflexos, fase de movimentos rudimentares, fase dos movimentos fundamentais, fase de combinação de movimentos fundamentais e movimentos culturalmente determinados. Tais conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades, do mais simples que são as habilidades básicas para as mais complexas, as habilidades específicas. As habilidades básicas podem ser classificadas em habilidades locomotoras (por exemplo: andar, correr, saltar, saltitar) e manipulativas (por exemplo: arremessar, chutar, rebater, receber) e de estabilização (por exemplo: girar, flexionar, realizar posições invertidas). Os movimentos específicos são mais influenciados pela cultura e estão relacionados à prática dos esportes, do jogo, da dança e, também, das atividades industriais. Embora não tenha sido especificamente considerado o item avaliação, no decorrer do trabalho é apresentada uma descrição detalhada das principais habilidades motoras, seus diferentes níveis, até a aquisição de um padrão de movimento com qualidade. E sugerido que os professores observem sistematicamente o comportamento dos seus alunos, no sentido de verificar em que fase o mesmo se encontra, localizar os erros e oferecer informações relevantes para que os erros de desempenho sejam superados. Nesta proposta o erro deve ser compreendido como um processo fundamental para a aquisição de habilidades motoras. Os autores mostram preocupação com a valorização do processo de aquisição de habilidades, evitando-se o que denominam de imediatismo, e da busca do produto. Para identificar o erro do aluno é preciso conhecer as etapas da aquisição das habilidades motoras básicas. O reconhecimento do erro deve ser realizado através da observação sistemática das fases de aquisição de cada uma das habilidades motoras, de acordo com a faixa etária. Nesta perspectiva há uma tentativa de fazer corresponder o nível de desenvolvimento motor à idade em que o comportamento deve aparecer. Por exemplo, aos sete anos a criança deve apresentar na maioria das habilidades motoras padrões maduros de movimento, ou seja, movimentos executados com qualidade de movimento próxima à execução de um adulto. Uma das limitações desta abordagem refere-se à pouca importância, ou a uma limitada discussão, sobre a influência do contexto sócio-cultural que está por trás da aquisição das habilidades motoras. A questão que se coloca é a seguinte: será que todas as habilidades apresentam o mesmo nível de complexidade? Ou será
4 6 O Contexto da Educação Física Escolar que chutar, principalmente em função da história cultural do nosso país, não é mais simples para os meninos do que a habilidade de rebater? Outros exemplos podem ser previstos, por exemplo: ensinar a nadar em cidades litorâneas deve ser diferente de outros tipos de cidade, tanto no que diz respeito aos objetivos de ensinar/ aprender a nadar quanto às experiências que as crianças têm em relação ao meio líquido. Na abordagem sócio-cultural da aprendizagem e do desenvolvimento humano, proposta por Vygotsky, a importância do meio cultural e das relações entre os indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento humano é enfatizada. Portanto, será diferente ensinar futebol para meninas e para meninos, porque o percurso de desenvolvimento é em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é a aprendizagem que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam (Oliveira, 1993). Uma outra questão que pode ser levantada confrontando o modelo de desenvolvimento motor com a abordagem sócio-cultural proposta por Vygotsky refere-se ao conceito de zona de desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento proximal é definida como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se determina através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas que ocorrem sob a orientação de um adulto ou companheiros capazes. Considerando a zona de desenvolvimento proximal e a importância do outro sobre os níveis de aprendizagem, Vygotsky afirma que o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Caberia, assim, à escola dirigir-se às etapas não alcançadas do ensino. Na abordagem do desenvolvimento motor não há menção à zona de desenvolvimento proximal, fazendo acreditar que só após a aquisição do comportamento é que se devem oferecer os conteúdos relacionados às fases relacionadas. Assim, Manoel (1994) ressalta que "...o patrimônio cultural deve ser adaptado ao nível de desenvolvimento do aluno" (p.94) Abordagem Construtivista-Interacionista No Brasil e, mais especificamente, no Estado de São Paulo, a proposta construtivista-interacionista vem ganhando espaço. É apresentada principalmente nas propostas de Educação Física da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), que tem como colaborador o Professor João Batista Freire. Seu livro Educação de Corpo Inteiro, publicado em 1989, teve^papel determinante na divulgação das idéias construtivistas da Educação Física. Esta abordagem tem-se infiltrado no interior da escola e o seu discurso está presente nos diferentes segmentos do contexto escolar. A proposta denominada inter acionista-construtivista é apresentada como uma opção metodológica, em oposição às linhas anteriores da Educação Física na escola, especificamente à proposta mecanicista, caracterizada pela busca do desempenho máximo, de padrões de comportamento sem considerar as diferenças individuais, sem levar em conta as experiências vividas pelos alunos, com o objetivo de selecionar os mais habilidosos para competições e esporte de alto nível. Para compreender melhor esta abordagem, baseada principalmente nos trabalhos de Jean Piaget, utilizaremos as próprias palavras da proposta: "No construtivismo, a intenção é construção do conhecimento a partir da interação do
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