HAITI 8 DE ABRIL DE BLINDADOS EM PORTO PRÍNCIPE

Transcrição

1 HAITI 8 DE ABRIL DE BLINDADOS EM PORTO PRÍNCIPE A situação de aparente calma na capital haitiana, Porto Príncipe, uma cidade com mais de quatro milhões de habitantes, com um índice de desemprego de 80%, e áreas de grandes contrastes, de um lado uma elite rica e de outro uma miséria enorme que pode ser vista nos grandes bairros pobres que cercam o centro e está em constante efervescência, pronto para explodir a qualquer momento. De fato isto ocorreu no dia 08 de abril de 2008, quando milhares de pessoas transformaram um protesto contra a carestia do custo de vida em um distúrbio de grandes proporções, em vários pontos da cidade, pegando de surpresa as forças da MINUSTAH que acreditavam que a situação já estava sob controle e que os problemas eram apenas pontuais. O dever de casa foi bem feito pelas tropas que lá estão sob comando militar do Brasil, com raras exceções, falta apenas a parte da ONU, que já deveria ter investido o suficiente para que situações como esta fossem evitadas, se investimentos tivessem sido feitos no sentido de reerguer a infra estrutura do país, que é não é das piores, andando por lá percebe-se que uma grande identidade daquele povo com seu passado e sua cultura. Existe toda uma infra-estrutura, que embora esteja em colapso, mostra que já houve um passado e presente, talvez com um futuro duvidoso, caso não criem empregos e os oriente a explorarem melhor as belezas naturais como faz o país vizinho, a República Dominicana. O certo que os protestos foram bem organizados, há lideranças, e atingiram diversos pontos de Porto Príncipe, com bloqueio metódico de diversas ruas e avenidas com caçambas de lixo, pneus em chamas, pedras e toda a sorte de detritos que dificultasse o movimento de veículos, enquanto a multidão se dirigia para o objetivo central que era o Palácio Nacional, sede do atual governo que vive uma crise própria, paralela a do povo.

2 A multidão se dirigindo ao Palácio Nacional e tentando invadi-lo no 08 de abril. (Fotos: VIII Contingente -CFN) Blindados Piranha IIIC em ação e a multidão sendo expulsa da área do Palácio Nacional. (Fotos: VIII Contingente -CFN) Tumultos e Barricadas nas ruas do entorno do Palácio Nacional. Notar EE-11 Urutu removendo restos de veículos em patrulha no 08 de abril. (Fotos: VIII Contingente -CFN) Armados de paus e principalmente de pedras, o que era para ser um protesto pacífico contra a carestia do custo de vida, logo se transformou em uma batalha campal, tendo as forças militares e policiais da ONU intervido como forma de proteger aquele prédio, suas imediações e conter a multidão, e logo a seguir proceder à limpeza e desbloqueio das vias e nos dias seguintes proceder a um patrulhamento, evitando que alguns focos se tornassem o estopim de mais confrontos. O saldo de mortes foi pequeno, cinco, mas o susto foi enorme. Diversos veículos blindados de países como Brasil, China, Uruguai, Nepal, Sir Lanka, Bolívia participaram naquele dia e nos posteriores até que a situação fosse se acalmando e vida voltando ao normal.

3 Os blindados operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil tiveram uma participação decisiva no auge do dia 08 quando formaram um perímetro defensivo na área do Palácio Nacional onde foram apedrejados e deram um importante apoio ao EE-11 Urutu do Exército que lá se encontravam. Dois Piranha IIIC desembarcando tropas e o EE-11 Urutu com os alto-falantes sobre a torreta, usado para guerra psicológica na lateral do Palácio Nacional no 08 de abril. (Fotos: VIII Contingente -CFN) No caso dos blindados do Exército (Urutu) é possível vermos diversas improvisações que estão sendo agregadas, fruto da experiência de quatro anos de operações em Porto Príncipe. Quando lá chegaram não possuíam qualquer proteção para o motorista e o atirador da torreta, usaram inicialmente sacos de areia para proteção das escotilhas superiores traseiras e algum tempo depois construíram lá mesmo algumas proteções para a torreta do atirador, fechado nas laterais e aberto em cima, a seguir criaram uma proteção blindada para o motorista, com a montagem de uma cabine totalmente blindada sobre a tampa da escotilha, removendo-se a mesma. Posteriormente criou-se uma cúpula blindada giratória sobre a torreta, o que deu um aspecto horrível ao blindado, como se estivesse carregando um caixote, e em pelo menos um deles se colocou dois alto falantes sobre a mesma, transformando-o num veículo de guerra psicológica que foi empregado divulgando mensagens na língua local nas operações no entorno do Palácio, o que pode ter irritado ainda mais a multidão, tornando-a mais hostil. Também como fruto da experiência do emprego de blindados no Haiti é possível ver em alguns EE-11 Urutu, que ainda operam com a torreta sem proteção na parte superior, a que foi construída por uma empresa haitiana, foram acrescentadas duas

4 tampas de escotilha, soltadas uma na outra e ligeiramente inclinada, encobrindo a parte aberta, a ponto de proteger um pouco mais o atirador, evitando-se que leve pedradas, que poderiam causar sérios ferimentos. Dois EE-11 Urutu com a torreta fabricada no Haiti. Notar que o veículo no primeiro plano já está com duas tampas de escotilha soldadas na parte traseira da torreta para uma melhor proteção do atirador e o do fundo não. (Fotos: VIII Contingente -CFN) Detalhe das três torretas usadas nos EE-11 Urutu do Exército. Da esquerda para a direita, torreta fechada blindada fabricada no Arsenal de Guerra de São Paulo; no centro, torreta fabricada no Haiti e com as duas tampas de escotilhas soldadas na traseira e a direita a mesma sem as escotilhas soldadas, ainda no original como foi construída localmente. Os três tipos estão em operação. (Foto: autor 03/junho/2008) Já os outros países citados operam os veículos sem qualquer modificação, pois os têm utilizados para proteção de seus soldados e no intuito de remover barricadas que

5 tentam bloquear seu caminho e em muitos casos são mais antigos que os empregados pelo Exército. Blindado OT-64 Uruguaio removendo veículo usado como barricada e EE-11 Boliviano num checkpoint. São os modelos mais antigos de Urutu em uso no Haiti. (Fotos: VIII Contingente -CFN) Blindado CASSPIR 4x4 do Nepal e RATEL 6x6 da Jordânia em patrulhas de ruas nos dias após o 08 de abril. (Fotos: VIII Contingente -CFN) O Haiti se transformou num importante laboratório para o emprego de blindados em área urbana, muito embora não exista uma oposição armada e nem facções interessadas em tomar o poder, mas se não criarem um situação que gere empregos e dê comida ao povo, e torne a vida da maioria mais digna, a qualquer momento a situação pode sair de controle e guardadas as devidas proporções, poderá ser o nosso Iraque, basta apenas que alguém fique nervoso numa situação de enfrentamento e dispare uma rajada de tiros de fuzil que mate alguns manifestantes, onde estão mulheres e crianças para que a multidão sem controle se torne uma ameaça mortal para as tropas que estejam operando naquele momento. É preocupante...