A INCLUSÃO DIGITAL COMO INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS

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1 A INCLUSÃO DIGITAL COMO INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS Hector Ornelas Oliveira * RESUMO Este trabalho discorre sobre o tema Direitos Humanos e Inclusão Digital na Sociedade do Conhecimento, apresentando elementos históricos e evolutivos da tecnologia digital, que se solidificou como moderno instrumento de modificação social, com enfoque à realidade brasileira e suas conjecturas políticas, sobretudo no campo da educação. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão Digital. Direitos Humanos. 1. INTRODUÇÃO O advento da difusão social da tecnologia virtual é uma realidade presente desde o final do século XX. O que antes servia meramente a fins militares passou a integrar um instrumento voltado para os mais diversos campos científicos humanos, desde o âmbito econômico até o das relações sociais. Todavia, o acesso a esse novel instrumento de integração ainda é esparso, não aberto a todos. Um enorme potencial a ser explorado ainda é subutilizado, por diversos motivos, seja por não haver interesse do setor privado quanto às políticas públicas intervencionistas, seja pela falta de uma regulamentação central no âmbito legiferante, seja até mesmo pelo conservadorismo cultural. Faz-se mister uma abordagem nesse campo tão em evidência na atualidade, que se transforma numa velocidade copiosa e se deve tentar integrá-lo no contexto social, visando à paz e à solidariedade entre os povos. * Graduando em Direito 7º semestre Faculdade 2 de Julho hec_ssa@hotmail.com

2 2 2. TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO E INSERÇÃO SOCIAL A revolução no campo da tecnologia contemporânea, com início a partir dos anos 60, mas com vertiginoso crescimento a partir dos anos 90, sobretudo relacionada à difusão da internet, que saiu dos laboratórios de pesquisa e das forças militares para o domínio público em 1993, com a criação do World Wide Web (WWW) e que propiciou profundas mudanças sociais, não seria diferente no campo jurídico e se fazia mister uma nova discussão doutrinária acerca dos direitos fundamentais e intrínsecos que norteiam as sociedades isoladamente consideradas e conjuntamente harmonizadas. A concepção das três gerações clássicas, que não guardam relação de hierarquia, e sim gradação de origem, vem sendo superada paulatinamente e introduzida por gerações outras ligadas a campos novéis, como o da biotecnologia e o da realidade cibernética. Com a ampliação da visão clássica no plano da ponderação de interesses e bens constitucionais, os doutrinadores vanguardistas da ciência jurídica têm classificado os direitos fundamentais em: 1ª geração os chamados direitos individuais; 2ª geração relacionados aos direitos sociais; 3ª geração quanto aos direitos difusos; 4ª geração campo da biotecnologia; e 5ª geração advindos da realidade virtual. Foi oportuno e pedagógico relembrar a evolução no campo da classificação doutrinária jurídica, pois demonstra a nova dimensão que o tema aqui tratado recebeu, equiparando-o a direitos seculares como o à vida. E não é para menos. Uma das conseqüências da globalização através da internet é a uniformização dos padrões comportamentais, seguindo modelos dominantes na seara tecnológica e alienígenas às peculiaridades regionais e locais, destruindo-as gradualmente. A inclusão digital não pode ser realizada às escusas da responsabilidade em que se insere socialmente. A tratativa desta à luz dos direitos humanos suscita ao debate diversos questionamentos relativos ao papel social e econômico de sua inserção, às conseqüências quanto à formação global da cidadania e, também, à integração entre pessoas, povos e nações. Inspirada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Carta Magna brasileira de 1988 também acolheu em seu bojo dispositivos que abrangem uma série de garantias fundamentais, sobretudo presentes no artigo 5º, entre as quais a garantia ao acesso de informação e à livre expressão da atividade científica e de

3 3 comunicação. Em semelhante diapasão, o artigo 219 reitera que o mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal. Portanto, a Constituição Federal de 1988, de forma bastante ampliativa, destaca a importância do fomento ao desenvolvimento interno de todos os meios tecnológicos que estiverem ao alcance, entre os quais, hoje, podemos citar a inclusão digital, por meio de políticas públicas. Todavia, por conta da inexistência de um conjunto normativo geral, que perpasse desde o âmbito penal até o plano executivo, revela-se impreterível o reconhecimento jurídico efetivo dos direitos de quinta geração, competindo aos operadores do Direito a busca por esse caminho harmônico, sem o qual crescerá em torno de valores diversos daqueles que norteiam o conjunto da sociedade (MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo p ), enquanto houver o fracionamento e a carência de regulamentações externas e internas às nações. Em 2011, o poder executivo brasileiro acordou juntamente com as operadoras de telefonia o Plano Nacional de Banda Larga (PNLB), no qual ficou estabelecida a oferta da banda larga com velocidade de 1 megabit por segundo ao custo de R$ 35. Como não haverá investimento de dinheiro público, esse valor poderia ser ainda mais barato, ficando por menos de R$ 30, se os estados abrissem mão da cobrança do ICMS. O problema é quanto à qualidade do produto ofertado. A obrigação das empresas é de garantirem o mínimo de 40% da velocidade contratada. Em termos relativos, é muito pouco. Considerando-se a complexidade e o peso das modernas páginas da rede, que exigem bastante da velocidade para se ter uma navegação ágil. Quando comparado aos planos já ofertados pelas operadoras, que por conta da livre concorrência baixam os seus preços paulatinamente, a eficiência da chamada internet popular proposta pelo governo federal é bastante questionável. Atualmente é possível achar planos de navegação ilimitada a 1 MB pelo valor de R$ 39,90. Ora, quem pode arcar com o preço da limitada internet popular pode muito bem optar por outra de qualidade superior praticamente pelo mesmo valor. A suposta vantagem ofertada acabaria saindo como uma desvantagem. E mais, comparando-se a cobertura gratuita nacional e a já implantada em outros países, como na Coréia do Sul, por exemplo, é gritante o atraso do Brasil nessa seara (MACEIÓ AGORA, 2011). Outro registro, segundo mesmo sítio na internet, é quanto à concentração de

4 4 hot spots, ou pontos de Wi-Fi, numa única região, o estado de São Paulo, que responde por mais da metade das portas de acesso do país. Para se ter um referencial da disparidade interna, a demanda ofertada em São Paulo é cinco vezes maior que no Rio de Janeiro, o segundo colocado no ranking nacional. O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) também apresenta indicadores relevantes sob o ponto de vista pedagógico e também quanto à oportunidade de acesso e contato da comunidade com o espaço virtual, presentes nas anuais pesquisas, desde 2005, sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras, sobretudo com olhar voltado para o âmbito das escolas públicas. A banda larga já responde pela maioria das conexões realizadas em escolas públicas brasileiras, presente em 87% daquelas que possuem conexão. A deficiência na cobertura da banda larga sobressai-se nas regiões Norte e Centro- Oeste, onde 14% das escolas relatam o acesso discado como tipo de conexão (TIC Educação, 2010, p. 110). Tais dados traduzem a má distribuição da tecnologia pelo país. Outro indicativo faz referência à subutilização da rede mundial de computadores por parte dos docentes. A Internet é mais empregada para preparar aulas, poucos a utilizam para comunicar-se com colegas e outros membros da comunidade, com o fito de compartilhar experiências e aprendizagens, ou mesmo baixar conteúdos disponíveis na rede, ou seja, os docentes pouco exploram o grande potencial desta ferramenta para a comunicação, colocando em evidência a necessidade de ministrar junto aos professores cursos de capacitação e educação sobre o uso da tecnologia, pois devem ser eles os principais interlocutores entre os educandos e o saber tecnológico. Nesta mesma seara digital, o crescimento dos cursos de ensino a distância (EAD), públicos ou privados, por meio da internet, sinaliza que a era da informatização é uma realidade, sobretudo considerando a média dos valores econômicos despendidos pelos interessados em adquirir conhecimento e capacitação. Considerando que apenas 10% dos brasileiros de 18 a 24 anos têm acesso aos cursos de graduação do ensino superior, os cursos de ensino a distância tornam-se uma segunda via, em qualidade e preço, para os futuros ingressos. Nos anos 2000, com a explosão da oferta de cursos de graduação superior, o maior desafio da comunidade educadora tornou-se a manutenção, em seu meio, de instituições idôneas e que desenvolvam cursos com qualidade. E não seria diferente quanto às

5 5 redes de EAD. Há quem sustente que o ensino presencial é essencial como método didático, mas não se pode preterir as contribuições que a tecnologia trouxe. Considera-se até admitir que a cultura brasileira no tocante ao ensino seja a do presencial, mas a idéia de que o EAD por si só é ineficiente é ultrapassada e preconceituosa. Os desafios de controle de qualidade são os mesmos para os dois campos de ensino, apenas com os devidos ajustes específicos. 3. CONCLUSÃO É bem verdade que a sociedade do conhecimento, em especial enfoque no Brasil, caminha a passos lentos no tocante à inclusão digital global, seja no âmbito da normatização jurídica, seja do ponto de vista pedagógico, de forma acessível financeiramente a todos, responsável e educadora, almejando integrar mais um instrumento de alcance do bem-estar social, porém não deixam de ser políticas afirmativas e que, apesar das barreiras enfrentadas junto ao setor privado, tende a buscar o progresso. Resta aos operadores das mais diversas searas envolvidas no processo buscarem a harmonia e o liame que ligará tais laços, com vistas à justiça social e proclamação dos direitos inerentes a todos os seres humanos. 4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BECHARA, Marcelo. A inclusão digital à luz dos direitos humanos. In: CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação São Paulo, 2006, pp Brasil não segue padrões internacionais e rede Wi-Fi está atrasada no país. Maceió Agora. Recife, fev.2011, Seção Notícias. Disponível em < acionais_e_rede_wifi_esta_atrasada_no_pais> Acesso em: 28 set MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p Pesquisa sobre uso das Tecnologias da Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras - TIC Educação Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação. São Paulo, 2011 Disponível em < Acesso em 25 set.2011.