Instituto de Geografia e Ordenamento do Território. Palavras chave: Equidade, Acesso, Acessibilidade, Distância/tempo, Reforma do sistema de saúde.
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- Luiz Guilherme Gabeira Lima
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1 Acesso e acessibilidade aos cuidados de saúde secundários no Alto Alentejo Caso de estudo do concelho do Gavião ao hospital Dr. José Maria Grande de Portalegre Emanuel PEREIRA 1 ; Sérgio MATEUS 2 ; Instituto de Geografia e Ordenamento do Território Resumo No concelho de Gavião assistia-se a duas realidades distintas em termos de relações ao nível da saúde e da educação, a freguesia da Comenda, que sempre teve maiores relações com Portalegre, e as restantes freguesias, com Abrantes. Ao nível da saúde a população tinha a flexibilidade de escolha do hospital, sendo possível colmatar as distâncias e a carência de transportes públicos que em muitos casos se verifica. O sistema de saúde tem sofrido várias alterações, entre as quais a obrigatoriedade de encaminhamento de todos utentes para o hospital distrital de Portalegre, passando a maioria da população a estar a uma distância entre 30 a 45 minutos. E ainda para agravar esta situação, nos transportes públicos a oferta para Portalegre é menor que a oferta de transportes para Abrantes. Com este estudo pretende-se verificar em que medida as alterações condicionaram o acesso da população do Gavião aos cuidados de saúde diferenciados. Palavras chave: Equidade, Acesso, Acessibilidade, Distância/tempo, Reforma do sistema de saúde. 1. Introdução A escolha deste tema deve-se ao facto do sistema regional de saúde nos últimos anos ter sofrido profundas alterações na sua organização, que teve maior repercussão em concelhos limítrofes ao concelho do Hospital de referência, como o Gavião, onde as distâncias a este aumentaram bastante. Esta questão agudiza-se devido ao perfil envelhecido da população e com a falta de transportes públicos, que surge como das maiores barreiras no acesso aos cuidados de saúde do Alentejo, sendo esta uma área que depende bastante do sistema de saúde. Posto isto pensamos ser oportuno fazer uma análise de quais os impactes destas alterações, e é nesse sentido que o presente trabalho tem como objetivo principal verificar em que medida as alterações condicionaram o acesso da população do Gavião aos cuidados de saúde diferenciados. O acesso aos cuidados de saúde é uma dimensão da equidade, o conceito de acesso exprime a possibilidade temporal, geográfica ou financeira, que os indivíduos têm em obter cuidados de saúde apropriados às suas necessidades, onde se identificam cinco dimensões que podem afetar o acesso, que são a disponibilidade, a proximidade, os custos, a qualidade e a aceitação, um acesso adequado resulta da inter-relação das várias dimensões (Furtado e Pereira, 2010). A acessibilidade pode ser dividida em três dimensões que são as seguintes, a acessibilidade física como a distância e o tempo de percurso, a acessibilidade económica como o custo da viagem e o preço do serviço e a acessibilidade sócio-cultural (Remoaldo, 2002). Sendo que a distância-
2 custo certamente é uma barreira económica que mais acentua as desigualdades espaciais (Simões, 1989). 1. Metodologia Para além da pesquisa de carácter teórico, iremos fazer o diagnóstico do Alto Alentejo em termos demográficos, sociais e económicos, análise da lógica da oferta de saúde. Também vamos analisar o estado da saúde da população identificando as principais causas de mortalidade e de morbilidade e a sua evolução. Como o caso de estudo se refere ao município do Gavião iremos analisar as alterações da oferta com a reforma do sistema de saúde através de entrevistas. De seguida faremos também uma análise das barreiras que condicionam o acesso ao SRS Sistema Regional de Saúde, através da aplicação de um inquérito à população residente no concelho de Gavião e utilizaremos as ferramentas SIG, calculando as distâncias a que a população está destes serviços de saúde, através da criação de isócronas. Numa última parte iremos mencionar os principais resultados, bem como as propostas de otimização. 2. Resultados As alterações na oferta com a Reforma do Sistema de Saúde no Alto Alentejo foram variadas, mas a que teve maior impacto foi a rede de referenciação, que estabelecia uma obrigatoriedade no encaminhamento de utentes para os hospitais do seu distrito. Antes dessa reforma havia uma flexibilidade na escolha do Hospital decorrente das diferenças existentes dentro do concelho; por um lado, tínhamos as freguesias de Gavião, Belver, Atalaia e Margem cuja população antes da reforma era enviada para o Hospital Doutor Manoel Constâncio em Abrantes que pertence ao distrito de Santarém, devido ao menor tempo de viagem e pela maior oferta em transportes públicos; por outro lado, tínhamos a freguesia da Comenda onde o tempo de viagem para o Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre era menor e melhor servido por transporte público.
3 Figura 1 - Distância/Tempo ao Hospital Dr. Manoel Constâncio em Abrantes Figura 2 - Distância/Tempo ao Hospital Dr. Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre Com a reforma o aumento da distância ao Hospital verificou-se em quase todas as freguesias do concelho de Gavião (Figura 1 e 2, Tabela I). Antes desta alteração, onde os utentes eram encaminhados para o hospital mais próximo, 83% da população estaria a menos de 30 minutos
4 do hospital mais próximo, mas após esta alteração, apenas existem 22% a esta distância e cerca de 77% da população está a uma distância entre 30 a 45 minutos do mesmo. Esta alteração teve particular impacte na freguesia de Belver em que a distância de 15 minutos ao hospital foi alterada para uma distância maior de 40 minutos, sendo que o fator distância influencia negativamente a utilização dos cuidados de saúde (Santana, 1994). Tabela I - População do concelho de Gavião segundo a distância tempo (m) a que se encontra de cada hospital Distância tempo (min) Ao hospital de Abrantes Ao hospital de Portalegre Nº % Nº % 0 14m59s 62 1, m 29m59s , , , ,8 Total Geral , ,0 O mundo rural, por mais central que seja a sede ou por mais pequena que seja o concelho, a acessibilidade da população aos cuidados de saúde é, geralmente reduzida, quer por uma grande parte dos habitantes é desprovida de transporte próprio, quer porque existe insuficiência de transportes públicos (Simões, 1989). E é isso que verificamos atualmente em Gavião (Tabela II). Para Abrantes existe uma oferta instalada bastante boa, havendo 4 autocarros que fazem o percurso, ligando várias freguesias a Abrantes. Já para Portalegre o panorama é diferente, apenas existindo 2 autocarros, um no início e outro no final do dia, sendo que deste modo não são satisfeitas adequadamente as necessidades de mobilidade da população. Tabela II - Distância/tempo (Km/min) segundo tipologia de transportes das freguesias de Gavião para Portalegre e Abrantes Freguesias Transporte Individual Transporte Público Portalegre Abrantes Portalegre Abrantes Comenda 39Km 32m 47Km 46m 53m 1h15m Gavião 54Km 42 m 30Km 30m 1h12m 47m Belver 60Km 45m 32,4Km 26m 1h10m Margem 61Km 45m 39Km 39m 1h15m Atalaia 50Km 39m 37Km 36m 57m Outro dos grandes problemas desta reforma é que os bombeiros de Gavião devido à proximidade geográfica a Abrantes, em caso de emergência, encaminham os doentes para o Hospital Doutor Manoel Constâncio em Abrantes. Contudo, em caso de existir a necessidade de internamento do doente, tendo este de ser internado no Hospital de Portalegre, acarreta também maiores custos nas deslocações dos bombeiros.
5 4. Conclusão As perdas de população, com maior evidência nas classes etárias mais novas são um fator bastante importante na perspetiva da saúde, pois é bastante complexo programar unidades de saúde em territórios de forte perda de população e de baixa densidade, onde não existem grandes concentrações populacionais e que será difícil garantir reduzidas distâncias/tempo, bem como, a existência de transportes públicos. Esta perda, aliada ao envelhecimento da população origina uma enorme pressão sobre o sistema de saúde pois os grupos etários mais envelhecidos são os que mais recorrem ao sistema regional de saúde, e segundo as projeções para 2050 espera-se que estes fatores se intensifiquem. Os baixos rendimentos e o desemprego fazem com que a acessibilidades ao sistema de saúde seja assim posta em causa, pois uma parte da população apresenta limitadas condições financeiras para fazer as deslocações até aos hospitais. Esta situação agudiza-se pois face à redução dos serviços de transporte público, esse percurso não poderá ser feito de autocarro havendo a necessidade de recorrer a viatura própria, ao táxi ou às ambulâncias acarretando custos para a Administração Central. Sendo que a distância custo certamente é uma barreira económica que mais acentua as desigualdades espaciais [3]. Por outro lado, a reforma no sistema nacional de saúde caracterizou-se por colocar como hospital de referência do concelho de Gavião o Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre. Pela Polarização no hospital de Portalegre, conseguindo mais especialidades e maior número de consultas, mas levando ao seu sobrelotamento. Esta alteração do hospital de referência levou a que as distâncias/tempo e os custos de deslocação fossem aumentados, deixando a população desprovida de transportes públicos para aceder aos cuidados de saúde, e as barreiras mencionadas pelos inquiridos vão no sentido destas constatações. Assim, todas estas alterações tiveram particular impacte no município de Gavião e será necessário a criação de medidas para mitigar as barreiras. Citem-se algumas: a criação de um ambulatório no centro de saúde que funcionará consoante a necessidade dos utentes; a disponibilização para os desempregados das regalias do cartão idoso já existente no concelho do Gavião, e adicionando descontos nos transportes públicos e nos medicamentos; a criação de um protocolo que permitisse o internamento em Abrantes; e o reforço de uma rede de apoio domiciliário; o ajustamento dos horários de partida para a freguesia do Gavião do único autocarro existente no concelho com chegada em Portalegre, e também a criação de uma rede de autocarros entre os hospitais articulado com a atual oferta de transportes públicos; por fim, as informações devem estar adaptadas aos baixos níveis de escolaridade da população mais envelhecida e deveriam ser divulgados nos centros de saúde e nas paragens de autocarros.
6 5. Bibliografia FURTADO C.; PEREIRA J. (2010) Equidade e Acesso aos Cuidados de Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, pp. 7, 8. REMOALDO, P. C. (2002) Acessibilidade física, funcional e económica aos cuidados de saúde, Actas do IV Congresso da Geografia Portuguesa - Geografia: Territórios de Inovação, Lisboa, Associação Portuguesa de Geógrafos, pp RODRIGUES, A. P. S. (1993) Acessibilidade e utilização dos serviços de saúde - Ensaio metodológico em Geografia da Saúde, Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro. SANTANA, P. (1994) Utilização dos Cuidados Hospitalares - Uma Abordagem da Geografia da Saúde. IV Encontro de Economia da Saúde, Associação Portuguesa de Economia da Saúde, Coimbra. SIMÕES, J. M. (1989) Saúde: o Território e as desigualdades. Dissertação de Doutoramento, Lisboa.
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