PRÁTICA JURÍDICA I. Autor: Professor Paulo Ricardo Nogueira Machado ROTEIRO DE CURSO
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1 Autor: Professor Paulo Ricardo Nogueira Machado ROTEIRO DE CURSO
2 Sumário PRÁTICA JURÍDICA I Plano de Aulas NPJ I Prática Penal:... 3 Dicário Notitia criminis Queixa-crime Relaxamento de prisão em fl agrante Liberdade provisória Resposta à acusação (rito ordinário e sumário) Resposta à acusação (rito do júri) Exceção de incompetência Exceção de litispendência Exceção de ilegitimidade de parte Exceção de coisa julgada Memoriais Embargos de declaração Recurso em sentido estrito Apelação Embargos infringentes e de nulidade Carta testemunhável Agravo de instrumento Agravo regimental Recurso especial Recurso extraordinário Habeas Corpus Coletânea de provas 2ª fase Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal º Exame de Ordem Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal º Exame de Ordem 2ª fase Penal... 36
3 PLANO DE AULAS NPJ I PRÁTICA PENAL: 09/04/2010: Aula de Deontologia Jurídica conjunta com o Professor Gabriel Lacerda. 16/04/2010: Apresentação do curso e explicação da metodologia de aula; demonstração do material a ser utilizado; estabelecimento do conteúdo programático e a forma de avaliação; análise das regras impostas pela CESPE/UnB; procuração; substabelecimento; Notitia criminis. Queixa-crime. 30/04/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; prisão; Relaxamento de prisão; Liberdade provisória. 07/05/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; Defesa preliminar; Resposta à acusação; Exceções. 14/05/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; Memoriais; Embargos de Declaração. 21/05/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; Recurso em Sentido Estrito; Apelação; Embargos Infringentes e de Nulidade. 28/05/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; Carta testemunhável. Correição parcial. Agravo de Instrumento. 11/05/2010: Entrega da peça simulada pedida na aula anterior; Recurso Especial; Recurso Extraordinário; Habeas corpus. 18/06/2010: Prova 25/06/2010: Vista de prova FGV DIREITO RIO 3
4 DICÁRIO 1 NOTITIA CRIMINIS Previsão legal: Art. 5º, II e 3º e 5º, do CPP. Prazo: Não há. Endereçamento: autoridade policial (Delegado de Polícia). Legitimado: o interessado na medida, conforme o caso. Pedido: Medidas que a autoridade policial entender cabíveis. 2 QUEIXA-CRIME Previsão legal: art. 41, CPP. Prazo: Em regra, 6 (seis) meses art. 103, CP e art. 38, CPP. Endereçamento: A queixa-crime só pode ser oferecida em juízo, ou seja, perante o juiz. Nunca se pode apresentar a queixa ao delegado de polícia ou ao membro do Ministério Público. Legitimado: O ofendido. Caso este seja menor de 18 anos, a queixa deverá ser oferecida por seu representante legal (pais, tutores, curadores). Em caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, a queixa poderá ser oferecida por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Pedido: Sendo uma petição inicial, deverão ser requeridos: (a) o recebimento da ação; (b) a citação do querelado para se ver processado; (c) a condenação do querelado nas penas de um ou mais artigos específicos; (d) a notificação das testemunhas arroladas. 3 RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE Previsão legal: art. 5º, LXV, da CRFB. Cabimento: O relaxamento de prisão em flagrante é cabível quando o flagrante for realizado de maneira irregular, ou seja, em desconformidade com a lei. Esses casos podem ser de vício material ou formal na ocasião da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (APF) ou quando houver excesso de prazo. Vejamos alguns exemplos: a) Vícios materiais: quando não há situação de flagrância (art CPP), seja pelo lapso de tempo entre a prática do crime e a prisão, apresentação espontânea do suposto autor do fato à polícia, flagrante preparado ou provocado, flagrante forjado. FGV DIREITO RIO 4
5 b) Vícios formais: vícios na lavratura do auto (arts. 304 e 306, CPP: inversão na ordem dos depoimentos, ausência de assinatura do auto), falta ou excesso no prazo da emissão da nota de culpa, ausência do encaminhamento da cópia do auto de prisão em flagrante para a Defensoria Pública, nos moldes do art. 306, CPP. c) Quando o inquérito policial durar mais de 10 dias a contar da prisão em flagrante (art. 10, CPP). Prazo: o pedido pode ser feito em qualquer momento, enquanto o flagrante ilegal estiver sendo mantido. Endereçamento: ao juiz de 1º instância. Legitimado: a pessoa submetida à prisão ilegal. Pedido: Deve ser requerido o relaxamento da prisão em flagrante, com a expedição de alvará de soltura. 4 LIBERDADE PROVISÓRIA Previsão legal: art. 5, LXVI, da CRFB. Cabimento: Diferentemente do que ocorre no relaxamento de prisão em flagrante, no pedido de liberdade provisória pressupõe-se uma prisão legal, mas que não deve ser mantida, se houver a presença dos requisitos que justificam a prisão preventiva. A liberdade provisória pode ser concedida com ou sem fiança. A liberdade provisória será concedida independentemente de fiança, nos casos abaixo: a) Infrações de que o réu se livre solto (são aquelas para as quais seja cominada somente pena de multa ou infrações para as quais o máximo da pena privativa de liberdade não exceda 3 (três) meses. Nesses casos, a liberdade provisória é obrigatória, exceto se o réu for reincidente em crime doloso ou houver prova de que é vadio. b) Quando a autoridade judiciária (juiz) verificar pelo auto de prisão em flagrante (APF) que o réu praticou o fato acobertado por excludente de ilicitude. Aqui, seja o crime inafiançável ou não, pode (faculdade) o juiz conceder a liberdade provisória, independentemente do pagamento de fiança. c) Quando o juiz verificar e não ocorre qualquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva (arts. 312 e 313, CPP). Nesse caso, também não importa se o crime é ou não inafiançável. A liberdade provisória será obtida com pagamento de fiança quando o crime for considerado afiançável e o preso preencha determinadas condições: FGV DIREITO RIO 5
6 a) Crimes afiançáveis são aqueles cuja pena mínima não ultrapasse dois anos. A lei excetua a contravenção de vadiagem que, apesar de a pena cominada ser inferior a dois anos, é inafiançável. Excluemse, ainda, independentemente da pena, os crimes apenados com reclusão que sejam praticados com violência ou grave ameaça e os que provoquem clamor público. Não se admite a fiança também as prisões civil, administrativa ou disciplinar. b) O preso não pode ser reincidente em crime doloso. Não haverá concessão de nova fiança quando o réu houver, no processo, quebrado a fiança. E, ainda, é absolutamente vedada a fiança ao réu que tiver no gozo da suspensão condicional da pena ou de livramento condicional, a não ser que por crime culposo ou contravenção que admita fiança. Prazo: o pedido de liberdade provisória pode ser realizado em qualquer momento processual, até o trânsito em julgado. Endereçamento: Via de regra, é dirigido ao juiz de 1ª instância. A autoridade policial somente pode arbitrar a fiança no caso de crime punido com detenção, mas nesse caso, a peça cabível será um simples requerimento ao delegado de polícia. *Não pode o delegado conceder a liberdade provisória sem fiança ou arbitrar fiança nas infrações punidas com reclusão. Legitimado: a pessoa submetida à prisão. Pedido: Caso seja hipótese de liberdade provisória sem fiança, deve-se requerer a concessão da liberdade com a expedição do alvará de soltura. Já se for caso de fiança, pede-se ainda o seu arbitramento. 5 RESPOSTA À ACUSAÇÃO (RITO ORDINÁRIO E SUMÁRIO) Previsão legal: art. 396, CPP. Cabimento: logo após a citação do acusado. Prazo: 10 dias, a contar da citação pessoal, por hora certa ou, no caso de citação por edital, do comparecimento do réu ou seu defensor ao processo. Endereçamento: ao juiz que tiver recebido a denúncia ou a queixa. Legitimado: o acusado. Pedido: Com as recentes alterações do Código de Processo Penal, a resposta à acusação tem lugar depois do recebimento da denúncia e antes da avaliação do juiz sobre a possibilidade de absolvição sumária. Dessa maneira, cabe ao acusado convencer o juiz de que está presente uma das hipóteses que autoriza o julgamento antecipado da lide em benefício do réu (pro reo), sejam elas: atipicidade, excludente de ilicitude, excludente de culpabilidade (exceto inimputabilidade) ou extinção da punibilidade. FGV DIREITO RIO 6
7 Em todos os casos acima, deve ser pedido ao juiz a absolvição sumária do réu, com fulcro no art. 397 do CPP e ser arroladas testemunhas. 6 RESPOSTA À ACUSAÇÃO (RITO DO JÚRI) Previsão legal: art. 406, CPP. Cabimento: logo após a citação do acusado. Prazo: 10 dias, a contar da citação pessoal, por hora certa ou, no caso de citação por edital, do comparecimento do réu ou seu defensor ao processo. Endereçamento: ao juiz que tiver recebido a denúncia ou a queixa, ou seja, ao juiz que preside a primeira fase do procedimento do júri. Legitimado: o acusado. Pedido: Nos termos do art. 406, 3º, CPP, na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. Não há previsão, para este rito, de julgamento antecipado da lide (absolvição sumária antes da instrução), embora haja corrente doutrinária que entende ser cabível, uma vez que o art. 397 do CPP determina o cabimento por ser parte integrante da fase comum obrigatória a todos os ritos de 1ª instância. Desse modo, nada impede que o advogado opte por argüir, neste momento, eventual nulidade (se for relativa, tem que ser argüida neste momento mesmo, sob pena de preclusão) ou extinção da punibilidade, reservando a tese de defesa (mérito) para o momento posterior à instrução criminal, já que esta irá ser realizada. Caso alegue nulidade, o requerimento deve ser a anulação do processo. Se for alegada a extinção da punibilidade, pede-se a sua decretação. Caso venha se alegar questão de mérito, o pedido será: (a) absolvição sumária (art. 415, CPP); (b) impronúncia (art. 414, CPP); (c) desclassificação (art. 419, CPP); (d) desclassificação imprópria (art. 413, CPP). 7 EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA Previsão legal: Art. 95, II, CPP. Cabimento: A exceção de incompetência tem cabimento quando a ação tiver sido proposta perante juízo incompetente. Veja as regras de competência no art. 69 e seguintes do CPP. Prazo: Se a competência for relativa (territorial), o prazo é o da resposta à acusação, sob pena de preclusão. Já se for caso de incompetência absoluta, FGV DIREITO RIO 7
8 pode ser argüida a qualquer momento. Neste último caso, não há preclusão e pode ser declarada até mesmo ex offi cio pelo juiz. Endereçamento: ao juiz da causa. Legitimado: o acusado. O autor da ação não pode opô-la. O Ministério Público somente poderá propor quando estiver na qualidade de fiscal da lei, ou seja, na ação penal privada. Pedido: Devem ser requeridas: a vista ao Ministério Público, a declaração de incompetência do juízo e a remessa dos autos ao juiz competente. 8 EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA Previsão legal: Art. 95, III, CPP. Cabimento: A exceção de incompetência tem cabimento quando houver duas ações em curso, em razão do mesmo fato e contra o mesmo acusado. Prazo: Via de regra, esta exceção deve ser alegada no prazo da resposta à acusação. Porém, em razão de, nesse caso, não haver preclusão, pode ser a mesma argüida a qualquer tempo. Endereçamento: ao juiz da segunda causa. Legitimados: o acusado ou o MP na qualidade de fiscal da lei. Pedido: Devem ser requeridas: a declaração de incompetência e o arquivamento do processo. 9 EXCEÇÃO DE ILEGITIMIDADE DE PARTE Previsão legal: Art. 95, IV, CPP. Cabimento: A exceção de ilegitimidade de parte é cabível sempre que a ação for proposta por parte ilegítima (legitimidade ad causam titularidade da ação e ad processum capacidade processual). Prazo: Via de regra, esta exceção deve ser alegada no prazo da resposta à acusação. Porém, em razão de, nesse caso, não haver preclusão, pode ser a mesma argüida a qualquer tempo. Endereçamento: ao juiz da causa. Legitimado: o acusado ou o MP na qualidade de fiscal da lei. Pedido: Devem ser requeridas a declaração da ilegitimidade e a anulação do processo desde o início. FGV DIREITO RIO 8
9 10 EXCEÇÃO DE COISA JULGADA Previsão legal: Art. 95, V, CPP. Cabimento: A exceção de coisa julgada tem cabimento quando for proposta uma ação idêntica à outra proposta que já foi decida por sentença transitada em julgado. Prazo: Via de regra, esta exceção deve ser alegada no prazo da resposta à acusação. Porém, em razão de, nesse caso, não haver preclusão, pode ser a mesma argüida a qualquer tempo. Endereçamento: ao juiz da causa. Legitimado: o acusado ou o MP na qualidade de fiscal da lei. Pedido: Devem ser requeridas: a declaração da coisa julgada e o arquivamento do processo. 11 MEMORIAIS Previsão legal: Os memoriais têm previsão legal no art. 403, 3º, e 404, parágrafo único, todos do CPP. Os memoriais constituem exceção, porque podem substituir os debates orais quando houver conveniência pela complexidade do feito e do número de réus ou quando, ao final da instrução processual, houver necessidade de realização de diligências, determinadas pelo juiz a requerimento da parte ou ex offi cio pelo juiz. Perceba que não existe previsão de memoriais como substituição dos debates orais no rito sumário nem no rito do júri. Entretanto, a doutrina mais abalizada tem se posicionado a respeito dessa possibilidade, uma vez que o disposto para o rito comum ordinário tem aplicação subsidiária nos demais ritos no que não for conflitante. Cabimento: Após o encerramento da instrução processual, mas se for deferida a diligência eventualmente solicitada, o momento para a apresentação dos memoriais será após a realização da diligência. Prazo: 5 dias Endereçamento: ao juiz da causa. Lembre-se de que no rito do júri os memoriais são endereçados ao juiz da primeira fase do rito e não ao Tribunal do Júri. Legitimados: o Ministério Público ou o querelante; o assistente de acusação, se houver; o acusado. Pedidos: 1 Nos memoriais da acusação, o pedido deve ser a condenação do acusado. FGV DIREITO RIO 9
10 2 Nos memoriais da defesa, o pedido dependerá da tese de defesa escolhida: 2.1 se for alegada nulidade processual, o pedido será a anulação do processo desde o início ou a partir do ato viciado; 2.2 se for alegada a extinção da punibilidade, o pedido será a sua decretação; 2.3 se a defesa alegar falta de justa causa, o pedido deverá ser a absolvição do réu com base em qualquer um dos incisos do art. 386 do CPP; 2.4 se for alegada a falta de justa causa relativa, o pedido deverá ser a desclassificação do crime ou a redução da pena. No júri, em razão do rito escalonado (bifásico) devem ser pedidos: a) Nos memoriais da acusação, o pedido será a pronúncia do réu; b) Nos memoriais da defesa, os pedidos poderão ser, conforme o caso: b.1 a anulação do processo, se a defesa alegar nulidade; b.2 a decretação da extinção da punibilidade, se esta for a defesa alegada; b.3 a absolvição sumária, se a defesa alegar atipicidade, excludente de ilicitude, excludente de culpabilidade ou a negativa de autoria (art. 415, CPP); b.4 a impronúncia, quando a defesa alegar falta de prova de autoria ou de materialidade (art. 414, CPP). b.5 a desclassificação, se a defesa alegar a existência de crime que não seja da competência do júri (art. 419, CPP). b.6 a desclassificação imprópria, se a defesa alegar a existência de crime que seja da competência do júri, mas que seja mais leve do que o crime descrito na peça acusatória (ex: desclassificação de homicídio para infanticídio) 413, CPP. 12 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Previsão legal: Os embargos de declaração em face de acórdão têm previsão legal no art. 619 do CPP, enquanto que os embargos de declaração nas sentenças encontram previsão no art. 382 do CPP. A Lei nº 9.099/95, que criou os Juizados Especiais Criminais, prevê este recurso no seu art. 83. Os embargos são opostos em peça única. Cabimento: Este recurso é cabível para sanar ambigüidade, obscuridade, contradição ou omissão na sentença ou no acórdão. Prazo: Em regra, 2 dias, No rito sumaríssimo, o prazo é de 5 dias. FGV DIREITO RIO 10
11 Endereçamento: ao juiz da causa que proferiu a sentença ou ao relato do acórdão. Legitimados: a defesa e a acusação, inclusive o assistente de acusação, se houver. Pedidos: Deve-se pedir a declaração da sentença ou do acórdão, a fim de ser sanada a obscuridade, ambigüidade, omissão ou contradição. 13 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Previsão legal: Art. 581 e incisos do CPP. Trata-se de um rol taxativo (numerus clausus). Há previsão de RESE também no art. 294 do CTB (Lei nº 9.503/97). Cabimento: Este recurso é cabível para enfrentar as seguintes decisões: a) decisão que rejeitar a denúncia ou a queixa: Assim da decisão que as recebe não cabe recurso, por ausência de previsão legal, podendo, entretanto ser combatida por habeas corpus. Atenção: No rito sumaríssimo (Lei nº 9.099/95), da decisão que rejeitar a denúncia ou a queixa cabe apelação com prazo de 10 dias. b) decisão que concluir pela incompetência do juízo: Do contrário, da decisão que concluir pela competência não cabe recurso por ausência de previsão legal, cabendo o combate por via de habeas corpus. Assim, no rito do Júri, da decisão que desclassifica a infração para outra que não seja dolosa contra a vida, cabe recurso em sentido estrito (art. 419, CPP). c) Decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição: Então, das decisões de rejeição das exceções de incompetência, suspeição, ilegitimidade, litispendência e coisa julgada não cabe nenhum recurso, mas cabe HC. d) Decisão que impronunciar o réu. e) Decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar, julgar idônea a fiança ou ainda que julgá-la quebrada ou perdido o seu valor. f) Decisão que indeferir o pedido de prisão preventiva. Este é um recurso para a acusação. Já se for deferido o pedido de prisão preventiva (PP), a defesa poderá impetrar habeas corpus. g) Decisão que conceder liberdade provisória sem arbitramento de fiança. Este também é um recurso da acusação. Já se o juiz negar o requerimento de liberdade provisória cabe à defesa impetrar habeas corpus. h) Decisão que relaxar a prisão em flagrante. Nesse caso, o recurso é para a acusação. Se a prisão em flagrante ilegal não for relaxada, deve-se impetrar HC. i) Decisão que julgar extinta a punibilidade ou que indeferir o pedido de extinção da punibilidade. FGV DIREITO RIO 11
12 j) Decisão que conceder ou negar habeas corpus. Nesse caso, o recurso é quando a decisão for do juízo de 1ª instância, pois, quando proferida pelos tribunais, cabe o Recurso Ordinário Constitucional. k) Decisão que anular a instrução criminal no todo ou em parte. l) Decisão que incluir ou excluir jurado da lista geral. m) Decisão que denegar a apelação ou julgá-la deserta. n) Decisão que ordenar a suspensão do processo por questão prejudicial. Neste caso, o recurso é para a acusação. Da decisão que indefere essa suspensão não há previsão de nenhum recurso, podendo ser impetrada a ordem de habeas corpus. o) Decisão do incidente de falsidade. Prazo e forma: O RESE é um recurso composto de duas peças, quais sejam: interposição e razões. O prazo para a interposição é de 5 dias e para a apresentação das razões é de 2 dias. Porém, no caso de recurso contra a decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral, o prazo é de 20 dias. Endereçamento: A interposição é dirigida ao juiz da causa que proferiu a decisão. Já no caso do recurso contra a decisão que incluir ou excluir jurado da lista geral o endereçamento será para o Presidente do Tribunal. As razões são dirigidas ao Tribunal competente. Legitimados: a defesa, a acusação, inclusive o assistente de acusação, se houver, de acordo com o interesse. Pedidos: Na peça de interposição deverão ser requeridos o recebimento e o processamento do recurso, além da reforma da decisão que se recorre e, caso seja mantida a decisão, a remessa ao tribunal. Já nas razões, devem ser requeridas: a reforma da decisão recorrida e o seu direito que fora negado na 1ª instância. 14 APELAÇÃO Previsão legal: Art. 593 e incisos do CPP e art. 82 da Lei nº 9.099/95. Cabimento: Este recurso é cabível para enfrentar as seguintes decisões: (a) sentenças definitivas condenatórias ou absolutórias proferidas por juiz singular ou pelo Tribunal do Júri; (b) decisões definitivas ou com força de definitiva, para as quais não esteja previsto recurso em sentido estrito; (c) decisão que rejeita a denúncia ou a queixa, bem como a decisão que aplica a pena após o aceite da transação penal, nos casos do rito sumaríssimo. Prazo: Este recurso também é composto por uma peça de interposição e outra de apresentação das razões. O prazo para a interposição é, em regra, 5 dias. Porém, no caso de apelação por assistente de acusação que não está habilitado, o prazo é FGV DIREITO RIO 12
13 de 15 dias, iniciando o prazo a partir do término do prazo para o Ministério Público. O prazo para a apresentação das razões é de 8 dias. Atenção: No rito sumaríssimo (Lei nº 9.099/95), a apelação tem o prazo de 10 dias e a peça de interposição já deve trazer também as razões. Endereçamento: A interposição é dirigida ao juiz da causa que proferiu a sentença. As razões, ao tribunal competente ou à Turma Recursal. Legitimados: a defesa e a acusação (MP ou querelante), inclusive o assistente de acusação, se houver, conforme os interesses em causa. Pedidos: Na interposição devem ser pedidos: (a) o recebimento do recurso, (b) o seu processamento e (c) a remessa ao tribunal. Nas razões, pede-se a reforma da sentença ou decisão. Vejamos alguns pedidos mais comuns: (a) em contrarrazões de apelação, o pedido é a manutenção da sentença recorrida; (b) se a tese da defesa for alegar alguma causa de nulidade processual, deve-se pedir a anulação do processo a partir do ato nulo; (c) se a tese for pedir o reconhecimento da extinção da punibilidade, este será o pedido; (d) se a defesa apelar de sentença absolutória, só poderá recorrer para alterar o fundamento da absolvição da medida de segurança; (e) se a defesa alegar falta de justa causa, pede-se a absolvição. (f) Se a defesa alegar a desclassificação, redução da pena ou a exclusão de alguma agravante ou de causa de aumento de pena, estes serão os pedidos, conforme o caso. (g) No Júri, caso se alegue nulidade após a decisão de pronúncia, pedese a anulação do julgamento. (h) No Júri, se for alegada decisão contrária a decisão dos jurados manifestamente contrária às provas dos autos, pede-se que o réu seja submetido a novo julgamento pelo júri. (i) No Júri, se a sentença do juiz presidente for contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; se houver erro ou injustiça em relação à aplicação da pena ou da medida de segurança, pede-se que o tribunal corrija a sentença ou que altere a pena. 15 EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Previsão legal: Art. 609 e parágrafo único do CPP. Cabimento: Este recurso é cabível quando o acórdão for contrário à defesa, desde que proferido em sede de apelação, recurso em sentido estrito ou agravo em execução e desde que a votação não tenha sido unânime. FGV DIREITO RIO 13
14 Infringentes são os embargos que tratam de matéria substantiva (material); de nulidade são os embargos que versam sobre matéria processual. Prazo: 10 dias. Endereçamento: Esse recurso é composto de uma peça de interposição e de uma peça para apresentação de razões, sendo a de interposição endereçada ao relator do acórdão embargado e a de apresentação de razões ao mesmo Tribunal que proferiu o acórdão. Veja que, neste caso, o recurso não vai para a instância superior. Legitimados: é um recurso privativo da defesa. Pedidos: Na peça de interposição, deve-se pedir o recebimento, bem como o processamento do recurso. Nas razões, pede-se o acolhimento do voto vencido. 16 CARTA TESTEMUNHÁVEL Previsão legal: art. 639 do CPP. Cabimento: A Carta Testemunhável tem cabimento no combate à decisão que denegar ou negar seguimento a recurso em sentido estrito e agravo em execução. O cabimento é residual, tendo em vista que, se couber outro recurso, não caberá a Carta Testemunhável. Prazo: 48 horas, para a interposição e dois dias para as razões. Endereçamento: Como a Carta Testemunhável é composta por duas peças, a interposição é dirigida ao escrivão do cartório e as razões ao tribunal competente. Legitimado: quem interpôs o recurso denegado. Pedido: Na interposição, pede-se ao escrivão que remeta os autos ao tribunal. Nas razões, pede-se que o tribunal determine ao juízo a quo receba o recurso antes denegado. Caso a carta esteja devidamente instruída, poderá o juízo ad quem julgar diretamente o próprio mérito do recurso antes obstado. 17 AGRAVO DE INSTRUMENTO Previsão legal: arts. 544 e seguintes do CPC e art. 28 da Lei nº 8.038/90. Cabimento: No processo penal, este recurso tem cabimento contra a decisão que denegar o recurso extraordinário e o recurso especial. Prazo: 5 dias (Súmula 699 do STF). Endereçamento: Como o Agravo de Instrumento é composto por duas peças, a interposição é dirigida ao Presidente de origem e as razões, ao STJ ou STF, conforme seja denegação de Resp ou Rext, respectivamente. Legitimado: quem interpôs o recurso denegado. Pedido: O pedido deve ser o julgamento do recurso denegado. FGV DIREITO RIO 14
15 18 AGRAVO REGIMENTAL Previsão legal: Regimento Interno do STF (art. 317) e Regimento Interno do STJ (art. 258). Cabimento: Este recurso tem cabimento contra a decisão do respectivo Presidente, Turma ou relator. Prazo: 5 dias. Endereçamento: Ao prolator do despacho impugnado. Legitimado: quem está prejudicado com o despacho agravado. Pedido: O pedido deve ser a reconsideração da decisão e, na impossibilidade, a submissão do agravo ao órgão competente para julgar o feito. 19 RECURSO ESPECIAL Previsão legal: Art. 105, III, a, b e c, da CRFB e arts. 26 a 29 da Lei nº 8.038/90. Cabimento: Este recurso é cabível nos casos em que a decisão não comporta mais recurso ordinário, quando a decisão contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal, julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal ou der à lei federal interpretação diversa da que lhe tenha atribuído outro tribunal. Prazo: 15 dias. Endereçamento: Esse recurso é composto de uma peça de interposição e de uma peça para apresentação de razões, sendo a de interposição endereçada ao presidente do Tribunal que proferiu a decisão recorrida e a de apresentação de razões ao STJ. Legitimados: MP, assistente de acusação, querelante e defesa. Pedidos: Neste recurso deve-se pedir a reforma da decisão que se recorre e o provimento das razões. 20 RECURSO EXTRAORDINÁRIO Previsão legal: Art. 102, III, a, b, c e d, da CRFB e arts. 26 a 29 da Lei nº 8.038/90. Cabimento: Este recurso é cabível nos casos em que a decisão não comporta mais recurso ordinário, quando a decisão contrariar dispositivo constitucional, julgar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição ou julgar válida lei local contestada em face de lei federal. Com a EC 45/04, um novo requisito passou a ser exigido: a demonstração da repercussão geral das questões constitucionais debatidas in casu. FGV DIREITO RIO 15
16 Prazo: 15 dias. Endereçamento: Esse recurso é composto de uma peça de interposição e de uma peça para apresentação de razões, sendo a de interposição endereçada ao presidente do Tribunal que proferiu a decisão recorrida e a de apresentação de razões ao STF. Legitimados: MP, assistente de acusação, querelante e defesa. Pedidos: Neste recurso deve-se pedir a reforma da decisão que se recorre e o provimento das razões, a fim de que não seja ferida a Constituição Federal. 21 HABEAS CORPUS Previsão legal: Art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal e arts. 647 e seguintes do CPP. Cabimento: Sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer coação ou violência à liberdade de locomoção, em virtude de ilegalidade ou abuso de poder. No art. 648 do CPP, encontramos hipóteses de coação ilegal: (a) quando não houver justa causa; (b) quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; (c) quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; (d) quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; (e) quando não se admitir fiança, nos casos em que a lei prevê; (f) quando o processo for manifestamente nulo; (g) quando extinta a punibilidade. Não cabe HC: (a) contra prisão civil; (b) durante o estado de sítio (art. 138, CF); (c) contra prisão disciplinar militar (art. 142, 2º,CF); (d) contra omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito (Súmula 692 do STF); (e) contra decisão condenatória à pena de multa ou relacionada a processo em trâmite por infração penal cuja pena pecuniária seja a única cominada (Súmula 693 do STF); (f) contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública (Súmula 694 do STF); (g) quando extinta a pena privativa de liberdade (Súmula 695 do STF). Prazo: Não há. Endereçamento: À autoridade imediatamente superior à autoridade coatora. - Se a autoridade coatora for delegado de polícia, o HC deve ser encaminhado ao juiz de 1ª instância. - Se a autoridade coatora for membro do Ministério Público que atua na primeira instância, o HC é dirigido ao Tribunal (Estadual ou Federal, conforme o caso). - Se a autoridade coatora for juiz de 1ª instância, a competência para julgar o HC é do Tribunal (Estadual ou Federal, conforme o caso). FGV DIREITO RIO 16
17 - Se a autoridade coatora for o Tribunal Estadual ou o Tribunal Regional Federal, o HC será encaminhado ao STJ. - Se o paciente for Governador de Estado ou Distrito Federal ou membro do Tribunal de Justiça Estadual ou membro do Tribunal Regional Federal ou membro do Tribunal Regional Eleitoral ou, ainda, membro do Ministério Público da União, o HC deve ser impetrado no STJ. - Se a autoridade coatora for o STJ (ou quando o paciente for membro do STJ), a competência será do STF. - Se a autoridade coatora for particular, o HC será julgado pelo juiz de 1ª instância. - Se a autoridade coatora for a Turma Recursal, o HC será encaminhado ao TJ ou TRF (por entendimento do STF, embora não esteja revogada expressamente a Súmula 690 do STF). Legitimados: qualquer pessoa pode impetrar HC (mesmo sem advogado). Pedidos: De um modo geral, o pedido do HC deve ser a solicitação pelo juízo das informações à autoridade coatora e a posterior concessão da ordem. Entretanto, outros pedidos específicos irão variar conforme a situação: a) Se o HC for impetrado por falta de justa causa, seja pela inexistência do crime ou de culpabilidade, seja pela existência de escusa absolutória, deve-se pedir o trancamento da ação ou do inquérito policial, conforme o caso. Juntamente com esse pedido, pode-se requerer a revogação da prisão com a expedição do alvará de soltura ou de contramandado de prisão. b) Caso o paciente esteja preso por mais tempo do que a lei determina, o pedido deve ser a liberdade do paciente com a expedição do alvará de soltura. c) Na hipótese do art. 548, VIII, do CPP (coação ordenada por autoridade incompetente), pede-se a liberdade (ou a sua manutenção, se estiver solto) com a expedição de alvará de soltura ou de contramandado de prisão. d) Se já não houver o motivo que ensejou a coação, pede-se a liberdade do paciente com a expedição do alvará de soltura ou do contramandado de prisão, conforme o caso. e) Se for negada a fiança, quando cabível, pede-se o seu arbitramento com a expedição de alvará de soltura ou contramandado de prisão, se pertinente for. f) Quando o processo for manifestamente nulo, pede-se a anulação da ação, de acordo com o momento processual da nulidade (a partir do ato viciado ou ab initio). Se a nulidade for somente da sentença, esse deve ser o pedido. Juntamente com esse pedido, pode-se reque- FGV DIREITO RIO 17
18 rer a revogação da prisão com a expedição do alvará de soltura ou de contramandado de prisão. g) Se houver extinção da punibilidade, pede-se a decretação da mesma. Se houver necessidade, conforme o caso, cumulativamente com esse pedido, pode-se requerer a revogação da prisão com a expedição do alvará de soltura ou de contramandado de prisão. h) No caso de HC preventivo, pede-se, além do pedido genérico, a expedição de um salvo-conduto. Em qualquer caso de HC, há possibilidade de pedido liminar sempre que houver a presença do fumus boni iuris e o periculum in mora. FGV DIREITO RIO 18
19 COLETÂNEA DE PROVAS 2ª FASE PENAL 32º EXAME DE ORDEM 2ª FASE PENAL Peça processual Lúcio, policial federal acusado de extorquir, no exercício de suas funções, determinada quantia em dinheiro de servidor público federal, encontra-se temporariamente preso há 15 dias, por decisão do juízo da 41.ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, lavrada nos seguintes termos: Os autos do inquérito policial autorizam a suspeita de participação do indiciado Lúcio na prática do crime de extorsão (art. 158, caput, do CP). Dessa forma, tendo em vista a grande comoção causada pelo crime na sociedade, assim como a necessidade de salvaguarda da imagem do Poder Judiciário ante a opinião pública, como órgão responsável pela política de segurança pública, decreto a prisão temporária do indiciado, pelo prazo de 30 dias. Expeça-se mandado de prisão em seu desfavor. Como advogado de Lúcio, redija a peça processual adequada ao caso, invocando todos os fundamentos jurídicos relevantes à situação apresentada. 1ª questão Flávio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime a que se refere o artigo 302 da Lei n.º 9.503/1997. Segundo a denúncia, a causa do crime foi conduta imprudente de Flávio, que trafegava em velocidade muito superior à velocidade máxima permitida no local do crime. Ao receber os autos conclusos para sentença, o juiz imediatamente condenou Flávio, com base em depoimento judicial, por conduta negligente, consubstanciada na ausência de manutenção de seu automóvel nas condições ideais de segurança. A decisão transitou em julgado para o Ministério Público. O advogado de Flávio à época apelou da sentença com fundamento exclusivo na insuficiência das provas para a condenação. Considerando essa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes perguntas. a) A sentença dada pelo juiz é válida? Por quê? b) Na sustentação oral do apelo interposto junto ao Tribunal, qual seria o pedido a ser formulado na tribuna pelo advogado de Flávio? Por quê? FGV DIREITO RIO 19
20 2ª questão Caio foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela suposta prática dos crimes tipificados no artigo 1º, III, da Lei n.º 8.137/1990, e no artigo 297 do Código Penal, em concurso material (artigo 69 do CP). Segundo narra essa denúncia, Caio teria emitido nota fiscal falsa, utilizando-a para reduzir tributo por ele devido, o que causou ao erário prejuízo no valor de R$ 20,00. Tal falsidade foi considerada grosseira pelos auditores fiscais, que a detectaram à primeira vista, lavrando auto de infração, que foi impugnado administrativamente, não havendo até hoje decisão definitiva na esfera fiscal acerca da constituição do crédito tributário. Na qualidade de advogado constituído por Caio, exponha, de forma fundamentada, todas as teses defensivas que podem ser inferidas da situação hipotética apresentada. 3ª questão Luiz, médico cirurgião, realizou incisão abdominal em Leônidas. Após o procedimento cirúrgico, o paciente, como de praxe, foi encaminhado ao centro de tratamento intensivo (CTI) para acompanhamento pós-operatório, onde permaneceu sob os cuidados de Duílio, médico responsável pelo CTI do hospital. Duílio, no entanto, resolveu ir ao Maracanã para assistir à final do campeonato estadual. Para tanto, deixou o paciente aos cuidados da médica Sandra, membro de sua equipe há mais de cinco anos e a quem conhecia por sua competência e experiência. Sandra, então, reconheceu Leônidas como autor de um estupro de que fora vítima. Alimentada por sentimento de vingança, Sandra colocou em uma ampola remédio letal e a entregou à enfermeira Poliana, sob o argumento de que se tratava de remédio curativo, que deveria ser imediatamente ministrado ao paciente. Leônidas veio a falecer em virtude da droga letal. Considerando a situação hipotética apresentada, responda à seguinte pergunta. Quais seriam, respectivamente, as teses defensivas dos advogados de Luiz, Duílio, Sandra e Poliana? 4ª questão Elisa, inconformada com o fato de ter sido abandonada no altar por Jorge, contratou um detetive particular para descobrir se o seu ex-noivo tinha uma amante. Passados sete meses, Elisa obteve a confirmação de que Jorge vinha mantendo relação amorosa com Ana, com quem, inclusive, estava residindo. FGV DIREITO RIO 20
21 Transtornada, imediatamente após ter recebido a notícia, Elisa escreveu uma carta para Jorge, referindo-se a Ana como destruidora de lares, meretriz e interesseira. Ao chegar em casa, Ana viu a carta sobre a cômoda e, antes que Jorge a tivesse aberto, decidiu violá-la, a fim de ler o que Elisa havia escrito. Ao se deparar com as referências desairosas feitas na correspondência, Ana decidiu oferecer queixa-crime contra Elisa, imputando-lhe a prática do crime de injúria, instruindo-a apenas com a carta escrita pela querelada. Com base nessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, à seguinte pergunta: a inicial acusatória é apta a dar início a um processo criminal? 5ª questão O Ministério Público denunciou José, imputando-lhe a prática do crime previsto no artigo 213, combinado com o artigo 224, alínea a, ambos do Código Penal. A denúncia foi feita porque José manteve conjunção carnal com Maria, então com treze anos de idade, em troca de pagamento em dinheiro. No curso da instrução processual, apurou-se que Maria, apesar da pouca idade, era pessoa esclarecida em matéria sexual, possuía boa situação financeira, pois se prostituía desde os onze anos e, antes da cópula, contou a José a sua idade real. Na qualidade de advogado de defesa constituído por José, exponha, fundamentadamente, todas as teses defensivas que podem ser inferidas da situação hipotética apresentada. 33º EXAME DE ORDEM 2ª FASE PENAL Peça processual Em 7/8/2005, Caio foi condenado, pelo Juízo da 9ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, a pena de dois anos de reclusão e multa pela prática do crime previsto no artigo 171, 3º, do Código Penal, porque teria recebido, fraudulentamente, benefício previdenciário, no valor de R$ 5.000,00, em prejuízo do INSS, por meio de saque da quantia no caixa bancário, com o uso de documento de identidade que pertencia a beneficiário já falecido. O fato ocorreu em 8/5/2004. A sentença determinou o cumprimento da pena em regime aberto, negando expressamente a sua substituição por pena restritiva de direitos por considerar que o réu não preenchia o requisito do artigo 44, III, do Código Penal, por se encontrar indiciado em outros inquéritos FGV DIREITO RIO 21
22 por fatos análogos. O apelo interposto pela defesa de Caio teve provimento negado pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por maioria de votos. Na ocasião, restou vencido o desembargador federal Tício, que (A) acolhia a preliminar de nulidade da sentença pela ausência de exame pericial no documento utilizado por Caio; (B) no mérito, reformava a sentença condenatória para absolver Caio por insuficiência de provas para a condenação, a qual foi baseada no testemunho judicial da autoridade policial que oficiou na fase do inquérito, informando ter chegado a Caio por meio de denúncia anônima, corroborada por confissão policial, sendo certo que Caio foi submetido pelo juízo a reconhecimento pelo caixa do banco, de acordo com o procedimento previsto no artigo 226 do Código de Processo Penal, que restou negativo; (C) autorizava a substituição da pena por pena restritiva de direitos, mesmo havendo na folha de antecedentes criminais de Caio diversas anotações relativas a inquéritos policiais, em andamento, por outras fraudes contra o INSS. Redija a peça processual adequada à situação descrita, invocando todos os fundamentos jurídicos pertinentes. Ao final, assine como advogado, utilizando o nome José da Silva, inscrição OAB/RJ ª questão O astucioso João, pretendendo que seu desafeto Carlos levasse uma surra em razão de desentendimentos anteriores, induziu-o a agredir Álvaro, pessoa que João sabia ser extraordinariamente forte, truculenta e versada em artes marciais. Carlos, então, tentou agredir Álvaro com socos, mas foi repelido com um único golpe que o derrubou e lhe causou traumatismo craniencefálico, o que resultou em risco de morte. A intenção de João foi a de lesionar Carlos, em nenhum momento assumindo o risco de produzir a sua morte. Considerando a situação hipotética narrada, esclareça, citando os institutos jurídico-penais pertinentes, se houve: a) a prática de algum crime por parte de João; b) concurso de agentes, na hipótese. 2ª questão Iago e Otelo associaram-se e promoveram a introdução, no País, de pacotes de cigarros destinados exclusivamente à exportação. Os cigarros foram adquiridos no Paraguai do importador Hamlet. Iago e Otelo cruzaram a fronteira na cidade de Foz do Iguaçu PR, onde venderam a mercadoria para Desdêmona, pelo valor de R$ ,00. Apurou-se, também, que Iago guardara, dentro de um cofre, em sua casa, os R$ ,00 que lhe coube- FGV DIREITO RIO 22
23 ram, ao passo que Otelo depositara R$ ,00 na conta corrente de sua namorada e comprara ações de empresas de energia, petróleo e mineração, no valor de R$ ,00. Essas ações foram, posteriormente, trocadas por um apartamento na Tijuca, registrado em nome de um primo de Otelo. Considerando a situação hipotética acima, esclareça, de forma juridicamente fundamentada: a) quais foram os crimes praticados por Iago e Otelo; b) qual é o juízo criminal competente para processar e julgar os fatos descritos. 3ª questão Hattori Hanzo teve decretada sua prisão temporária no curso de um inquérito em que se investigava o crime de sonegação fiscal (artigo 1º da Lei 8.137/90) praticado por uma quadrilha de fraudadores. Segundo os policiais que realizaram a investigação, Hattori Hanzo era o intermediário da quadrilha, aquele que captava clientela interessada em beneficiar-se das fraudes e contatava os servidores públicos responsáveis por implementar a fraude nos sistemas de dados do INSS. Ao ser preso, Hattori Hanzo foi interrogado pela autoridade policial, ocasião em que se recusou a prestar depoimento, invocando seu direito constitucional de permanecer em silêncio. Passados quinze dias da prisão, a autoridade policial não lograra obter nenhuma prova do crime nem indícios da autoria de outros criminosos. Assim, no décimo quinto dia, a autoridade policial retornou à cela de Hattori Hanzo e indagou-lhe se pretendia continuar a exercer seu direito de calar ou preferia prestar novo depoimento e colaborar com a justiça. Hattori Hanzo prestou um novo depoimento, no qual confessou as fraudes que praticara, apontando, inclusive, os co-autores. Com base nesse depoimento, foram feitas novas investigações, descobrindo-se provas que não teriam sido descobertas sem que Hattori Hanzo tivesse colaborado com sua confissão. Considerando a situação hipotética acima narrada, responda, de forma juridicamente fundamentada, aos seguintes questionamentos. a) É válido o segundo depoimento prestado em sede policial por Hattori Hanzo? b) As provas obtidas poderão servir de suporte ao oferecimento de denúncia contra os outros co-autores do crime? 4ª questão João foi condenado a 12 anos de reclusão pela prática de crime de homicídio doloso qualificado contra a vítima Paulo e a dois meses de detenção pela FGV DIREITO RIO 23
24 prática do crime de lesão corporal culposa contra a vítima Maria, ambos os fatos resultantes da explosão de uma bomba caseira detonada por João. O magistrado, ao proferir seu decreto condenatório, fez incidir a norma estampada no caput do artigo 70 do Código Penal, tornando a pena de João definitiva, em 14 anos de prisão. Para tanto, ele usou o seguinte critério: 12 anos pelo cometimento do crime de homicídio, aumentados em 1/6, em razão da regra do caput do artigo 70 do Código Penal. Na condição de advogado contratado para elaborar as razões de apelação de João, exponha, de forma juridicamente fundamentada, tese defensiva no que diz respeito unicamente ao quantum de pena aplicado. 5ª questão Lear possui três filhas Goneril, Regan e Cordélia, que, encontrando-se com ele em local público, no dia 5/3/2007, chamaram-no, em razão de desavenças familiares, deserdado, pé-de-chinelo, pé-rapado, na presença de outras pessoas. Lear, inconformado com as ofensas assacadas contra si, constituiu advogado que ajuizou queixa-crime, no dia 5/9/2007, contra todas as três filhas de Lear, imputando-lhes o crime de injúria (artigo 140 do Código Penal). Durante a fase de instrução processual, Lear celebrou suas bodas de ouro matrimoniais com grande festa, para a qual convidou somente Goneril e Regan. A primeira aceitou o convite, comparecendo ao evento e se reconciliando com o pai. A segunda não aceitou o convite, tendo optado por manter rompidas suas relações com Lear. Na qualidade de advogado constituído por Cordélia, exponha, de forma juridicamente fundamentada, as duas teses jurídicas defensivas que podem ser inferidas do enunciado da questão. 34º EXAME DE ORDEM 2ª FASE PENAL Peça processual O Ministério Público ofereceu denúncia contra Alexandre Silva, brasileiro, casado, taxista, nascido em 21/01/1986, pela prática de infração prevista no art. 121, caput, do CP. Consta, na denúncia, que, no dia 10/10/2006, aproximadamente às 21 horas, em via pública da cidade de Brasília DF, o acusado teria efetuado um disparo contra a pessoa de Filipe Santos, que, em razão dos ferimentos, veio a óbito. No laudo de exame cadavérico acostado aos autos, os peritos do Instituto Médico Legal registraram a seguinte conclusão: morte decorrente de anemia FGV DIREITO RIO 24
25 aguda, devido a hemorragia interna determinada por transfixação do pulmão por ação de instrumento perfurocontundente (projétil de arma de fogo). Consta da folha de antecedentes penais de Alexandre, um inquérito policial por crime de porte de arma, anterior à data dos fatos e ainda em apuração. No interrogatório judicial, o acusado afirmou que, no horário dos fatos, encontrava-se em casa com sua esposa e dois filhos; que só saiu por volta das 22 horas para comprar refrigerante, oportunidade em que foi preso quando adentrava no bar; que conhecia a vítima apenas de vista; que não responde a nenhum processo. Na instrução criminal, Paulo Costa, testemunha arrolada pelo Ministério Público, em certo trecho do seu depoimento, disse que era amigo de Filipe, que aparentemente a vítima não tinha inimigos; que deve ter sido um assalto; que estava a aproximadamente cinqüenta metros de distância e não viu o rosto da pessoa que atirou em Filipe, mas que certamente era alto e forte, da mesma compleição física do acusado; que não tem condições de reconhecer com certeza o ora acusado. André Gomes, também arrolado pela acusação, disse que a noite estava muito escura e o local não tinha iluminação pública; que estava próximo da vítima, mas havia bebido; que hoje não tem condições de reconhecer o autor dos disparos, mas tem a impressão de que o acusado tinha o mesmo porte físico do assassino. Breno Oliveira, policial militar, testemunha comum, afirmou que prendeu o acusado porque ele estava próximo ao local dos fatos e suas características físicas correspondiam à descrição dada pelas pessoas que teriam presenciado os fatos; que, pela descrição, o autor do disparo era alto, forte, moreno claro, vestia calça jeans e camiseta branca; que o céu estava encoberto, o que deixava a rua muito escura, principalmente porque não havia iluminação pública; que, na delegacia, o acusado permaneceu em silêncio; que a arma do crime não foi encontrada. Maíra Silva, esposa de Alexandre, arrolada pela defesa, confirmou, em seu depoimento, que o marido permanecera em casa a noite toda, só tendo saído para comprar refrigerante, oportunidade em que foi preso e não mais voltou para casa; que só tomou conhecimento da acusação na delegacia e, de imediato, disse ao delegado que aquilo não era possível, mas este não acreditou; que o acusado vestia calça e camiseta clara no dia dos fatos; que Alexandre é um bom marido, trabalhador e excelente pai. Após a audiência, o juiz abriu vista dos autos ao Ministério Público, que requereu a pronúncia do réu nos termos da denúncia. Com base na situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado de Alexandre, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa do réu; inclua a fundamentação legal e jurídica, explore a tese defensiva cabível nesse momento processual e date a petição no último dia do prazo para protocolo, considerando que a intimação ocorra no dia 3/3/2008, segunda-feira. FGV DIREITO RIO 25
26 1ª questão José foi preso em flagrante pela prática de crime de roubo. Concluído no prazo previsto em lei, o inquérito policial foi encaminhado ao juiz, que considerou a prisão em flagrante legal e remeteu-o ao Ministério Público. O representante do Ministério Público, após dez dias de vistas, não ofereceu denúncia, tendo solicitado que os autos fossem encaminhados à delegacia de polícia para o cumprimento de mais diligências. O requerimento foi deferido pelo juiz, que manteve a prisão de José. Considerando a situação hipotética acima, redija um texto dissertativo, avaliando a legalidade da prisão de José e indicando, justificadamente, que medida judicial seria a mais adequada para impugnar essa prisão. 2ª questão Pedro, nascido no dia 16/10/1980, foi indiciado pela subtração de um automóvel Fiat, no valor de R$ 7.000,00, que foi vendido em outro estado da Federação. O fato ocorreu em 20/8/2001. A denúncia foi recebida em 25/10/2007, imputando a Pedro a prática da conduta descrita no art. 155, 5º, do CP. O interrogatório judicial ocorreu um mês depois, na presença do defensor, oportunidade em que Pedro negou a autoria do delito, tendo indicado sua sogra como testemunha. Foi dada vista dos autos à defesa para se manifestar no prazo legal. Considerando a situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo, indicando: a) a peça, privativa de advogado, que deve ser apresentada; b) a preliminar que deve ser argüida, com a devida justificativa. 3ª questão Júlio foi condenado a doze anos de reclusão em regime integralmente fechado, pela prática de homicídio qualificado pela torpeza. Apenas a defesa do acusado recorreu, por entender que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos. O tribunal ad quem deu provimento ao recurso e determinou que Júlio fosse submetido a novo júri. Com base na situação hipotética apresentada e no princípio constitucional da soberania dos veredictos, redija, na qualidade de advogado de Júlio, um texto, orientando-o a respeito da aplicação do princípio non reformatio in pejus, no novo julgamento, em relação aos jurados e ao juiz presidente. FGV DIREITO RIO 26
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