LICENCIATURA INTERCULTURAL PARA EDUCADORES INDÍGENAS

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LICENCIATURA INTERCULTURAL PARA EDUCADORES INDÍGENAS conhecimentos gerais e de CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS REDAÇÃO SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO. Leia atentamente as instruções que se seguem. 1 - Este caderno contém a Prova de Conhecimentos gerais e de Conhecimentos Matemáticos, constituída de 10 (dez) questões discursivas, e a Prova de Redação, abrangendo um total de treze páginas, numeradas de 3 a 15. Antes de começar a resolver as questões, verifique se seu Caderno está completo. Caso haja algum problema, solicite a substituição deste Caderno. 2 - A Prova de Conhecimentos gerais e de Conhecimentos Matemáticos vale 50 (cinquenta) pontos ou seja, 5 (cinco) pontos por questão. A Prova de Redação vale 50 (cinquenta) pontos. 3 - NÃO escreva seu nome nem assine nas folhas deste Caderno de Provas. 4 - Leia cuidadosamente cada questão das provas e escreva a resposta, A LÁPIS, nos espaços correspondentes Procure ajustar a extensão de seu texto ao espaço disponível em cada questão, pois só será corrigido o que estiver dentro desses espaços. ATENÇÃO: Não serão corrigidas redações feitas em rascunho. 5 - Não escreva nos espaços reservados à correção. 6 - Ao terminar a prova, chame a atenção do aplicador, levantando o braço. Ele, então, irá até você para recolher seu CADERNO DE PROVA. ATENÇÃO: Os Aplicadores NÃO estão autorizados a dar quaisquer explicações sobre questões das provas. NÃO INSISTA em pedir ajuda. FAÇA LETRA LEGÍVEL. Duração desta prova: QUATRO HORAS E TRINTA MINUTOS. ATENÇÃO: Terminada a prova, recolha seus objetos, deixe a sala e, em seguida, o prédio. A partir do momento em que sair da sala e até estar fora do prédio, continuam válidas as proibições ao uso de aparelhos eletrônicos e celulares, bem como não lhe é mais permitido o uso dos sanitários. Impressão digital do polegar direito D I G I T A L D I G I T A L D I G I T A L COLE AQUI A ETIQUETA

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3 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS 3 PROVA DE CONHECIMENTOS GERAIS E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS CONHECIMENTOS GERAIS INSTRUÇÃO: O texto, a seguir, é uma transcrição de um depoimento do professor indígena Isaac apresentado em um congresso que discutia questões sobre a educação indígena. Leia-o e responda as questões 1 e 2. Autonomia, para a gente, é ter uma escola com nosso próprio pensamento ISAAC DA SILVA PIANTA* Bom dia. Eu sou o professor Isaac. Eu sou do povo Ashaninka - bem distante, do sul do Acre - e represento uma organização dos professores indígenas do Acre que foi criada esse ano. Mas eu aqui não vou falar como representante da organização, mas, sim, queria falar mais como professor em sala de aula, dentro da minha comunidade, em cima da questão do Projeto Político Pedagógico e da autonomia. Pretendo apresentar o que eu acho que é autonomia para uma escola, para uma comunidade, para uma terra indígena, para um povo indígena. Então, durante esses dias de congresso, de discussões pelos parentes, eu comecei a observar - não participei, fiquei mais ouvindo - mas eu comecei a observar que, a nossa prática como profissional, como educador, está muito distante ainda da nossa realidade, como professor, como educador. Eu observei que está se discutindo mais uma questão política fora da comunidade. Eu vi alguns companheiros, parentes, comentarem que a dificuldade está de entender a questão da educação, da sua prática. Diante dessas reflexões, como professor, comecei a trabalhar e a construir uma política interna dentro da própria comunidade, dentro da escola, junto com os pais. Quando comecei a discutir e chamar os pais para participar, comecei a observar que eu não era a única pessoa que ia tirar o meu povo daquela mistura de cultura, desse mundo - como alguém falou que nosso cérebro está contaminado - e essa contaminação é muito prejudicial para nossa comunidade, para o nosso povo. Eu lembro que uma vez eu estava na sala de aula quando um pai chegou e falou: Eu vou tirar a minha filha da sala de aula, professor, porque ela já está ficando moça, ela tem que aprender a fazer o tecido para vestir o seu marido; tem que aprender a fazer o paneiro, a cesta... E eu: tudo bem, pode tirar. Então, nesse momento, comecei a observar que, para nós, Ashaninka, no momento, não é a escrita que vai resolver esse problema. Então, comecei a refletir: o que será? Será a escrita mesmo? Será que as pessoas precisam? Porque, se fosse a escrita, o pai não tinha ido retirar. Se fosse a escrita, a leitura, a escola que fosse resolver o problema, os pais não tinham ido retirar. Mas, antes, os pais falavam assim: Ah, meu filho tem que aprender a ler e a escrever, então, vai ter que ir para a escola. Mas, quando eles mesmos começaram a tirar seus filhos da escola para ir para o roçado, para a caçada, para a pescaria, comecei a observar que eu, como professor, não teria que tomar esse espaço da minha comunidade. Ao contrário, deveria fortalecer, começar a trabalhar para que isso se fortalecesse cada vez mais. Eu fiquei pensando. Então, começaram a surgir várias questões, discussões. Outro passo importante foi a questão do calendário escolar. Eu trabalhava três dias por semana e os pais

4 4 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS começaram a cobrar: Você tem que trabalhar cinco, seis dias por semana. Mas sempre vinha acontecendo isso dos pais tirarem seus filhos da escola para acompanharem no seu trabalho e eu não fazia questão nenhuma. Deixava que fossem. Então, comecei a chamar os pais para decidir: O que nós vamos fazer? O que é importante nesse momento?. E começamos a discutir e eu fui incentivando que os pais, que os filhos, que as mães, participassem da escola. Então, nesse momento, eu consegui trazer coisas da minha cabeça para minha formação, para minha prática como professor, e que fizeram com que eu colocasse isso no papel, dentro do currículo de formação dos alunos. E, durante a minha prática, como professor, a gente estabeleceu um calendário, as disciplinas, os conteúdos de cada disciplina. Nesse momento, eu preferi que tivesse mais a participação dos pais para decidir. Como foi uma decisão da comunidade, eu só cumpri o meu dever de professor: executei todos os pensamentos que eles conseguiram repassar. Bom, isso foi uma parte do que eu fiz como professor, na sala de aula e dentro da terra indígena Ashaninka. Quanto à minha formação fora da comunidade, que foi outra parte muito importante na minha carreira, foi relevante o momento em que eu comecei a discutir com outros profissionais, outros professores. Comecei a observar que existiam diferenças. Não eram todos que eram iguais, e isso serviu para minha experiência, para minha carreira como professor. Eu comecei a discutir a questão do papel do professor junto com meus parceiros: O que nós devemos fazer como professor? Quais são as nossas responsabilidades como professores? Cada um fazia a pergunta para si mesmo: Quais são as nossas competências como professor? O que nós devemos cumprir como professor? E cada um começou a falar da sua experiência, da responsabilidade que tinha. O que cada um achava que deveria ter para trabalhar na comunidade. Então, essa política nossa fora da comunidade, fora das terras indígenas, entre nós, professores indígenas do Acre, foi crescendo. Quando falava o que devemos ser como professor, eu falava em toda essa questão: Será que nós devemos produzir material didático específico? Será que nós devemos produzir material bilíngue? Onde é que está nossa autonomia, nesse momento? Então, tem uma discussão muito grande e a gente conseguiu discutir e afirmar que autonomia, dentro de todo esse processo educativo, para a gente, é ter uma escola com nosso próprio pensamento. Foi a gente criar esse Projeto Político Pedagógico que envolvia toda essa questão cultural. A gente acha que a autonomia vai acontecer a partir do momento que a comunidade, o professor, souber diferenciar o que é seu e o que não é seu. Aí é que parte o espaço para você ter autonomia. Mas, enquanto o professor não tiver este conhecimento, não souber diferenciar, a comunidade não vai ter autonomia e a autonomia também surge a partir do momento que a escola tiver um currículo próprio de formação. Esse currículo deve ser pensado pelos professores, pela comunidade, pelo povo. A partir daí, a escola vai passar a ter autonomia; autonomia para administrar aquilo que é seu, os seus conhecimentos, a sua sabedoria. Se o professor não conhece e não dá valor àquilo que é do seu povo, àquilo que é da sua cultura, ele ainda está tentando buscar o caminho da autonomia. E foi isso que nós fizemos no Acre. Alguns povos indígenas ainda estão nesse caminho de buscar o que é autonomia e de ter autonomia na sua escola. Existe muita interferência externa, de chegar e querer aplicar um currículo que não é daquele povo, que vem de fora, que é do branco. Se a comunidade ainda está aceitando, a comunidade não tem ainda autonomia para administrar a sua escola. A escola, no nosso ver, é um ponto de referência para fortalecer tanto os pensamentos da comunidade como de todo o povo indígena. Eu tenho conversado com alguns alunos, em alguns momentos, perguntando a eles: Que competência cada um tem que ter na escrita? Será que nós devemos dominar a escrita ou deixar a escrita nos dominar? Isso são coisas muito importantes, que eu sempre tenho colocado nas

5 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS 5 minhas discussões. Muitas vezes a gente acha que a competência de lidar com a escrita é saber ler e escrever bem, saber ler correto, saber fazer o discurso correto. Mas para nós, Ashaninka, não é saber ler e escrever correto; é a gente conhecer o nosso espaço, conhecer a nossa riqueza, conhecer a nossa história para planejar o futuro. Então, tudo isso faz parte da autonomia. Se você domina tudo isso, você tem autonomia. A escola pode destruir um povo sem que ele esteja percebendo que está sendo destruído por ela. Se a gente não souber usar a escola, a escrita, a gente pode estar perdido nesse caminho. Pode se perder e pode tirar a identidade de um povo, o conhecimento. Aí está: contaminar - porque eu acho que aí traz o ponto mais forte -, de contaminar o cérebro do ser humano, que pensa diferente do outro!! QUESTÃO 01 *Membro da Organização dos Professores Indígenas do Acre - OPIAC In: VEIGA, Juracilda; D ANGELIS, Wilmar da Rocha (Orgs.). Escola indígena, identidade étnica e autonomia (adaptado) De acordo com o texto, o que é autonomia e qual a importância da autonomia para a escola indígena?

6 6 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS QUESTÃO 02 Ao falar do processo de construção do Projeto Político Pedagógico próprio das escolas indígenas, o autor do texto ressalta as dificuldades e impasses desse processo em função de uma mistura de cultura e refere-se a uma contaminação do pensamento. De acordo com o texto, qual o significado atribuído a essas duas expressões: mistura de cultura e contaminação do pensamento? QUESTÃO 03 A polêmica que envolve a demarcação de terras indígenas, no Brasil, pode ser identificada, de forma simplificada, em duas posições opostas. Em uma delas, indicada por um senso comum e difundida, em algumas situações, pelos meios de comunicação de massa, há a defesa de que, no Brasil, tem muita terra para pouco índio. Em outra posição, indicada pelas lideranças indígenas, há a constante reivindicação, junto a órgãos governamentais, pela demarcação de terras para os povos indígenas. Discuta essa polêmica, explicando os fundamentos que sustentam as duas posições.

7 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS 7 QUESTÃO 04 A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe mudanças para os povos indígenas: No seu artigo 4, trata do princípio da autodeterminação dos povos. No artigo 231, reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Qual a importância da Constituição de 1988 para os povos indígenas?

8 8 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS QUESTÃO 05 Apresente exemplos de lutas dos povos indígenas relacionadas aos novos direitos constitucionais. CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS QUESTÃO 06 Em um terreno retangular de 8 m x 6 m, deseja-se construir um tanque retangular que ocupe uma área de 24 m 2 desse terreno. É necessário deixar um caminho de circulação de mesma largura, contornando todo o tanque, conforme demonstra a figura a seguir: Determine a largura y do caminho de circulação.

9 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS 9 QUESTÃO 07 Uma pesquisa sobre o nível de escolaridade dos jovens Xacriabá, com idade entre 20 e 24 anos, mostrou que, em um grupo de 400 jovens, 10 % terminaram o ensino fundamental. Dentre esses jovens que terminaram o ensino fundamental, 60 % são mulheres. Determine o número de homens que terminou o ensino fundamental nesse grupo. QUESTÃO 08 A tira, ilustrada abaixo, representa uma pulseira. Essa tira, no entanto, ficou muito grande, porque o número de triângulos corresponde a 3 do número que será realmente necessário. Quantos triângulos 2 têm a mais do que o necessário para fazer a pulseira?

10 10 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS QUESTÃO 09 O valor mensal, em reais, a pagar na conta de energia elétrica de uma residência é calculado de acordo com a quantidade de kwh consumida, mais uma taxa fixa de R$7,35. Considerando que o valor de 1 kwh está fixado em R$0,17, responda: a) Qual foi o valor pago, em reais, por uma família que consumiu 132 kwh no mês de setembro? b) Qual é a expressão matemática que indica como calcular o valor a pagar, em reais, de acordo com a quantidade de kwh consumida? c) No mês de outubro, além dos 132 kwh, essa família consumiu mais 22 kwh referentes ao uso de mais uma televisão. Quanto essa família pagou pelo consumo de energia elétrica no mês de outubro?

11 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS 11 QUESTÃO 10 O gráfico seguinte mostra o número de escolas indígenas no Brasil no período de 2002/2006: Baseado na leitura do gráfico, responda: a) Qual foi o aumento do número de escolas indígenas no período de 2002/2006? b) Cada escola indígena abriga, em média, 70 alunos e 4 professores. No período de 2002 a 2006, CALCULE o crescimento médio: do número de alunos nessas escolas. do número de professores nessas escolas.

12 12 PROVA DE conhecimentos gerais E DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS EM BRANCO

13 PROVA DE REDAÇÃO 13 PROVA DE REDAÇÃO O texto das páginas 3 a 5 apresentou o depoimento de um professor sobre a educação indígena. Nesse depoimento, vários temas aparecem como desafios e várias propostas aparecem como caminhos de trabalho. Escreva um texto relacionando o depoimento do professor Isaac com a sua possível experiência na educação indígena. Nesse seu texto, que também pode ser um depoimento, procure demonstrar as possíveis relações entre escola, cultura e território indígena ATENÇÃO 1. O texto a ser elaborado deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas. 2. Não serão corrigidas redações com número de linhas inferior a esse mínimo.

14 14 PROVA DE REDAÇÃO REDAÇÃO

15 PROVA DE REDAÇÃO 15 RASCUNHO

16 Questões desta prova podem ser reproduzidas para uso pedagógico, sem fins lucrativos, desde que seja mencionada a fonte: Vestibular 2010 UFMG. Reproduções de outra natureza devem ser autorizadas pela Copeve/UFMG.