AULA 07 REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA
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- Beatriz Milena Gentil Domingos
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1 Nota de Advertência! O presente texto foi desenvolvido como material de apoio da disciplina processo constitucional II, ministrada no curso de Bacharelado em Direito da FACEAR. Não tem a finalidade de substituir a presença do(a) aluno(a) em sala de aula! Igualmente não se prescinde da leitura completar e estudo individual para a realização das avaliações bimestrais. AULA 07 REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA NOTAS INTRODUTÓRIAS O Estado Republicano Federativo brasileiro é formado pela união de três entes políticos autônomos: ESTADOS, DISTRITO FEDERAL e MUNICÍPIOS. A organização politico-administrativa da República Federativa do Brasil é formada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Os entes políticos autônomos possuem como atributos característicos: AUTONOMIA AUTO-ORGANIZAÇÃO AUTOGOVERNO AUTOADMINISTRAÇÃO LEGISLAÇÃO PRÓPRIA PONTOS PRINCIPAIS ROTEIRO DE ESTUDO Conceito: Trata-se de medida excepcional de supressão temporária da autonomia de determinado ente federativo, fundada em hipóteses taxativamente previstas no texto constitucional, e que visa á unidade e preservação da soberania do Estado Federal e das autonomias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Prof. Alexandre de Morais) Natureza da ação: declaratória e constitutiva (cria um direito ao chefe do Poder Executivo em adotas medidas interventivas art. 36, III, CF) Previsão constitucional: a partir da Constituição de 1946 Regulamentação infraconstitucional: Lei n.º , de 23 de dezembro de 2011 Afastamento da autonomia do ente político como medida excepcional Inexistência do controle político na representação interventiva (art. 36, 3º, CF) Fundamento na preservação da unidade federativa (evitar a desagregação da federação) Natureza de composição judicial de conflitos entre a União e a unidade federada (ou de unidade federada e município) 1
2 Modalidades: o Intervenção espontânea (ou de ofício) Discricionariedade do chefe do executivo Não depende de provocação de outros órgãos (ex: Ministério Público) o Intervenção provocada Medida depende da iniciativa de outro órgão (solicitação ou representação) Representação interventiva: intervenção provocada, via Poder Judiciário, por um legitimado pela Constituição Federal Nomenclaturas dadas pela doutrina: Ação direta de inconstitucionalidade interventiva (não se configura em controle concentrado de constitucionalidade ataca um ato concreto e não uma lei em tese) Ação de executoriedade de lei (no caso de recusa à execução de lei) Pressupostos: o Materialização da hipótese autorizadora prevista na Constituição Federal UNIÃO Estados/DF manter a integridade nacional; repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; reorganizar as finanças da unidade da Federação que: o suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; o deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: o forma republicana, sistema representativo e regime democrático; o direitos da pessoa humana; o autonomia municipal; o prestação de contas da administração pública, direta e indireta. o aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. ESTADOS MUNICÍPIOS (União nos territórios divididos em municípios) 2
3 deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Competência para apreciação da medida o UNIÃO Estados/DF (igualmente na hipótese da União em municípios pertencentes a território federal) = STF (art. 34, VII c/c art. 36, III, CF) o ESTADOS MUNICÍPIOS Escopo dos chamados princípios constitucionais sensíveis que ensejam a representação interventiva: o Forma republicana, sistema representativo e regime democrático o Direitos da pessoa humana o Autonomia municipal o Prestação de contas da administração pública (direta e indireta) Legitimidade ativa ad causam: Procurador Geral da República (ou do Procurador Geral de Justiça plano estadual); Legitimidade passiva ad causam: órgãos estaduais que editaram o ato questionado (ou municipais, no caso de intervenção de Estado-membro em município) Objeto da controvérsia: dever do Estado-membro quanto à observância dos princípios constitucionais sensíveis e à aplicação da lei federal. Pode haver obstrução a execução de lei federal pela promulgação de ato normativo estadual, em desrespeito à competência legislativa da União. Neste caso, afirmada, preliminarmente, a validade da lei federal, há de se proferir a declaração de inconstitucionalidade do diploma estadual. Representação interventiva e atos concretos: não se admitia medida de intervenção em decorrência de atos praticados por particulares, ainda que violassem os princípios sensíveis enumerados como autorizadores. A partir do julgamento da IF 114/96, pelo voto condutor do Ministro Sepúlveda Pertence, o STF passou a conhecer de Representação Interventiva baseada na ocorrência de reiterados atos concretos praticados por particulares em decorrência da omissão do ente federativo. O fundamento da mudança do entendimento está na parte final do parágrafo 3º do artigo 36 da CF que diz:...o decreto limitar-seá a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. Assim, se a suspensão da execução do ato impugnado não for suficiente para o restabelecimento da normalidade, outras medidas interventivas poderão ser adotadas no caso concreto. Decisão do STF como conditio juris das medidas interventivas as quais não poderão ser executadas sem a prévia declaração judicial de inconstitucionalidade A decisão proferida na Representação Interventiva não anula ou retira a eficácia ao ato impugnado. No caso de improcedência da Representação Interventiva, o reconhecimento da constitucionalidade da medida ou da não configuração da recusa a execução de 3
4 lei federal não configura decisão com eficácia erga omnes, mas somente tem a finalidade de suspender o ato impugnado (natureza meramente declaratória) No caso de recusa a execução de lei federal, duas soluções se apresentam: o Incompatibilidade entre o direito federal e o direito estadual o STF poderá julgar procedente a representação interventiva e declarar a inconstitucionalidade da norma estadual; o Lei estadual não extravasa a competência legislativa da unidade federada: trata-se de caso de aplicação de lei federal em desconformidade com a Constituição. A solução se dá por uma declaração incidental de inconstitucionalidade ou de interpretação conforme a constituição. Ciência da decisão (art. 11, da Lei /2011): o Art. 11. Julgada a ação, far-se-á a comunicação às autoridades ou aos órgãos responsáveis pela prática dos atos questionados, e, se a decisão final for pela procedência do pedido formulado na representação interventiva, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, publicado o acórdão, levá-lo-á ao conhecimento do Presidente da República para, no prazo improrrogável de até 15 (quinze) dias, dar cumprimento aos 1º e 3º do art. 36 da Constituição Federal. Não caberá recurso nem impugnação por ação rescisória da decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido de representação interventiva. Procedimento: arts 3º à 12 da Lei n.º /2011. Jurisprudência do STF sobre o tema: REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA CARÁTER POLÍTICO-ADMINISTRATIVO NÃO-CABIMENTO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO VERBETE Nº 637 DA SÚMULA DO SUPREMO. Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em Município. (AI AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 26/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG PUBLIC ) INTERVENÇÃO FEDERAL. REPRESENTAÇÃO DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. DISTRITO FEDERAL. ALEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE LARGO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO. ENVOLVIMENTO DO EX-GOVERNADOR, DEPUTADOS DISTRITAIS E SUPLENTES. COMPROMETIMENTO DAS FUNÇÕES GOVERNAMENTAIS NO ÂMBITO DOS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO. FATOS GRAVES OBJETO DE INQUÉRITO EM CURSO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS INSCRITOS NO ART. 34, INC. VII, "A", DA CF. ADOÇÃO, PORÉM, PELAS AUTORIDADES COMPETENTES, DE PROVIDÊNCIAS LEGAIS EFICAZES PARA DEBELAR A CRISE INSTITUCIONAL. SITUAÇÃO HISTÓRICA CONSEQUENTEMENTE SUPERADA À DATA DO JULGAMENTO. DESNECESSIDADE RECONHECIDA À INTERVENÇÃO, ENQUANTO MEDIDA EXTREMA E EXCEPCIONAL. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. PRECEDENTES. Enquanto medida extrema e excepcional, tendente a repor estado de coisas desestruturado por atos atentatórios à ordem definida por princípios constitucionais de 4
5 extrema relevância, não se decreta intervenção federal quando tal ordem já tenha sido restabelecida por providências eficazes das autoridades competentes. (IF 5179, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO (PRESIDENTE), Tribunal Pleno, julgado em 30/06/2010, DJe-190 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP RTJ VOL PP RT v. 100, n. 906, 2011, p ) INTERVENÇÃO FEDERAL. 1. Representação do Procurador-Geral da República pleiteando intervenção federal no Estado de Mato Grosso, para assegurar a observância dos "direitos da pessoa humana", em face de fato criminoso praticado com extrema crueldade a indicar a inexistência de "condição mínima", no Estado, "para assegurar o respeito ao primordial direito da pessoa humana, que é o direito à vida". Fato ocorrido em Matupá, localidade distante cerca de 700 km de Cuiabá. 2. Constituição, arts. 34, VII, letra "b", e 36, III. 3. Representação que merece conhecida, por seu fundamento: alegação de inobservância pelo Estado-membro do princípio constitucional sensível previsto no art. 34, VII, alínea "b", da Constituição de 1988, quanto aos "direitos da pessoa humana". Legitimidade ativa do Procurador-Geral da República (Constituição, art. 36, III). 4. Hipótese em que estão em causa "direitos da pessoa humana", em sua compreensão mais ampla, revelando-se impotentes as autoridades policiais locais para manter a segurança de três presos que acabaram subtraídos de sua proteção, por populares revoltados pelo crime que lhes era imputado, sendo mortos com requintes de crueldade. 5. Intervenção Federal e restrição à autonomia do Estado-membro. Princípio federativo. Excepcionalidade da medida interventiva. 6. No caso concreto, o Estado de Mato Grosso, segundo as informações, está procedendo à apuração do crime. Instaurou-se, de imediato, inquérito policial, cujos autos foram encaminhados à autoridade judiciária estadual competente que os devolveu, a pedido do Delegado de Polícia, para o prosseguimento das diligências e averiguações. 7. Embora a extrema gravidade dos fatos e o repúdio que sempre merecem atos de violência e crueldade, não se trata, porém, de situação concreta que, por si só, possa configurar causa bastante a decretarse intervenção federal no Estado, tendo em conta, também, as providências já adotadas pelas autoridades locais para a apuração do ilícito. 8. Hipótese em que não é, por igual, de determinar-se intervenha a Polícia Federal, na apuração dos fatos, em substituição à Polícia Civil de Mato Grosso. Autonomia do Estado-membro na organização dos serviços de justiça e segurança, de sua competência (Constituição, arts. 25, 1º; 125 e 144, 4º). 9. Representação conhecida mas julgada improcedente. (IF 114, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 13/03/1991, DJ PP EMENT VOL PP-00001) 5
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