INFILTRAÇÃO MARGINAL DE DOIS SELADORES PROVISÓRIOS EM DIFERENTES TEMPOS

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1 INFILTRAÇÃO MARGINAL DE DOIS SELADORES PROVISÓRIOS EM DIFERENTES TEMPOS MARGINAL LEAKAGE OF TWO TEMPORARY RESTORATIVE MATERIALS AT DIFFERENT TIMES Giane Antônia Borges Silveira 1 Eduardo Nunes 2 Frank Ferreira Silveira 2 RESUMO A utilização de materiais seladores que não permitam a percolação marginal é de fundamental importância para prevenir a contaminação do sistema de canal radicular (SCR). Neste trabalho, estudou-se in vitro a infiltração marginal de dois materiais seladores temporários (IRMÒ e ColtosolÒ). Noventa e seis pré-molares unirradiculados humanos extraídos por indicação ortodôntica, foram selecionados e divididos em oito grupos de 12 espécimes cada (sendo um espécime para o grupo controle negativo e um espécime para o controle positivo). Após acesso coronário convencional, os dentes foram instrumentados, sendo colocado no interior de cada canal radicular um cone de papel absorvente com a solução alcoólica de dimetilglioxima a 1% e na câmara pulpar uma bolinha de algodão com a mesma substância. Os dentes restaurados com os materiais seladores testados, foram imersos em solução de sulfato de níquel a 5% em intervalos de três, sete, quatorze e vinte e oito dias. Após serem submetidos a ciclagens térmicas (5, 37 e 55 0 C), foram clivados no sentido mésio-distal e os resultados observados pela coloração vermelha (formação do complexo ni-dimetilglioxima) na bolinha de algodão, medida em lupa esteriomicroscópia e avaliados utilizando-se o teste de Kruskal-Wallis. Concluiu-se que o IRM apresentou piores resultados que o Coltosol nos intervalos de três, sete e quatorze dias, porém, semelhantes no período de 28 dias. Palavras-chave: seladores temporários, Infiltração marginal. INTRODUÇÃO A hermeticidade da cavidade pulpar entre sessões ou após o procedimento endodôntico é de grande importância para a obtenção do sucesso do tratamento uma vez que a utilização de uma eficiente restauração provisória deve ser capaz de evitar a contaminação do sistema de canais radiculares por microrganismos e fluidos da cavidade bucal 1. Novos materiais seladores temporários de melhor qualidade têm proporcionado um ganho de qualidade e maior rapidez nas conclusões dos tratamentos odontológicos. Um material selador provisório ideal deve possuir algumas propriedades como: facilidade de inserção e remoção, boa resistência à abrasão e à compressão, adequado selamento da interface material restaurador-dente, variação dimensional próxima àquela do elemento dentário, compatibilidade com as drogas usadas, ser estético, ter rápido endurecimento, não interferir na efetividade dos materiais seladores definitivos, possuir boa atividade antibacteriana, insolubilidade em saliva e custo acessível 1. 1.Mestre em Clínicas Odontológicas PUC-MG 2. Professor Adjunto PUC-MG 183

2 Ao longo dos anos, a capacidade seladora dos materiais restauradores provisórios tem sido testada por diversos métodos de investigação, incluindo corantes 2, radioisótopos 3, microrganismos 4, filtragem de fluidos 5, identificação de íons e processos histoquímicos 6. Em 1982 foi proposto o emprego da solução indicadora de sulfato de níquel 6 10% em associação com a solução reveladora alcoólica de dimetilglioxima 1% que, ao reagirem entre si, formavam o complexo Dimetilglioxima de níquel (C 8 H 14 N 4 NiO 4 ) de coloração avermelhada, para realizar uma análise quantitativa da infiltração, em função da menor ou maior profundidade em que ocorria a coloração avermelhada. Durante análise do comportamento de três materiais seladores provisórios, o Cavit e o Coltosol apresentaram-se superiores ao cimento de óxido de zinco e eugenol, em relação à resistência mecânica 7. Por outro lado, utilizando o corante azul de metileno sob a ação do vácuo, os materiais seladores menos infiltrados foram: Lumicon, Coltosol, Pulpo San, IRM e Zoecim sucessivamente 8. Outro estudo avaliou in vitro a microinfiltraçäo coronária de três materiais restauradores temporários, sendo que o IRM apresentou uma maior incidência de infiltração, estatisticamente superior ao Bioplic e Cimpat que apresentaram resultados semelhantes entre si 9. Já em outro estudo, o selamento coronário com o cimento Coltosol foi mais eficiente que o Bioplic, enquanto o IRM apresentou o pior resultado 10. Com o objetivo de simular uma situação clínica, em vários estudos as amostras foram submetidas a termociclagens, devido ao fato das variações térmicas poderem provocar alterações dimensionais no material selador 1,2,11,12. O propósito deste trabalho foi avaliar a infiltração na porção coronária em dentes extraídos, proporcionada pela visualização da formação de um complexo Nidimetilglioxima (contato do corante dimetilglioxima a 1% e sulfato de níquel a 5%) nos dois materiais seladores provisórios (IRM e Coltosol) utilizados em quatro intervalos de tempo (três, sete, 14 e 28 dias). MATERIAL E MÉTODO Foram selecionados 96 dentes pré-molares humanos unirradiculados, com um único canal, extraídos (com finalidade ortodôntica), íntegros ou com cáries pequenas que tiveram o preparo cavitário padronizado de forma que a distância vestíbulo-lingual tivesse 3,5mm de diâmetro e a mésio-distal 2,5mm e seus canais preparados pela técnica 184

3 de Movimentos Oscilatórios Padrão. As amostras foram divididas aleatoriamente em oito grupos com 10 espécimes cada que foram seladas com IRM (Dentsply Indústria e Comércio LTDA) e Coltosol (Coltène) e dois grupos controle que contavam com dois dentes para cada intervalo de tempo. No controle negativo os materiais seladores, anteriormente citados, foram colocados nas coroas dos dentes, e logo após totalmente impermeabilizados, sendo que no controle positivo somente a raiz foi impermeabilizada, respeitando 1mm do ângulo cavo superficial, não sendo colocado nenhum material selador temporário na abertura coronária. Os condutos radiculares das amostras foram secos utilizando cones de papel absorvente (Tanari Indústria e comércio LTDA) número 25 e logo em seguida a adaptação do cone de papel absorvente impregnado com dimetilglioxima a 1%, até o comprimento de trabalho e sobre este, uma bolinha de algodão, também previamente tratada com dimetilglioxima a 1% que foi compactada na câmara pulpar preservando uma distância de 4mm do ângulo cavo superficial cavitário, medida esta verificada através do uso de uma sonda milimetrada (Duflex-SS White). Os dentes foram restaurados, impermeabilizados com Super Bonder (Loctite Ltda) e duas camadas de esmalte para unhas na cor vermelha (Niasi S/A) respeitando-se 1 mm do ângulo cavosuperficial da borda coronária, sendo a seguir imersos em solução sulfato de níquel (Farmácia Amphora) e submetidos a três termociclagens (5, 37 e 60ºC) diárias durante os intervalos de três, sete, 14 e 28 dias. Após cada intervalo desses, as amostras foram lavadas em água corrente e a camada impermeabilizadora removida. As amostras foram seccionadas com disco diamantado e analisadas utilizando-se lupa estereomicroscópica Wild M8 com câmera digital acoplada a um sistema computadorizado de análise quantitativa com aumento de seis vezes para determinar o grau de infiltração do corante na bolinha de algodão. A medida linear de infiltração foi obtida através da medição computadorizada em software Image Pró plus padronizada em escala de 1mm. RESULTADOS A Tabela 1 mostra que existiu diferença significativa (p < 0,05) entre os materiais IRM e Coltosol no que tange a medida de infiltração dos dentes com 3, 7 e 14 dias póstratamento, onde, para os 3 períodos, o IRM apresentou uma profundidade de infiltração significativamente maior que o Coltosol. Ressalta-se que, com 28 dias de pós-tratamento, 185

4 não foi observada diferença significativa entre os materiais restauradores quanto à profundidade de infiltração. Tabela 1. Medidas descritivas e comparativas entre os dois tempos quanto à medida de infiltração do dente, por material restaurador Tempo 3 dias 7 dias 14 dias Medidas descritivas Tratamento Mínimo Máximo Mediana Média d.p. p IRM 1,38 3,67 2,66 2,55 0,69 0,004 Coltosol 0,00 3,03 0,39 0,91 1,12 I > C IRM 0,00 3,92 2,91 2,55 1,15 0,019 Coltosol 0,00 2,56 1,11 1,21 1,27 I > C IRM 2,43 3,97 3,19 3,23 0,63 0,028 Coltosol 0,00 4,00 1,73 1,72 1,50 I > C 28 dias IRM 0,97 3,72 3,20 2,78 0,89 0,082 Coltosol 0,00 3,16 2,35 1,97 1,26 I = C Nota: O valor de p refere-se ao teste de Kruskal-Wallis Legenda: / = IRM c = Coltosol Na comparação entre os quatro períodos de tempo, a Tabela. 2 mostra que não existe diferença significativa (p > 0,05) entre os períodos de avaliação quanto à profundidade de infiltração para cada um dos materiais seladores utilizados, isto é, tanto com o IRM quanto com o Coltosol. Tabela 2. Medidas descritivas e comparativas entre os quatro tempos quanto à medida de infiltração do dente, por material restaurador Medidas descritivas Tratamento Tempo Mínimo Máximo Mediana Média d.p. P IRM 3 dias 1,38 3,67 2,66 2,55 0,69 0,233 7 dias 0,00 3,92 2,91 2,55 1,15 3 = 7 = 14 = dias 2,43 3,19 3,19 3,23 0,63 28 dias 0,97 3,72 3,20 2,78 0,89 3 dias 0,00 3,03 0,39 0,91 1,12 0,241 Coltosol 7 dias 0,00 2,56 1,11 1,21 1,27 3 = 7 = 14 = dias 0,00 4,00 1,73 1,72 1,50 28 dias 0,00 3,16 2,35 1,97 1,26 Nota: O valor de p refere-se ao teste de Kruskal-Wallis O Gráfico 1 mostra comparativamente as medidas de infiltração dos dois materiais seladores avaliados. 186

5 Gráfico 1. Comparação das médias de profundidade de infiltração 4,0 3,5 3,23 Média de profundidade de infiltração 8 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 2,55 2,55 0,91 1,21 1,72 2,78 1,97 IRM Coltosol 0,5 0,0 3 dias 7 dias 14 dias 28 dias Tempo DISCUSSÃO Para a verificação da infiltração nos materiais restauradores, neste estudo foi empregada esta metodologia com base nos seguintes fatores: alta sensibilidade da identificação dos íons níquel pelo dimetilglioxima; baixo peso molecular (58,69) dos íons níquel em relação ao corante azul de metileno (peso molecular 319,85) e rodamina B (peso molecular 479); facilidade de leitura, uma vez que somente no local de contato entre íons níquel e dimetilglioxima ocorrerá o aparecimento do complexo Ni-dimetilglioxima (coloração vermelha); e pequeno tamanho do íon níquel, semelhante aos isótopos radioativos, mas sem o perigo destes 6. A utilização de temperaturas de 5ºC, 37ºC e 60ºC para as ciclagens térmicas se baseou em estudos que consideram estas temperaturas como as extremas encontradas na cavidade oral 12,13. Uma câmara digital acoplada à lupa estereomicroscópica permitiu a captação de imagem com ampliação de seis vezes e a utilização do Software Image Pró-plus viabilizou a medição linear da marcação da infiltração do corante na bolinha de algodão (caracterizada pela cor vermelha formada pelo complexo Nidimetilglioxima) propiciando a obtenção de resultados precisos. Entretanto, é observado na literatura um grande número de trabalhos que avaliaram a infiltração por meio de escores 2,6,8,9,13,14,15, que podem apresentar resultados não tão precisos quanto a medição linear de infiltração. Nos elementos do grupo controle positivo a coloração vermelha na bolinha de algodão e cone de papel absorvente é uma constante, uma vez que ocorre o contato da solução sulfato de níquel com dimetilglioxima e, no grupo 187

6 controle negativo a ausência da cor vermelha é devido à completa impermeabilização do elemento dental 6,15. A avaliação dos resultados quanto ao vedamento coronário demonstrou que o Coltosol, material pronto para uso, apresentou melhores resultados que o IRM, fato também confirmado por outros estudos 1,7,8,10. O melhor desempenho do Coltosol está relacionado diretamente à absorção da umidade natural presente na cavidade oral, propriedade possivelmente devida à presença de sulfato de cálcio em sua fórmula 16. A capacidade de absorção de água, durante o período de presa, permite uma expansão linear resultando em um melhor vedamento marginal, entretanto, uma expansão excessiva pode ser prejudicial ao dente em tratamento quando contatos prematuros e trauma oclusal são ocasionados, podendo provocar danos ao tecido periapical ou fratura de estruturas dentárias 16. O baixo desempenho do IRM se deve provavelmente às contrações durante a presa 8. Encontra-se relatado na literatura resultados satisfatórios com este material, 3,17 entretanto, outros trabalhos demonstraram que o IRM apresentou reduzida adesão à estrutura dentária, ausência estética devido à coloração branca e baixa capacidade em impedir a microinfiltração 2,5,8,12. O aumento da infiltração verificada com o Coltosol com o passar do tempo provavelmente possa ser justificado pelo maior tempo de imersão na solução corante, o que facilitaria a penetração deste na interface dente material restaurador temporário, constatação também verificada em outros estudos 4,5,11,17. Deve-se relatar que, embora o Coltosol tenha apresentado melhores resultados que o IRM, foi observado que todos os materiais seladores permitiram infiltração do corante, observação obtida também em outros estudos 2,10. Esta observação permite verificar que o emprego destes materiais seladores temporários ainda não é capaz de oferecer um completo vedamento marginal, sugerindo que novos materiais com propriedades mais precisas devem ser desenvolvidos. CONCLUSÕES Com base na metodologia empregada e nos resultados analisados pode-se concluir que: a. o IRM é um material que apresentou uma profundidade de infiltração significativamente maior que o Coltosol nos intervalos de tempo de três, sete e quatorze dias, porém, semelhante no período de 28 dias; 188

7 b. a profundidade de infiltração de cada material selador temporário foi semelhante nos quatro intervalos de tempo; c. os dois materiais seladores provisórios testados permitiram infiltração na interface material restaurador/tecido dental nos quatro intervalos de tempo. AGRADECIMENTOS À colaboração do CETEC (Centro de desenvolvimento tecnológico de Minas Gerais) na pessoa do Prof. Mário Lúcio Talarico. ABSTRACT The use of temporary restorative materials that prevent marginal leakage is of fundamental importance to avoid root canal contamination. This work studied the in vitro marginal leakage of two temporary restorative materials (IRM and Coltosol). Ninety-six human uniradicular premolars extracted for orthodontic purposes were selected and divided into eight groups of twelve specimens each (with one specimen for negative control and one for positive). Following conventional coronary access, the teeth were endodontically instrumented; each root canal was filled with an absorbent paper cone impregnated with an alcoholic solution of 1% dimetylglyoxime, and a cotton ball with the same substance was placed in the pulp chamber. The teeth filled with temporary and experimental materials were immersed in a solution of 5% nickel sulfate for 3, 7, 14 and 28 days. After being submitted to thermocycling (5, 37 and 55 0 C), the teeth were longitudinally sectioned and the results observed by red coloration (formation of the ni-dimetylglyoxime complex) in the cotton ball, measured with a stereomicroscopic magnifying glass, and statistically analyzed using the Kruskal- Wallis test. It was concluded that the IRM had worse results than Coltosol in 3, 7 and 14 days, but similar results in 28 days. Key words: Temporary restoration, Marginal leakage. REFERÊNCIAS 1. Pinheiro CC, Santos FS, Scelza MFZ. Estudo comparativo da infiltração marginal frente a alguns materiais restauradores provisórios. Rev. Bras. Odontol. 1997;.54: Diep E K, Berbert A, Bramante CM. Infiltração marginal em restaurações provisórias. Rev. Bras. Odontol.1982; 39, 5: Bramante CM, Bernardinelli N. Materiais seladores provisórios. Avaliação da propriedade seladora com I 131. Rev. Ass. Paul. Cirurg. Dent.1977; 31: Blaney TD, Peters DD, Setterstrom J, Bernier W E. Marginal sealing quality of IRM and Cavit as assessed by penetration. J. Endod.1981; 7: Anderson RW, Powell BJ, Pashley DH. Microleakage of IRM used to restored endodontic access preparations. Endod. Dent. Traumatol. 1990; 6: p Pécora JD, Roselino RB. Instabilidade dimensional dos materiais utilizados para selamento provisório de cavidades em Endodontia. Rev. Fac. Farm. Odont. Ribeirão Preto.1982; 19: Fidel RAS, Fidel SR, Cruz Filho AM, Vansan LP, Pécora JD. Avaliação in vivo de alguns materiais seladores provisórios, relacionando-os com as condições das cavidades endodônticas. Rev. Bras. Odontol. 1991; 48:

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9 ERRATA No v.40, n. 4, ano 2004, no rodapé das páginas 287 a 328, onde se lê v.40, n.3, p , jul./set. 2004, leia-se v.40, n.4, p , out./dez

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