COMENTÁRIO DA PROVA DE REDAÇÃO
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- Alexandre Furtado Azeredo
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1 COMENTÁRIO DA PROVA DE REDAÇÃO Entra ano, sai ano e é sempre a mesma apreensão quanto ao tema de redação do Enem. Bolas de cristal, bolsas de aposta para acertar a grande loteria de temas. A edição de 2017 foi ainda especialmente polêmica devido à discussão jurídica sobre zerar ou não a redação que desrespeitasse os direitos humanos. Como se respeito aos direitos humanos fosse ideologia de esquerda ou direita ou ainda exclusividade de determinado partido político. Ora, educação é civilização. Ponto. A supervalorização do acertar o tema revela certa preguiça, não só da imprensa, mas de parte da própria comunidade escolar que se deixa levar pelas várias mídias. Muito mais produtivo do que esse exercício de adivinhação, seria entender e expor as bases que norteiam a escolha do tema de redação do Enem. As peculiaridades que fazem desta prova algo bem diferente do tradicional. Embora se exija a redação de um texto do tipo dissertativo-argumentativo, a redação do Enem não apresenta um debate. Não apresenta questão aberta sobre determinada polêmica para que sobre ela o participante se posicione a favor ou contra. De pouco serve, portanto, a liberdade de expressão de desrespeitar os direitos humanos. De pouco adianta ter opinião tão comum a meninos e meninas mimados pelas redes sociais. A redação do Enem, historicamente e já há muito tempo, por isso causa estranheza que tantos ainda não tenham compreendido isso, traz uma situação-problema que direta ou indiretamente atente contra a plenitude da cidadania, numa perspectiva muito mais coletiva do que individual. Desta forma, a busca pela igualdade se impõe sobre a liberdade de expressão. Fosse um tema do tipo debate aberto, o conteúdo da conclusão seria a afirmação de uma tese (a favor ou contra). Por exemplo: internação compulsória de drogados sim ou não?; casamento entre pessoas do mesmo sexo sim ou não?; redução da maioridade penal sim ou não? Não é e nunca foi essa a abordagem da redação do Enem. O ponto de partida é uma situação-problema. O conteúdo da conclusão, pois, deve tentar apontar uma forma de solucionar ou ao menos minimizar esse problema. Se formos transformar o tema em uma pergunta, seria uma pergunta do tipo Como. Poderia ser um problema de natureza ambiental, como já apareceu. Duas apostas: como equacionar os padrões de consumo contemporâneos com a produção de lixo?; como combater os obstáculos à mobilidade urbana?. Poderia ser um problema mais ligado aos efeitos das tecnologias de informação e comunicação, como também já apareceu. Outra aposta: como combater as notícias falsas (as chamadas fake news ) cada vez mais frequentes nas redes sociais? Ou uma situação-problema de natureza mais social, os mais frequentes. Já apareceram nessa categoria inclusão de idosos, violência contra a mulher, intolerância religiosa, racismo. E assim finalmente chegamos ao tema deste ano. Absolutamente dentro da normalidade das características históricas da redação do Enem. Havia, contudo, um aspecto limitador na frase-tema: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. As propostas de intervenção deveriam, portanto, estar mais presas ao âmbito da escola, embora nada impedisse que se propusessem parcerias com as empresas. Um possível itinerário para a progressão do texto poderia começar pela necessidade de a sociedade se mobilizar para a inclusão dos deficientes de modo geral, prevista pela lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência, a lei de 5 de julho de 2015 (texto I da coletânea de textos motivadores), passar pelos problemas de exclusão enfrentados pelos deficientes e focar na questão específica dos surdos. Partir então dos avanços históricos na educação de surdos no Brasil desde a primeira escola criada por D. Pedro II até a lei de 2002 que estabelece a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como segunda língua oficial do Brasil. A proposta de intervenção poderia passar pela obrigatoriedade de incluir a médio prazo a língua de sinais no currículo escolar de modo que todos os brasileiros do futuro fossem bilíngues, alfabetizados em Libras. Não apenas os surdos. Uma proposta de intervenção como essa permitiria sonhar com um futuro de plena inclusão e integração dos surdos brasileiros. E, ainda que de difícil execução, não impossível. Os nossos alunos aqui no Positivo não estavam de forma alguma despreparados para o tema. Em anexo, duas redações aqui aplicadas este ano: a redação 24, modelo Enem que apresenta na coletânea fragmento da mesma lei e a redação 12 que, para trabalhar com memes, parte de um que faz uma piada com a surdez de Beethoven. 1 1º DIA
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