EVENTOS DE CHUVAS INTENSAS EM PERNAMBUCO DURANTE A ESTAÇÃO CHUVOSA DE FEVEREIRO A MAIO DE 1997: UM ANO DE TRANSIÇÃO
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- Vinícius Chaplin Benke
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1 EVENTOS DE CHUVAS INTENSAS EM PERNAMBUCO DURANTE A ESTAÇÃO CHUVOSA DE FEVEREIRO A MAIO DE 1997: UM ANO DE TRANSIÇÃO Francinete Francis Lacerda, M.Sc.(1); Ricardo de Sousa Rodrigues, M.Sc.; José Oribe Rocha de Aragão, Ph.D.; Geber Barbosa de Albuquerque Moura, M.Sc.; Flávia Regina Lacerda; Maria Aparecida Fernandes; Ioneide Alves de Souza, M.Sc. (1) Pesquisadora da Secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA) francis@sectma.pe.gov.br Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente / Departamento de Hidrometeorologia Rua Irmã Maria da David, Casa Forte - Recife /PE - Brasil CEP Fone (081) /214 - Home page: ABSTRACT Synoptic and meso scale conditions in which three convective systems were formed over Pernambuco from March to May 1997 are the objective of this work is characterized as a transition year from positive to negative ENSO phases, with SST changes on the tropical Atlantic and Pacific, atmospheric circulation anomalies, and changes in the synoptic system patterns over the Northeast of Brazil. The main meteorological systems were upper tropospheric thoughs and cyclonic vortices, the ITCZ coupled with a cold front, and easterly waves. 1. Introdução O estado de Pernambuco, localizado na Região Nordeste do Brasil (NEB), possue grandes variações espaciais e temporais no seu regime de chuvas (Kousky, 1978). O regime normal caracteriza-se por uma estação com chuvas abundantes e um período seco de duração variável. Pelo menos três meso-regiões possuem regimes distintos: Sertão, Agreste e Zona da Mata/Litoral. No Sertão, as chuvas máximas ocorrem nos meses de janeiro a abril (60 a 70% do total anual), sendo março o mês de maior precipitação. Parte do Agreste, Zona da Mata e Litoral compõem o setor leste de Pernambuco. O Agreste caracteriza-se como uma região intermediária entre as áreas de climas úmidos e secos, com o setor ocidental tendo seu principal período chuvoso de fevereiro a junho, e o setor oriental de março a julho. A Zona da Mata apresenta índices anuais superiores a 1000 mm, chegando a 2000 mm no Litoral, com um período chuvas mais longo do que as demais regiões (seis meses, março a agosto, com 75 a 80% do total anual). Mais detalhes sobre os regimes pluviométricos de Pernambuco podem ser obtidos em Lacerda et al. (1996). As chuvas que ocorrem no Sertão são das frentes frias oriundas do sul, dos vórtices ciclônicos na atmosfera superior (VCAS), e da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), enquanto que o setor leste do estado é influenciado pela penetração de sistemas frontais e, devido a sua proximidade com o oceano Atlântico sul, por distúrbios de leste e sistemas de brisas (Aragão, 1989).
2 O objetivo deste trabalho é verificar as condições de escala sinótica e mesoescala nas quais se formam os principais sistemas convectivos (SC) que atuam durante o período de março a maio de 1997, em Pernambuco. Esse ano foi considerado anômalo pelas mudanças que ocorreram na circulação geral da atmosfera, devido principalmente à transição da fase positiva para a negativa do fenômeno El Niño/Oscilação do Sul (ENOS) e devido ao fenômeno do Dipolo do Atlântico, ambos em suas fases desfavoráveis às chuvas no norte e leste do NEB (Aragão et al., 1996). 2. Descrição das condições meteorológicas Foram utilizadas imagens do satélite GOES-8 e METEOSAT-5 e análises dos modelos global e regional do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE). Foram selecionados os SC dos dias 26 de março, 15 de abril e 12 de maio de 1997, pelas características meteorológicas de um ano de transição e pelo fato de terem causado precipitação acima de 100 mm/dia. De março a maio de 1997, a temperatura da superfície do mar (TSM) no Pacífico equatorial, apresentava anomalias positivas e, juntamente com outras anomalias atmosféricas, indicavam um episódio de El Niño. No Atlântico tropical o campo de TSM mostrava o estabelecimento do Dipolo do Atlântico com anomalias quentes no norte e frias no sul. Contudo, persistiram anomalias positivas sobre a costa leste do NEB. A ZCIT, durante a maior parte desses meses, manteve-se mais ao norte da sua posição média climatologia e pouco influenciou nas chuvas do estado de Pernambuco. A figura 01-A representa uma seção vertical/meridional de omega e do vento zonal em -8,2º de latitude para o dia 26/03/97, às 00:00 UTC, onde observa-se fortes movimentos ascendentes desde a superfície até o nível de 300 hpa, forte convergência nos baixos níveis e forte divergência nos altos níveis. Os dados de vento em 200 hpa, figura 01-B, mostram a Alta da Bolívia anomalamente ativa com um cavado influenciando todo o setor norte do NEB. Nesse dia, as condições eram favoráveis a formação dos complexos convectivos, se estendendo em praticamente toda a troposfera. Outros campos estudados para esse dia, são os ventos de sul nos altos níveis (parte oeste do cavado sobre a costa leste e o oceano), e a forte convergência de umidade ( 20*10-5 g/kgs) em toda troposfera. (A) Figura 01 - (A) Seção vertical/meridional de omega e do vento zonal (linhas pontilhadas) em - 8,2º de latitude para o dia 26/03/97, às 00:00 UTC, e a mostra as linhas de corrente (linhas cheias) em 200 hpa e a convergência de umidade para o dia 26 de março de As imagens do satélite dos dias 13 a 15 de abril de 1997 mostram a penetração de um grande distúrbio de leste nos setores norte e leste do NEB. A figura 2-A, é referente à imagem Meteosat-5 do
3 dia 13 quando a onda foi detectada. Vários aglomerados convectivos causaram muita chuva nos estados do norte do NEB, região central do Piauí, litoral do Rio Grande do Norte e parte do Ceará, com fluxo predominante de nordeste à superfície. Em 200 hpa, o NEB encontrava-se influenciado por dois anticiclones, um a leste de Pernambuco com centro sob o oceano e o outro a oeste com centro no norte do Tocantins. Um corte vertical/longitudinal em -8,5 de latitude para a variável omega é mostrada na figura 2-B. Essa figura mostra fortes movimentos verticais ascendentes nas faixas longitudinais W, W e W, sobre grande parte de Pernambuco, centro do Piauí e norte de Tocantins. (A) Figura 02 - (A) Imagem do satélite Meteosat-5 do dia 13 de abril de 1997 as 18:00 TMG. mostra um corte vertical/longitudinal em -8,5 de latitude para a variável omega. A figura 3-A, mostra a seção vertical e meridional do movimento vertical (omega) na latitude de -8,2 para o dia 12 de maio de 1997, às 00:00 UTC, notando-se a predominância de movimentos ascendentes na baixa troposfera de 34 W a 38 W e fortes ventos de leste de 800 a 650 hpa. Essa figura mostra condições favoráveis a formação de um CC desde a superfície até o nível de 750 hpa. Um desses CC pode ser visto na imagens de satélite das 15:00 hs do dia 12 de maio de 1997, figura 3-B. Os campos de convergência de umidade e linhas de correntes, para esse mesmo dia, nos altos níveis (250 hpa) mostravam um cavado sobre o NEB e convergência de umidade ( -20*10-5 g/kgs) desde a superfície até aproximadamente 500 hpa e divergência acima deste nível. Os principais sistemas atuantes nesse dia foram a ZCIT e uma frente fria do sul.
4 (A) Figura 03 - (A) Seção vertical/meridional de omega e do vento zonal (linhas pontilhadas) em 8,2 S para o dia 12 de maio de 1997, às 00:00 UTC, e a mostra a imagem do satélite Meteosat-5 - IR das 15:00 TMG do dia 12 de maio de Discussão e conclusão Esse estudo identifica as condições de mesoescala e sinóticas que contribuíram para a formação dos principais sistemas convectivos que atuaram em Pernambuco de março a maio de As causas para o aparecimento desses sistemas foram as condições sinóticas favoráveis e a forçante local. As condições favoráveis de altos valores de umidade relativa, forte convergência de umidade nos baixos níveis, aumento da intensidade dos ventos em 850 hpa, proporcionaram as chuvas intensas em várias localidades e meso regiões do estado. Portanto, como já havia dito Aragão em 1986, com os valores altos de umidade na baixa troposfera do NEB, basta a existência de um mecanismo dinâmico para causar a instabilidade atmosférica, elevar o ar, e provocar as chuvas. Típico de um ano de transição das fases positiva para a negativa do fenômeno ENOS, já relatados por Harzallah et al. (1996), foi o aparecimento anômalo de VCAS desde o final de 1996 até o mês de abril de A Alta da Bolívia (veja figura 03 como exemplo) associado com cavados em altitudes e os VCAS, também esteve anomalamente muito forte no trimestre inicial de Talvez, essa anomalia foi devida ao ajustamento da atmosfera no início do evento El Niño nas costas do Peru e Equador. Outro fato marcante foi o deslocamento de ondas de leste no Atlântico sul atingindo a costa leste do NEB, já a partir do final de março de Em anos normais, esses sistemas são mais freqüentes a partir de maio.
5 4. Bibliografia Aragão, J.O.R., 1976, "Um estudo da estrutura das perturbações sinóticas no Nordeste do Brasil", São José dos Campos, Inst. de Pesq. Espaciais, 51p. Tese de mestrado. Aragão, J.O.R., 1989, "Sistemas de tempo que influenciam o clima no Nordeste", em Tecnologias para a Agropecuária do Semi-Árido Nordestino, Módulo I - Clima do Semi-Árido, Ciências Agrárias nos trópicos brasileiros, ABEAS, Ministério da Educação, Aragão, J.O.R., 1996, "A influência dos oceanos Atlântico e Pacífico sobre a circulação atmosférica e a chuva na região semi-árida do Nordeste do Brasil: simulação e observação", SBMet, anais de IX Congres. Brasileiro de Meteor., 6-13 de nov. de 1996, Campos do Jordão-SP, Lacerda, F.F., et al., 1996, "Climatologia do sertão de Pernambuco", SBMET, anais do IX Congres. Brasileiro de Meteor., 6-13 de nov de 1996, campos do Jordão, Boletim climático Lamepe, 1993 b, "Climatologia do Agreste e Zona da Mata de Pernambuco", Ano I, (IV), 04/93, Kousky, V.E., 1978, "Fluctuations in annual rainfall for Northeast Brazil", J. Meteor. Soc. Of Japan, 56 (5), Harzallah, A., Aragão, J.O.R., and Sadourny, R., 1996, "Interannual rainfall variability in Northeast Brazil: Obsercations and model simulation", Journal of Climatology. (16),
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